Envelhecimento, representaçoes sociais, saúde e cidadania: perspectivas de gênero – ST 45 Giovana Abeggi Luiz Carlos Barbosa Rodriguesii Maria da Graça Soler Rodriguesiii Palavras-chave: Idoso, Sexualidade e Sexo A Sexualidade na Terceira Idade sob O Olhar dos Participantes do Grupo de Idosos Papimar O envelhecimento é um processo natural da vida humana, trazendo consigo uma série de modificações biopsicossociais, que alteram a relação do homem como meio no qual está inserido. O processo de envelhecimento é muito pessoal, constitui uma etapa da vida com realidades próprias e diferenciadas das anteriores, limitadas unicamente por condições objetivas e subjetivas”. ( DANTAS et al. 2005, p. 2). O envelhecimento populacional vem ocorrendo nos países em desenvolvimento num espaço de tempo mais curto do que no de países desenvolvidos. Esse descompasso se dá devido à redução da mortalidade, redução da fecundidade e migração (PAPALEO NETTO, 1996). Este crescimento será bem mais evidenciado no Terceiro Mundo, onde, possivelmente no ano 2025, as maiores populações de idosos pertencerão aos países em desenvolvimento, sendo que o Brasil será o sétimo país com maior numero de idosos, isto é, com mais de 30 milhões de idosos. Vários estudos sobre a população idosa, mostram que a virada do século encontrou o Brasil com aproximadamente 8,7 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, isso quer dizer que de cada 20 residentes no país um já era idoso. A população idosa teve 82% de seu contingente vivendo na cidade. A baixa escolaridade e analfabetismo apresentam índices elevados, e a feminilidade foi caracterizada no envelhecimento, ou seja, há elevado número de mulheres em relação aos homens. Até pouco tempo, o Brasil era uma nação de jovens. Agora, caminha para tornar-se um país de idosos. O mesmo processo de envelhecimento populacional ocorre em outros países. A Organização das Nações unidas – ONU estabeleceu em 1991 os princípios para as pessoas idosas, estimulando os governos a incluí-los em seus programas para assegurar dignidade a esses indivíduos (DANTAS et. al. 2005). Dispositivos constitucionais e medidas legais de proteção ao idoso surgiram desde então no Brasil, como a Lei 8.842/1994 (Política Nacional do Idoso) e a Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que determinaram idoso, as pessoas com 60 anos ou mais de idade. Elas unificam os esforços para amenizar as diferenças e promover a integração social dessas pessoas. Acredita-se que é urgente a reestruturação dos programas de atenção à saúde, lazer e assistência hoje existentes, e que eles devem ser triplicados para atender a demanda que aí estará. As mudanças ocasionadas pela terceira idade produzem perturbações no equilíbrio e requerem adaptações, pois, o surgimento de novas situações e experiências marcam significativamente a vida do idoso, trazendo sentimentos como a desvalorização. Muitas vezes a sociedade contribui para que o idoso tenha este sentimento, pois, os idosos sempre foram imaginados como aqueles que estão se despedindo da vida: aposentou-se do seu trabalho, de sua função, aposentou-se da vida. Este preconceito de concepção da sociedade acaba por privar os idosos de varias coisas como a sexualidade e o lazer. O sexo na terceira idade está envolto em preconceitos, delírios de grandeza, complexos e frustrações, mas a terceira idade não é necessariamente uma barreira para uma vida sexual ativa. Homens e mulheres devem estar conscientes das mudanças que estão ocorrendo em seu corpo, e os parceiros deve investir mais em caricias, toques, beijos e carinhos durante todo o dia e não só na hora do ato sexual. Questões que envolvem sexualidade são consideradas, muitas vezes, como tabus pela sociedade. Esta postura faz com que os indivíduos encontrem grandes dificuldades em expor suas dúvidas e angústias. Sabe-se que as questões sexuais sofrem influências marcantes em cada cultura, estas influências podem forçar o indivíduo a ficar a margem de informações importantes para o desenvolvimento de sua sexualidade. Porém, a evolução dos relacionamentos está trazendo a tona questões importantes que envolvem desde auto-estima até desempenho sexual. Apesar da abertura social que há para discussão de assuntos desse âmbito à maioria da população ainda apresenta-se constrangida para discutir tais assuntos, principalmente quando questões relacionadas à sexualidade na terceira idade se apresentam (SANTOS, 2003). Diante da importância do tema “Sexualidade no idoso”, optouse por fazer uma pesquisa que tem como questão norteadora do estudo: Como os participantes do Grupo de Idosos Papimar delineiam a sexualidade na terceira idade? Para responder a tal questionamento buscou-se delinear a sexualidade na terceira idade sob o olhar dos participantes do Grupo de Idosos Papimar: averiguar como vivenciam a sua sexualidade; discutir as mutações físicas que intervêm na vida sexual devido à idade e identificar os preconceitos e tabus que envolvem a vida sexual na terceira idade. Como justificativa da escolha deste tema temos o considerável aumento do crescimento da população idosa no último século, e pela necessidade de conhecimento minucioso desta área, possibilitando melhor assistência dos profissionais, particularmente na área de enfermagem. E também, devido ao estudo de questões que envolvem sexualidade ser polêmico e ao mesmo tempo rico em informações. Realizar um estudo com a terceira idade é algo estimulante, capaz de remeter a um universo de experiências e vivências que parece terem ocorrido há séculos. A pesquisa foi realizada utilizando-se da abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa segundo Bogdan e Biklen (1982), envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada. Esse tipo de pesquisa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Supõe o contato direto do pesquisador com ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo. Visa também refletir posições frente à realidade, momentos do desenvolvimento e da dinâmica social, preocupações e interesses de classes e de grupos determinados. Este método permitiu abordar a história de vida das mulheres entrevistadas, tendo como pano de fundo a vida afetiva, amorosa e sexual, suas representações de mundo, suas concepções, a fim de realizar um trabalho que não estivesse distanciado da realidade. Debert (1988), descreve que ao utilizar histórias de vida possibilita-se o estabelecimento de um diálogo entre informante e pesquisador, onde o primeiro fornece novas dimensões sobre o objeto de análise para que, através de um quadro real, se possa reformular os pressupostos sobre determinado assunto. O Grupo de Idosos Papimar, fica localizado no município de Mariópolis – Paraná, está em funcionamento há 20 anos e possui um total de 150 membros entre homens e mulheres. São realizados encontros semanais, às sextas-feiras onde são desenvolvidas atividades recreativas e educacionais. O município de Mariópolis está localizado na região do sudoeste do Paraná. Conta com uma população de 3.772 habitantes na zona urbana e 2.248 habitantes na zona rural, totalizando 6.020 habitantes. Os (as) atores (as) sociais da pesquisa são idosos (as) do município de Mariópolis, membros do Grupo de Idosos Papimar (União das Palavras Papai e Mariópolis), composto por 150 pessoas. No entanto, a amostra da pesquisa contou com um grupo de 15 mulheres. As mulheres elegíveis a participação na pesquisa obedeceram aos seguintes critérios: Ter mais de 60 anos, ser integrante na instituição, aceitar participar da pesquisa. Foi proposto um instrumento contendo perguntas abertas, semi-estruturadas, com espaço para diálogos sobre as mesmas questões na qual foram gravadas. Vale lembrar que este instrumento passou anteriormente por um teste piloto realizado com 130 integrantes da Universidade da Terceira Idade (UNAT) da Faculdade de Pato Branco (FADEP). Um fator importante a considerar, é que antes de realizar as entrevistas, foram realizados encontros durante o mês de agosto, para as 15 mulheres, todas as quartas-feiras das 13:30h às 16:00h para tratar sobre assuntos relativos a sexualidade como se vê no roteiro das palestras, descrito abaixo: 1º encontro :Anatomia, fisiologia, menopausa, andropausa. 2º encontro: Doenças e sexo: Impotência, AVC, Diabetes, Artrites e artroses, Anemias, Dores lombares e Hérnias. 3º encontro; Doença de Parkinson e Alzhaimer, Prostatite crônica,Incontinência ao esforço, Histerectomia, Mastectomia, Prostatectomia, Orquiectomia. 4º encontro: Drogas e sexo Fumo, Álcool, Medicamentos. Aparência pessoal. Obesidade, Flacidez, Higiene pessoal, Audição, Visão e Nutrição. 5º encontro: Formas de fazer amor, Intimidade, Privacidade e Envolvimento.Para a implementação do trabalho, obedecemos a procedimentos éticos, baseados na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho identificou alguns preconceitos que envolvem a sexualidade fazendo que os desejos sexuais para muitos idosos se tornem sentimentos conflituosos, gerando um sentimento de culpa, fazendo que eles, apesar de terem vontades e desejos sexuais, desistam de manter uma vida sexual ativa, bem como identificou a realidade vivenciada durante o processo de envelhecimento destas pessoas idosas. A maioria das entrevistadas relataram que ao ficarem menstruadas, praticamente não tinham informações sobre o assunto, inclusive algumas pensavam que o ciclo não seria contínuo:“... me disseram que vinha só três anos, depois parava e eu esperando, mas era tonga uma vez...”. As entrevistadas relataram que se casaram virgens, pois, segundo elas, naquele tempo o relacionamento se restringia a ficar de mãos dadas. No dialogar as mulheres deram ênfase aos tabus da época: “... depois do casamento imagina naquele tempo a moça não pegava na mão do rapaz por que ficava grávida...” “... a gente foi educado assim e eu acho que não ta errado né, sei lá, eu pra mim não ta errado... eu acho que tudo tem o seu tempo, eu acho né...” Conforme descrevem Butler e Lewis (1985), em relação a sexo as mulheres deveriam ser resignadas e consentidoras; só as mulheres perdidas se entregavam e procuravam os prazeres do sexo, demonstrando que as idosas do Papimar estão dentro da normalidade na história da sexualidade. No que se refere à masturbação, 14 mulheres responderam que nunca se masturbaram, inclusive atualmente nenhuma pratica o ato de masturbar-se.Porém, uma entrevistada se encorajou a relatar que quando era mais jovem praticava a masturbação, veja, a sua fala: “.... deu sim, não agora a pouquinho tempo que a gente ta com mais idade, mas quando era mais nova.. um pouco tinha.... não adianta mentir... tem que contar certo...”. Conforme os mesmos autores, se você é uma pessoa de mais idade que se interessa pelo sexo, prepare-se para encontrar sentimentos ambivalentes dentro de você, assim como atitudes contraditórias por parte do mundo externo. Devem as elas realmente o querem? (1985, p. 12). Este referencial talvez justifique apenas uma entrevistada assumir uma atividade normal da sexualidade. Com relação a freqüência com que as entrevistadas mantêm relação sexual, 03 entrevistadas indicaram que fazem sexo de 3 a 4 vezes por semana, no entanto, 01 entrevistada relatou que faz apenas uma vez. A pesquisa detectou que uma das entrevistadas já ficou sem ter relações sexuais com seu companheiro por aproximadamente 6 meses: “.. do começo era seguido né, agora depois vivia passando até seis meses, até um ano...”. Na fala de uma delas a relação sexual se restringe a 01 vez por semana e quando o companheiro a procura: “ olha, cada oito dias, por que ele me procura daí eu sou obrigada, eu não procuro...”. Em conformidade com as falas apontadas é importante resaltar o que os autores relatam sobre a sexualidade: Só as mulheres perdidas se entregavam e procuravam os prazeres do sexo. Como regra geral, uma mulher modesta raramente deseja a gratificação sexual para si mesmo. Submete-se a seu marido, mas apenas para agradá-lo (Butler e Lewis, 1985). Ao abordar se elas gostavam ou gostam de fazer sexo, as respostas foram as mais variadas, onde umas afirmaram que gostam outras, já se limitaram a dizer que faziam sexo por obrigação: “.. depois de tudo a gente, né... tinha que dizer “gosto”.. mas nunca tinha prazer... não tinha muito prazer, sempre a gente fazia por obrigação...”. “.. eu me casei sem saber... ah, meu Deus... primeira vez me queixei pra mulher... (vizinha) “. As viúvas, ao serem questionadas, em relação a se haviam tido outros companheiros ou mesmo se elas tinham a intenção de casar-se novamente, foram unânimes em afirmar que pretendem continuar como estão: “....não fico com outra pessoa por que quero respeitar meu marido até o fim, sei que se eu fizesse isso ele ia ficar triste...” O estudo permitiu delinear a sexualidade na terceira idade sob o olhar de 15 mulheres participantes do Grupo de Idosos Papimar. Vale salientar que os objetivos propostos foram alcançados, uma vez que permitiu averiguar como elas vivenciam a sua sexualidade. Apontou que as mutações físicas devido à idade não intervêm na vida sexual delas, bem como permitiu também relatar os preconceitos e tabus por elas vivenciados no passado e evidentemente também pela sociedade atual. É necessário que os idosos não sejam mais vistos como um grupo carente e submetido a um desprestigio social. Para entender a terceira idade e as necessidades e interesses dos idosos, é necessário considerar a perspectiva de vida, já que o envelhecimento é um processo dinâmico que dura por toda a vida. Chegar aos sessenta e cinco ou oitenta e cinco anos de idade não significa que uma pessoa seja velha, frágil, sem interesse por nada, esquecida ou solitária. Conclui-se assim, que a idéia de que as pessoas perdem suas habilidades sexuais, na medida em que envelhecem, não passa de um grande equívoco. A verdade é que o sexo, assim como várias atividades, vão se tornando menos necessárias, com a idade. O tabu, entretanto, é mantido pela desinformação e pela má interpretação das inevitáveis mudanças fisiológicas, que ocorrem nos indivíduos de mais idade. Ainda vale lembrar, que na maior parte das vezes, o fracasso sexual ou a evitação sexual é induzida pelo pessimismo e ansiedade gerada pela má informação. O fato de haver uma diminuição na freqüência das atividades sexuais, não significa fim da expressão ou do desejo sexual. Neste estudo, é necessário destacar a contribuição que esta pesquisa trouxe para a nossa vida profissional, foram momentos preciosos vivenciados com estas simpáticas senhoras que se prontificaram dentro de suas limitações a expor suas intimidades, a relatar seus momentos felizes e também os não tão felizes. Em diversos momentos os relatos foram capazes de provocar uma sensação de se estar abrindo um baú cheio de preciosidades, pérolas que estavam lá, guardadas e que de forma envolvente se transformaram em depoimentos apaixonantes. REFERÊNCIAS BEAUVOIR, S. A velhice. A realidade incomoda. São Paulo: Difel, 1976. BEAUVOIR,S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BODACHNE, L. Como envelhecer com saúde. 2 ed. Curitiba: Universitária Champagnat, 1996. BUTLER, R. LEWIS, M. Sexo e amor na terceira idade. São Paulo: Editora Summus, 1985. DANTAS, J.; SILVA, E.M.;LOURES, M.C. Lazer e sexualidade no envelhecer humano. Disponível em: <http://www.redadultosmayores.com.ar/buscador/files/FAMIL014.pdf>. Acesso em 29 mar. 2005. DEBERT, G. G.; SIMÕES, J. A. A aposentadoria e a invenção da terceira idade. Textos Didáticos: Antropologia e Velhice, 1994. FRUTUOSO, D. A terceira idade na universidade: Relacionamento entre gerações no 3º milênio. Rio de Janeiro: Âncora da Ilha, 1999. GIL, A. C. 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