A VISIBILIDADE DO ENFERMEIRO EM UMA HOME CARE: RELATO DE EXPERIÊNCIA1 MELLO, Amanda de Lemos2; BAKES, Dirce Stein3; DAL BEN, Luiza Watanabe4 RESUMO Objetivou-se identificar as atividades desenvolvidas pelo enfermeiro durante a internação domiciliar de pacientes com assistência de enfermagem 24 horas por dia. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e retrospectivo, realizado em uma empresa de assistência domiciliar de Enfermagem da Grande São Paulo. Os dados foram coletados por meio de análise de 25 prontuários de pacientes sob cuidado. A classificação das atribuições dos enfermeiros foi realizada com base na Resolução COFEN 267/2001, que contempla às atividades em assistência domiciliar (home care) e analisadas de forma comparativa. Os resultados mostraram a importância da função do enfermeiro frente à assistência domiciliar, principalmente no que se refere aos registros no prontuário. Concluiu-se, que o enfermeiro ocupa, crescentemente, uma importante função nos diferentes espaços, sobretudo, no cuidado domiciliar, por meio de atividades sistematizadas e cientificamente embasadas. Descritores: Cuidados de enfermagem; Serviços de assistência domiciliar; Papel do profissional de enfermagem; Pesquisa em enfermagem. ABSTRACT The objective was to identify the activities developed by nurses during home care of patients with nursing assistance 24 hours a day. This is an exploratory, descriptive and retrospective study, held in a company of home nursing assistance. The data were collected by analysis of 1 Trabalho de Pesquisa. Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Apresentador. Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. Líder do GEPESES. E-mail: [email protected] 4 Doutora em Enfermagem. Presidente da Dal Ben Home Care, responsável pelo Departamento de Assistência Contínua do SINDHOSP e do Núcleo de Assistência Domiciliar da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente - REBRAENSP- Polo São Paulo. E-mail: [email protected] 2 1 25 records of patients under care. The classification of the tasks of nurses was based on COFEN Resolution 267/2001, which includes the activities of home care and were analyzed of comparative way. The results showed the importance of the function of the nurse in home care, mainly with regard to records in the chart. It was concluded that the nurse holds, increasingly, an important function in different spaces, especially in home care, through activities systematized and scientifically grounded. Keywords: Nursing care; Home care services; Nurse’s role; Nursing research. 1. INTRODUÇÃO As demandas dos serviços de saúde na luta pela redução do tempo de internação, do número de re-hospitalizações, dos custos em tecnologias e da melhora da qualidade de vida dos usuários vêm propiciando, crescentemente, novas modalidades de atenção em cuidados de saúde1. Dentre essas modalidades, destacam-se as empresas de Home Care de enfermagem, as quais prestam assistência domiciliar especializada em período integral. A assistência domiciliar, apesar de se constituir em uma nova área de atuação para os profissionais de enfermagem, sobretudo no Brasil, caracteriza-se como um espaço altamente empreendedor, pela possibilidade de promover o cuidado de enfermagem de forma singular, humanizada e autônoma. Trata-se, portanto, de uma modalidade de cuidado de enfermagem que possibilita trabalhar medidas preventivas de saúde, melhorar o cumprimento das prescrições terapêuticas ou dos cuidados dos profissionais e providenciar ajustes na vida diária, a partir das necessidades singulares de cada indivíduo e família. Visam, dessa forma, diminuir o tempo de internação do usuário, prevenir reinternações, orientar o cuidador e seus familiares, reinserir o usuário no meio sócio-familiar e proporcionar a formação de profissionais de saúde para essa modalidade de atenção2-3. No que se refere aos recursos materiais, equipamentos e recursos humanos, a complexidade desse tipo de atendimento assemelha-se à das instituições hospitalares, considerando que cada domicílio constitui-e em um hospital virtual. Nesse processo de cuidados de enfermagem, a qualidade é imperativa, tanto no que se refere à assistência segura e resolutiva no domicílio, quanto à qualidade e legitimidade dos registros sistematizados, exigindo responsabilidade ética e conhecimento técnico e legal, específicos para o exercício dessa modalidade de atenção à saúde4-5. 2 As atribuições dos enfermeiros que atuam em assistência domiciliar Home Care estão aprovadas desde 2001, pela Resolução COFEN nº 267/20016. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) número 117 dispõe sobre o regulamento técnico de funcionamento de serviços que prestam atenção domiciliar que contempla a assistência e internação domiciliar. Diante do exposto e reconhecendo a importância da atuação do enfermeiro no cuidado domiciliar, questiona-se: Quais as atividades registradas no prontuário, pelo enfermeiro responsável pela internação domiciliar, de pacientes com assistência de enfermagem 24 horas por dia? Objetivou-se, assim, identificar as atividades desenvolvidas pelo enfermeiro durante a internação domiciliar de pacientes com assistência de enfermagem 24 horas por dia. 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e retrospectivo, realizado em uma empresa de assistência domiciliar, de natureza privada, que funciona desde 1992, na cidade de São Paulo (SP), com a missão de prestar atendimento personalizado. A pesquisa ocorreu no período de 30 de janeiro a 04 de fevereiro de 2012, o qual coincidiu com a realização de estágio extracurricular de uma das pesquisadoras. Definiu-se como critérios de inclusão todos os pacientes que tiveram como diagnóstico primário uma patologia do sistema circulatório, que se encontravam ativos ou inativos no tratamento, no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2011 e que necessitavam de assistência domiciliar 24 horas por dia, totalizando 25 prontuários. Optou-se por analisar, mais especificamente, a evolução do Enfermeiro e todos os passos do mesmo dentro de um prontuário eletrônico ou físico, desde a implantação até a alta ou óbito. Os dados obtidos foram analisados, de forma comparativa, com base na resolução do COFEN 267/2001, separados em Função Assistencial, Função Administrativa e Função Educativa, não sendo utilizada a Função de Pesquisa por ser esta um processo novo na empresa. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Função Assistencial 3 Para a assistência Home Care, são necessários, no mínino dois técnicos de enfermagem (TE) por turno. O responsável desta equipe é o enfermeiro-referência do paciente o qual avalia o paciente como um todo, realizando avaliações e procedimentos como: Anamnese, exame físico, Escala de Braden, Controle da dor, Índice de Katz, Preenchimento da tabela ABMID, controle de sinais vitais, balanço hídrico, peso, saturação de oxigênio, glicemia capilar e controle de diurese, podendo delegar para a equipe de enfermagem alguns destes cuidados ao paciente. O profissional de enfermagem, também faz a apresentação do técnico de enfermagem (TE), para o familiar, cuidador e paciente, além de prestar orientações quanto a crenças, as particularidades e rotinas familiares. O TE permanece responsável em avisar o enfermeiro sobre qualquer intercorrência que houver com o paciente, para isso há celulares de emergência cedidos pela empresa. O enfermeiro-referência deverá delegar todas as atividades à sua equipe de enfermagem além de orientá-los a todos os cuidados. A partir disto, a rotina deste enfermeiro-referência é compreendida com visitas préagendadas ou quando há alguma urgência para prestar cuidados ao paciente. As visitas pré-agendadas são, na maioria, em caráter de rotina e para realizar procedimentos exclusivos do enfermeiro como: punção de port-a-cath, medicação endovenosa, nutrição parenteral, passagem de sonda nasoentérica e sonda vesical de demora, Cateter de inserção periférica central (PICC) e quimioterápicos. As de caráter emergencial podem ser acompanhadas pela equipe multidisciplinar. Os enfermeiros também realizam entregas de medicamentos controlados ou não e materiais e, uma vez por mês, é realizada a reorganização das prescrições de enfermagem de acordo com a melhora ou piora do paciente. Quando há melhora, o enfermeiro modifica o cuidado para com o paciente, passando de 24 horas por dia, para 12 horas por dia, 6 horas por dia e por fim, monitoramento, até a alta, por exemplo. 4.2 Função Administrativa O enfermeiro necessita ter um perfil de liderança para poder avaliar e definir funções, executar atividades de enfermagem, além de delegar aos TE suas responsabilidades. Assim, as visitas de caráter administrativo foram bastante presente nas evoluções, com as necessidades de orientações tanto para a família/cuidador como para o TE. Como o enfermeiro-referência é responsável pelo seu paciente, ele tem a capacidade de pedir avaliações tanto para fisioterapeuta, como para fonoaudiólogas, serviço 4 de nutrição e terapeutas, além do contato com o médico. Uma vez por semana é passado o plantão, com a equipe multidisciplinar participativa. Nesse momento, são discutidas as alterações e prescrições, estado de saúde dos pacientes, entre outras particularidades. Quando essa qualidade de vida sofre influências, o paciente é encaminhado para a internação hospitalar onde poderá fazer exames e outros procedimentos mais complexos, assim, com uma melhora clínica, o paciente é readmitido em Home Care com os devidos cuidados necessários. A infraestrutura de cada lar, as condições físicas e psicológicas dos acompanhantes e a relação familiar de cada paciente são aspectos continuamente avaliados, seja quanto à aplicação de conhecimento técnico ou à entrega de serviços. 4.3 Função Educacional Mensalmente são realizadas visitas nas residências, com caráter educacional e de orientação. Nessas, são comentados e discutidos temas relacionados ao direito, rotinas, terapias e cuidados necessários, entregue manual de direitos e deveres do cuidador/familiar e manual da casa segura. Além da orientação ao familiar, paciente e cuidador, existe a educação continuada para os TE para que a prestação de serviço seja feita com toda a atenção, técnica e cuidado possível. O enfermeiro atua na qualificação por meio de formulários in loco e orientações quanto a: cuidados, procedimentos, direitos, terapias, rotinas, infecções, higiene, equipamentos para internação domiciliar, prescrição de enfermagem, necessidade de ingestão de líquidos e alimentos saudáveis, trocas de decúbito, hidratação da pele, rodízio de injeções subcutâneas, etc. 5. CONCLUSÃO A empresa estudada possui uma equipe de Recursos Humanos (RH) que sempre está pronta para fortalecer e qualificar psicologicamente os enfermeiros, preparando-os para os momentos em que há necessidade de ser forte. Esta parte do RH mostrou-se também importante para conservar os vínculos entre a equipe de enfermeiros da empresa, a qual apresenta-se raramente no nosso cotidiano: perceber respeito e coleguismo entre os profissionais da área. Nas evoluções de enfermagem foi observado a falta de comprometimento dos enfermeiros frente às escritas, acreditando que eram apenas atribuições burocráticas, 5 muitas vezes repetitivas e sem importância. Ao analisar os prontuários dos clientes, tanto manuais, quanto no sistema online, verificou-se, em muitos momentos, a descontinuidade e até mesmo a incompletude dos dados, como o motivo da alta e outros. A empresa realiza orientações aos direitos e deveres do familiar e cuidador, mas frente a essa falta de estímulo nas anotações, o enfermeiro conhece seus direitos e deveres? Sabe a importância de uma evolução de enfermagem? Reconhece-se, cada vez mais, que o Enfermeiro possui uma importante função, tanto assistencial, quando administrativa e educativa nos diferentes espaços de promoção do cuidado. Em se tratando do cuidado domiciliar, este requer além de competência técnicocientífica, também competência humana para compreender e acolher as reais necessidades de cada cliente e família. Requer habilidades administrativas e de liderança para promover o cuidado, de forma proativa, dinâmica e integral, independente das condições em que o cliente ou família se encontram. REFERÊNCIAS 1 Barbosa SF, Sportello EF, Mira VL, Melleiro MM, Tronchin DMR. Qualidade dos registros de enfermagem: análise dos prontuários de usuários do Programa de Assistência Domiciliária de um hospital universitário. O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011; 35(4): 395400. 2 Sportello EF, Pereira I, Sancinetti TR. Programa de assistência domiciliária. In: Gaidzinski RR, et al. Diagnóstico de enfermagem na prática clínica. Porto Alegre: Artmed; 2008. cap 9, p. 326-37. 3 Duarte YAO. O cuidador no cenário assistencial. Mundo Saúde. 2006;35(4):56-63. 4 Oguisso T, Schmidt MJ. O exercício da enfermagem: uma abordagem ético-legal. 3a ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2010. 5 Duarte YAO, Diogo MJE. Atendimento domiciliário: um enfoque gerontológico. In: Duarte YAO, Diogo MJE, organizadores. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 3-17. 6 Conselho Regional de Enfermagem. Resolução COFEN nº 267. 2011 [acesso: 2012 Fev 03]; Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/ 6 7 Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nº11. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/legislacaosanitaria/estabelecimentos-de-saude/atencao-domiciliar/ANVISA11.pdf 7