LEITURA DE MUNDO E DE PALAVRAS: EXTENSÃO E PESQUISA

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LEITURA DE MUNDO E DE PALAVRAS: EXTENSÃO E PESQUISA NA
FORMAÇÃO DO PEDAGOGO
Luana de Araujo Lobo
[email protected]
Universidade Regional do Cariri – URCA
Ana Carla de Almeida Morais Lacerda
[email protected]
Universidade Regional do Cariri – URCA
Isabelle de Luna Alencar Noronha
[email protected]
Universidade Regional do Cariri – URCA
RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar resultados parciais de uma pesquisa, oriunda de um
projeto de extensão que vem sendo desenvolvido (desde fevereiro/2016) na Fundação Casa
Grande – FCG, Memorial do Homem Kariri, localizado na cidade de Nova Olinda – Ceará. O
referido projeto tem como um de seus objetivos favorecer ao pedagogo experiências de atuação
em ambiente de Educação não-formal, para dele apreender seus saberes e fazeres, realizar
oficinas de leitura, escrita e de educação patrimonial e assim produzir a articulação teoriaprática-teoria tão necessária à sua formação. Às crianças e jovens da Fundação Casa Grande
oferecer oficinas de letramento, com base na compreensão de que a “leitura de mundo precede
a leitura da palavra” e de que ler o mundo implica em ler a palavra cotidianamente.
Fundamenta-se teoricamente nos trabalhos de Gohn (2005), Freire (1990; 2011), Carvalho
(2008). A pesquisa é de cunho qualitativo, seguindo os preceitos da pesquisa ação.
Palavras-chave: Educação Patrimonial; Letramento; Educação não-formal.
INTRODUÇÃO
Integrar ensino, pesquisa e extensão no desenvolvimento de trabalho acadêmico é um
dever institucional. Por meio da extensão de forma mais efetiva a IES insere-se na comunidade
da qual é parte, numa relação de troca que envolve conhecimentos, ações e construções de
saberes e de fazeres.
Este artigo trata, pois de apresentar dados preliminares de um projeto de extensão de
leitura e de escrita e de educação patrimonial que as autoras estão desenvolvendo na Fundação
Casa Grande – FCG em Nova Olinda no estado do Ceará.
Muitos pesquisadores já escreveram e desenvolveram trabalhos das mais variadas
ordens na e sobre a Fundação Casa Grande, que é uma organização não governamental sem fins
lucrativos, que está sempre de portas abertas para receber crianças e jovens. A Casa Grande é
um espaço que permite que as crianças tenham liberdade de expressão, sejam valorizadas e
ouvidas. Nesse contexto exploram o lugar onde vivem e suas culturas, isto por meio do trabalho
que é realizado com pesquisas antropológicas e mitológicas, em que vão descobrindo a origem
do homem, buscando preservar os conhecimentos adquiridos de forma espontânea e livre, mas
com responsabilidade. Constitui-se como um consistente projeto educativo, atraindo para si
muitos olhares.
Criada em 1992 pelo casal de músicos Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde. Desde
seu início, esta Fundação foi pensada como um local de trabalho com foco na Educação,
Comunicação e Cultura, tendo por objetivos, conforme os artigos de seu estatuto, que seguem,
III – Pesquisar, preservar, coletar, juntar em acervo, comunicar, exibir e
publicar para fins científicos, de estudo e recreação, a cultura material e
imaterial do homem Kariri e de seu ambiente;
IV – Estabelecer registro e cadastramento do Patrimônio Cultural da região do
homem Kariri, com fins de cuidar do acervo arqueológico e ecológico;
V – Servir de instrumento de evolução para as artes e a cultura do homem
Kariri;
VI – Formular e incentivar projetos nas áreas de arte e cultura, educação, meio
ambiente, saúde e desenvolvimento social e tecnológico.
É, pois, esta instituição, um lugar de pesquisa, de defesa e divulgação do patrimônio
material e imaterial da região do Cariri cearense. Em seus trabalhos sócio-educativos recebe
crianças e jovens de todas as idades, em programas como a formação de plateia para teatro e
cinema; guias para o museu do Homem Kariri; locutores mirins para Rádio Casa Grande FM,
dentre outros. Há ainda em seus espaços uma biblioteca, uma DVDteca e uma editora, também,
um parquinho. Ressaltamos que comumente a comunidade local se diverte e aprende em seus
espaços. Trabalha, pois, com educação não-formal.
O curso de Pedagogia, conforme as suas Diretrizes Curriculares 1, artigo 4º, destina-se à
formação de professores para atuação na educação infantil, ensino fundamental 1, nos cursos de
1
RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 15 DE MAIO DE 2006.
ensino médio na modalidade normal, educação profissional e em outros ambientes em que
sejam exigidos conhecimentos pedagógicos. No parágrafo II do citado artigo, encontra-se
referência a atuação em ambientes não escolares, “planejamento, execução, coordenação,
acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares”.
Neste sentido, a prática de formação de pedagogos em ambientes não-escolares que
fazem usos de educação não formal se estabelece também, por meio de projetos de extensão e
de pesquisas, como este que ora vamos apresentar.
A metodologia utilizada neste trabalho tem seu fundamento na perspectiva crítica e
dialética de educação, assim, concordamos com Severino (2007) quando afirma que o
conhecimento não pode ser entendido separadamente da prática política dos homens. A
pesquisa, pois, está fundamentada nos princípios da metodologia qualitativa por compreender
que os sentimentos humanos (motivos, aspirações, crenças valores e atitudes), fazem parte da
realidade social, por isso, “[...] o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre
o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada por seus
semelhantes.” (MINAYO, 2012, p.21).
Nossa pesquisa está sendo desenvolvida seguindo três aspectos considerados
fundamentais para obtermos os resultados desejados: 1- construir uma relação de afetividade
com as crianças, saber seus gostos e quais os seus saberes; 2- desenvolver oficinas de
letramento com as crianças partindo dos seus interesses de leitura; 3- Trabalhar de forma
articulada a educação patrimonial com as mesmas crianças reforçando a construção identitária
dos mesmos com o local a que pertencem.
Quando falamos em construção identitária, estamos abordando o desenvolvimento do
sentimento de pertencimento, ou seja, o lugar que habitamos nos pertence, nós o conhecemos e
podemos amá-lo, defendê-lo, reconhecer suas limitações e neste sentido também as nossas, tais
reconhecimentos
devem
levar
ao
pensamento
e
a
ação
critica,
e
não
ao
conformismo/comodismo, devem levar a compreensão da história como possibilidade,
É o saber da história como possibilidade e não como determinação. O mundo
não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente,
interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel
no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem
intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto a história, mas
seu sujeito igualmente. (FREIRE, 2011, p. 74 – 75)
Nosso referencial teórico é composto pelos conceitos de Gohn (2005); Freire (1990;
2011); Carvalho (2008) como principais norteadores das reflexões levantadas durante esta
pesquisa.
Com base nos conceitos e premissas desta perspectiva teórico-metodológica estruturamos
este trabalho dentro de uma linha de argumentos que inicia com a apresentação de reflexões
acerca da formação do pedagogo. Em seguida, apresentaremos resultados parciais das
atividades de letramento articuladas com a educação patrimonial em desenvolvimento com as
crianças na FCG.
A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO EM AMBIENTES DE EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
Ao pedagogo, segundo as suas Diretrizes Curriculares, artigo 4º, cabe à formação de
professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação
Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos
conhecimentos pedagógicos, estabelecendo em seu parágrafo “IV - trabalhar, em espaços
escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do
desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo;”
Neste sentido, é preciso que durante o processo formativo os pedagogos tenham
experiências significativas com espaços não escolares que executem uma educação não-formal,
e consigam apreender a dinâmica própria destes espaços. Como surgiram a que se destinam? O
que os alimenta em termos sociais e financeiros? Qual a importância destes cenários na
articulação com os espaços de educação informal e formal? Enfim, uma gama de
conhecimentos que aliados a outros saberes deverão consolidar a formação do pedagogo.
A Fundação Casa Grande é uma ONG sem fins lucrativos que se constitui no cenário
caririense como espaço educativo não-formal, em que os meninos e meninas (assim são
chamados crianças e jovens que participam do projeto) se munem de um aparato cultural que os
fazem pensar, falar, decidir em suas organizações sociais.
A educação não formal é, pois, compreendida como “campo possível de criação pela
prática do diálogo” (GARCIA, 2005, p. 41), e por não conter uma rígida estrutura como a
educação formal e nem dissolver-se na prática cotidiana como a educação informal, tem
objetivos e atuações múltiplas e um publico que geralmente está em situação de risco e
vulnerabilidade social.
Simson, Gohn e Fernandes (2007) afirmam que a educação não-formal pretende formar
cidadãos aptos a solucionar problemas do cotidiano, desenvolver habilidades, capacitar-se para
o trabalho, organizar-se coletivamente e apurar a leitura e compreensão do mundo. Isso implica
que, necessariamente, este tipo de educação, acontece para além dos muros da escola, em
ONGs, sindicatos, igrejas, cinemas, dentre outros.
Para Gohn (2005 apud Noronha, 2008, p. 15), a educação não-formal designa um
processo com quatro campos ou dimensões: envolve a aprendizagem política dos indivíduos
enquanto cidadãos; a capacitação para o trabalho, a aprendizagem e o exercício de práticas que
capacitem os envolvidos a se organizarem com objetivos comunitários, voltados à solução de
problemas coletivos cotidianos; aprendizagem dos conteúdos da escolarização formal em
espaços e tempos diferenciados.
Parafraseando Paulo Freire (1990) podemos dizer que na Fundação Casa Grande as
pessoas se educam em comunhão mediatizadas pelo mundo. Um mundo de cultura que é
construído e compartilhado cotidianamente pelos atores sociais que fazem parte desse espaço
de educação não-formal.
É preciso ressaltar que à participação nos espaços não-formais de educação da Fundação
Casa Grande, se impõem a matricula dos meninos/as na escola. Note-se que cabe a escola
(espaço de educação formal) o ensino da leitura e da escrita e o decorrente aprendizado do uso
social deste saberes. Percebemos, no entanto, por meio de resultados de avaliações constantes
(ANA, SAEB, dentre outras), e de nossa experiência (no curso de Pedagogia) em escolas, o
insuficiente sucesso que a escola (principalmente a pública) vem obtendo com relação ao nível
de letramento da população em idade escolar, embora as taxas de analfabetismo, venha
decrescendo, ainda que lentamente. Percebemos ainda, uma prática indevida que tende a pautar
o ensino escolar, apenas nas atividades de Língua Portuguesa e Matemática para atender aos
exames avaliativos, desconsiderando as outras áreas de conhecimento.
Neste sentido, considerando fundamental a atividades de letramento para o bom
aprendizado de ler e escrever, e todas as dificuldades que envolvem esta prática educativa,
tanto em ambientes formais como não-formais de educação. Considerando dificuldades
apresentadas pelas crianças da Fundação nesta área, embora demonstrem grande habilidade na
fala, na apresentação coerente de idéias, e ainda, o fato de que a Fundação Casa Grande não
dispõe de profissionais que façam um efetivo trabalho com práticas de letramento, por não ser
essa a função deste espaço de aprendizagem, é que iniciamos este projeto de extensão.
Como um campo de diálogo pretendeu aprender e ensinar na Fundação Casa Grande,
usando as máximas freirianas de que “a leitura de mundo precede a leitura da palavra” e a de
que “os homens se educam em comunhão”. Cabe ao curso de Pedagogia a responsabilidade
com a formação de professores alfabetizadores, posto que seja deste curso, como anteriormente
informado, a responsabilidade para a “formação de professores para exercer funções de
magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental”. Neste sentido esta
experiência se traduz como uma grande oportunidade de encontro e de formação.
No âmbito do Ensino Fundamental os conteúdos devem ser tratados de forma
interdisciplinar. É importante dizer que a interdisciplinaridade consiste em romper com a
representação estática dos limites das disciplinas, e assim, estabelecer uma intercomunicação
de saberes, atitudes e valores.
Na educação formal, temos acompanhado, que essa aprendizagem interdisciplinar tem
manifestado dificuldades de realização, no entanto, os ambientes de educação não-formal tem
se apresentado como espaços de grande potencial de realização desta aprendizagem,
principalmente, na Fundação Casa Grande em que o trabalho se estrutura com base na cultura
local. Isto, no entanto, não significa um alijamento de outras culturas, mas uma conquista
identitária que permite conceber a importância da cultura local em diálogo ou em contraposição
a outra qualquer.
A Fundação Casa Grande desenvolve um importante trabalho interdisciplinar por meio
da Educação Patrimonial, que, embora perpasse todos os ambientes educacionais da citada
Fundação e suas parcerias com a URCA e o IPHAN, se realiza com mais propriedade no
Memorial do Homem Kariri, local em que os meninos e meninas recebem os visitantes, em sua
maioria, estudantes de vários locais do estado do Ceará, mas também de outros estados e
compartilham conhecimentos sobre história local.
A Educação Patrimonial se configura como um processo que reporta a um saber-fazer
de práticas ligadas à tradição e à memória coletiva, a construção de uma identidade com o lugar
em que se vive.
Entendemos, de acordo com Oriá (1998), por educação patrimonial a
utilização de museus, monumentos históricos, arquivos, bibliotecas – os
lugares e suportes da memória – no processo educativo, a fim de desenvolver
a sensibilidade e a consciência dos educandos e futuros/atuais cidadãos quanto
a importância da preservação desses bens culturais. (NORONHA, 2008, p.
144).
Está, pois, a educação patrimonial ligada à construção da identidade cultural. Idéia que
está posta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) quando elencam para o ensino de
História, os conteúdos no ensino fundamental: a história local e do cotidiano e a história das
organizações populacionais. Tais conteúdos devem levar o aluno a conhecer a sua história, a
história do lugar em que vive. Também, a perceber que a história é fruto de uma construção
dinâmica das relações entre as pessoas, e compreender a capacidade humana em todas as
épocas de criar e/ou destruir, organizar-se e viver em sociedade. Sociedades múltiplas, com
identidades múltiplas.
“Dessa forma, estará ajudando os alunos a organizar repertórios culturais que
possibilitam a compreensão do tempo e do espaço nos quais estão inseridos,
aprendendo, por exemplo, a interpretar cada história individual como resultado
de um passado, o que requer compreender os hábitos, a cultura, os valores, as
tradições, a tecnologia de uma época e também entender como as pessoas que
a viveram agiram em função desse contexto.” (FERMIANO; SANTOS, 2014,
p. 13).
A realização deste projeto vem propiciando a nós, estudantes e pesquisadores do curso
de Pedagogia, uma formação interdisciplinar, por meio do diálogo com a educação patrimonial
realizada na FCG. Esta experiência tem nos oportunizado momentos de sistematização e
apropriação com o que chamamos de práxis, processo em que teoria e prática dialogam em
torno de uma ação crítico-reflexiva. Teoria-prática-teoria são requisitos de uma formação que
se propõe crítica, atuante e em diálogo constante com a realidade sócio-cultural da qual faz
parte a formação do Pedagogo.
Leituras de mundo, palavras em movimento
Ao tempo em que desenvolvemos o projeto de extensão que ora abordamos, vamos
pesquisando a nossa prática, inseridas pois, no ambiente pesquisado, numa “etnopesquisa
crítica” , que requer, olhar atento e reflexão constante, “Para a etnopesquisa, descrever é um
imperativo, estar in situ é ineliminável, compreender a singularidade das ações e realizações
humanas é fundante, bem como a ordem sociocultural que aí se realiza. (MACEDO, 2006,
p.83)
Buscamos estabelecer uma relação afetiva com as crianças que frequentam a Fundação
Casa Grande – FCG. Em nossos encontros com as crianças sempre buscamos realizar
atividades ligadas ao uso da leitura e da escrita em contextos sociais por meio de oficinas de
letramento articuladas a educação patrimonial. Entendemos por letramento, a capacidade de
utilização textual com propriedade, em situações sociais, um processo cuja natureza é sóciohistórica.
Pessoas alfabetizadas podem, eventualmente, ter pouca ou nenhuma
familiaridade com a leitura de jornais, livros, revistas, documentos, e muitos
outros tipos de textos; podem também, encontrar dificuldades para se
expressarem por escrito. Letrado, no sentido em que estamos usando este
termo, é alguém que se apropriou suficientemente da escrita e da leitura a
ponto de usá-las com desenvoltura, com propriedade, para dar conta de suas
atribuições pessoais e profissionais. (CARVALHO, 2008, p. 66)
Nesse sentido, nossa primeira oficina partiu da leitura que as crianças possuem delas
mesmas, foi realizada com a temática: Identidade, quem sou eu? Quem somos nós?
Começamos o trabalho com aproximadamente dez crianças, dentre elas cinco eram assíduas da
FCG e cinco não eram. Realizamos atividades voltadas a construção da identidade através do
uso da leitura e da escrita. Cada criança iniciou a oficina apresentando o livro que mais gosta
de ler e dizendo quais os motivos que as levou a gostar mais daquele determinado livro. Nessa
apresentação as crianças expressaram seus desejos, sonhos, idéias, suas preferências, objetivos,
sentimentos, etc. Deram-nos pistas de gosto literários que serão potencializados no decorrer do
nosso trabalho que está apenas começando.
Demos continuidade, pedindo para que cada criança escolhesse figuras variadas em
diversas revistas e decorasse uma pasta que lhes foi dada para guardar todo o material
produzido nas oficinas no decorrer do ano. Assim, elas se conhecem mais e visualizam a cada
dia naquela pasta o que as levou e fazer determinadas escolhas em detrimento de outras.
É nossa intenção dar aos sujeitos pesquisados e participantes do projeto, espaço e voz
para dialogarmos, enquanto descobrimos as melhores formas e oportunidades de práticas de
leitura e escrita que reforcem a busca de significados, de compreensão e não apenas de
decodificação.
Ressalte-se que nossas escolhas são muito importantes para a formação da nossa
identidade pessoal, além de, contribuir para a construção da nossa autonomia. Freire (2013) fala
da importância da tomada consciente de decisões para qualquer prática educativa. Decidir é
escolher, é abrir mão de alguma coisa para ficar apenas com uma. Parece uma atitude muito
simples, mas se pararmos para pensar não é algo tão fácil assim. Atualmente muitos adultos
tem dificuldade de escolher alguma coisa porque tem medo de assumir sua preferência, muitos
preferem ter uma atitude antiética e negar suas escolhas. Por isso, tão importante quanto
escolher é assumir a responsabilidade das suas escolhas.
CONCLUSÕES
O trabalho em desenvolvimento já nos permitiu algumas considerações importantes.
Neste projeto já observamos o interesse das crianças pelas oficinas propostas, possibilitando-as
praticar sua liberdade para decidir querer ou não freqüentá-las. Nos encontros realizados
notamos que esses meninos e meninas da Fundação Casa Grande estão conseguindo
acompanhar as atividades que foram propostas para eles aprendendo por meio da prática.
Um dado relevante quanto ao nosso grupo de crianças é que àquelas que já são do
projeto, já habitam o espaço da Fundação Casa Grande, demonstram mais segurança ao se
expressarem nas atividades, tanto oralmente quanto na capacidade decisória. As outras crianças
embora apresentem certas dificuldades de escolha estão aptas à compartilhar seus receios e
superá-los.
Este fato motiva-nos a buscar cada vez mais oportunizar às crianças saberes para “[...]
Ser mais como expressão da natureza humana em processo de estar sendo [...]” (FREIRE,
2013, p. 76). Estar sendo não só nas oficinas, mas principalmente através de atividades
cotidianas simples, como a valorização do espaço compartilhado da Fundação Casa Grande e
todas as oportunidade que este dispõe.
Foi possível perceber ainda, que a aprendizagem que acontece na Fundação Casa
Grande, engloba uma diversidade de formas de aquisição dos conhecimentos. As crianças e
jovens quando chegam, aprendem a conhecer sua cultura local e a cultura global, aprendem a
fazer fazendo, produzindo vídeos, escrevendo as histórias e lendas da região e da cidade,
fazendo música recepcionando os visitantes, etc. Aprendem por meio da organização
democracia e ética, trabalhando em equipe, aprendem a conviver com as diferenças dos outros,
desenvolvendo suas habilidades e potencialidades, e assim prosseguem formando suas
personalidades e identidades.
O respeito e dedicação entre os membros que colaboram para o projeto de preservação
do patrimônio cultural na FCG, fazem o melhor para tornar o ambiente em que vivem um
espaço em que as regras são vivenciadas como condição de organização e disciplina sem
descuidar-se da alegria. Um lugar de troca de experiências em que crianças e jovens “se
educam em comunhão”, refletindo seus sonhos, projetos a serem realizados. Concluímos,
portanto, que quando a educação é algo prazeroso, as crianças a acolhem com muito mais
vigor.
REFERÊNCIAS
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Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
FERMIANO, Maria Belintane; SANTOS, Adriane Santarosa dos. Ensino de História para o
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FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização leitura do mundo, leitura da palavra.
Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
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Paulo: Paz e Terra, 2011.
GARCIA, Valéria Aroeira. Um sobrevôo: o conceito de educação não-formal. In: PARK,
Margareth Brandini; FERNANDES, Renata Sieiro (orgs.) Educação Não-Formal: Contextos,
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GOHN, Maria da Glória. Educação Não-Formal e Cultura Política. 3 ed. São Paulo: Cortez,
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MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa Crítica, Etnopesquisa-Formação. Brasília: Líber
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MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 31 ed. Petrópolis, RJ:
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NORONHA, I. L.A.; Fundação Casa Grande - Memorial Do Homem Kariri: Cotidiano,
Saberes, Fazeres E As Interfaces Com A Educação Patrimonial. Dissertação. Dissertação
(Mestrado) – UFPB/CE, Programa de Pós Graduação em Educação Popular, Comunicação e
Cultura. João Pessoa: UFPB, 2008. 270f
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
SIMSON, O. R. M. V.: GOHN, M. G. ; FERNANDES, R. S. Não Fronteiras: universos de
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