APO Œ avaliação pós-ocupação uma cultura necessária

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IV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS
DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ
APO – avaliação pós-ocupação: uma cultura necessária
Viviane Frascareli Lelis
Aluna do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Unip – Universidade Paulista – Campus de Bauru
[email protected]
Eliseu Areco Neto
Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Unip – Universidade Paulista – Campus de Bauru
[email protected]
Ademar da Silva Lobo
Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil
Unesp – Universidade Estadual Paulista – Campus de Bauru
[email protected]
Cláudio Vidrih Ferreira
Professor do Curso de Engenharia Civil
Unesp – Universidade Estadual Paulista – Campus de Bauru
[email protected]
Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee
Resumo: APO – Avaliação Pós-Ocupacional envolve a avaliação sistemática
da opinião sobre edifícios em uso, sob o ponto de vista dos usuários. Avalia
como o edifício atende às necessidades dos ocupantes, identificando
maneiras de melhorar o projeto arquitetônico e o desempenho da edificação.
A avaliação é feita com relação ao entorno social; a construção em si; a
funcionalidade e o conforto ambiental, apontando as qualidades e as
deficiências principais. O trabalho envolve a avaliação do desempenho da
construção, a compreensão do comportamento humano, as necessidades,
expectativas e o grau de satisfação dos usuários. Faz um mapeamento das
anomalias congênitas, adquiridas e de comportamentos, a partir da
observação e registros fotográficos, assim como com base em dados sobre
composição familiar, infra-estrutura de serviços na região e serviços
públicos, sobretudo dos aspectos relacionados ao desempenho do edifício,
tais como iluminação, conforto termo-acústico, durabilidade dos materiais
empregados na construção, dimensão e distribuição do espaço construído.
Este trabalho enfatiza a importância do uso dessa metodologia em núcleos
habitacionais, por equipe multidisciplinar como sendo uma ferramenta
poderosa no sentido de oferecer parâmetros adequados para futuros
empreendimentos habitacionais, de tal forma que se possa oferecer melhor
qualidade de vida aos mutuários.
Avaliação pós-ocupação, desempenho da edificação, núcleo habitacional.
Seção 4 – Curso de Arquitetura e Urbanismo – Habitação
Apresentação: oral
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1. Introdução
Desde o início de sua existência, o homem se preocupa em construir
edificações que atendam às suas necessidades e com isso traça uma história
de evolução e revolução na arquitetura, a qual se sucede desde a Idade da
Pedra à Era Espacial na utilização de tijolos e argamassas, de acordo com
Carol Strickland, 2003.
Nesse sentido, criaram-se concepções e estilos arquitetônicos, os quais
se consagraram e se mostram até os dias de hoje nas mais diversas formas
de releitura. A partir disso, com o passar dos anos, surgem novos materiais e
sistemas construtivos, resultando em formas inovadoras no progresso da
história da arquitetura.
No Brasil, em razão da grande aplicação de alvenaria estrutural, ainda
predominante como sistema construtivo, as edificações em suas várias
etapas do processo de construção, bem como ao longo dos anos de
ocupação, podem apresentar falhas construtivas, remetendo a futuras
patologias em razão da predominante deficiência na execução,
comprometendo assim, a qualidade e a durabilidade dessas edificações.
A fim de reduzir o número de erros, muitas vezes possíveis de ser
evitados, é de suma importância, de acordo com Ornstein, 1992, estabelecer
rotinas de avaliação de programas sociais, particularmente para o caso dos
conjuntos habitacionais, levando em consideração o desempenho físico no
decorrer do uso e os níveis de satisfação dos usuários por meio de
questionários e/ou entrevistas com linguagem acessível, indagando aos
mesmos sobre a qualidade de vida que possuem nos ambientes em que
vivem.
Com isso, tem-se o intuito de verificar as anomalias congênitas ou
surgidas nas edificações e a partir disso, gerar diretrizes com parâmetros
mais precisos e coerentes a fim de obter projetos arquitetônicos melhor
elaborados para futuros empreendimentos.
Atualmente, apenas uma parcela dos países desenvolvidos possui
indicadores sobre a origem dos problemas patológicos nas construções. Em
países como a Bélgica, a Inglaterra, a Alemanha e a Dinamarca, de 36% a
49% das patologias encontradas durante o uso de um imóvel são
decorrentes de falhas de projeto, seguidas de 19% a 31% de patologias com
origem na execução. Tem-se conhecimento também de que a baixa qualidade
da mão-de-obra, no caso brasileiro, implica percentuais ainda mais elevados
de falhas na etapa de execução. (ORNSTEIN, 2003, p. 25)
Nesse sentido, surge o interesse em investigar a trajetória dos aspectos
de habitabilidade de residências populares de conjuntos habitacionais,
localizadas especificamente na região de Bauru, a fim de oferecer subsídios
de tal forma que futuros projetos arquitetônicos possam oferecer melhor
qualidade de vida aos seus usuários.
Com isso, pode-se dizer, conforme Ornstein 2003, que a qualidade se
caracteriza pela satisfação das necessidades dos usuários em relação a
determinado produto e/ou serviço, estando associado, pois ao desempenho
satisfatório dos ambientes construídos.
Com base nisso, os estudos sobre qualidade vem aumentando,
sobretudo na última década. No entanto, consoante Ornstein 2003, um
controle de qualidade pode ser colocado em prática por meio da metodologia
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denominada APO – Avaliação Pós-Ocupação, tendo esta, relevância desde a
década de 1960, a partir da qual, iniciaram-se pesquisas a fim de constatar
o desempenho dos ambientes construídos e o comportamento dos mesmos
ao longo de sua vida útil.
Para tanto, de acordo com Ornstein, 2003, APO diz respeito a uma série
de métodos e técnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos do
ambiente, em relação ao comportamento que o mesmo reproduz na
qualidade de vida de seus usuários, avaliando com isso, a satisfação desses
em habitar determinada edificação, no decorrer dos anos.
Assim, pode-se dizer que a APO avalia, entre outros, os sistemas
construtivos, questões de conforto térmico, dimensões espaciais e o entorno,
levando em consideração a opinião, principalmente dos usuários.
Frisa-se que é de fundamental importância a verificação do processo de
concepção, implantação, soluções arquitetônicas, no que tange os conjuntos
habitacionais, visto que são parte integrante da malha urbana, ou seja,
fazem parte direta do processo de construção e evolução urbana.
2. Patologias construtivas e núcleos habitacionais
De acordo com Ferreira et al, 2003 a habitação popular sempre se
destacou como um dos pontos altos em qualquer programa de governo,
principalmente no âmbito Municipal e Estadual. Os primeiros programas de
habitação de baixo custo, surgidos na metade do século 20, quando a
expansão do proletariado urbano exigiu sua criação, marcou o papel do
Estado na oferta da habitação no sentido de reduzir o déficit habitacional,
destacando-se a criação BNH – Banco Nacional de Habitação, durante a
ditadura militar.
Afirmam esses pesquisadores que neste contexto, o SFH foi concebido
com o principal objetivo de fornecer moradia à população de baixa renda,
pois o sonho da casa própria é um dos principais anseios de qualquer
pessoa e condição básica para a conquista da cidadania, dignidade e autoestima.
Ressaltam os autores que, de forma geral, o enfoque primordial dos
programas de Habitação de interesse social sempre esteve mais voltado ao
número de unidades, ao invés de qualidade do atendimento às Normas e boa
técnica de Engenharia. Neste sentido, a busca da redução do déficit
habitacional não se reflete na preocupação em oferecer à população de baixa
renda, obras de qualidade suficiente para cumprir as condições mínimas de
solidez e segurança ao longo de sua vida útil. O resultado, em inúmeros
casos, são obras construídas ao arrepio das Normas e inobservância dos
memoriais descritivos, dentre outros.
A gravidade da situação e a falta de ação dos agentes envolvidos
resultaram numa seqüência, iniciada em Santa Catarina, no ano de 2000,
inúmeras ações ajuizadas em diversas cidades do Estado de São Paulo, nas
quais litigam os Mutuários do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e a
Seguradora estipulada pela Cohab – Companhia de Habitação Popular de
Bauru.
O conhecimento do comprometimento prematuro das condições de
segurança e habitabilidade de inúmeras unidades populares de núcleos
habitacionais na região de Bauru têm motivado propostas de trabalhos de
iniciação científica e de conclusão de curso, orientados por professores do
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curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Unesp - campus
de Bauru.
A escolha dos locais para desenvolvimento dessas pesquisas é feita após
análise de reclamações de moradores e reportagens nos jornais da cidade.
Os mapas da cidade e da região dos núcleos auxiliam o traçado das
estratégias a serem utilizadas na condução dessas investigações. Após a
obtenção de informações do tipo de fundação utilizado nos núcleos escolhido
e das plantas dos imóveis, é elaborado e aplicado um questionário numa
amostra aleatória de moradores dos locais.
A análise quantitativa de inúmeros trabalhos investigativos aponta que
grande parte das habitações estudadas, se encontra afetada por fissuras
trincas e rachaduras, problemas de infiltrações e/ou vazamentos.
As pesquisas permitem concluir que, utilizações de fundações rasas,
tipo sapata corrida ou radier, adotadas como suporte das construções são
inadequadas e responsáveis por graves recalques em inúmeras habitações.
Tais fatos são agravados por freqüentes infiltrações de água no terreno que
face ao caráter colapsível do solo, agrava o mau comportamento das
fundações acentuando os recalques existentes, estampando nas paredes
trincas e rachaduras que comprometem o pleno desempenho dos imóveis e
podem colocar em risco a vida e a integridade física dos moradores e
usuários.
Outra patologia freqüente é existência de trincas e rachaduras nos
pisos, principalmente nas passagens de portas, devido à acomodação do
aterro ou solapamento do piso. Esse comportamento acaba possibilitando
o aparecimento de frestas na ligação piso/paredes externas, favorecendo a
invasão de águas pluviais para o interior das edificações e rachaduras na
calçada de concreto que margeia as residências favorecendo a infiltração
de água no solo de fundação e agravando o quadro de patologia.
Provavelmente, a campeã de mau desempenho seja a cobertura dessas
edificações, a maioria executada às margens das Normas e boa prática de
Engenharia, apresenta-se com excessivas deformações nas peças que se
refletem em saliências, reentrâncias, ondulações e excessivas deformações
no pano do telhado provocadas por dimensões inadequadas das peças aliada
à deficiências nas ligações e mão-de-obra não qualificada. Esses fatores
favorecem a infiltração de água e conseqüente aumento de umidade da
madeira, criando condições para o desenvolvimento de fungos e bactérias
que geram a putrefação ou podridão das peças.
3. Avaliação pós-ocupação em núcleos habitacionais
A proposta deste trabalho consiste, primordialmente, difundir a cultura
da APO – Avaliação Pós-Ocupação em núcleos habitacionais e enfatizar a
importância do trabalho ser realizado por equipe multidisciplinar formada
notadamente por Arquitetos e Engenheiros com o objetivo de verificar o
desempenho do edifício ao longo de sua existência, a partir de relatos dos
usuários diretos e de verificações “in loco”.
Propõe-se analisar as condições de habitabilidade e funcionalidade de
um determinado percentual de moradias de cada núcleo escolhido, tanto as
que permanecem originais, bem como as modificadas pelos próprios
moradores, com o objetivo de adaptá-las às características do formato do
grupo familiar usuário.
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Sugere-se que numa primeira etapa sejam feitas visitas à Cohab e à
Prefeitura do município, com o objetivo de obter informações a respeito do
local e do entorno escolhido para o estudo, nas quais podem ser obtidos
projetos de implantação do núcleo e plantas tipos das unidades
habitacionais.
Em uma fase posterior, deve ser feitos questionários de fácil linguagem
que serão respondidos pelos usuários das residências escolhidas, utilizando
critérios científicos de visitas “in loco”, procurando não influenciar o
pesquisado, deixando-o livre para se expressar seu sentimento sobre o
aspecto pesquisado da forma mais fiel possível.
Essas visitas permitirão obter detalhes preciosos para uma profunda
análise do grau de satisfação em termos do projeto arquitetônico (dimensões
espaciais), conforto térmico (questão da localização do edifício no lote, com
base na posição solar e influência eólica), como também a satisfação desses
moradores com o entorno onde vivem e sobre a qualidade dos serviços
públicos como segurança, fornecimento de água, de luz, coleta de lixo, coleta
seletiva, TV a cabo, etc.
Além disso, atenção deve ser dada, com minuciosa inspeção aos
problemas patológicos das edificações, tanto às decorrentes de falhas de
projeto, como as originárias por falha na execução ou advindas de má
qualidade dos materiais empregados.
A verificação pode ser iniciada pelo comportamento das fundações –
normalmente rasas (sapatas corridas ou radier), cujo mau comportamento
usualmente se reflete nas alvenarias com surgimentos de trincas e
rachaduras inclinadas a 45 graus. É indispensável associar as patologias
encontradas ao ambiente da habitação se seco ou úmido, se a edificação
estiver apoiada em cortes ou aterros ou se estiver associada à má condição
de drenagem do terreno.
Posteriormente, deve-se verificar o comportamento da estrutura,
sobretudo na alvenaria estrutural e na estrutura da cobertura, usualmente
utilizando madeira, cujo mau comportamento ocasiona excessivas
deformações nas peças, ocasionando saliências, reentrâncias, ondulações e
excessivas deformações no pano do telhado, favorecendo infiltração de água.
Não menos importante é a verificação dos revestimentos do piso e
paredes, o funcionamento adequado das ligações de água, esgoto e luz e se
as portas e janelas abrem e fecham de forma adequada e se vedam de forma
satisfatória.
Todas as patologias devem ser fotografadas e mapeadas na habitação e
os dados obtidos nos questionários aplicados, assim como toda e qualquer
observação “in loco” deverão ser organizados e analisados em forma de
relatório.
Esse relatório, indubitavelmente, proporcionará uma clareza dos fatos
presentes no universo dos núcleos habitacionais escolhidos para pesquisa,
fazendo com que seja repensada a maneira como são executadas as
habitações sociais a fim de atender à nova configuração dos grupos
familiares, advinda da transformação do modo de vida da sociedade.
Poderá ser proposto intervenções no projeto original, em relação à
questão da habitabilidade com o objetivo de que núcleos habitacionais
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ofereçam residências mais dignas, favorecendo um melhor desenho urbano
para a comunidade local, bem como para o município de um modo geral.
4. Engenheiro e arquiteto: uma relação de soma
Trabalhos como esse, têm envolvido muitos alunos e professores do
Curso de Engenharia, limitando-se à verificação do comportamento das
fundações, das alvenarias estruturais (nas quais não se utilizam vigas e
pilares), e de cobertura. Nestes são dadas pouca ou nenhuma atenção à
verificação da satisfação do usuário quanto ao ambiente construído, conforto
térmico, concepção arquitetônica e o entorno da edificação.
Esse tipo de comportamento é típico da formação do Engenheiro,
acostumado desde o início do curso a pensar em números, com uma
verdadeira enxurrada de disciplinas de cálculo e física, além de inúmeras
outras com enfoque excessivamente tecnológico. Por outro lado na formação
do Arquiteto existe maior equilíbrio entre tecnologia, humanidade e meio
ambiente. O arquiteto tem melhor compreensão do inter-relacionamento
entre o homem e o seu ambiente em níveis psicológico, social e cultural.
Com isso, para que um trabalho de Avaliação Pós-Ocupação atinja
plenamente seus objetivos é importante ter-se uma equipe multidiciplinar: o
Engenheiro com o conhecimento tecnológico associado ao Arquiteto com
criatividade e visão humanística, obtendo-se uma complementação de
conhecimentos na área de habitação e inclusão social. Assim sendo, essa é a
proposta desse trabalho.
5. Considerações finais
Pode-se dizer que um primeiro passo já foi dado em relação ao tema
proposto, a partir do envio de projeto de pesquisa com tema correlato a um
conhecido Órgão de Fomento no país, tendo como equipe três dos autores do
presente trabalho.
Seria oportuno frisar a importância em engenheiros e arquitetos se
unirem para uma maior divulgação da metodologia APO em habitações
populares, a fim de frisar a relevância social da mesma para pesquisas, bem
como para trabalhos de conclusão de graduação e/ou projetos de pesquisa.
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