O PAPEL DO PSICÓLOGO NA EQUOTERAPIA Ana Paula Gatti Panizza – Psicóloga/Pegasus 1. INTRODUÇÃO A palavra psicologia tem origem no mito grego de Psiquê, bela mortal por quem Eros, o deus do amor, se apaixonou. Tão bela que despertou a fúria de Afrodite, deusa da beleza e do amor, mãe de Eros, pois os homens deixavam de freqüentar seus templos para adorar uma simples mortal. Temos com esse mito a união do amor e da alma, pois “eros” significa amor e "psiquê" significa alma. Uma pesquisa simples realizada na Wikipedia, biblioteca livre digital, comprova tal origem, indo buscar os radicais da palavra psicologia, que vem do grego Ψυχολογία – psykhologuía – termo derivado das palavras ψυχή – psykhé – “alma" e λόγος – logos – “palavra", "razão" ou "estudo" e é a ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano e animal (para fins de pesquisa e correlação, na área da psicologia comparada). Outro objeto de estudo da psicologia são as personalidades inadaptáveis com comportamentos desviantes, chamados de psicopatologias. Cabe à psicologia, também, estudar questões ligadas à personalidade, à aprendizagem, à motivação, à memória, à inteligência, ao funcionamento do sistema nervoso, e também à comunicação interpessoal, ao desenvolvimento, ao comportamento sexual, à agressividade, ao comportamento em grupo, aos processos psicoterapêuticos, ao sono e ao sonho, ao prazer e à dor, além de todos os outros processos psíquicos e comportamentais não citados. O cavalo, por sua vez, vem acompanhando o homem desde os mais remotos tempos e tem se consolidado como peça fundamental no desenvolvimento da raça humana. Sua presença é inegavelmente importante, basta ver sua disposição e independência de movimento num jogo de xadrez. Através de estudos remotos, indo buscar a simbologia mítica do cavalo, encontramos que o cavalo comum é um símbolo tradicional do desejo carnal, símbolo universal de força, virilidade, poder e beleza. Os centauros, metade homens, metade cavalos, são monstros que representam a identificação do ser humano aos instintos animalescos. O cavalo alado, ao contrário, é símbolo da sublimação e da imaginação criadora. Enfim, a história do homem e do cavalo não se cruza apenas nos fatos históricos e na sua importância material, mas muito e de maneira tão importante, no desenvolvimento psico-emocional da humanidade. Segundo estudos e abordagem de atuação de Kether Arruda, o cavalo, por ser uma espécie absolutamente distinta do ser humano, propicia ao praticante uma melhor diferenciação entre o seu eu (self) e o outro, funcionando assim como um objeto intermediário de contato com a realidade. Também por tratar-se de outro ser animal, com vontade própria, esta relação propicia um vínculo entre os dois animais; lembrando que, apesar de todas as diferenças evolutivas, trata-se de uma relação entre dois animais. Segundo Silva (1999 apud Arruda, 2002), esta relação estimula e promove a auto-estima, autoconfiança, orientação espacial, comunicação, lateralidade, além de favorecer a percepção do esquema corporal. O cavalo, apesar de ter vontade própria e também muita força, estabelece vínculo facilmente. Este animal, que se dispõe a levar uma pessoa em seu dorso, tem a temperatura superior a sua em um a dois graus, bem como uma pelagem macia, o que traz a sensação de conforto e aconchego em seu contato. É símbolo universal de força, virilidade, velocidade, beleza e, no momento da terapia, todos esses símbolos se encontram totalmente à disposição do praticante. Esta relação se dá na medida em que o praticante começa a se vincular com o animal, o que propicia a sensação de superação e, por conseqüência, um aumento na sua auto-estima. 2. INTERAÇÃO HOMEM x CAVALO Na interação homem – cavalo, segundo pesquisas de Ylna Opa Nascimento, psicóloga da ANDE BRASIL, acontecem alguns processos internos estudados por: a) Freud (Psicanálise): Recomendava o cavalo para casos de histeria e de insônia. “É o único movimento que se assemelha ao movimento do útero materno”. b) Jung (Psicologia Analítica): Nossa relação com o mundo é através de símbolos (arquétipos – idéias). Um dos arquétipos mais fortes para a teoria jungiana é o cavalo; ele evoca poder, força, autoridade e transmite em quem o monta a sensação de controle e domínio. c) Winnicott (Psicanálise): Objeto transicional Cavalo (facilitador de novas condições, de novas experiências). A relação com um cavalo é de troca Formação de vínculo afetivo. Expandindo para outras áreas da Psicologia, pode-se inferir: d) Comportamental-Cognitiva: Diante dessa abordagem, cavalo imprime um papel cultural importante e soma ao seu valor cultural uma enorme gama de estímulos, uma vez que tem vontade e ações próprias, demandando reações do outro que interage com ele. e) Carl Rogers (Abordagem Centrada na Pessoa): Na Abordagem Centrada na Pessoa, por qualquer ângulo que se olhe o processo psicoterapêutico, encontrar-se-á uma constante: a relação. Na prática Equoterapêutica essa constante torna-se muito visível e clara; o processo terapêutico parte da relação homem-cavalo. 3. A QUESTÃO DO VÍNCULO A formação de vínculo é fator primário, essencial à progressão do processo terapêutico. Na Equoterapia, de acordo com o referencial teórico e prático de Kether Arruda, ele é formado através das relações que não estão apenas no âmbito mental, mas físico também; ambos, cavalo e praticante, através dos estímulos que um propicia ao outro, tentam adaptar-se um ao outro. O praticante precisa equilibrar-se e acompanhar os movimentos do cavalo e este, por sua vez, está atento às ordens do praticante. Pouco a pouco, essa interrelação ajusta-se, trazendo para o praticante a sensação de ser compreendido, o que segundo Rogers (1978 apud Arruda, 2002), é uma das condições facilitadoras e necessárias no processo psicoterapêutico. Assim como é importante o vínculo cavalo-praticante, é de fundamental importância, no decorrer do processo terapêutico, que se estabeleça um vínculo de respeito, confiança recíproca e afeto entre o mediador e o praticante, mesmo porque, se o cavalo é o agente facilitador do processo de desenvolvimento biopsicossocial do praticante, o terapeuta é o agente facilitador do contato praticante-cavalo. 4. PROGRESSÃO TERAPÊUTICA Segundo Ylna Opa (ANDE BRASIL), inicialmente é feito um trabalho de aproximação ao cavalo e ao ambiente onde ocorrerão as sessões. Essa aproximação é condição “sine qua non” para o êxito de todo o trabalho; é a apresentação de um ao outro (praticante e cavalo) sendo necessário que ocorra de forma gradual, num ambiente confiável e acolhedor. Daí a importância de uma aproximação bem sucedida, para que nessa troca o praticante possa internalizar mais conscientemente esta experiência a qual deve ser vivenciada da forma mais profunda e prazerosa possível, facilitando assim toda a transferência para resgate e melhora da auto-estima e autoconfiança. 4.1 Fases da Progressão Terapêutica O Psicólogo desempenha papel de fundamental importância para a boa progressão terapêutica, seja ele o mediador ou colaborador do planejamento terapêutico, podendo orientar procedimentos facilitadores desde a chegada do praticante até sua separação do cavalo. a) Fase de Aproximação Primeiro contato praticante-cavalo. VÍNCULO – EMPATIA Importância do trabalho em solo: cuidados, manejo. Deve ser progressiva, paciente e não forçada, com o mediador facilitando o processo. Explora-se a capacidade do praticante vencer o medo do desconhecido e/ou das diferenças. b) Fase de Descoberta Vencida a fase de aproximação, inicia-se a exploração do cavalo pelo praticante, despertando seu interesse. Exploração sensorial. Motivação. Conhecer o outro (diferente) X conhecer a si mesmo (individuação). É importante o mediador estar atento a reações de medo, alegria, agressividade, passividade, agitação, etc., intervindo quando necessário. c) Fase Educativa Ocorre uma consciência de que o cavalo não é apenas um objeto, mas sim um ser vivente, com sua própria sensibilidade e próprias reações. Será desenvolvida inicial ou preferencialmente com o cavalo ao passo, oferecendo o máximo de informações sensitivas e psicomotoras, estreitando os laços do conjunto praticante/cavalo. A verbalização nesta fase é primordial por parte do terapeuta, bem como sua disponibilidade de atenção. d) Fase de Ruptura: Qualquer que seja a progressão obtida no decorrer da sessão, o momento da ruptura entre o cavalo e o praticante necessita de atenção especial por parte do terapeuta, a fim de que seja sempre positiva. O praticante deverá “assumir” a separação de seu amigo cavalo. Para isto, pode acompanhá-lo até a baia, retirar o arreamento, alimentá-lo, acariciá-lo, etc. 5. ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO • Anamnese com a família (entrevista inicial). • Analisar e avaliar a situação atual do praticante antes do início da terapia, para fins de melhor adaptação às características do trabalho com o cavalo. • Acompanhar o processo de aproximação praticante-cavalo. • Acompanhar planejamento terapêutico e evolução do processo. • Observar o grau de motivação dos praticantes em sessão e diferenças no seu comportamento, compreendendo-os de modo a partilhar melhorias no processo com a equipe. • Atender aos familiares dos praticantes, conforme necessário. • Atender individualmente e/ou em grupo aos praticantes no decorrer das sessões, principalmente pela estimulação das áreas psicomotoras e sensório-perceptiva. • Auxiliar o praticante em relação ao processo ensino-aprendizagem. • Favorecer o inter-relacionamento da equipe interdisciplinar e demais profissionais envolvidos no trabalho. • Participar de cursos, estágios e outros eventos relacionados com atividades equoterapêuticas. • Priorizar o atendimento quanto ao aspecto emocional: resgate e melhora da auto-estima, autoconfiança e busca de autonomia. 6. O PSICÓLOGO, SEGUNDO A ANDE BRASIL a) Em relação ao praticante: Prioriza o trabalho emocional, não esquecendo o ser global (fatores biológicos, mentais e sociais); Dá atenção à frustração, auto-estima, rejeição, carência afetiva, criatividade, noção de espaço (no sentido da descoberta do próprio EU e do seu espaço no mundo); Deve, sempre que necessário, intervir no sentido de atuar para que haja melhor compreensão global do praticante, da família e da equipe. b) Em relação à família: Trabalha sentimentos advindos do fato de terem uma pessoa portadora de necessidade especial em casa: superproteção, rejeição, negação, sempre com o objetivo de melhoria da qualidade de vida para todos. c) Em relação a equipe: “Traduz” para toda a equipe o funcionamento mental do praticante e as implicações e decorrências nos aspectos social, familiar e pessoal. Elabora, junto à equipe, o mais indicado plano de intervenção, enfatizando a afetividade. O psicólogo, acima de tudo deve identificar as potencialidades do praticante, junto com o mesmo e respeitar suas limitações, ainda que busque supera-las o quanto possível. O cavalo presta seu auxílio de forma séria, sensata, disciplinada e humilde. Cabe ao psicólogo julgar se essas são as características necessárias ao bom desempenho e dignidade do seu trabalho. Se assim o são, cabe ao homem deixar que o cavalo o conduza por um lugar seguro, onde precisamos estar ou passar para completar nosso processo de individualização. Só assim nos será possível alçar vôos mais altos nessa grande escalada que, segundo Abraham Maslow (1969 apud Nascimento, 2007), “é a satisfação e não a privação de necessidades básicas que nos faz crescer fortes e saudáveis, aptos a passar em todos os testes inerentes ao viver”. Independente de sermos ou não portadores de algumas limitações e, com certeza o somos, hoje sabemos que a equoterapia é mais um método terapêutico e educacional de reabilitação reconhecido pelo CFM (Conselho Federal de Medicina). Diante de uma abordagem interdisciplinar (quiçá transdisciplinar), onde segundo Vigotski torna possível acionar através da mediação algumas áreas bastante importantes para integração e desempenho humano. Será uma coincidência com o lema da equoterapia? “O importante é a eficiência residual e não a deficiência”. 7. BENEFÍCIOS DA EQUOTERAPIA DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO Melhora da auto-estima e autoconfiança cavalo = poder, beleza, coragem. Sensação generalizada de bem estar estimulação sensorial. Condições para desenvolver afetividade vínculo, confiança. Aquisição de autonomia; Estimulação de linguagem e de área sensório-perceptiva comunicação. Socialização / autocontrole e (re) inserção social ressignificação. Desenvolvimento psicomotor: A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Por meio das atividades, as crianças, além de se divertirem, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Por isso, recomenda-se que o lúdico ocupe um lugar de destaque no processo de aprendizagem. A Psicomotricidade nada mais é que se relacionar através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A Psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente. Segundo Barreto (2000), “O desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcional idade, da lateralidade e do ritmo”. A Equoterapia é um trabalho que necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivas e sóciomotoras, de modo que a criança explora o ambiente, passa por experiências concretas, indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual, e é capaz de tomar consciência de si mesma e do mundo que a cerca, enfim, é um bom exemplo de atividade física de caráter também recreativo, que favorece a consolidação de hábitos, o desenvolvimento corporal e mental, a melhoria da aptidão física, a socialização, a criatividade; tudo isso visando à formação de uma personalidade saudável e do usufruto de boa qualidade de vida. 8. INDICAÇÕES PSICOLÓGICAS PARA A PRÁTICA EQUOTERAPÊUTICA Síndromes (X-frágil, Down, Rett, Esclerose Tuberosa, Williams, etc.) Seqüelas de traumas cranianos perdas. Atraso global do desenvolvimento, envolvendo: Distúrbios sensoriais (áudio-fono-visual); Distúrbios perceptivos; Distúrbios da atenção; Distúrbios cognitivos; Distúrbios motores e psicomotores. Atraso na fala e comunicação. Disfunções de integração sensorial e psicomotoras. Dificuldades na aprendizagem e / ou vivência escolar. Psicoses infantis. Distúrbios psicológicos e comportamentais: estresse, depressão, distúrbios de atenção e hiperatividade, esquizofrenia, etc. 9. CONTRA-INDICAÇÕES PARA EQUOTERAPIA, DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO Medos e fobias em grau altamente acentuado. Distúrbio de comportamento que acarrete risco para o praticante e para outros (severos transtornos psiquiátricos – alucinações deliróides em alto grau). 10. A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E A EQUOTERAPIA “Existe em todo organismo, em qualquer nível, um fluxo subjacente de movimento para uma realização construtiva de suas possibilidades intrínsecas... Há no homem uma tendência natural para o desenvolvimento completo, que é a tendência a realização presente em todos os seres vivos... A tendência de realização pode ser impedida, mas não pode ser destruída sem primeiro destruir o indivíduo.” Carl R. Rogers Segundo trabalho apresentado por Kether Van Prehn Arruda no I Congresso Ibero-Americano de Equoterapia, realizado em Salvador, BA, em 2005, Carl Ransom Rogers(1902-1987) talvez tenha sido o mais importante Psicólogo de seu tempo. Ele desenvolveu uma terapia puramente humanista; em 1947 foi eleito presidente da Associação Americana de Psicologia, quando conseguiu reconhecer como prática do psicólogo a psicoterapia, até então permitida apenas aos psiquiatras. Em 1956, foi também o primeiro presidente da Associação Americana de Psicoterapeutas. Em 1964, fundou o Center for Studies of the Person na Califórnia; escreveu mais de 250 artigos e publicou em torno de 20 livros, todos baseados em sua prática clínica. Foram feitos 12 filmes sobre seus trabalhos. Rogers diz que “a Abordagem não é uma linha como a Comportamental ou a Psicanálise, não é uma teoria, uma tradição, não é uma filosofia, é meramente uma Abordagem; nada mais, nada menos: é um “jeito de ser” que facilita o desenvolvimento das pessoas” (ROGERS apud WOOD 1997). Rogers (1978) relata que em sua infância, sua família guardava suprimento de batatas em uma lata para o inverno. A lata era guardada em um porão a quase um metro de uma pequena janela, por onde passavam tímidos raios de luz. Mesmo nessas condições adversas, as batatas brotavam e seus brotos pálidos e fracos alcançavam de 60 a 90 centímetros. Nunca se tornariam uma planta, mas nunca desistiriam de seu desenvolvimento. A esse fenômeno, o autor chamou de “tendência direcional dos seres vivos”. Segundo Rogers, as características de um facilitador do processo terapêutico são: Congruência: o terapeuta deve ser unificado, integrado, congruente, ser na relação exatamente aquilo que é, nunca uma fachada ou um papel. Ser e estar franco e verdadeiro na relação. Consideração positiva incondicional: trata-se de uma aceitação total dos sentimentos e expressões sinceras do cliente, sem julgamentos ou preconceitos. Compreensão empática: captar o mundo interior do cliente como se fosse o seu próprio, mas não confundi-lo como tal. Transmissão: Que o cliente perceba minimamente a congruência, a aceitação e a compreensão empática do terapeuta. O cavalo preenche todas as condições citadas acima: primeiro, o comportamento do cavalo é naturalmente verdadeiro, real, direto e sincero. Segundo, o cavalo corresponde aos estímulos de um praticante sem julgamentos ou preconceitos em relação às suas dificuldades e exige também respostas adequadas independentes de quem estiver lidando com ele; por sua natureza grupal, busca adequar seu comportamento às ordens do seu líder, que passa a ser o praticante e assim, inicia-se uma relação muito franca de adaptação mútua entre os comandos do praticante e as respostas do cavalo, reforçando o estímulo com o comportamento esperado ou não respondendo adequadamente aos comandos errados ou insuficientes do praticante. Seguindo para a terceira característica, é muito comum ouvir alguém dizer que o bom cavalo é aquele que, com uma criança em cima, é muito calmo e cuidadoso, e esse mesmo cavalo, quando montado por um cavaleiro experiente e exigente, mostrase fogoso e veloz. Outro exemplo aparece quando a pessoa que monta não está muito bem, automaticamente o cavalo muda também o seu comportamento. Estas observações são feitas por pessoas que lidam diariamente com cavalos. O cavalo muitas vezes esta lento e sem ânimo, isso pode indicar que o praticante também está da mesma forma. Ou seja, o cavalo capta o mundo interior do praticante de maneira muito clara e instantânea, porém existem os intempéries do animal, dias em que este também reage diferente, forçando assim o praticante a perceber que o cavalo não é uma extensão sua, mas sim, um parceiro que trabalha em sintonia com ele naquele momento, que pode “ser suas pernas” naquele momento e que pode lhe ceder todo o seu vigor e energia naquele momento. E, finalmente, na medida em que a relação com o animal vai se aprofundando, o praticante percebe que os seus comandos são percebidos e obedecidos pelo animal, acreditamos, assim, que as demais condições foram percebidas pelo praticante, uma vez que para comandar o cavalo em sintonia é preciso conhecê-lo ao ponto de vivenciar as suas características facilitadoras. O papel do terapeuta na Equoterapia é de trazer à consciência do praticante tal processo, otimizando seus benefícios e estendendo-os a outros âmbitos da sua vida. Além disso, outros aspectos congruentes com a Abordagem Centrada na Pessoa podem ser observados a partir da nomenclatura usada: tanto numa quanto na outra, não se atende o paciente, atende-se o cliente ou a pessoa, pois o que se busca é a participação do sujeito e não que este seja um paciente do terapeuta ou do processo, alguém que espera receber passivamente algo externo e salvador capaz de melhorá-lo, como se este não tivesse recursos que pudessem ajudá-lo a evoluir. Também, na Equoterapia como na Abordagem, o tratamento é centrado na pessoa e em suas necessidades; não segue um protocolo preestabelecido para todas as patologias e que pode ser usado em todos os casos, considerando que a pessoa deve, sempre que possível, ser e estar presente no seu processo. Desta forma, o planejamento terapêutico, incluindo as atividades propostas, deve ser elaborado de maneira que o praticante se envolva com e se interesse pelo seu tratamento. Enfim, o estar com o praticante é mais importante do que as afirmações ou o comportamento do terapeuta, o que dispensa a comunicação verbal, valorizando a não verbal, geralmente mais autêntica e espontânea, sem distorções conseqüentes da interpretação das palavras. O movimento atual (agora) é priorizado, permitindo o aprendizado que pode ser modificado segundo a consciência, escolha, persistência e confiança do praticante que lida com a situação real e imediata. O movimento e o contato físico são comprovadamente eficazes no desenvolvimento global, e, partindo da relação cavalo-praticante, podem ser mais espontâneos, verdadeiros e apropriados. Além disso, o animal propicia uma confrontação e feedback vivenciais e sem camuflagens, pois responde aos estímulos sem disfarces, permitindo que o outro (o praticante) re-avalie sua conduta para melhorá-la. 10.1. A Essência Da Terapia Centrada No Cliente Se pudéssemos ouvir o cavalo falando com um praticante, sentimos que seu discurso usaria as palavras descritas a seguir: “Eu não sei o que você vai fazer ou se tornar Neste momento ou depois Eu não sei o que farei exceto ficar com você Neste momento E ser mãe, pai, irmã, irmão,amigo, criança e amante Neste momento; Eu existo para você e com você Neste momento; Eu te dou tudo de mim Neste momento; Eu sou você neste momento; Leve-me e use-me Neste momento Para ser o que você puder tornar-se Neste momento e depois.” (Jerold D. Bozarth) 11. BENEFÍCIOS “EXTRA-ORDINÁRIOS” DA EQUOTERAPIA “A Família é a matriz de identidade do indivíduo, dando-lhe o cunho de individualidade, socialização, modelando e programando o seu comportamento e seu sentido de identidade” Minuchin, 1982. A Equoterapia propicia à família observar o praticante numa atividade extraordinária e, com isso, promove uma ruptura no ciclo vicioso da patologia, reestruturando papéis e condutas familiares e promovendo maior qualidade de vida. Além disso, a equoterapia pode promover a reinserção e inclusão social da pessoa portadora de necessidade especial, comumente denominada “deficiência”, na medida em que o praticante, através da equitação, pode se relacionar em outro âmbito social. Em outro âmbito, no que diz respeito à técnica, Kether Arruda menciona o fato que esse método terapêutico apresenta, como princípio técnico, a relação interdisciplinar entre os profissionais, pois entende que o indivíduo deva ser examinado em partes, porém tratado como um todo, como ele realmente é, e não como um fragmento. Para tanto, na maioria dos Centros de Equoterapia, o indivíduo chega com uma queixa e indicação de um médico para a prática equoterápica. Em um segundo momento os profissionais fazem as suas avaliações individuais no solo e sobre o cavalo. A partir dos resultados destas avaliações diagnosticas, o grupo se reúne para elaborar um plano de trabalho que possa melhor auxiliar o praticante naquele momento, levando em conta as necessidades observadas por cada profissional. Dado início nas terapias, todos os atendimentos são anotados e periodicamente o grupo se reúne novamente para avaliar os resultados e traçar novas estratégias de trabalho se assim acharem necessário. Por essa rica fusão interdisciplinar e seus resultados, existem casos de uma forma ainda mais rica de relação disciplinar, que é a transdisciplinariedade. Neste caso os profissionais conhecem tanto as considerações e a até a disciplina do outro, que se permitem opinar sobre o procedimento e necessidades das outras disciplinas. É claro que a palavra final sobre cada área é dada pelo profissional da mesma; assim sendo, não poderíamos deixar de sinalizar essa tendência da Equoterapia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDE-BRASIL. Apostila do I CURSO BÁSICO DE EQUOTERAPIA PEGASUS, 2007, Bragança Paulista, SP. ARRUDA, K. P. Benefícios Psicológicos da Equoterapia. Itatiba: USF, 2002. _____________. O Cavalo Como Agente Libertador do Fluxo ao Desenvolvimento Completo dos Indivíduos. Salvador, BA: Anais do Primeiro Congresso Ibero Americano e Terceiro Congresso Nacional de Equoterapia, 2004. BAHLS, S.C. e NAVOLAR, A.B.B. Terapia Cognitivo-Comportamentais: Conceitos e Pressupostos Teóricos. n. 04, Curitiba, jul. 2004. Disponível em <http//www.utp.br/psico.utp.online> BUSCÁGLIA, L. O nascimento de uma criança diferente, mas não desigual. São Paulo. Disponível em: <http://www.inclusão.com.br/projeto_textos_htm> Acesso em: 05/06/2002 JUNG, Carl Gustav – Símbolos da Transformação. Editora Vozes, 1986. MANTOAN, Maria Tereza Egler. Compreendendo a deficiência mental. Ed. Scipione, 1998. NASCIMENTO, Ylna Opa. O Papel do Psicólogo na Equoterapia. In: Apostila do I CURSO BÁSICO DE EQUOTERAPIA PEGASUS, 2007, Bragança Paulista, SP, p. 38-44 ROGERS, C. R. Sobre o Poder Pessoal / Tradução de Wilma Millan Alves Penteado; revisão de Estela dos Santos Abreu.- São Paulo: Martins Fontes, 1978. WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. 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