A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência 11 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência Iane Fróes de Magalhães¹ e Marcos Aurélio² ¹Discente em Psicologia 10º Semestre [email protected] ²Psicólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo abordar a atuação psicológica como proposta de humanização no acolhimento de usuários*¹ em unidade de urgência e emergência, destacando a atuação da psicologia hospitalar através da Escuta-terapêutica. Utilizando-se da pesquisa bibliográfica para tal fundamentação. Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Humanização; Escuta-terapêutica; Urgência; Emergência. ABSTRACT: The present work aims to address the psychological performance as proposed in the humanization of care users in emergency care unit, showing the work of health psychology by Listening-therapy. Using the literature for such reasons. Keywords: Health Psychology; Humanization Listen to therapy; Urgency and Emergency. ITABUNA – BA Dezembro 2012 Endereço: Av. José Soares Pinheiro, 1600, CEP. 45.600-013 – Itabuna-Bahia Iane Fróes de Magalhães www.unimeitb.com.br [email protected] Fone: (73) 2103-3000 Comunicar Psicologia 2013 Fev. - Mai; volume 1 (2ª Ed.) A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência INTRODUÇÃO Inicialmente, os trabalhos realizados por psicólogos no hospital não apresentavam um modelo pré-estabelecido, sendo a prática clínica reproduzida no ambiente hospitalar. Esta, visava, exclusivamente, desvendar as patologias, sem preocupar-se com a complexidade humana. Com o passar do tempo, o foco do encontro psicólogo-cliente voltou-se para sua condição biopsicossocial, valorizando-o como fonte de transformação. A Psicologia Hospitalar, como área de atuação da Psicologia, tem adquirido um modelo próprio de ação, ajustado à realidade institucional hospitalar e para atender as necessidades de usuários, familiares e equipe. Este atendimento no hospital é focal, breve e muitas vezes emergencial, buscando proporcionar a manutenção do bem-estar físico, social e mental do sujeito (Vieira, 2010). O atendimento psicológico hospitalar é realizado numa situação especial, na qual o indivíduo encontra-se doente e internado; o terapeuta se depara com um sujeito acometido pelo processo de adoecimento, lidando com alterações físicas, transformações devido à despersonalização e a mudança da sua rotina, sendo que este, e também a sua família, devem receber a orientação e o suporte emocional necessário dentro deste contexto (Batista et al., 2009). Neste intrigante cenário, reconhecer a importância da inserção do psicólogo na equipe de urgência e emergência é fundamental rumo à adequada prática do Acolhimento e da Humanização preconizadas dentro das Unidades de Urgência e Emergência. Assim, este estudo, utilizando para sua fundamentação a pesquisa bibliográfica, tem o objetivo de expor a importância da atuação do psicólogo como fonte de humanização no acolhimento a usuários em unidade de urgência e emergência, ressaltando a importância da Escutaterapêutica. REFERENCIAL TEÓRICO O sofrimento frente ao adoecer trouxe consigo, ao longo dos tempos, diversas dificuldades para que o objetivo de tratar e prevenir doenças, a fim de auxiliar o enfermo, fosse uma prática básica no hospital. Houve o enfrentamento de diversos obstáculos para a inserção Iane Fróes de Magalhães 12 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência dos indivíduos das diferentes áreas de saúde no ambiente hospitalar, incluindo o psicólogo (Dos Santos; Jacó-Vilela, 2009 citado por Angerami- Camon, 2004, p.190). As dificuldades encontradas pela Psicologia giravam em torno da resistência da população, e das equipes médicas, em aceitar um profissional de saúde mental prestando assistência a uma pessoa com enfermidades físicas. A Psicologia Hospitalar foi se desenvolvendo na medida em que se enfatizou o caráter preventivo, considerando não só os aspectos físicos, mas também os emocionais da doença, avaliando o ser humano em sua globalidade e utilizando de uma filosofia humanista no tratamento com os pacientes (Dos Santos; JacóVilela, 2009 citado por Angerami- Camon, 2004, p.193). Um marco histórico essencial no resgate do desempenho da Psicologia no âmbito da saúde é o trabalho efetivado pela psicóloga Matilde Neder, a partir do início da década de 1950, em “um registro que antecede à própria constituição da Psicologia enquanto profissão regulamentada”. Trata-se do surgimento da Psicologia Hospitalar no Brasil, a qual proporciona como suporte inicial a edificação do trabalho psicológico por ela desenvolvido (Dos Santos; Jacó-Vilela, 2009 citado por Angerami- Camon, 2004, p.193). Matilde Neder fundou uma maneira de fazer psicologia que pretendia “articular os conhecimentos da Psicanálise e da Psicologia Analítica de Jung com uma abordagem breve, conciliando ainda a arte terapia e a terapia ocupacional” (Dos Santos; Jacó-Vilela, 2009, p.193). Nasce intimamente atrelada à prática específica do psicólogo no hospital, abordando em primeiro lugar o paciente, mediante o entendimento dos processos de somatização e do contexto pessoal de adoecimento, com trabalhos realizados em distintos setores dentro da unidade de saúde, cada um com sua especificidade. As atuações tomadas ainda de forma “intuitiva” no início da Psicologia em hospitais gerais foram sendo progressivamente constituídas como ferramentas técnicas (Dos Santos; Jacó-Vilela, 2009). Na década de 1960, quando os primeiros psicólogos brasileiros iniciaram os trabalhos em hospitais, não existia ainda um modelo estabelecido a ser seguido. Primeiramente, por serem pioneiros no país e junto a este fator à própria psicologia como ciência ainda estava se consolidando em países mais desenvolvidos, não tendo produzido até então modelos experimentados e bem sucedidos. Deste modo, muitos destes profissionais passaram a reproduzir práticas do consultório psicológico na sua atuação no hospital, ou mesmo a trabalhar como assessor de psiquiatras, sem uma real interação entre os profissionais, com Iane Fróes de Magalhães 13 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência “cada um contribuindo com seus conhecimentos específicos, ou mesmo exercendo somente a função de psicometristas, sem participar ativamente do atendimento ao paciente” (Gorayeb, 2001, s/p). Segundo Espinha (2007) “antigamente, o foco da psicologia clínica era a doença”. A finalidade era desvendar a patologia, por intermédio de um diagnóstico minucioso e, então, propunha-se um tratamento. Contudo, atualmente, a atenção se focou para o ser humano em sua complexidade. Essa mudança foi iniciada por Rogers, sendo que “o encontro entre psicólogo- cliente passou a ser mais valorizado como fonte de transformações”. Para Gorayeb (2001) a reprodução das práticas de consultório a qual consiste em buscar levar para a beira do leito a postura do psicoterapeuta clássico, não floresceu e nem poderia florescer, por não trazer respostas às necessidades do paciente e da própria equipe. Juntamente com esta situação, necessitava-se de um espaço apropriado e não eram atendidas às demandas de apoio e informação que o paciente internado requer. Considerando estas circunstâncias, ao se referir à Psicologia Hospitalar, deve-se diferenciar a sua prática da psicologia clínica. Embora ambas as práticas tenham objetivos semelhantes, a escuta dos sentimentos, o objeto (aquilo que as leva a atuar) é distinto entre essas duas práticas da psicologia, sendo que na clínica as questões referentes ao adoecer não são abordadas tão constantemente em comparação à Psicologia Hospitalar (Gorayeb, 2001). Assim, segundo Gorayeb (2001), no ambiente hospitalar encontra-se um indivíduo que tem que lidar com as alterações físicas consequentes do adoecimento, as mudanças decorrentes da despersonalização/anulação de identidade, pois este passa a ser um número de leito ou um indivíduo com determinada patologia, e com uma rotina diária distinta por estar em um ambiente destoante do que vivia. Neste contexto o psicólogo deve trabalhar a angústia, a fantasia, o medo e as dúvidas decorrentes desse processo de adoecer ou internação. Deste modo, fica explícito no conceito de atuação da Psicologia Hospitalar que esta intervém na maneira do paciente conceber e vivenciar os problemas gerados pela patologia orgânica, pela hospitalização, pelos tratamentos e pela reabilitação (Batista et. al 2009 citado por Alamy, 2005). Entretanto há um leque de possibilidades para atuação do psicólogo hospitalar dentro deste contexto, por exemplo, atendendo os pacientes que esperam atendimento no pronto-socorro Iane Fróes de Magalhães 14 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência do hospital e seus acompanhantes, acolhendo e/ou acompanhando pacientes internados nas enfermarias e seus respectivos acompanhantes, preparando pacientes para cirurgias, atendendo pacientes em fase terminal e seus familiares, além dos pacientes no pré-natal, proporcionando um acompanhamento após o parto, como também acompanhando o corpo de funcionários de saúde do hospital (Batista et. al, 2009). O essencial em todas essas possibilidades de atuação é que o trabalho do psicólogo seja em prol das questões subjetivas e objetivas vivenciadas pelos pacientes, familiares e corpo de funcionários, com o objetivo de minimizar as dores desses individuos elaboradas a partir do processo de adoecimento e internamento, que abrangem as preocupações, os sentimentos e os comportamentos (Batista et. al, 2009). Parafraseando com Alamy (2006): esta é uma psicologia dirigida a pacientes internados em hospitais gerais, sem deixar de se estender aos ambulatórios e consultórios, com sua atuação voltada para as questões emergências advindas da doença e/ou hospitalização, do processo do adoecer e do sofrimento causado por estas, visando o minimizar da dor emocional do paciente e da sua família [s. p]. Vale ressaltar que para esta atuação no âmbito hospitalar, não há um espaço reservado a esse atendimento, podendo ocorrer nos corredores, no pronto-socorro e nas enfermarias; com frequência acontecem interrupções, pois a questão da privacidade é comprometida pela presença de outras pessoas no ambiente; o tempo de duração dos atendimentos varia, devendo-se considerar as questões de saúde/doença do indivíduo, além disto, há pequenas possibilidades de um acompanhamento continuado já que a qualquer instante o paciente pode já não estar mais ali. Estes pacientes nem sempre vão à procura do atendimento psicológico, mas são encaminhados por outros profissionais da saúde (Batista et. al, 2009). Destarte Gorayeb (2001): o paciente hospitalizado não é semelhante ao cliente de consultório, visto que não procurou o psicólogo por demanda espontânea e não apresenta quadros clássicos de psicopatologia. Acometido de uma doença orgânica, grave ou aguda, tem uma demanda psicológica específica [s.p.]. O paciente precisa comunicar-se bem com seu médico, ou colocado de uma forma correta, necessita que seu médico se comunique adequadamente consigo, tendo informações e apoio. Nesta conjuntura, o papel do psicólogo hospitalar é essencial para apoiá-lo, informá-lo e esclarecê-lo, dando-lhe todas as informações de aspectos específicos de sua patologia e prognóstico, além de levar a equipe a se relacionar efetivamente com ele (Gorayeb, 2001). Iane Fróes de Magalhães 15 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência Com isso, o psicólogo hospitalar adquire uma função extremamente relevante para a harmonia da equipe e para a saúde do paciente. Observando-se que cada patologia leva uma repercussão única em cada paciente e em cada família, devendo ser considerado suas peculiaridades anteriormente existentes (Gorayeb, 2001). Deste modo, Espinha (2007) ressalta que a prática dos atendimentos está pautada na manifestação de determinadas atitudes do psicólogo, possuindo como intenção principal escutar atenciosamente a demanda que o cliente tem para relatar, respeitando seus sentimentos e convicções, compreendendo suas vivências decorrentes do seu referencial de vida, lhe acompanhado e acolhendo nessa situação de passagem pelo hospital. A instituição hospitalar “é um recurso importante para a recuperação da saúde ou alívio do sofrimento humano e, como todo serviço de saúde, tem suas limitações e potencialidades”(Leite, 2010, p. 20). No hospital nos deparamos, na maioria das vezes, com aparatos tecnológicos avançados que permitem melhorar e prolongar a vida. Porém, frequentemente, convivemos com a falta de recursos humanos, financeiros e materiais, com a sobrecarga de trabalho, com a superlotação e a deficiência de atendimento às demandas psicossociais de pessoas doentes e suas famílias (Leite, 2010, p. 20). Bellato (2001 citado por Leite 2010, p. 20) nos diz que, “[...] o hospital organiza seu espaço para receber a doença e não a pessoa doente, sendo esta vista apenas como um substrato no qual a doença se instala”, ou seja, ainda vigora um cuidado que é pautado no modelo biomédico, centrado na doença. Segundo Pinho e Kantorski (2006 citado por Leite, 2010), os serviços hospitalares de urgência/emergência representam o acesso ao atendimento de alta complexidade e a eles deveriam ser destinados às ocorrências mais graves ou com risco iminente de morte, mas notamos uma superlotação em consequência da ineficiência da atenção primária ou secundária e o deslocamento indevido da população ao pronto-socorro. Cecílio e Merhy (2003 citado por Leite, 2010, p. 21) ressaltam que o atendimento às pessoas que buscam o serviço de urgência/emergência deveria garantir desde a utilização das melhores tecnologias de saúde disponíveis, até os métodos que resultassem em um ambiente seguro e confortável para estes indivíduos. Dessa modo, “haveria combinação da tecnologia com a humanização, com o desafio de ver a pessoa doente e suas necessidades singulares como ponto de partida para o cuidado no ambiente hospitalar”. Iane Fróes de Magalhães 16 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência O cuidado hospitalar, notadamente no pronto-socorro, “é necessariamente multidisciplinar e dependente das ações e saberes de vários profissionais que são harmoniosos em alguns momentos e interrompidos, truncados, assincrônicos em outros” (Cecílio; Merhy, 2003 citado por Leite, 2010, p. 21). Segundo Japiassú (1976 citado por Oliveira, 1995) quando nos dispomos na condição do simples multidisciplinar, a solução de um problema apenas exige conhecimentos tomados de empréstimo a duas ou mais especialidades ou setores do conhecimento, de modo que as disciplinas induzidas a colaborarem por aquele que se utiliza não sejam transformadas ou enriquecidas. A partir desse pressuposto o cuidado se expressa pelo ato de cuidar. Cuidar é “olhar enxergando o outro, é ouvir escutando o outro, observar percebendo; sentir empatizando com outro”, é disponibilizar-se para fazer com ou para o outro, o que ele circunstancialmente está impossibilitado de realizar, dividindo o saber com o paciente e seus familiares (Radünz 1999 citado por Leite, 2010, p. 14). Cuidado e cuidar abrangem o ser humano e só este é capaz de ao associar os dois, prestar um cuidado humano. O cuidado hospitalar está centralizado na pessoa doente que, nesse momento, se sente fragilizada e fragmentada, pois: seu corpo se transforma na topografia da doença e apenas as partes afetadas serão tratadas merecendo então algum tipo de atenção da equipe de saúde. Coisifica-se o ser humano, reduz-se o plural a simples parcela patológica e toma-se o todo pela parte doente” (Bellato 2001 citado por Leite, 2010, p. 22). Entretanto percebe-se que o cuidar ainda encontra entraves, uma vez que algumas instituições preconizam a formação de alguns profissionais de saúde focalizada no modelo biomédico, apesar de todas as discussões sobre integralidade e humanização, sendo fortemente marcada pelo positivismo e pelas “teorias mecanicistas” que abordam a pessoa doente como portadora de uma disfunção, e menosprezam o ser paciente, destituindo-o de liberdade e de autodeterminação (Minayo; Deslandes, 2007 citado por Leite, 2010). Deste modo pode-se perceber que as unidades de pronto-socorro refletem o modelo profissional exposto acima atuando de forma tradicional, centrando o atendimento na queixa principal e na conduta relacionada a ela, levando a uma prática, muitas vezes, reducionista (Pinho; Kantorski, 2006 citado por Leite, 2010, p. 21). Iane Fróes de Magalhães 17 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência Este reducionismo na área da saúde tem influenciado, mesmo que involuntariamente, a constituição dos profissionais de saúde ao longo dos anos e as consequências parecem ser a dificuldade em não notarem o indivíduo como pessoa, mas sim como um órgão doente (Pawlikowski, 2002; Howard; Strauss, 1975 citado por Leite, 2010). as ações anti-humanas parecem ter relação com a despersonalização, com a perda da dignidade, com a frieza nas relações interpessoais, o que torna o paciente um objeto a ser cuidado”. Tratar o indivíduo como objeto é destituí-lo de “ser pessoa” que apresenta desejos, autonomia, dignidade, ou seja, retira dele o direito de ser “ser humano” (Bermejo, 2008 citado por Leite, 2010). Os debates sobre humanização geram polêmicas nas instituições hospitalares e, especialmente no pronto-socorro, onde o termo parece não ser compreendido, pois não tem contornos teóricos e práticos determinados, estando sua abrangência e aplicabilidade pouco demarcadas. A humanização está relacionada com a satisfação da pessoa doente com a qualidade do cuidado e com a manutenção da sua dignidade de pessoa humana, enquanto que a desumanização ou despersonalização “simboliza estados negativos da experiência dos pacientes ou profissionais” (Howard; Strauss, 1975 citado por Leite, 2010). Segundo Casate e Correia (2005 citado por Leite, 2010, p. 16) a humanização é imprescindível porque nos serviços de saúde existem circunstâncias desumanizantes pautadas em erros na organização do atendimento, na relação e no contato com o doente e nas condições de trabalho dos profissionais de saúde. De acordo com os autores “a humanização é importante, pois as relações interpessoais estão se tornando frias, objetivas, individualistas e calculistas”. Salientando que a concepção da humanização está relacionada com a maneira de “perceber o paciente dentro do contexto de saúde, com sua história de vida, sua família e questões sociais, e que ela se relaciona com a organização do serviço de saúde”. A humanização da assistência emerge nas instituições hospitalares mediante as políticas de saúde com o respaldo do Sistema Único de Saúde (SUS) e tem por finalidade aprimorar as relações entre os profissionais, entre os usuários e os profissionais e entre a instituição hospitalar e a comunidade, melhorando a qualidade da assistência prestada, com a implantação e implemento de ações que visam ao respeito, à solidariedade, à autonomia e à cidadania ( Brasil, 2004 citado por Leite, 2010). Iane Fróes de Magalhães 18 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência É importante ressaltar que o SUS nasce, em 1970/80, como movimento, conhecido como Reforma Sanitária, aliado a outros movimentos sociais, na luta contra a ditadura militar e em prol da democracia, da garantia dos direitos do homem e contra a privatização da saúde (Benevides, 2005). Deste modo o desafio permanente do SUS é possibilitar o acesso de todos os cidadãos de maneira universal e equânime garantindo a integralidade, universalidade, humanização e qualidade na atenção (Brasil, 2004). Para que estes eixos constitutivos se efetivem é necessário criar métodos de fazer acontecer como: “construção das redes, das grupalidades, de dispositivos de co- gestão, de aumento do índice de transversalidade, de investimento em projetos que aumentem o grau de democracia e participação institucional” (Benevides, 2005, p. 24). Com o intuito de concretizar tais ações, foi criada, em 2003, a Política Nacional de Humanização (PNH)- o HumanizaSUS, como radicalização da aposta na humanização, cuja proposta ressalta a necessidade de garantir atenção integral, assegurando o acolhimento e acesso aos usuários como ferramentas de transformação das formas de produzir e prestar serviços à população (TESSER et al., 2008). Assim a PNH visa fazer avançar os princípios do SUS priorizando as necessidades de saúde da população brasileira, confrontando as tendências tecnocratas e iatrogênicas arraigadas em políticas e serviços de saúde (Souza; Mendes, 2009). Nesse sentido, a PNH procurará colaborar no equacionamento e no enfrentamento de problemas como: “a desvalorização dos trabalhadores da saúde, a precarização das relações de trabalho, o baixo investimento em processos de educação permanente em saúde [...], a pouca participação na gestão dos serviços e o frágil vínculo com os usuários” (Brasil, 2008, p.8 citado por Souza; Mendes, 2009, p. 682), assim como preparo e disponibilidade para lidar com a dimensão da subjetividade nas dinâmicas interacionais, envolvidas em todos os processos de cuidado à saúde (Souza; Mendes, 2009). Destarte, Leite (2010), a edificação da humanização das práticas assistenciais implica na interação dialógica com o outro, reaprendendo a dividir as informações, reorganizando o trabalho e valorizando as formas de subjetivação, dando ao usuário*¹ “status” de sujeito mediante o seu empoderamento. Iane Fróes de Magalhães 19 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência O empoderamento, segundo Verschuur; Hainard (2006 citado por Aragão, 2010, p.19), “é compreendido como um processo individual e coletivo para a tomada de consciência por meio da participação dos movimentos de base e das organizações”. A busca por este perpassa pelo conhecimento dos próprios direitos, sendo esta uma estratégia relevante para fortalecer a participação da população no processo saúde-doença. Esta função de empoderamento também se estende a utilização dos serviços de saúde e ajuda os usuários a interagir assertivamente com os profissionais e com os espaços de atenção à saúde. Mediante ao citado acima, vale salientar que os profissionais devem tratar os indivíduos respeitando suas necessidades intrínsecas, considerando a sua autonomia para eleger o que avaliam ser melhor para elas, sendo aceitas como são, além de ser escutadas e compreendidas (Freitas; Hossne 2002 citado por Leite, 2010). Visando esta ação, o acolhimento vem sendo utilizado como ferramenta para viabilização dos princípios e resultados da PNH na saúde pública no Brasil. Este acolhimento permite uma participação ativa e efetiva dos profissionais, que se apresentam envoltos no processo de promoção de saúde, sendo essencial estarem abertos ao encontro com o outro, valorizando a escuta atenta com compromisso. Por meio deste protagonismo entre os profissionais de saúde e os usuários, a humanização na saúde vem exercendo a promoção da autonomia e da subjetivação do sujeito na sociedade (Duval & Oliveira, 2010). Percebe-se, assim, a importância da escuta terapêutica dos profissionais de saúde quando utilizam corretamente o dispositivo do acolhimento. Através do encontro com o outro, e este outro capacitado para uma escuta atenta e centrada na pessoa, aparece à possibilidade de se criar um espaço apto a partilhar e dar significação aquilo que outrora estaria renegado à expressão somática (Duval & Oliveira, 2010). a escuta terapêutica justifica-se, primeiramente, pela necessidade que toda pessoa possui em se comunicar, compartilhar seus sentimentos, ideias, expectativas e situações” (De Souza et al., 2003, p. 94). Desta forma, reconhece-se que a comunicação consigo mesmo é o caminho mais apropriado que o individuo possui para se reajustar e é através da escuta que o terapeuta intervém ampliando a informação do usuário sobre sua própria atividade mental, auxiliando, através da atitude empática, a compreender-se e a identificar o que é melhor para si (De Souza et al., 2003). Esta abertura para a compreensão do significado que cada um dá para o processo de adoecimento e hospitalização, produz um reconhecimento da realidade do outro, que gera um clima, denominado por Rogers (1977 citado por Bacellar, 2010) de aceitação Iane Fróes de Magalhães 20 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência incondicional. Sendo esta uma “escuta ativa das dúvidas, da dor psíquica e dos recursos de enfrentamento frente ao processo de adoecimento, criadora de um espaço reflexivo que acarreta a ampliação e atualização dos significados da realidade vivida”, indispensáveis para a edificação de recursos representantes da autonomia e da co-participação (Bacellar, 2010, p. 61). Esta aceitação está relacionada com a empatia que, segundo Rogers & Rosenberg (1977 citado por Bacellar, 2010, p. 62) “significa penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente a vontade dentro dele”, implicando em transmitir a forma como o terapeuta sente o seu mundo. Algumas ações do cuidar que os profissionais de saúde podem desenvolver frente aos usuários, encontra solo fértil no exposto acima, principalmente pelo fato que no prontosocorro a entrada de pacientes com urgências e emergências clínicas e traumáticas, após receberem o primeiro atendimento, são destinados a outros setores da instituição hospitalar. Os serviços de urgência e emergência reúnem, em um mesmo lugar, a estrutura física, a disponibilidade de recursos materiais e tecnológicos e profissionais de saúde especializados no atendimento de pacientes em emergência. A imprevisibilidade das circunstâncias atendidas em emergência gera uma crise que desencadeia no sujeito perda do corpo saudável (doença) e da condição de “inteiro” (fraturas, mutilações, procedimentos cirúrgicos), ocasionando medos que se baseiam em dados da realidade, como a sensação de dor e de outros sintomas físicos, a dependência e a impotência, podendo acarretar uma desorganização em seu funcionamento (Souza, 2005 citado por Scremin et. al 2009). Mediante estas conjunturas, torna-se evidente que a espera diante da expectativa da consulta é um dos períodos mais difíceis para o indivíduo, assim como para seu acompanhante e familiares. Segundo Angerami- Calmon (2004) este “é o momento de “suspensão”, quando não há um caminho para dar vazão às emoções. Não há direção para se preparar, todas as possibilidades são viáveis e o paciente imagina tudo o que pode acontecer, mas não pode agir”, sendo que uma avalanche de imagens, cenas e medos desaba sobre o sujeito. Os usuários, normalmente, vivenciam tais emoções de forma solitária, sem apoio, fragilizados, tentando aparentar força, naturalidade, disfarçando até para si próprios o momento que enfrentam, tanto na pré como na pós- consulta. Diversas vezes não há dor Iane Fróes de Magalhães 21 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência física, porém sempre há uma dor psíquica, a qual deve ser tratada neste instante (AngeramiCalmon, 2004). Assim, Gonçalves (1998 citado por Angerami- Calmon 2004) destaca que os usuários apresentam este sofrimento psíquico e que a necessidade de compartilhar com alguém este momento de espera, mediante uma escuta, pode refletir de forma positiva, criando um alívio ao sofrimento emocional. Pode-se ressaltar ainda a importância de realizar um atendimento de qualidade à grande demanda de sujeitos que aguardam longo tempo pela consulta, sensibilizando o usuário quanto às dimensões psicológicas da sua situação, trocando a posição passiva e receptiva para uma posição ativa e participativa. Destarte, Ferreira (1999 citado por Angerami- Calmon, 2004) afirma que o apoio vindo do terapeuta desencadeia um alívio da sensação de o indivíduo sentir-se inteiramente só e desamparado. Além disso, a participação ativa do usuário no processo de tomada de decisão em relação ao tratamento facilita sua cooperação com as intervenções propostas, assim como a adesão ao tratamento. Portanto, o atendimento psicológico na unidade de urgência e emergência não tem o intuito de curar o sujeito, substituir a psicoterapia, tão pouco de se aprofundar em questões individuais, mas torna-se fundamental no sentido de dar um acolhimento geral, esclarecimento, suporte, amenizando a ansiedade, angústia e medo, aliviando sua espera e restaurando, naturalmente, uma atitude positiva de esperança e expectativa. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quanto a sua classificação este artigo se baseia na abordagem qualitativa, que segundo Maanem (1979 citado por Neves, 1996) compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que tem a finalidade de descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados, tendo por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social, reduzindo a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação. Com base nos procedimentos técnicos utilizados esta é uma pesquisa bibliográfica a qual, Silva e Menezes (2005) afirmam que se baseia na análise da literatura já publicada em forma de “livros, revistas, publicações avulsas, imprensa escrita e Iane Fróes de Magalhães 22 A Atuação do Psicólogo como Proposta de Humanização no Acolhimento de Usuários numa Unidade de Urgência e Emergência até eletronicamente, disponibilizada na Internet”. Esta revisão de literatura/pesquisa bibliográfica irá colaborar com a ampliação de dados sobre a situação atual do tema ou problema pesquisado, além de conhecer publicações existentes sobre o assunto e os tópicos que já foram abordados. Os principais recursos utilizados para esta pesquisa tiveram como fonte artigos científicos, livros, revistas, periódicos, entre outros. A análise e discussão dos problemas apresentados estão baseadas em proposições teóricas de diversos autores. Os artigos foram selecionados, lidos na íntegra e classificados de acordo com a relação com o tema. Os artigos que não tinham relação com o assunto foram descartados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Torna-se, então, fundamental vislumbrar o indivíduo, não como “um doente”, mas sim como um sujeito que “está doente”. Sendo que até pouco tempo, gozava de saúde perfeita e, em função de um trauma, vê-se subitamente hospitalizado. O usuário é um ser humano, um indivíduo que tem família, que estuda, trabalha, tem planos, sonhos e sofre por ter sido, inesperadamente, extraído de sua vida e de sua rotina pessoal, tornando-se vulnerável ao processo do adoecer. Deste modo, é essencial oferecer um suporte emocional aos usuários e seus familiares, através de um atendimento humanizado, com o intuito de minimizar seu sofrimento psíquico, considerando-os como parte integrante e participativa deste processo de hospitalização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alamy, S. 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