REVISÃO DA LITERATURA SEIS SIGMA ATRAVÉS DOS SEUS CONCEITOS E METODOLOGIAS Claudio José de Santana, Master Black Belt, Mestrando Universidade Federal Fluminense – [email protected] Tel: 2588-5794 Rua Mayrink Veiga 9, 25 andar Mara Telles Salles, Doutora Universidade Federal Fluminense Carlos Alberto Lidizia Soares, Mestrando Universidade Federal Fluminense – [email protected] Tel: 2588-6681 Rua Mayrink Veiga 9, 16 andar Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas, Doutor Universidade Federal Fluminense Abstract The globalization dynamic world demands that the organizations adapt fast to changes. Business Schools have been creating several administration models that seek to provide this speed with the maximum of excellence; however it was inside corporate’s world that one of the most victorious philosophies of modern management, Six Sigma, appeared. This text propose a revision of the literature that approaches Six Sigma, objectifying to contribute for new researches and best practices of this philosophy, in Brazilian companies. Key-words: : Six Sigma; Performance Indicators; Operational Eficcience; Process. Área Temática: Gestão da qualidade e produtividade História e Conceitos O Seis Sigma teve seu início na Motorola na década de 80, com seu então CEO Robert Galvin, por uma necessidade de melhorar a qualidade de seus produtos. O Seis Sigma tornouse ainda mais conhecido, quando empresas como GE, Sony, AlliedSignal e a própria Motorola, começaram a obter atenção de Wall Street, através de seus resultados financeiros. Depois da Motorola ganhar o prêmio Malcolm Baldrige National Quality em 1988, o segredo do seu sucesso tornou-se do conhecimento público e a revolução Seis Sigma começou (Pyzdek, 2003). Em meados dos anos 90, Jack Welch então CEO da GE foi sem dúvida nenhuma um dos grandes responsáveis pela divulgação do Seis Sigma, através dos expressivos resultados obtidos pela GE, através do uso desta filosofia. O Seis Sigma tem várias definições, tanto do ponto de vista de filosofia empresarial como de metodologia e ferramenta de eliminação de variabilidade dos processos. Chua (2001) afirma que, fundamentalmente, é uma metodologia focada no cliente, que elimina desperdícios, aumenta o nível de qualidade, e melhora a performance de tempo e financeira da organização. Enquanto Harry (2000), assegura que o Seis Sigma não é um programa de melhoria. Ele é uma filosofia de negócios que emprega uma abordagem passo a passo para reduzir a variação, aumentar a qualidade e a satisfação do cliente e, com o tempo, a participação de mercado. Hammer (2002) descreve que na prática, o Seis Sigma se tornou um nome que define um grupo de metodologias e técnicas usadas para melhorar a qualidade e reduzir os custos. PerezWilson (1999, p.158) afirma que o Seis Sigma tornou-se muito mais do que um nome memorável. Ela reflete a filosofia de buscar sempre a perfeição ou excelência em tudo que uma organização faz. Para Eckes (2001, p.20) a essência do método Seis Sigma é a melhora da eficiência e eficácia. Pande el al (2001, p.17), entende o Seis Sigma, como práticas e ferramentas que substituem hábitos reativos por um estilo de gerenciamento dinâmico, receptivo e proativo.Werkema (2002) define Seis Sigma como uma estratégia gerencial disciplinada e altamente quantitativa, que tem como objetivo aumentar drasticamente a lucratividade das empresas. Nesta mesma linha, Pyzdek (2003) afirma que o Seis Sigma é uma implementação rigorosa, concreta e altamente eficaz de princípios e técnicas comprovadas de qualidade. Eckes (2001 , p.48), Perez-Wilson (1999, p.149), Pande et al (2001, p.80) ainda afirmam que o Seis Sigma pode ser entendido sob alguns aspectos como; uma medida de variação que consegue 3,4 defeitos por milhão de oportunidades; um valor cultural ou filosofia de trabalho; um sistema de medição; uma meta. Tem-se a perspectiva que o Seis Sigma pode ser entendido como uma filosofia empresarial, que busca a eliminação das variabilidades dos processos de negócios, e com isto a satisfação de todas as partes interessadas no desempenho da empresa, ao longo do tempo. Objetivos O termo sigma é da letra do alfabeto grego (σ) usado para descrever a variabilidade, onde a unidade clássica de medição considerado pelo programa é defeitos por unidade (Breyfogle III, 1999, p.3). O objetivo do Seis Sigma e alcançar não mais de 3,4 defeitos, erros ou enganos por milhão de oportunidades, mesmo que isto envolva o desenho ou produção de um produto, ou um processo de serviço orientado para o cliente (Chua, 2001). Embora o Seis Sigma seja uma mensuração técnica do desempenho em relação às exigências dos clientes, existe uma definição muito mais importante para este método, que é uma filosofia cultural de insatisfação constante com o desempenho atual (Eckes, 2001, p.52). Perez-Wilson (1999, p.162) afirma que a principal meta do Seis Sigma é reduzir defeitos, erros e falhas a zero defeito e reduzir o valor sigma ou desvio padrão a um valor que permita que 12 sigmas fiquem dentro dos limites de especificação. O Primeiro passo, fundamental para o Seis Sigma é definir claramente o que o cliente quer como exigência explícita Pande et al (2001, p.30). Pode-se concluir que o objetivo básico do Seis Sigma é entender as necessidades dos clientes, ou CTQ’s, critical to quality ou pontos críticos para a qualidade, e através de uma metodologia própria, alcançar estas necessidades. Esta metodologia tem como meta a diminuição da variabilidade dos processos, para que estes se estabeleçam dentro das especificações desejadas pelos clientes. Como descrito por Breyfogle III (1999), o custo da má qualidade pode dramaticamente afetar o negócio. Entretanto, muitas questões importantes, estão freqüentemente escondidas da visão. O que torna preeminente a necessidade de se mapear e mensurar os processos, para identificar pontos de não gerenciamento e atuar sobre os mesmos. Segundo descrito no site da Motorola do Brasil (2003), várias companhias no mundo têm implementado o Seis Sigma e os programas de formação de Black Belts para: melhorar a satisfação dos clientes, maximizar a eficiência dos processos, aumentar as vantagens competitivas e participação no mercado e economizar milhões de dólares em despesas operacionais. Ao contrário dos cortes de custos descuidados que reduzem valor e qualidade, o Seis Sigma identifica e elimina custos do desperdício ou seja, que não agrega valor ao cliente (Pyzdez, 2003). O nível sigma dos processos é parte integrante da filosofia Seis Sigma, ele permite a comparação de processos diferentes, a identificação do nível de defeito que o processo está gerando, tornando possível à busca pela melhoria contínua, com o objetivo maior, que é o de alcançar um processo Seis Sigma, onde existirá apenas 3,4 falhas por milhão de oportunidades. O quadro 01 mostra uma relação entre o rendimento do processo, o nível sigma e a quantidade de defeitos por milhão de oportunidades. Nível Sigma Percentual Defeitos Por Milhão (DPMO) ±1 sigma 30,23 697.700 ±2 sigma 69,13 308.700 ±3 sigma 93,32 66.810 ±4 sigma 99,3790 6.210 ±5 sigma 99,97670 233 ±6 sigma 99,999660 3,4 Quadro 01 – Adaptada de Rath & Strong, 2000, p. 88-9, ±1,5 sigma A maioria das empresas opera em um nível de qualidade muito inferior, em geral, na faixa de dois a três sigmas, de 66 mil a 300 mil defeitos por milhão de oportunidades (Hammer, 2002). Através da curva Normal se tem uma compreensão gráfica dos objetivos do Seis Sigma, figura 01. Onde LIE é o limite inferior de especificação e o LSE é o limite superior de especificação dos clientes. −6σ LIE −5σ −4σ −3σ −2 σ −1 σ µ +1 σ +2σ +3 σ +4σ +5σ +6 σ LSE Figura 01 – Curva de Distribuição Normal Qualquer um que compreenda as exigências de seus clientes pode avaliar seu desempenho em relação à meta Seis Sigma de 99,997% “perfeito”, um padrão tão alto que faz a visão da maioria das empresas daquilo que é um desempenho “excelente” parecer bem fraco (Pande et al, 2001, p.12). A comparação entre os desempenhos de vários níveis, quadro 02, mostra um abismo entre os rendimentos dos processos, e como conseqüência, deixa claras as oportunidades de melhoria que as organizações têm, caso apliquem esforços na eliminação dos defeitos e falhas, através da filosofia Seis Sigma. Nível Sigma Local 3σ Espaço no chão de uma $2,7 pequena loja Dinheiro Tempo milhões endividamento por de 3,5 meses por século $1 bilhão em ativos 4σ Espaço no chão de uma $63.000 de endividamento 2,5 dias por século sala de estar 5σ Tamanho da parte inferior $570 de endividamento por 30 de seu telefone 6σ por $1 bilhão em ativos $1 bilhão em ativos bilhão em ativos por segundos por século Tamanho de um diamante $2 de endividamento por $1 6 comum minutos século Quadro 02 – Comparativo entre Níveis Sigma – Adaptado Six Sigma Academy, 2001. Estrutura Funcional Um fator importante no Seis Sigma é a sua sistematização hierárquica. Quando uma organização adere a esta filosofia, são criadas algumas funções que permitem, um melhor dinamismo a execução dos futuros projetos de melhoria, e proporciona um maior envolvimento de todos os funcionários da organização. Partes destas novas funções atuam em tempo integral enquanto outras atuam em tempo parcial, existe também alguma variação entre as empresas, quanto ao tempo de participação de cada uma destas funções. Segundo Perez-Wilson (1999, p.211) uma posição de tempo integral dedicada a promover a mudança cultural do Seis Sigma na organização e a se envolver nos estudos e projetos, aumentaria definitivamente o sucesso e recompensas financeiras do programa. Na grande maioria das empresas, as funções que são criadas, seguem o modelo empregado pela G.E. Deployments Champions(DC), normalmente são figuras da cúpula da empresa, Presidente, Vice-Presidentes e Diretores que têm a função de dar apóio as demais funções, além de direcionar os projetos através de uma visão mais holística da organização, suportando as mudanças culturais e selecionando junto com os Project Champions e Master Black Belts, projetos a serem trabalhados. O Senior Champion (SC) é o líder da estrutura Seis Sigma, é responsável por direcionar as políticas de implantação e os controles do programa, garantindo assim sua sustentabilidade ao longo do tempo. Os Project Champions(PC), responsáveis por ajudar os Black Belts, a quebrar barreiras dentro da estrutura organizacional. Os Master Black Belts(MBB), atuam como coaching de Black Belts e Green Belts, dão treinamento em Seis Sigma e normalmente atuam em mega projetos, além de ajudarem os Deployment e Project Champions. Black Belt (BB), são funcionários que lideram times multifuncionais, na execução de projetos definidos pelos Deployments Champions. São treinados em técnicas estatísticas e de gerenciamento de projetos. Atuam em qualquer área da empresa e são os alicerces do Seis Sigma. Green Belt (GB), são funcionário treinado nas ferramentas, mas atuam em tempo parcial e somente na sua área específica de trabalho. Além destas figuras existem os membros de times multifuncionais, que apóiam a estruturação e implantação dos projetos. Como descrito por Perez-Wilson (1999, p.201) cada indivíduo exerce um papel significativo na busca de fazer a empresa chegar a um nível de performance classe A. Esta estrutura é essencial para a implementação da filosofia Seis Sigma, pois permite a mudança cultural e a sustentação dos ganhos ao longo do tempo. Metodologia DMAIC Uma vez implantada tal hierarquia, os BB e GB irão atuar em projetos previamente selecionados pelos DC e PC, com o intuito de agregarem o maior valor possível para a organização. Eles empregam então uma metodologia conhecida como DMAIC que é o anacrônimo de Define, Measure, Analize, Implement, Control, (Definir, Medir, Analisar, Implementar, Controlar). Onde cada fase tem um elo lógico com a fase anterior assim como a próxima fase (Rath & Strong, 2000, p.5). Este ciclo pode ser comparado com o conhecido PDCA (Plan, Do, Check, Act) (Planejar, Fazer, Checar e Atuar). Cada uma das fases utiliza ferramentas, de qualidade, estatística e gerenciais para entender as causas raízes dos problemas, e encontrar as melhores soluções para diminuir e se possível eliminar as fontes de variabilidade dos processos e com isto, diminuir o custo da má qualidade. Sua diferença para muitas outras metodologias, e não se limitar as suas ferramentas, usando todas as ferramentas tecno científicas para cada fase de desenvolvimento dos processos. Permitem também a criação de uma visão científica do comportamento dos processos e seu entendimento com base em dados e fatos. Pydek(2003) é enfático ao afirmar que se a empresa estiver procurando técnicas novas, esse não é o caso. A mágica do Seis Sigma não está nas novas maravilhas da estatística ou de alta tecnologia. Essa ferramenta depende de métodos comprovados e verdadeiros, que já existiam há décadas. Entretanto seu modelo sistêmico trás algo de bastante novo no seu uso. As fases da metodologia DMAIC são universalmente difundidas, e podem ser descritas conforme (Eckes, 2001, p.24;Pande et al, 2002, p.41; Pyzdek, 2003; Breyfogle III, 1999, p.15): A Fase Definir tem como objetivo, a definição do escopo do projeto, definição da equipe, conhecimento dos clientes e suas necessidades, conhecimento dos meios de comunicação. A Fase Medir visa o conhecimento do processo, a verificação da confiabilidade das medições, o conhecimento das capacidades dos processos, identificação das medições chaves. A Fase Analisar verifica a importância de fatores ainda vistos como críticos, testa e valida hipótese. A Fase Melhorar (Improve) analisa as relações entra as variáveis críticas, identifica condições ótimas de operação, testa modelos. A Fase Controlar cria e instala mecanismos para garantir a permanência dos ganhos, verifica se os resultados foram alcançados, encerra os projetos. Cada uma destas fases utiliza uma série de ferramentas de qualidade, benchmarking, gerenciamento de processo, estatística entre outras para identificarem as variáveis críticas do processo, e assim poder trabalhar efetivamente na solução dos problemas e em seus controles. Este método utiliza o modelo funil, figura 02, aonde a cada etapa do processo as variáveis vão sendo descartadas através do uso das ferramentas, por não possuírem um nível significativo de importância para o modelo final. Fase Variáveis Críticas Processo Caótico Definir 25-40 Medir 10-20 Analisar 8-10 Implementar 4-8 Controlar 3-6 Figura 02 – Modelo Funil - Adaptado Six Sigma Academy,2001. Como descrito por Hammer (2002), a verdadeira causa do problema é identificadas, a solução implementada e finalmente as operações melhoradas são submetidas a um controle constante para evitar que os erros se repitam. Seis Sigma Algumas abordagens e visões devem ser entendidas para a melhor compreensão da filosofia Seis Sigma. Segundo Pyzdek (2003) as pesquisas demonstram que as empresas capazes de implementar o Seis Sigma com sucesso têm um melhor desempenho em virtualmente todos os indicadores de sucesso do negócio, inclusive em aumento de vendas, retorno sobre investimento, crescimento de empregos e aumento do valor das ações. Hammer (2002) mostra uma visão pragmática, afirmando que o Seis Sigma não aborda problemas empresariais em um nível superficial fenomenológico, mas ataca suas causas raízes. Outro ponto fundamental que o distingue dos demais métodos ou ferramentas de negócios é sua base quantitativa. Todos os projetos necessariamente têm que ter uma meta operacional e uma financeira, capaz de assegurar que efetivamente houve uma melhora da performance no processo, advinda das soluções implementadas pelo projeto. Estas metas devem estar sempre ligadas às estratégias da empresa e com foco permanente nos clientes. Estas métricas devem ser rigorosamente estruturadas, e baseada no sistema de medição existente ou na criação de novos como o objetivo de criar um sistema de controle robusto. Toda esta filosofia é sustentada por uma estrutura funcional exclusiva, além do forte comprometimento da alta direção e um envolvimento dos demais funcionários. Conclusão Apesar da maioria das ferramentas usadas pelo Seis Sigma não trazerem muita inovação, seu modo sistêmico e quantitativo proporciona uma nova filosofia empresarial. Projetos baseados em dados e fatos, identificando os fatores críticos para os clientes, com uma estrutura hierárquica voltada para o cumprimento desde objetivos, e com metas bem definidas tornaram o Seis Sigma algo novo, mesmo baseado em conhecimentos já amplamente difundidos. Pode-se concluir ainda que o Seis Sigma vem se tornando uma filosofia comprovadamente eficiente e eficaz, que quando bem implantada pode garantir excelentes resultados tanto operacionais como financeiros para as organizações, que precisam estar sintonizadas com esta revolução. Referência Bibliográfica BREYFOGLE III, Forrest. “Implementing Six Sigma”, Wiley-Interscience New York:, 1999. CHUA, Richard C. H, “What you need to know about Six Sigma”, Productivity Digest, December, 2001. ECKES, George, “A Revolução Seis Sigma”, Editora Campus, Rio de Janeiro, 2001. GARVIN, David, “Gerenciando a Qualidade: A Visão Estratégica e Competitiva”, Editora Qualitymark, Rio de Janeiro, 3 Reimpressão, 2002. GENERAL ELECTRIC, “What is SixSigma ?”, Disponível em http://www.ge.com/sixsigma, Acessado em 28/04/2003. HAMMER, Michael. “Process Management and the Future of Six Sigma”. Sloan Management Review, pp 26-32, winter 2002. 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