Parecer do Grupo de Avaliação de Tecnologias em Saúde 01/07 Tema: Uso de bevacizumabe intravítreo na doença proliferativa da retina 1 I – Data: 05/06/2007 II – Autores: Kelles SMB**, Carvalho LMA*, Silva CM*, Mendonça ICA**, Avelar SOS*, Bretas CG*, Talim MCT*, Dr. Alexandre Pagnoncelli**, Dr. Carlos Augusto Cardim de Oliveira**, Dra. Claudia Regina de O. Cantanheda**, Dr. Jurimar Alonso**, Dr. Luiz Henrique P. Furlan**, Dr. Valfredo de Mota Menezes**. *Membro do GTAS da Unimed Belo Horizonte **Membro da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidência III – Tema: Uso da injeção intravitreo de bevacizumabe para tratamento das doenças proliferativas da retina. IV – Especialidade(s) envolvida(s): Oftalmologia V- Códigos envolvidos: Tabela AMB – Não existe código que contemple a injeção intravítreo de drogas. Rol de procedimento da ANS – Não existe código que contemple esse procedimento. VI – Questão Clínica / Mérito: O uso da injeção intravítreo de bevacizumabe melhora a acuidade visual do paciente com doença proliferativa da retina? VII – Enfoque: Tratamento VIII – Introdução: 2 Doenças proliferativas da retina Degeneração Macular Relacionada à Idade. A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é a principal causa de cegueira na população acima de 55 anos. Sua prevalência aumenta com a idade afetando cerca de 8,5 a 27,9% da população maior que 75 anos. A incidência dessa doença vem aumentando nas últimas décadas, na ordem de 30 a 40%, apesar de doenças oftalmológicas como a catarata e glaucoma, que atingem a mesma faixa populacional, apresentarem redução dos seus registros. Apesar da etiologia não ser ainda determinada, fatores ambientais e genéticos podem estar envolvidos. Um insulto oxidativo que resulta na morte de fotorreceptores da mácula poderia ser a gênese do processo. Observa-se, em vários estudos populacionais, que alguns fatores de risco estão relacionados à DMRI, dentre eles idade e exposição ao fumo. Outros fatores relatados são hipertensão arterial, uso de inibidores de enzima conversora de angiotensina, hipermetropia, catarata e cirurgia de catarata, obesidade, cor clara de íris, exposição ocular à luz e consumo de álcool. Estudos populacionais evidenciam que medidas preventivas como mudanças dietéticas podem reduzir o risco individual de desenvolvimento de DMRI. A terapia de reposição de zinco e antioxidantes (vitamina C, E, e betacarotenos) têm eficácia comprovada na prevenção da perda visual grave por DMRI em pacientes selecionados. A mácula é a porção central da retina, responsável pela visão detalhada e central. É esta parte do olho que é afetada pela DMRI. Há dois tipos de DMRI: o tipo "seco" (atrófica) e o tipo "úmido" (cistóide). A maioria dos casos - 85% a 90% - são do tipo seco. A DMRI seca é caracterizada pela formação de pequenos depósitos amarelados sob a mácula. Estes depósitos são chamados de "drusas" e podem fazer com que a mácula fique mais fina e completamente ressecada. Às vezes, a DMRI seca se transforma em úmida conforme novos vasos sangüíneos anormais são formados sob a mácula. Esses vasos sangüíneos incham, rompem e formam tecidos de cicatrização que permanentemente danificam a visão, embaçando os raios de luz e as cores antes que possam atingir a mácula. Na forma seca de DMRI, a perda de visão central é gradual; sua extensão está relacionada com a localização e quantidade de afinamento macular causado pelos depósitos amarelados. As pessoas com DMRI úmida têm uma perda de visão mais rápida (semanas ou meses) por causa do rompimento de vasos ou sangramento sob a mácula. Esta forma, embora tenha uma prevalência menor que a forma seca, é responsável por cerca de 80% de cegueira sob o ponto de vista legal devido à DMRI. 3 3 A DMRI pode afetar um ou os dois olhos. Primeiramente, a visão central se torna bloqueada por um ponto negro, mas este ponto depois se transforma em uma lacuna que é branca ou cinza. Este dano à visão central é permanente, mas a visão lateral ("periférica") raramente é afetada. Não existe terapia efetiva para a forma atrófica da DMRI, que acomete mais de 90% dos pacientes. Para os 10% restantes, a terapia com fotocoagulação a laser e a terapia fotodinâmica com verteporfina permitem relativa estabilização da visão em cerca de 2/3 dos olhos, apesar dos altos custos. Portanto, a prevenção é a melhor estratégia, uma vez que a DMRI reduz a habilidade individual de realizar as atividades diárias que requeiram visão central nítida, estando associada com elevado risco de depressão e dependência social, o que vem representar um importante impacto socioeconômico para o estado2. Retinopatia diabética A retinopatia diabética (RD) é uma das complicações mais comuns e está presente tanto no diabetes tipo 1 quanto no tipo 2, especialmente em pacientes com longo tempo de doença e mau controle glicêmico. Quando culmina em perda visual é considerada trágica e constitui fator importante de morbidade de elevado impacto econômico, uma vez que a retinopatia diabética é a causa mais freqüente de cegueira adquirida. A fisiopatologia das alterações microvasculares do tecido retiniano está relacionada à hiperglicemia crônica, que leva a alterações circulatórias como a perda do tônus vascular, alteração do fluxo sangüíneo, aumento da permeabilidade vascular e conseqüentemente extravasamentos e edemas e, por fim, obstrução vascular, que leva à neovascularização com vasos frágeis que se rompem, levando a hemorragias e descolamento da retina. O controle metabólico e pressórico estritos podem retardar a progressão da retinopatia. Até o momento, nenhum agente farmacológico se mostrou eficaz em prevenir, retardar ou reverter a retinopatia diabética.O tratamento disponível no momento é a fotocoagulação a laser de argônio e, em alguns casos, a vitrectomia. O sucesso do tratamento depende da detecção precoce das lesões. Muitos estudos têm revelado mecanismos, assim como antagonistas importantes na evolução da retinopatia. A RD é clinicamente dividida em dois estágios principais, retinopatia diabética nãoproliferativa (RDNP), também chamada de retinopatia background, e retinopatia diabética proliferativa (RDP). A RDNP é caracterizada por alterações intra-retinianas associadas ao aumento da permeabilidade capilar e à oclusão vascular que pode ou não ocorrer nesta fase. Encontram-se, portanto, nesta fase, microaneurismas, edema macular e exudatos 4 duros (extravasamento de lipoproteínas). Este nível deve ser esperado em quase todos os pacientes com aproximadamente 25 anos de DM, e em muitos casos pode não haver evolução significativa. A progressão da RDNP está associada à presença de extensas áreas de isquemia capilar caracterizada pelos exudatos algodonosos (redução do fluxo axoplasmático das células da camada de fibras nervosas); veias tortuosas e dilatadas, em formato de contas; hemorragias na superfície da retina (hemorragia em chama de vela) e pelas anormalidades microvasculares intra-retinianas (IRMAS) (shunts artériovenosos associados a áreas de exclusão capilar). Esse representa o estágio mais avançado da forma não-proliferativa, que se pode chamar de pré-proliferativa. Em resposta a essa intensa isquemia, ocorre a liberação de substâncias vasoativas, principalmente dos fatores de crescimento que estimulam o surgimento de neovasos. Quando a neovascularização aparece na interface vítrea da retina, a retinopatia é considerada então estágio proliferativo, a chamada RDP. A neovascularização origina-se usualmente no disco óptico e/ou nas grandes veias da retina, podendo estender-se para o vítreo. Esse é um estágio bastante grave, pois o rompimento dos vasos neoformados pode causar sangramentos maciços na cavidade vítrea e/ou no espaço pré-retiniano, resultando no aparecimento de sintomas visuais como os “pontos flutuantes” ou “teias de aranha” no campo visual e/ou a perda da visão se não tratado a tempo4. Injeção intravítreo de bevacizumabe para tratamento de doenças proliferativas da retina. O bevacizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado que atua inibindo o fator de crescimento endotelial vascular, um fator importante para a angiogênese1. Como a DMRI e a retinopatia diabética têm importante componente proliferativo de vasos neoformados na retina, considerou-se que havia coerência em utilizar o medicamento para tratamento dessa doença. Existem inúmero trabalhos publicados na literatura sobre seu uso em DMRI. São relatos de casos ou séries de casos, que descrevem melhora clínica dos pacientes sem comparar esses resultados com outras intervenções. IX - Registro da medicação Bevacizumabe - Avastin® na ANVISA: Bula do medicamento disponível em www.roche.com.br em 05 de junho de 2007. (Página 1 de 28 Antineoplásico) AVASTIN (BEVACIZUMABE) IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO Nome do produto: Avastin Nome genérico: bevacizumabe Forma farmacêutica, via de administração e apresentações Solução injetável concentrada para infusão intravenosa. Caixa com 1 frasco-ampola de dose única de 100 mg (4 mL) ou 400 mg (16 mL). USO ADULTO 5 Composição Avastin (bevacizumabe) injetável 100 mg Frasco-ampola de 4 mL contendo: Ingrediente ativo: bevacizumabe (anticorpo monoclonal anti-VEGF humanizado)..........................100 mg (25mg/mL). Excipientes: α, α-trealose diidratada, diidrogeno fosfato de sódio monoidratado (fosfato de sódio, monobásico, monoidratado), fosfato dissódico anidro (fosfato de sódio, dibásico), polissorbato 20 e água para injetável. Avastin (bevacizumabe) injetável 400 mg Frasco-ampola de 16 mL contendo: Ingrediente ativo: bevacizumabe (anticorpo monoclonal anti-VEGF humanizado)...........400 mg (25mg/mL) Excipientes: α, α-trealose diidratada, diidrogeno fosfato de sódio monoidratado (fosfato de sódio, monobásico, monoidratado), fosfato dissódico anidro (fosfato de sódio, dibásico), polissorbato 20 e água para injetável. INFORMAÇÕES AO PACIENTE Solicitamos a gentileza de ler cuidadosamente as informações abaixo. Caso não esteja seguro a respeito de determinado item, favor informar ao seu médico. 1. AÇÃO DO MEDICAMENTO Avastin (bevacizumabe) é o nome comercial para o bevacizumabe, um anticorpo monoclonal humanizado recombinante que reduz a vascularização de tumores, inibindo assim o crescimento tumoral. O medicamento começa a agir logo após sua administração. 2. INDICAÇÕES DO MEDICAMENTO Avastin (bevacizumabe) em combinação com quimioterapia à base de fluoropirimidina é indicado para tratamento de primeira-linha de pacientes com carcinoma metastático do cólon ou do reto. (...) ALERTA PUBLICADO PELA ANVISA SOBRE O BEVACIZUMABE DE 5 JANEIRO A MARÇO DE 2005 INCLUSÃO DE NOVAS ADVERTÊNCIAS NA BULA DO MEDICAMENTO AVASTIN® (BEVACIZUMABE) Produto: Avastin® (bevacizumabe). Fabricante: Genentech Problema: Eventos tromboembolíticos arteriais, incluindo infartos cerebrais, ataques isquêmicos, infartos do miocárdio, e angina, ocorreram com maior incidência em pacientes usuários de Avastin® associado com quimioterapia quando comparado àqueles submetidos apenas à quimioterapia. Tais eventos foram fatais em alguns dos casos. Medida reguladora: revisão das seções de ADVERTÊNCIAS, PRECAUÇÕES, EVENTOS ADVERSOS, e DOSAGEM E ADMINISTRAÇÃO da bula do medicamento Avastin® . Fonte: FDA Medwatch; Important safety information, 06/01/2005. CATEGORIA: ATUALIZAÇÃO DA BULA. X – Metodologia: 1. Bases de dados pesquisadas: Bireme (Lilacs, Medline,The Cochrane Library), Pub Med. 6 2. Palavras-chave utilizadas: DMRI, neovascularização subfoveal, retinopatia diabética, bevecizumabe. 3. Desenhos dos estudos: Estudos comparativos entre opções terapêuticas para tratamento da Degeneração Macular Relacionada à Idade ou da Retinopatia Diabética. 4. População incluída: Pacientes de ambos os sexos com DMRI ou Retinopatia diabética. 5. Período da pesquisa: 2000 a 2007 6. Resultados da seleção bibliográfica: [1 ] Estudos em animais [ ] Estudos clínicos em humanos: [ 9 ] estudos não randomizados: [ ] estudos clínicos de bioequivalência* [ ] ensaios clínicos randomizados de equivalência** com desfechos substitutos: Não encontrados [ ] ensaios clínicos randomizados de equivalência com desfechos primordiais: não encontrados [ ] metanálises e revisões sistemáticas: Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - “Oxford Centre for Evidence-based Medicine” - última atualização maio de 2001XX Grau de Nível de Tratamento/ Recomendação Evidência Prevenção – Etiologia Diagnóstico Revisão Sistemática (com 1A Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de Ensaios Clínicos Controlados e de Estudos Diagnósticos nível 1 Critério Randomizados Diagnóstico de estudos nível 1B, em diferentes centros clínicos A 1B 1C 2A Ensaio Clínico Controlado e Randomizado com Intervalo de Confiança Estreito Coorte validada, com bom padrão de referência Critério Diagnóstico testado em um único centro clínico Resultados Terapêuticos do tipo “tudo ou Sensibilidade e Especificidade nada” próximas de 100% Revisão Sistemática (com homogeneidade) de Estudos de Coorte Revisão Sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 2 Coorte Exploratória com bom padrão de B 2B Estudo de Coorte (incluindo Ensaio Clínico Randomizado de Menor Qualidade) Referência Critério Diagnóstico derivado ou validado em amostras fragmentadas ou banco de dados 7 Observação de Resultados Terapêuticos 2C (outcomes research) Estudo Ecológico 3A Revisão Sistemática (com homogeneidade) de Estudos Caso-Controle Revisão Sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 3B Seleção não consecutiva de casos, ou 3B Estudo Caso-Controle padrão de referência aplicado de forma pouco consistente C D 4 5 Relato de Casos (incluindo Coorte ou Estudo caso-controle; ou padrão de Caso-Controle de menor qualidade) referência pobre ou não independente Opinião desprovida de avaliação crítica ou baseada em matérias básicas (estudo fisiológico ou estudo com animais) XI– Revisão Bibliográfica: As indicações de bula para uso do bevacizumabe (Avastin®) são o tratamento do câncer colo retal. O uso intravítreo é considerado “off label”, não existe nenhuma evidência científica robusta sobre sua eficácia e segurança para esse uso. Todos os relatos de casos, até agora, apresentam seguimento apenas de curto prazo. Portanto o seu uso precisa ser avaliado do ponto de vista ético1. “Como a Anvisa vê o uso off label de medicamentos Brasília, 23 de maio de 2005 Cada medicamento registrado no Brasil recebe aprovação da Anvisa para uma ou mais indicações, as quais passam a constar na sua bula, e que são as respaldadas pela Agência. O registro de medicamentos novos é concedido desde que sejam comprovadas a qualidade, a eficácia e a segurança do medicamento, sendo as duas últimas baseadas na avaliação de estudos clínicos realizados para testá-lo para essas indicações. Quando um medicamento é aprovado para uma determinada indicação isso não implica que esta seja a única possível, e que o medicamento só possa ser usado para ela. Outras indicações podem estar sendo, ou vir a ser estudadas, as quais, submetidas à Anvisa quando terminados os estudos, poderão vir ser aprovadas e passar a constar da bula. Estudos concluídos ou realizados após a aprovação inicial podem, por exemplo, ampliar o uso do medicamento para outra faixa etária, para uma fase diferente da mesma doença para a qual a indicação foi aprovada, ou para uma outra doença, assim como o uso pode se tornar mais restrito do que inicialmente se aprovou. Uma vez comercializado o medicamento, enquanto as novas indicações não são aprovadas, seja porque as evidências para tal ainda não estão completas, ou porque a agência reguladora ainda as está avaliando, é possível que um médico já queira prescrever o medicamento para um seu paciente que tenha uma delas. Podem também ocorrer situações de um médico querer tratar pacientes que tenham uma certa condição que, por analogia com outra semelhante, ou por base fisiopatológica, ele acredite possam vir a se beneficiar de um determinado medicamento não aprovado para ela. 8 Quando o medicamento é empregado nas situações descritas acima está caracterizado o uso off label do medicamento, ou seja, o uso não aprovado, que não consta da bula. O uso off label de um medicamento é feito por conta e risco do médico que o prescreve, e pode eventualmente vir a caracterizar um erro médico, mas em grande parte das vezes trata-se de uso essencialmente correto, apenas ainda não aprovado. Há casos mesmo em que esta indicação nunca será aprovada por uma agência reguladora, como em doenças raras cujo tratamento medicamentoso só é respaldado por séries de casos. Tais indicações possivelmente nunca constarão da bula do medicamento porque jamais serão estudadas por ensaios clínicos. O que é uso off label hoje pode vir a ser uso aprovado amanhã, mas nem sempre isso ocorrerá. O que é off label hoje, no Brasil, pode já ser uso aprovado em outro país. Não necessariamente o medicamento virá a ser aprovado aqui, embora freqüentemente isso vá ocorrer, já que os critérios de aprovação estão cada vez mais harmonizados internacionalmente. A aprovação no Brasil, porém, pode demorar, por vários motivos, entre os quais o de que o pedido de registro pode ser feito muito mais tarde aqui do que em outros países. Também pode ocorrer que o medicamento receba aprovação acelerada em outro país, baseada na apresentação de estudos preliminares ou incompletos, o que, via de regra, não é aceito pela Anvisa. Por fim, um uso autorizado no Brasil pode ser uso off label em outros países. A classificação de uma indicação como off label pode, pois, variar temporalmente e de lugar para lugar. O uso off label é, por definição, não autorizado por uma agência reguladora, mas isso não implica que seja incorreto. Brasília, 23 de maio de 2005, Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos 6 “. Referências bibliográfica enviadas pelo solicitante Angiogênese e doenças proliferativas da retina 7 Trata-se de opinião de especialista em uma revista não indexada. Farmacomodulação angiogênica no manejo de patologias coroidorretinianas: modismo passageiro ou nova era de tratamento?8 Trata-se de opinião de especialista em uma revista não indexada. Optical coherence tomography findings after na intravitreal injection of bezacizumab (Avastin ®) for neovascular age-related macular degeneration.9 Relato de caso de paciente de 63 anos que recebeu injeção intravítreo de bevecizumabe para neovascularização coroidal retiniana em DMRI. 9 A paciente havia sido tratada com terapia fotodinâmica e injeção de acetonido de triancinolona, mas teve recorrência da neoformação vascular oito meses após o tratamento e recusou a repetição do mesmo tratamento. Foi tentada a injeção intravitreo de pegnatinibe, com piora clínica do caso. Foi então oferecido a ela a possibilidade de ingressar em estudo utilizando a injeção intravítreo de bevacizumabe. Após uma semana, a tomografia de coerência óptica mostrava melhora do fluido subretiniano. Após quatro semanas de acompanhamento, ainda não havia retorno do extravasamento de fluido subretiniano. Comentário dos revisores: Trata-se de relato de um único caso, o que não caracteriza um estudo clínico. Ademais, como descrito no próprio texto, a paciente entrou em um protocolo de estudo acadêmico, sendo informado a ela sobre o caráter experimental do tratamento e dos possíveis riscos. Embora seja uma publicação de 2005, o autor relata que foi a primeira publicação utilizando bevacizumabe em olho humano. Intravitreal bevecizumabe (Avastin) for neovascular age-related degeneration.10 Nessa publicação Avery et al procuram demonstrar a segurança em curto prazo, os efeitos biológicos e os possíveis mecanismos de ação da injeção intravítreo do bevacizumabe para DMRI. Trata-se de análise retrospectiva de séries de casos, com tratamento de 79 pacientes com neoformação vascular devido à DMRI. Os resultados mostraram que nenhum paciente apresentou efeitos sistêmicos com o uso do bevacizumabe intravítreo. Após quatro semanas, 37% dos pacientes haviam apresentado melhora do edema retiniano. A metade dos pacientes havia tido alguma melhora da acuidade visual. A conclusão dos autores é que o bevacizumabe pode melhorar até um terço dos casos de extravazamento retiniano, com melhora discreta da acuidade visual. E que mais estudos precisavam ser realizados para confirmar os resultados desse tratamento. Comentário dos revisores: Trata-se de análise retrospectiva. Não havia um grupo controle, de pacientes sem tratamento para que se pudesse comparar os resultados do tratamento e aqueles decorrentes da evolução natural da doença. Do ponto de vista metodológico esse é um trabalho muito frágil como evidência de qualquer benefício. Além disso, o autor principal do trabalho declara que recebeu pagamentos dos fabricantes do medicamento. Intravitreal bevacizumab (avastin) treatement of proliferative diabetic retinopathy complicated by vitreous hemorrhage. 11 Nesse artigo, Spaide et al avaliam as modificações anatômicas em curto prazo com a injeção intravítreo de bevacizumabe em dois pacientes com retinopatia diabética proliferativa complicada por hemorragia intravítreo decorrente da RDP. Foi avaliada também a acuidade visual após o tratamento pelo teste de Snellen. Após um mês de tratamento, um paciente apresentava duas linhas de melhora na escala Snellen e ou outro teve 5 linhas de melhora. Ambos necessitaram 10 reaplicação do medicamento, um com um mês e um com três meses da primeira injeção. A hemorragia intravítreo dos pacientes apresentou melhora parcial em ambos os casos. Como conclusão, os autores concluem que os resultados em curto prazo de tratamento são promissores, e que mais estudos são necessários, com grupos maiores de pacientes para avaliar os resultados desse tratamento. Comentário dos revisores: Embora seja uma publicação de março de 2006, trata-se de uma publicação inicial com a utilização desse medicamento no tratamento da RDP. O resultado do tratamento de dois pacientes não pode balizar a prática clínica. O acompanhamento de quatro semanas é curto para conclusões sobre a eficácia do tratamento. Esse é um estudo piloto, sem grupo controle, que não permite a extrapolação dos resultados para populações maiores. Intravitreal bevacizumabe (Avastin) treatment of macular edema in central retinal vein oclusion: a short-term study.12 Nesse estudo, também preliminar sobre o uso do bevacizumabe no tratamento do edema macular devido à oclusão de veia central retiniana, foram avaliados retrospectivamente 16 olhos de pacientes. A média de idade dos pacientes foi de 76 anos, e todos haviam sido tratados com acetonido de triancinolona sem sucesso. Eles receberam em média 2,8 injeções de bevacizumabe por olho, sem reações adversas importantes. Houve melhora discreta da acuidade visual após um mês de tratamento, e melhora significativa após três meses, mas com resolução apenas parcial do quadro. A conclusão dos autores foi que os resultados são promissores, mas que o número de pacientes pequeno e o curto período de acompanhamento limitam a possibilidade de recomendações para tratamento de populações maiores. Comentário dos revisores: Como descrito pelos próprios autores, esse é um estudo piloto, com poucos pacientes e pequeno período de acompanhamento. São necessários mais estudos para se adotar essa prática na clínica diária. Regression of retinal and íris neovascularization bevacizumabe (Avastin) treatment. 13 after intravitreal Relato de caso com tratamento de paciente de 60 anos de idade com hemorragia intravitrea e queda aguda da acuidade visual. A paciente foi submetida à injeção intravítrea de bevacizumabe com melhora discreta da acuidade visual uma semana após o procedimento. Os autores concluem que o procedimento é promissor e que mais estudos são necessários para aplicação do medicamento na clínica diária. Comentários dos revisores: Trata-se do relato de um caso, sem grupo controle, com melhora apenas parcial da acuidade visual e pequeno 11 período de acompanhamento. Além disso o autor declara que recebe pagamento da indústria que fabrica o medicamento. Rapid improvement of rubeosis iridis from a single bevacizumab (Avastin) injection.14 Relato de caso de paciente de 51 anos que desenvolveu rubeosis com neovascularização decorrente de glaucoma e foi tratado com injeção intravítrea de bevacizumabe. A avaliação com retinografia posterior mostrou estabilização da membrana neovascular com extravazamento mínimo de fluido. O paciente foi então encaminhado para a cirurgia de glaucoma. Comentários dos revisores: Trata-se do relato de um caso, sem grupo controle, com melhora angiográfica do quadro clínico e pequeno período de acompanhamento. Intravitreal bevacizumab (Avastin) for refractory pseudophakic cystoid macular edema.15 Trata-se de outro relato de caso em que paciente de 58 anos foi tratada de edema cístico macular com extravasamento de líquido na região central da retina sem sinais de neovascularização, com bevacizumabe intravítreo. Após 20 dias de tratamento, a paciente apresentava boa acuidade visual. Na mesma publicação está relatado o caso de outra paciente de 61 anos que apresentou perda de acuidade visual após facoemulsificação. A angiografia mostrou extravasamento na região central da retina. Após a injeção de bevacizumabe ela retornou à acuidade visual normal. Comentários dos revisores: Nesses casos não havia um quadro clínico de doença proliferativa de retina e ambos eram casos agudos de perda de acuidade visual. Mais uma vez trata-se de relato de casos, com apenas duas experiências, o que não fundamenta a utilização da medicação na prática diária. Electrophysiologic and retinal penetration studies following intravitreal injection of bevacizumab (Avastin) 16 Esse trabalho teve o objetivo de avaliar a penetração do bevacizumabe na retina e sua toxicidade. Trata-se de um trabalho experimental com coelhos submetidos a injeção intravítrea de bevacizumabe. O bevacizumabe não se mostrou tóxico para a retina dos animais. Comentários dos revisores: Trabalho experimental com animais realizado em 2006 para avaliar toxicidade do medicamento. 12 Electrophysiologic treatment. 17 findings after intravitreal bevacizumab(Avastin) O trabalho avalia a alteração eletroretinográfica após o tratamento com bevacizumabe intravítreo para DMRI. Foram avaliados nove pacientes uma semana antes e uma semana após a injeção intravítreo do bevacizumabe. O estudo demonstrou melhora no teste com eletroretinografia multifocal da função macular, o que sugere que a função macular tenha melhorado com a injeção do medicamento. Esse resultado sugere ainda que o medicamento não é tóxico para os fotorreceptores da retina, pelo menos quando é usado por períodos pequenos. Comentários dos revisores: Trabalho básico, com pequeno número de pacientes, que não avalia resultados clínicos do uso do medicamento. XII- Considerações finais. Após análise da literatura enviada, pode-se observar que existe grande entusiasmo quanto ao uso do medicamento bevacizumabe intravítreo para tratamento das doenças proliferativas da retina, e mesmo outras em que os fatores estimuladores de angiogênese poderiam, teoricamente, ser inibidos melhorando o quadro clínico do paciente. Entretanto, a literatura mostra apenas estudos experimentais com animais, estudos piloto com poucos pacientes e com acompanhamento muito pequeno. Outra parte da literatura, com opinião de especialistas, nem foi publicada em revistas indexadas. O medicamento não tem autorização, no Brasil, para ser utilizado com essa finalidade, nem a literatura consultada fundamenta seu uso para tratamento das doenças degenerativas oculares. O FDA também não aprovou o bevacizumabe para tratamento de lesões de retina, como no Brasil, está liberado apenas para tratamento de câncer metastático de colon. Cabe ainda um comentário sobre as condições em que os pacientes dos estudos receberam o tratamento. Em muitos trabalhosos pacientes foram informados de que estavam utilizando uma medicação fora dos critérios aprovados para sua comercialização e recebiam a medicação dentro de um protocolo de pesquisa acadêmica, com consentimento informado de que estavam sendo alvo de pesquisa. 13 XIII- Parecer do GATS O GATS não é favorável ao uso do bevacizumabe para tratamento de doenças proliferativas da retina, até que novos estudos mostrem, em populações maiores, sua eficácia em longo prazo e sua segurança. 14 Grupo Técnico de Auditoria em Saúde XIV – Referências Bibliográficas: 1. Wong D, Kyle G. Some ethical considerations for the “off label” use of drugs such as Avastin. Br J Ophthalmol. 2006; 90:1218-1219. 2. Santos LPF, Diniz JR, Leão ACS, Sena MF. Degeneração macular relacionada à idade: prevalência e fatores de risco em dois centros oftalmológicos de referência em Pernambuco. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(2):229-33 3. Farah ME, Oshima A, Costa RA, Sallum JF. Degeneração macular relacionada à idade: modalidades terapêuticas. Arq Bras Oftalmol 2001;64:583-8 4. Bosco A, lerário AC, Soriano D, Santos RF, Massote P, Galvão D, Franco ACHM, Purish S, Ferreira AR. Retinopatia Diabética Arq Bras Endocrinol Metab 2005;49/2:217-227 5. ANVISA, Farmacovigilância, alerta em farmacovigilância, disponível em http://www.anvisa.gov.br/farmacovigilancia/farmacovigilancia/alerta/inter nacional/inter_2005_1.htm, acesso em 05 de junho de 2007. 6. ANVISA, Medicamentos, Registro de Medicamentos, disponível em http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/registro/registro_offlabel.htm, acesso em 05 de junho de 2007. 7. Damico M. Angiogênese e doenças proliferativas da retina. Universo Visual, 2006; 26:30-36 (Revista não indexada) 8. Costa RA, Jorge R. Famacomodulação angiogênica no manejo de patologias coroidorretinianas: modismo passageiro ou nova era de tratamento? Universo Visual, 2006; 26:10-14 (Revista não indexada) 15 Grupo Técnico de Auditoria em Saúde 9. Rosenfeld PJ, Moshfeghi AA, Puliafito CA. Optical coherence tomography findings after na intravitreal injection of bezacizumab (Avastin ®) for neovascular age-related macular degeneration. Ophthalmic Surg Lasers Imaging. 2005; 36:270-71. 10. Avery RI, Pieramici DJ, Rabena MD, Castellarin AA, Nasir MA, Giust MJ. Intravitreal bevecizumab (Avastin) for neovascular age-related degeneration. Ophthalmology 2006;113:363-372. 11. Spaide RF, Fisher YL. Intravitreal bevacizumab (Avastin) treatement of proliferative diabetic retinopathy complicated by vitreous hemorrhage. Retina 2006; 26:275-279. 12. Iturralde D, Spaide RF, Meyerle CB, Klancnik JM, Yannuzzi LA, Fisher YL, Sorenson J, Slakter JS, Freund KB, Cooney M, Fine HF. Intravitreal bevacizumab (Avastin) treatment of macular edema in central retinal vein oclusion: a short-term study. Retina 2006; 26:279-284 13. Avery RL. Regression of retinal and íris neovascularization after intravitreal bevacizumab (Avastin) treatment. Retina 2006; 26:352-54. 14. Davidorf FH, Mouser JG, Derick RJ. Rapid improvement of rubeosis iridis from a single bevacizumab (Avastin) injection. Retina 2006; 26:354-356. 15. Mason III JO, Albert MA, Vail R. Intravitreal bevacizumab (Avastin) for refractory pseudophakic cystoid macular edema. Retina 2006; 26:356357. 16. Shahar J, Avery RL, Heilweil G, Barak A, Zemel E, Lewis GP, Johnson PT, Fisher SK, Periman I, Loewenstein A. Electrophysiologic and retinal 16 Grupo Técnico de Auditoria em Saúde penetration studies following intravitreal injection of bevacizumab (Avastin). Retina 2006; 26:262-69. 17. Maturi RK, Bleau LA, Wilson DL. Electrophysiologic and retinal penetration studies following intravitreal injection of bevacizumab (Avastin) treatment. Retina 2006; 26:270-74. 17