ID: 41970109 25-05-2012 | Finanças Pessoais Tiragem: 23019 Pág: 5 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 7,62 x 32,24 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 OPINIÃO Esta crise não é grega DIOGO SERRAS LOPES Director de Investimentos do Best crise de dívida na zona euro continua a estar no centro de todas as atenções. O tempo comprado com os leilões de longo prazo oferecidos pelo BCE ao sistema financeiro não foi usado nem pelas instituições europeias, nem pelos governos europeus, para encontrar respostas diferentes. Como foi alertado por muitos, à medida que 2012 avança, alguns dos problemas da zona euro deverão tornarse cada vez mais evidentes. Em primeiro lugar, as políticas de austeridade simultânea em toda a zona, que no seu conjunto tem uma posição externa muito próxima do equilíbrio, contribuem essencialmente para deprimir de forma significativa a procura interna, com as consequências que começam a ser vistas. A lista dos países em recessão continua a aumentar e os indicadores avançados continuam a surpreender pela negativa. Mas mais importante do que a componente puramente económica (se é que tal coisa existe), poderá vir a ser a componente política. Os pacotes de ajustamento negociados com os países intervencionados implicam um ajustamento sem precedentes, tanto em dimensão como em duração, num contexto de união monetária, ou seja, sem a capacidade de utilizar a taxa de câmbio como instrumento. As eleições gregas decorridas no início deste mês, bem como o 5º ano consecutivo de recessão económica naquele país, devem servir de aviso a todos os europeus relativamente às consequências e dificuldades que o rumo actual pode vir a trazer. As mudanças estruturais iniciadas com o tratado fiscal terão necessariamente de ser continuadas para aumentar a capacidade de resistência e sobrevivência da zona euro. Alterações no papel do BCE, alargando de forma significativa o seu papel, são essenciais. Algum tipo de mutualização de dívida, que não transfira simplesmente a responsabilidade para os países não periféricos, de forma a ser aceitável por estes, é também essencial para que os programas de ajustamento nos países periféricos possam ser dimensionados de forma a serem realizáveis e não, como actualmente, missões quase impossíveis. Era bom que por uma vez soubéssemos, como União Europeia, ter o sentido de urgência necessário para tomarmos as decisões que se impõem, em vez de apenas deixarmos os problemas crescer até só nos restarem como escolhas soluções desesperadas. Todos os olhos parecem estar na campanha para as novas eleições gregas. Era melhor estarem virados para os líderes europeus, reunidos esta semana em mais uma cimeira.■ A