quem foi que disse que na terceira idade não se faz sexo?

Propaganda
QUEM FOI QUE DISSE
QUE NA TERCEIRA
IDADE NÃO SE
FAZ SEXO?*
DALVA DE JESUS CUTRIM MACHADO**
Resumo: na sociedade moderna ainda existe uma percepção negativa do envelhecimento,
principalmente no que se refere a sexualidade do idoso. Na idade avançada também se conserva
a necessidade psicológica de uma atividade sexual contínua, até mesmo, porque a idade não
dessexualiza o ser humano. Porém, as falsas crenças, mitos e tabus é que dificulta falar da
sexualidade na terceira idade. Este estudo objetiva informar que a sexualidade não deixa de
ser exercida com o passar dos anos. No entanto, ocorrem modificações fisiológicas normais do
processo de envelhecimento. Observa-se que nesta fase o carinho, amor, companheirismo, a
afetividade, são igualmente valorizados. Portanto, sabe-se que a sexualidade inicia-se desde
a concepção e percorre todo o ciclo de vida da pessoa
Palavras-chave: Idoso. Sexualidade. Preconceito. Tabus.
D
esde o final do século XIX até os dias atuais, vem acontecendo uma revolução na
compreensão e na prática da sexualidade, inclusive na terceira idade. De acordo
com Ribeiro (2002) a sexualidade humana é um assunto cercado de tabus, um
tema impregnado de preconceitos principalmente na terceira idade. Percebe-se que a escassez de
informação sobre o processo de envelhecimento, assim como, as mudanças que ocorrem naturalmente na idade avançada, são fatores favorecedores para a manutenção de preconceitos, o que
poderia ter motivado a estagnação das atividades sexuais das pessoas idosas (RISMAN, 2005).
Corrobora com este entendimento Ballone (2007, p. 10) ao advertir que “nos idosos a função sexual está comprometida, em primeiro lugar pelas mudanças fisiológicas e
anatômicas do organismo produzidas pelo envelhecimento”.
* Recebido em: 10.10.2014. Aprovado em: 18.10.2014.
** Mestre em Psicologia. Professora de Graduação e Pós-Graduação e dos Cursos de Sexologia Forense
e Sexualidade Humana e Aspectos Biológicos do Envelhecimento Humano (UNATI) na Pontifícia
Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e Professora da Oficina Aspectos Biológicos do Envelhecimento
UNATI PUC Goiás. Psicóloga.
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 11-14, nov. 2014.
11
Para Cavalcanti (2006) é inegável que a terceira idade tem suas peculiaridades. O idoso
em nossa cultura pode sofrer psicologicamente pelas alterações fisiológicas, é natural a existência de
modificações na estrutura física, o sistema nervoso central está mais envelhecido e a resposta sexual
(desejo, excitação, orgasmo e resolução) ocorre com menor rapidez e intensidade.
No entanto, quando os idosos são informados que as mudanças sexuais nessa fase
são normais, e que são produzidas pelos ritmos biológicos da vida podem compreender que
não há interferência no desejo sexual e seus atrativos.
No passado, acreditava-se que tanto o homem quanto a mulher não tinham condições físicas e psicológicas para realizarem uma relação sexual segura e prazerosa. E ainda hoje,
de acordo com Capodieci (2000), para a sociedade os idosos não tem capacidade de exercerem
sua sexualidade. Grande engano: os idosos desejam, pensam e fazem sexo desde que existam
as condições de saúde necessárias, porque a sexualidade não se restringe a penetração, mas trata da interação harmoniosa, da afetividade e da relação interpessoal, como pontua Vidal (2002).
Além disso, é essencial na relação, o companheirismo, a paciência, respeito e compreensão das
limitações físicas e/ou emocionais do casal.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atualmente, existem no Brasil cerca de 21 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, o que
representa, aproximadamente, 11% da população.
Nessa perspectiva, no ano de 2020, o Brasil poderá situar-se entre as seis maiores
populações de idosos no mundo, com 33 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que
importará 14% da população.
Também é muito importante observar que o estatuto do idoso no Art. 2º diz
que: “O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental
e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e
dignidade”. Manter uma vida sexual ativa é componente inerente para assegurar que torne
efetiva plenamente sua dignidade.
Deste modo, Pascual (2002) ressalta a importância de compreendermos a sexualidade como parte essencial da vida do ser humano, e que ela gera benefícios para a saúde,
bem estar e a satisfação do idoso. Assim, é fundamental deixar claro que sexo gera qualidade de vida e que a sexualidade da pessoa não só se mantém, mas vai se transformando
ao longo da vida, e cada idade favorece formas diferentes de satisfação. A necessidade de
relacionar-se com outra pessoa, expressar sentimentos como abraçar e ser abraçado, não se
atrofia e nem desaparece com a idade.
Entende-se que o sucesso sexual na fase avançada está ligado à companhia e à
capacidade de expressar sentimentos genuínos de um para com o outro, numa atmosfera
de acolhimento, segurança, e outras formas de contato físico, conforme ressalta (ZIMERMAN, 2000).
O foco principal da relação não é somente o ato sexual em si (penetração), mas, a
oportunidade de expressar admiração e afeto, aliados à confirmação de um corpo funcional e
o prazer de tocar e ser tocado. Saber comportar-se é fator essencial no relacionamento sexual.
Neste sentido, Santos (2003) adverte que na idade avançada poderá ocorrer dificuldades sexuais, mas o cuidado e a intimidade exercem uma função de complementação muito
satisfatória no prazer. Além disso, o pleno exercício da atividade sexual pode gerar muito mais
12
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 11-14, nov. 2014.
do que prazer, ter uma pessoa para compartilhar, sentir-se amado e desejado, aumenta a autoestima, alivia as tensões, melhora a qualidade de vida e faz bem para qualquer pessoa adulta
de qualquer idade. Descobrir o que causa alegria torna mais satisfatória a relação.
Para resolver eventuais dificuldades sexuais devido ao envelhecimento, nada melhor que
cuidar do estado geral de saúde, melhorar qualidade de vida com atividade física, boa alimentação,
tratar a ansiedade e depressão, evitar o consumo de cigarro e álcool, participar de grupos sociais,
dialogar, cuidar da aparência, aceitar as mudanças e aproveitar o momento como realmente é!
De acordo com Cavalcanti (2006) a idade não dessexualiza o ser humano. Os idosos não precisam se anular em razão de preconceitos e tabus, devem se permitir namorar e
usufruir do ato sexual seguro fazendo uso de preservativos para evitar as doenças sexualmente
transmissíveis e vivenciar a sexualidade nesta etapa de suas vidas.
CONCLUSÃO
É importante salientar que o envelhecimento da população é um fenômeno social
incontestável. Basta observar ao nosso redor para percebermos que o crescimento da população avaliada como idosa, de 60 anos ou mais, já é uma realidade.
Percebe-se que um dos aspectos relacionados ao idoso que mais sofre preconceito
é a sexualidade. No entanto, com o desenvolvimento da sociedade, e a educação sexual, os
mitos e preconceitos passam a ser desmistificados no que se refere ao ato sexual do idoso.
Cabe ressaltar que o Brasil poderá situar-se entre as seis maiores populações de
idosos no mundo, no ano de 2020, com 33 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que
representará 14% da população total nacional.
Além disso, importante lembrar que na sociedade atual a pessoa idosa poderá
torna-se vítima de condicionamentos sociais, e como consequência o esquecimento de sua
subjetividade, suas experiências, sentimentos e emoções.
Nessa perspectiva, D’Alencar (2002) adverte que é necessário buscar uma nova
compreensão de velhice, que aponte meios para a valorização da vida em todas as dimensões:
afetiva, amorosa e sexual.
WHO WAS THAT SAID THE THIRD AGE SEX DOES NOT?
Abstract: in modern society there is still a negative perception of aging, especially with regard to
sexuality in the elderly. The elderly also retains the psychological need for continued sexual activity,
even, because age does not dessexualiza humans. However, the false beliefs, myths and taboos that
is difficult to speak of sexuality in old age. This study aims to inform that sexuality does not cease to
be exercised over the years. However, normal physiologic changes of aging occur. It is observed that
at this stage the affection, love, companionship, affection, are equally valued. Therefore, it is known
that sexuality starts from the design and covers the entire life cycle of the individual.
Keywords: Elderly. Sexuality. Prejudice. Taboos.
Referências
BALLONE, G. J. Sexo nos Idosos. PsiqWeb Psiquiatria Geral, 2002.
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 11-14, nov. 2014.
13
CAPODIECI, S. A idade dos sentimentos: amor e sexualidade após os sessenta anos. Tradução: Antônio Angonese. São Paulo: EDUSC, 2000.
CAVALCANTI, R.; CAVALCANTI, M. Tratamento clínico das inadequações sexuais. São
Paulo: Roca, 2006.
D’ALENCAR, R. S. Ensinar a viver, ensinar a envelhecer: desafios para educação de idosos.
Estudos interdisciplinares sobre envelhecimento. UFRGS, v. 4, Porto Alegre: Núcleo de Estudos
Interdisciplinares sobre o Envelhecimento da PROREXT/UFRGS, 2002.
MERCADANTE, E. F. Velhice: a identidade estigmatizada. Serviço social e sociedade. Velhice
e envelhecimento. Ano XXIV, n. 75, São Paulo: Cortez, 2003.
PASCUAL, C. P. A sexualidade do idoso vista com novo olhar. Tradução: Alda da Anunciação
Machado. São Paulo: Loyola, 2002.
RIBEIRO, A. Sexualidade na terceira idade. In: NETTO, M. P. Gerontologia. São Paulo:
2002.
RISMAN, A. Sexualidade e terceira idade: uma visão histórico-cultural. Textos sobre envelhecimento, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2005.
SANTOS, S. S. dos. Sexualidade e amor na velhice. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.
VIDAL, M. Ética da sexualidade. Tradução: M. S. Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
14
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 11-14, nov. 2014.
Download