“Não temi quando caí nas engrenagens do destino e ninguém me ouviu chorar.” William Ernest Henley - 1875 TRÊS HOMENS, UM IDEAL E UM DESTINO José Maurício Guimarães A tomada da Bastilha e a queda da Monarquia foram pontos culminantes da Revolução Francesa. Entretanto, os ideais que motivaram essa fase da História têm remotas raízes, especialmente o descontentamento da sociedade francesa do século XVIII com a divisão do Antigo Regime em clero (Primeiro Estado), nobreza (Segundo Estado) e povo (Terceiro Estado). O Rei detinha poderes supremos no topo das hierarquias. A proclamação dos princípios universais de "Liberté, Egalité, Fraternité", idealizados por Jean-Jacques Rousseau, aboliu os direitos feudais. Em nome da “Egalité”, dizia-se extinta toda forma de servidão. Em 1789 teve início um longo período de convulsões políticas. Os desdobramentos dessas transformações não cabem nesse pequeno artigo. Basta-nos dizer que a França atravessou dois impérios, várias repúblicas, uma ditadura e uma monarquia constitucional. No auge dos acontecimentos, os regimes absolutistas vizinhos uniram-se para restaurar os poderes de Luís XVI. Reis amigos e parentes da monarquia dos Bourbon ameaçaram invadir a França e restaurar a “dignidade real”. A Rainha Maria Antonieta, nascida em Viena, era arquiduquesa da Áustria e filha mais nova de Francisco de Lorena, imperador do Sacro Império Romano Germânico. Grande era a ameaça de invasão. De imediato, a Assembléia Legislativa declarou guerra contra a Áustria e, diante da aproximação dos inimigos, toda a França foi transmutada num exército de voluntários. Conclamado para defender a revolução, o povo saiu às ruas. Verdun, última defesa de Paris, foi sitiada e os partidários do Antigo Regime foram literalmente massacrados. No turbilhão tempestuoso que se precipitava pelas ruas de Paris, ecoava a voz de um político chamado Danton. Seu discurso apaixonado invadiu o coração dos franceses: “"Para vencer os inimigos, necessitamos de Nossa audácia! Audácia cada vez mais necessária até que vençamos os inimigos da França!", dizia Danton. Juntamente com ele, outros dois líderes distribuíam armas ao povo e organizavam a Comuna Insurrecional de Paris. Eram Robespierre e Marat. Maximilien François Marie Isidore de Robespierre era chamado "o Incorruptível" devido à sua ação proba na política francesa. Marat foi o fundador do jornal “L'Ami du Peuple” (O Amigo do Povo) e se empenhava ardentemente na defesa das causas populares. Era visto como o porta-voz do partido jacobino, a ala mais radical da Revolução. O DESTINO DE MARAT: 13 de julho de 1793 Dizem que “o destino tece, com mãos invisíveis, a tapeçaria sobre a qual desfilarão os passos do progresso humano”. O destino e a morte de Marat foram marcados por aspectos macabros. Acometido de gravíssima doença de pele, Marat era obrigado a permanecer numa banheira, com fortes dores e coceiras, envolto em toalhas molhadas. Em 13 de julho de 1793, Charlotte Corday, militante do partido moderado dos girondinos, disfarçou-se de serviçal encarregada de buscar uma mensagem do enfermo. Entrou na casa, armou-se com uma faca de cozinha e assassinou o líder revolucionário na banheira que lhe servia de bálsamo. Mas a Revolução e o desfile do progresso humano não foram interrompidos. O DESTINO DE DANTON: 5 de abril de 1794 Danton voltou a Paris no final de 1793 para fazer oposição ao Terror instaurado por seu ex-companheiro de ideal, Maximilien Robespierre. O antigo incorruptível, assentado no poder, iniciara violenta repressão a qualquer pessoa que ousasse criticar o novo regime implantado pelos jacobinos. Danton foi condenado por crime de conspiração. Sua sentença, assinada por Robespierre, levou-o a morrer guilhotinado da mesma forma como haviam conduzido ao cadafalso Luiz XVI. Antes de morrer, Danton disse profetizando: "Minha única tristeza é que vou antes de Robespierre". A lâmina da guilhotina desabou sobre o pescoço do libertário e os passos do progresso humano continuaram soando pelas ruas de Paris. O DESTINO DE ROBESPIERRE: 28 de julho de 1794 Finalmente, fechando o cerco do destino, Robespierre foi feito prisioneiro por seus novos adversários. Apesar das tentativas da Comuna de Paris em defendê-lo, Maximilien de Robespierre, da mesma forma com que chegou a sentenciar 30 mortes num mesmo dia, foi guilhotinado, sem julgamento, em 28 de Julho de 1794. Cumprira-se o destino em favor do permanente desfile de passos do progresso em direção ao nobre ideal de "Liberté, Egalité, Fraternité". A ala mais popular e radical da Revolução Francesa adotou como símbolo o "barrete frígio" vermelho que relembrava escravos alforriados de Roma e da Grécia antigas.