Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios Sinal do BCE de que não aceitará deflação é bom para Portugal Rui Peres Jorge | [email protected] O corte de juros por parte do Banco Central Europeu evidencia o contexto difícil do ajustamento nacional. O impacto mais directo do corte de juros do BCE na vida da maioria dos portugueses será sentido na factura de crédito à habitação. Mas a decisão surpresa é uma boa notícia também por razões menos imediatas: actua e sinaliza a importância de evitar um cenário de deflação na Zona Euro, uma perspectiva aterradora para a região e em especial para os seus países mais frágeis e endividados como Portugal. Os críticos de Frankfurt dirão até que o BCE peca por não ir mais longe. A decisão de cortar a taxa de juro central de 0,5% para 0,25%, um novo mínimo histórico, foi justificada pelas quedas sucessivas da inflação na Zona Euro que recuou para 0,7% em Outubro, o mínimo desde 2009. Em Portugal o aumento de preços homólogo é ainda mais baixo, tendo caído para 0,1% em Setembro, sendo possível que entre em terreno negativo, como de resto sucedeu também em 2009. Mário Draghi afastou ontem um cenário de deflação para a Zona Euro, pelo menos definido como um "processo que se auto-alimenta de queda prolongada de preços por uma larga categoria de bens e por um número muito significativo de países". Mas avisou que pela frente estará um 'longo período de inflação baixa", deixando para Dezembro, por altura da apresentação das suas previsões de Inverno, mais detalhes. "O BCE sinalizou claramente que está preocupado com inflação persistentemente baixa, mesmo que os riscos de deflação estejam contidos", escreveu numa nota enviada a clientes Philippe Gudin, do Barclays Capital, que a ponta para uma inflação em torno de 1% em 2014, abaixo dos 1,4% deste ano. Para Portugal, abraços com um duro processo de consolidação orçamental e desalavancagem dos sectores privado e público, o risco de deflação é real. Este resultado prejudica a recuperação económica, especialmente se acompanhado de inflação baixa no resto da união monetária A estagnação de preços na Zona Euro significa, por exemplo, que o esforço nacional de desvalorização interna será menos eficaz, isto porque da queda de salários e preços em Portugal resultarão menos ganhos de competitividade, visto que nos destinos de exportação os preços e salários também não sobem. A inflação baixa é também uma má notícia para países muito endividados, uma condição que Portugal preenche com distinção. Isto porque um aumento de preços na economia acaba por desvalorizar o valor em dívida ao longo do tempo. O contrário acontece em casos de deflação. Uma queda de preços torna a recuperação económica mais difícil, pois incentiva as famílias e as empresas a adiarem despesa, esperando reduções de preços. E mesmo num cenário de inflação positiva, quanto mais baixa esta for, maior será a taxa de juro real, o que desincentiva a actividade económica Por todas estas razões, aliás referidas ou aludidas ontem por Mário Draghi em conferência de imprensa, a sinalização do BCE de intolerância para com a queda da inflação é uma boa notícia. Embora como se lia ontem no editoral do influente "Financial Times", a decisão também mostra que a recuperação da está longe de estar certa. 2013-11-08