1 CONJECTURAS CONCEITUAIS SOBRE EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL Valéria Aroeira Garcia1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem a intenção de contribuir para as discussões referentes à compreensão do campo da educação não-formal, trazendo subsídios das reflexões teóricas já realizadas sobre o tema, tanto no Brasil como em outros países, como também discussões referentes à prática da educação não-formal, no segmento das propostas educacionais realizadas com crianças, jovens, adultos e velhos2, em períodos que não aqueles preenchidos pela educação formal. O interesse em realizar essa pesquisa veio de dez anos de atuação profissional na área e da dificuldade de encontrar discussões e subsídios teóricos que pudessem contribuir para as questões encontradas no dia-a-dia, e para as dúvidas e reflexões que emergiam desse cotidiano. A experiência profissional realizada se deu no Projeto Sol e Projeto Noite Viva, extinta proposta de atuação com crianças e jovens fora do tempo da educação formal, que se localizava em quatro bairros periféricos do município de Paulínia - SP3. 1 Pedagoga, mestranda em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp. Supervisora Educacional do município de Campinas. R. Dom João Nery, 208. Nova Paulínia. Paulínia – SP. CEP: 13.140.000. Fone: (19) 32874967; e-mail: [email protected] 2 Neste texto será utilizada a denominação "velho",compreendida por .Park: "Assumo, no presente texto, o termo "velho" por acreditar que os atuais títulos conferidos àqueles que envelheceram, tais como terceira idade, a melhor idade etc, deslocam a discussão para a questão da longevidade esquivando-se do enfoque na função social do velho em nossa sociedade". (p.67) 3 Maiores informações sobre o Projeto Sol e sua importância como proposta nessa área pode ser encontrado em livros, artigos, mestrados e trabalhos de conclusão de curso: Educação não-formal: cenários da criação Simson, Olga Rodriguez de Moraes,;Park, Margareth Brandini e Fernandes, Renata Sieiro (orgs). Entre nós o Sol: um estudo sobre as relações entre infância, cultura, imaginário e lúdico na atividade de brincar, em um programa público educacional não-escolar na cidade de Paulínia, SP - Fernandes, Renata Sieiro. Contratempos e sobressaltos: os eclipses como fenômenos da natureza humana - Fernandes, Renata Sieiro. Daqui se vê o mundo: imagens, caminhos e reflexões - Souza, Nilza Alves de. Educação não-formal, uma análise das práticas educacionais voltadas para crianças 'sem infância' de uma instituição pública - Projeto Sol João Aranha - Chiste, Lissandra Silva. Educação não-formal, uma análise das práticas educacionais para estudantes em situação de risco - Teixeira, Carmen de Miranda Ieks. Educação não-formal, uma análise de práticas educacionais voltadas para crianças 'sem infância'de uma instituição pública - Projeto sol Monte alegre -área de educação artística.Pôr do sol: o fim de um Projeto de educação não-formal - Araújo, Carla Marins. Além das pesquisas de doutorado em andamento: As marcas do vivido: memória de jovens e adultos sobre suas experiências com ex-frequentadores de um Projeto de educação não-formal - Fernandes, Renata Sieiro e André, Antonio Miguel. 2 A questão inicial, de cunho filosófico, é de compreender sobre qual campo conceitual e teórico se sustentam essas propostas, que nos últimos anos vêem ganhando diferentes espaços na sociedade e que, em geral, têm sua força nas 'propagandas' de que através de diferentes estratégias educacionais, resultarão em melhorias no denominado, 'setor social'. A partir desta indagação, foi necessário compreender a noção de conceito, assim como de campo conceitual para tentar conceber o campo conceitual da educação não-formal como independente, apesar de relacionado, em relação ao campo da educação formal, assim como algumas características que são próprias da educação não-formal. Houve, também a necessidade de buscar e pesquisar as 'diferentes' concepções de educação não-formal encontradas, tanto em teóricos que se debruçaram no estudo e pesquisa sobre essa área, como também em outros estudiosos que utilizaram o conceito, sem a preocupação específica com o estudo do tema. É importante dizer, mais uma vez, que são poucos os estudiosos que discutem especificamente o tema da educação não-formal, e dessa forma não foi possível estabelecer critérios, inclusive ideológicos, na escolha dos autores. Dessa forma, os autores foram considerados por tratarem do tema em questão, independente da visão que apresentam sobre a educação não-formal, até para poder evidenciar, tanto o aparecimento do termo como para que propósito essa especificidade de educação tem sido pensada, em diferentes momentos históricos, por pesquisadores e países com interesses diferentes. Por outro lado, outros autores que se preocuparam em questionar o modelo educacional tradicionalmente veiculado e praticado pela educação formal, e propuseram maneiras diferentes de compreender e efetuar a prática da educação formal, também foram considerados4. O contato com os autores que produziram especificamente sobre educação não-formal possibilitou que se encontrasse, de certa maneira, a 'história' da educação não-formal, 4 Falo aqui a respeito de autores que já realizaram, propuseram e discutiram a educação formal de uma maneira diferente daquela que vem sendo concebida e praticada ao longo do tempo, como também se preocuparam em propor alternativas educacionais para crianças e jovens com os quais a educação formal. tinha (tem) dificuldades em trabalhar: Tolstói, L.N. - A escola de Iasnaia Poliana; Korczack, Janus - O Lar das Crianças: Illich, Ivan - sociedade sem escolas; Robin, Paul - O orfanato em Cempuis; Faure, Sebastien - A Colméia; e todas as chamadas escolas democráticas, ver: Singer Helena - Sobre experiências escolares de resistência e Gallo, Sílvio - Pedagogia do risco. 3 através de leituras, análises e comparações realizadas entre as obras que se preocuparam com o estudo do campo da educação não-formal, como também a percepção de que em alguns períodos históricos específicos, a utilização de termos, nomenclaturas que não se referiam ao contexto da educação formal, como: educação extra-escolar, clubes de cultura, Universidade popular, etc, já estavam presentes. OBJETIVOS Juntamente com a percepção e compreensão da trajetória social e histórica realizada pela educação não-formal várias hipóteses sobre o surgimento e abrangência desse campo peculiar foram aparecendo e suscitando outras leituras nem tão específicas sobre o tema. As diversas nomenclaturas utilizadas em diferentes momentos históricos no país, para designar ações realizadas fora do contexto da educação formal trazem o conhecimento de que a prática da educação não-formal acontecia anteriormente à preocupação com sua denominação. E o conhecimento da bibliografia norte-americana da década de 70 sobre o tema contribui imensamente para a percepção de como o termo educação não-formal é compreendido, divulgado e introduzido nas produções teóricas sobre um outro tipo de educação que não o formal e dessa forma, possibilitar uma compreensão crítica da utilização dessa terminologia. Uma questão importante refere-se ao denominado "setor social" relacionado às propostas na área educacional, como também na intersecção da área educacional com outras, como saúde, assistência social, criança e adolescente, cultura, esportes. O que especificamente a utilização do termo "social" representa quando vem associado a políticas e ações defendidas e realizadas nesses setores, e de quais maneiras vêm sendo trabalhadas as questões relacionadas à "formação" desse profissional da área social, no caso específico da educação, o profissional que vem sendo chamado de educador social, assim como também à integração desses diferentes profissionais da "área social". Assim é de extrema importância tomar conhecimento dos diversos profissionais que atuam no vasto campo da educação não-formal, chamando atenção, inclusive, para o fato de que em muitas situações, a concepção da área educacional é ampliada para outros setores, causando implicações, pelo menos em dois sentidos: um deles, permitindo que diferentes 4 áreas do conhecimento, assim como os profissionais ligados a elas, tomem para si as questões referentes à área educacional; e o outro, delegando à educação a responsabilidade e o compromisso de 'resolver problemas' que não são específicos da área educacional. Essa questão não diz respeito à confluência de várias áreas e especificidades em função de uma proposta de trabalho integrada que possibilite maior abrangência, e nem às ações educacionais específicas em outros setores, como saúde, assistência social, trânsito, ambiente etc, mas ao fato de que, na área educacional, "todo mundo sabe o que fazer", e que "todos aqueles com boa vontade" podem contribuir para a melhoria do setor educacional, independente da formação teórica e prática na área. METODOLOGIA Em alguns momentos, de maneira concomitante, e em outros nem tanto, (com a realização das leituras, buscas, pesquisas e análises) a pesquisa, o conhecimento e observação em campo de diferentes propostas: de origem pública, comunitária, religiosa e da sociedade civil (ONGs), muito auxiliaram na análise e compreensão sobre o segmento específico da educação não-formal, responsável por ações, propostas e projetos realizados com crianças, jovens, adultos e velhos fora do tempo da educação formal. A intenção dessa pesquisa é, em um primeiro momento, tomar conhecimento do que vem sendo compreendido por educação não-formal nos mais diferentes setores: Universidades, meios de comunicação, sociedade civil. Assim como, analisar se as várias propostas que atuam na área educacional, mas não no contexto da educação formal, têm compreensão de que papel desempenham nesse cenário e de que ocupam esse 'lugar', que vem sendo denominado de educação não-formal. O caminho percorrido partiu da análise da bibliografia existente sobre o tema, e tem como proposta, relacionar a teoria existente, tanto nacional como internacional, com a prática que vem sendo realizada no Brasil, especificamente na região de Campinas. É importante evidenciar os critérios de escolha das propostas pesquisadas, uma vez que estas não são compreendidas como amostras das muitas existentes, mas de certa forma representam e são significativas para o conhecimento dos tipos de projetos que, em geral, 5 são propostos para atuações nessa área5. Assim foram pesquisados: um projeto originário de uma concepção religiosa, que se transformou em uma ONG; um outro proposto pelo poder público municipal e um terceiro de origem comunitária, sendo realizado por um grupo de moradores da periferia de Campinas. Em geral, as origens são vinculadas aos mantenedores e têm implícito o caráter ideológico das propostas. Essa pesquisa contribui para que, a partir da 'visualização' do que vem sendo reconhecido por educação não-formal, de como este campo vem sendo compreendido teoricamente e da análise de como as propostas que atuam na área se percebem, ou não, como parte construtora do campo da educação não-formal, possamos ter maior clareza da constituição desse campo no Brasil, e a partir de então, possamos, através de uma concepção crítica, compreender a educação não-formal. RESULTADOS Os passos futuros se dão no sentido de compreender algumas propostas que discutem a educação social, falando um pouco de algumas pesquisas que vêem se preocupando em analisar as especificidades dessa "nova" função/profissão na área educacional. A preocupação em apontar essa atuação profissional no presente trabalho, é por acreditar que, uma vez discutida a área da educação social, é importante sinalizar que na prática, tanto o trabalho cotidiano desses profissionais; como o oferecimento de "cursos" de formação a eles, como pesquisas que discutem esse profissional, vêem sendo realizados, o que mais uma vez, mostra o movimento dessa especificidade de educação, que muitas vezes se dá "respondendo" as necessidades mais imediatas. Uma hipótese levantada por mim, é de que para ser considerada como educação nãoformal, a proposta de atuação deveria ter compromisso com as chamadas questões sociais, ou seja, com as questões que são comuns ao setor convencionalmente denominado social. A partir desta pesquisa, percebi que esta não é uma necessidade da educação não-formal, mas talvez seja da educação social. 5 Para maiores esclarecimentos sobre as diferentes ações nesse âmbito, ver o diagnóstico da região de Campinas realizado em 1998: Uma sondagem preliminar da atuação das instituições voltadas para a educação não-formal in Simson, Olga Rodrigues de Moraes; Park, Margareth Brandin e Fernandes, Renata Sieiro. Educação não-formal:cenários da criação. 6 "Então os ‘contextos sociais’ são, em realidade, fundamentalmente os ‘contextos educativos não escolares’. Ou seja, a pedagogia social (enquanto disciplina) se ocuparia da educação social (enquanto intervenção), entendendo por esta última aquela que se produz em âmbitos não escolares ou, mais exatamente, não formais" (p.27,28 Romans, 2000)6. Considerando o setor social como aquele que tem por função, exercer ações que confluem para a melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo, a atuação desse setor extrapola o campo educacional, mas há a necessidade de diálogos entre diferentes áreas de atuação no setor denominado social. Assim, a educação social poderia ser exemplificada com trabalhos nos quais o compromisso com questões que são importantes para um determinado grupo é considerado como ponto fundamental para o desenvolvimento do trabalho educacional (não-formal), mais importante do que qualquer outro conteúdo pré-estabelecido por pessoas, instituições, valores que não fazem parte dos ideais desse mesmo grupo. Compreendo que essa característica favorece a terminologia educação social, ao menos ao considerarmos as propostas educacionais, artísticas, culturais e corporais voltadas para o atendimento de crianças, jovens, adultos e velhos fora do contexto da educação formal, pois são propostas dentro do campo da educação não-formal, mas que são específicas à melhoria de questões sociais. Essa compreensão delimita uma série de “atividades” que muitas vezes são consideradas como atividades de educação não-formal, independente de uma série de questões que deveriam ser levadas em conta ao analisar se uma proposta se refere à educação não-formal ou não. Questões do tipo: “uma atividade de tricô na escola, é uma atividade não-formal, dentro do espaço formalizado da escola”7. Essa compreensão reduz o campo da educação 6 "Entonces los ‘contextos sociales’ son, en realidad, fundamentalmente los ‘contextos educativos no escolares’. Es decir, la pedagogía social (en tanto que disciplina) se ocuparía de la educación social (en tanto que intervención), entendiendo por esta última aquella que se produce en ámbitos no escolares o, más exactamente, no formales". 7 Exemplo dado por uma aluna do curso de graduação em Pedagogia da Unicamp, no qual eu atuava como monitora, no segundo semestre de 2001. 7 social/educação não-formal à atividade, como se esse campo educacional não tivesse uma série de particularidades na sua compreensão e atuação. Esse exemplo, assim como outros, são situações que têm a educação como mediadora de relações de aprendizagem, mas têm como objetivo o ensino ou o exercício de técnicas e/ou habilidades. Ainda exemplificando é possível citar as academias de ginástica; “escolas” de idiomas, teatro, dança, diferentes técnicas de artes plásticas e outros. Essas são propostas educacionais, que têm uma formalidade que difere da educação formal, mas não têm a intenção e o objetivo de atuar como melhoria social para um grupo com interesses e necessidades comuns. Dessa forma podem ser consideradas como propostas de educação não-formal, mas não poderiam ser consideradas como de educação social. Embora isso não seja tão claro, quando em diferentes situações a questão da educação não-formal é discutida. Questões como essas precisam ser levadas em conta ao nos referirmos a essa especificidade de educação, e penso que é possível compreender que são próprias da educação social não algumas atividades e habilidades técnicas específicas, mas o compromisso com questões de cunho social, almejando a melhoria das condições sociais da população. Considerando esses tópicos em relação à nomenclatura da educação não-formal, parece coerente que, para desvincular da oposição à educação formal e para evidenciar o compromisso com questões sociais, poderíamos, ao nos referirmos às propostas de atuações com crianças, jovens, adultos e velhos que visam melhorias sociais, denominá-las de educação social. Por outro lado, essa atitude também pode ser compreendida como uma postura segregacionista, uma vez que a chamada "educação social" passa a ser somente para aqueles que se enquadram nos critérios da exclusão social, de conflito social, risco social, etc. Assim, penso que as propostas educacionais voltadas para crianças e jovens, realizadas fora do contexto e tempo destinados à educação formal, podem ser compreendidas como pertencentes ao campo da educação não-formal e podem abarcar nesse campo diferentes projetos que englobem tanto àqueles que estejam vivenciando alguma situação de conflito 8 social, como também as crianças e jovens que não estejam passando por situações entendidas como merecedoras de algum cuidado especial. O cuidado, nesse sentido, é de que as "populações marginalizadas" não sejam mais uma vez vítimas das propostas que são pensadas para elas e não junto com elas, e que, pelas características econômicas, elas não passem a ser vistas como necessitadas de cuidados em separado dos demais, delegando à educação social a responsabilidade de sanar os problemas dessa população e adaptá-la ao convívio social, ou a "marca" da educação que é só para aqueles que têm algum problema, nesse caso, econômico. Toda essa discussão está presente no contexto das políticas sociais, um campo específico de estudo e análise das ações consideradas intrínsecas ao setor social. Vieira (2001), analisando a educação como política social, auxilia no entendimento de como a educação é compreendida nesse campo: "Na Constituição Federal de 1988, a educação compõe os direitos sociais, junto com os outros direitos. A constituição Federal relaciona os direitos sociais em seu artigo 6° e posteriormente particulariza-os no Título VIII (Da Ordem Social): 'Art. 6° - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição" (p. 18). A educação como política social, assim como o acesso a ela - o direito à educação - não é compreendida como uma política para alguns, e sim uma política que por ser necessária e ser de direito de toda a sociedade, é considerada social. Circunscritos às políticas sociais estão os direitos sociais: "os direitos sociais, como compreensão dos direitos fundamentais do homem, são prestações positivas estatais, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais" (Silva apud Vieira, p. 18). 9 A educação social poderia ser entendida como uma das esferas de atuação prática para "fazer valer" os direitos sociais. A compreensão do escopo das políticas sociais não é simples e nem é a intenção desse trabalho discutir sobre as questões que envolvem essa vasta área. Mas é importante o conhecimento da abrangência do campo das políticas sociais uma vez que este trabalho propõe um estudo sobre ações que vêm sendo realizadas, tanto por propostas de governos municipais, estaduais e federal, como por ações encampadas pela sociedade civil. Höfilng (2201) ao analisar as políticas sociais propostas por governos neoliberais traz tanto a dificuldade que estas análises pressupõem, como qual compreensão de políticas sociais essa proposta de governo concebe e pratica. “Especialmente quando se focaliza as políticas sociais (usualmente entendidas como as de educação, saúde, previdência, habitação, saneamento etc) os fatores envolvidos para aferição de seu ‘sucesso’ ou ‘fracasso’ são complexos, variados e exigem grande esforço de análise” (p. 30). De acordo com a autora a política social deve ser entendida como uma ação inserida em um determinado modelo político, elaborado e proposto por um governo específico que por sua vez defende e representa uma determinada ideologia e teoria social. Sendo assim, a educação social, compreendida como uma das esferas de ação das políticas sociais, não só no setor educacional, como na saúde, assistência social etc, não pode ser compreendida e analisada descolada desse contexto mais amplo. Compreendendo a educação social inserida ideologicamente em propostas de governo, faz sentido analisar as ações e intervenções das instituições, projetos, no campo da educação não-formal – especificamente da educação social, que atuam com crianças, jovens, adultos e velhos, buscando a compreensão que essas instituições têm de que lugar ocupam e de que papel desempenham para a manutenção ou mudança e transformação, mesmo que em pequena escala, do modelo social proposto e encampado pela proposta de governo, no caso do Brasil na década de 90, de conteúdo neoliberal. 10 A autora chama a atenção para o nascimento das políticas sociais, deixando clara sua função como mantenedora das desigualdades sociais e de reprodução da sociedade capitalista: “Para a temática aqui abordada, Offe traz interessante contribuição ao analisar as origens das políticas sociais traçadas pelo Estado Capitalista contemporâneo para a sociedade de classes. Para o autor, o Estado atua como regulador das relações sócias a serviço da manutenção das relações capitalistas em seu conjunto, e não especificamente a serviço dos interesses do capital – a despeito de reconhecer a dominação deste nas relações de classe” (op. cit. p.33). Mais uma vez, é interessante compreender a educação social nesse contexto mais amplo e perceber até que ponto ela tem condições de assumir ações transformadoras já que são concebidas como partes produtoras e reprodutoras da ordem capitalista. Como contribuição importante ao desenvolvimento da pesquisa estão as análises das entrevistas e do caderno de campo das pesquisas realizadas em três instituições de educação não-formal, sendo uma de caráter público, a outra de origem religiosa, se constituindo atualmente como ONG, e a terceira de formação comunitária. As pesquisas de campo foram efetuadas durante todo o ano de 2002 e resultaram da necessidade da pesquisadora de ampliar o olhar, uma vez que a experiência existente era referente a apenas uma instituição - o Projeto sol de Paulínia -, e a mesma tem um vínculo afetivo com o Projeto. E por fim algumas discussões sobre políticas em educação não-formal que vêem sendo implementadas tanto pelas ações governamentais como pela legislação que regulamenta a existência das ONGs e OSCIPIS, assim como a presença da sociedade civil no campo da educação não-formal, e especificamente nas propostas voltadas para atuação educacional com crianças, jovens, adultos e velhos fora do tempo escolar, trazendo considerações, nesse momento da pesquisa sobre como a educação integral vem sendo concebida por esses setores. 11 CONCLUSÕES A intenção não é de chegar a conclusões sobre o campo da educação nãoformal, mas de clarear o que vem sendo compreendido por essa especificidade da educação, além de defendê-la como campo autônomo e independente em relação ao da educação formal. BIBLIOGRAFIA AFONSO, Almerindo J. Sociologia da educação não-formal: Reactualizar um objecto ou construir uma nova problemática?, in: ESTEVES, Antonio Joaquim e STOER, Stephen R. A sociologia na escola, Porto: Afrontamento, 1992, p.83-96. ALLIEZ, Eric. (org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica; coordenação da tradução de Anna Lúcia de Oliveira. – São Paulo: Ed.34, 2000. ALMEIDA, José Luís Vieira de. Tá na rua: representações da prática dos educadores de rua. - São Paulo: Xamã, 2001. ANDRÉ, Antonio Miguel. O menino de rua: suas particularidades em Angola. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Espírito Santo: Vitória, 1997.VIEIRA, Evaldo. A política e as bases do direito educacional. in Cadernos cedes, n. 55. Campinas, SP. 2001. ARAÚJO, Carla Marins. Pôr do Sol: o fim de um Projeto de educação não-formal. Campinas, SP: PUC Campinas, 2002. TRabalho de conclusão de curso - jornalismo. ARQUERO, Mercedes. Educación de calle: hacia un modelo de intervención en marginación juvenil. - Madrid: Edictorial Popular,1998. BEZERRA, Silvana. Do assistencial ao educacional: Por uma fundamentação filosófica da educação não-formal. Dissertação de mestrado, FE - Unicamp: Campinas, 2000. BREMBECK, Cole S. Formal education, non formal education, and expanded conceptions of development. - Ocasional Papers Non formal education, Institute for Internationa Studies in Education: Michigan, 1978.SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes von. Identidade na quebrada: educação não-formal, hip hop e história oral. CHISTE, Lissandra Silva. Educação não-formal: uma análise das práticas educacionais voltadas para criança sem infância de uma instituição pública - Projeto Sol 12 João Aranha - Paulínia - SP. Trabalho de conclusão de curso, Unicamp - Campinas, SP. 1997. COLIN, Denise Ratmann Arruda e FOWLER Marcos Bittencourt. LOAS: Lei Orgânica da Assistência Social anotada. São Paulo, Veras Editora, 1999. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é a filosofia?; Tradução Bento Prado Júnior e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Folha de São Paulo/Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1995. Estatuto da Criança e do adolescente, Lei n. 8o69 de 13 de julho de 1990. ESTEVÃO, Ana Maria Ramos. O que é serviço social? São Paulo, Ed. Brasiliense, 1984. FERNANDES, Renata Sieiro. Entre nós o Sol: relações entre infância, cultura, imaginário e lúdico na educação não-formal. ________________________. Contratempos e sobressaltos: os eclipses como fenômenos da natureza humana. in Resgate: Revista de Cultura. Campinas: SOUZA, Nilza Alves de. Daqui se vê o mundo: imagens, caminhos e reflexões.Dissertação de mestrado, Unicamp - Campinas, SP. 2002. FERREIRA, Tânia. Os meninos e a rua; uma interpelação à psicanálise. - Belo Horizonte: Autêntica/FUMEC, 2001. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Pauloa; Edições Loyola, 2002. FRANCO, Sara Acuña (org.). Coeducación y tiempo libre. - Madrid: Editorial Popular, 1995.TEIXEIRA, Carmen de Miranda Ieks. Educação não-formal: uma análise das práticas educacionais voltadas para "estudantes em situação de risco" de uma instituição pública - (Projeto Sol Morumbi - Paulínia). Trabalho de conclusão de curso, Unicamp Campinas, SP. 1997. GALLO, Sílvio. Pedagogia do risco: experiências anarquistas em educação. Campinas, SP: Papirus, 1995. GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo, Cortez, 1999. 13 ____________________. Educação não-formal no Brasil anos 90. mimeo, Campinas, 1997. GONÇALVES, Renata Mateus. Educação não-formal: uma análise de práticas educacionais com crianças "sem infância" de uma instituição pública - Projeto sol Monte Alegre - Paulínia. Área específica: educação artística. Trabalho de conclusão de curso, Unicamp - Campinas, SP. 1997. GREGORI, Maria Filomena. Viração: experiências de meninos nas ruas. - São Paulo: Companhia das Letras, 2000. HÖFLING, Eloísa de Mattos. Estado e políticas (públicas) sociais. in Cadernos Cedes, n. 55. Campinas, SP. 2001. IAMAMOTO, Marilda Villela. Trabalho e indivíduo social: um estudo sobre a condição operária na agroindústria canavieira paulista. São Paulo, Cortez, 2001. __________. Trabalho e indivíduo social no processo capitalista de produção in Trabalho e indivíduo social: um estudo sobre a condição operária na agroindústria canavieira paulista, p.31-99. São Paulo, Cortez, 2001. Jornal Folha de São Paulo, caderno Mais, págs 5-6 a 5-8. Oito de julho de 1997. JÚNIOR, Bento Prado. A idéia de “Plano de Imanência” in ALLIEZ, Eric. (org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica; coordenação da tradução de Anna Lúcia de Oliveira. – São Paulo: Ed.34, 2000, pg 307-322. LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.- São Paulo: EPU, 1986. PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. 3. edição. São Paulo, Edições Loyola,1985. PARK,Margareth Brandini.Entrevozes: crianças e velhos redimensionando práticas pedagógicas. in Revista Recriação - UFMG, vol 1, n.1, 1995, pp. 67-72. PARO, Vitor Henrique; FERRETTI, Celso João; VIANNA, Claúdia Pereira e SOUZA, Denise Trento de. Escola de tempo integral: desafio para o ensino público. - São Paulo: Cortez : Autores Associados, 1988. Program of Studies in non-formal education. Discussion papers number 2. - Nonformal education: the definition prblem. Michigan State University: Michigan, 1974. 14 QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O pesquisador, o problema da pesquisa, a escolha de técnicas: algumas reflexões. in LANG, Alice Beatriz da Silva Gordo (org.), Reflexões sobre a pesquisa sociológica,p.12-24. 2. edição. São Paulo: CERU, 1999. RODRIGUES, Ligia Adriana. Nômades, Bárbaros e Guerreiros: os educadores e educadoras das ruas e das instituições para "menores". Dissertação de mestrado - São Carlos:UFSCar, 2001. ROMANS, Mercè, PETRUS, Antoni e TRILLA, Jaume. De profesión: educador social. Barcelona, Paidós, 2000. SHULLER, E. Musical educators journal: Special focus Music and at Risk Students, vol 78, nº3, p.21-29, 1991. SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes; PARK, Margareth Brandini e FERNANDES, Renata Sieiro (orgs). Educação não-formal: cenários da criação. - Campinas, SP: Editora da Unicamp e centro de Memória, 2001. _____________________________; Identidade na quebrada: educação não-formal, hip hop e história oral. Mimeo. Campinas, S.P. 2002. SOUZA, Nilza Alves de. Daqui se vê o mundo: imagens, caminhos e reflexões. Dissertação de mestrado, unicamp – Campinas, SP. 2002. SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de. e SILVA, Eurides Brito da. Como entender e aplicar a nova LDB: lei n. 9394/96. - São Paulo: Pioneira, 1997. TEIXEIRA, Carmen de Miranda Ieks. Educação não-formal: uma análise das práticas educacionais voltadas para “estudantes em situação de risco” de uma instituição pública – (Projeto Sol Paulínia – Morumbi). Trabalho de conclusão de curso, Unicamp – Campinas, SP. 1997. TOLSTÓI, L.N. Obras Pedagógicas. tradução de J. M. Milhazes Pinto. - Moscovo: Edições Progresso,1988. TRILLA, Jaume. La educación fuera de la escuela: ámbitos no formales y educación social. -Barcelona: Editorial Ariel,1996. UHLE, Águeda Bernadete. A filantropia na educação. in Educação & Sociedade: revista quadrimestral de Ciência da Educação/Centro de Estudos de Educação e Sociedade (CEDES), n.42. Campinas, SP: Papirus, 1993. 15 Vídeo-documentário O Abecedário de Gilles Deleuze. VIEIRA, Evaldo. A política e as bases do direito educacional. in Cadernos Cedes, n.55. Campinas, SP.2001.