Dinâmica Topológica e Aplicações à Teoria dos Números Fernando Lucatelli Nunes - Sumário Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0 Introdução 2 3 0.1 Dinâmica Topológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 0.2 Teoria dos Números . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 0.2.1 Aproximação diofantina . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 0.2.2 Teoria de Ramsey . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1 Dinâmica Topológica 9 1.1 Linguagem Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.2 Homomorsmos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.3 Minimalidade 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Recorrências 21 2.1 Conjuntos Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.2 Translações em Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.3 Produtos Cruzados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.4 Recorrência Múltipla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3 Teoria do Números 3.1 3.2 Sistemas de Kronecker 35 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3.1.1 Teorema de Kronecker . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.1.2 Teorema de Hardy e Littlewood . . . . . . . . . . . . . 40 Sistemas Dinâmicos Simbólicos 3.2.1 . . . . . . . . . . . . . . . . . Teorema de Van der Waerden A Transitividade Topológica . . . . . . . . . . . . . . 45 46 51 1 2 SUMÁRIO Prefácio Diante da carência de textos introdutórios à dinâmica topológica em português, este texto se propõe a dar uma introdução ao assunto em nível elementar. O grande mérito da Dinâmica topológica é a quantidade de aplicações em diversas áreas da matemática. Então nada é mais natural do que motivar seu estudo mediante uma dessas possíveis aplicações. Por isso, neste texto, foram escolhidos como motivação alguns resultados em Teoria dos Números e Combinatória. Essas aplicações foram escolhidas por dois motivos. Um deles é a natureza elementar dos resultados a serem demonstrados, tornando assim o livro mais acessível aos graduandos. O outro é que as noções necessárias para demonstrar tais resultados são razoáveis para se apresentar num primeiro contato com a teoria. Os pré-requisitos do assunto tratado neste texto que não são comumente tratados num curso de graduação regular são trabalhados na referência [8]. A primeira versão deste texto foi escrita como parte do meu trabalho de Iniciação Cientíca pela UnB, intitulada Introdução à Dinâmica Topológica e Aplicações à Teoria dos Números, no período de Agosto/2009 Agosto/2010. Essa Iniciação Cientíca recebeu apoio do CNPq e foi orientada pelo professor Mauro Moraes Alves Patrão. Para mais detalhes sobre a iniciação, o relatório é a referência [9], disponibilizada na página do grupo de Teoria de Lie e Aplicações, cujo endereço é http://teoriadelie.wordpress.com/ Resolvi colocar alguns merecidos agradecimentos aqui. Primeiramente, agradeço às pessoas que foram determinantes para completar esse trabalho: meus pais e minhas irmãs, pelo apoio, suporte, dedicação e incentivo durante todos momentos e decisões. Agradeço ao professor Mauro Patrão pela paciência e pela dedicação na orientação durante o trabalho de Iniciação Cientíca. E aos professores que deram momentos de conversas que causaram motivação e idéias em matemática. Em especial, ao professor Salahoddin Shokranian pela disponibilidade para freqüência nessas conversas frutíferas. Por m, agradeço aos amigos e colegas que me incentivaram e ajudaram durante a realização desse trabalho. Capítulo 0 Introdução Nesse capítulo, o objetivo é familiarizar o leitor com o contexto onde a Dinâmica Topológica está inserida e, por m, familiarizar o leitor com a disposição e os objetivos do texto. 0.1 Dinâmica Topológica No sentido clássico, um sistema dinâmico é um sistema de equações diferenciais com condições sucientes impostas para assegurar continuidade e unicidade das soluções. Dessa forma, o sistema dinâmico dene um uxo no espaço. Desde Poincaré, muitos resultados de interesse de sistemas dinâmicos foram obtidos sem a hipótese de que esse uxo tenha vindo de equações diferenciais. A extensão desses resultados de uxos para grupos de transformações mais gerais marcou o começo do desenvolvimento da teoria conhecida como Dinâmica Topológica. Desde então, a Dinâmica Topológica tomou vida e importância próprias. Dentro dela surgiram novos problemas e questionamentos (alguns resolvidos e outros não). Ao tomar essa vida própria, a Dinâmica Topológica ampliou cada vez mais a sua área de aplicabilidade. Ela acabou, então, se revelando uma ferramenta bastante útil e poderosa na investigação de problemas de várias áreas da Matemática e, conseqüêntemente, em áreas ans. Dentre as aplicações mais conhecidas, estão as aplicações em Análise Funcional, em Equações Diferenciais, em Topologia, em Teoria dos Números (principalmente em Aproximação Diofantina) e em Combinatória (principalmente na Teoria de Ramsey). 3 4 CAPÍTULO 0. INTRODUÇÃO 0.2 Teoria dos Números Nessa subseção, serão apresentados os resultados da Teoria dos Números e da Combinatória que serão tratados neste texto. 0.2.1 Aproximação diofantina O problema de aproximar números reais usando números racionais é o principal ponto dos resultados diofantinos que, aqui, serão tratados. Esse assunto é chamado de aproximação diofantina. Um dos exemplos mais simples foi provado por Kronecker (1823-1891), referência [7]. Esses resultados de teoria dos números tem aproximadamente 100 anos, mas as demonstrações dinâmicas usam técnicas de argumentação muito mais recentes, desenvolvidas por Hillel Furstenberg (1935- ) , referências [3] e [4]. Lema 0.1 (Lema de Kronecker (1857)) tem m∈Z e n∈N tais que Para todo ε>0 m∈Z e n∈N um pouco mais forte, α ∈ R, exis- |nα − m| < ε. A densidade dos racionais na reta diz que, para todo existem e α real e todo ε > 0, |nα − m| < nε. O resultado de Kronecker é pois diz que esses n ∈ N e m ∈ Z podem ser escolhidos tais que de tal forma que |nα − m| < ε. Note que o lema de Kronecker implica na densidade dos racionais. Porém não há como demonstrar o lema de Kronecker partindo apenas da densidade dos racionais (ou seja, esses dois resultados não são equivalentes). Usando esse primeiro resultado em aproximação diofantina, será provado um outro teorema de Kronecker que generaliza o anterior. Teorema 0.2 (Teorema de Kronecker (1857)) λ ∈ R. Para todo ε > 0, existem m, n ∈ Z tais que α ∈ (R − Q) |nα − λ − m| < ε. Dados e Segue, abaixo, um teorema devido a Hardy (1877-1947) e a Littlewood (1885-1977). Esse teorema é, de certa forma, uma generalização do lema de Kronecker 0.1, pois diz que o natural multiplicando α pode ser escolhido sendo quadrado perfeito. Ou seja, para todo α ∈ R e todo ε > 0, existem m ∈ Z e n ∈ N tais que |n2 α − m| < ε. A demonstração original desse resultado está no contexto de teoria analítica dos números. aqui, a demonstração será puramente dinâmica. No entanto, 0.2. Teorema 0.3 (Hardy e Littlewood) tem 5 TEORIA DOS NÚMEROS k∈Z e n∈N tais que Para todo α∈R e todo ε > 0, exis- 2 |n α − m| < ε. Um último resultado de Aproximação Diofantina que será provado no livro é o teorema de Furstenberg. Ele implica, em particular, que poderíamos tomar o natural n∈N sendo um cubo perfeito, ou coisas ainda muito mais gerais. Teorema 0.4 (Teorema de Furstenberg (1967)) p(0) = 0. |p(n) − m| < ε. mio de coecientes reais tal que n∈N e m∈Z tais que Seja Para qualquer p(x) um polinôε > 0, existem Um exemplo de aplicação do teorema de Furstenberg é tomar p(x) = πx23 + eπ x3 . Para qualquer m∈Z ε > 0, segue do teorema de Furstenberg que existem n∈N e tais que 23 πn + eπ n3 − m < ε. Nota-se que o teorema de Furstenberg implica no teorema de Kronecker α ∈ R, bastava tomar o polinômio p(x) = αx. E, ε > 0, existem n ∈ N e m ∈ Z tais que |αn − m| = 0.1. Para mostrar isso, dado então, seguiria que, dado |p(n) − m| < ε. Além disso, o teorema de Furstenberg implica no Teorema p(x) = αx2 . de Hardy Littlewood: o argumento é análogo, tomando É possível, também, usar o resultado de Furstenberg para encontrar versões parecidas (generalizadas) do Teorema de Hardy-Littlewood. Como, por exemplo, seguiria imediatamente do Teorema de Fursteberg que, para todo α ∈ R, 0.2.2 todo k∈N e todo ε > 0, existem n ∈ N k n α − m < ε. e m∈Z tais que Teoria de Ramsey O resultado combinatório aqui trabalhado é da área chamada Ramsey. Teoria de Essa teoria trabalha com a idéia de que um espaço com algum tipo de propriedade, quando dividido em um número nito de partes, terá ao menos um de seus pedaços ainda possuindo esta propriedade. Esse espaço pode ser um grupo, um espaço vetorial ou até mesmo grafos. Evidente 6 CAPÍTULO 0. INTRODUÇÃO que nem todo par espaço-propriedade satisfaz essa condição de Ramsey. Então a Teoria de Ramsey estuda os tipos de espaço-propriedade que satisfazem essa conservação mediante partições nitas. Sob outra perspectiva, pode-se dizer que problemas da Teoria de Ramsey trabalham com a seguinte pergunta: Dada uma estrutura com uma propriedade X, quantos elementos dessa estrutura são necessários para garantir a conservação da propriedade X ?. Ou ainda, o quão grande deve ser a estrutura original para que, ao ser particionado em r conjuntos, asseguremos que em ao menos um conjunto desse tipo de partição esteja mantida uma dada propriedade que nos seja interessante?. Um exemplo de resultado elementar da Teoria de Ramsey é o conhecido A é um conjunto com cardinan, então uma partição {Xi }i∈{1,2,3,...,n} de A em n conjuntos ao menos um i ∈ {1, 2, 3, . . . , n}, a cardinalidade de Xi é Princípio da Casa dos Pombos que diz que se lidade maior que é tal que, para maior que 1. A bela conexão entre a dinâmica e a teoria de Ramsey foi desenvolvida por Furstenberg e a conexão entre a dinâmica topológica e a combinatória foi elaborada por Furstenberg e Weiss. A Dinâmica Topológica e a Teoria ergódica vêm sendo extensamente utilizada para demonstrar resultados em Teoria de Ramsey. Nesse livro, será demonstrado um dos resultados mais famosos dessa teoria, a saber o teorema de Van der Waerden, cujo enunciado preciso será apresentado a seguir. Denição 0.1 de conjuntos Seja X um conjunto. Uma partição nita de X {C1 , . . . , Cn } que satisfaz: • Ci ∩ Cj = ∅, • n [ se é uma família i 6= j ; Ci = X . i=1 Na terminologia da combinatória, uma partição nita é denominado por uma coloração nita. E dois elementos que pertencem a um mesmo conjunto da partição são chamados monocromáticos. Se o conjunto dos números naturais forem coloridos com duas cores (ou seja, se o conjunto dos naturais for particionado por dois conjuntos), o conjunto dos números colorido com uma das cores preserva muitos padrões dos naturais. Quando usamos um número nito de cores, isso também ocorre. 0.2. 7 TEORIA DOS NÚMEROS Uma P.A. nita de tamanho r+1∈N é um conjunto do tipo {m, m + n, . . . , m + rn} , onde n∈N e m ∈ Z. Segue o enunciado do Teorema de Van der Waerden, referência [11]. Teorema 0.5 (Van der Waerden (1927)) uma partição nita, dado r ∈ N, Se contém uma progressão aritmética de tamanho nita de Z Z = C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cr é j ∈ {1, 2, . . . , r}, Cj então, para algum r. Ou seja, toda coloração contém uma P.A. de tamanho arbitrário nito monocromática. 8 CAPÍTULO 0. INTRODUÇÃO Capítulo 1 Dinâmica Topológica A dinâmica topológica estuda as propriedades topológicas dos sistemas dinâmicos. Em dinâmica topológica, um sistema dinâmico é um grupo topológico agindo (continuamente) num espaço topológico. Neste texto, todos sistemas dinâmicos têm espaço de fase compacto metrizável. Seguem as denições precisas. Denição 1.1 (Sistema Dinâmico) pacto e onde φ (G, ∗) um grupo topológico. Sejam X um espaço metrizável com- Um sistema dinâmico é um par (X, φ), é uma aplicação contínua φ: G×X →X 7→ g · x (g, x) que satisfaz as seguintes propriedades: 1. Se e∈G 2. Dados O espaço X é o elemento neutro de g, h ∈ G quaisquer e G, e · x = x, ∀x ∈ X ; x∈X qualquer, g · (h · x) = (g · h) · x. é denominado o espaço de fase do sistema dinâmico; o grupo é denominado o grupo de fase; e φ a projeção de fase. Um sistema dinâmico também pode ser denotado pela tripla pelo par G (X, G, φ) ou (X, G). (X, G), tem-se que, para todo g ∈ G, a aplicação g : X → X , onde g(x) = g · x, é um homeomorsmo. Convém observar que, dado um sistema dinâmico 9 10 CAPÍTULO 1. DINÂMICA TOPOLÓGICA Normalmente, em dinâmica topológica, os sistemas dinâmicos têm um dos dois grupos de fase: Z ou R. Quando o grupo de fase é R, o sistema di- nâmico é denominado contínuo e ele está associado a uma equação diferencial ordinária. Quando o grupo de fase é Z, o sistema dinâmico é denominado discreto. Nesse livro, sistemas dinâmicos discretos serão amplamente tratados. Portanto convém fazer algumas observações mais precisas a esse respeito. (X, Z), existe um único homeomorsmo T : X → X tal que, para todo n ∈ Z, n · x = T n x (onde T n x é a n-ésima iterada de T em x). Note que, para isso, basta tomar T : X → X tal que T x = 1 · x. n Temos que T é um homemorsmo e é fácil notar que n · x = T x. Reciprocamente, dado um homeomorsmo T : X → X , onde X é compacto metrizável, n é fácil denir um sistema dinâmico discreto (X, Z) fazendo n · x = T x. Dado um sistema dinâmico Logo, diante das observações, para sistemas dinâmicos discretos, adotase, também, a notação homeomorsmo tal que (X, T ), onde X é o espaço de fase n · x = T n x (para todo n ∈ Z). e T :X→X é o 1.1 Linguagem Básica Nesta seção, apresentaremos alguns exemplos de sistemas dinâmicos, para que possamos, motivados pelos exemplos, introduzir certas noções importantes da Dinâmica Topológica, como pontos periódicos ou xos. A noção de órbita nos dá base para desenvolver o resto da linguagem básica dos sistemas dinâmicos. Denição 1.2 (Órbita de um ponto) Dado um ponto x ∈ X, Seja (X, G, φ) um sistema dinâmico. o conjunto G · x = {g · x : g ∈ G} é chamado de órbita do ponto Exemplo 1.2.1 x. S 1 = {u ∈ C : |u| = 1}. Tem-se que S 1 é compacto 1 1 πi metrizável. Dene-se o homeomorsmo R1/2 : S → S , onde R1/2 x = e x. 1 E, então, temos o sistema dinâmico (S , R1/2 ). Tem-se que a órbita de 1 é Z · 1 = {1, eπi }. Seja Esse sistema dinâmico é ilustrado na gura 1.1. 1.1. 11 LINGUAGEM BÁSICA Figura 1.1: Sistema de rotação por π radianos. O tipo mais simples de órbita é a órbita de um ponto xo. Segue a denição de ponto xo. Denição 1.3 (Ponto xo) (X, G), x∈X é um ponto xo do sistema dinâmico quando sua órbita é um conjunto unitário. Ou seja, ponto xo, quando Exemplo 1.3.1 x ∈ X é um G · x = {x}. S 1 = {u ∈ C : |u| = 1}. Fixando j ∈ S 1 , pode-se, de 1 1 maneira geral, denir o homeomorsmo Tj : S → S , Tj (x) = jx. Segue 1 que (S , Tj ) possui ponto xo se, e somente se, j = 1. E, sendo j = 1, T1 é 1 identidade e, portanto, todo ponto de (S , T1 ) é xo. Seja Denição 1.4 (Órbita de um conjunto) nâmico e U ⊂ X. A órbita de U G · U = {t · x : t ∈ G Sejam 1 Rα : S → S 1 , um sistema di- é o conjunto e x ∈ U} = [ G·x= x∈U Exemplo 1.4.1 (X, G) S 1 = {u ∈ C : |u| = 1}. Rα x = e2πα x. E, então, temos Seja [ g · U. g∈G Dado α ∈ (R − Q), dene-se 1 o sistema dinâmico (S , Rα ), que é denominado rotação irracional do círculo. Nesse tipo de sistema dinâ1 1 mico, dado um aberto U ⊂ S qualquer, veremos que Z · U = S . Denição 1.5 (Ponto periódico) X Seja (X, G) um sistema dinâmico. é um ponto periódico desse sistema dinâmico, se, para algum rente do elemento neutro, g · x = x. g∈G x∈ dife- 12 CAPÍTULO 1. DINÂMICA TOPOLÓGICA Exemplo 1.5.1 Evidente que todo ponto xo é ponto periódico. Além disso, 1 no exemplo 1.2.1, todo ponto é periódico em (S , R1/2 ). 1 1 2πα Fixado α ∈ Q, dene-se Rα : S → S , onde Rα (z) = e z : esse sistema dinâmico é chamado de rotação racional do círculo.Veremos, neste texto, que 1 todo ponto de (S , Rα ) é periódico. A gura 1.2 abaixo ilustra o sistema para α = 1/4. Figura 1.2: Rotação racional do círculo. Em um sistema dinâmico qualquer, evidente que, se a órbita de um ponto é nita, então esse ponto é periódico. Num sistema dinâmico discreto, a recíproca é verdadeira. Segue o enunciado desse lema (e sua demonstração). Lema 1.1 Seja e somente se, x cardinalidade de Prova: (X, Z) um sistema dinâmico. Dado é periódico. No caso em que Z·x de periodo de x x ∈ X, Z · x é nita se, é periódico, denomina-se a x. (X, Z) um sistema dinâmico. Se x ∈ X é periódico, segue que existe n ∈ Z − {0} tal que n · x = x. Tem-se, então, que −n é tal que −n · x = x, anal, −n · x = −n · (n · x) = (−n + n) · x = 0 · x = x. Logo podemos supor, sem perda de generalidade, que n > 0. Provemos que, dado m ∈ Z, m · x = m(mod n) · x. Com efeito, dado l = m(mod n), segue que m − l = kn (para algum k ∈ Z ). Logo (m − l) · x = (kn) · x = x e, portanto, l · x = l · ((m − l) · x) = m · x. Isso completa a prova de que m · x = m(mod n) · x. Com efeito, seja 1.2. 13 HOMOMORFISMOS Provou-se, então, que a cardinalidade de Z·x é menor ou igual a n. 1.2 Homomorsmos Um ponto importante no estudo de Sistemas Dinâmicos é a construção de novos sistemas dinâmicos partindo de outros. Um dos meios mais elementares de construir um sistema dinâmico é o sistema dinâmico produto. Denição 1.6 (Sistema dinâmico produto) Sejam (X, G) temas dinâmicos. Dene-se o sistema dinâmico produto como Y, G), g · (x, y) = (g · x, g · y). Note anal, como X, Y são compacto onde dinâmico, (Y, G) sissendo (X × e que, de fato, isso é um sistema metrizáveis, segue que X ×Y é compacto metrizável. Além disso, é evidente que a ação é contínua e continua satisfazendo as condições de ação. Exemplo 1.6.1 S 1 = {x ∈ C : |x| = 1}. Denem-se Id : S 1 → S 1 , 1 1 2π 2 onde Id(x) = x, e Rπ : S → S , onde Rπ x = e x. Então temos os dois 1 1 1 1 2 sistemas dinâmicos (S , Id) e (S , Rπ ). Tem-se que S × S = T é o toro. Seja Com os resultados que serão apresentados neste texto, será fácil notar que o 2 1 1 sistema dinâmico produto (T , Z) de (S , Id) e (S , Rπ ), ilustrado na gura 1.3, é tal que nenhum ponto é periódico nem xo. Figura 1.3: Sistema dinâmico produto. (X, G), estamos particulartopológicas de (X, T ). Após denir Ao tratarmos aqui de um sistema dinâmico mente interessados nas propriedades homomorsmos entre sistemas dinâmicos, teremos o signicado preciso do que são essas propriedades. 14 CAPÍTULO 1. DINÂMICA TOPOLÓGICA Denição 1.7 (Homomorsmo de sistemas dinâmicos) Um homomor- (X, G) e (Y, G) é uma aplicação contínua g ∈ G e todo x ∈ X , smo entre dois sistemas dinâmicos φ:X→Y tal que, para todo g · φ(x) = φ(g · x). Quando topológica. φ:X →Y é sobrejetivo, diz-se que φ : X → Y é (X, G) e (Y, H) são E, quando o sistemas dinâmicos φ é uma semi-conjugação um homeomorsmo, diz-se que os isomorfos. E, nesse caso, eles são indistinguíveis em nosso estudo. É fácil notar que isomorsmo entre sistemas dinâmicos é uma relação de equivalência. Exemplo 1.7.1 (X, G) e (Y, G) dois sistemas dinâmicos. Toma-se o (X × Y, G). Segue que a projeção φ1 : X × Y → X , φ1 (x, y) = x, é um semi-conjugação entre (X × Y, G) e (X, G). De forma análoga, a projeção φ2 : X ×Y → Y é uma semi-conjugação entre (X ×Y, G) e (Y, G). Sejam sistema dinâmico produto Dessa forma, dados os sistemas dinâmicos do exemplo 1.6.1, segue que 2 1 a projeção do toro no círculo φ : T → S tanto é uma semi-conjugação 2 1 entre (T , Z) e (S , Rπ ), como ilustrado na gura 1.4, quanto é uma semi2 1 conjugação entre (T , Z) e (S , Id). Figura 1.4: Semi-conjugação projeção. A propriedade mais simples que é preservada por isomorsmos entre sistemas dinâmicos é a de e existência de pontos xos e pontos periódicos. 1.2. 15 HOMOMORFISMOS Proposição 1.2 Sejam (X, G) (Y, G) e é um homomorsmo entre os sistemas dinâmicos, (X, G), então π(x) ∈ Y π(y) é xo em (Y, G) periódico em segue que Prova: Com efeito, se g · x = x. x∈X π:X→Y segue que, se x ∈ X é (Y, G). Se y ∈ X é xo, sistemas dinâmicos. Se é periódico em é periódico, segue que existe g ∈G tal que g · π(x) = π(g · x) = π(x), ou seja, π(x) é periódico. Para provar a segunda armação, seja y ∈ X xo. Dado h ∈ G, tem-se que h · π(y) = π(h · y) = π(y). Logo π(y) é xo em (Y, G). Segue, então, que As propriedades que são preservadas por isomorsmos são denominadas propriedades topológicas dos sistemas dinâmicos. Denição 1.8 Um sistema dinâmico discreto dinâmico discreto φé (Y, S). cação de (Y, S) é um fator do sistema (X, T ), se existe uma semi-conjugação φ : X → Y . A apli(X, T ) é uma extensão chamada aplicação fator. Nesse caso, A imagem inversa de cada ponto por uma aplicação fator é chamada de {φ−1 (y) : y ∈ Y } é chamado de conjunto das bras. bra e o conjunto (X, T ) e (Y, S) sistemas dinâmicos discretos. A condição para que φ : X → Y seja um homomorsmo entre os sistemas dinâmicos é apresentado Sejam na proposição seguinte. Proposição 1.3 φ:X→Y Sejam (X, T ) e (Y, S) sistemas dinâmicos discretos. Se é uma aplicação contínua tal que φ(T x) = S(φ(x)), então φ Prova: um homomorsmo entre (X, T ) e (Y, S) Com efeito, para provar a proposição basta provar que, para todo x ∈ X e todo n ∈ Z, S n (φ(x)) = φ(T n x). Dado x ∈ X , provemos que S n (φ(x)) = φ(T n x) para todo n ∈ N. Para n = 1, a armação coincide com a hipótese. Supõe-se por indução que a armação seja verdadeira para um m. Segue que S m+1 (φ(x)) = S(S m (φ(x))) = S(φ(T m x)) = φ(T (T m x)) = φ(T m+1 x). Isso completa a prova por indução de que S n (φ(x)) = φ(T n x) para todo n ∈ N. 16 CAPÍTULO 1. DINÂMICA TOPOLÓGICA Para completar a prova, basta provar por indução que S −n (φ(x)) = φ(T −n x) n ∈ N. Tem-se que, fazendo x = T y , φ(T (y)) = S(φ(y)). y = T −1 (x), segue que para todo como Portanto, S −1 (φ(x)) = φ(y) = φ(T −1 (x)). Logo a armação é verdadeira para n = 1. O resto de demonstração por indução é análogo à indução anterior. 1.3 Minimalidade Denição 1.9 é denominado Seja (X, G) um sistema dinâmico. Um subconjunto G-invariante, se Y de X G·Y =Y. (X, T ), podemos falar que Y ⊂ T (Y ) = T Y ⊂ Y e T −1 (Y ) ⊂ Y . Neste caso, No caso de um sistema dinâmico discreto X é Z-invariante ao satisfazer usa-se a terminologia Exemplo 1.9.1 (X, G) um sistema dinâmico. Para todo x ∈ X, a G-invariante. Com efeito, basta ver que, evidentemente, dados y ∈ G · x e h ∈ G, tem-se que y = g · x para algum g ∈ G. E, portanto, h · y = h · (g · x) = (hg) · x ∈ G · x. De forma análoga, conclui-se que, se (X, G) é um sistema dinâmico, a órbita de qualquer subconjunto V ⊂ X é G-invariante. órbita de x Seja T -invariante. é um subconjunto Alguns resultados básicos sobre subconjuntos invariantes serão provados antes de denirmos um dos principais conceitos envolvendo subconjuntos invariantes: o de subconjunto minimal. O fecho de um subconjunto invariante num sistema dinâmico é, ainda, invariante. Disso segue que o fecho da órbita de um conjunto (ou de um ponto) é invariante. Esses resultados serão formalizados e provados abaixo. Lema 1.4 segue que Y Seja é (X, G) um sistema dinâmico. G-invariante, G-invariante. E, para todo G-invariante. Em particular, para todo Y ⊂ X, G · Y Y ⊂ X é Se é G-invariante. x ∈ X, G · x é 1.3. 17 MINIMALIDADE Prova: Y é G-invariante, tem-se que, dado g ∈ G, g · Y ⊂ Y , (g · Y ) ⊂ Y . E, portanto, pela continuidade da ação, Com efeito, se donde segue que g · Y ⊂ (g · Y ) ⊂ Y . Y é G-invariante. x ∈ X e Y ⊂ X , tem-se G · x e G · Y são G-invariantes. Ficou provado, então, que Em particular, dados G-invariantes. Logo que G·x e G·Y são Se um subconjunto é invariante num sistema dinâmico, o mesmo ocorrerá com o seu complementar. Isso é um resultado bem fácil de se deduzir que será usado muitas vezes em demonstrações pelo texto, portanto será enunciado e provado abaixo. Lema 1.5 Y ⊂ X G-invariante. um subconjunto C Com efeito, prova-se por contraposição. Se Y G-invariante, segue que existem g ∈ G e y ∈ Y C tais que = X − Y não é g · y ∈ Y . Logo Sejam G-invariante. (X, G) um sistema X −Y =YC Segue que dinâmico e é Prova: segue que Y não é G-invariante, pois existe g·y ∈Y tal que g −1 · (g · y) = e · y = y 6∈ Y. Denição 1.10 (Subconjunto minimal) mico. M ⊂ X Seja (X, G) um sistema dinâ- é minimal se é um subconjunto não-vazio, G-invariante, fechado e que não contenha partes próprias não-vazias fechadas que sejam G-invariantes. Ou seja, 1. M 2. F ⊂ M , F 6= ∅, F é fechado e M ⊂X é minimal, se G-invariante; fechado e G-invariante =⇒ F = M . Por sua vez, um sistema dinâmico minimal desse sistema dinâmico. (X, T ) é denominado minimal se X é 18 CAPÍTULO 1. Exemplo 1.10.1 DINÂMICA TOPOLÓGICA 2 Rπ : S 1 → S 1 , Rπ x = e2π x. Veremos, neste 1 texto, que (S , Rπ ) é minimal. Mais geralmente, se α ∈ (R − Q), dene-se Rα x = e2πα x. E, então, (S 1 , Rα ) é minimal. Dene-se É fácil vericar que a propriedade de minimalidade é um invariante por isomorsmos em sistemas dinâmicos. Note que um sistema dinâmico é minimal se, e somente se, a órbita de todo ponto é densa no espaço de fase. Apesar de isso ser uma conseqüência direta da denição, será enunciado como um lema para futuras referências. Lema 1.6 ponto de Prova: X (X, G) X. Um sistema dinâmico tem órbita densa em é minimal se, e somente se, todo (X, G) um sistema dinâmico minimal. Se o fecho da órbita de um ponto x de X fosse uma parte própria de X , então X não seria minimal, pois, pelo lema 1.4, o fecho da órbita de x é G-invariante (e, no De fato, seja caso, obviamente, não-vazio e fechado). Logo o fecho da órbita de qualquer X. Reciprocamente, se X não é minimal, segue que existe uma parte própria F de X fechada T -invariante não-vazia. Dado x ∈ F , tem-se que G · x ⊂ F e, então, G · x ⊂ F 6= X . Isso completa a prova de recíproca. ponto é necessariamente Denição 1.11 (Subsistema) (X, G) um sistema dinâmico (espaço Y ⊂ X é fechado e G-invariante, (Y, G) é chamado de subsistema do sistema dinâmico (X, G). Note que, nesse caso, de fato, (Y, G) é um sistema dinâmico. Anal, é evidente que a ação mantém suas propriedades. Além disso, Y é fechado do compacto metrizável X e, portanto, é compacto metrizável. Em particular, se M ⊂ X é minimal do sistema dinâmico (X, G), pode-se tomar o subsistema (M, G). Seja de fase metrizável compacto). Se Um importante teorema de caracterização de sistemas dinâmicos minimais segue abaixo. Teorema 1.7 Seja guintes armações: (X, G) um sistema dinâmico. São equivalentes as se- 1.3. 19 MINIMALIDADE 1. (X, G) é um sistema dinâmico minimal; 2. Os únicos fechados Y ⊂ X T -invariantes 3. Para todo conjunto não-vazio aberto 4. Pata todo aberto não-vazio k [ U ⊂ X, são ∅ e X; U ⊂ X, G · U = X; existem g1 , . . . , g k ∈ G tais que gi · U = X . i=1 Prova: (1)=⇒(2) é óbvia. Para provar que (2)=⇒(3), dado U ⊂X aberto G · U ser um aberto, o seu complementar F é G · U é G-invariante, logo F é G-invariante. Pela hipótese, por F ser fechado G-invariante, segue que F ou é igual a X , ou C é vazio. Como X − F = F = G · U é necessariamente não vazio (pois ao menos ∅ = 6 U ⊂ G · U ), segue que F = ∅, ou seja, G · U = X . Para provar que (3)=⇒(4), basta ver que, dado U ⊂ X aberto não[ vazio, G · U = g · U = X é uma cobertura aberta de X e, portanto, e não vazio, segue que, por um fechado. Tem-se que g∈G X , existe uma k [ que gi · U = X . pela compacidade de g1 , . . . , g k ∈ G tais subcobertura nita, ou seja, existem i=1 Para provar que (4)=⇒(1), faremos prova por contraposição. provaremos que negação de (1) implica na negação de (4). Seja minimal, segue que existe um fechado não-vazio F 6= X . Toma-se U = X − F que U é G-invariante. Logo Ou seja, (X, G) F ⊂ X G-invariante não tal que que, pela hipótese, é não-vazio. Tem-se, então, [ g · U = U 6= X. g∈G Em particular, isso quer dizer que não existe um subconjunto nito [ g · U = X. tal que g⊂G g∈g Teorema 1.8 mal M ⊂ X. Todo sistema dinâmico (X, G) possui um subconjunto mini- 20 CAPÍTULO 1. Prova: DINÂMICA TOPOLÓGICA (X, G) um sistema dinâmico. Coloquemos a ordem parcial da inclusão na família F dos subconjuntos fechados não-vazios G-invariantes de X . Essa família é não vazia, pois ao menos X ∈ F. Note que um subconjunto fechado de um compacto é compacto e, portanto, todo elemento de F é Seja compacto. Dada uma cadeia K qualquer de F, a interseção dos elementos de uma subfamília nita qualquer {B1 , . . . , Bn } ⊂ K é igual ao menor conjunto e, portanto, é não vazia. Logo, por família de fechados de \ interseção F X K ser uma que satisfaz a propriedade de interseção nita, a é não vazia. Note que essa interseção é uma cota inferior da F ∈K cadeia K . Ou seja, foi provado que conseguimos uma cota inferior para toda F e, M. cadeia de minimal portanto, pelo lema de Zorn, temos que F tem um elemento G-invariante e é não vazio, pois M ∈ F . Se M0 ⊂ M é fechado, não-vazio e G-invariante, segue que M0 ∈ F e M0 ⊂ M , ou seja, M0 = M . Isso completa a prova de que M ⊂ X é um conjunto minimal de (X, G) e, portanto, completa a demonstração do teorema. Note que o fechado M é Capítulo 2 Recorrências Esse capítulo será dedicado a um dos conceitos mais básicos da dinâmica topológica: o de recorrência (de Poincare). Esse conceito é intimamente ligado à noção de minimalidade. Um dos resultados mais fundamentais desse capítulo é o teorema de Birkho (resultado 2.3.1). Esse resultado será provado logo depois de apresentado o conceito de conjunto ω -limite. Seguem a denição de ponto recorrente e um lema importante sobre imagem de pontos recorrentes por homomorsmos. Denição 2.1 Seja (X, T ) um sistema dinâmico discreto. Um ponto diz-se recorrente se existe uma seqüência de números inteiros nj → ∞ x∈X tal que nj · x → x. e tal que Lema 2.1 (nj ) (X, T ) e (Y, S) sistemas dinâmicos discretos. Se π : X → Y é um homomorsmo e x ∈ X é recorrente, segue que π(x) ∈ Y é recorrente. Prova: Sejam U ⊂ Y de π(x), segue que π −1 (U ) é n −1 uma vizinhança de x. Por x ser recorrente, Cπ −1 (U ) = {n ∈ N : T x ∈ π (U )} Com efeito, dada uma vizinhança é innito. Dado m ∈ Cπ−1 (U ) , segue que S m (π(x)) = π(T m x) ∈ U . Isso provou que CU = {n ∈ N : S n (π(x)) ∈ U } ⊂ Cπ−1 (U ) . CU (Y, S). E, portanto, rente em é innito. Logo completou-se a prova de que π(x) é recor- 21 22 CAPÍTULO 2. RECORRÊNCIAS 2.1 Conjuntos Limites Num sistema dinâmico discreto minimal, provaremos que todos os pontos são recorrentes. Note que provamos a existência de um subconjunto minimal num sistema dinâmico, logo segue que todo sistema dinâmico discreto possui pontos recorrentes (basta tomar um ponto do subconjunto minimal). Antes de provar esses resultados, seguiremos denindo mais uma importante noção em Dinâmica Topológica. Essa noção é a de conjuntos limites. (X, T ) um sistema dinâmico discreto, dado x ∈ X , dizer que y pertence ω -limite de x signica, intuitivamente, que as iterações de x estarão freqüentemente perto de y . As noções de conjuntos limites como Seja ao conjunto serão denidas aqui são restritas a sistemas dinâmicos discretos. Portanto, nesta seção, todos os sitemas dinâmicos serão discretos. Denição 2.2 (Conjunto ω - limite) (X, T ) um sistema dinâmico discreto. Dado x ∈ X , um ponto y ∈ X é ω−limite de x, se existir uma seqüência nk → ∞ tal que nk · x → y . Em particular, se y é ω−limite , tem-se que y ∈ (Z+ · x). O conjunto ω−limite de x, denotado por ω(x), é o conjunto de todos pontos ω−limites. Note que ω(x) = ∞ \ Seja {t · x : t > n}. n=1 x ∈ X é um ponto recorrente é equivalente a dizer que x ∈ ω(x). Ou seja, se (X, T ) é um sistema dinâmico discreto, x ∈ X é recorrente se, e somente se, x pertence ao seu próprio conjunto ω−limite. Nesses termos, dizer que Lema 2.2 Seja (X, T ) um sistema dinâmico discreto. O conjunto ω−limite x de X é não-vazio, fechado, compacto e T -invariante. de qualquer ponto Prova: X é um espaço métrico compacto, segue que toda seqüência de pontos em X possui uma subseqüência convergente, logo, de fato, o conjunto ω−limite de qualquer ponto x ∈ X é não-vazio, pois a seqüência (n · x) possui uma subseqüência convergente. Como o conjunto ω−limite é uma interseção de fechados, segue que é, também, fechado. Como ele é um fechado de um compacto, segue que o conjunto ω−limite é compacto. Dado y ∈ ω(x), segue que existe uma seqüência (nk ) de números naturais tal que nk → +∞ e nk · x → y . Se m ∈ Z, segue que (nk + m) é um Com efeito, como 2.2. 23 TRANSLAÇÕES EM GRUPOS nk + m → +∞ e (nk + m) · x → m · y (pois T é contínua). Logo m · y ∈ ω(x). Se tirarmos os termos negativos da seqüência (nk − m), conseguimos uma seqüência (mk ) de números naturais tal que mk → +∞ e mk · x → (−m) · y . Portanto (−m) · y ∈ ω(x) e, então, ω(x) é T -invariante. seqüência de números inteiros tal que Veremos que, com o resultado 2.2, segue diretamente que todos os pontos de um sistema dinâmico minimal discreto são recorrentes. Proposição 2.3 se que todo ponto Prova: (X, T ) um sistema x ∈ X é recorrente. Seja dinâmico discreto minimal. Tem- (X, T ) é um sistema dinâmico discreto minimal. ω(x) é um subconjunto fechado não-vazio e T invariante. Mas, como (X, T ) é minimal, segue que ω(x) = X . E, portanto, em particular, x ∈ ω(x), donde segue que x é recorrente. Dado Com efeito, seja x ∈ X, segue que Evidente que a recíproca da proposição 2.3 não é verdadeira: por exemplo, é muito fácil construir sistemas dinâmicos não minimais tais que todos seus 1 pontos são todos periódicos (em particular, recorrentes). Segue o teorema de Birkho que fala da existência de pontos recorrentes em todo sistema dinâmico discreto. Corolário 2.3.1 (Teorema de Birkho) (X, T ) Todo sistema dinâmico discreto possui um ponto recorrente. Prova: Dado um sistema dinâmico (X, T ), segue pelo teorema 1.8 que existe M ⊂X minimal. Evidente que M é compacto (pois é fechado de um com- pacto), logo podemos considerar o subsistema (M, T ) é tal que todo no sistema x∈M (M, T ). Pela proposição 2.3, é recorrente. Evidente que x∈M (X, T ). é recorrente 2.2 Translações em Grupos O sistema de translação em grupos compactos metrizáveis é um sistema dinâmico com propriedades bem interessantes, principalmente em relação a 1 Um exemplo já apresentado em 1.5.1 é a rotação racional do círculo. 24 CAPÍTULO 2. RECORRÊNCIAS recorrências. Por essas propriedades, esses sistemas dinâmicos se tornaram muito importantes na teoria. Além de ser um sistema dinâmico muito importante e comum, esse tipo de sistema dinâmico será usado na demonstração de um dos teoremas sobre Aproximação Diofantina. Segue a denição de sistema de translação. Denição 2.3 (Sitema de Translação) (G, ·) um grupo compacto meT : G → G, T (x) = r · x. A aplicação T é evidentemente um homeomorsmo (por G ser um grupo topológico). T é chamada de translação e o sistema (G, T ) é chamado de sistema dinâmico da translação por r , ou sistema de translação r . trizável, xa-se r ∈ G. Seja Dene-se, então, Exemplo 2.3.1 1 Temos que S é um grupo metrizável compacto. Dene-se Rα : S 1 → S 1 , Rπ x = e2πα x. Segue que (S 1 , Rα ) é um sistema de translação 2πα por u = e . A proposição abaixo ilustra uma das interessantes propriedades que um sistemas de translação tem. Proposição 2.4 dos pontos de Prova: G Seja (G, T ) um sistema dinâmico de translação. As órbitas são todas homeomorfas entre si. (G, T ) um sistema dinâmico de translação por a ∈ G. Com n n efeito, dados g ∈ G, dene-se f : Z · a → Z · g , f (a ) = a g = n · g . É −1 evidente que f é contínua e é uma bijeção. Tem-se que f : Z·g → Z·a −1 n n −1 n , f (a g) = (a g)g = a é contínua. Logo f é um homeomorsmo. Isso completou a prova da proposição. Seja Essa proposição implica, por exemplo, que, se algum ponto num sistema dinâmico de translação tem órbita nita, então todos os pontos desse sistema dinâmico possuem órbitas nitas. Ou seja, segue o seguinte lema. Lema 2.5 Seja (G, T ) um sistema de translação por a ∈ G. Todo ponto de um sistema de translação é periódico se, e somente se, algum ponto de G periódico. Além dessas importantes propriedades, tem-se a seguinte propriedade. é 2.2. Lema 2.6 que 25 TRANSLAÇÕES EM GRUPOS (G, T ) Seja (G, T ) um sistema dinâmico de translação por é minimal se, e somente se, existe um ponto de a ∈ G. G com Segue órbita densa. Prova: Note que é evidente que a minimalidade implica que a órbita de qualquer ponto de G é densa em G (segue do lema 1.6). g ∈ G um ponto com órbita densa. Dado h ∈ G, provemos que a órbita de h é densa. Dado r ∈ G tem-se que existe uma seqüência de números inteiros não necessariamente distintos (nk ) tal que nk · g → rh−1 g . Pela continuidade do produto, segue que nk · h → r. Isso provou que a órbita de h é densa e, portanto, completa a prova de que todo ponto de G tem órbita densa. Pelo lema 1.6, segue que (G, T ) é minimal. Reciprocamente, seja E, por m, todo sistema dinâmico de translação é recorrente: no sentido de que todos seus pontos são recorrentes. Esse resultado será muito importante: será usado no principal resultado sobre produtos cruzados e, também, numa demonstração sobre aproximação diofantina. Proposição 2.7 pontos de G Seja (G, T ) um sistema de translação por Pelo teorema de Birkho, existe um ponto z ∈ (G, T ). Segue que existe nj → ∞ tal que anj z → z . Dado n tinuidade do produto no grupo topológico, segue que a j g g Todos são recorrentes. Prova: Ou seja, a ∈ G. é recorrente. G recorrente em g ∈ G, pela con= anj zz −1 g → g . A proposição anterior poderia ter sido demonstrada sem usar o teorema n de Birkho. Dados a ∈ G e u ∈ G, toma-se a seqüência (a ). Temos, pela n compacidade de G, que existem nj → ∞ e v ∈ G tais que a j → v . Mas, sem perda de generalidade, podemos supor que mj = nj+1 − nj → ∞. Portanto, pela continuidade do produto e da inversão, tem-se que amj u = anj+1 (anj )−1 u → vv −1 u = u. Isso provou, então, que, num sistema de rotação por é recorrente. a (qualquer), todo ponto 26 CAPÍTULO 2. RECORRÊNCIAS 2.3 Produtos Cruzados Nesta seção, os sistemas dinâmicos são todos discretos. Já sabemos que a imagem de um ponto xo, periódico ou recorrente por uma semiconjugação entre sistemas dinâmicos discretos tem a propriedade preservada. Mas nada pode ser dito da imagem inversa. No entanto, mediante certas condições, esse quadro é mudado (e, então, conseguiremos mais informações usando a semi-conjugação entre dois sistemas dinâmicos discretos). A maior parte dessa seção dedica-se a esse mérito. Denição 2.4 (Y, S) um sistema dinâmico discreto, G um grupo φ : Y → G uma aplicação contínua. Dene-se o par (X, T ), onde X = Y × G e T (y, g) = (Sy, φ(y)g). Esse par é chamado de produto cruzado de (Y, S) via o grupo G pela aplicação φ. (X, T ) também é chamado de produto cruzado de (Y, S) e G. Sejam compacto metrizável e Se (Y, S) é um sistema dinâmico discreto, então o produto cruzado (X, T ) (Y, S) via o grupo G por uma aplicação φ é um sistema dinâmico discreto. Além disso, (X, T ) é uma extensão de (Y, S). A proposição abaixo estabelece de essas armações. Proposição 2.8 (Y, S) um sistema dinâmico discreto, G um grupo compacto metrizável e (X, T ) um produto cruzado de (Y, S) via G. Tem-se que (X, T ) é um sistema dinâmico e é uma extensão de (Y, S), onde Sejam π:X → Y (y, g) 7→ y é a semi-conjugação entre Prova: De fato, X (X, T ) e (Y, S). é produto cartesiano de dois espaços métricos compactos e, portanto, é um espaço métrico compacto. A transformação em cada uma de suas coordenadas e, portanto, é contínua. T é contínua A aplicação inversa é denida por T −1 (x, h) = (S −1 x, (φ(S −1 x))−1 h) e é evidentemente contínua (logo, de fato, T é um homeomorsmo). 2.3. 27 PRODUTOS CRUZADOS (X, T ) é uma extensão. Ora, basta, então, π : X → Y , onde π(y, g) = y é uma semi-conjugação. Isso Resta vericar que, de fato, vericar que é, obviamente, uma aplicação sobrejetiva contínua (é, na verdade, a proje- π(T (y, g)) = S (π(y, g)). Dado (y, g) ∈ X , S (π(y, g)) = Sy . Logo essa condição que, de fato, π é uma semi-conjugação. ção). Basta, então, vericar que π(T (y, g)) = Sy . Também ocorre que é satisfeita, ou seja, provamos Denição 2.5 (Y, S) um sistema dinâmico discreto, G um grupo compacto metrizável e (X, T ) um produto cruzado de (Y, S) via G. Uma translação à direita do produto cruzado (X, T ) por h ∈ G é uma aplicação Rh : X → X tal que Rh (y, g) = (y, gh). Sejam Proposição 2.9 (Y, S) um sistema dinâmico discreto, G um grupo (X, T ) um produto cruzado de (Y, S) via G. Então, 2 translação Rh é uma conjugação de (X, T ) nele mesmo. Sejam compacto metrizável e para todo Prova: Rh h ∈ G, Rh a é obviamente um homeomorsmo. Resta apenas provar que comutam. Dado x = (y, g) ∈ X , T e tem-se que Rh (T x) = Rh (Sy, φ(y)g) = (Sy, φ(y)gh) = T (y, gh) = T Rh (y, g) = T Rh (x) O principal mérito desta seção é construir uma condição suciente para (Y, S) traga informações sobre os pontos de recorrência de sua extensão (X, T ). No caso, essa condição suciente é (X, T ) ser um produto cruzado de (Y, S) via um grupo compacto metrizável G. Isso é amplamente utilizado em dinâmica topológica. Em particular, que o sistema dinâmico discreto fator tudo feito nesta seção será importante nas demonstrações dos teoremas sobre aproximação diofantina. Segue um resultado que torna isso mais claro. 2 Ou seja, isomorsmo de sistemas dinâmicos. 28 CAPÍTULO 2. Teorema 2.10 RECORRÊNCIAS (Y, S) um sistema dinâmico discreto, G um grupo compacto metrizável e (X, T ) um produto cruzado de (Y, S) via G. y ∈ Y é recorrente se, e somente se, (y, g) é recorrente em X para todo g ∈ G (ou Sejam seja, todos pontos de sua bra são recorrentes). Prova: (Y, S), segue do lema 2.1 que, se π(x) é recorrente. Reciprocamente, seja e ∈ G o elemento neutro de G. Primeiramente, prova-se que y ∈ Y recorrente implica (y, e) ∈ X recorrente. Como y ∈ Y é n recorrente, segue que existe nj → ∞ tal que S j y → y . Como X é compacto, x∈X Como (X, T ) é uma extensão de recorrente, então pode-se supor, sem perda de generalida (passando a uma subseqüência se n n necessário), que (T j (y, e)) converge. Tem-se que T j (y, e) → (y, h) para (y, h) ∈ ω(y, e). Prova-se que Rh (ω(y, e)) ⊂ ω(y, e). Dado (z, a) ∈ ω(y, e), m existe mj → ∞ tal que T j (y, e) → (z, a). Logo algum h ∈ G. Ou seja, segue que T mj (y, h) = T mj Rh (y, e) = Rh (T mj (y, e)) → Rh (z, a). ω(y, e) é T -invariante, T mj (y, h) ∈ ω(y, e) para todo os índices mj . E, por ω(y, e) ser fechado, segue que Rh (z, a) ∈ ω(y, e). m m+1 Logo, em particular, segue que Rh (y, h) = (y, h ) ∈ ω(y, e) para todo m ∈ N. Pelo resultado 2.7, segue que existe sj → ∞ tal que (y, hsj ) → (y, e) e, como ω(y, e) é fechado, isso prova que (y, e) ∈ ω(y, e), ou seja, (y, e) é Como recorrente. Por g ∈ G, (y, e) kj → ∞ de Rg , que ser recorrente, existe segue, pela continuidade tal que T kj (y, e) → (y, e). Dado T kj (y, g) = Rg (T kj (y, e)) → Rg (y, e) = (y, g), ou seja, foi provado que (y, g) é recorrente. 2.4 Recorrência Múltipla Nesta seção, recorreremos às denições e aos resultados sobre sistemas dinâmicos mais gerais. O principal objetivo dessa seção é provar o teorema 2.13 2.4. 29 RECORRÊNCIA MÚLTIPLA . Denição 2.6 Dados dois sistemas dinâmicos (X, G) e (X, H) comutam entre x ∈ X , g · (h · x) = h · (g · x). Denição 2.7 (X, T ) é chamado de sistema dinâmico (X, G) que comuta com Um sistema dinâmico discreto dinâmico homogêneo, se existe um sistema (X, T ) (X, G) e (X, H), diz-se que g ∈ G, todo h ∈ H e todo si, se para todo (X, G) é minimal. A ⊂ X fechado é homogêneo com respeito a (X, T ), se sistema dinâmico (X, H) que comuta com (X, T ) tal que A ⊂ X é tal que Um subconjunto existe um minimal nesse sistema dinâmico. Lema 2.11 Sejam (X, T ) um sistema dinâmico discreto e A⊂X um sub- conjunto fechado homogêneo. Suponha que para todo ε > 0, existem x, y ∈ A, n ∈ N tais que d(T n x, y) < ε. Então, para todo ε > 0, existem z ∈ A e m ∈ N m tais que d(T z, z) < ε. Um conjunto A⊂X satisfazendo a hipótese é denominado conjunto ho- mogêneo recorrente. Prova: Supõe-se que (X, T ) é um sistema dinâmico e A⊂X é um subcon- junto fechado homogêneo satisfazendo a hipótese. Primeiramente, provare- ε>0 mos que para todo d(T m u, w) < ε. e todo u ∈ A, existem w∈X e m∈N tais que ε > 0, seja (X, G) um sistema dinâmico que comuta com (X, T ) tal A ⊂ X é minimal em (X, G). Como A é fechado, segue que é compacto Dado que e, portanto, é totalmente limitado. Disso segue que existe uma cobertura de n [ A por bolas abertas A = Bi de raios menores que ε/4. Por (A, G) nito Fi ⊂ G ser i=1 minimal, para cada i ∈ {1, . . . , n} , existe um conjunto [ g −1 · Bi = A. tal que g∈Fi Denota-se F := n [ Fi . Evidente que F é nito, então denotam-se F = i=1 {g1 , . . . , gN } e IN := {1, . . . , N }. Dados u, v ∈ A, tem-se que u ∈ Bk para 30 CAPÍTULO 2. RECORRÊNCIAS k ∈ {1, . . . , n} e, também, que v ∈ gj−1 · Bk para algum j ∈ IN (gj · v) ∈ Bk e, então, d(gj · u, v) < ε/2. Portanto míni∈IN d(gi · u, v) < ε/2 para quaisquer u, v ∈ A. algum . Logo Por outro lado, pela continuidade uniforme da ação, tem-se que existe δ>0 hipótese, existem todo i ∈ IN , d(gi · x, gi · y) < ε/2 , se d(x, y) < δ . x, y ∈ A e m ∈ N tais que d(T m x, y) < δ . Portanto, tal que, para todo i ∈ IN Pela para , d(gi · (T m x), gi · y) = d(T m (gi · x), gi · y) < ε/2. Temos, então, que, para todo míni∈IN d(T m u ∈ A, (gi · x), u) ≤ míni∈IN (d(T m (gi · x), gi · y) + d(gi · y, u)) < ε/2 + ε/2 = ε. Ou seja, para todo ε m tais que d(T w, u) < ε. > 0 e cada u ∈ A, existem m ∈ N e w := (gj · x) ∈ A Logo a armação está provada. Provemos a amação do Lema. Dado ε > 0, denem-se duas seqüências z0 ∈ A. Pelo que foi d(T m1 z1 , z0 ) < ε/2. vamente. Fixa-se m1 ∈ N tais que (zn ) em A e provado, tem-se que Supõe-se, por indução, que foram tomados z0 , . . . , zl e n +···+nj para todo i < j ≤ l , d(T i+1 zj , zi ) < ε/2. i Pela continuidade de T , existe < l, d(T ni+1 +···+nl z, zi ) < ε/2. (mn ) δ < ε/2 tal que, se em N indutiexistem z1 ∈ A e n1 , . . . , nl d(z, zl ) < δ , tais que, para todo Por outro lado, segue da armação provada anteriormente, que existem n e nl+1 ∈ N tais que d(T l+1 zl+1 , zl ) < δ < ε/2. Portanto zl+1 ∈ A d(T ni+1 +···+nl+1 zl+1 , zi ) < ε/2 para todo i < l. E, assim, cam denidas as seqüências indutivamente. 2.4. 31 RECORRÊNCIA MÚLTIPLA X , segue que existe uma subseqüência de (zn ). Logo, que existem zi , zj na seqüência tais que d(zi , zj ) < ε/2. Pela compacidade de em particular, segue Disso segue que d(T ni+1 +···+nj+1 zj , zj ) ≤ d(T ni+1 +···+nj+1 zj , zi ) + d(zi , zj ) ≤ ε/2 + ε/2 = ε. (X, T ) é um sistema dinâmico discreto e A ⊂ X é um subconjunto homogêneo recorrente, então existe y ∈ A recorrente em (X, T ). Isso é um resultado forte sobre recorrência que será Provaremos, na proposição seguinte, que se importante na demonstração do teorema de recorrência múltipla. Proposição 2.12 A ⊂ X um subconjunto fechado homogêneo de X . Se para todo ε > 0, existem x, y ∈ A n e n ∈ N tais que d(T x, y) < ε; então existem z ∈ A e uma seqüência de n inteiros nj → ∞ tal que T j z → z . Ou seja, existe um ponto recorrente z ∈ A. Prova: A⊂X Seja Sejam (X, G) (X, T ) um sistema dinâmico discreto e o sistema dinâmico que comuta com (X, T ) e que torna minimal. Dene-se a função f :A → R x 7→ infn∈N d(T n x, x). x é recorrente se, lema anterior, temos que infx∈A f (x) = 0. superiormente. Anal, dados α ∈ R e Nota-se que um ponto e somente se, Temos que f f (x) = 0. é semicontínua y ∈ {x ∈ A : infn∈N d(T n x, x) < α} , tem-se que infn∈N d(T n y, y) = β < α. Logo existe d(T m y, y) < β+α . 2 m∈N Pelo tal que 32 CAPÍTULO 2. m Pela continuidade de T , segue que existe ). Ou seja, w ∈ B(y; δ) implica B(T m y, α−β 2 δ > 0 RECORRÊNCIAS T m (B(y; δ)) ⊂ tal que β+α α−β + 2 2 = α d(T m w, w) ≤ d(T m y, T m w) + d(T m y, y) < n Logo, em particular, w ∈ {x ∈ M : infn∈N d(T x, x) {x ∈ A : infn∈N d(T n x, x) < α} é aberto (em A). Pela semicontinuidade superior de em que f f, < α}. Isso provou que segue que existe um ponto z ∈A é contínua. f (z) > 0. Disso segue que existem ε > 0 e uma U ⊂ A de z tais que f (x) > ε para todo x ∈ U . Tem-se minimalidade de A em (X, G) que existem g1 , . . . , gk ∈ G tais que Supõe-se por absurdo que vizinhança aberta pela A= k [ gi−1 · U. i=1 G, tem-se que existe δ > 0 tal que d(x, y) < d(gi · x, gi · x) < ε para todo i ∈ {1, . . . , k}. Tem-se que f (y) < δ para algum y ∈ A, pois infx∈A f (x) = 0. portanto −1 m existe m ∈ N tal que d(T y, y) < δ . Toma-se j ∈ {1, . . . , k} tal que y ∈ gj U Pela continuidade da ação de δ implica e, então, tem-se que f (gj y) ≤ d(T m gj y, gj y) = d(gj T m y, gj y) < ε. Absurdo, pois gj · y ∈ U . Logo deve-se ter que f (z) = 0. O teorema abaixo é um forte resultado de recorrência (múltipla) devido a Furstenberg e Weiss. Com ele, provaremos, futuramente, uma versão dinâmica do teorema de Van der Waerden (que será tirado como conseqüência). Teorema 2.13 (Furstenberg e Weiss) Seja F = {T1 , . . . , Tk } uma famí- lia de homeomorsmos comutativos agindo num espaço métrico compacto Segue que existem x∈X e uma seqüência n nj → ∞ Ti j x → x, ∀i ∈ {1, . . . , k} tais que X. 2.4. 33 RECORRÊNCIA MÚLTIPLA Prova: Com efeito, prova-se por indução sobre k. Para k = 1, a armação é o teorema 2.3.1. Supõe-se, por indução, que a armação seja verdadeira para um k. Sejam F = {T1 , . . . , Tk+1 } uma família de homeomorsmos X . Seja (X, G) o sistema k+1 dinâmico gerado por esses homeomorsmos. Ou seja, (X, G) = (X, Z ) n1 nk tal que (n1 , . . . , nk ) · x = T · · · T x. Toma-se um subconjunto minimal comutativos agindo num espaço métrico compacto (fechado) de (X, G) Y ⊂ X . Como Y é minimal em (X, G), em partiular, G-invariante. E, apartir de agora, considera-se o sistema dinâmico (Y, G). Y ⊂ X é Ti -invariante (para todo i ∈ {1, . . . , k + 1} ). Além disso, (Y, G) comuta com (Y, Ti ) para todo i ∈ {1, . . . , k + 1}. k+1 Sejam Y = Y × · · · × Y e ∆ ⊂ Y k+1 a diagonal de Y k+1 . Temk+1 se que (Y , G), onde g · (x1 , . . . , xk+1 ) = (g · x1 , . . . , g · xk+1 ), é tal que ∆ ⊂ Y k+1 é um subconjunto minimal. Pode-se, então, denir T : Y k+1 → Y k+1 , onde T (x1 , . . . , xk+1 ) = (T1 x1 , . . . , Tk+1 xk+1 ). Segue que ∆ ⊂ Y k+1 k+1 é um subconjunto homogêneo fechado do sistema dinâmico (Y , T ) (pois k+1 k+1 (Y , T ) comuta com (Y , G)). k+1 k+1 Prova-se que ∆ ⊂ Y é um subconjunto fechado homogêneo de (Y ,T) −1 que satisfaz a hipótese da proposição 2.12. Dene-se Sj = Tj Tk+1 para j ∈ {1, . . . , k}. Segue que {S1 , . . . , Sk } é Segue que é uma família de homeomorsmos comutativos agindo no espaço métrico compacto Y. Pela hipótese de indução, segue que existem nj → ∞ e z∈X tais que n Si j z → z, ∀i ∈ {1, . . . , k} . Logo, dado ε > 0, existe m0 ∈ N tal que d(Si z, z) < ε, ∀i ∈ {1, . . . , k} . Disso segue que, tomando −m0 −m0 y = (Tk+1 z, . . . , Tk+1 z) ∈ X ,tem-se que d(T m0 y, z∆ ) = d ((S1 z, . . . , Sk z, z), (z, . . . , z)) < ε. Isso completou a prova de que ∆ satisfaz a hipótese da proposição 2.12 e, k+1 portanto, existe um ponto recorrente (w, . . . , w) ∈ ∆ de (Y , T ). Disso segue que existe nj → ∞ tal que T nj (w, . . . , w) → (w, . . . , w). 34 CAPÍTULO 2. RECORRÊNCIAS Mas isso implica justamente que n Ti j w → w, ∀i ∈ {1, . . . , k + 1} . E isso completa a prova por indução. Capítulo 3 Teoria do Números Este capítulo utilizará os conceitos e resultados provados até agora para demonstrar alguns resultados de teoria dos números. A maioria dos resultados que serão demonstrados neste capítulo são antigos, mas suas demonstrações usando apenas dinâmica topológica são bem mais novas. Atualmente, muitos pesquisadores usam sistemas dinâmicos (teoria ergódica) para encarar problemas atuais de combinatória e aproximação diofantina. No entanto, as técnicas/resultados utilizados para isso estão fora do escopo do texto. Este capítulo pretende apenas ilustrar o início dessa bonita aplicação de Dinâmica Topológica à Teoria dos Números, com demonstrações dinâmicas de teoremas famosos. 3.1 Sistemas de Kronecker Esta seção será dedicada aos resultados de aproximação diofantina. Os sistemas dinâmicos estudados nesta seção são, em sua maioria, com espaços de fase sendo grupos compactos metrizáveis. Serão, portanto, bastante utilizados resultados sobre grupos topológicos. A referência [8] apresenta todos esses resultados sobre gupos topológicos que não estiverem explícitos no texto. Denição 3.1 (Sistema de Kronecker) (R, +) o grupo aditivo. Como R é um grupo abeliano, todo subgrupo é normal. Em particular, Z é um subgrupo normal, logo podemos considerar o grupo quociente R/Z. Por Z ser fechado em R e por R ser um grupo metrizável, localmente compacto e 35 Seja 36 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS separável, o grupo quociente R/Z, com a topologia quociente, é um grupo me1 n n trizável . Fora isso, veremos mais adiante que R /Z é, de fato, compacto e metrizável (como conseqüências da proposição 3.1). n n n Os grupos (R/Z) , R /Z são grupos topológicos isomorfos (por isso, con n n locamos a igualdade (R/Z) = R /Z ). Esse fato é conseqüência de um teorema sobre grupos topológicos: ver [8]. Portanto podemos indicar R/Z por T e, então, Rn /Zn = (R/Z)n é denotado por Tn . Um elemento x + Z ∈ R/Z será denotado por que x = x + Z. Note que, x=y signica que existe k∈Z tal x = k + y. Um sistema de Kronecker é um sistema dinâmico de translação com esn n paço de fase R /Z . Proposição 3.1 Sejam S = {x ∈ C : |x| = 1} com a operação de multipli- cação usual dos complexos e a métrica euclidiana Tem-se que S dE e T = R/Z. é um subgrupo de um grupo topológico (metrizável), logo é topológico (metrizável). Dene-se o seguinte epimorsmo: ϕ : R → S, ϕ(x) = e2πxi = cos(2πx) + i · sen(2πx). Nota-se que o Kernel desse epimorsmo é o conjunto e2kπi = 1 se, e somente se, k ∈ Z). Z dos inteiros (pois Então, pelo primeiro teorema de isomorsmo, o homomorsmo φ : R/Z → S, f (x) = cos(2πx) + i · sen(2πx) = e2πxi . é um isomorsmo. Temos que φ, além de ser um isomorsmo de grupos, é um isomorsmo de grupos topológicos. Prova: Precisa-se provar que lógicos. Note que qualquer φ é, de fato, um isomorsmo de grupos topo- ϕ é um homomorsmo de grupos, pois é evidente que, para k ∈ Z, e(2π(x+y)k)i = e(2π(x+y))i = e(2πx)i · e(2πy)i . É fácil ver que ϕ [0, 2π) e, cos(z) + i · sen(z). o intervalo é sobrejetiva. Basta ver que z = 2π · x passa por todo portanto, passa por todos os valores possíveis da função 1 Essa passagem é explicada na referência [8]. 3.1. 37 SISTEMAS DE KRONECKER Logo, temos que φ, como foi denida, é, de fato, um isomorsmo de grupos (isso é conseqüência do denominado Primeiro teorema do isomorsmo). Por ϕ ser uma aplicação contínua e aberta, existe um primeiro teorema de isomorsmo para grupos topológicos que garante que φ é um isomorsmo de grupos topológicos. Mas não assumiremos isso aqui (o primeiro teorema de isomorsmo é apresentado na referência [8]). P : R → (R/N) 2 tal que P (x) = x. Tem-se que φ é contínua se, e somente se, (φ◦P ) o é. Note que essa função (φ ◦ P ) é evidentemente contínua. Na verdade, se t : R → C, t(x) = 2πxi (linear, portanto contínua), segue que (φ ◦ P ) = E ◦ t (onde E é a função exponecial nos complexos). Logo φ é contínua. De forma análoga, −1 nota-se que φ = P ◦ T ◦ L, onde T : C → R, T (x) = x/2πi é linear, L Resta provar que φ é, de fato, um homeomorsmo. Seja é o logaritmo nos complexos. Como todas as três funções são contíinuas, a −1 prova de que φ é contínua está completa. Portanto φ é, de fato, um homeomorsmo. S são indistinguíveis no ponto A proposição acima mostra que R/Z e de vista de grupos topológicos. Esse fato faz com que possamos confundir os dois grupos sem causar prejuízo ao rigor. Tem-se, por exemplo, que S é 2 compacto (pois é homeomorfo à circunferência de raio 1 em R ), logo também n n n é compacto R/Z. Temos, então, que (R/Z) = R /Z é o produto de espaços compactos e, portanto, é compacto. Outra propriedade herdada para R/Z é o fato de ser metrizável (métrico). Com efeito, podemos induzir uma métrica pelo isomorsmo de grupos topológicos (como será feito na denição abaixo). n E, então, (R/Z) também é métrico (com uma das métricas do produto (nito)). Denição 3.2 a métrica em S ser R/Z uma métrica por φ. Ou seja, denimos sendo: d(x, y) := dE (φ(x), φ(y)). Nota-se que, por Induzimos em R/Z como metrizável, R/Z é metrizável também (como já havíamos previsto). A métrica induzida é equivalente a uma métrica denominada a métrica do menor arco: d(x, y) = min {|x − y − m| : m ∈ Z} . 2 Procurar por topologia quociente no [8]. 38 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS x, y ∈ R, a distância d(x, y) = ε signica, em particular, que existe m ∈ Z tal que |x − y − m| = ε. 1 Dados x, y ∈ R/Z ≈ S , é fácil de vericar que d(x, y) é igual ao compri1 mento do menor arco determinado por x e y em S dividido por 2π . Ou seja, dados x, y ∈ R, a distância d(x, y) é igual ao comprimento do arco ilustrado Note que, se na gura 3.1 abaixo. Figura 3.1: Métrica do menor arco. Quando não estiver explícito o contrário, a métrica em T será a a métrica n do menor arco. Fora isso, a métrica em T será a métrica do máximo em relação à métrica do menor arco, ou seja, a métrica: dM (x, y) = max {d(x1 , y1 ), . . . , d(xn , yn )} . 3.1.1 Teorema de Kronecker Esta subseção será dedicada à demonstração do teorema de Kronecker sobre apoximação diofantina (teorema 0.2). Consegue-se um resultado um pouco mais fraco que o teorema 0.2 apenas com o resultado 2.7. Ele é chamado de lema de Kronecker . Esse lema é conseqüência direta do fato de que todos os pontos num sistema dinâmico de translação são recorrentes. Com esse lema, conseguimos toda a ferramenta necessária para demonstrar o teorema 0.2 3.1. Lema 3.2 (Lema de Kronecker) n∈N e m∈Z Prova: onde 39 SISTEMAS DE KRONECKER tais que Para todo α∈R e todo ε > 0, |nα − m| < ε. Com efeito, toma-se o sistema dinâmico de Kronecker T x = x + α. (R/Z, T ), Pelo teorema 2.7, todo ponto desse sistema dinâmico 0 ∈ (R/Z) é recorrente. Logo, dado d do menor arco, d(nα, 0) < ε. que |nα − m| < ε. é recorrente. Em particular, o ponto ε > 0, n∈N existe existem tal que, com a métrica Isso quer dizer que existe m∈Z tal Denição 3.3 (Rotação irracional do círculo) Kronecker, com espaço de fase R/Z, Um sistema dinâmico de que é uma translação por r, irracional, é chamado de rotação irracional do círculo. (E, quando onde r r é é raci- onal, esse sistema é chamado de rotação racional). Antes de demonstrar o teorema de Kronecker, convém fazer uma observação sobre rotações irracionais. Se (R/Z, T ) é um sistema dinâmico de rotação irracional do círculo, segue que não existem pontos periódicos nesse sistema dinâmico. A demonstração desse fato é simples. Supondo por absurdo que x ∈ R/Z n ∈ N, n · x = x, ou seja, existe k ∈ Z tal que x = x−k +nα. Disso segue que nα = k e, portanto, k α = . Absurdo, pois contraria a hipótese de α ser irracional. Na verdade, n é um ponto periódico, segue que, para algum veremos que toda rotação irracional é um sistema dinâmico minimal. Além disso, é fácil ver que todos os pontos de rotações racionais são periódicos. Anal, um sistema de rotação por q ·x = x para todo x ∈ R/Z. p/q (p e q inteiros) é tal que E, então, ca fácil ver que toda rotação racional é um exemplo de sistema dinâmico de translação não minimal. Segue o enunciado e a demonstração do teorema de Kronecker 0.2. Teorema 3.3 (Kronecker) existem Prova: m, n ∈ Z tais que α ∈ (R − Q) |nα − λ − m| < ε. Dados e λ ∈ R. Para todo ε > 0, α ∈ R − Q, λ ∈ R e ε > 0, toma-se o sistema dinâmico de Kronecker (R/Z, T ), onde T x = x + α. Pelo teorema 2.7, todo ponto desse sistema dinâmico é recorrente. Em particular, o ponto 0 ∈ R/Z é recorrente. Logo, dado ε > 0, existe n ∈ N tal que, com a métrica d do menor arco, d(nα, 0) < ε . E, como α ∈ R − Q, 0 ∈ (R/Z) não é periódico, Com efeito, dados 40 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS 0 < d(nα, 0) < ε. Isso quer dizer que existe m ∈ Z tal que 0 < |nα − m| < ε. Se λ > 0 , pela propriedade arquimedianda da reta, existe k = mín {q ∈ N : q |nα − m| ≥ λ}. Portanto k |nα − m| − λ < ε, pois, caso contrário, (k − 1) |nα − m| > k |nα − m| − ε ≥ λ . Dependendo do sinal de nα − m, segue que 0 ≤ knα − km − λ < ε ou 0 ≤ −knα + km − λ < ε. Caso λ < 0, toma-se k = mín {−q ∈ N : q |nα − m| ≤ λ} e a demonstração ca análoga. tem-se que É fácil de perceber que o teorema de Kronecker acima implica, por exemplo, que as rotações irracionais são minimais (pois o teorema implica que a órbita do elemento neutro de uma rotação irracional é densa). 3.1.2 Teorema de Hardy e Littlewood Usando o teorema 2.10, será provado o teorema de Hardy e Littlewood e um teorema que generaliza ele. O teorema 3.7 de Furstenberg poderia ser provado antes do teorema de Hardy e Littlewood e, então, tirar esse teorema como corolário. O teorema de Hardy e Littlewood será demonstrado primeiro porque ele possui uma demonstração dinâmica mais simples. Teorema 3.4 (Hardy e Littlewood) tem k∈N Prova: e q∈Z tais que Para todo α∈R e todo ε > 0, exis- 2 |k α − q| < ε. (T, T ) o sistema dinâmico de Kronecker, onde T x = x + α. Fazse o produto cruzado de (T, T ) via T pela aplicação φ : T → T, φ(x) = 2x+α. 2 Obtém-se, assim, o sistema dinâmico (T , S), onde Seja S(x, y) = (x + α, 2x + α + y). Todo ponto no sistema dinâmico de Kronecker (T, T ) é recorrente (por ser (T2 , S) é recorrente. uma translação), logo, pelo teorema 2.10, todo ponto em (0, 0) é recorrente. n 2 que S (0, 0) = (nα, n α), ∀n ∈ N. Em particular, Provemos n = 1, para m. Com efeito, para a armação é verdadeira. Supõe-se, por indução, que é verdadeira 3.1. 41 SISTEMAS DE KRONECKER Isso implica que S m+1 (0, 0) = S(S m (0, 0)) = S(mα, m2 α) = ((m + 1)α, 2mα + α + m2 α) = ((m + 1)α, (m2 + 2m + 1)α) = ((m + 1)α, (m + 1)2 α). Ou seja, implica que a armação é verdadeira para m + 1. E, portanto, n 2 está completa a prova por indução de que S (0, 0) = (nα, n α). Como (0, 0) é recorrente, dado ε > 0, segue que existe k ∈ N dM ((0, 0), (kα, k 2 α)) < ε. Isso, em particular, implica que tal que d(0, k 2 α) < ε. E isso quer dizer que existe q∈Z tal que |k 2 α − q| < ε. Antes de provar o teorema 3.7 de Furstenberg, será denido um sistema dinâmico denominado Sistema de Furstenberg. Será provado que esse sistema é recorrente (todos os pontos são recorrentes). Denição 3.4 Para cada Td = (R/Z)d o toro d-dimensional. d+1 sistema (T , Fd ), onde d ∈ N, Um sistema de Furstenberg é um seja Fd (x0 , x1 , . . . , xd ) = (x0 , x1 + x0 , . . . , xd + xd−1 ). É interessante observar que o sistema de Furstenberg 2 na gura 3.2, é tal que, dado (z0 , z1 ) ∈ T , (T2 , F1 ), ilustrado F1n (z0 , z1 ) = (z0 , nz0 + z1 ) = (z0 , Rzn0 z1 ), ou seja, identidade na primeira coordenada e rotação na segunda coordenada. Será provado que todo sistema dinâmico de Furstenberg é recorrente. 1 Note que isso é fácil de vericar para o caso do sistema dinâmico (T , F0 ), pois F0 é a aplicação identidade em R/Z ≈ S 1 . Além disso, pela observação do 42 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS Figura 3.2: Sistema de Furstenberg para d = 1. parágrafo anterior, é fácil vercar que a armação é verdadeira para (T2 , F1 ) também. d. E, para d que (T , Fd−1 ) A idéia da demonstração do caso geral é fazer indução sobre completar esse argumento de indução, será usado o fato de d+1 é um produto cruzado de (T , Fd ) via o grupo R/Z ≈ S 1 . Apenas para tornar a demonstração da proposição 3.6 mais concisa, será provado isso no lema abaixo. Lema 3.5 Sejam (Td+1 , Fd ) berg, onde d ∈ N qualquer. (Td , Fd−1 ) via R/Z. (Td , Fd−1 ) sistemas d+1 Segue que (T , Fd ) é e dinâmicos de Furstenum produto cruzado de Prova: d+1 Para provar o lema, basta vericar que (T , Fd ) é o produto crud d 1 zado de (T , Fd−1 ) via R/Z pela aplicação contínua φ : T → S , onde φ(z0 , . . . , zd−1 ) = zd−1 . De fato, Fd (z0 , . . . , zd ) = (z0 , z0 + z1 , . . . , zd−1 + zd ) = (Fd−1 (z0 , . . . , zd−1 ), zd−1 + zd ) = (Fd−1 (z0 , . . . , zd−1 ), φ(z0 , . . . , zd−1 ) + zd ) 3.1. 43 SISTEMAS DE KRONECKER Proposição 3.6 Todo sistema dinâmico de Fursteberg (Td+1 , Fd ) é recor- rente (ou seja, todos os pontos de um sistema de Furstenberg ão recorrentes). Prova: Como foi observado anteriormente, o sistema dinâmico (Td+1 , Fd ) é recorrente, quando d = 0 (pois, nesse caso, a aplicação F0 é a aplicação iden1 tidade em S ). Prova-se, então, por indução, que a armação é verdadeira para qualquer d natural. d A hipótese de indução é que o sistema de Furstenberg (T , Fd−1 ) é record+1 rente. Como (T , Fd ) é um produto cruzado de (Td , Fd−1 ) via R/Z, segue, d+1 pelo teorema 2.10, que (T , Fd ) é recorrente. E, portanto, isso completa a prova por indução da proposição. Com esse resultado que diz que todo sistema de Furstenberg é recorrente, estamos prontos para provar o mais forte resultado de Aproximação Diofantina que será apresentado neste texto: o teorema 0.4 de Furstenberg. Seguem o enunciado a demonstração desse teorema. Teorema 3.7 (Teorema de Furstenberg ) coecientes reais tal que p(0) = 0. Então, Seja ∀ε > 0, p(x) um polinômio com existem k ∈N e q ∈Z tais que |p(k) − q| < ε. Prova: p(x) um polinômio de grau d satisfazendo a hipótese. lista de d + 1 polinômios da seguinte forma: Com efeito, seja Dene-se, então, uma pd (x) := p(x) pd−1 (x) := pd (x + 1) − pd (x) . . . p1 (x) := p2 (x + 1) − p2 (x) p0 (x) := p1 (x + 1) − p1 (x). É fácil vericar que o polinômio pk (x) dessa lista tem grau k, para qual- k = 0, . . . , d. Em particular, p0 é constante (grau 0). d+1 O toro T é munido da métrica do máximo em relação à métrica do menor arco em R/Z. Toma-se, então, o sistema dinâmico de Furstenberg (Td+1 , Fd ). Verica-se que quer Fdn (p0 (0), . . . , pd (0)) = (p0 (n), . . . , pd (n)), 44 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS anal, tem-se a seguinte relação de recorrência Fd (p0 (n), . . . , pd (n)) = (p0 (n), p0 (n) + p1 (n), . . . , pd−1 (n) + pd (n)) = (p0 (n + 1), p1 (n + 1), . . . , pd (n + 1)). Pelo resultado 3.6, tem-se que (p0 (0), . . . , pd (0)) é recorrente no sistema d+1 dinâmico (T , Fd ). E isso implica, em particular, que existe n ∈ N tal que a n distância entre (p0 (0), . . . , pd (0)) e Fd (p0 (0), . . . , pd (0)) é menor que ε. Mas, pela métrica do máximo, isso implica que mínm∈Z pd (0) = 0 |p(n) − m| < ε. E, como e |pd (n) − pd (0) − m| < ε. pd (n) = p(n), isso implica que existe m∈Z tal que O teorema precedente é mais forte que o teorema de Hardy e Littlewood (teorema 3.4), pois aquele se trata apenas de um caso particular: quando o polinômio tem grau 2. Note, portanto, que o teorema de Hardy pode ser colocado como corolário do teorema precedente. Existe um outro corolário desse teorema. Na verdade, é corolário da demonstração do teorema e está enunciado abaixo. Corolário 3.7.1 p1 (x), p2 (x), . . . , pk (x) polinômios tais que pj (0) = 0 para todo j ∈ {1, . . . , k}. Então, para todo ε > 0 existem inteiros n, m1 , . . . , mk ∈ Z tais que |pj (n) − mj | < ε, ∀j ∈ {1, . . . , k} . Prova: Sejam Com efeito, basta tomar o polinômio p(x) = (p1 (x), . . . , pk (x)). (Td+1 , Fd ) (onde d é o grau do polinôk d mio), toma-se o sistema dinâmico ((T ) , Fd ) (onde d é o grau do polinômio de maior grau entre p1 (x), . . . , pk (x) ). Por uma argumentação análoga, to- Em vez de tomar o sistema dinâmico dos os pontos desse sistema dinâmico são recorrentes. Disso e do fato de que Fdn (p(0)) = p(n) segue a tese do corolário. 3.2. 45 SISTEMAS DINÂMICOS SIMBÓLICOS 3.2 Sistemas Dinâmicos Simbólicos Nesta seção, trataremos de dinâmica simbólica. Será com sistemas dinâmicos simbólicos que demonstraremos o teorema de Van Der Waerden. Antes de continuarmos, falaremos um pouco sobre o que é um sistema dinâmico simbólico e como é seu espaço de fase. Um alfabeto de um alfabeto de k k∈N letras é um conjunto de cardinalidade k. Seja Λ Λ ser evidenteΩ = ΛZ , munido da letras munido da topologia discreta. Por mente compacto, segue, pelo teorema de Tychono, que topologia produto, é um compacto. Um ponto x∈Ω pode ser escrito como uma função x: Z →Λ k 7→ xk Para cada coordenada onde πj (x) = xj . j ∈ Z, tem-se a aplicação projeção πj : Λ Z → Λ , A topologia produto torna todas essas aplicações contínuas, além disso ela é menor topologia que satisfaz isso. A topologia produto num espaço topológico Ω = ΛZ é caracterizada pelo f : M → Ω é contínua se, e somente se, cada uma (πi ◦ f ) : M → Λi é contínua. De fato, Ω é metrizável, fato de que uma aplicação de suas coordenadas anal é produto enumerável de espaços metrizáveis. Lema 3.8 Seja Ω = ΛZ . Se x 6= y d(x, y) = e d(x, x) = 0. Prova: Seja Ω, dene-se 1 , 1 + min {|k| : xk 6= yk } Isso é uma métrica que induz a topologia produto em O fato de ρi em d Ω. ser uma métrica é de fácil vericação. a métrica zero-um em Λi , ou seja, ρi (x, x) = 0 e ρi (x, y) = 1, se x 6= y . f : M → Ω contínua. Dada uma que, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que Com efeito, supõe-se Λi qualquer, tem-se projeção 1 2 |i| =⇒ mín {|k| : f (x)k 6= f (y)k } > |i| d(x, y) < δ =⇒ d(f (x), f (y)) < =⇒ ρi (f (x)i , f (y)i ) = 0 < ε πi : Ω → 46 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS (πi ◦ f ) é contínua. Reciprocamente, se (πi ◦ f ) é contínua para todo i ∈ Z, ε = 1/no > 0, existem δ0 , δ1 , δ−1 , . . . , δno , δ−no > 0 tais que Ou seja, foi provado que segue que, dado d(x, y) < δ0 =⇒ π0 (f (x)) = π0 (f (y)) d(x, y) < δ1 =⇒ π1 (f (x)) = π1 (f (y)) d(x, y) < δ−1 =⇒ π−1 (f (x)) = π−1 (f (y)) . . . d(x, y) < δno =⇒ πno (f (x)) = πno (f (y)) d(x, y) < δ−no =⇒ π−no (f (x)) = π−no (f (y)) d(x, y) < mín {δ−n0 , δn0 , δ−n0 +1 , δn0 −1 , . . . , δ0 } Logo d(f (x), f (y)) < implica 1 < 1/no = ε. 1 + |no | Isso completa a prova da recíproca. Note que, com a métrica denida no lema 3.8, Denição 3.5 Seja T : Ω → Ω, T x = y , d(x, y) ≤ 1, ∀x, y ∈ Ω. onde chamada de função-deslocamento no alfabeto Λ, yk = xk+1 . ou shift no alfabeto um homeomorsmo. Chamamos o sistema dinâmico (de dois lados) em Prova: k (Ω, T ) T Λ. T A aplicação é é de deslocamento símbolos (e ele é um sistema dinâmico simbólico). T é um homeomorsmo. i ∈ Z, tem-se que πi ◦T = πi+1 é, evidentemente, contínua. Portanto cou provado que T é contínua. Analogamente, dado i ∈ Z, temos que πi ◦ T −1 = πi−1 é contínua. Portanto T é homeomorsmo. Provemos que Dado 3.2.1 Teorema de Van der Waerden Para provar o teorema de Van der Waerden 0.5, o primeiro passo é fazer uma tradução desses problemas de coloração para o contexto de sistemas dinâmicos. O lema 3.9 é responsável por essa tradução. 3.2. 47 SISTEMAS DINÂMICOS SIMBÓLICOS Aqui, será usado freqüêntemente as terminologias estabelecidas na página 6. O sistema dinâmico que será tratado aqui é o sistema dinâmico simbólico estabelecido no início desta seção. O principal resultado ustilizado nesta subseção é aquele provado na seção de Recorrência Múltipla do capítulo 3 Recorrências . Lema 3.9 (Furstenberg) todo x ∈ X, todo m∈Z m T x, T m+n x, . . . , T m+nk x ε>0 e todo tem diamêtro menor que Prova: e Y ε > 0, k ∈ N, existem e (X, T ) qualquer. n ∈ N tais que Para ε. Toma-se um sistema dinâmico toma-se Y = Z · x. Por Y (X, T ) qualquer. Dados k ∈ N, x ∈ X T -invariante, segue que ser o fecho de um é invariante. Dene-se Ti := T i . comutativos agindo em e Dado um sistema dinâmico nj → ∞ Logo Y. {T1 , . . . , Tk } é uma família de homeomorsmos Logo, pelo teorema 2.13, segue que existem y∈Y tais que n n T1 j y → y, . . . , Tk j y → y. Logo existe n∈N T1n y, . . . , Tkn y ∈ B(y; ε/8). n n n uniforme de T1 , T2 , . . . , Tk , segue tal que Pela continuidade que existe δ>0 tal que d(a, b) < δ =⇒ mín {d(T1n a, T1n b), . . . , d(Tkn a, Tkn b)} < ε/8. y ∈ Y = Z · x, mín {δ, ε/8}. Logo Por segue que existe m ∈ Z tal que d(T m x, y) < d(T m x, y), d(T1n y, T1n (T m x)), . . . , d(Tkn y, Tkn (T m x)) < ε/8. Mas isso quer dizer que d(y, T m x), d(T n y, T m+n x), d(T 2n y, T m+2n x), . . . , d(T kn y, T m+kn x) < ε/8. Tem-se que, para qualquer q ∈ {0, 1, . . . , k}, vale d(y, T m+nq x) ≤ d(T m+nq x, T nq y) + d(T nq y, y) < ε/8 + ε/8 = ε/4. 3 Ver seção 2.4 48 CAPÍTULO 3. T m x, . . . ,T m+nk x ∈ B[y; ε/4]. T x, . . . , T m+nk x é menor que ε. Portanto m TEORIA DO NÚMEROS Ou seja, o diâmetro do conjunto Segue, abaixo, o enunciado e a demonstração do teorema de Van de Waerden 0.5. Teorema 3.10 (Van der Waerden) Z = C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cr é uma partição nita, então, para algum j ∈ {1, 2, . . . , r}, Cj contém uma progressão aritmética nita de tamanho arbitrário. Ou seja, toda coloração nita de Z Se contém uma P.A. de tamanho arbitrário nito monocromática. Prova: Dada uma coloração Z = C1 ∪ · · · ∪ Cr 4 de r cores, dene-se o sistema dinâmico (Ω, T ) de deslocamento , onde Ω = ΛZ = {1, . . . , r}Z . Mune-se Ω da métrica d denida em 3.5. Note que essa métrica tem a propriedade de d(x, y) < 1 ⇐⇒ x0 = y0 . xt = i, se t ∈ Ci . Pelo lema 3.9, dado um m m+n tamanho k ∈ N, existem m ∈ Z e n ∈ N tais que T x, T x, . . . , T m+nk x tem diâmetro menor que 1. Pela métrica, segue que Toma-se o ponto x∈Ω tal que (T m x)0 = · · · = (T m+nk x)0 . Ou seja, xm = · · · = xm+nk . Isso quer dizer que {m, . . . , m + nk} ⊂ Cj , onde j := xm ∈ {1, . . . , r}. Observação: Um fato interessante é que o lema 3.9 é uma versão dinâmica do teorema de Van der Waerden: ele é equivalente ao teorema de Van der Waerden. Para provar o lema 4 Denido em 3.5. 3.9 usando o teorema de Van der Waerden, 3.2. SISTEMAS DINÂMICOS SIMBÓLICOS r [ X = Fi por conjuntos S i=1 Z = ri=1 Ci , onde basta tomar uma partição nita de diâmetro menor que ε5 . Segue que 49 fechados de Ci = {t ∈ Z : t · x ∈ Fi } , Z. Logo, pelo teorema de Van der Waerden, para todo k ∈ N, existem m ∈ Z e n ∈ N tais que {m, m + n, . . . , m + nk} está inteiramente contido em algum Cj . Ou seja, m T x, . . . , T m+nk x ⊂ Fj , é uma partição de donde segue a tese do lema 3.9. 5 Essa partição existe por X ser compacto 50 CAPÍTULO 3. TEORIA DO NÚMEROS Apêndice A Transitividade Topológica Nessa seção, será discutido uma noção ligada às noções de conjuntos minimais e de recorrência: a de transitividade topológica. Denição A.1 (Transitividade topológica) (X, Z) nâmico. x∈X Seja (X, Z) um sistema di- é denominado topologicamente transitivo se existe algum tal que Z · x = X. Proposição A.1 Seja (X, Z) um sistema dinâmico. As seguintes armações são equivalentes: 1. (X, Z) é topologicamente transitivo; 2. Se U ⊂X 3. Se U, V ⊂ X é um aberto não-vazio invariante, então são abertos não-vazios, então existe U é denso em n∈Z X; tal que n · U ∩ V 6= ∅. Prova: 1 ⇒ 2: Assumindo 1, toma-se x ∈ X tal que Z · x = X . Logo, dado U ⊂ X , existe n ∈ Z tal que n · x ∈ U . Como U é invariante, um aberto segue que Z · x = Z · (n · x) ⊂ U. Portanto U ⊃ Z · x = X. Isso completa a prova de que completa a prova de que 1 implica 2. 51 U =X e, portanto, 52 APÊNDICE A. 2 ⇒ 3: U, V Sejam TRANSITIVIDADE TOPOLÓGICA abertos não-vazios de invariante não-vazio de X. X. Logo, pela hipótese, Segue que Z·U Z·U é um aberto é denso. Portanto Z · U ∩ V 6= ∅. Ou seja, existe 3 ⇒ 1: n∈Z tal que n · U ∩ V 6= ∅. Um espaço métrico compacto satisfaz o segundo axioma da enu- merabilidade, ou seja, possui uma base enumerável. Toma-se uma base enumerável {Vj }j∈N . Então, para cada j ∈N , Z · Vj é aberto e, então, (pela hipótese) tem interseção não-vazia com todo aberto de denso em X. Portanto I= ∞ \ X. Z · Vj Ou seja, é Z · Vj j=1 é uma interseção enumerável de abertos densos. Pelo teorema de Baire, isso é não vazio. Toma-se que n · x ∈ Vj . x ∈ I. Tem-se que, para todo Portanto a órbita de aberto básico, ou seja, é densa em X. x j ∈ N, existe n∈Z tal tem interseção não vazia com todo Isso completa a prova de que topologicamente transitivo. (X, Z) é A proposição a segur mostra uma condição suciente para que um sistema dinâmico transitivo seja minimal. Proposição A.2 sui uma métrica isometria, então Prova: Seja d). Se (X, T ) (X, T ) existe uma métrica equivalente a d tal que T X pos- é uma é minimal. Com efeito, sejam (X, T ) um sistema dinâmico transitivo (com a φ uma métrica equivalente à d tal que T é uma isometria. x ∈ X tal que Z · x = X . Dado y ∈ X , provemos que sua órbita é densa em X . Dados z ∈ X e ε > 0, segue que existem n, m ∈ Z tais que d(m · x, y) < 2ε e d(n · x, z) < 2ε . Portanto métrica d um sistema dinâmico transitivo (onde ) e Toma-se d(z, (n − m) · y) ≤ d(z, n · x) + d(n · x, (n − m) · y) = d(z, n · x) + d(m · x, y) < ε Isso completa a prova da proposição. Referências Bibliográcas [1] Birkho, G. D. Dynamical Systems. Colloquium Publications IX, America Mathematical Society. Providence, 1927. [2] Ellis, R. Lectures on Topological Dynamics. New York: W. A. Benjamin, Inc., 1969. [3] Furstenberg, H. Disjointness in ergodic theory, minimal, sets and problem diophantine approximation. Math Systems Theory, 1967. [4] Furstenberg, H. Recurrence in ergodic theory and combi- natorial number theory. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1981. 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