UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI Departamento de Economia e Contabilidade Departamento de Estudos Agrários Departamento de Estudos da Administração Departamento de Estudos Jurídicos CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO LUÍS CARLOS SCHNEIDER DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS COMO ESTRATÉGIA DE COMPETITIVIDADE: ESTUDO DE CASO EM UMA AGROINDÚSTRIA DO MUNICÍPIO DE SÃO MARTINHO-RS Ijuí (RS) 2011 1 LUÍS CARLOS SCHNEIDER DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS COMO ESTRATÉGIA DE COMPETITIVIDADE: ESTUDO DE CASO EM UMA AGROINDÚSTRIA DO MUNICÍPIO DE SÃO MARTINHO-RS Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação Stricto Sensu (Mestrado) em Desenvolvimento, área de concentração: Gestão de Organizações para o Desenvolvimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJUÍ, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Orientadora: Drª Lurdes Marlene Seide Froemming Ijuí (RS) 2011 2 Catalogação na Publicação S359d Schneider, Luis Carlos. Desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade : estudo de caso em uma agroindústria do município de São Martinho - RS / Luis Carlos Schneider. – Ijuí, 2011. – 193 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento. “Orientadora: Lurdes Marlene Seide Froemming”. 1. Desenvolvimento de novos produtos. 2. Estratégia de competitividade. I. Froemming, Lurdes Marlene Seide. II. Título. III. Título: Estudo de caso em uma agroindústria do município de São Martinho - RS. CDU: 658.624 Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/ 1879 UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS COMO ESTRATÉGIA DE COMPETITIVIDADE: ESTUDO DE CASO EM UMA AGROINDÚSTRIA DO MUNICÍPIO DE SÃO MARTINHO - RS elaborada por LUIS CARLOS SCHNEIDER como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento Banca Examinadora: Profª. Drª. Lurdes Marlene Seide Froemming (UNIJUÍ): _______________________ Prof. Dr. Pedro Augusto Pereira Borges (UFFS): ____________________________ Prof. Dr. Sérgio Luis Allebrandt (UNIJUÍ): __________________________________ Ijuí (RS), 09 de maio de 2011. Dedico esta conquista como gratidão aos meus pais e a minha noiva Priscila, pelo amor, carinho, compreensão, companheirismo e estímulo que sempre me ofereceram durante esta etapa importante da minha vida. 2 AGRADECIMENTOS Agradecimentos especiais à professora e orientadora, Doutora Lurdes Marlene Seide Froemming, estimada pela sua competência, presteza e colaboração. Aos professores do Curso de Mestrado em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), por suas contribuições. Ao professor Ivo Ney Kuhn (UNIJUÍ), pela confiança e oportunidade de estágio. Aos colegas do Curso de Mestrado em Desenvolvimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), por suas contribuições, pelo companheirismo e amizade. Muito Obrigado! 3 A DEUS “EU PEDI FORÇA... E DEUS ME DEU DIFICULDADES PARA ME FAZER FORTE; EU PEDI SABEDORIA... E DEUS ME DEU PROBLEMAS PARA RESOLVER; EU PEDI PROSPERIDADE... E DEUS ME DEU CÉREBRO E MÚSCULOS PARA TRABALHAR; EU PEDI CORAGEM... E DEUS ME DEU PERIGO PARA SUPERAR; EU PEDI AMOR... E DEUS ME DEU PESSOAS COM PROBLEMAS PARA AJUDAR; EU PEDI FAVORES... E DEUS ME DEU OPORTUNIDADES; EU NÃO RECEBI NADA DO QUE PEDI... MAS RECEBI TUDO DE QUE PRECISAVA.” (Anônimo) 4 RESUMO A inserção das organizações agroindustriais em um ambiente instável, competitivo e turbulento requer a utilização de estratégias na gestão para a sua sobrevivência. Nesse contexto, o estudo objetivou analisar o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade dentro de uma organização agroindustrial. Para tanto, o levantamento bibliográfico desta pesquisa focalizou as perspectivas contemporâneas do agribusiness, os conceitos de desenvolvimento, as estratégias de competitividade, o marketing e seus conceitos, enfocando as técnicas de desenvolvimento de novos produtos. O estudo aplicado foi desenvolvido com base na pesquisa qualitativa e quantitativa. A pesquisa foi classificada como descritiva, exploratória, bibliográfica e estudo de caso. A coleta de dados envolveu um roteiro de entrevistas semiestruturado aplicado aos diretores, gerentes, comerciantes varejistas e consumidores a fim de identificar a percepção desses quanto à situação atual da empresa e em relação ao planejamento futuro. Para continuar competindo e conseguir vantagem neste mercado, a empresa optou por atuar em mercados atuais com novos produtos, utilizando para isso a abordagem de cima para baixo, ou seja, observando condições, aptidões e recursos disponíveis na empresa. Os resultados apontaram que os produtos desenvolvidos como estratégia de competitividade obtiveram considerável aceitação por parte dos estabelecimentos varejistas e dos consumidores. A análise do desenvolvimento dos novos produtos na empresa permitiu concluir que, com a mesma infraestrutura e o mesmo custo fixo é possível proporcionando um maior volume e variedade de produtos apontados como necessários para o aumento da competitividade da organização. O incremento dos novos produtos possibilitará ainda o abastecimento dos estabelecimentos varejistas com os produtos da linha de derivados de cana de açúcar e amendoim, possibilitando assim o trabalho de marketing a fim de buscar a exclusividade da empresa no fornecimento destes produtos. Palavras-chave: Desenvolvimento Competitividade. Agronegócio. de novos produtos. Estratégia de 5 ABSTRACT The insertion of agro industrial organizations on an instable, competitive and turbulent environment requires the use of management strategies for their survival. In this context, this study had as its main objective to analyze the development of new products as a competitive strategy in an agro industrial organization. Therefore, this research’s bibliographical inventory focused on the agribusiness contemporary perspectives, the concepts of its development, competitive strategies, marketing and its concepts, focusing on techniques to develop new products. The applied study was developed based on qualitative and quantitative research. The research was classified as descriptive, exploratory, bibliographical and case-study. Data collection involved a series of semi-structured interviews applied to directors, managers, retailers, and consumers, aiming to identify their perception regarding the current situation of their company in relation to future planning. To keep competing and to shine ahead in this market, the company opted for working in current markets with new products, using a vertical approach, from top to bottom, as a tool to accomplish such goal, it means, to observe conditions, capabilities and available resources for the company. The results have shown that the developed products as a competitive strategy had a considerable acceptance by the retail businesses companies as well as by the consumers. The analysis about new product development in the company allowed the following conclusion, in which with the same infra-structure and fixed cost, it was possible to increase the cash flow, also allowing a higher volume of financial resources for necessary investments to increase the organization’s competitiveness. In addition, the implementation of new products will make the supply chain for retail businesses with new line products derived from sugar cane and peanuts possible; and therefore allowing some marketing work aiming to reach the company exclusivity to supply such products. Key words: New products development. Competitive strategy. Agribusiness. 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Mudança no paradigma de desenvolvimento ...........................................21 Quadro 2: As correntes explicativas da vantagem competitiva .................................49 Quadro 3: Legenda matriz de identificação estratégica ..........................................143 Quadro 4: Cronograma de avaliação dos gestores .................................................160 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Cinco forças competitivas de Porter...........................................................52 Figura 2: Estratégia produto-mercado segundo Ansoff .............................................60 Figura 3: Principais agentes e forças em um moderno sistema de marketing ..........65 Figura 4: O conceito total de produto. .......................................................................69 Figura 5: O diagrama de entrada e saída para “desenvolver o produto”...................73 Figura 6: Funil de decisões, mostrando o processo convergente da tomada de decisões, com a redução progressiva dos riscos. .....................................82 Figura 7: Ciclo de vida do produto.............................................................................84 Figura 8: Duas abordagens para o desenvolvimento do produto. .............................87 Figura 9: Matriz das perspectivas para o processo de desenvolvimento de novos produtos. ...................................................................................................91 Figura 10: Localização Geográfica Doces Müller Indústria e Comércio LTDA ........111 Figura 11: Estratégia produto-mercado segundo Ansoff (adaptado).......................120 Figura 12: Duas abordagens de desenvolvimento do produto (adaptado)..............121 Figura 13: Matriz de identificação estratégica .........................................................140 Figura 14: Estratégia produto-mercado Doces Müller com base no modelo de Ansoff ....................................................................................................147 Figura 15: Tipos de produtos no portfólio................................................................151 Figura 16: Display de balcão ...................................................................................159 Figura 17: Rack expositor .......................................................................................159 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Síntese da Intenção de compra – Comerciantes Varejistas ...................124 Gráfico 2: Avaliação sensorial média do sabor .......................................................127 Gráfico 3: Avaliação sensorial média do sabor por faixa etária...............................128 Gráfico 4: Avaliação sensorial média do sabor, por sexo........................................130 Gráfico 5: Avaliação perceptual média da aparência ..............................................131 Gráfico 6: Avaliação perceptual média da aparência por faixa etária......................132 Gráfico 7: Avaliação perceptual média da aparência por sexo................................133 Gráfico 8: Avaliação perceptual média da embalagem ...........................................135 Gráfico 9: Avaliação perceptual média da embalagem por faixa etária...................136 Gráfico 10: Avaliação perceptual média da embalagem por sexo...........................137 Gráfico 11: Consumo atual dos produtos pesquisados ...........................................139 Gráfico 12: Intenção de compra ..............................................................................140 Gráfico 13: Sugestões de novos produtos ..............................................................140 9 LISTA DE ABREVIATURAS ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness APEX-Brasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos EPIs - Equipamentos de Proteção Individual FIFO - First In – First Out PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PEIEX - Projeto Extensão Industrial Exportador PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. QFD - Desdobramento da Função de Qualidade SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................16 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA.........................................................................18 1.1 Apresentação do Tema ....................................................................................15 1.2 Delimitação do Tema........................................................................................15 1.3 Problema de Pesquisa......................................................................................16 1.4 Justificativa .......................................................................................................17 1.5 Objetivos...........................................................................................................19 1.5.1 Objetivo Geral..........................................................................................19 1.5.2 Objetivos Específicos ..............................................................................19 2 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................20 2.1 Desenvolvimento..............................................................................................20 2.1.1 Definições de Desenvolvimento e Dimensões ........................................20 2.1.2 Pressupostos do Desenvolvimento .........................................................27 2.1.3 Desenvolvimento Local e Agricultura Familiar.........................................32 2.1.4 A Agroindustrialização Familiar de Pequeno Porte .................................37 2.1.5 A Expansão do Setor Agroindustrial Brasileiro........................................43 2.1.6 A Influência das Organizações Agroindustriais no Desenvolvimento Brasileiro .............................................................................................44 2.2 Estratégias Competitivas.................................................................................45 2.2.1 Cinco Forças Competitivas de Porter .....................................................51 2.2.2 Matriz de Ansoff......................................................................................58 2.3 Marketing e seus Conceitos .............................................................................60 2.3.1 Evolução do Marketing ............................................................................60 2.3.2 Definições de Marketing ..........................................................................62 11 2.3.3 Plano de Marketing..................................................................................69 2.3.3.1 Tipos de Planos...........................................................................70 2.3.3.2 Metodologias Utilizadas...............................................................70 2.4 Desenvolvimento de Novos Produtos...............................................................68 2.4.1 Definição de Produto ...............................................................................68 2.4.2 Diferenciação de Produto ........................................................................69 2.4.3 Definição de Desenvolvimento de Novos Produtos.................................71 2.4.4 Projetar e Desenvolver Novos Produtos..................................................74 2.4.5 Desenvolvimento Simultâneo de Produto................................................80 2.4.6 Funil de Decisões ....................................................................................81 2.4.7 Ciclo de Vida do Produto.........................................................................83 2.4.8 Abordagens para o Desenvolvimento de Novos Produtos ......................86 2.4.8.1 Abordagem a Partir do Cliente (de Baixo para Cima)...................90 2.4.8.2 Abordagem a Partir da Empresa (de Cima para Baixo) ................92 2.4.9 Matriz de Relacionamento das Duas Abordagens para o Processo de Desenvolvimento de Novos Produtos.......................................................93 2.4.9.1 Processo Receptor para Desenvolvimento de Novos Produtos ...94 2.4.9.2 Processo Foco no Cliente para Desenvolvimento de Novos Produtos .......................................................................................95 2.4.9.3 Processo Foco na Empresa para Desenvolvimento de Novos Produtos .......................................................................................96 2.4.9.4 Processo Proativo para Desenvolvimento de Novos Produtos......96 3 METODOLOGIA.....................................................................................................96 3.1 Classificação da Pesquisa................................................................................96 3.1.1 Quanto à Natureza ..................................................................................97 3.1.2 Quanto à Abordagem ..............................................................................97 3.1.3 Quanto aos Objetivos ..............................................................................97 3.1.4 Quanto aos Procedimentos Técnicos......................................................98 3.1.5 Universo, Sujeitos da Pesquisa e Amostra..............................................99 3.1.6 Método de Coleta de Dados..................................................................100 3.1.7 Instrumentos de Coleta dos Dados .......................................................102 3.1.8 Procedimento da Coleta de Dados........................................................103 3.1.9 Sistematização dos Dados ....................................................................105 12 4 ESTRATÉGIAS NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS ................107 4.1 Contexto Organizacional ................................................................................107 4.2 Identificação Estratégica da Empresa no Modelo PEIEX ...............................108 4.2.1 As Práticas de Gestão – Avaliação PEIEX............................................112 4.3 A Empresa e sua Percepção Estratégica .......................................................115 4.4 A Estratégia e o Desenvolvimento de Novos Produtos ..................................116 4.5 Estabelecimentos Varejistas e os Novos Produtos ........................................118 4.6 Consumidores e os Novos Produtos ..............................................................122 4.6.1 Análise Sensorial: Sabor ........................................................................124 4.6.2 Análise Perceptual: Aparência ...............................................................128 4.6.3 Análise Perceptual: Embalagem ............................................................131 4.6.4 Pesquisa de Consumo e Intenção de Consumo ....................................135 5 PROPOSIÇÕES COM BASE NA PESQUISA......................................................139 5.1 Propostas Estratégicas Avaliação Empresa...................................................139 5.1.1 Propostas PEIEX...................................................................................142 5.1.2 Propostas da Pesquisa..........................................................................146 5.2 Propostas Estratégicas Avaliação Estabelecimentos Varejistas ....................145 5.2.1 Proposta de Plano de Marketing ...........................................................149 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................159 REFERÊNCIAS.......................................................................................................165 ANEXOS .................................................................................................................179 13 INTRODUÇÃO O cenário mundial vivenciado pelas organizações nos últimos tempos tem sido altamente competitivo e turbulento. A abertura dos mercados e o aumento da competitividade têm afetado o cotidiano organizacional e exercido significativa influência na definição do ambiente interno. Isso requer dos gestores inovação, flexibilidade, agilidade e competência para repensar as estratégias e reformular os métodos e processos administrativos utilizados. As organizações sentem necessidade de abandonar as estruturas tradicionais caracterizadas pelas hierarquias formais para se adequarem ao cenário contemporâneo dos negócios no qual a incerteza emerge como fator preponderante. Neste contexto de transformação organizacional, encontram-se inseridas as organizações do setor agroindustrial, cuja atividade é considerada parte integrante de uma extensa rede de agentes econômicos que inclui desde a produção de insumos, transformação industrial até a estocagem e distribuição dos produtos agrícolas e seus derivados. As ideias que geraram metodologias de análise para os estudos dos problemas relacionados ao sistema agroindustrial tiveram origem nos Estados Unidos, por meio dos trabalhos desenvolvidos por Davis e Goldberg, em 1957, a quem coube a criação do conceito de agribusiness. No Brasil, os complexos agroindustriais foram constituídos na década de 60 com a industrialização do campo, impulsionada por políticas de modernização agrícola. O desenvolvimento das organizações agroindustriais no final do século XX representou a expansão do setor no país. Contudo, tais organizações necessitam planejar de maneira estratégica para competir e alcançar os resultados que desejam. Este estudo se organiza em cinco partes distintas, mas ao mesmo tempo complementares. A primeira configura-se na contextualização do estudo, com a 14 apresentação do tema e sua respectiva delimitação e a problematização da pesquisa. Em seguida é apresentado a justificativa e por fim são apresentados o objetivo geral e os respectivos objetivos específicos que deram direcionamento à realização desta investigação. A segunda seção diz respeito à fundamentação teórica da pesquisa, na qual são abordados os aspectos conceituais, de acordo com a percepção de diversos autores, relativos ao agribusiness, conceituação do desenvolvimento, das estratégias de competitividade e do marketing, enfocando o desenvolvimento de novos produtos. Na terceira seção, são explicados os aspectos metodológicos da pesquisa, os quais foram escolhidos para a fundamentação do estudo e para nortear toda a sua elaboração. Na quarta seção, é exibido um estudo prospectivo e prescritivo na empresa agroindustrial Doces Müller Indústria e Comércio LTDA, a partir dos questionários e entrevistas com os gestores e colaboradores. Nela é caracterizada a organização do presente estudo, bem como a estruturação da pesquisa, a análise dos dados, seus resultados e as estratégias competitivas adotadas a partir da percepção que o autor teve dos dados coletados. A seguir é exposta a interpretação teórica, em que são retomadas algumas fundamentações apresentadas na segunda parte deste estudo e que dão suporte a sua interpretação sob o enfoque do desenvolvimento a partir de um processo endógeno e sob a lógica das estratégias de competitividade. A quinta parte aborda as propostas e sugestões apresentadas à empresa objeto do estudo de caso como forma auxiliar no processo de desenvolvimento de novos produtos e estratégias de competitividade. Na última parte são tecidas as conclusões e considerações finais deste estudo e evidenciam-se as principais contribuições teóricas e práticas e suas limitações. Por fim, indica futuras pesquisas que poderão ser realizadas a partir das possibilidades evocadas a partir deste estudo. 15 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO A contextualização do estudo desenvolvido na sequência compreende a exposição do tema abordado na pesquisa, os objetivos geral e específicos, a apresentação da questão investigada e a manifestação das razões teóricas e práticas que justificam a importância de sua realização. 1.1 Apresentação do Tema As mudanças ambientais estão presentes em todos os segmentos do mercado. A concorrência global, a mutação da economia mundial, as exigências do mercado, o aumento das responsabilidades sociais entre outras vêm forçando todos os segmentos a buscarem alternativas que garantam sua sobrevivência. Situações semelhantes são enfrentadas pelas agroindústrias que necessitam estar atentas não só ao seu ambiente interno, mas principalmente ao ambiente externo para tomarem decisões que busquem maior eficiência e eficácia nas suas atividades tornando-as assim competitivas no mercado. Segundo Moreira (2005), a crescente globalização e competitividade internacional têm influenciado o processo de desenvolvimento de novos produtos. Seguindo neste mesmo raciocínio, Costa (2006) defende que o bom desempenho empresarial é resultado de um contínuo processo de desenvolvimento dos produtos e da adequada gestão das suas características. Desta forma, o tema em estudo consiste em: desenvolvimento de novos produtos como fator competitivo para atividade agroindustrial. 1.2 Delimitação do Tema O tema do estudo abrange o desenvolvimento de novos produtos como fator de competitividade num estudo de caso com a agroindústria Doces Müller Indústria e Comércio Ltda, localizada no município de São Martinho - RS. 16 1.3 Problema de Pesquisa A ocorrência de sucessivas transformações no cenário mundial tem provocado alterações no perfil da sociedade, nas organizações, e na forma de gestão dos negócios. As organizações enfrentam uma invasão crescente de novas tecnologias que causam verdadeiras revoluções no ambiente em que estão inseridas e exigem dos gestores maior agilidade, flexibilidade, inovação, competência e capacidade de adaptação. Nas organizações, essas mudanças são impulsionadas pelo ambiente altamente competitivo e turbulento que, aliado às expectativas dos stakeholders1, influencia na formatação do ambiente organizacional interno. Novas estratégias organizacionais são fundamentais no desenvolvimento das atividades e alteram os processos organizacionais à medida que alguns padrões gerenciais e operacionais não são mais aceitos. O modelo de gestão adotado e as decisões tomadas em seus diferentes níveis é que determinam a utilização adequada dos recursos para atingir os objetivos determinados. Diante desse cenário, as organizações necessitam de uma alta capacidade de gestão para lidar com essas mudanças do ambiente e para alcançar bons resultados. Neste contexto, o alinhamento organizacional, como um processo contínuo de adaptação e mudança, torna-se fundamental, já que a competitividade aumenta, e as organizações não podem mais desperdiçar esforços com processos que não atendem às necessidades dos clientes ou com pessoas que não compreendem e contribuem para a realização de sua estratégia (PRIETO, 2000). Assim como as demais organizações, as do setor agroindustrial também necessitam adaptar-se internamente ao ambiente externo, altamente dinâmico. Precisam atender às exigências do mercado e buscar vantagem competitiva (PORTER, 1986; O’BRIEN, 2004). No que tange às agroindústrias, pode-se usar como exemplo a Sadia, marca consagrada de alimentos que teve em seu início uma produção modesta, até mesmo artesanal, antes de tornar-se uma grande potência industrial e exportadora. Vários foram os fatores que levaram esta e outras empresas da posição de micro/pequenas Grupos ou indivíduos que são direta ou indiretamente afetados pela busca de uma organização aos seus objetivos (STONER; FREEMAN, 1995). 1 17 para grandes empresas, dentre eles a capacidade de percepção do mercado, a capacidade de inovação, desenvolvimento e lançamento de novos produtos. Quando salientados o desenvolvimento e o lançamento de novos produtos, podem ser utilizadas as conclusões de Griffin (1997 apud COSTA, 2006) que apontam o fato de que 49% do crescimento das empresas bem-sucedidas é devido ao adequado lançamento de novos produtos, enquanto estes eram responsáveis por apenas 24% do crescimento das vendas das empresas menos bem sucedidas. Ou seja, os novos produtos eram responsáveis por uma pequena parte dos insucessos das empresas e por outro lado contribuíam em grande escala para o crescimento das empresas bem sucedidas. Após essas reflexões, o problema da pesquisa se expressa na seguinte questão: De que maneira o desenvolvimento de novos produtos pode contribuir para a competitividade da atividade agroindustrial? 1.4 Justificativa No universo das diferentes temáticas apresentadas no decorrer do Programa de Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUI, na linha de pesquisa da gestão de organizações para o desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, optou-se por pesquisar o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade a partir do seu contexto e dimensões em uma organização do setor agroindustrial devido a sua importância para a efetividade dessa organização e pela importância de tais organizações na economia local e regional. O presente estudo encontra-se alinhado com o Núcleo de Estudos em Marketing do programa Marketing e Desenvolvimento. Assim como os demais setores, o agroindustrial vem se tornando cada vez mais competitivo. Isso tem chamado a atenção de muitos pesquisadores que empreendem estudos no campo de organizações agroindustriais sob uma perspectiva econômica (VAN DUREN; MARTIN; WESTGREN, 1991; SILVA; BATALHA, 1999; BATALHA; SILVA, 2001; LUCCHESE; BATALHA, 2003; RIBEIRO, 2003; RAMA; ALFRANCA; TUNZELMANN, 2003). A dinamicidade do ambiente exige que as organizações inseridas neste setor incorporem novas práticas organizacionais de integração interna em busca de um alinhamento com as condições externas (CUNHA; SENGER; SENGER, 2004). 18 No Brasil, a grande maioria dos produtos exportados são in natura, commodities ou nos primeiros níveis de processamento (NEVES; CHADDAD; LAZZARINI, 2000), porém o país tem potencial para industrializar esses produtos e exportá-los para vários mercados. Nesta perspectiva, os fatos indicam que não é apenas na ausência da atividade de marketing que reside o problema da conquista de mercados, mas na iniciativa de beneficiar e exportar o produto pronto para consumo. Existem iniciativas de beneficiamento de produtos rurais para comercialização dentro de suas próprias regiões. São produtos que, uma vez no ponto-de-venda, concorrem com os grandes produtores, com produtos de outras localidades além, é claro, dos importados. Essa concorrência implica a necessidade de estratégias mais eficientes que busquem privilegiar a produção nacional, regional e local e que os diferenciem dos demais. No intuito de privilegiar a produção nacional, deve-se valorizar as raízes culturais, e para isso destacam-se outras áreas do conhecimento a serem pesquisadas, tais como a psicologia e a antropologia, que fornecem ferramentas para análise do comportamento e do perfil dos consumidores, e também aportes para o trabalho de desenvolvimento de novos produtos agroindustriais. Sendo assim, o planejamento de novos produtos não é uma atividade isolada. Uma série de fatores devem ser levados em consideração na fase que antecede o projeto, que implica um profundo conhecimento das ferramentas de marketing, área do conhecimento responsável pela análise e interpretação das necessidades do mercado consumidor que planeja suas ações integradas às estratégias da empresa. O marketing com suas diversas ferramentas, aliado à produção industrial, pode contribuir para resultados efetivos de mercado e para a análise da cadeia agro alimentar, o que ajuda a refletir sobre a produção de novos produtos buscando a sustentabilidade da atividade dos pequenos produtores e a definição de objetivos para melhorar a competitividade dos produtos. Por isso, torna-se importante desenvolver subsídios para demonstrar que os investimentos feitos para o desenvolvimento de novos produtos sejam entendidos como uma importante estratégica para o desenvolvimento local e regional. Quanto à originalidade, surge a intenção de investigar a diversificação da produção (novos produtos) como estratégia de competitividade dentro da empresa objeto do estudo de caso, objetivando ainda uma vinculação com o Programa de 19 Incentivo à Exportação (PEIEX), vislumbrando uma possível expansão para mercados externos. No quesito importância, a presente pesquisa abrange uma agroindústria especifica, mas que poderá dar origem a estudos em outras organizações utilizandose da estratégia de ampliação do portfólio de produtos para o desenvolvimento agroindustrial. Além disso, a realização desta pesquisa visa contribuir para o desenvolvimento da organização estudada e, consequentemente, do setor agroindustrial, do local e da região onde ela está inserida. Tem a pretensão de incentivar futuras pesquisas e oportunizar o crescimento e o desenvolvimento do saber científico e cultural do pesquisador envolvido e dos demais interessados. E, por fim, a viabilidade da pesquisa se justifica pela intenção particular do pesquisador com o presente estudo de caso, dispondo tempo, pessoas, recursos financeiros para busca das informações potenciais necessárias. 1.5 Objetivos 1.5.1 Objetivo Geral O objetivo geral do presente trabalho de pesquisa consiste em estudar o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade. 1.5.2 Objetivos Específicos • Identificar quais os potenciais produtos a serem lançados, mediante pesquisa de mercado; • Averiguar as estratégias de marketing, de acordo com o modelo de desenvolvimento de novos produtos, adequadas para desenvolvimento, distribuição e comercialização da produção; • Organizar um plano de lançamento de novos produtos. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO Para a efetivação desta proposta de pesquisa é imprescindível buscar na literatura os fundamentos teóricos existentes sobre o tema a ser desenvolvido. Tal fundamentação consiste na sua base de sustentação, pois “não é possível interpretar, explicar e compreender a realidade sem um referencial teórico” (TRIVIÑOS, 1987, p. 104). Este capítulo apresenta uma revisão dos estudos que contemplam o assunto abordado e que dão suporte ao estudo, o qual implicou a seleção, leitura, interpretação e análise do material, cuja teoria considerou-se pertinente. Permitiu, ainda, levantar dados e informações contextuais para tratar a problemática em questão e identificar soluções alternativas para melhor qualificá-la. Do ponto de vista acadêmico, permitiu conhecer quadros de referência, elaborar precisão conceitual e investir na formação da consciência crítica (DEMO, 1991). 2.1 Desenvolvimento Neste tópico, apresentam-se definições acerca da temática do Desenvolvimento, bem como suas dimensões, pressupostos, além dos aspectos sobre o desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local, entendendo-se que essa discussão é importante para a pesquisa proposta. 2.1.1 Definições de Desenvolvimento e Dimensões O termo “desenvolvimento” tem ocupado lugar de destaque na atualidade, além de assinalar uma mudança de paradigma em muitas das concepções. Trata-se de uma discussão cuja ótica se insere nas mais diversas áreas, principalmente nas discussões das políticas públicas. Apesar disso, há uma grande dificuldade conceitual em função de sua abrangência, a qual, no pós-guerra, estava fortemente vinculada às questões econômicas e, atualmente, assume outras dimensões. Conforme explicita Buarque (2008, p. 15), até a década de 70 do século passado, o modelo de crescimento econômico, definido como fordismo, parecia, tanto nos países industrializados, quanto nas nações economicamente emergentes, solidamente implantado e inabalável, fundado sobre um tripé “abundância de 21 recursos naturais (e energéticos), aumento da produtividade do trabalho e presença do Estado de Bem-Estar (ou do Estado desenvolvimentista no caso do Brasil).” Ao entrar em declínio este modelo de desenvolvimento, surge um novo paradigma cujas concepções e percepções trazem à tona novas propostas de organização da economia e da sociedade, conforme pode ser observado no Quadro 1, a seguir: FORDISMO NOVO PARADIGMA - Crescimento econômico extensivo com aumento de consumo de massas; - Economia de escala (padronização e produção em grandes quantidades); - Competitividade baseada em abundância de recursos naturais, baixo custo da mãode-obra, e limitado controle ambiental (impactos ambientais externalizados); - Estado de Bem Estar e interventor com gerência burocrática e crescente participação no PIB e no crescimento social; - Aumento da produtividade, dos salários (participação na renda nacional) e do emprego; - Dinamização da base industrial e do consumo de bens industrializados de massa. - Crescimento econômico seletivo com diversificação do consumo; - Flexibilidade da produção e ganhos na qualidade e diversidade de produtos (economia de escopo); - Competitividade baseada em tecnologia, conhecimento, informação e recursos humanos qualificados e no controle e qualidade ambiental; - Novas institucionalidades, reorientação do papel do Estado para a regulação e administração por resultados (terceiro setor); - Aumento da produtividade e da qualidade com mudança das relações de trabalho e redução do emprego formal e do trabalho no valor do produto; - Crescimento de novos segmentos e setores, especialmente terciário, serviços públicos e quaternário (serviços ambientais). Quadro 1: Mudança no paradigma de desenvolvimento Fonte: Buarque (2008, p. 18). A incorporação dos chamados “serviços ambientais” ao novo paradigma de desenvolvimento reflete a incorporação das questões ambientais como parte valorativa da economia mundial. Trata-se de um desenvolvimento que adquire muitas faces e que objetiva novas caracterizações. Seguindo essa linha de pensamento, muitas têm sido as dimensões apontadas pelos modelos de desenvolvimento presentes na literatura contemporânea. Entre elas, é possível destacar o desenvolvimento territorial que, na verdade, reflete a acepção mais ampla do desenvolvimento, ou como justifica Dallabrida (2007, p. 47): 22 A referência à dinâmica territorial do desenvolvimento, dentre outras razões possíveis, justifica-se pelo fato de que se entende que o desenvolvimento ocorre localizadamente, no território, na região, no município, na localidade, logo porque desenvolvimento territorial, que pode substituir termos usuais como desenvolvimento local, desenvolvimento regional, desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, desenvolvimento humano, desenvolvimento local/regional sustentável, ou outros. O qualificativo territorial abarca todas estas dimensões. O autor pondera, ainda, que: [...] o conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à ideia de domínio ou de gestão de determinada área. Deve-se ligar o conceito de território à ideia de poder. O território é, então, o espaço territorializado, apropriado. É a escala local da escala espaço-temporal. (DALLABRIDA, 1999, p. 2). Na verdade, o território passa a ser uma espécie de regulador autômato de relações, dotado de capacidade de síntese para absorver projetos, sejam eles de cunho social ou mesmo político. Ou seja, “personifica-se, fetichiza-se e ratifica-se o território ao preconizar que o mesmo tenha poder de decisão, desde que dotado do adequado grau de densidade institucional e comunitária” (BRANDÃO, 2004, p. 58). A ação pública, por assim dizer, seria, então, no sentido de tornar este território mais empreendedor e mais sensível para, assim, construir relações de confiança e consensos duradouros a partir de pressupostos por ora existentes. Seguindo essa linha de pensamento, é importante lembrar que, para ser possível realizar uma proposta de desenvolvimento territorial, é necessário que haja consciência de que o território é mais do que uma simples base física para as relações entre indivíduos e empresas. É necessário, antes de mais nada, que existam inter-relações complexas que vão além de seus atributos naturais. Na visão de Cunha (2000), desenvolvimento territorial depende de governança. O autor esclarece que: Um conceito de território centrado na questão do poder permite dar consciência à concepção de desenvolvimento territorial, a partir da conclusão de que políticas públicas de caráter territorial não podem ser formuladas e implementadas sem a participação dos atores públicos e privados, vinculados ao maior número possível de segmentos econômicos, sociais, políticos e culturais, os quais estão presentes em diferentes configurações regionais ou territoriais. Dessa forma, modelos e projetos de desenvolvimento territorial dependem basicamente de uma “engenharia política” que promova uma “governança”, ou um “pacto” que envolva a maior diversidade possível de atores. (CUNHA, 2000, p. 56-57). 23 Abramovay (2000, p. 11) afirma que “projetos de desenvolvimento terão tanto mais chances de sucesso quanto mais forem capazes de extrapolar um único setor profissional”. Isso por que o desenvolvimento territorial “apóia-se antes de tudo, na formação de uma rede de atores trabalhando para a valorização dos atributos de uma certa região”. Dessa forma, faz-se necessário um repensar nas formas de encaminhamento das questões institucionais, organizativas e propriamente políticas. O fundamental é perceber que o que se considera “político” é, verdadeiramente, um fator decisivo para superar certos determinismos culturais e institucionais fortemente enraizados nas abordagens desenvolvimentistas. Nesse sentido, o que se verifica é que não trabalhar com um conceito de território definido e considerado pela ótica das relações de poder e, destarte, políticas, não significa uma falta de reconhecimento da importância das outras vertentes que também consideram este conceito. A opção política deve-se a uma preocupação com a questão do desenvolvimento a qual, por sua vez, pressupõe a formulação e implementação de projetos, planos e políticas públicas que tenham como objetivos transformar ou dinamizar comunidades específicas, principalmente quando se trata de propostas abertas, nas quais esteja presente um certo grau de descentralização, numa tentativa de integrar participativamente a comunidade local. Nesses termos, acredita-se que ganha relevância a questão das relações de poder, as quais passam pela atuação de grupos, classes e instituições, enfim, atores individuais e coletivos, públicos e privados, que trabalham a partir de heranças culturais, políticas e econômicas relativas a uma determinada região vista, no caso, como um território. Assim, o desenvolvimento regional é modelado e discutido sobre a interferência de dois processos: o primeiro, pela transferência incorporada em um projeto nacional descentralizador, e o segundo, por intermédio da criação de um poder político, algo que se torna operacional mediante o consenso político, o pacto social, a cultura da cooperação e a capacidade de criar, coletivamente, um projeto de desenvolvimento. “Eis, portanto, a relevância do conceito de projeto político regional como instrumento de criação de poder político” (BOISIER, 1996, p. 124). Alguns atributos são inerentes a um processo de desenvolvimento regional, dentre os quais, segundo Dallabrida (2008, p. 3), podem ser destacados: 24 [...] um crescente processo de autonomia regional; uma crescente capacidade regional de apropriar-se do excedente ali gerado e revertê-lo na própria região; um crescente movimento de inclusão social; um crescente processo de conscientização e mobilização social em torno da proteção ambiental e, finalmente, uma crescente autopercepção coletiva de “pertença regional”, isto é, de identificação da população com sua região. Um processo de desenvolvimento regional, portanto, deve contemplar as questões inerentes à sustentabilidade, ou seja, que a agressão ao meio ambiente seja a menor possível, que os resíduos produzidos sejam minimizados e que o destino dado a eles seja ambientalmente correto e, principalmente, que minimize as desigualdades sociais. Adotar uma estratégia de desenvolvimento regional pode contribuir sobremaneira para compatibilizar desenvolvimento com sustentabilidade. O conhecimento de uma determinada geografia regional torna-se, assim, um fator determinante para a definição e implementação de políticas de desenvolvimento adequadas às diferentes realidades regionais. O processo de desenvolvimento regional abarca outra caracterização, que é a chamada endogeneização. Trata-se de um conceito que qualifica o desenvolvimento “germinado no interior da região, que contempla as necessidades e aspirações da coletividade regional e resulta de uma sólida e ativa consciência de territorialidade” (DALLABRIDA, 2008, p. 7). Algumas expressões-chave inerentes a este processo são a convergência e a interação. É o desenvolvimento impulsionado por elementos internos, ou seja, de dentro para fora. Nesse processo, o território atua decisivamente na formação de estratégias que influenciam sua dinâmica de desenvolvimento. A interação entre os atores públicos e privados é fundamental para gerar a sinergia necessária ao processo de desenvolvimento. Trata-se, portanto, de um projeto coletivo de desenvolvimento que se articula dentro de um território, daí a ideia de endógeno. Na definição de Amaral Filho (2001), desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo de crescimento econômico o qual implica uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção da região cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. 25 Barquero (2001) esclarece que esse modelo de desenvolvimento tem como base o local e, por isso, considera que as ações da sociedade civil e suas iniciativas organizacionais assumem caráter imprescindível dentro deste processo. Observa que tal modelo, por vislumbrar questões de natureza microeconômica, permite que a região atinja um crescimento equilibrado e sustentado no longo prazo, sem que haja conflitos com questões de ordem cultural e social. Para o autor, O desenvolvimento endógeno pode ser visto como um processo de crescimento econômico e de mudança estrutural, liderado pela comunidade local ao utilizar seu potencial de desenvolvimento, que leva à melhoria do nível de vida da população. [...]. A distribuição da renda e riqueza e o crescimento econômico são dois processos que não ocorrem paralelamente. Na verdade, só adquirem uma dinâmica comum pelo fato de os atores públicos e privados tomarem decisões de investimentos que visam elevar a produtividade e a competitividade das empresas, solucionar os problemas locais e aumentar o bem-estar da sociedade. (BARQUERO, 2001, p. 41). Tal conceituação, analisada do ponto de vista regional, leva a crer que o conceito de desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo de crescimento econômico que implica uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre aquilo que é produzido, bem como da capacidade de absorção do locos, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado localmente, além de gerar uma atração de excedentes que provêm de outras regiões. Dessa relação, surge um leque de possibilidades, dentre as quais cabe destacar a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região. Seria, portanto, uma estratégia por meio da qual as regiões poderiam resistir aos impactos negativos da globalização. O modelo endógeno de desenvolvimento seria, desta forma, baseado, embora não exclusivamente, nos recursos localmente disponíveis, dando a estes uma nova dinâmica, de maneira a torná-los mais “utilizáveis”. As formas empíricas de desenvolvimento endógeno precisam, sim, ser valorizadas, uma vez que este é, sem dúvida, o modelo mais capaz de responder aos desafios ecológicos. Outro ponto importante dentro do conceito de desenvolvimento endógeno é que este tende a manter os benefícios do desenvolvimento na economia local, gerando maior satisfação da sociedade como um todo. Para isso, o desenvolvimento regional endógeno deve compreender, pois, três elementos estreitamente interligados: a capacidade cultural de pensar em si 26 mesmo e de inovar; a capacidade político-administrativa de tomar decisões autônomas e de organizar a execução das mesmas; a capacidade do aparelho de produção assegurar sua reprodução, em conformidade com os objetivos sociais estabelecidos coletivamente (SACHS, 1986). Desenvolvimento endógeno também supõe desenvolvimento local, o que, na opinião de Buarque (2008, p. 26), É o resultado de múltiplas ações convergentes e complementares, capaz de quebrar a dependência e a inércia do subdesenvolvimento e do atraso em localidades periféricas e de promover uma mudança social no território. Não pode se limitar a um enfoque econômico, normalmente associado às propostas de desenvolvimento endógeno, mas não pode minimizar a importância do dinamismo da economia. Especialmente em regiões e municípios pobres, deve perseguir com rigor o aumento de renda e da riqueza locais, por meio de atividades econômicas viáveis e competitivas, vale dizer, com capacidade de concorrer nos mercados locais, regionais e, no limite, nos mercados globais. Apenas com economia eficiente e competitiva gerando riqueza local sustentável pode-se falar, efetivamente em desenvolvimento local, reduzindo a dependência histórica de transferências de rendas geradas em outros espaços. De acordo com esta concepção, o desenvolvimento local supõe mudanças institucionais relativas à gestão das instituições públicas locais, incluindo o município, onde os excedentes necessitariam ser investidos para melhoria das questões sociais e estratégicas para a localidade. É importante destacar que desenvolvimento local não pode ser confundido com aquele gerado pelo capital externo e que, na verdade, não se internaliza e não se irradia na economia local. Tais investimentos não produzem mudanças efetivas na organização da sociedade, não fixam raízes e, por consequência não solucionam os problemas relativos à concentração de renda. O desenvolvimento local, à medida que ocorre de fato, é também sustentável e resulta, segundo Buarque (2008, p. 27), “da interação e sinergia entre a qualidade de vida da população local - redução da pobreza, geração de riqueza e distribuição de ativos-, a eficiência econômica - com agregação de valor na cadeia produtiva - e a gestão pública eficiente”. Assim, qualquer estratégia de desenvolvimento local, para ser considerada sustentável, deve demandar a elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, dessa forma, no tempo e no espaço, “o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social” (BUARQUE, 2008, p. 27). Tudo isso firma um compromisso com o futuro e 27 solidariedade com as futuras gerações, apesar de ser um processo carregado de dificuldades e resistências estruturais. Essas questões, associadas a alguma alternativa de distribuição de ativos sociais, principalmente aqueles ligados ao conhecimento e à própria tecnologia inerente a ele, seriam, por assim dizer, os pontos-chave para a viabilização consistente e sólida do desenvolvimento local. Para esta dissertação, o recorte territorial definido para análise empírica é o município de São Martinho-RS e sua região. A análise dessa trajetória de desenvolvimento, com base em aspectos principalmente ambientais e sociais, leva a uma reflexão sobre como ocorre a avaliação da sustentabilidade, em que medida ela ocorre e qual a sua significância para a população local. Embora haja muitas controvérsias entre o desenvolvimento que se quer e o desenvolvimento que, de fato, se tem, o referencial que precisa ser buscado é aquele que melhor se coaduna ao âmbito espacial no qual se está inserido. Se esse desenvolvimento é sustentável ou insustentável, somente uma mensuração criteriosa poderá mostrar. Porém, mais do que mensurar, é preciso ter a clareza dos critérios de seleção dos pontos que realmente emergem como indutores de qualidade de vida. Nesse novo paradigma de desenvolvimento, o enraizamento de ideias voltadas para tal concepção depende principalmente da “ampliação da massa crítica de recursos humanos” (BUARQUE, 2008, p. 31), bem como do domínio do conhecimento e da informação que podem trazer as respostas às indagações comumente expressas por uma dada população. Na intenção de compreender a abrangência que o conceito de desenvolvimento incorpora, e a qualificação deste como sustentável, é que a análise a seguir destaca aqueles aspectos conceituais inerentes ao desenvolvimento e que, a partir de diferentes interpretações, produz resultados adversos na realidade em que se configura. 2.1.2 Pressupostos do Desenvolvimento O debate acerca do conceito de desenvolvimento é bastante rico no meio acadêmico, principalmente quanto à distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico. O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento econômico acompanhado da melhoria na qualidade de vida, ou seja, 28 está intrinsecamente relacionado ao desejo de ser feliz, ter uma vida longa, e alcançar a realização de si próprio. Nessa definição, encontra-se a concepção de Brandão (2004, p. 70) ao ponderar que “o desenvolvimento enquanto processo multifacetado de intensa transformação estrutural resulta de variadas e complexas interações sociais que buscam o alargamento do horizonte de possibilidades de determinada sociedade”. Tais possibilidades proporcionam mudanças que alteram as relações tradicionais, sejam elas na maneira de pensar, no trato com a saúde e a educação, nos aspectos relacionados à produção e ao uso das tecnologias. As mudanças associadas ao desenvolvimento devem permitir aos indivíduos e à própria sociedade maior controle sobre seu destino e a construção de um padrão de vida mais equitativo, com redução significativa da pobreza. Para tanto, é necessário que as estratégias adotadas no sentido de promover o desenvolvimento contemplem uma perspectiva de transformação, tanto de suas instituições, quanto de seu capital social para, a partir daí, potencializar as capacidades que já são inerentes à determinada realidade. Para Brandão (2004, p. 70), “esse processo deve promover a ativação de recursos materiais e simbólicos e a mobilização de sujeitos sociais e políticos buscando ampliar o campo de ação da coletividade aumentando sua autodeterminação e liberdade de decisão”. O autor complementa destacando que “o verdadeiro desenvolvimento exige envolvimento e legitimação de ações disruptivas e emancipatórias, envolvendo, portanto, tensão, eleição de alternativas e construção de trajetórias históricas, com horizontes temporais de curto, médio e longo prazos” (BRANDÃO, 2004, p. 70). Na falta dessas premissas, a condição de desenvolvimento empreendida por uma determinada realidade nem sempre se manterá sustentável, principalmente a longo prazo. Se não há interação recíproca entre os diversos atores envolvidos em prol de uma construção social coletiva, então esse desenvolvimento não é pleno, e a desigualdade social não é superada. Quando uma estratégia de desenvolvimento é legítima e conta com a participação da sociedade como um todo organizado, então, é mais provável que haverá êxito. É o que Furtado (1982, p. 149) avalia ao destacar que: [...] a experiência tem demonstrado amplamente que o verdadeiro desenvolvimento é principalmente um processo de ativação e canalização de forças sociais, de avanço na capacidade associativa, de exercício da iniciativa e da inventiva. Portanto, se trata de um processo social e cultural, e só secundariamente econômico. Ou seja, produz-se o desenvolvimento 29 com intencionalidade, pois o desenvolvimento significa a gênese de formas sociais efetivamente novas. É sabido que o desenvolvimento, ao contrário do crescimento econômico, vai muito além da mera multiplicação da riqueza material. Na opinião de Sachs (2004), o crescimento é uma condição necessária, mas de forma alguma suficiente. Destaca, contudo, que: No contexto histórico em que surgiu, a ideia de desenvolvimento implica a expiação e a reparação de desigualdades passadas, criando uma conexão capaz de preencher o abismo civilizatório entre as antigas nações metropolitanas e a sua antiga periferia colonial, entre as minorias ricas modernizadas e a maioria ainda atrasada e exausta dos trabalhadores pobres. O desenvolvimento traz consigo a promessa de tudo a modernidade inclusiva propiciada pela mudança estrutural. (SACHS, 2004, p. 13). O autor, em obra anterior, recontextualiza o desenvolvimento como “a apropriação efetiva de todos os direitos humanos, políticos, sociais, econômicos e culturais, incluindo-se aí o direito coletivo ao meio ambiente” (SACHS, 2002, p. 60). Tal direito coletivo ao meio ambiente seria, na opinião de muitos autores, torná-lo sustentável ou, como afirma Sachs (2004), com igualdade, equidade e solidariedade. Alcançar o progresso em direção à sustentabilidade é claramente uma escolha da sociedade, das organizações, das comunidades e dos indivíduos (BELLEN, 2007). Historicamente, no entanto, a busca pelo desenvolvimento levou muitas sociedades a repensarem suas formas de organização e apropriação dos recursos. Os debates relacionados ao desenvolvimento econômico tornaram-se mais evidentes a partir do término da Segunda Guerra Mundial. Apesar de, muitas vezes, vir acompanhado com qualificativos como sustentável ou mesmo humano, proferido por gestores e/ou entidades representativas da sociedade, é entendido como estando atrelado à ideia de progresso material ou ao acúmulo cada vez maior de bens e serviços. Obviamente, trata-se de uma corrida desenfreada rumo ao que se pode chamar de insustentável, considerando que não existem recursos suficientes para viabilizar tantos anseios da população do planeta. Para Veiga (2005), três são os entendimentos acerca do desenvolvimento. Uma primeira corrente seria a dos fundamentalistas. Nesse sentido, o desenvolvimento teria o mesmo significado de crescimento econômico. Essa noção 30 ainda apresenta grande força na atualidade, tendo como principal exemplo da sua aplicação a comum medição do desenvolvimento com base no Produto Interno Bruto per capita de um país. A segunda corrente, cuja ideologia se encontra na obra de Rivero (2002), nega a existência do desenvolvimento, tratando-o como um mito. Aqueles que comungam desta ideia são chamados de pós-modernistas. Na opinião destes, a noção de desenvolvimento sustentável em nada altera a visão de desenvolvimento econômico. Portanto o desenvolvimento poderia ser entendido como uma “armadilha ideológica construída para perpetuar as relações assimétricas entre as minorias dominadoras e as maiorias dominadas” (SACHS, 2004, p. 26). Já o terceiro entendimento seria de maior complexidade, o que, em muitos casos, acaba por ser um empecilho para sua disseminação. Este terceiro e mais complexo entendimento ganha força com o primeiro Relatório do Desenvolvimento Humano em 1990, e obtém maior consistência nas palavras de Sen (2002) com a noção de “desenvolvimento como liberdade”, de modo que só poderia ocorrer se fossem garantidos a todas as pessoas os seus direitos individuais, os quais efetivariam a sua liberdade. Assim, liberdade, em momento algum poderia se restringir a ser entendida como renda per capita devendo abranger questões culturais, sociais, entre outras. Para Veiga (2005, p. 34), Se a liberdade é o que o desenvolvimento promove, então existe um argumento fundamental em favor da concentração dos esforços de análise nesse objetivo abrangente, e não em algum meio específico ou lista de instrumentos especialmente escolhida. O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza, e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência de Estados repressivos. Essa é, segundo Veiga (2003), a noção que mais se aproxima das discussões atuais sobre desenvolvimento sustentável, tendo grande importância nesse processo de transformação. O autor é taxativo ao afirmar que: [...] “desenvolvimento sustentável” não é um conceito. Tanto quanto “justiça social” também não é um conceito, e sim uma forte expressão utópica que veio para ficar. Ambas talvez só se tornem obsoletas se um dia o planeta puder transformar-se numa espécie de Jardim do Éden. Enquanto não for possível que isso aconteça a humanidade continuará a querer liberdade, igualdade, fraternidade e, antes de tudo, sua própria sobrevivência. (VEIGA, 2003, p. 1). 31 Para o autor, “utopia” não deve ser entendida no sentido literal da palavra, mas como um sentido filosófico que expressa a contemporaneidade de um conceito que deve servir de paradigma para muitas, ou a maioria, das ações que envolvem direta ou indiretamente sociedade e meio ambiente. No entanto, é preciso desmistificar muitas de suas conotações e buscar a essência do que se quer avaliar em uma determinada trajetória de desenvolvimento. Furtado (1980) entende o desenvolvimento como um processo de transformação do mundo realizado pelo homem com o intuito de atender às suas necessidades. Porém, não se limita a isso, pois, para que consigam atender a essas necessidades, os seres humanos e as sociedades precisariam elevar os seus potenciais de invenção cultural, conseguindo, assim, as transformações esperadas. E é justamente em razão da evolução cultural que ocorre aprimoramento e exaltação da tecnologia em seu alto poder de difusão. Assim, o progresso tecnológico pode ser considerado um dos fatores fundamentais para a reprodução da sociedade capitalista, pois, através dele, é que se tornou possível o processo de acumulação. Acumulação que é representada pela transformação de recursos econômicos em capital, o qual possibilitará novas formas de acumulação. Porém, remetendo-se mais uma vez à visão do desenvolvimento como um mito, a excessiva preocupação com o progresso tecnológico deixa implícitas questões sociais, culturais e ambientais. Nesse sentido, o alcance do nível de desenvolvimento econômico dos países desenvolvidos pelos países subdesenvolvidos seria, por assim dizer, impossível. Sobre isso Furtado (1996, p. 12) argumenta que: “[...] se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou, alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial entraria necessariamente em colapso”. O autor, por meio de uma sintética conceituação, define o desenvolvimento, destacando que: O crescimento econômico, tal qual o conhecemos, vem se fundando na preservação dos privilégios das elites que satisfazem seu afã de modernização; já o desenvolvimento se caracteriza pelo seu projeto social subjacente. Dispor de recursos para investir está longe de ser condição suficiente para preparar um melhor futuro para a massa da população. Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida dessa população, o crescimento se metamorfoseia em desenvolvimento. (FURTADO, 2004, p. 484). 32 Outra abordagem se refere a Sachs (2004, p. 38), que procurou dar ao desenvolvimento o qualificativo de sustentável e includente. Acrescentou, ainda, que: sob algumas circunstâncias, a inclusão justa se converte em requisito central para o desenvolvimento. Se o adjetivo deve colocar atenção no aspecto mais essencial do paradigma de desenvolvimento, podemos falar então de desenvolvimento includente. O desenvolvimento includente mencionado por Sachs (2004) nada mais é do que uma garantia de que todos tenham assegurado o exercício de seus direitos, sejam eles civis, cívicos e políticos, em igualdade de condições e oportunidades. O autor, no que diz respeito à transição de um desenvolvimento quantitativo para um desenvolvimento socioeconômico equitativo, ou sustentável, enfatiza a ideia de que parece existir certo nível de concordância sobre: a necessidade de se deter o consumo excessivo pelos países industrializados em função da não-sustentabilidade em longo prazo e da necessidade de crescimento dos países pobres e não considerar as metas ecológicas e econômicas como conflitantes, mas incorporar o conceito de complementaridade. 2.1.3 Desenvolvimento Local e Agricultura Familiar O desenvolvimento local tem sido tema de estudo para diversos autores que focam o espaço rural e, por consequência, resulta no resgate social de parcela significativa da população brasileira, que ganha relevância, especialmente no meio acadêmico, na sociedade civil e no Estado. Nesse aspecto, quando se trata do conceito de desenvolvimento, tem-se que este não se inicia por meio de um modelo pré-determinado, mas é inspirado nas metas de longo prazo de uma sociedade. Considerando que ele deve visar ao desenvolvimento, a torno das pessoas e não das pessoas em torno do desenvolvimento e, a discussão sobre o tema amplia o diálogo ao tratar de especificidades de determinado segmento. O entendimento do desenvolvimento com essas características parte do conceito construído no início da década de 90, no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Em uma perspectiva mais ampla, o referido 33 conceito compreende todas as potencialidades humanas em todas as espécies, abrangendo o indivíduo em todas as etapas, valorizando os esforços de cidadania e orientando para o desenvolvimento de uma nova cultura que reconheça direitos e reivindicações sociais como necessários para melhorar o bem estar dos indivíduos. Contudo, o fracasso de inúmeros projetos de desenvolvimento levou muitas instituições de pesquisa e fomento, de certa forma, a repensarem as razões do fracasso. Neste sentido, ainda na década de 1970, enquanto o padrão de desenvolvimento baseado no progresso técnico estava sendo implementado de forma contundente em diversos países, em outros, já havia estudos sendo realizados e apontavam que este padrão apresentava uma série de restrições, sobretudo, do ponto de vista ambiental. Entre os principais aspectos que chamam atenção em relação ao período da modernização, foi a adesão parcial dos agricultores às tecnologias e aos modos de produção e de vida moderna. Essa não-adesão generalizada ao modelo tecnológico, ou seja, a persistência dos modelos tradicionais de agricultura e o não desaparecimento da agricultura do tipo familiar, juntamente com as rápidas mudanças socioculturais, econômicas e, sobretudo, ambientais, passaram a ser objetos de estudo nos principais institutos de desenvolvimento e universidades, em âmbito mundial. Buscando adequar ao meio rural as noções do “desenvolvimento sustentável”, estudos demonstravam que a eficácia dos projetos de desenvolvimento depende das condições de produção e que os agricultores exerciam um papel importante, na identificação de problemas e soluções. Com isso, incentivaram-se pesquisas para retomar os estudos do “rural” a partir de uma perspectiva mais abrangente, alicerçada na compreensão da realidade dos agricultores, seus modos de produção e seus respectivos comportamentos e estratégias (RODRIGUES, 1999). A partir dessas experiências, passou-se a discutir, sob forma de diversos termos e noções, um modelo de desenvolvimento que contemplasse não só os aspectos econômicos, mas também as esferas cultural, social, ambiental e institucional. Essa discussão de desenvolvimento de forma mais equitativa, assume várias denominações as quais estão abrigadas sob o grande tema do Desenvolvimento Sustentável. A abordagem realizada por Basso (2004) está voltada para o estudo do contexto de desenvolvimento rural local na região noroeste do Estado do Rio Grande 34 do Sul e estratégias de reprodução das famílias rurais nessa referida região. Para tanto, o autor utiliza a observação de estratégias adotadas pelos grupos familiares para buscar garantir condições de vida que assegurem a sobrevivência e reprodução de seus membros. Ao estudar o desenvolvimento local para compreender o processo de reprodução social, observam-se algumas discussões doutrinárias que partem inicialmente da discussão do desenvolvimento frente ao processo de globalização, destacando que, de um lado, tem-se a análise de determinantes estruturais de acordo com a manifestação existente em cada lugar investigado e, de outro, a constatação de que o local não pode estar limitado tão somente aos atores sociais, pois se torna imprescindível contextualizar as formas pelas quais a dinâmica social global se manifesta num lugar específico, como condiciona as iniciativas locais e possibilidades existentes (BASSO; DELGADO; SILVA NETO, 2003). Ainda, a teoria dos sistemas agrários trata de uma forma de abordar as condições e modalidades de produção agrícola em sua complexidade e diversidade, permitindo compreender os mecanismos de reprodução econômica das unidades de produção ao longo do tempo. Considera também as modificações que se processam no ambiente socioeconômico no qual estão inseridas. Para Silva Neto e Basso (2005), a compreensão do funcionamento da sociedade, por meio de uma análise das condições materiais de sua existência, deve ser efetuada de um ponto de vista dinâmico. Isto é, é preciso que se procure compreender não apenas como essas sociedades funcionam, mas principalmente como elas "se reproduzem" ao longo do tempo. Assim, à medida que a sociedade é entendida como um sistema não conservativo é importante efetuar uma análise específica dos processos de reprodução social que permitem que os diversos agentes sociais não apenas assegurem a sua subsistência, mas também mantenham sua identidade ao longo do tempo. Neste sentido, entende-se por reprodução social a forma como as diferentes categorias sociais conseguem manter as suas características ao longo do tempo, especialmente no que diz respeito às condições materiais para que isto ocorra, ou seja, aos processos produtivos que a ela dão suporte. Além de relações sociais específicas, a cada categoria social correspondem também meios de produção 35 próprios e que configuram um conjunto bem delimitado de sistemas de produção possíveis de serem manejados por cada categoria social. Bebbigton (1999 apud BASSO, 2004), para avaliar a capacidade de reprodução ou as condições de vida no meio rural fundamenta sua análise no acesso que as pessoas ou famílias têm a um conjunto de ativos de capital, bem como a outros autores que se situam nas esferas do mercado, do Estado e da sociedade civil. Assim, observa-se que as condições de reprodução no meio rural, as quais se baseavam especialmente na agricultura e em recursos naturais, passam a depender crescentemente de uma variedade de ativos, fontes de renda, mercados de produtos e de trabalho. Ou seja, um conjunto de fatores, destacando inclusive as opções que as pessoas possuem na prática para perseguir atividades alternativas que possam gerar o nível de renda requerido para a sobrevivência. Basso (2004), utilizando a análise de Bebbington, considera outros fatores como determinantes e distintos na composição de estratégias de reprodução no contexto histórico e geográfico, sendo estes: - o capital natural, que recomenda os ativos na forma de qualidade e quantidade de recursos naturais a que as famílias têm acesso, propondo pensar esses ativos em função dos potenciais agro ecológicos, distinção das estratégias de reprodução das famílias rurais dentre os recursos naturais renováveis e não renováveis; o capital produzido, que inclui os resultados econômico-financeiros e ativos físicos infraestruturais que atuam positivamente sobre as condições de vida; o capital humano, que se relaciona com o trabalho disponível pela família envolvendo fatores como educação, habilidades e saúde. O mesmo autor observa ainda que o capital social também é visto como uma função da capacidade de cooperar de uma sociedade. Consiste num conjunto de interações sociais que promovem o reconhecimento mútuo, a confiança, a reciprocidade, a ajuda mútua, a solidariedade e a cooperação. Destaca, por fim, o capital cultural, que considera a necessidade de as políticas sociais terem um objetivo relevante, buscando elevar a autoestima pessoal e grupal das populações desfavorecidas, transmitindo valores capazes de melhorar positivamente o perfil definidor de uma sociedade. Num contexto de análise do desenvolvimento territorial global, para se encontrarem significantes relativas ao desenvolvimento local, no estudo de Maillat 36 (2002 apud BASSO, 2004), alguns autores observam que uma das discussões centrais é a verificação de que a globalização da atividade econômica compromete a autonomia e a identidade das regiões e das nações. Neste sentido, o não desenvolvimento de uma zona não é mais atribuído à sua inscrição na órbita de um polo, mas à sua desconexão da economia de arquipélago. Ou seja, a localização das atividades não é mais fundada sobre a simples utilização de recursos locais pré-existentes, mas sobre a inserção do estabelecimento no seu meio ambiente de implantação, para aí estabelecer relações de colaboração e contribuir para o enriquecimento e o desenvolvimento de recursos específicos. Entretanto, a caracterização de diferentes realidades permite definir trajetórias de evolução consideradas adequadas: considerando de um lado, a situação presente como ponto de partida e, por outro, um horizonte estratégico que vise a compensar as principais debilidades existentes. Sendo assim, a evolução ocorrida nas últimas duas décadas da importância e da natureza atribuídas aos processos de inovação tem implicações significativas para todos que valorizam as dinâmicas territoriais locais e, no caso da agricultura familiar, o destaque é dado para as iniciativas dos pequenos agricultores em encontrarem alternativas para sua subsistência. Lamarche (1993, p. 18) chama atenção também para a heterogeneidade da Agricultura Familiar quando afirma que "a Agricultura Familiar não é um elemento de diversidade, mas contém nela mesma, toda a diversidade". Essa diversidade de formas sociais para, Wanderley (1996), é consequência de, nessa forma de agricultura, a família assumir os trabalhos no estabelecimento produtivo e ser, ao mesmo tempo, proprietária dos meios de produção. Nesta perspectiva, a agricultura familiar assume um papel estratégico na criação das possibilidades de desenvolvimento local. A agricultura familiar é fator essencial para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento, pois cria, de forma descentralizada, inúmeras situações e possibilidades, nas quis não só o aumento da produção e dos serviços é importante, mas também a melhoria da qualidade de vida de toda a população local. O agricultor familiar, em termos genéricos, é aquele que, ao mesmo tempo, é gerente e trabalhador do estabelecimento rural, diferentemente dos agricultores patronais. Estes são os proprietários e gerentes, mas não trabalhador direto do estabelecimento rural (VIEIRA, 1998). 37 De acordo com Billaud, Lamarche e Abreu (1996), para um estudo mais detalhado da agricultura familiar, é preciso considerar as diversas situações materiais (superfície, tipos de cultivos e cultivares, tipos de criações, situação econômica e financeira etc.) dos agricultores. Também é relevante considerar o seu comportamento e seu sistema de valores e de representação (relação com a terra e com o patrimônio, relação com as técnicas e com os equipamentos, relação com o mercado e com a sociedade global). O desenvolvimento da agricultura familiar é estratégico para o desenvolvimento local, tendo em vista sua presença maciça na grande maioria dos municípios brasileiros, pelo número de pessoas que vivem nessas condições, pela força de sua produção agrícola e pela sua capacidade de interação com outras atividades econômicas e sociais locais. Este processo cria ocupações produtivas para os membros da família e para toda a região, produzindo um processo de dinamização da economia em geral. Por outro lado, observa-se que o agricultor familiar reside normalmente no seu estabelecimento ou aglomerado populacional próximo, e é um ator econômico local, já que suas atividades comerciais ocorrem na região onde se encontra seu estabelecimento. Também, do ponto de vista social, suas atividades e demandas ocorrem na localidade. Assim, uma estratégia de desenvolvimento baseada no fortalecimento da agricultura familiar está associada à compreensão de que é possível haver desenvolvimento desconcentrado, a partir da criação de processos dinâmicos na economia local, capazes de gerar novas oportunidades de mercado e emprego para a população. Pois, quando consolidados no mercado, os agricultores familiares provocam um forte impacto na economia local, através dos efeitos diretos e induzidos de suas atividades produtivas. 2.1.4 A Agroindustrialização Familiar de Pequeno Porte A importância da agroindustrialização familiar de pequeno porte no contexto do desenvolvimento local está na sua repercussão sobre o desenvolvimento de novas formas de inserção da agricultura familiar, especialmente quando as atividades agroindustriais buscam estratégias para agregar valor à produção. 38 Sem entrar na descrição histórica do passado recente, destaca-se que a agro industrialização familiar de pequeno porte tem sido proposta dentre as alternativas de retomada do desenvolvimento da agricultura familiar, com vistas a ampliar e retomar as possibilidades de reprodução social, viabilizando a inserção econômica da agricultura familiar no contexto econômico local, especialmente para os pequenos agricultores excluídos das grandes redes de integração agroindustrial. Contribuindo assim, para o desenvolvimento local. Segundo Vieira (1998), a agroindústria rural ou agroindustrialização de pequeno porte constitui-se, geralmente, a partir de duas motivações mais comuns. A primeira, é o aproveitamento de excedentes que o produtor não consegue colocar no mercado. A segunda motivação surge quando das conjunturas desfavoráveis de preço para sua produção agrícola, e o produtor vê na agroindustrialização uma maneira de adicionar valor para sobreviver no meio rural. O suporte tecnológico geralmente se origina da própria família do produtor ou do agente de extensão rural, e o crescimento da agroindústria se dá a partir da própria dinâmica do setor em virtude de restrição de capital dos pequenos agricultores. A saída encontrada foi o aumento da eficiência produtiva e a diversificação, surgindo então os pequenos empreendimentos agroindustriais e as agroindústrias integradoras. Estas, embora por um lado tenham possibilitado uma estratégia de reprodução da pequena produção familiar, por outro, com seus padrões de produção crescentes, criaram uma dinâmica que vem excluindo aqueles agricultores que não atingem os padrões impostos Silvestro (2001). Dessa forma, é importante destacar o desenvolvimento local como processo evolutivo, aberto e construído socialmente, que se baseia na observação de que, na maioria das regiões e dos municípios brasileiros e especificamente do Rio Grande do Sul, este processo está baseado no desenvolvimento agrícola e rural (SILVA NETO; BASSO, 2005). As agroindústrias de pequeno porte vem se caracterizando como importante instrumento para o desenvolvimento sustentável de pequenos agricultores, por meio da agregação de valor aos produtos agropecuários de origem familiar. Segundo Flach e Marchioro (2002), esse tipo de instrumento ganha maior importância no ambiente de grave crise social. Diante disso, novas funções são atribuídas para o meio rural, que passa a ser não mais visto como produtor de 39 matéria-prima, fornecedor de mão-de-obra barata para o meio urbano, ou para a agricultura patronal, e consumidor de insumos agropecuários e industriais. O meio rural deverá resgatar a longa tradição de transformação (agroindustrialização) dos produtos agropecuários dos produtores familiares. De acordo com Oliveira (2002 apud MELLO, 2008), a agroindústria familiar, geralmente, é de propriedade do agricultor familiar, individualmente ou em grupo de agricultores. A força de trabalho utilizada provém das famílias proprietárias ou de agricultores vizinhos. O nível de sofisticação dos equipamentos não é elevado e as tecnologias são simples, envolvendo um maior número de pessoas no processo de transformação de alimentos. O agricultor, na visão de Wanderley (1996), sempre combinou o cultivo da terra e a produção de animais com outras atividades, como a confecção caseira de roupas, utensílios domésticos e de instrumentos de trabalho. Entre essas atividades também se encontra a obtenção de outros bens (alimentos) para o consumo produzidos a partir de produtos agrícolas primários. Exemplo disso é a transformação de grãos em farinha, e a farinha em pão. Assim, segundo a autora, a combinação de atividades realizadas no ambiente doméstico constitui-se em um mecanismo de adaptação das formas tradicionais da Agricultura Familiar - como o cultivo de grãos, criação de animais, a outras condições naturais, técnicas e sociais, às quais o agricultor está suscetível e sob as quais a família do agricultor precisa prover sua subsistência e reprodução. De um modo geral, a agroindústria familiar de pequeno porte faz parte de um sistema produtivo familiar que, via de regra, inclui a produção de matéria-prima. Isso quer dizer que, em maior ou menor quantidade, os agricultores proprietários de uma agroindústria familiar rural tendem a ter na produção primária uma das etapas da agroindustrialização. Da mesma forma, a agroindústria conta majoritariamente com o trabalho dos membros da família para desenvolver as atividades na unidade produtiva. Os agricultores familiares tomam decisões e interagem com a sociedade, orientados pelos seus valores, suas visões de mundo, acumuladas historicamente e ressignificadas ao longo do tempo. É a partir da ótica desses atores que os processos ocorrem nas unidades produtivas (SANTOS, 2000). No que tange à agroindustrialização de pequeno porte, a agroindústria rural de pequeno porte é apontada como uma das alternativas para a reversão das consequências sociais desfavoráveis no meio rural, como a falta de renda para os 40 agricultores. Acredita-se que a Agroindústria Familiar Rural é uma das estratégias dos agricultores familiares diante do desafio de reproduzir-se como sistema produtivo. Neste sentido, Oliveira (2002 apud MELLO, 2008) ressalta que a criação desta dinâmica estimula o desenvolvimento social e político da população local, que ganha autonomia e capacidade de gestão e decisão. Isto significa não só acabar com a fome e processos migratórios indesejáveis, mas gerar emprego e renda para a população local, estimular a busca de novas oportunidades de mercado, promover o desenvolvimento social com base na cultura e expectativas locais. Os produtos produzidos nas pequenas agroindústrias, além de serem competitivos, diferenciam-se dos demais pelo seu processo de produção e suas características intrínsecas. Um conjunto de características – ecológicas, sociais, culturais, nutricionais, entre outras, que podem ser incorporadas aos alimentos e, assim, materializar a propalada diferenciação dos produtos da pequena agroindústria numa associação com o local de sua produção e com o saber-fazer dos agricultores, conferindo-a esses produtos sabor peculiar, bastante apreciado por uma parcela cada vez maior da população. A diferenciação dos produtos da pequena agroindústria tem sido apontada como uma importante estratégia para a inserção e ampliação do espaço no mercado. Entretanto, esta diferenciação não é suficiente, tornando-se necessário promover uma relação mais estreita da pequena agroindústria com os consumidores. Para servir como alternativa de desenvolvimento, a viabilidade das agroindústrias de pequeno porte pode ser garantida por alguns fatores, como a produção integral, ou quase total, da matéria-prima. Este fator garante a estabilidade e a autonomia do processo, com real redução de custos do setor de produção de matéria-prima, tornando-se assim independente. Pois, a produção da matéria-prima cria uma condição de independência, determinando a condição de escala, e dimensiona a unidade processadora (FLACH; MARCHIORO, 2002). Pela dinâmica econômica em curso, aqueles agricultores excluídos do processo de integração ou que não chegaram a entrar nele, veem diminuir, cada vez mais, suas possibilidades de participar do mercado. Paulilo (1990), por exemplo, destaca a dificuldade dos suinocultores do Sul de Santa Catarina para permanecerem na atividade sem estarem integrados a uma grande agroindústria. 41 Dessa forma, continua a autora, eles não podem romper com os frigoríficos porque o mercado paralelo absorve apenas pequena parte da produção. Ainda, segundo a autora citada, outro aspecto que preocupa os suinocultores não integrados é o nível tecnológico imposto pelo modelo de produção moderno, que traz um nível de competição difícil de ser suportado. Esse processo vem implicando custos sociais e ambientais elevados, o que já justificaria uma mudança do modelo de desenvolvimento vigente. Este modelo atual de desenvolvimento rural, do qual faz parte a agroindustrialização convencional, ou seja, de grande escala, tem como eixo central o crescimento econômico. Isto vem implicando problemas sociais e ambientais, como a falta de oportunidade de trabalho, a concentração de renda e aumento da pobreza, a migração desordenada da população, geralmente para os centros urbanos, o desequilíbrio ambiental, o crescimento da violência e a diminuição da qualidade de vida da população rural e, também, urbana. Os debates sobre este tema indicam a construção de um novo desenvolvimento, que seja sustentável. Autores como Almeida (1988), no entanto, falam da dificuldade em definir sustentabilidade, por ser este um tema polêmico, com diferentes definições ainda pouco precisas. Outro aspecto que merece atenção nesse debate é o entendimento sobre o rural. Do ponto de vista econômico, é cada vez menos importante a visão do rural apenas como espaço de produção de matérias-primas ou, até mesmo, como local de atividades apenas agrícolas, pois as atividades econômicas não agrícolas vêm se constituindo em alternativas importantes de desenvolvimento do meio rural. Como propõe Silva (1999), o rural vem se caracterizando como um espaço de pluriatividade, ligado ao turismo e ao lazer, à prestação de serviços, à moradia e à agro industrialização, caracterizando a articulação de uma série de atividades, muitas delas tipicamente urbanas, que visam a garantir a sustentabilidade. No desempenho deste novo papel, a criação de pequenos empreendimentos agroindustriais pode ser apontada como uma das alternativas econômicas para a permanência e a continuidade da agricultura familiar e para a construção de um novo modelo de desenvolvimento, que pensa o rural como um todo e não mais ligado apenas à produção agrícola. No entanto, não basta apenas o desempenho deste novo papel; é necessário que esse novo papel seja desempenhado de uma 42 forma competitiva, que seja capaz de agregar valor aos seus produtos, e que estes possam ter condições de disputar mercado com os concorrentes. A industrialização dos produtos agropecuários não se constitui em uma novidade. A pequena agroindústria, nessa perspectiva, torna-se uma importante alternativa para promover a participação dos agricultores familiares no processo produtivo, sendo possível citar a transformação de frutas em doces e bebidas, a elaboração de conservas em geral e a fabricação de queijos, embutidos e defumados de carne. Destaca-se, dessa forma, como acepção de agroindustrialização o processo de beneficiamento dos produtos agropecuários ou a transformação de matérias primas gerando novos produtos, de origem animal ou vegetal. No momento em que se discute um novo papel para o meio rural, não mais local apenas e de atividades exclusivamente agrícolas, mas de pluriatividade de transformação dos produtos, o modelo de agroindustrialização descentralizado de pequeno porte, de característica familiar, é visto como alternativa capaz de impulsionar o desenvolvimento local, por possibilitar uma distribuição de renda mais equitativa, importante forma de (re)inclusão social para os agricultores, através da venda obtida pela produção e pelo trabalho, melhorando assim sua qualidade de vida. É necessário destacar, porém, que a agroindustrialização descentralizada não representa a solução de todos os problemas ou necessidades dos agricultores familiares na busca de alternativas de reprodução social no espaço rural em que vivem. Ela deve ser entendida, e trabalhada como parte de um conjunto de ações e de outras atividades, articuladas entre si, que busquem construir um desenvolvimento local sustentável, nos aspectos social, ambiental, cultural e econômico, tendo por base atividades da agricultura familiar. A mudança no modelo de desenvolvimento passa essencialmente pela construção da cidadania, e as pequenas agroindústrias, configuradas aqui como empreendimentos agroindustriais de pequeno porte, podem representar um eficaz instrumento de desenvolvimento da agricultura familiar em efetivo processo de inclusão social. Para as pessoas que se dedicam à agroindustrialização, o trabalho realizado e a renda auferida podem representar o (re)início da construção de cidadania, bem como uma oportunidade de resgatar valores sociais e culturais, resultados que vão 43 muito além do que usualmente é confundido com cidadania. Esta, no estudo da agroindustrialização, pode ser entendida principalmente como oportunidade de trabalho e, em consequência, de obtenção de renda suficiente para viver com qualidade, conforme esclarece Prezotto (2005). Diante disso, observa-se que a efetivação da concepção de agroindustrialização de pequeno porte depende do apoio de programas na esfera federal, estadual e municipal que incorporem um conjunto de ações e serviços públicos em prol da população agrícola. Da mesma forma como, de assistência e a capacitação técnica, em todas as etapas da cadeia produtiva, na organização social e na gestão do empreendimento; tecnologias adaptadas e adequadas às pequenas agroindústrias, estudos de mercado e mecanismos de apoio à comercialização. Além dessas ações, e acessível, é imprescindível para a implantação e/ou reorganização da atividade agroindustrial de pequeno porte, bem como a adequação da legislação para a realidade destes empreendimentos ligados diretamente à agricultura familiar, no âmbito dos municípios. 2.1.5 A Expansão do Setor Agroindustrial Brasileiro O desenvolvimento das organizações do setor agroindustrial no final do século XX pode ser caracterizado pela constante busca por adequações às demandas dos mercados consumidores (SILVA; SANTOS; LIMA, 2001), influenciada pela atuação de “[...] vários grupos internacionais varejistas, com novas técnicas de gerenciamento (tecnologia da informação) e negociação [...]”, que passaram a atuar no país. Isso compeliu os empresários brasileiros a experimentar novas técnicas de parcerias e alianças estratégicas (BATALHA; SILVA, 2001, p. 25). No cenário atual, o agribusiness representa um setor de fundamental importância para a expansão econômica do país. A constatação do avanço no setor agroindustrial brasileiro, fruto da globalização econômica que tem derrubado fronteiras e definido uma nova ordem para os negócios em todos os segmentos; incentiva a utilização e/ou o aperfeiçoamento de técnicas e ferramentas de gestão para que as organizações agroindustriais possam fazer frente a essa demanda mundial (OLIVEIRA NETO, 2005; PINTO, 2005). Pela natureza de seus produtos, as organizações pertencentes a esse setor possuem estratégias, capacitação e desempenho produtivo e tecnológico muito 44 similares ao das empresas produtoras de bens intermediários. Para competirem no mercado internacional, devem produzir grandes volumes, assegurar prazos de entrega e atender a parâmetros de conformidade técnica estabelecidos (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1997). Além disso, necessitam integrar as informações oriundas do contexto econômico, administrativo e técnico através de um planejamento estratégico que agregue os objetivos esperados e as etapas a serem desenvolvidas. Nesse sentido, a informação passa a ser a essência do planejamento e controle na tomada de decisões estratégicas no agribusiness, ao ser gerenciada de acordo com o alinhamento estratégico da organização. 2.1.6 A Influência das Organizações Agroindustriais no Desenvolvimento Brasileiro Ao contrário do que acontece com médios e grandes produtores, as organizações agroindustriais formalizam-se como um ator de grande poder e em expansão. As atividades agroindustriais vêm a se constituir como um eixo da agricultura moderna. Este fato ocorre devido ao desenvolvimento agrícola, bem como às políticas governamentais que estimulam a expansão de atividades como estas (ALENCAR, 2001). O relacionamento entre os segmentos agroindustriais e a tecno-burocracia pública é a forma mais comum de influência sobre o processo decisório das políticas agrícolas por intermédio de lobbies2 eficientes. A Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) constitui outro instrumento importante de formulação de propostas abrangentes com influência sobre a definição das políticas de governo (LAMOUNIER, 1994). A capacidade de influenciar a definição de políticas públicas favoráveis contribui para fazer do agribusiness um dos setores mais dinâmicos da economia e o maior gerador de divisas do país. Consequentemente, isso também prepondera no desenvolvimento em que a atividade agroindustrial está inserida, cujo potencial produtivo proporciona grandes oportunidades (LOVATELLI, 2003). 2 Grupo organizado para procurar influenciar os procedimentos legislativos (ALENCAR, 2001). 45 A ação marcante das agroindústrias, além de proporcionar a abertura dos mercados e o rompimento das fronteiras, tem possibilitado novas negociações que se refletem no aumento da renda no meio rural. Isso tem facilitado a inserção do capitalismo no campo, o que reflete na situação atual do setor agrícola, revertendo seu papel original de produção para subsistência e mpulsionando este a assumir características empresariais (PANNO, 2005). A importância do setor agroindustrial para o desenvolvimento econômico e social do país reside em sua capacidade de impulsionar e movimentar outros setores não-agrícolas e promover a contratação da mão-de-obra disponível. 2.2 Estratégias Competitivas Ao definir a competitividade como sendo uma constante busca por oportunidades de crescimento, juntamente com um esforço de maximizar a efetividade no uso e na alocação dos recursos da organização, conclui-se que o conceito de competitividade está vinculado à estratégia empresarial. Porém, é fundamental esclarecer que atingir a competitividade requer que a organização transforme suas aspirações em ação, a visão em realidade e orçamentos em resultados. A competitividade não ocorre a menos que a estratégia estimule a organização a agir. Nos estudos desenvolvidos por Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1997) sobre o conceito de competitividade, percebe-se que estes autores mencionam competitividade e estratégia como parte de um mesmo processo à medida em que definem esse conceito como sendo a capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. Dessa forma, associando o posicionamento estratégico da organização com a sobrevivência do negócio no futuro, os autores reforçam a ideia da interação entre competências e estratégia. As competências possibilitam a adoção da estratégia, enquanto que a estratégia leva ao desenvolvimento das competências. Essa relação harmoniosa entre esses dois conceitos proporciona um círculo virtuoso no ambiente organizacional, possibilitando acúmulos de competências para o futuro da organização. 46 Para estes autores, as análises competitivas devem considerar os processos internos da empresa, o mercado e as variáveis sociais, econômicas, tecnológicas e culturais do ambiente geral. Com efeito, para o alcance de uma abordagem do desempenho competitivo da empresa, necessário se faz identificar os fatores relevantes para o sucesso competitivo de cada setor empresarial, conforme os padrões concorrenciais atuantes em cada mercado. No estudo de Coutinho e Ferraz (1994) sobre a competitividade da indústria brasileira, o conceito de competitividade toma uma outra dimensão. Segundo estes autores, as mudanças econômicas nos últimos anos ampliaram, em todos os fóruns especializados, a noção de competitividade das nações. Uma das definições sobre competitividade industrial que mais influenciaram o cenário mundial foi proposta pela Comissão da Presidência dos EUA, em 1985: Competitividade para uma nação é o grau pelo qual ela pode, sob condições livres e justas de mercado, produzir bens e serviços que se submetam satisfatoriamente ao teste dos mercados internacionais enquanto, simultaneamente, mantenha e expanda a renda real de seus cidadãos. Competitividade é a base para o nível de vida de uma nação. É também fundamental à expansão das oportunidades de emprego e para a capacidade de uma nação cumprir suas obrigações internacionais. (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 17). Para estes autores, essa abordagem reconhece que a competitividade internacional de economias nacionais é construída a partir da competitividade das empresas que operam dentro e exportam a partir das suas fronteiras. Ao mesmo tempo, identifica a competitividade das economias nacionais como sendo algo mais do que a simples agregação do desempenho de suas empresas. Segundo eles: Estudos da OECD mostraram que as estratégias empresariais – com e sem sucesso – seguiram padrões específicos de acordo com cada país, sugerindo que as características do sistema econômico afetam os fatores de competitividade e, portanto, influenciam o desempenho das empresas. (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 17). Estes autores introduziram o conceito de competitividade sistêmica para enfatizar que a competitividade depende e é também resultado de fatores situados fora do âmbito das empresas e da estrutura industrial da qual fazem parte, como a ordenação macroeconômica, as infraestruturas, o sistema político-institucional e as características socioeconômicas dos mercados nacionais. 47 Ainda, segundo estes mesmos autores, o conceito de competitividade está diretamente ligado à opção teórica de quem examina o assunto, porém boa parte dos especialistas veem esse assunto como resultado de um fenômeno que está relacionado às características de algumas empresas ou produtos. “Estas características relacionam-se ao desempenho ou à eficiência técnica dos processos produtivos adotados pela firma [...]” (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 17, grifo dos autores). Para os autores que privilegiam o desempenho, a competitividade se expressa na participação no mercado (market share) alcançada por uma empresa ou um conjunto delas, particularmente o montante de suas exportações no total do comércio internacional da mercadoria em questão. Já para os que associam competitividade à eficiência, seus indicadores devem ser buscados em coeficientes técnicos (de insumo-produto ou outros) ou na produtividade dos fatores, comparados às best-practices verificadas na indústria. (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 17-18). Se essas variáveis forem analisadas considerando os enfoques acima, a visão sobre o tema fica muito restrita, pois ele é abordado de uma forma estática permitindo a análise de como os indicadores agem em um dado momento, longe de representar a realidade dinâmica do ambiente. Porém, segundo os autores referenciados, se as variáveis de desempenho de mercado e eficiência técnica forem vistas dinamicamente, elas serão resultado de capacitações acumuladas e estratégias competitivas adotadas pelas empresas, em função de suas percepções quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econômico em que estão inseridas. Nessa visão dinâmica, a competitividade deve ser entendida como a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 18, grifo dos autores). Nessa perspectiva, o sucesso competitivo, que é resultado das ações estratégicas das empresas, passa, segundo os autores, a depender da criação e da renovação das vantagens competitivas por parte das empresas e essas dependem da capacidade das empresas em se diferenciarem das demais agregando valor aos seus produtos e serviços. Diferenciando-se das demais pelo do custo e/ou preço mais baixo, melhor qualidade, menor tempo de produção, maior habilidade de servir à clientela. 48 O sucesso implica, também, que as empresas mostrem-se aptas não apenas a adotar estratégias competitivas adequadas, mas a impor correções de rumo quando necessário. Para isto, as especificidades do mercado e do ambiente econômico e as modificações esperadas nas formas de concorrência são alguns dos elementos que devem nortear as firmas na seleção de suas estratégias. O conhecimento destas especificidades ajuda a inferir quais vantagens competitivas irão se traduzir em maiores vendas e rentabilidade. (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 18). A obtenção de vantagens competitivas, portanto, é um processo de construção de competências e demanda tempo para serem alcançadas. Essa peculiaridade é percebida nas vantagens associadas à “inovação”, e a análise da competitividade deve levar em conta a cumulatividade das vantagens competitivas adquiridas pelas empresas. [...] também é necessário que a empresa detenha capacidade para implementar a estratégia, sendo esta fundada não somente na capacitação técnica, mas também no desempenho passado da firma, que se traduz em capacidade financeira, relações com fornecedores e usuários, imagem conquistada, diferenciação de seus produtos, grau de concentração do mercado etc. (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 19). Por fim, segundo estes autores, as empresas foram criadas no passado e existem hoje com a intenção de continuarem vivas no futuro. O sucesso desse intento, porém, depende da gestão de três grandes grupos de fatores: Fatores empresariais – são fatores que estão envolvidos no ambiente interno da organização, sobretudo relacionados aos níveis de competência e que sofrem influência direta do processo decisório, podendo ser controlados ou modificados por meio dessas ações. As áreas contempladas nesta perspectiva são: gestão, tecnologia, produção, qualidade, finanças e pessoas. Fatores estruturais – são aqueles ligados ao ambiente externo da organização, notadamente, as variáveis de mercado (demanda e oferta). Nesses fatores, a influência da empresa é, de certo modo, limitada por questões da concorrência, características dos mercados consumidores e configuração da própria indústria em que a empresa atua, tais como grau de verticalização e diversificação setorial. Fatores sistêmicos – dizem respeito aos aspectos macroeconômicos, políticos-institucionais, legais-regulatórios, infraestruturais, sociais e internacionais. Neste caso, a empresa é mera observadora do cenário para avaliar e adequar o posicionamento estratégico para ações futuras. 49 Em uma tentativa de colocar certa ordem nas teorias de estratégia empresarial que tratam da questão da vantagem competitiva, Vasconcelos e Cyrino (2000) apresentam uma sistematização interessante sobre as correntes explicativas que tratam sobre o tema da competitividade. Eles propõem uma estrutura de análise dividida em dois eixos principais. O primeiro eixo classifica os enfoques segundo a concepção da origem da vantagem competitiva. Neste caso, dois modelos teóricos são identificados: a) as teorias que consideram a vantagem competitiva como um atributo de posicionamento, exterior à organização, derivado da estrutura da indústria, da dinâmica da concorrência e do mercado e b) as que consideram a performance superior como um fenômeno decorrente primariamente de características internas da organização. (VASCONCELOS; CYRINO, 2000, p. 22). No segundo eixo, são contempladas as abordagens segundo suas premissas sobre concorrência. Dividem os estudos em perspectivas que enfatizam uma visão estrutural, estática da concorrência, fundada na noção de equilíbrio econômico, e os que enfocam os aspectos dinâmicos e mutáveis da concorrência, como inovação e desequilíbrio. O quadro 2 mostra essas duas dimensões e os quatro modelos teóricos presentes na estrutura de análise das correntes explicativas da vantagem competitiva, proposta por Vasconcelos e Cyrino (2000). A vantagem competitiva explica-se por fatores externos (mercados e estrutura das indústrias) A vantagem competitiva explica-se por fatores internos específicos à firma 1 - Análise Estrutural da Indústria Organização Industrial: Modelo SCP Análise de Posicionamento (Porter) 3 - Processos de Mercado Escola Austríaca (Hayek; Schumpeter) 2 - Recursos e Competências 4 - Capacidades Dinâmicas Teoria dos Recursos (RBV) (Rumelt; Barney) Teoria das Capacidades Dinâmicas (Teece; Prahalad e Hamel) Estrutura da indústria Processos de mercado (market process) Estática: equilíbrio e estrutura Dinâmica: mudança e incerteza Quadro 2: As correntes explicativas da vantagem competitiva Fonte: Vasconcelos e Cyrino (2000, p. 20). 50 A teoria de posicionamento de mercado tem como fundamento a estrutura industrial. De acordo com esta tendência, a performance das empresas em uma indústria particular depende do comportamento de compradores e vendedores no tocante à fixação de preços, níveis de cooperação tácita e competição, políticas de pesquisa e desenvolvimento, publicidade e investimentos. O modelo supõe que a performance econômica das firmas e do resultado de seu comportamento concorrencial em termos de fixação de preços e custos, e que esse comportamento depende da indústria na qual as firmas estão inseridas. E sua posição é protegida com a construção de barreiras que impeçam a entrada na indústria, evitando a erosão das margens de lucratividade. A teoria dos recursos e competências defende que a fonte da vantagem competitiva se encontra primariamente nos recursos e nas competências desenvolvidos e controlados pelas empresas e, apenas secundariamente na estrutura das indústrias nas quais se posicionam. As firmas são consideradas como feixes de recursos. Esses recursos e capacidades são vistos como elementos raros, de imitação e substituição difícil e custosa na situação particular de uma organização. A ideia de recursos não inclui somente recursos físicos e financeiros, mas também recursos intangíveis ou invisíveis. Neste sentido os processos de expansão das empresas são desse modo, caracterizados tanto pelas oportunidades externas como pelas internas do conjunto de recursos da firma. As teorias baseadas nos processos de mercado defendem que a vantagem competitiva se concentra na dinâmica da empresa, dos mercados e da concorrência, enfatizando mais os processos de mudança e inovação do que estruturas das indústrias ou os arranjos estáveis de recursos. Consideram o mercado como a força niveladora que coordena as ações dos agentes econômicos individuais, permitindo o atingimento do equilíbrio econômico por meio do mecanismo de preços como alocador principal de recursos. A teoria das capacidades dinâmicas considera as competências organizacionais em ambientes de alta complexidade e mudança constante. Este modelo estuda as relações entre os processos de decisão, as ações empreendidas e as suas consequências gerenciais, em função da formação, conservação e destruição de recursos. A vantagem competitiva está calcada em quatro fontes de recursos: acesso privilegiado a recursos únicos, capacidade de transformação dos fatores de produção em produtos vendáveis, alavancagem de recursos e 51 capacidades e a sua regeneração. Para este modelo, o mais importante não é o estoque de recursos e sim a capacidade de guardar e combinar novos recursos em novas configurações para se obterem novas fontes de renda. Analisa-se a capacidade dos processos administrativos que influenciam a produção de ativos tangíveis e intangíveis da empresa. Além dos quatro modelos sistematizados pelos autores supracitados, um quinto modelo parece emergir numa tentativa de as firmas conseguirem manter uma posição duradoura e sustentável no mercado, competindo e cooperando ao mesmo tempo. Este modelo está ligado às alianças e parcerias que as empresas têm feito na busca de resultados mais positivos. São as chamadas “estratégias coletivas” nas relações interorganizacionais. Balestrin e Verschoore (2008) registram os inúmeros casos de empresas que têm aumentado sua competitividade com a formação de redes, alianças e parcerias. Os autores sugerem a necessidade, inclusive, de reavaliar as teorias clássicas sobre estratégia e consideram que, diferentemente do paradigma da competição (jogo de soma zero), o paradigma da cooperação (jogo de soma positiva), tem como objetivo a adoção de estratégias coletivas por um conjunto de atores (fornecedores, concorrentes, clientes etc.), tendo em vista atingir objetivos comuns. Assim se habilitam empresas a competirem em instâncias mais elevadas, por meio da cooperação e formas associativas de ação empresarial. A seguir, serão analisadas as cinco forças competitivas utilizadas atualmente pelas organizações para fazerem frente às demandas cada vez mais exigentes dos mercados, os quais se caracterizam pela alta complexidade e alto grau de imprevisibilidade. Esta situação tem demandado a utilização de estratégias competitivas com maior grau de inovação e sustentáveis do ponto de vista dos resultados. 2.2.1 Cinco Forças Competitivas de Porter O estudo pretende analisar os níveis da concorrência em que as empresas estão inseridas. De acordo com Porter (2004), a intensidade da concorrência em uma indústria, seja de serviços ou de bens tangíveis, não é uma questão de coincidência ou de má sorte, ao contrário, a concorrência em uma empresa tem raízes em sua estrutura básica e vai além do comportamento do consumidor e dos 52 atuais concorrentes. O grau da concorrência em uma empresa depende de cinco forças competitivas básicas, que são apresentadas na figura 1. Nem todas as indústrias têm o mesmo potencial. Elas diferem fundamentalmente em seu potencial de lucro final à medida que o conjunto das forças difere. As forças variam de intensas, em indústrias como a de pneus, papel e aço em que nenhuma empresa obtém retornos espetaculares, a relativamente moderada, em indústrias como de equipamentos de perfuração de petróleo, cosméticos e artigos de toalete em que altos retornos são bastante comuns (PORTER, 2004). Figura 1: Cinco forças competitivas de Porter Fonte: Adaptado de Porter (2004, p. 4). A empresa precisa encontrar dentro de sua estratégia competitiva uma posição em que a companhia possa melhor se defender contra essas forças competitivas ou influenciá-las em seu favor Porter (2004). O conhecimento dessas fontes subjacentes da pressão competitiva coloca em destaque os pontos fortes e pontos fracos críticos da companhia, anima o seu posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo e colocam em destaque as áreas em que as tendências das indústrias são da maior importância, quer como oportunidades, quer como ameaças. As cinco forças competitivas, entrada, ameaça de substituição, poder de negociação dos 53 compradores, poder de negociação dos fornecedores e rivalidade entre ou atuais concorrentes refletem o fato de que a concorrência em uma indústria não está limitada aos participantes estabelecidos. Clientes, fornecedores, substitutos e os entrantes potenciais são todos concorrentes para as empresas na indústria, podendo ter maior ou menor importância, dependendo das circunstâncias particulares. De acordo com Porter (2004), todas as cinco forças competitivas em conjunto determinam a intensidade da concorrência na indústria, sendo que a força ou as forças mais acentuadas predominam e tornam-se cruciais do ponto de vista da formulação de estratégias. a) Ameaça de Entrada Para Porter (1999), os novos entrantes em um setor trazem novas capacidades, o desejo de ganhar participação no mercado e, em geral, recursos substanciais. Como resultado, os preços podem cair ou os custos dos participantes podem ser inflacionados, reduzindo, assim, a rentabilidade. Companhias provenientes de outros mercados e que estão se diversificando com aquisições em uma determinada indústria com freqüência usam seus recursos para causar uma mudança completa. A seriedade da ameaça de entrada depende da expectativa dos entrantes em relação às barreiras existentes e à reação dos concorrentes. Se as barreiras de entrada forem altas e os recém-chegados esperarem uma forte retaliação dos concorrentes, é evidente que não representarão sérias ameaças. São seis os principais sustentáculos das barreiras de entrada, de acordo com Porter (1999): 1. Economia de Escala. Essas economias bloqueiam a entrada, forçando os aspirantes a ingressar em grande escala ou a aceitar uma desvantagem de custos. As economias de escala na produção, pesquisa, marketing e serviços talvez sejam as principais barreiras de entrada no setor de computadores de grande porte. As economias de escala também atuam como obstáculos na distribuição, na utilização da força de vendas, nos financiamentos e em qualquer outra parte da empresa. 54 2. Diferenciação do Produto. A identificação com a marca cria barreiras que forçam os entrantes a vultosos investimentos para superar a lealdade dos clientes. A propaganda, os serviços aos clientes, o pioneirismo no setor e as peculiaridades do produto estão entre os principais fatores que fomentam a identificação com a marca. Esta talvez seja a mais importante barreira de entrada nos setores de bebidas não alcoólicas, medicamentos vendidos em drogarias, cosméticos, bancos de investimento e consultorias de contabilidade. No esforço de erigir elevadas cercas em torno das empresas, os fabricantes de cerveja associam a identificação com a marca às economias de escala em produção, distribuição e marketing. 3. Exigências de Capital. A necessidade de investir vultosos recursos financeiros como requisito para competição também representa uma barreira de entrada, sobretudo se o capital se destinar a despesas irrecuperáveis em propagandas de lançamento ou em P&D. As exigências de capital são impostas não apenas pelas instalações físicas, mas também pelo crédito aos clientes, pelos estoques e pela absorção dos prejuízos iniciais. Embora as grandes corporações disponham dos recursos financeiros para invadir qualquer setor, as enormes exigências do capital de certas áreas, como fabricação de computadores e extração mineral, limitam a quantidade de prováveis entrantes. 4. Custos de Mudança. Uma barreira de entrada é criada pela presença de custos de mudança, ou seja, custos com que se defronta o comprador quando muda de um fornecedor de produto para outro. Os custos de mudança podem incluir custos de um novo treinamento dos empregados, custo de novo equipamento auxiliar, custo e tempo para testar ou qualificar uma nova fonte, necessidade de assistência técnica em decorrência da confiança depositada no vendedor, novo projeto do produto, ou mesmo custos psíquicos de desfazer um relacionamento. Se esses custos de mudança são altos, os recém-chegados precisam oferecer um aperfeiçoamento substancial em custo ou desempenho para que o comprador decida deixar um produtor já estabelecido. 5. Acesso a Canais de Distribuição: É claro que o recém-chegado precisa assegurar a distribuição de seus produtos ou serviços. Por exemplo, um novo produto alimentício deve remover outros das prateleiras dos supermercados 55 através de descontos de preços, promoções, intensos esforços de vendas ou de algum outro meio. Quanto mais limitados os canais atacadistas ou varejistas e quanto maior o grau de ocupação com seus concorrentes, mais difícil será a entrada no setor. 6. Política Governamental: O governo é capaz de limitar e até mesmo bloquear a entrada em certos setores, por meio de controles como exigências de licença prévia e limitações ao acesso às matérias-primas. Os setores regulamentados, como transporte rodoviário, varejo de bebidas alcoólicas e despacho de cargas, são exemplos notáveis. O governo às vezes também desempenha um importante papel indireto, influenciando as barreiras de entrada por meio de controles como normas de poluição da água e do ar e normas de segurança do trabalho. b) Intensidade da Rivalidade entre os Concorrentes Existentes De acordo com Porter (2004), a rivalidade entre os concorrentes existentes assume a forma corriqueira de disputa por posição com o uso de táticas, como concorrência de preços, batalhas de publicidade, introdução de produtos e aumento dos serviços ou das garantias ao cliente. A rivalidade ocorre porque um ou mais concorrentes sentem-se pressionados e percebem a oportunidade de melhorar sua posição. Na maioria das indústrias, os movimentos competitivos de uma firma têm efeitos notáveis em seus concorrentes e podem, assim, incitá-los à retaliação ou aos esforços para conter estes movimentos; ou seja; as empresas são mutuamente dependentes. Este padrão de ação e reação pode, ou não, permitir que a empresa iniciante e a indústria como um todo se aprimorem. Se os movimentos e contramovimentos crescerem em um processo de escalada, todas as empresas da indústria poderão sofrer as conseqüências e ficar em situação pior do que a inicial. Algumas formas de concorrência, notadamente a concorrência de preços, são altamente instáveis, sendo bastante provável que deixem toda a indústria em pior situação do ponto de vista da rentabilidade. Os cortes de preços são rápidas e facilmente igualados pelos rivais, e uma vez igualados, eles reduzem as receitas para todas as empresas, a menos que a elasticidade-preço da indústria seja bastante alta. Por outro lado, as batalhas de publicidade podem expandir a demanda 56 ou aumentar o nível de diferenciação do produto na indústria com benefício para todas as empresas (PORTER, 2004). c) Pressão dos Produtos Substitutos Segundo Porter (2004), todas as empresas em uma indústria, em termos amplos, estão competindo com indústrias que fabricam produtos substitutos. Os substitutos reduzem os retornos potenciais de uma indústria, colocando um teto nos preços que as empresas podem fixar com lucro. Quanto mais atrativa a alternativa de preço-desempenho oferecida pelos produtos substitutos, mais firme será a pressão sobre os lucros da indústria. A identificação de produtos substitutos por meio de pesquisa na busca de outros produtos que possam desempenhar a mesma função que aquele da indústria, algumas vezes pode ser uma tarefa sutil e leva o pesquisador a negócios aparentemente muito afastados da indústria. Corretores de títulos, por exemplo, se defrontam cada vez mais com substitutos como imóveis, seguros, mercados de câmbio e outras maneiras de o indivíduo investir capital, acentuadas em importância pelo fraco desempenho dos mercados de ações (PORTER, 2004). Para Porter (2004), os produtos substitutos que exigem maior atenção são aqueles que estão sujeitos à tendência de melhoramento do seu trade-off de preçodesempenho com o produto da indústria, ou são produzidos por indústrias com lucros altos. No último caso, muitas vezes os substitutos entram rapidamente em cena se algum desenvolvimento aumenta a concorrência em suas indústrias e ocasiona redução de preço ou aperfeiçoamento do desempenho. A análise dessas tendências pode ser importante na decisão acerca de tentar suplantar estrategicamente um substituto ou de planejar a estratégia considerada, por exemplo, os sistemas de alarme eletrônicos representam um substituto potente da mão-de-obra. Além disso, eles se tornam cada vez mais importantes, dado que os serviços de proteção com uso intensivo de mão-de-obra enfrentam uma escalada de custo inevitável, enquanto que os sistemas eletrônicos têm grande probabilidade de melhorar seu desempenho e reduzir seus custos. Assim, a resposta adequada das empresas de guardas de segurança é, provavelmente, oferecer pacotes de guardas e sistemas eletrônicos, baseados na redefinição dos guardas sistemas eletrônicos 57 de segurança como um operador qualificado, em vez de tentar competir com os sistemas eletrônicos diretamente. d) Poder de Negociação dos Compradores Os compradores competem com a indústria forçando os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os outros, tudo à custa da rentabilidade da indústria. O poder de cada grupo importante de compradores da indústria depende de certas características quanto à sua situação no mercado e da importância relativa de suas compras da indústria em comparação com seus negócios totais Porter (2004). As fontes de poder de negociação dos compradores podem ser atribuídas a consumidores bem como a compradores industriais e comerciais; necessita-se apenas de uma modificação do quadro de referência. Por exemplo, os consumidores tendem a ser mais sensíveis aos preços se estiverem comprando produtos não diferenciados, que representam uma despesa relativamente alta em relação às suas rendas, ou do tipo em que a qualidade não é particularmente importante para eles (PORTER, 2004). De acordo com Porter (2004), o poder de compra de atacadista e varejista é determinado pelas mesmas regras, com um importante acréscimo. Varejistas podem ganhar bastante poder de negociação em relação aos fabricantes quando podem influenciar as decisões de compra dos consumidores, como fazem em componentes de áudio, joalharia, eletrodomésticos artigos esportivos e outros produtos. Atacadistas podem ganhar poder de negociação se puderem influenciar as decisões de compra dos varejistas ou de outras empresas para as quais vendam. e) Poder de Negociação dos Fornecedores Os fornecedores podem exercer poder de negociação sobre os participantes de uma indústria ameaçando elevar preços ou reduzir a qualidade dos bens e serviços fornecidos. Fornecedores poderosos podem, consequentemente, sugar a rentabilidade de uma indústria incapaz de repassar os aumentos de custos a seus próprios preços. 58 De acordo com Porter (2004), as pessoas podem pensar em geral nos fornecedores como outras empresas, mas a mão-de-obra também deve ser reconhecida como um fornecedor e que exerce grande poder em muitas indústrias. Existe grande evidência empírica de que empregados altamente qualificados e escassos e/ou mão-de-obra firmemente sindicalizada podem absorver uma proporção significativa dos lucros potenciais de uma indústria. Quando a força de trabalho é rigidamente organizada ou a oferta escassa de mão-de-obra tem o seu crescimento restringido, o poder da mão-de-obra pode ser alto. As condições que determinam o poder dos fornecedores não só estão sujeitas a mudanças como, com frequência, estão fora do controle da empresa. Entretanto, como com relação ao poder dos compradores, a empresa pode, às vezes, melhorar sua situação pela estratégia. Ela pode aumentar sua ameaça de interação para trás, buscar a eliminação de custos de mudança e coisas semelhantes. As cinco forças competitivas de Porter fornecem os meios necessários para a empresa estudar o mercado e, com isso, poder se posicionar da melhor forma considerando os produtos concorrentes. No entanto pode-se estudar o mercado sob outra visão, a de Ansoff com sua matriz, a qual segue no próximo subtítulo. 2.2.2 Matriz de Ansoff A Matriz de Ansoff, também conhecida como Matriz Produto/Mercado, é um modelo utilizado para determinar oportunidades de crescimento de unidades de negócio de uma organização ou linhas de produto. As estratégias produto-mercado tratam da escolha da parcela da demanda que a empresa irá atender e com que oferta específica. A escolha da parte da demanda a ser atendida pela empresa tem duas dimensões: a escolha de mercados e a escolha dos segmentos-alvo dentro de cada mercado. Segundo Ansoff (1977), uma empresa pode atuar em um ou vários mercados distintos, entendendo-se por mercado aquela parte da demanda total que se caracteriza por apresentar uma mesma necessidade específica. Pode atuar nos mercados já explorados ou expandir-se para novos mercados. Por outro lado, para independente do número de mercados em que atue, a empresa necessitará decidir-se, em cada mercado, por um conjunto de 59 consumidores. Este conjunto poderá constituir o mercado total ou algum segmento do mercado. E por fim, para cada mercado ou segmento específico, a empresa deverá definir a oferta específica que fará em relação à sua própria linha de produtos. Essa matriz representa algumas formas que, segundo Ansoff e Mcdonnel (1993), acreditavam que poderiam aprimorar o negócio de determinada organização, por meio de quatro estratégias distintas: Penetração, Desenvolvimento de Mercado, Desenvolvimento de Produto e Diversificação Pura. A matriz tem duas dimensões, como apresentado na figura 2: produtos e mercados. Sobre essas duas dimensões, quatro estratégias podem ser formadas: A penetração de mercado indica a direção de crescimento por meio do aumento na participação nos mercados atuais para os produtos já existentes. Isso pode ser conseguido, por exemplo, aumentando-se a frequência no uso do produto, ou aumentando-se a quantidade consumida, ou encontrando-se novas aplicações do produto para os atuais usuários; O desenvolvimento de mercados indica uma nova busca de mercados para os atuais produtos da empresa. Isso pode ser conseguido, por exemplo, por meio de expansão geográfica ou pela busca de novos segmentos-alvo; O desenvolvimento de produtos cria novos produtos, ou gera aperfeiçoamentos que alterem a percepção nos produtos atuais, que venham a substituir os produtos existentes nos mercados de atuação da empresa. Isso pode ser conseguido, por exemplo, por meio do desenvolvimento de produtos de nova geração, ou pela adição de qualidades no produto atual - refinamento do produto; A diversificação é especial, pois tanto os produtos, quanto os mercados são novos para a empresa. A diversificação pode ser relacionada ou não relacionada. Na diversificação relacionada, pode-se promover o intercâmbio ou compartilhamento de ativos ou competências - marca, habilidades de marketing, capacidade de vendas, habilidades de fabricação, ou ainda buscar economias de escala. Na diversificação não-relacionada, pode-se buscar a integração vertical, benefícios tributários, ou obter um alto retorno sobre investimentos. 60 Figura 2: Estratégia produto-mercado segundo Ansoff Fonte: Rocha e Christensen (1987, p. 297). Na sequência, serão apresentados os conceitos de marketing, sua evolução e definição atual, além de uma abordagem sobre o desenvolvimento de novos produtos. 2.3 Marketing e seus Conceitos Para entender o marketing e suas ferramentas, é necessário, anteriormente, uma revisão nos conceitos de marketing, tendo em vista que o desenvolvimento de novos produtos é apenas mais umas das muitas ferramentas criadas dentro do marketing. O conceito de marketing vem-se alterando e consolidando com o passar dos anos. Como enfatiza Limeira (2005), a palavra marketing é de origem inglesa, derivada de market, que significa mercado. É utilizada para expressar a ação voltada para o mercado. Entende-se, portanto, que a empresa focada em marketing, está com as suas ações focadas no mercado. 2.3.1 Evolução do Marketing Motta (1983) esclarece que o primeiro curso de marketing foi realizado na Universidade de Michigan, em 1902 (Distributive Industries). Apesar disso, a primeira referência ao termo “The marketing of products”, é de 1905, com a disciplina oferecida pela Universidade da Pensylvania. O primeiro texto da disciplina data de 61 1914, com a publicação de “Marketing Methods and Salemanship”, através do curso de “Marketing Methods”, ministrado na Universidade de Winsconsin. Observa-se, porém, que o marketing nos Estados Unidos, originalmente era visto como um braço da economia aplicada para estudos de canais de distribuição. Até a metade dos anos 50, foi considerado como uma disciplina administrativa destinada à atividade de vendas. O sucesso de uma empresa era medido pelo seu volume de vendas, e o marketing deveria vender o que elas produziam e convencer os consumidores que precisavam de seus produtos. O foco central do marketing era o produto e não os consumidores (NEVES, 2005a). Igualmente, Limeira (2005) sustenta que o marketing surgiu na década de 50, no pós-guerra, quando o avanço da industrialização mundial aumentou a competição entre as empresas, fazendo com que a disputa pelo mercado trouxesse novos desafios. Com isso, o cliente passa a ter poder de escolha, selecionando a opção que lhe proporcione o melhor custo-benefício. No Brasil, o marketing surgiu oficialmente na comunidade acadêmica, em 1954, com a organização dos primeiros cursos de administração por uma missão norte-americana, na recém criada Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas. Surgiam dúvidas se uma palavra de origem americana pudesse ser difundida no Brasil. Os termos mercadologia e mercadização foram usados durante em período, porém, com o tempo, o termo marketing, mais incisivo e internacionalmente reconhecido, impôs-se a esses dois termos (RICHERS, 2000). Como consequência, com o amadurecimento da economia americana a partir da década de 60, muitas empresas foram criadas com inúmeras ofertas e marcas. Com isso, o marketing passa a ser considerado como uma disciplina aplicada da ciência comportamental, preocupada em entender a relação entre vendedores e compradores nas transações de produtos e serviços. Esta nova orientação visa a satisfazer plenamente um determinado grupo de consumidores, oferecendo, melhor que a concorrência, o que estes desejam (NEVES, 2005a). No princípio dos anos 70, a American Marketing Association, influenciada pelas mudanças ocorridas no mundo após os anos 50, definiu marketing como o desempenho de atividades comerciais que direcionam o fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor final ou usuário. Em 1985, essa concepção recebe uma contribuição mais abrangente: “marketing é o processo de planejamento e execução 62 da concepção, preço, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços, organizações e eventos para criar trocas que venham a satisfazer os objetivos individuais e organizacionais” (BOONE; KURTZ, 1998, p. 6). O marketing apresenta modificações recentes, foram elaboradas em consequência das repercussões dos movimentos consumidores mundiais e do reconhecimento de que o conceito de marketing poderia ter aplicação e utilidade em áreas não restritas à atuação das empresas privadas. Sob essas influências, o marketing ultrapassou os limites da atuação comercial das empresas, tornando-se uma atividade das funções sociais e culturais, em apoio a todas as ações que procuram ampliar e fortalecer estruturas usadas como promotoras de produtos, marcas e das próprias organizações (RICHERS, 2000). 2.3.2 Definições de Marketing Marketing pode ser entendido como a função empresarial que continuamente desenvolve valor para o cliente, gerando vantagem competitiva para as empresas, por meio da gestão estratégica das variáveis controláveis de marketing, que são: produto, preço, comunicação e distribuição. É um processo social que visa a satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes, pela troca livre e competitiva de produtos e serviços que geram valor para as partes envolvidas no processo (LIMEIRA, 2005). O marketing é um processo social e gerencial pelo qual os indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam a da criação e troca de produtos e valor. Subjacente ao marketing está o conceito fundamental de necessidade do homem, que é um estado de carência percebida. A necessidade básica é transformada pela cultura e pela personalidade em um desejo do homem. Este desejo, quando ligado ao poder aquisitivo, se torna demanda (KOTLER; ARMSTRONG, 2000). De acordo com os autores, essa definição baseia-se em necessidades, desejos e demandas, nas quais a necessidade humana é um estado de privação de alguma satisfação básica. As pessoas exigem alimento, roupa, abrigo, segurança, sentimento de posse e autoestima. Essas necessidades não são criadas pela sociedade ou por empresas; elas existem na delicada textura biológica e são inerentes à condição humana. 63 Muitos autores apresentam trazem no conceito de marketing uma abordagem muito mais ampla. Cobra (1997) afirma que o marketing deve ser encarado como uma filosofia, uma norma de conduta para a empresa, em que as necessidades latentes dos consumidores devem definir as características do produtos ou serviços a serem elaborados e as respectivas quantidades a serem oferecidas. Neves (2005a) destaca que existe uma inversão do processo. Ao invés de produzir o que se sabia, num ambiente pouco competitivo, e depois passar para vendas a tarefa de criar e estimular a demanda, estocando os canais de distribuição e empurrando os produtos aos consumidores, as empresas passaram a perceber o que os consumidores estavam demandando e, assim, lançaram produtos visando à sua satisfação. Segundo Vavra (1993), o marketing é desenvolvido no sentido de conceber, produzir, fixar preço, promover e distribuir ideias, tanto de bens como de serviços, com a intenção de satisfazer as necessidades dos indivíduos e organizações. No andar destes processos são incorporadas inúmeras mudanças ao distribuir produtos e serviços. Marketing é simplesmente a intenção de entender e atender o mercado. Significa que, para atender ao consumidor, a empresa deverá primeiramente entendê-lo, isto é, identificar o que ele quer e, depois, esforçar-se para atender aos seus desejos. Todas as funções do marketing remetem a duas finalidades primordiais. Uma gira em torno da identificação de “nichos” de mercado ou oportunidades de demanda, inadequadamente satisfeitas pelas ofertas existentes, seja da própria empresa seja de seus concorrentes; outra consiste em conquistar e preencher esses nichos com o mínimo de recursos e custos operacionais (RICHERS, 2000). O mesmo autor enfatiza que o marketing ultrapassou os limites da atuação comercial das empresas para se tornar atividade-irmã das funções sociais e culturais, em apoio a todas as ações humanas que, no meio ambiente, procuram formas de ampliar e fortalecer as suas estruturas, as quais podem, por conseguinte, ser usadas como promotoras de um produto, de uma marca e da própria organização. Kotler e Armstrong (1999, p. 16), ao conceituarem marketing, afirmaram que “A empresa ganha vantagem competitiva contra o concorrente quando compreende as necessidades e desejos de um mercado-alvo bem definido e usa essa 64 compreensão para oferecer uma satisfação superior a esses clientes”. Para estes autores, os membros de um canal de distribuição devem agir de forma integrada para oferecerem satisfações e valor aos consumidores. Enfatizam que “o sucesso de cada membro do canal depende do desempenho de toda a cadeia de suprimento” (KOTLER; ARMOSTRONG, 1999, p. 289) e que as empresas devem trabalhar em parceria com os outros membros da cadeia para o aprimoramento de todo o sistema de distribuição. Já no ponto de vista de Rocha e Christensen (1987), marketing é função gerencial que busca ajustar a oferta da organização à demanda específica do mercado, utilizando, como ferramental, um conjunto de princípios e técnicas. No processo social, é regulador da oferta e da demanda de bens de serviços para atender às necessidades. McCarthy e Perreault Júnior (1997) esclarecem que marketing é mais que venda e propaganda: é o conjunto de atividades desenvolvidas por organizações e também é um processo social. Divide-se em dois segmentos: micromarketing, que é o desempenho das atividades destinadas a realizar os objetivos de uma organização, partindo das necessidades do consumidor ou cliente e dirigindo-lhes um fluxo de bens e serviços a partir de um fabricante ou produtos; e macromarketing, que é o processo social que dirige o fluxo econômico de bens e serviços dos produtores aos consumidores de maneira que iguale eficazmente a oferta e a demanda e realize os objetivos da sociedade. Marketing é o processo de planejar e executar a concepção, estabelecimento de preços, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais. Há vários tipos de marketing com ou sem fins lucrativos, tais como marketing de produtos, serviços, pessoas, lugares, causas e organizações. A análise de marketing pode ser feita com bons resultados em âmbito global, organizacional, de produtos e de marca (CHURCHILL; PETER, 2003). Esses conceitos de marketing, quando adotados pelas empresas, podem proporcionar muitas vantagens, como a sobrevivência e a continuidade da empresa que, em longo prazo, derivam de sua capacidade de atrair e reter clientes. Existem indicativos de que, empresas orientadas para o marketing são mais lucrativas, independentes da agitação do mercado em que atuam, da intensidade da concorrência e do grau de mudanças tecnológicas (ROCHA; CHRISTENSEN, 1987). 65 Os conceitos de marketing e de mercado têm relação muito estreita, pois marketing significa “administrar mercados” com o propósito de satisfazer as necessidades e desejos do homem. Com isso, retorna-se o conceito de marketing “como um processo pelo qual indivíduos e grupos obtém o que precisam e desejam através de trocas de produtos e valores” (KOTLER; ARMSTRONG, 1999, p. 8). A visão ampla do marketing que tem sua base no mercado, no entendimento de Richers (2000) é a focalização do lado pragmático do marketing, aquele que procura prestar serviços à empresa para que esta possa penetrar a fundo no mercado e, em última análise, fortalecer sua imagem e vender mais. Marketing é, portanto, a intenção de entender e atender o mercado. A figura 3 mostra os elementos principais de um moderno sistema de marketing. Para Kotler e Armstrong (1999), em situação normal, o marketing significa servir a um mercado de usuários finais cercado de concorrentes. Os produtos são enviados pelo mercado, composto de empresas e concorrentes, diretamente aos consumidores, ou então, por meio de intermediários de marketing aos usuários finais. Todos os agentes desse sistema são influenciados pelo ambiente e suas forças demográficas, econômicas, físicas, tecnológicas, políticas, legais, sociais e culturais. Figura 3: Principais agentes e forças em um moderno sistema de marketing Fonte: Kotler e Armstrong (1999, p. 7). 66 Apesar de o marketing ser bastante difundido nas empresas, muitas dúvidas ainda se fazem presentes. Há empresas que possuem produtos adequados, mas não têm uma orientação para o marketing, o que pode implicar um mau desempenho como consequência de não investirem em um departamento de marketing. Da mesma forma, Levitt (1990) evidencia que muitas empresas não sobreviveram no mercado porque acreditavam e confiavam, de forma exagerada, em seus produtos, e não se preocupavam em satisfazer as necessidades dos seus clientes, neste caso, sem preocupação com a direção de seus produtos voltada para o marketing, objetivando obter um contato direto com o consumidor final. O marketing é usado para entender quais são as necessidades dos consumidores. Por um processo de pesquisa, analisa além do comportamento dos consumidores, o próprio mercado, observando quais segmentos de consumidores podem ser satisfeitos, quais serão alvo de atuação da empresa, que tipo de diferenciação pode ser oferecida, como gerar e adaptar produtos, marcas e embalagens para satisfazer essas necessidades, quais as corretas estratégias de preço, os canais de distribuição, a comunicação, a propaganda e a publicidade (NEVES, 2005b). 2.3.3 Plano de Marketing Um plano de marketing tem como objetivo identificar as oportunidades que podem gerar bons resultados para a organização, mostrando como atuar com sucesso para se obterem as posições desejadas nos mercados (COBRA, 1992). De acordo com Las Casas (2001, p. 18), “o plano de marketing estabelece objetivos, metas e estratégias do composto de marketing em sintonia com o plano estratégico geral da empresa”. Na mesma linha, Westwood (1996, p. 19) refere que: “Um plano de marketing é um documento que formula um plano para comercializar produtos e/ou serviços. O plano de marketing global da companhia pode ser composto a partir de uma série de planos de marketing menores para produtos ou áreas individuais”. Ainda, na visão de Westwood (1996), o plano de marketing disciplina o planejador a apresentar suas ideias, fatos e conclusões de uma maneira lógica que possam ser seguidos por outros. O plano de marketing é a base do plano estratégico, pois determina, através de estudos de mercado, o que, como e quando 67 será produzido um bem, serviço ou ideia para a posterior venda a indivíduos ou grupos (COBRA, 1992). A certeza de que o marketing é a ferramenta gerencial que mais influencia a evolução do homem e da sociedade já não é mais novidade. A busca incessante pela satisfação de necessidades e desejos, mesmo os mais utópicos, tem levado o homem ao progresso, em termos sociais e tecnológicos, e à resposta para a solução de determinadas necessidades. Os planos de marketing oferecem vários benefícios. Quando bem feitos, ajudam os gestores a reconhecer onde seus esforços devem estar concentrados; a observar as oportunidades no mercado e tirar o melhor proveito delas. Também proporcionam um meio de medir o desempenho do departamento de marketing pela comparação dos resultados com os objetivos (CHURCHILL; PETER, 2000, p.101). 2.3.3.1 Tipos de Planos Existem tipos de planos diferentes, para diferentes propósitos e não apenas um plano de marketing. Westwood (1996) os detalha: plano completo, plano básico, plano histórico e plano para um novo produto. Plano completo: é apropriado para o plano global de marketing da empresa e outros planos de marketing mais importantes. Plano básico: enquadra-se mais com mercados bem delimitados e poderia ser mais útil ao tratar de um único produto. Não inclui a informação sobre orçamento e o demonstrativo de resultados. Plano histórico: é uma avaliação da posição atual. Pode ser usado como a primeira etapa de um plano global ou ser utilizado para uma série de produtos diferentes a fim de se decidir qual deles tem o maior potencial. Geralmente engloba somente até o diagnóstico. Plano para novos produtos: não existem dados históricos de venda, mas sim do produto que ele vai substituir ou de concorrentes. Caso seja um produto completamente novo, detém-se apenas na análise de mercado e concorrência. O orçamento é muito importante neste tipo de plano. 2.3.3.2 Metodologias Utilizadas As metodologias apresentadas por diferentes autores para a confecção de um plano de marketing têm muitas semelhanças. Embora essas metodologias possuam 68 algumas diferenças, basicamente a formulação do plano segue a mesma linha de raciocínio. Existem muitos modelos, tais como os de Cobra (1992), Churchil (2000), Las Casas (2006). Para fins de proposição de plano de marketing, será utilizado o modelo de Kotler e Lee (2008), que possui as seguintes etapas para a formulação: 1.0 Sumário executivo; 2.0 Análise da situação; 3.0 Objetivos e metas de marketing; 4.0 Público alvo; 5.0 Posicionamento; 6.0 Composto (mix) de marketing: estratégias para influenciar públicos-alvo; 7.0 Plano de avaliação; 8.0 Orçamento; 9.0 Plano de implementação. 2.4 Desenvolvimento de Novos Produtos Nesta etapa do referencial teórico, optou-se por apresentar os conceitos relacionados ao processo de desenvolvimento do produto em si; considerou-se importante conceituar produto para facilitar o entendimento sobre o processo de desenvolvimento. 2.4.1 Definição de Produto O termo produto está na cabeça da maioria dos consumidores como sendo algo físico, por isso, faz-se necessário definir o conceito de produto. De acordo com Kotler e Armstrong (1999), produto é qualquer coisa que possa ser oferecida a um mercado para atenção, aquisição, uso ou consumo, e que possa satisfazer um desejo ou uma necessidade. A partir dessa definição percebe-se a importância de se considerar os anseios dos clientes no momento de desenvolver o produto. De acordo com Correa e Soares (2003), os autores possuem sua própria definição do que seja produto, mas há concordância de que este deve sempre vir para suprir uma necessidade, seja de cunho pessoal, ou pela própria situação imperativa que leva o usuário a adquiri-lo. É certo que os usuários querem que os 69 produtos supram suas necessidades, e requerem dos mesmos, entre outros aspectos, qualidade. A priorização por uma característica ou outra faz com que uma dessas qualidades se sobressaia sobre as outras, e vice-versa, o que até certo ponto pode ser prejudicial ao produto e ao usuário (CORREA; SOARES, 2003). Cabe lembrar que o termo produto pode induzir à percepção de algo físico. Faz-se necessário, então, deixar claro que o conceito abordado neste referencial teórico considerado produto tanto como ser um bem físico quanto um serviço. Segundo Moreira (1993), a atividade industrial, em sua forma mais característica, implica a fabricação de um produto físico, tangível, tal como uma geladeira, um automóvel, um sabonete, entre outras coisas materiais. 2.4.2 Diferenciação de Produto De acordo com Levitt (1990), o produto pode conter várias abordagens, como pode ser visto na figura 4. O autor descreve um produto como possuindo quatro gamas de possibilidades: o produto genérico, o produto esperado, o produto aumentado e o produto potencial. Figura 4: O conceito total de produto Fonte: Levitt (1990, p. 91). 70 1. O produto genérico – são as coisas básicas, elementares, sem as quais não existe a oportunidade de entrar no jogo de participação de mercado. Como exemplo, para o produtor agroindustrial é a venda de seus produtos; no caso de um banco são os fundos para empréstimos; para um corretor de imóveis; são as propriedades para vender. O cliente espera mais do que o produto genérico quando paga, nominalmente, por esse produto. A menos que suas outras expectativas mínimas sejam satisfeitas, não haverá venda. 2. O produto esperado – é tudo o que está dentro do círculo menor, inclusive o produto genérico. Isso representa as expectativas mínimas do cliente. Embora variem conforme os clientes, condições, indústrias e outras, cada cliente tem condições mínimas para realizar compras, que excedem o produto genérico em si. Como exemplo, é preciso que o produto não tenha simplesmente o preço certo, também precisa ter entrega certa, que pode referir-se e programas para localizações específicas, em quantidades variáveis e em ocasiões específicas. As condições de pagamento têm de ser certas. Dependendo do cliente, o apoio ou auxílio técnico tem de ser certo. 3. O produto aumentado – o produto que o cliente espera pode ser aumentado, oferecendo-lhe mais do que ele pensa que necessita ou do que se acostumou a esperar. Quando, por exemplo, o fabricante de computadores implanta um módulo de diagnósticos de software, que automaticamente localiza a fonte de falha ou quebra (como agora alguns estão fazendo), este fabricante aumentou o produto além do que era exigido ou até mesmo esperado pelo comprador. Quando uma firma corretora de valores inclui nas suas demonstrações mensais, para cada cliente, um balanço patrimonial atualizado desse cliente e uma demonstração das origens e aplicações de recursos, ela aumentou seu produto além do que era solicitado ou até esperado pelo cliente. Quando um fabricante de produtos de beleza oferece técnicas de administração de depósitos e programas de treinamento aos empregados de seus distribuidores, essa firma também aumentou seu produto além do que era solicitado ou esperado pelo comprador. 4. O produto potencial – O produto potencial consiste em tudo potencialmente viável e capaz de atrair e manter clientes. Enquanto o produto aumentado significa tudo o que foi ou está sendo feito, o produto potencial refere-se ao que resta ser feito, isto é, o que for possível. O que pode ser possível não é 71 estritamente uma questão do que é puramente imaginável, em base do que é ou pode ser conhecido, a respeito de clientes e concorrentes. Quando nos Estados Unidos os distribuidores independentes de aço viram declinar a confiança dos usuários do produto no apoio técnico proporcionado pelas usinas, começaram a comprar cada vez mais de usinas de ultramar, expandiram suas instalações para maiores estoques e entregas ainda mais rápidas, e aumentaram sua capacidade de fabricação. A resposta das usinas americanas foi integrar ainda mais, expandindo seus próprios centros de distribuição e fabricação, em alguns casos chegando realmente a comprar parte de seus requisitos das usinas concorrentes de ultramar (LEVITT, 1990). De acordo com Levitt (1990, p. 97), o produto potencial é sucintamente descrito como: I - [...] a forma de um produto é uma variável, não um dado conhecido, no desenvolvimento da estratégia de mercado. Os produtos são planejados e desenvolvidos para servirem a mercados. II - [...] o produto é o que o produto faz; é o pacote total de benefícios que o cliente recebe quando compra [...] Embora um produto pudesse, no mais estreito dos sentidos, ser indiferenciável, um fornecedor individual pode diferenciar seu produto das ofertas competitivas por meio de serviços, disponibilidade do produto e imagem da marca. E a diferenciação, sob aspecto ou outro, é a base para o desenvolvimento de uma franquia de mercado. III. [...] o produto, neste sentido amplo, terá significado diferente para clientes diferentes. Esta consideração é importante no que tange à seleção de mercado como à política de preços. 2.4.3 Definição de Desenvolvimento de Novos Produtos Existem outros termos com significados parecidos ao desenvolvimento do produto, como, projeto do produto, projeto do sistema, engenharia do produto. Para este estudo, foi adotado o termo desenvolvimento do produto. Para Juran (1995), uma definição de desenvolvimento do produto é, fornecer características do produto que respondam às necessidades dos clientes. E que a atividade de fornecer características do produto varia muito. Em um extremo, ela consiste em aplicar projeto ou padrão existente para atender às necessidades do cliente. No outro extremo, a atividade pode envolver longas pesquisas para encontrar uma resposta adequada. 72 De acordo com Gouvinhas e Costa (2003), o processo de desenvolvimento de um produto consiste em um processo de coleta e transformação de informações gerando conhecimento para a empresa. Uma atividade de projeto deve ser vista como uma atividade teórico-empírica, limitada pelo tempo, em que um conjunto de informações são coletadas, tratadas, transformadas e passadas adiante para uma outra atividade em um tempo adequado. Portanto, as informações não entram no início da atividade e nem saem no final da atividade, existe um fluxo de informações que ocorre a todo o momento gerando conhecimento para a organização. Para Johne (1994 apud VANONI, 2009), o desenvolvimento do produto (ou inovação) pode contribuir para um número importante de objetivos de negócios. Quatro objetivos são particularmente bem delineados pelo processo de desenvolvimento do produto: 1) vantagens competitivas no processo estratégico direcionadas ao mercado-alvo; 2) aumento da participação do mercado pelo oferecimento de produtos que são preferidos pelos consumidores em relação aos do concorrente; 3) aumento da rentabilidade pela introdução de linhas mais vantajosas; 4) construção de uma reputação para a excelência técnica pela introdução do estado da arte dos produtos. Desenvolvimento do produto é um termo geral que abrange melhorias no produto, tanto quanto alterações radicais para o que é produzido e/ou fornecido. Defendendo o conceito de que o desenvolvimento de novos produtos, não é apenas produtos inteiramente novos no mercado, Kotler e Keller (2006) definem que existem seis tipos de novos produtos, que são eles: 1. Produtos inteiramente novos: novos produtos que criam um mercado totalmente novo. 2. Novas linhas de produtos: novos produtos que permitem à empresa entrar em um mercado já existente. 3. Acréscimos a linhas de produtos existentes: novos produtos que complementam linhas de produtos existentes da empresa (em relação a tamanhos de embalagens, mudança nos sabores, nas fórmulas etc.). 4. Aperfeiçoamento e revisão de produtos existentes: novos produtos que oferecem melhor desempenho ou maior valor percebido e substituem os produtos existentes. 5. Reposicionamentos: produtos existentes que são direcionados para novos mercados ou para novos segmentos de mercado. 73 6. Reduções de custo: novos produtos que fornecem desempenho semelhante a um custo menor. Para Kotler (2000), as empresas que não conseguem desenvolver novos produtos estão se colocando em grande risco. Seus produtos são vulneráveis às mudanças das necessidades e dos gostos dos clientes, a novas tecnologias, a menos ciclos de vida do produto e à maior concorrência nacional e estrangeira. Para Kotler e Keller (2006), menos de 10% de todos os produtos novos são efetivamente inovadores e novos para o mercado. Esses produtos envolvem os maiores custos e riscos, uma vez que são novos tanto para mercado como para a empresa. Esses seis tipos de novos produtos podem ser divididos de acordo com sua relação de melhorias em produtos existentes e produtos inteiramente novos (KRAUSHAR, 1985 apud COSTA, 2006). Juran (1995) defende que o processo de desenvolvimento do produto é o processo de desenvolvimento das características do produto necessárias para atender as necessidades dos clientes, o modelo é representado na figura 5. Figura 5: O diagrama de entrada e saída para “desenvolver o produto” Fonte: Juran (1995, p. 121). A entrada são as necessidades dos clientes; o processo é o desenvolvimento do produto; e a saída são as características do produto que respondem às necessidades do cliente (JURAN, 1995). Observa-se que o resultado final do desenvolvimento do produto ocorre sob a forma de informações: um plano. O 74 produto subsequente (bens e serviços) será produzido pelas forças operacionais, e isso somente após um processo ter sido desenvolvido para a fabricação do produto. 2.4.4 Projetar e Desenvolver Novos Produtos Estudos sobre lançamentos bem-sucedidos de produtos apresentam sete fatores responsáveis pelo sucesso dos novos produtos. Esse sucesso depende da compreensão que a empresa tem das necessidades dos clientes, da relação custo/desempenho, do lançamento antecipado do produto em relação à concorrência, da margem de contribuição esperada, dos gastos para anunciar e lançar o produto, do apoio da alta gerência e da utilização de equipes interdepartamentais. Já Urban e Hauser (1993) identificaram os fatores de sucesso e os motivos de insucesso no desenvolvimento de novos produtos, conforme a tabela 1. Tabela 1: Fatores de sucesso e de insucesso no lançamento de novos produtos Fonte: Urban e Hauser (1993, p. 47). 75 Os dois grupos de fatores relacionados com a estratégia e com a gestão dos processos organizacionais e comunicacionais, pelos quais é possível concluir que uma adequada atenção às fraquezas organizacionais no processo de desenvolvimento de novos produtos é de crucial importância na gestão de novos produtos. Para Kaplan e Norton (2004), o processo bem-sucedido de projeto e desenvolvimento culmina com um produto dotado da funcionalidade almejada, atraente para o mercado-alvo e capaz de ser produzido com qualidade consistente e a um custo que proporcione margem de lucro satisfatória. Quando se trata de processo de desenvolvimento de novos produtos, os autores geralmente reconhecem a existência de um processo típico, com etapas claramente definidas, que diferenciam minimamente entre si. Tipicamente as divergências ocorrem na sequência de etapas. Em alguns modelos, as etapas são mais rígidas, enquanto em outros elas ocorrem de uma forma mais flexível, podendo ocorrer algumas etapas simultaneamente. Essas sequências de etapas ocorrem comumente na seguinte ordem: 1) Geração de ideias; 2) Seleção de ideias; 3) Análise comercial; 4) Desenvolvimento do produto; 5) Teste de mercado; 6) Comercialização. O grupo de consultoria Booz-Allen e Hamilton (1982, p. 72) referenda que: [...] a maior parte das empresas usa um processo formal de novos produtos. As empresas mais bem sucedidas no lançamento de novos produtos parecem ser aquelas que dispunham de um processo formal de novos produtos por um período de tempo mais longo. 1) Geração de Ideias: A etapa da geração de ideias é considerada o ponto de partida para o desenvolvimento e lançamento de novos produtos, sendo nesta etapa que surge a criação de um número suficiente de sugestões para possíveis novos produtos. No entanto, normalmente é necessário um grande numero de ideias para que destas seja definida qual delas será utilizada para futuros investimentos. 76 Para captação de novas ideias, são utilizadas diversas fontes, e dentre elas existem ainda diversas classificações, sendo as principais: 1 – aquelas referentes a produtos já existentes no mercado, no entanto novos para a empresa; 2 – aqueles produtos inéditos. Quanto às novas ideias, estas podem ser decorrentes de uma observação no mercado existente, através de observações, visitas a pontos de vendas, percepção dos vendedores, observação de produtos concorrentes. Esse tipo de fonte de inspiração para novos produtos mostra-se mais modesta, visto que tende a estimular produtos semelhantes àqueles já existentes no mercado. Entretanto, esse tipo fonte de inspiração pode ser útil, como defendem as autoras Rocha e Christensen (1987), quando utilizado para monitorar os passos da concorrência. Neste sentido, estimula a adaptação e até mesmo a cópia de produtos criados por outras empresas, aproveitando-se dos gastos iniciais de P&D dos concorrentes. A segunda importante fonte de ideias é a observação de novos produtos existentes no exterior. Quando executivos brasileiros visitam feiras em outros países, normalmente estão em busca de novos produtos. Rocha e Christensen (1987) salientam que a busca de novas ideias no exterior não significa necessariamente importação de tecnologia e dependência de fontes de tecnologia externas. Quando se trata de geração de ideias para produtos inéditos, surgem novamente duas grandes possibilidades: estímulo da tecnologia e estímulo do mercado. O estímulo da tecnologia decorre de uma determinada descoberta tecnologia, enquanto que o estimulo advindo do mercado, também conhecido como market pull, é aquele em que a ideia de um novo produto surge do reconhecimento da existência de uma necessidade insatisfeita no mercado, para a qual se buscam possíveis soluções que venham satisfazê-la. Resumindo, a pesquisa voltada para a geração de ideias tem fundamentalmente, procurado determinar quais são as necessidades do consumidor, com o propósito de desenvolver produtos específicos a partir dessas necessidades. Outra técnica também utilizada é a de analisar os problemas encontrados pelos consumidores. 2) Seleção de Ideias: Após o processo de geração e captação de ideias, surge a etapa de seleção, ou seja, a avaliação das ideias, para considerá-las em 77 relação aos recursos e capacidades da empresa, como também a sua adequação em relação às necessidades e expectativas dos consumidores. Segundo as autoras Rocha e Christensen (1987), as questões a serem observadas nesta fase são: • A ideia é compatível com os objetivos da empresa? • A ideia do produto é compatível com os recursos existentes na empresa? • A ideia do produto é compatível com as capacidades da empresa? • Como se comparam as diversas ideias de produto no que se refere ao potencial de mercado, tanto doméstico quanto internacional? • Como se comparam as diversas ideias de produto no que se refere a garantir à empresa uma vantagem competitiva duradoura? Esse conjunto de perguntas tem o propósito de avaliar as ideias do ponto de vista do fabricante. Um dos métodos mais utilizados para tanto junto aos consumidores é a realização de testes sobre o conceito do produto por meio entrevistas pessoais ou em grupo de consumidores. 3) Análise Comercial – Esta etapa também é conhecida como análise do negócio. A empresa avaliar a viabilidade comercial do novo produto. A viabilidade comercial, por sua vez, entende-se como plano de lucros, estimativa do prazo de retorno dos investimentos, vendas futuras, taxa de retorno. Rocha e Christensen (1987) recomendam que nessa etapa sejam feitos os seguintes questionamentos: • Já existe um mercado, ou ele ainda deve ser criado? Qual o seu tamanho e qual a parcela desse mercado que se poderá obter? • As compras do produto são únicas, periódicas ou contínuas? Qual o ciclo previsto de reposição do produto? • A demanda pelo produto é direta ou derivada? Existem produtos complementares ou substitutos? • Qual o nível de substituição de marcas que ocorre no mercado? • Qual será a resposta dos concorrentes? • Qual a taxa provável de penetração no mercado e até que ponto pode ser alterada em função de esforços de marketing? • Que política de preço será utilizada na introdução do produto? 78 Para avaliação desse conjunto de informações, sugere-se a utilização de sistemas informatizados para prever situações e produzir as análises de mercado e desempenho. Se os resultados da análise comercial indicarem possibilidades para o produto, passa-se então à etapa de desenvolvimento. 4) Desenvolvimento do produto – Esta etapa do processo de desenvolvimento de novo produtos pode ocupar um período de tempo bem superior a todas as etapas anteriores e restantes do processo. O desenvolvimento do produto consiste não só no desenvolvimento do produto físico, como também de outros aspectos a ele associados, tais como embalagem e a marca. Esta etapa do processo pode ser dividido em cindo fases: 1ª Fase - Desenvolvimento de protótipo; 2ª Fase - Testes com o protótipo; 3ª Fase Desenvolvimento da embalagem e da marca; 4ª Fase - Testes com a embalagem e a marca; 5ª Fase - Produção-piloto. Após o desenvolvimento do protótipo, este deve ser passado ao departamento de marketing para que se proceda aos devidos estudos junto aos potencias consumidores. Cabe, no entanto, uma ressalva nesta fase no tocante a expressão do consumidor frente a um produto totalmente novo, o que pode não retratar uma expressão correta do consumidor logo no primeiro contato como o produto. Em relação aos protótipos do produto, considera-se a posição de Kotler (2000), que concluiu que a tarefa de traduzir as exigências do cliente-alvo em um protótipo que funcione é apoiada por um conjunto de métodos conhecidos como desdobramento da função de qualidade (ou QFD – Quality Function Deployment). A metodologia toma a lista de atributos do cliente, gerados pela pesquisa de mercado, e os transforma em uma lista de atributos de engenharia, que os engenheiros podem utilizar. Se, por exemplo, os clientes de um caminhão proposto desejam uma certa aceleração (um atributo do cliente), os engenheiros podem transformar essa informação em termos da potência requerida e de outros equivalentes de engenharia (atributos de engenharia). A metodologia permite avaliar as opções e os custos de atender aos desejos dos clientes. Uma importante contribuição do Desdobramento da Função de Qualidade (QFD) é que ele melhora a comunicação entre os profissionais de marketing, os engenheiros e o pessoal da fabricação. Já o desenvolvimento da embalagem e da marca mostra-se como uma tarefa menos complexa, mas não menos importante. Surge também a etapa do 79 desenvolvimento da marca quando esta é testada juntamente com o produto. É comum a realização dos testes associando a marca a outros nomes ou ideia. Neste momento, são realizadas também estudos para verificar a disponibilidade da marca para registro. 5) Teste de Mercado – O teste de mercado é o momento em que todo o composto de marketing (produto, preço, distribuição, promoção) é levado em uma área geográfica restrita, para uma avaliação final. Nesta fase, a empresa pode avaliar a reação do consumidor frente aos compostos de marketing, como a reação diante de preço, marca, esforços promocionais etc.. Ainda na fase de teste de mercado, pode-se avaliar as vantagens e desvantagens apresentadas pelo produto e percebidas pelo consumidor além de se perceber também a reação dos consumidores e a identificação do perfil dos consumidores. Assim como o teste de mercado pode apresentar vantagens, por ele pode apresentar desvantagens, como levar a conhecimento da concorrência prematuramente, abrindo espaço para que outras empresas possam se beneficiar de seus testes, além de que os testes demandam tempo e custos, considerando-se ainda que os testes não garantem o sucesso ou a fidedignidade da realidade do mercado. Duas condições são primordiais para a realização dos testes de mercado. Primeiramente, o custo do teste tem que ser bem menor do que o risco de fracasso. Se não fosse assim, não haveria por que realizar o teste. E em segundo, está a importância no sentido de cuidar para que o teste seja planejado, e seus objetivos claramente definidos, para que se possa garantir o sucesso no acompanhamento e suaavaliação dos resultados. 6) Comercialização – Esta é a última etapa dos processos. É chegado o momento de introduzir o produto no mercado. Esta etapa apresenta-se sem maiores dificuldades quando, as etapas anteriores tenham sido todas cuidadosamente analisadas e planejadas. No entanto pode ser frustrante caso as etapas anteriores não tenham seguido cuidadosamente seu planejamento e análise. Concluem as autoras Rocha e Christensen (1987) que, para um controle eficaz do lançamento de um novo produto, faz-se necessário que a gerência disponha de alguns instrumentos básicos, em particular o uso de relatórios de 80 auditoria de vendas e estoques de varejo e análises do desempenho do produto em função dos objetivos preestabelecidos. 2.4.5 Desenvolvimento Simultâneo de Produto No mundo atual, de mudanças rápidas e concorrência acirrada, lançar novos produtos de forma muito lenta pode resultar em fracasso, perda de vendas e lucros e perda de posição no mercado. Acelerar a colocação no mercado e reduzir o tempo do ciclo do desenvolvimento de novos produtos tornaram-se grandes preocupações de todas as companhias industriais (KOTLER; ARMSTRONG, 2000). As empresas estão utilizando um método mais rápido, orientado para a equipe, chamado desenvolvimento simultâneo de produto, como uma forma de acelerar o ciclo de desenvolvimento do produto. Em vez de passar o novo produto de um departamento para o outro, a empresa organiza uma equipe a partir de vários departamentos para acompanhar o produto do começo ao fim. Em geral, essas equipes incluem representantes dos departamentos de marketing, finanças, projeto, produção, jurídico, e até mesmo de empresas fornecedoras. O desenvolvimento simultâneo é mais comparável a uma partida de futebol do que a uma corrida de bastão. Os membros da equipe passam o novo produto uns para os outros à medida que avançam em direção ao objetivo comum de lançamento rápido e bem-sucedido (KOTLER; ARMSTRONG, 2000). O processo de desenvolvimento simultâneo também é conhecido como engenharia simultânea, Churchill e Peter (2003) apontam que muitas organizações perceberam que podem se beneficiar da ligação do projeto do produto (como o produto será) com a engenharia de produção (como ele será feito). A combinação dessas tarefas por meio de trabalho de equipe é uma prática conhecida como engenharia simultânea, que pode aumentar a eficiência da produção. As organizações que utilizam engenharia simultânea podem fabricar produtos mais depressa e por um custo menor que seus concorrentes. No estágio de conceito do processo de desenvolvimento, reúne-se uma equipe de funcionários de várias áreas, como marketing, qualidade, fabricação, compras, engenharia e financeiro. O grupo, em conjunto, avalia as especificações e os requisitos de fabricação do produto, desenvolvendo assim um sistema mais eficiente, ao mesmo tempo em que leva o produto ao estágio de fabricação mais depressa. 81 Contudo, esse método tem suas limitações. O desenvolvimento extremamente rápido pode ser mais arriscado e oneroso do que o método sequencial, mais lento e ordenado, e muitas vezes aumenta a tensão e a confusão dentro da empresa. Mas nas indústrias de mudanças rápidas, que têm de enfrentar ciclos de produtos cada vez mais reduzidos, as recompensas desenvolvimento de produto rápido e flexível superam, em muito, os riscos. As empresas que colocam no mercado produtos novos e melhores mais depressa que seus concorrentes ganham uma enorme vantagem competitiva. Podem responder mais rapidamente aos novos desejos dos consumidores e cobrar mais caro por seus projetos mais avançados. 2.4.6 Funil de Decisões De acordo com Baxter (1995), o funil de decisões é uma forma de visualizar as variações de risco e incertezas que estão envolvidos ao longo do processo de desenvolvimento do produto. O funil de decisões é, na verdade, um processo de tomada de decisões. Na figura 5, as formas retangulares sombreadas representam as alternativas possíveis, e as formas vazadas e arredondadas representam as decisões durante a seleção de alternativas. Para Kaplan e Norton (2004), a ampla abertura na entrada do funil de decisões indica o máximo de flexibilidade na formulação de conceitos, no projeto do produto e nos processos de fabricação. Com a evolução do projeto definem-se melhor os conceitos, desenhos, e descartam-se alternativas. 82 Figura 6: Funil de decisões, mostrando o processo convergente da tomada de decisões, com a redução progressiva dos riscos Fonte: Baxter (1995, p. 9). De acordo com Baxter (1995), o funil de decisões apresenta a tomada de decisões sequenciais durante o desenvolvimento de novos produtos, mostra as alternativas disponíveis e as decisões tomadas ao longo do processo de desenvolvimento. É útil, porque vai reduzindo progressivamente o risco ao longo do processo de desenvolvimento. Não é preciso esperar que o produto esteja completamente desenvolvido e lançado para se testar a sua aceitação no mercado. Baxter (1995) explica o funil de decisões dividindo-o em três grandes partes: estratégia de negócios, oportunidades de negócios e projeto e desenvolvimento do produto. A seguir serão detalhadas essas três grandes divisões. 1) Estratégia de negócio – Em primeiro lugar, as empresas devem decidir se querem ou não inovar. Certamente, elas precisam inovar, porque são pressionadas pela concorrência e pela obsolescência cada vez mais rápida dos seus produtos, fazendo declinar suas vendas. Muito provavelmente inovarão, mas isso nem sempre acontece. Muitas empresas têm linhas tradicionais de produtos que vendem bem em um mercado também 83 tradicional. Para essas empresas, a inovação pode parecer desnecessária, colocando em risco os seus negócios. A decisão de inovar ou não é muito arriscada e com grande grau de incerteza. A decisão de inovar pode implicar investimentos consideráveis, com retorno incerto. Porém, uma decisão de não inovar pode decretar a sua exclusão do mercado, devido à competição de outras empresas mais agressivas em inovação. 2) Oportunidades de negócios – Se a empresa decidir pela inovação e colocála no seu plano estratégico, a próxima etapa é examinar todas as possíveis oportunidades de inovação. O objetivo é selecionar a melhor oportunidade possível. É importante não confundir isso com a escolha de produtos específicos. 3) Projeto e desenvolvimento de produtos – Esta é a etapa de desenvolvimento de um produto novo. As decisões nessa fase envolvem menores riscos e incertezas em relação às etapas anteriores (decisões sobre estratégia e oportunidades de inovação). Os riscos e as incertezas vão-se reduzindo, à medida que se tomam decisões sobre: 1) a oportunidade específica para o desenvolvimento de novo produto; 2) os princípios de operação do novo produto (projeto conceitual); 3) a configuração do produto (desenhos de apresentação e modelos) e, finalmente, 4) o projeto detalhado para produção. Mesmo com a atividade de desenvolvimento do produto, algum risco e incerteza podem persistir, porém, utilizando o funil de decisões esses riscos tendem a diminuir. E é mais seguro usar o funil de decisões, do que fazer o produto e experimentar para ver se deu certo. A partir das definições de desenvolvimento do produto, este estudo sugere duas abordagens para o desenvolvimento de novos produtos. Adiante será apresentado como essas duas perspectivas se relacionam, proporcionando diferentes graus de envolvimento para desenvolver os projetos dos produtos. 2.4.7 Ciclo de Vida do Produto Depois de lançar um novo produto, a empresa deseja que ele tenha vida longa e produtiva (KOTLER; ARMSTRONG, 2000). Embora não espere que o produto vá vender para sempre, deseja obter um lucro razoável para cobrir os 84 esforços e riscos investidos nele. A empresa sabe que cada produto terá um ciclo de vida, mas não sabe de antemão sua forma e duração exatas. A figura 7 mostra o curso que as vendas e lucros do produto seguem ao longo da sua vida, e que, no parecer de Kotler e Armstrong (2000), esse ciclo envolve cinco estágios distintos claramente visualizados e comentados: Figura 7: Ciclo de vida do produto Fonte: Kotler e Armstrong (2000, p. 222). 1. Desenvolvimento do produto – começa quando a empresa encontra e desenvolve a ideia de um novo produto. Durante esse desenvolvimento, as vendas são iguais a zero, e os custos do investimento são crescentes. 2. Introdução – é um período de lento crescimento das vendas à medida que o produto é introduzido no mercado. Não há lucros nesse estágio devido aos altos custos da introdução do produto. Nesse momento, os custos são altos e as vendas estão apenas a crescer, os lucros costumam ser negativos nesse estágio. Assim, um dos maiores desafios da fase de introdução é manter dinheiro suficiente entrando para cobrir as despesas de construção da demanda. Dependendo do tamanho e da reputação da empresa, o profissional de marketing pode ter também dificuldade para persuadir revendedores a trabalhar com o produto. Mas os profissionais de marketing 85 nesse estágio do ciclo de vida do produto tendem a enfrentar pouca concorrência. Se eles conseguirem proteger algum aspecto do produto com uma patente ou registro, podem manter sua posição como único fabricante do produto por anos A falta de concorrência, os altos custos e a necessidade de receita muitas vezes levam os profissionais de marketing a estabelecer um preço relativamente alto nesse estágio. 3. Crescimento – é o período de rápida aceitação no mercado e lucros crescentes. Durante o estágio de crescimento, as vendas sobem rapidamente à medida que mais compradores começam a experimentar o produto. Os lucros também sobem conforme os vendedores aprendem a fazer uso eficiente de suas instalações de produção e canais de distribuição. Os desafios desse estágio incluem acompanhar a demanda e evitar os concorrentes, que são atraídos para o mercado por causa do crescimento em vendas da empresa e das grandes margens de lucros. 4. Maturidade – é um período em que o crescimento das vendas diminui, pois o produto teve aceitação de grande parte dos compradores potenciais. O nível de lucros torna-se estável ou reduzido, devido aos crescentes gastos com marketing para defender o produto da concorrência. Um produto está maduro quando se torna conhecido no mercado e quando as vendas sobem gradualmente até atingir um platô. Como muitos compradores já possuem o produto, o crescimento das vendas é mais lento e pode até começar a cair no final desse estágio. 5. Declínio – é um período em que as vendas e os lucros caem. Neste momento o volume de vendas da maioria dos produtos começa a cair, existindo diversas razões possíveis para um declínio nas vendas, como por exemplo, as necessidades ou valores podem mudar, de forma que o produto não seja mais relevante ou atraente. De acordo com Etzel, Walker e Stanton (2001), de certa forma, as ações coletivas de empresas que oferecem produtos concorrentes na mesma categoria afetam a forma das vendas e as curvas de lucro durante o curso do ciclo de vida. Mesmo companhias únicas podem sofrer um impacto. Uma empresa gigante pode conseguir encurtar o estágio introdutório ao ampliar a distribuição ou aumentar o esforço promocional que apoia o novo produto. 86 Porém, as empresas normalmente não conseguem afetar de forma substancialmente as vendas e as curvas de lucro para uma categoria de produto. Assim, sua tarefa é determinar a melhor maneira de se conseguir sucesso dentro do ciclo de vida para uma categoria. Para uma empresa individual, o sucesso da administração do ciclo de vida depende de como se prevê a forma do ciclo do produto proposto antes da sua introdução e de com ela adaptam, com sucesso, as estratégias de marketing em cada estágio do ciclo de vida (ETZEL; WALKER; STANTON, 2001). 2.4.8 Abordagens para o Desenvolvimento de Novos Produtos No levantamento sobre as abordagens para o desenvolvimento de novos produtos, estes são analisados a partir do cliente, e a abordagem a partir da empresa. Essas duas abordagens são relevantes para o desenvolvimento do produto, e devem acontecer de forma relacionada. As abordagens que as empresas geralmente adotam no processo de desenvolvimento de novos produtos, na visão de Costa (2006), realizam-se de baixo para cima (a partir do cliente) e de cima para baixo (a partir da empresa). Essas duas abordagens são apresentadas na figura 8, representando como as empresas direcionam seus esforços na busca de informação por novos produtos. Na parte esquerda da figura está ilustrada a abordagem de baixo para cima, e vale salientar que o fato de o cliente ficar embaixo no esquema representado pela figura, não significa que a empresa esteja sobre ele, em posição superior. Representa, sim, que o cliente é a base, ou seja, os pilares de informações e também de importância para as empresas, visto que o planejamento estratégico da empresa deve ser desenvolvido baseado nos clientes. Na outra abordagem, de cima para baixo, podese observar que as informações são levadas de dentro da empresa para fora. Ou seja, é mais importante para as organizações sua política interna de desenvolvimento de novos produtos do que creditar confiança em informações que o mercado pode sugerir. 87 Figura 8: Duas abordagens para o desenvolvimento do produto Fonte: Costa (2006, p. 63). Isso acontece porque as organizações que adotam a abordagem de cima para baixo tentam produzir com base em sua capacidade de produção. Essas empresas aproveitam o que a sua capacidade de produção permite produzir e então produzem levando em consideração somente suas condições, mesmo sem ter a comprovação do seu público-alvo de que o produto que será produzido tem potencial de consumo. 2.4.8.1 Abordagem a Partir do Cliente (de Baixo para Cima) Na abordagem a partir do cliente, o produto começa a ser projetado com base em informações coletadas junto aos nos clientes, e a empresa procura no mercado oportunidade de suprir novas necessidades com produtos novos, adequados aos clientes. A qualidade do produto nesta abordagem visa a atender ao que o cliente deseja, como visto anteriormente no referencial teórico, na abordagem baseada no usuário defendida por Edwards (1968 apud COSTA, 2006). Oliver (1996 apud COSTA, 2006) discorre sobre quatro perspectivas da satisfação, primeira perspectiva considera-se a satisfação como sendo uma busca individual. A segunda perspectiva apresenta o ponto de vista da empresa. A terceira mostra o mercado como um todo. Por último, a perspectiva da sociedade é a mais 88 ampla e trata da satisfação do indivíduo não só como um agente de consumo de produtos, mas como um cidadão em relação à sua saúde física, mental e financeira. Com base nessas perspectivas, pode-se perceber a relação com a terceira perspectiva, que mostra o mercado como sendo o ponto de partida para a elaboração de novos produtos, visto que a satisfação e também a insatisfação dos consumidores estão sendo analisadas no sentido de influenciar a regulamentação do mercado. E, ao considerarem os anseios dos clientes, as empresas estarão fazendo inovações baseadas em dois vetores de inovação defendidos por Sicsú (2000): os fatores endógenos, que levam em consideração a cultura local, as tradições e os costumes, e os fatores exógenos, relacionados com a abordagem a partir da empresa, no que se refere à questão da formação dos recursos humanos para trabalhar na empresa. De acordo com as quatro possibilidades de ocorrência das inovações defendidas pela OECD (2003), verifica-se a aplicação da possibilidade de ocorrência de produtos inovadores relacionado com a abordagem a partir do cliente porque nesta categoria as inovações têm possibilidades na adequação dos produtos novos ao cliente final. Ainda de acordo com a OECD (2003), as inovações organizacionais ou de mercado estariam relacionadas com as duas abordagens, porque elas ocorrem paralelamente às inovações tecnológicas de produto ou processo. Las Casas (1997) afirma que muito se discorre sobre o cliente como foco para o desenvolvimento do produto, mas na prática isto não acontece, porque são poucas as empresas que realmente aplicam uma orientação verdadeira aos clientes. As empresas justificam a dificuldade de se implantar uma filosofia voltada ao cliente, porque o elemento humano (lado pessoal de qualquer técnica administrativa) é afetado por fatores culturais, ou seja, as pessoas por questões culturais, não têm e nem desenvolvem o hábito de servir, o que dificulta o atendimento das expectativas do cliente. A força competitiva das empresas nesta abordagem está no poder de negociação com os compradores, porque os compradores podem influenciar o preço do produto ou serviço para baixo, colocando as empresas umas contra as outras. E com isso, o preço do produto pode acabar não gerando lucro a nenhuma empresa. Cabendo , então, às empresas saberem negociar para que os preços não caiam muito. 89 Exemplos de produtos que são elaborados sob esta abordagem são: serviços bancários que tentam personalizar ao máximo o atendimento aos clientes especiais, e produtos tangíveis como sapatos da moda. Verifica-se que, em situações de mercado quando a concorrência é muito intensa, as empresas tendem a concentrar maior atenção no cliente do que em mercados, que a concorrência praticamente não existe. 2.4.8.2 Abordagem a Partir da Empresa (de Cima para Baixo) Nesta abordagem, a partir da empresa, a pesquisa de mercado não é tão considerada no momento de elaborar o produto quanto é na abordagem anterior, a partir do cliente, pois a empresa dá ênfase ao desenvolvimento do produto de acordo com suas condições de produção e recursos. Nesta abordagem, a empresa correrá o risco de o cliente não estar interessado em consumir o que foi fabricado. A qualidade observada na abordagem a partir da empresa é a qualidade baseada na produção. A empresa concentra seus esforços em produzir bem o que foi especificado no projeto do produto de acordo com suas condições de produção. A ênfase não está no cliente e sim na produção. De acordo com Garvin (2002), enquanto as definições da qualidade baseadas no usuário estão calcadas nas preferências do consumidor, as definições baseadas na produção concentram-se no lado da oferta e se interessam basicamente pelas práticas relacionadas com a engenharia e a produção, internas à empresa. São quatro as perspectivas da satisfação: a perspectiva da busca individual pelo cliente; a perspectiva do ponto de vista de empresa; a perspectiva do mercado em geral; e a perspectiva da sociedade por Oliver (1996, apud COSTA, 2006), ponto de vista da empresa. Dessas, a segunda perspectiva está relacionada com a satisfação da empresa, ou seja, o ponto de vista da empresa. As empresas buscam o lucro, e quase sempre sua rentabilidade é resultante da venda repetida de seus produtos ou serviços ao longo do tempo. Se a empresa considerar mais sua capacidade de produção do que as necessidades do seu público alvo, ela estará correndo o risco de perder sua rentabilidade, porque, se os clientes não ficarem satisfeitos e interromperem o consumo de seus produtos ou serviços, ou substituírem o fornecedor, possivelmente o lucro da empresa será afetado mais cedo 90 ou mais tarde e consequentemente a empresa terá que terminar suas atividades no mercado. Percebe-se que a abordagem a partir da empresa tem um foco com maior risco de os clientes não aceitarem o que as empresas estão querendo oferecer, de acordo com sua capacidade de produção. Dessa forma, as empresas devem ter maior cuidado ao elaborar seus novos produtos quando estão considerando mais sua capacidade de produzir. Kotler e Armstrong (2000) explicam que, as empresas mais inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Ou seja, não adianta oferecer só o que o cliente quer nem oferecer só o que pode ser produzido, mas tentar adequar, da melhor forma, as necessidades dos clientes com a real capacidade de produção da empresa. Em relação à força competitiva, conforme abordado no capitulo Estratégias competitivas, este tipo de abordagem está voltada para o poder de negociação com os fornecedores em busca de menores preços e de matéria-prima com mais qualidade para poder diferenciar-se dos concorrentes. Nessa abordagem, o foco está no processo produtivo da empresa e não no cliente final. 2.4.9 Matriz de Relacionamento das Duas Abordagens para o Processo de Desenvolvimento de Novos Produtos Com base nas duas formas de abordagens apresentadas anteriormente, temse a matriz para mostrar a relação entre elas, surgindo a partir disso 4 perspectivas para o processo de desenvolvimento de novos produtos. Essa relação procura mostrar os quatro diferentes níveis de relacionamento que as empresas podem considerar no momento de desenvolver o produto, conforme pode ser visto na figura 9. 91 Figura 9: Matriz das perspectivas para o processo de desenvolvimento de novos produtos Fonte: Costa (2006, p. 70). A figura procura detalhar cada uma das perspectivas, com o intuito de identificar a que melhor atende às necessidades dos clientes, levando em consideração as limitações de produção de cada empresa. As limitações são consideradas pelas dificuldades que as empresas encontram em atender completamente às necessidades dos clientes, por causa de limitações de seus recursos materiais e humanos para desenvolver os produtos de que os clientes necessitam. Os processos que serão apresentados a seguir são aplicados para o desenvolvimento dos produtos das empresas, e as empresas podem adotar dois ou mais processos, dependendo do produto ou linha de produtos produzidos. 2.4.9.1 Processo Receptor para Desenvolvimento de Novos Produtos Nesta primeira perspectiva, está o Processo Receptor para Desenvolver Novos Produtos, mostrando o nível de relacionamento das duas abordagens em um nível mais baixo. Ou seja, as necessidades dos clientes são consideradas para desenvolver os produtos juntamente com as condições de produção da empresa, porém em menor grau de investimento nessas duas dimensões. O processo de inovação para as empresas que se baseiam no processo receptor pode se fundamentar-se nas inovações incrementais, uma vez que elas não precisam estar tentando lançar um produto totalmente novo no mercado, porque 92 seus clientes já estão com suas ideias de produto desenvolvidas. Cabe à empresa somente fazer inovação em relação ao processo produtivo, caso a empresa contratante esteja de acordo em fazer algumas alterações no produto. Por isso que essas empresas realizam uma abordagem a partir da empresa e a partir do cliente menos intensa do que no processo proativo para desenvolvimento de novos produtos. O nível de concorrência neste processo está no poder de negociação com os fornecedores em relação as cinco forças competitivas de Porter (2004), porque as empresas que trabalham com os projetos já elaborados têm apenas que produzir de acordo com o que já foi especificado no projeto. As empresas terão que conseguir matérias-primas mais baratas e de qualidade se quiserem ter um diferencial competitivo em relação às outras empresas que trabalham da mesma forma. 2.4.9.2 Processo Foco no Cliente para Desenvolvimento de Novos Produtos Na segunda perspectiva, está o Processo Foco no Cliente para Desenvolvimento de Novos Produtos. Neste se observa que a abordagem com maior ênfase realiza-se a partir do cliente, superior à abordagem a partir da empresa para o desenvolvimento do produto. Esta perspectiva pode parecer a mais indicada, por levar em consideração preferencialmente as necessidades dos clientes e não as necessidades da empresa. Porém, se às empresas concentrarem todos seus esforços em atender plenamente as necessidades dos consumidores sem considerar sua real capacidade de produção, podem não conseguir atender às necessidades dos clientes da melhor forma. Isto por que suas limitações de produção podem estar abaixo do especificado, ou seja, no momento da fabricação do produto, sua capacidade de produzir com tal nível de exigência pode estar aquém do que foi planejado, ficando, dessa forma, com a fabricação de um produto diferente do planejado com base nas informações coletadas junto aos clientes. O processo de inovação está relacionado com as inovações de domínio comercial, uma vez que, nesta categoria, estão envolvidos os conjuntos de mudanças que a empresa pode fazer com o intuito de melhorar seu relacionamento com o seu mercado-alvo ou permitir com isso atingir novos mercados. Por exemplo, o desenvolvimento de uma melhor forma de distribuição dos produtos da empresa, uma nova forma de utilização de um produto já existente da empresa, entre outros. 93 2.4.9.3 Processo Foco na Empresa para Desenvolvimento de Novos Produtos No terceiro quadrante, está o Processo Foco na Empresa para Desenvolvimento de Novos Produtos. Neste se observa que as condições de produção da empresa estão sendo mais destacadas, ou seja, consideras como prioridades para a empresa em relação ao desenvolvimento do produto a partir do cliente. O problema observado para as empresas que se baseiam no Processo Foco na Empresa para Desenvolvimento de Novos Produtos é que elas podem estar desprezando um fator chave para o sucesso do seu novo produto, que são as necessidades identificadas nos clientes. Uma vez identificadas essas necessidades, se as empresas não procurarem atendê-las, além de estarem perdendo dinheiro com pesquisas de mercado, elas estão correndo o risco de produzir um produto diferente do que realmente o mercado quer. As inovações que predominam com maior intensidade para essas empresas são as revolucionárias, por estarem relacionadas com a modificação de todo o processo produtivo e que, em alguns casos, podem mudar totalmente toda a base técnica de produção. Outro processo de inovação que pode ser relacionado é o processo de inovação de domínio organizacional, que tem como objetivo modificar os modos de organização da empresa, com forte influência na sua própria estrutura. A qualidade de conformação está presente neste tipo de processo por apresentar características de atender exatamente ao que foi planejado no projeto, independentemente de se o projeto considerou ou não as necessidades do cliente. A prioridade é estabelecer parâmetros que definam se o produto fabricado atende ou não às especificações do projeto. 2.4.9.4 Processo Proativo para Desenvolvimento de Novos Produtos Numa quarta perspectiva, está o Processo Proativo para Desenvolvimento de Novos Produtos. Observa-se que as duas abordagens são consideradas como prioridades, ou seja, procura-se fazer uma união perfeita das necessidades encontradas no mercado com a real capacidade de produzir das empresas. Nesta perspectiva, em comparação com a primeira que é o Processo Receptor para Desenvolvimento de Novos Produtos, observa-se um investimento muito maior nas 94 duas abordagens. Essas empresas geralmente são líderes de mercados, porque conseguem adequar sua produção, direcionada para o mercado. Tem assim um diferencial competitivo em relação às outras empresas, vistas na matriz. As empresas que investem na perspectiva do Processo Proativo para Desenvolvimento de Novos Produtos utilizam mais veementemente a engenharia simultânea, pois elas analisam as necessidades dos clientes encontradas pela pesquisa de mercado, porém consideram importante também, no desenvolvimento do projeto final do produto, a opinião de todas as áreas envolvidas com a fabricação do produto. Outra teoria utilizada no Processo Proativo para Desenvolvimento de Novos Produtos é a do QFD. Nesta, as empresas procuram avaliar os custos do processo de fabricação, porém que atendam da melhor forma às exigências dos clientes para a formação de um protótipo que realmente funcione. A abordagem do cliente e a abordagem da empresa são vistas em paralelo para a realização do projeto final do produto. Por essas empresas estarem em constante contato com o mercado no momento de desenvolver os produtos, elas estão praticando constantemente inovações radicais, podendo modificar toda a dinâmica de concorrência entre elas. Ou seja, essas empresas geralmente ditam o rumo das outras, por conseguirem colocar algo totalmente novo no mercado. Como as outras empresas não possuem a mesma visão, irão apenas copiar o novo produto fazendo pequenas modificações, que são as inovações incrementais. No Processo Proativo para o Desenvolvimento de Novos Produtos, praticamse as duas qualidades defendidas por Paladini (1995) a do projeto e a de conformação. Ao se desenvolver o projeto do produto, a qualidade de projeto já estará sendo agregada ao produto antes mesmo de sua produção final. E a qualidade de conformação deve ser vista, tão logo o projeto tenha sido definido. Se o projeto final do produto for desenvolvido com a participação de todas as áreas envolvidas, então será importante que ele seja fabricado de acordo com o que foi realmente especificado. Dentre as quatro perspectivas que foram apresentadas para o desenvolvimento de novos produtos, verifica-se como sendo a mais indicada a do Processo Proativo. Este processo se apresenta como o mais completo por ter o objetivo principal de conciliar os interesses dos seus clientes com os interesses e reais condições de produção das empresas. 95 Neste referencial teórico, foram apresentados conceitos importantes que norteiam este trabalho de pesquisa, tais como desenvolvimento, estratégias competitivas, marketing e seus conceitos e o desenvolvimento de novos produtos. No capítulo seguinte, será apresentada a metodologia adotada para elaboração da presente pesquisa. 96 3 METODOLOGIA Entende-se por metodologia o estudo dos caminhos e dos instrumentos que o pesquisador utiliza para fazer ciência. Ao conservar seu caráter instrumental, a metodologia pode constituir-se num dos momentos mais importantes da formação científica, simplesmente por questionar criticamente a própria razão de ser da ciência e a pretensão de se fazer ciência (DEMO, 1991). De acordo com o conceito apontado por Minayo (1999, p. 16), metodologia é “[...] o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Nesse sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas”. Enquanto abrangência de concepções teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas, intrincavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática. (MINAYO, 1999, p. 16). Marconi e Lakatos (2003, p. 83) destacam que “[...] não há ciência sem o emprego de métodos científicos”. Para essas autoras, método é um conjunto de atividades sistemáticas e racionais que permite alcançar o objetivo, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando o pesquisador nas suas decisões. Essas definições justificam este capítulo, que apresenta os procedimentos metodológicos utilizados na execução da presente dissertação. Identifica a organização que foi estudada e seus agentes entrevistados, as etapas da pesquisa, as técnicas e instrumentos de coleta de dados e a forma como estes foram tratados, analisados e interpretados. 3.1 Classificação da Pesquisa Os objetivos da pesquisa definem o modelo de pesquisa, a qual se classifica de acordo com sua natureza, abordagem, objetivos e procedimentos técnicos, adotando formas apropriadas para sua realização. 97 3.1.1 Quanto à Natureza Assim, de acordo com a sua natureza, é possível considerar esta pesquisa como uma pesquisa aplicada e prescritiva. A intenção do pesquisador foi de desenvolver novos produtos como estratégia de competitividade a qual gerou os conhecimentos do ambiente organizacional (VERGARA, 2009). Dessa forma, a pesquisa aplicada justifica-se devido ao interesse prático do pesquisador de contribuir, de forma significativa, na solução de possíveis problemas relacionados à competitividade da organização, objeto do estudo de caso. 3.1.2 Quanto à Abordagem Classifica-se como uma pesquisa com abordagem qualitativa e quantitativa. Qualitativa por apresentar as seguintes características essenciais: o ambiente organizacional como fonte direta dos dados; o pesquisador como instrumento principal na coleta dos mesmos; utiliza-se de procedimentos descritivos da realidade; preocupação com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto; tendência a analisar os dados indutivamente; o significado como preocupação essencial (TRIVIÑOS, 1987). E quantitativa por considerar que quase tudo pode ser medido. Neste caso, a pesquisa de mercado, cujo resultado foi traduzido em números, proporciona classificá-la, analisá-la e gerar gráficos ilustrativos. 3.1.3 Quanto aos Objetivos Quanto aos objetivos que se buscou alcançar, estes possibilitam classificar a pesquisa como uma pesquisa descritiva, exploratória. Descritiva, pois descreve como determinada organização agroindustrial tem se estruturado no que se refere ao desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade e com isso a possibilidade de contribuir para o seu desempenho (TRIVIÑOS, 1987). Como estudo descritivo, a pesquisa procurou expor e descrever os fatos ou fenômenos da realidade estudada, neste caso as características dos gestores, comerciantes varejistas e consumidores. Vergara (2009) esclarece que ela pode também estabelecer relações entre variáveis e definir sua natureza. 98 Os estudos descritivos possibilitaram identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação, classificação, explicação das suas relações de causa e efeito, o que leva à obtenção de uma melhor compreensão do comportamento de diversos fatores e elementos que influenciam determinado fenômeno (OLIVEIRA, 1997). Foi classificada como exploratória, pois permite que o pesquisador aumente sua experiência em torno do problema que envolve as organizações do setor agroindustrial. Tornou possível, também, que o pesquisador aprofundasse seus estudos nos limites dessa realidade específica, já que tenta contribuir para o preenchimento de uma lacuna existente no campo de tais organizações (TRIVIÑOS, 1987). Além disso, como estudo exploratório, a pesquisa teve a finalidade de esclarecer, desenvolver e rever conceitos que poderão ser úteis para futuras abordagens (TEIXEIRA, 2003). 3.1.4 Quanto aos Procedimentos Técnicos Com relação aos procedimentos técnicos, a pesquisa classifica-se como bibliográfica, estudo de caso e levantamento (Survey). Bibliográfica, porque envolveu uma investigação bibliográfica a respeito do tema escolhido: Desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade (MARCONI; LAKATOS, 2003) e Survey por representar a coleta de dados junto aos gestores, comerciantes varejistas e consumidores visando a coleta de informações suficientes para atingir o objetivo de descrição e exploração. A bibliografia encontrada a respeito deste tema ofereceu ao pesquisador meios para definir e resolver o problema em questão, bem como permitiu explorar novas áreas que não se cristalizaram suficientemente (MARCONI; LAKATOS, 2003). Teve por objetivo proporcionar “[...] um reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações” (FERRARI, 1974, p. 220). Esta pesquisa se qualificou como um estudo de caso por ser uma investigação empírica que procurou compreender um fenômeno contemporâneo em uma organização específica, a Doces Müller Indústria e Comércio Ltda. Ou seja, propor o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade, segundo algumas dimensões funcionais, cujos limites não estavam claramente 99 definidos. Tratou-se de uma questão pertinente ao momento atual vivenciado pela organização (YIN, 2001). A essência deste estudo de caso encontrou-se na tentativa de esclarecer o problema apresentado a partir de uma situação tecnicamente única, baseada em várias fontes de evidências que beneficiam o desenvolvimento das proposições teóricas para conduzir a coleta e análise de dados. Assim, “[...] o estudo de caso como estratégia de pesquisa compreende um método que abrange tudo – com a lógica de planejamento incorporando abordagens específicas à coleta de dados e à análise de dados” (YIN, 2001, p. 33). Como a seleção do procedimento metodológico da pesquisa estava diretamente vinculado ao problema pesquisado, configurou-se a decisão de utilizar o método de levantamento (Survey), procedimento técnico que permitiu ao pesquisador realizar uma sondagem de opinião pública sobre os produtos a serem lançados no mercado. Como afirma Gil (1999, p. 50), “as pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer”. 3.1.5 Universo, Sujeitos da Pesquisa e Amostra Segundo Vergara (2009, p. 46), Entende-se aqui por população não o número de habitantes de um local, como é largamente conhecido, mas o conjunto de elementos que possuem as características que serão objeto de estudo e a amostra é uma parte do universo escolhido segundo critério de representatividade. O universo desta pesquisa contemplou uma organização privada do setor agroindustrial do noroeste do estado do Rio Grande do Sul, definida por acessibilidade, conveniência e tipicidade (GIL, 1999). A organização definida como objeto desta pesquisa, é caracterizada como um estudo de caso único, a empresa Doces Müller Indústria e Comércio LTDA., localizada no município de São Martinho-RS. A seleção dos agentes organizacionais alvos da aplicação do instrumento de pesquisa está alinhada com a abordagem quantiqualitativa, configurando-se como uma amostra não probabilística intencional de conveniência por adesão (TEIXEIRA, 100 2003). Nesse sentido, os sujeitos envolvidos na coleta de dados foram os diretores, gerentes, representantes comerciais, fornecedores, clientes (comerciantes varejistas), ou seja, supermercados, padarias, lojas de conveniência, locais onde são vendidos os produtos para serem revendidos e também consumidores convidados por adesão para participar da pesquisa. A coleta de dados deu-se, em parte, por amostragem, que é o processo de colher amostras de uma população que está relacionada com a essência do processo da pesquisa descritiva por levantamentos: a partir da pesquisa de uma parcela da população, pode-se inferir o conhecimento para o todo (MATTAR, 1996). Gil (1999) classifica a amostragem em probabilística e não-probabilística. Uma amostra é probabilística quando todos os membros da população têm igual probabilidade de serem selecionados para a amostra (BABBIE, 2003). Uma amostra não probabilística não apresenta fundamentação matemática ou estatística, fica a critério do pesquisador, e pode ser por acessibilidade, tipicidade ou por cotas (GIL, 1999), no entanto neste estudo de caso foi utilizado a amostra não-probabilística. 3.1.6 Método de Coleta de Dados O objeto deste estudo é o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade, buscando assim identificar as diversas percepções tanto dos gestores, fornecedores, clientes e consumidores que influenciam no desenvolvimento da atividade da empresa em análise pelo estudo de caso. Toda pesquisa deve ser bem planejada se quiser oferecer resultados úteis e fidedignos. Esse planejamento envolve a tarefa de coleta de dados (CERVO; BERVIAN, 2002). A pesquisa de cunho qualitativo ignora visões isoladas, somente desenvolve-se na dinâmica das ações, renovando-se constantemente. “Contudo, é possível admitir que os instrumentos de coleta de dados utilizados na investigação quantitativa também podem ser empregados no enfoque qualitativo” (TRIVIÑOS, 1987, p. 137). Diante dessa possibilidade, esta pesquisa optou por coletar seus dados por meio de entrevista semiestruturada aplicada aos gestores da empresa, e de questionários estruturados aplicados aos varejistas e aos consumidores. 101 As entrevistas foram usadas em função da necessidade de se obter dados que não poderiam ser encontrados em registros e fontes documentais, mas possíveis de serem fornecidas pelos sujeitos da pesquisa, neste caso os clientes e gestores. O questionário estruturado é a forma mais usada por possibilitar medir e comparar, com melhor exatidão, o que se deseja no que concerne a aspectos específicos, sendo utilizado para aplicar aos clientes tanto varejistas quanto consumidores (CERVO; BERVIAN, 2002). A opção por tais instrumentos ocorreu em função da complementaridade que ambos proporcionam. Privilegiou-se a entrevista semiestruturada porque ao mesmo tempo em que esta “[...] valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação” (TRIVIÑOS, 1987, p. 146). A coleta de dados procurou identificar a percepção dos diretores, gerentes, representantes comerciais, clientes e consumidores envolvidos nas atividades da organização e no consumo de seus produtos. Isso significa que cada um dos agentes respondeu por sua área específica. Sendo assim, os gestores foram entrevistados e questionados sobre as perspectivas da empresa para o futuro, considerando o cenário atual, a relação existente entre os produtos da empresa e seus fornecedores, clientes varejistas e consumidores como também sobre as estratégias frente a sua atividade. Os colaboradores e fornecedores foram entrevistados e convidados a sugerir melhorias nos produtos e a propor novos produtos. Já os clientes varejistas, comerciantes receberam um questionário estruturado, solicitando-lhes que marcassem a intenção de compra nos produtos propostos para lançamento. Por fim, os consumidores foram convidados a provar os produtos, e, mediante análise sensorial, avaliaram os quesitos: sabor, aparência e embalagem. Informaram também se já consumiam alguns dos produtos testados e a intenção de compra e sugestão de novos produtos. Quanto aos dados demográficos, estes restringiram-se a sexo e idade. 102 3.1.7 Instrumentos de Coleta dos Dados Segundo Mattar (1996), denomina-se instrumento de coleta de dados os formulários, questionários ou rol de tópicos utilizados para relacionar e registrar os dados coletados. Os instrumentos de coleta de dados adotados nesta pesquisa foram questionários estruturados, elaborados com base nas informações julgadas necessárias pelo pesquisador juntamente com os gestores da empresa, a fim de avaliar os novos produtos junto aos comerciantes varejistas e aos consumidores: 1°) Empresa: A pesquisa junto à empresa constituiu-se de um roteiro de entrevista (apêndice 1) e da aplicação do questionário aos gestores, gerente, representantes comerciais, colaboradores e fornecedores da empresa (apêndice 2); 2°) Estabelecimentos Varejistas: Constituiu-se de questionário de pesquisa contendo uma breve identificação da empresa, dos fins da pesquisa e informações quanto à utilização dos dados coletados, sendo esta destinada aos comerciantes varejistas (apêndice 3). 3°) Consumidores: Constituiu-se também de um questionário de pesquisa com uma breve identificação da empresa, dos fins da pesquisa, contendo instruções para resposta, sendo parte das respostas estruturadas numa escala de 5 a 1, sendo 5 gostei muito e 1 não gostei (Escala de Likert), tendo na sequência duas questões objetivas de múltipla escolha, uma questão descritiva, além da 'identificação do sexo e idade do respondente (apêndice 4). Um bom instrumento de pesquisa, neste caso um questionário, é aquele que contém boas perguntas. De acordo com Evrard (1994), as qualidades das boas perguntas são basicamente: compreensão (são facilmente compreendidas, os termos nelas empregados são fáceis, e elas não suscitam dúbia interpretação); conhecimento (elas realmente questionam o que se deseja saber); e imparcialidade (as perguntas não induzem o entrevistado a responder em determinado sentido). A elaboração do questionário desta pesquisa apresentou duas principais etapas: Definição das necessidades de informação: verificou-se, além dos atributos já listados a serem avaliados, quais informações complementares poderiam ser importantes e esclarecedoras. Dessa forma, além da percepção do consumidor, 103 foram inseridas outras questões, como se ele já consumia alguns dos produtos avaliados de outros fornecedores, além de informações como sexo e idade. O instrumento foi devidamente pré-testado com aplicação a sete consumidores. Alguns problemas de compreensão foram apontados e corrigidos, aprimorando assim o instrumento de pesquisa. A partir das observações do pré-teste e das alterações resultantes da validação do questionário junto aos consumidores, foi elaborada a versão final deste instrumento, sujeitando-o à validação por um profissional expert, concluindo assim o formulário de pesquisa. 3.1.8 Procedimento da Coleta de Dados A coleta de dados junto aos gestores deu-se por meio da entrevista e dos questionários aplicados aos gestores da empresa, utilizando-se de uma reunião realizada na sede da empresa no dia 4 de outubro de 2010. Estiveram presentes os três sócios, o gerente, os representantes comerciais e os colaboradores. Durante a reunião, levantaram-se questões não estruturadas, tais como: 1 - Quais os objetivos da empresa a médio e longo prazo? 2 - Existe matéria-prima suficiente para atender à demanda da produção? Quais os fornecedores potenciais? 3 - A empresa pretende ampliar canais de distribuição? Além do levantamento de dados por meio da entrevista semiestruturada aplicado aos gestores, utilizou-se o instrumento de coleta de dados secundário composto por um questionário aplicado pelas extensionistas do convênio firmado entre a empresa objeto do estudo com a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), conveniada ao Projeto Extensão Industrial Exportadora (PEIEX), que, por sua vez, é um sistema de resolução de problemas técnico-gerenciais e tecnológicos para o aumento da competitividade da micro e pequena empresa situada em arranjos produtivos locais, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil). Por meio deste convênio, a extensionista Michele Taíse Burkhard utilizou-se de um roteiro de pesquisa, munida de um questionário pré-estruturado denominado Questões do Check-List de Identificação Estratégica (Anexo 1), aplicado aos sócios 104 da empresa. Este questionário continha questões referentes à Administração Estratégica, Capital Humano, Finanças e Custos, Vendas e Marketing, Comércio Exterior, Produto e Manufatura. Os instrumentos utilizados na pesquisa de intenção de compra dos novos produtos aplicados aos comerciantes varejistas foram estruturados em um questionário (Apêndice 3). Utilizou-se da técnica de enquete com questionários préestruturados com uma breve identificação da empresa, dos fins da pesquisa, instruções para as respostas, sendo estas objetivas. A realização da pesquisa resultou na aplicação do questionário em 79 (setenta e nove) estabelecimentos. Deste universo, um estabelecimento negou-se a preencher o questionário, restando 78 questionários válidos. Para a execução desta etapa da pesquisa, o pesquisador instruiu os representantes comerciais para aplicarem os questionários de pesquisa nos estabelecimentos comerciais varejistas que já vinham adquirindo outros produtos da empresa. Usou-se por regra aplicar a pesquisa a todos os estabelecimentos cadastrados como clientes, desde que estes se disponibilizassem a colaborar com a pesquisa. Na etapa de pesquisa com os consumidores, o pesquisador dedicou-se pessoalmente à tarefa de abordagem e condução da pesquisa, dada a importância desta para o estudo. A realização da pesquisa com os consumidores deu-se mediante a aplicação de uma pesquisa sensorial e perceptual, ou seja, a degustação dos produtos pelos consumidores e sua percepção quanto aos mesmos, seguida por duas perguntas objetivas (apêndice 3),buscando saber se já consumia algum dos produtos e se após a degustação viria a adquirir algum dos produtos testados, além de uma sugestão de produtos derivados de amendoim, e a informação quanto ao sexo e idade. O local escolhido para a pesquisa foi um supermercado na região de atuação da empresa, onde se contatou com o gerente do estabelecimento, explicando-lhe o teor e objetivo da pesquisa e agendou-se a aplicação da mesma. No dia da aplicação do teste sensorial, preparou-se o local de exposição dos produtos, com amostras expostas em bandejas e um banner, identificando a empresa. Os pesquisadores vestiram-se adequadamente com avental e touca, disponibilizando a cada respondente uma bandeja com as amostras, um 105 guardanapo, um copo descartável para cuspir a amostra caso desejasse, um copo de água para enxaguar a boca entre um teste e outro, além do questionário e uma caneta. As amostras dos produtos Amendoim Torrado e Salgado, Amendoim Torrado, Cri-Cri e Mandolate, foram apresentadas de forma rodiziada quanto à sua posição a fim de balancear o experimento. Dessa forma, durante todo o teste, cada amostra foi permutada para ocupar diferentes posições no conjunto de amostras conforme sugere Oliveira (2010). Outro detalhe importante observado durante a aplicação dos testes foi o horário de aplicação. Os horários ideais para realizar as avaliações sensoriais são aqueles entre refeições, quando os provadores não estiverem influenciados pela fome ou pela ausência dela, como também evitou-se a aplicação em segundas e sextas-feiras, véspera e pós-feriados (OLIVEIRA, 2010). Durante as abordagens, buscou-se um público heterogêneo, ou seja, abordou-se público jovem, adulto e idoso, feminino e masculino, somando um total de 100 (cem) consumidores. Vale ressaltar que os consumidores foram convidados por conveniência e adesão, adotando-se uma amostra não probabilística, pois foi obtida junto aos consumidores que circulavam no estabelecimento e que concordaram em participar. A aplicação da pesquisa em todas as suas etapas mostra-se extremamente rica em informações, em especial a pesquisa com os consumidores. Os resultados serão objeto do capítulo próximo. 3.1.9 Sistematização dos Dados De acordo com MALHOTA (2001), a preparação dos dados deve iniciar-se pela verificação do preenchimento dos questionários, com identificação dos erros junto aos entrevistadores, ou descarte das respostas não satisfatórias. O passo a seguir é a codificação, que consiste na utilização de um código numérico ou alfanumérico para representar uma resposta específica. A análise preliminar dos dados inicia pela aplicação de técnicas estatísticas descritivas, tais como distribuição de frequência, valores máximos e mínimos, média e desvio-padrão (no caso das variáveis numéricas intervalares) (MALHOTRA, 2001). 106 O tratamento do material coletado envolveu ordenação, classificação, análise e simulação. Isso conduziu o pesquisador “[...] à teorização sobre os dados, produzindo o confronto entre a abordagem teórica anterior e o que a investigação de campo aporta de singular como contribuição” (MINAYO, 1999, p. 26). A análise dos dados envolveu “[...] a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores”. Já a interpretação envolveu “[...] a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 167). Para a análise dos dados, foi utilizado o programa Excel utilizando a média e desvio padrão para tabulação das informações que são apresentadas em forma de gráficos. 107 4 ESTRATÉGIAS NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Com a finalidade de atingir os objetivos propostos neste trabalho, apresenta-se a seguir a análise dos dados obtidos, de acordo com a metodologia descrita no capítulo anterior e embasado na fundamentação teórica. Compreende a interpretação qualitativa e quantitativa dos dados coletados, considerando a importância do contato pessoal no decorrer das entrevistas. Apresenta ainda a discussão dos resultados a partir da caracterização da organização agroindustrial em questão, da contextualização do uso de estratégias de competitividade na execução de suas atividades, da descrição geral e da análise crítica do impacto dos novos produtos no desenvolvimento e no alinhamento da competitividade. 4.1 Contexto Organizacional A empresa Doces Müller Indústria e Comercio Ltda, constituída em 19 de novembro de 1996, resultou da ação empreendedora do Sr. Sérgio Dionísio Müller, que já trabalhava de forma informal há alguns anos. A oportunidade do negócio surgiu devido à crescente demanda por seus produtos e pela disponibilidade da cana-de-açúcar e amendoim, principais matérias-primas. A empresa apresentou um bom desempenho nos anos seguintes à sua constituição, trabalhando com os membros do grupo familiar. No entanto, com o passar do tempo, o sócio-administrador efetuou investimentos em outras atividades econômicas, o que resultou na venda da empresa. Em 2007, a empresa é integralmente vendida para dois novos sócios que fazem algumas mudanças estruturais, contratam novos funcionários e terceirizam parcialmente as vendas. A sede atual da empresa está localizada no interior do município de São Martinho, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, vide figura 10. Conta hoje com dois sócios, um sócio gerente, um representante comercial, e quatro funcionários. Atende estabelecimentos comerciais localizados num raio de 220 km. 108 Figura 10: Localização Geográfica Doces Müller Indústria e Comércio LTDA Fonte: WIKIPEDIA, 2010. 4.2 Identificação Estratégica da Empresa no Modelo PEIEX Este item apresenta a organização da empresa utilizando-se dos dados coletados na assessoria do Projeto Extensão Industrial Exportadora (PEIEX). Os resultados desta síntese estão organizados por grupos de resposta, da mesma forma como esteve no instrumento de pesquisa (Apêndice 1). Portanto, a transcrição do resultado seguirá a mesma ordem. A - Administração Estratégica Quanto à Estratégia Organizacional, a empresa Doces Müller Indústria e Comércio Ltda atualmente não possui um planejamento estratégico (missão, visão ou política) formalizado. As metas e objetivos estão sendo determinados pelos sócios-proprietários. A empresa está informatizada e possui um sistema gerencial, no entanto não possui Home Page. 109 Quando à estrutura organizacional, a empresa não possui documentado seu organograma, assim como não há descrição das funções, registro de normas e instruções operacionais formalizadas. O alvará está regularizado. Em questões pertinentes a indicadores econômicos, a empresa desconhece sua participação no mercado. O índice de satisfação dos clientes não é verificado, assim como não há relação entre desempenho e benefícios. A taxa de produto por funcionário não é verificada, mas a produção é mensurada. B – Capital Humano Quando tratado o Capital Humano, ou seja, estratégias de recursos humanos, a empresa revelou que não tem política de participação nos lucros e nem plano de carreira, mas oferece aos seus funcionários incentivos legais, como vale transporte. O salário obedece a uma política salarial que tem como base o salário mínimo regional. A empresa não possui estagiários e nem menor aprendiz. O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) é inexistente na empresa. Quanto à administração dos recursos humanos existentes, estes são todos devidamente registrados, e a empresa encontra-se em dia com as contribuições sociais e trabalhistas. A empresa não possui critérios para a seleção dos funcionários, pois não é estabelecido um perfil necessário para admissão. Quanto há necessidade de treinamento, a empresa identifica as necessidades e encaminha os funcionários para treinamentos junto a Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Outras formas motivadoras educacionais não são utilizadas pela empresa. Não há absenteísmo e nem rotatividade de pessoal. Os funcionários não podem ser avaliados pelo desempenho individual, pois o trabalho é desenvolvido em equipe, e a empresa não faz pesquisa de satisfação dos funcionários. 110 C - Finanças e Custos A empresa executa controle de contas a pagar e a receber, possui empréstimos e faz orçamento de investimentos e despesas. Está em situação creditícia regular, e trabalha com instituições financeiras, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Quanto aos Indicadores Financeiros, a empresa executa o fluxo de caixa e avalia o Patrimônio (ativo e passivo), e seu capital de giro oscila em torno de R$ 10.000,00 por mês. Negociações com novos clientes não são avaliadas, e a empresa não conhece a rentabilidade do seu setor, mas sabe que seu negócio possui liquidez. Já na administração de custos, a empresa, possui software para calcular o custo dos produtos, e sua formação de preço tem como base 70% de custo total e 30% de lucro. No que tange a indicadores de custos, tanto o custo fixo quanto o variável são calculados pela empresa, mas sua ociosidade é desconhecida. O giro de estoque é conhecido, assim como o faturamento por funcionário. Retrabalho existe, mas seu índice não é calculado e não ocorre devolução de matéria-prima. D – Vendas e Marketing No que se refere à avaliação do mercado, a empresa avalia tendências, acompanha os preços dos concorrentes, prospecta novos clientes, mas não tem utilizado dados de pesquisa para isto até o momento. A empresa conhece o mercado em que atua e possui uma equipe de três vendedores externos, responsáveis pelas vendas regionais. Tem uma participação relativamente baixa em feiras e rodadas de negócios. O cadastro de clientes é feito em fichas que acompanham os vendedores. Em relação às políticas mercadológicas, a empresa não possui política de preços e prazos, não faz promoção e nem propaganda. Possui um bom relacionamento com seus clientes e executa negociação com eles. O produto acabado é vendido à pronta entrega, eximindo assim o estabelecimento varejista do custo de frete. 111 A sazonalidade da produção é verificada pela redução das vendas no verão. A vida útil do produto é de 90 dias da data de produção. A empresa possui estatísticas de vendas e acredita que seu lucro é compatível com seu preço de venda. E – Produto e Manufatura A empresa possui sua marca em processo de registro e com codificação e ficha técnica de seus produtos. O tempo médio de fabricação dos atuais produtos é de trinta minutos por lote, mas este pode variar alguns minutos, do acordo com o tamanho do lote. A matéria-prima é avaliada, tendo como principais critérios a qualidade e o preço. No processo de manufatura, o ferramental da empresa não está documentado e codificado. Não há lugar definido para guardar o ferramental, mas todos são de fácil acesso. A manutenção industrial é própria. A empresa não possui fichas de controle e lubrificação de equipamentos e nem manutenção preventiva. As paradas na produção geralmente ocorrem por falta de energia elétrica, não tendo uma máquina específica que provoque o maior número de paradas. A seleção de fornecedores é feita observando a qualidade e o preço da matéria-prima. O prazo entre pedido e entrega da matéria-prima em média, é de dez dias. A empresa planeja a compra de matéria-prima, mas não possuí documentação para ordens de compra e também não analisa o desempenho de seus fornecedores. A matéria-prima é guardada em um local apropriado para suprimentos e existe uma pessoa responsável pelo seu descarregamento. A empresa não possui estoques intermediários, e seu transporte interno é feito pelos próprios funcionários sem o auxilio de carrinhos ou gruas. Conhece seu estoque, e possui política de estoque mínimo de trinta dias de produção. O First In – First Out (FIFO), primeira matéria-prima a entrar no almoxarifado é a primeira a ser utilizada na fábrica, não é praticado. As máquinas utilizadas na produção são multiuso, executam várias funções. Os critérios de manufatura existem e são estipulados de acordo com a necessidade de produção. O grau de mecanização e automação são inexistentes na empresa. As 112 ferramentas são trocadas conforme a necessidade, não havendo critérios de tempo médio de troca. A empresa trabalha em dois turnos definidos, pela manhã das 07h30min às 11h30min e pela tarde das 13h30min às 17h30min. Fichas de fabricação são utilizadas, e há controles estatísticos de fabricação. Há planejamento da produção e flexibilidade da manufatura. A empresa não possui Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). No quesito qualidade e indicadores, os índices de rejeição e retrabalhos são desconhecidos, e a empresa não elabora uma estatística de qualidade. Os produtos não possuem uma padronização dos tempos, processos, operações e qualidade. A empresa não possui reclamações e devoluções por parte de clientes, pois, quando o prazo de validade está para vencer, os produtos são substituídos, no entanto não tem estatística do volume de substituições. A empresa usa como estratégia de vendas a substituição dos produtos vencidos. Na Gestão Ambiental, a Doces Müller não possui resíduos perigosos e não efetua coleta seletiva. Seus resíduos são reaproveitados na produção de novos produtos. A empresa não possui materiais que possam prejudicar trabalhadores e o meio ambiente. Possui alvará da Vigilância Sanitária e liberação do Corpo de Bombeiros para funcionamento. Todos os funcionários utilizam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), pois a empresa fornece e exige o seu uso. A empresa não controla e minimiza custos de energia, não possui registro de acidentes de trabalho e nem medidas preventivas para evitá-los. 4.2.1 As Práticas de Gestão – Avaliação PEIEX Um dos objetivos da pesquisa é conhecer a empresa e suas práticas de gestão, conhecer os fatores que interferem na gestão, seus pontos positivos, negativos e assim identificar suas forças e fraquezas para, a partir desses pontos, elaborar o plano de ação. Apresenta-se a síntese do diagnóstico realizado após a aplicação do instrumento de pesquisa do PEIEX. 113 A - Administração Estratégica A empresa apresenta resultados positivos nos seguintes quesitos: • Possui documentação necessária para seu funcionamento; • Possui descrição das funções; • Adota critérios para a seleção de terceirização de produtos e serviços; • A empresa possui sistema gerencial. No entanto, apresenta pontos que podem ser melhorados, tais como: • Elaboração de um planejamento estratégico, definir missão, visão e a política da empresa; • Divulgação dos objetivos e/ou estratégias aos funcionários; • Construção de home page na internet; • Formalização do organograma geral da empresa; • Elaboração das normas, direitos e deveres dentro da empresa; • Elaboração do manual de procedimentos e instruções operacionais; • Estabelecimento de índices de satisfação dos clientes; • Conhecimento de sua participação no mercado; • Utilização da relação Desempenho X Benefício. B – Capital Humano Pontos positivos: • Possuí política salarial, tendo como base o salário mínimo regional; • Adota o vale transporte como incentivo legal; • Identifica as necessidades de treinamento; • Todos os funcionários estão legalizados Pontos que podem ser melhorados: • Estabelecimento de critérios para admissão de pessoal; • Realização de pesquisa de satisfação dos funcionários; • Implantação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO. 114 C - Finanças e Custos Pontos positivos: • Executa controle de contas a pagar e a receber; • Encontra-se em situação creditícia regular; • Conhece o prazo médio entre recebimento do cliente e entrega de produtos; Pontos que podem ser melhorados: • Avaliação da liquidez do negócio • Verificar a rentabilidade do setor; D – Vendas e Marketing Pontos positivos: • Acompanha preços dos concorrentes; • Avalia tendências; • Define os concorrentes; • Conhece o mercado em que atua; Pontos que podem ser melhorados: • Participar de feiras e rodadas de negócios • Utilizar dados de pesquisas de mercado. E – Produto e Manufatura Pontos positivos: • Conhece o tempo médio de desenvolvimento de cada produto; • Avalia a matéria-prima de acordo com a qualidade e o preço; • É proprietário do ferramental; Pontos que podem ser melhorados: • Acompanhar tecnologias do mercado; • Documentar e codificar o ferramental; • Elaborar ficha de controle e lubrificação de equipamentos; • Analisar desempenho do fornecedor; 115 • Tornar o layout conveniente; • Calcular o índice de retrabalho; • Implantar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA. As propostas identificadas a partir dos dados coletados no instrumento de pesquisa do PEIEX são objeto do capítulo 5 onde são apresentados os resultados da pesquisa e suas contribuições. 4.3 A Empresa e sua Percepção Estratégica Como proposto na metodologia, a pesquisa junto à empresa consiste na aplicação do instrumento de pesquisa PEIEX, apresentado anteriormente, e a entrevista semiestruturadas aplicada aos gestores e colaboradores. Para sintetizar as respostas desta entrevista semiestruturadas, o pesquisador resumiu a opinião de cada um dos presentes, chegando-se à seguinte resposta: A médio e longo prazo a empresa pretende estar instalada em outro local e com sua estrutura produtiva ampliada e automatizada, e deverá utilizar para isso recursos oriundos dos atuais produtos e dos novos produtos. Esta resposta levou ao questionamento sobre quais os produtos que a empresa pretende trabalhar para dar suporte aos investimentos futuros. Neste questionamento, houve uma maior participação dos colaboradores, visto serem eles os responsáveis pela produção. A ideia em comum foi a de atender a uma determinada linha de produtos, ou seja, abastecer os estabelecimentos varejistas com uma linha de produtos derivados de amendoim e de cana de açúcar, elencando-se imediatamente produtos como: melado, açúcar mascavo, mandolate, amendoim torrado e salgado, amendoim torrado, amendoim in natura, amendoim doce (Cri-Cri), Pé-de-Moleque, Rapadura com amendoim moído (paçoquinha), Bolacha de Amendoim, Torta de amendoim. Após, selecionaram-se alguns produtos que seriam trabalhados de forma imediata, reduzindo-se a lista para o melado, o qual seria apenas embalado pela empresa e produzido pelo fornecedor do melado matéria-prima, além do mandolate, amendoim torrado e salgado, amendoim torrado, amendoim doce (Cri-Cri) e o amendoim in natura. Considerando a existência de matéria-prima suficiente para a demanda da produção e fornecedores potenciais, surgem alguns quesitos. 116 O gerente da indústria ressaltou que a matéria-prima melado é adquirida de apenas um fornecedor, e que a disponibilidade desta matéria-prima estaria sujeita a um acordo de exclusividade de fornecimento com o produtor, caso contrário necessitaria encontrar outros fornecedores. Já a matéria-prima amendoim, que era adquirida quase que integralmente do estado de São Paulo, deveria ser estimulada e até fomentada pela empresa a fim de garantir a produção local com uma qualidade superior garantindo assim o fornecimento durante o ano e uma maior participação da comunidade local na atividade da empresa. Com relação aos Canais de Distribuição o representante comercial se manifestou sobre a manutenção dos canais atuais e a possibilidade de ampliação para centros maiores, tais como a região central do estado, ou seja, Santa Maria e regiões como a Serra e o Litoral, abastecendo inicialmente lojas de conveniências e estabelecimentos varejistas localizados mais próximos às margens das rodovias trafegadas. 4.4 A Estratégia e o Desenvolvimento de Novos Produtos Munido das informações coletadas junto à empresa, percebe-se a proximidade existente entre o pensamento dos gestores com a matriz estratégica de Ansoff, apresentada no referencial teórico no Capítulo Estratégias Competitivas. A Matriz de Ansoff, também conhecida como Matriz Produto/Mercado, é um modelo utilizado para determinar oportunidades de crescimento de unidades de negócio de uma organização. As estratégias produto-mercado tratam da escolha da parcela da demanda a que a empresa irá atender e com que oferta específica. A escolha da parte da demanda a ser atendida pela empresa tem duas dimensões: a escolha de mercados e a escolha dos segmentos-alvo dentro de cada mercado. Esta matriz representa algumas formas que poderiam aprimorar o negócio de determinada organização, como acreditava Ansoff, por meio de quatro estratégias distintas: penetração, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produto e diversificação pura. 117 A pesquisa junto à empresa sinalizou a intenção dos gestores de atuarem por duas frentes, quais sejam: atuar no desenvolvimento de mercado, e no desenvolvimento de produto. O desenvolvimento de mercados indica uma nova busca de mercados para os atuais produtos da empresa. Isso pode ser conseguido, por exemplo, por meio de expansão geográfica ou pela busca de novos segmentos-alvo; O desenvolvimento de produtos cria novos produtos, ou gera aperfeiçoamentos que alterem a percepção nos produtos atuais, que venham a substituir os produtos existentes nos mercados de atuação da empresa. Isso pode ser conseguido, por exemplo, por meio do desenvolvimento de produtos de nova geração, ou pela adição de qualidades ao produto atual - refinamento do produto; A matriz pode ser visualizada na figura abaixo: Figura 11: Estratégia produto-mercado segundo Ansoff (adaptado) Fonte: Rocha e Christensen (1987, p. 297). A partir dessas constatações, inicia-se a segunda parte do trabalho, priorizando-se o quadrante desenvolvimento de novos produtos como estratégia de desenvolvimento. 118 4.5 Estabelecimentos Varejistas e os Novos Produtos Nesta segunda etapa do estudo, aborda-se a análise dos dados coletados junto aos estabelecimentos varejistas que já adquirem os produtos da empresa. Antes da avaliação dos resultados da pesquisa, vale lembrar que a empresa adotou técnicas de abordagens para o desenvolvimento de novos produtos. Durante o estudo e as discussões sobre o desenvolvimento de novos produtos, foram analisadas duas abordagens que a empresa poderia adotar no processo de desenvolvimento de novos produtos, com base no que afirma Costa (2006): de baixo para cima (a partir do cliente) e de cima para baixo (a partir da empresa). Essas duas abordagens são apresentadas na figura 12, representando como as empresas direcionam seus esforços na busca pela informação por novos produtos. Na parte esquerda da figura, está ilustrada a abordagem de baixo para cima. Vale salientar que, com o cliente ficando embaixo no esquema representado pela figura, não se pretende expressar que a empresa esteja sobre o cliente, em um nível superior. Representa, sim, que o cliente é a base, ou seja, os pilares de informações e também de importância para as empresas, visto que o planejamento estratégico da empresa deve ser desenvolvido baseado nos clientes. Na outra abordagem, de cima para baixo, pode-se observar que as informações são levadas de dentro da empresa para fora, ou seja, é mais importante para essas organizações sua política interna de desenvolvimento de novos produtos do que creditar confiança em informações que o mercado pode sugerir. Figura 12: Duas abordagens de desenvolvimento do produto (adaptado) Fonte: Costa (2006, p. 63). 119 Isto acontece porque as organizações que adotam a abordagem de cima para baixo tentam produzir com base em sua capacidade e técnica de produção. Essas empresas aproveitam o que a sua capacidade de produção permite produzir e então produzem levando em consideração somente suas condições, mesmo sem ter a comprovação do seu público-alvo de que o produto que será produzido tem potencial de consumo. Neste estudo de caso, a organização adota a abordagem de cima para baixo, ou seja, a partir da empresa. A pesquisa de mercado não é tão considerada no momento de elaborar o produto quanto é na primeira abordagem, pois a empresa dá ênfase ao desenvolvimento do produto de acordo com suas condições de produção e recursos. Nesta abordagem, a empresa corre o risco de o cliente não estar interessado em consumir o que foi fabricado. Para diminuir os riscos nesta etapa do desenvolvimento de novos produtos, Costa (2006) indica que a empresa faça pesquisa de mercado a fim de diminuir os riscos envolvidos. Com este objetivo, estruturou-se a pesquisa de intenção de compra junto aos estabelecimentos varejistas e a aplicação da pesquisa de análise sensorial e perceptual do produto junto aos consumidores. A qualidade observada na abordagem a partir da empresa é a qualidade baseada na produção. A empresa concentra seus esforços em produzir bem o que foi especificado no projeto do produto de acordo com suas condições de produção. A ênfase não está no cliente e sim na produção. São as quatro perspectivas da satisfação: a perspectiva da busca individual pelo cliente; a perspectiva do ponto de vista de empresa; a perspectiva do mercado em geral; e a perspectiva da sociedade, defendidas por Oliver (1996, apud COSTA 2006). Dessas, a segunda perspectiva está relacionada com a satisfação da empresa, ou seja, o ponto de vista da empresa. As empresas buscam o lucro, e quase sempre sua rentabilidade é resultante da venda repetida de seus produtos ou serviços ao longo do tempo. Se a empresa considerar mais sua capacidade de produção do que as necessidades do seu público alvo, ela estará correndo o risco de perder sua rentabilidade, porque, se os clientes não ficarem satisfeitos e interromperem o consumo de seus produtos ou serviços, ou substituírem o fornecedor, possivelmente o lucro da empresa será afetado mais cedo ou mais 120 tarde, e, consequentemente, a empresa terá que terminar suas atividades no mercado. A abordagem adotada pela empresa, considerando suas competências tem um foco com maior risco de os clientes não aceitarem o que as empresas estão querendo oferecer, de acordo com sua capacidade de produção. Com isso, as empresas devem ter mais cuidado ao elaborar seus novos produtos quando estão considerando mais sua capacidade de produzir. Kotler e Armstrong (2000) explicam que as empresas mais inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Ou seja, não adianta oferecer só o que o cliente quer nem oferecer só o que pode ser produzido, mas tentar adequar, da melhor forma, as necessidades dos clientes com sua real capacidade de produção. Neste sentido, com a intenção de diminuir os riscos envolvidos na adoção da abordagem a partir da empresa é que se aplicou a pesquisa de intenção de compra junto aos comerciantes varejistas e também junto aos consumidores. Em relação à força competitiva, como já foi visto na subseção 2.2 Estratégias Competitivas, este tipo de abordagem está voltada para o poder de negociação com os fornecedores em busca de menores preços e de matéria-prima com mais qualidade para poder diferenciar-se dos concorrentes, uma vez que nessa abordagem o foco está no processo produtivo da empresa e não no cliente final. Para coleta dos dados referentes à intenção de compra dos estabelecimentos varejistas, usou-se, por regra, aplicar a pesquisa a todos os estabelecimentos cadastrados como clientes desde que estes se disponibilizassem a colaborar com a pesquisa. 121 A tabulação dos dados resultou nas seguintes informações: Gráfico 1: Síntese da Intenção de compra – Comerciantes Varejistas A visualização gráfica dos resultados da pesquisa possibilita observar os produtos que oferecem maior risco na etapa de comercialização. Por tratar-se de uma abordagem a partir da empresa, esta se sujeita a um grau de risco maior no sentido de ter seus produtos rejeitados pelos estabelecimentos comerciais e pelos consumidores. A análise gráfica aponta uma excelente margem de aceitabilidade para os produtos: Amendoim Torrado e Salgado, Amendoim Doce – Cri-Cri, Mandolate e o Melado Batido. A baixa intenção de compra de alguns desses produtos não significa o seu descarte do portfólio da empresa, pois eles podem ser considerados como produtos básicos, ou seja, são as coisas básicas, elementares, sem as quais não existe a 122 oportunidade de entrar no mercado. Como exemplo, para entrar no mercado de derivados de amendoim, logicamente a empresa oferece amendoim in natura, ou amendoim torrado. O cliente espera mais do que o produto básico quando paga, nominalmente, por esse produto. A menos que suas outras expectativas mínimas sejam satisfeitas, não haverá venda (LEVITT, 1990). Os resultados apresentados pela pesquisa evidenciam os produtos potencias e os produtos básicos, restando, a partir da conclusão desta etapa, apenas a análise Sensorial e Perceptual dos consumidores, objeto do próximo capítulo. Para análise perceptual dos consumidores, foram levados apenas o amendoim torrado e salgado, o amendoim doce Cri-Cri, o mandolate e o amendoim torrado. Desses produtos, os três primeiros estão no grupo de excelente aceitação por parte do comércio varejista, restando excluído apenas o melado batido, o que não será levado a teste por trata-se de um produto complementar, ou seja, que é utilizado ou consumido adicionado a outros produtos, não consumido diretamente de forma in natura. Além desses produtos, foi incluído o amendoim torrado na lista para análise perceptual, visto sua importância como produto básico. 4.6 Consumidores e os Novos Produtos Esta parte do trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa realizada junto ao público consumidor. A análise sensorial é usada para evocar (provocar), medir, analisar e interpretar reações às características dos alimentos e materiais. Como são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição (OLIVEIRA, 2010). O homem possui habilidade natural para avaliar alimentos, sendo esta utilizada para comprar, diferenciar e quantificar as características dos alimentos. Isso ocorre desde a infância (na preferência ou rejeição aos alimentos) até a vida adulta, por isso é natural a preferência por determinadas marcas ou alimentos. Pela análise sensorial, pode-se determinar a aceitabilidade e qualidade dos alimentos, com auxílio dos órgãos humanos dos sentidos. Seu uso estende-se desde as equipes de trabalho na indústria até a análise do efeito da embalagem no produto, além do monitoramento, melhoramento ou lançamento de novos produtos no mercado. 123 A avaliação sensorial fornece suporte técnico para pesquisa, industrialização, marketing e controle de qualidade, dentre as muitas aplicações da análise sensorial na indústria de alimentos (DUTCOSKY, 1996). O controle dos atributos sensoriais de qualidade é um meio para os fabricantes de alimentos determinarem a preferência do mercado, com a finalidade de obter um produto que satisfaça tais características a uma máxima economia de produção. Os diferentes atributos que compõem a qualidade sensorial dos alimentos são integrados no cérebro, na forma de uma impressão global de qualidade, mesmo sendo eles percebidos individualmente pelos sentidos humanos. O objetivo da pesquisa sensorial junto ao consumidor, neste estudo de caso, visa reduzir o risco na tomada de decisão, visto que a empresa adota a abordagem a partir dela para desenvolvimento e lançamentos de novos produtos. Por essa razão a informação é a principal matéria-prima para tomada de decisões. Decisões eficazes são baseadas em informações sólidas. Assim a pesquisa lida com o fornecimento de informações que podem ser usadas para reduzir o nível de incerteza na tomada de decisões. A incerteza nunca será plenamente eliminada nas tomadas de decisões, porém, com a aplicação de técnicas de pesquisa testadas e aprovadas, ela pode ser reduzida (HOOLEY; SAUNDERS, 2005). O teste objetivou a percepção dos consumidores, ou seja, conhecer a percepção destes frente a aspectos como sabor, aparência e embalagem dos produtos pesquisados, além de informações quanto ao consumo atual destes produtos, intenção de consumo futuro, sugestão de novos produtos e caracterização da amostra por sexo e idade. A aparência e a embalagem são percebidas pela visão, sentido pelo qual obtemos as primeiras impressões dos produtos quanto à aparência geral, que engloba as características de cor, tamanho, formato, brilho e impurezas. Esses dois aspectos são muito importantes, pois influenciam na opinião do consumidor com relação a outros atributos do produto, influenciando na sua decisão de compra e consequente consumo ou não. 124 4.6.1 Análise Sensorial: Sabor O sabor, ou gosto, é a sensação percebida pelos órgãos gustativos (botões gustativos) quando estimulados por determinadas substâncias solúveis. Envolve a percepção dos 4 gostos básicos: doce, ácido, amargo e salgado. Inicialmente apresentam-se os resultados da avaliação do sabor dos produtos pesquisados, de forma ampla. Ou seja, apresentado os resultados de forma ampla, ou seja, o resultado de toda a amostra, além dos resultados por faixa etária e por sexo. 5 4,5 4,1 4,17 4,43 4,22 4 Amendoim Torrado e Salgado Amendoim Torrado 3,5 3 Amendoim Doce - Cri-Cri 2,5 Mandolate 2 1,5 1 Gráfico 2: Avaliação sensorial média do sabor O gráfico 2 aponta a avaliação do aspecto sabor dos produtos avaliados. Considerando a escala Likert, tem-se a média de avaliação de cada produto, sendo que o desvio padrão é de 1,09 para o Amendoim Torrado e Salgado; 0,87 para o Amendoim Torrado; 0,78 para o Amendoim Doce – crí-crí; e de 0,77 para o Mandolate. Com estas avaliações e considerando principalmente o baixo desvio padrão das amostras, conclui-se que os produtos obtiveram uma excelente avaliação e com uma dispersão muito pequena no total da amostra. A avaliação do sabor desses produtos mostra-se muito positiva, considerando que a média fica entre 4,1 a 4,43 numa escala Likert de 5 a 1. Destaca-se o 125 amendoim torrado e salgado com a menor média, ou seja, 4,1, e o Amendoim Doce Cri-Cri com a maior média, 4,43. Além da avaliação do sabor de forma ampla, apresenta-se no gráfico 3 a avaliação por faixa etária. A avaliação por faixa etária visa a identificar o público que mais aprecia cada produto. Essa avaliação resultará em trabalhos efetivos de marketing direcionando cada produto à sua faixa etária preferencial. Gráfico 3: Avaliação sensorial média do sabor por faixa etária O público jovem, composto por consumidores com idade até 19 anos, apresentou uma considerável preferência pelos produtos doces, ou seja, o amendoim doce – cri-crí e o mandolate, tendo estes uma média de 4,56 e 4,48 respectivamente em relação ao amendoim torrado e salgado com média de 4, e o amendoim torrado com média de 4,19. 126 Esta constatação levará a decisões diferenciadas quanto à forma de abordagem deste público. Os adultos, agrupados dentro da faixa etária de 20 a 59 anos de idade, apresentaram, por sua vez, maior preferência pelo amendoim doce cri-cri, com média de 4,42 e pelo amendoim torrado e salgado com média de 4,24, seguido pelo mandolate com 4,18 de média e pelo amendoim torrado com média em 4,05. Na avaliação dos adultos, percebe-se uma distância maior entre o produto preferencial (amendoim doce cri-cri) e o segundo produto (amendoim torrado e salgado) seguido por uma distância menor entre este e o mandolate, e mais distante novamente do amendoim torrado com sua menor avaliação. Por sua vez, os consumidores idosos, considerados com idade acima de 60 anos, apresentaram maior preferência pelo amendoim torrado, com média próxima ao máximo, ou seja, 4,82 na escala Likert de 5 a 1, seguido pelo amendoim doce cricri, com média de 4,18 e mais abaixo o mandolate, com média 3,82 e 3,55 do amendoim torrado e salgado. Mesmo tendo uma distância relativamente baixa entre a avaliação de um e outro produto por faixa etária, serve a avaliação dos dados acima como fonte de informação para tomada de decisões, principalmente quanto ao direcionamento de cada produto para seu público preferencial e, consequentemente, a adoção das melhores técnicas para abordagem desses públicos. Após a avaliação ampla e por faixa etária, segue no gráfico 4 a avaliação por sexo, visando também a identificar a análise sensorial dos públicos feminino e masculino. 127 Gráfico 4: Avaliação sensorial média do sabor, por sexo A avaliação por sexo visa a identificar o público que mais aprecia cada produto. Essa avaliação resultará em trabalhos efetivos de marketing direcionando cada produto ao público preferencial. Iniciando pela avaliação do público feminino, composto por 57 consumidoras com idade média de 33 anos de idade, percebem-se a grande preferência deste público pelo produto amendoim doce cri-cri com média de 4,46, seguido pelo amendoim torrado e salgado com média de 4,18, após pelo mandolate com média de 4,12, e por fim o amendoim torrado, com média em 4,09. A avaliação do público masculino, composto por 43 consumidores com idade média de 36 anos de idade, apresentou maior preferência pelo amendoim doce – cricri com média de 4,40, seguido por uma média 4,35 do mandolate, 4,28 do amendoim torrado e por fim o amendoim torrado e salgado, com média de 4,00 pontos. 128 4.6.2 Análise Perceptual: Aparência Os resultados da avaliação da aparência dos produtos pesquisados estão demonstrados primeiramente na forma ampla, ou seja, o resultado de toda a amostra, além dos resultados por faixa etária e por sexo. Os olhos são os órgãos físicos que nos permitem o sentido da visão. Através da visão, obtemos as primeiras impressões dos produtos quanto à aparência geral, que engloba as características de cor, tamanho, formato, brilho, impurezas, entre outras características. A aparência é muito importante, pois influencia na opinião do consumidor com relação a outros atributos no produto, na sua decisão de compra e consequente consumo ou não. O consumidor espera que o produto tenha cor que o caracterize e reluta em consumir quando esta é diferente em tonalidade ou intensidade do esperado. Além disso, os sinais visuais são importantes no controle de qualidade da matéria-prima. Seguem, no Anexo 5, as imagens dos produtos avaliados. 5 4,5 4,43 4,36 4,53 4,12 4 Amendoim Torrado e Salgado Amendoim Torrado 3,5 Amendoim Doce - Cri-Cri 3 2,5 Mandolate 2 1,5 1 Gráfico 5: Avaliação perceptual média da aparência Considerando a escala Likert, tem-se a média de avaliação de cada produto. O desvio padrão é de 0,86 para o Amendoim Torrado e Salgado, 0,90 para o Amendoim Torrado, 0,57 para o Amendoim Doce – cri-cri, e de 0,88 para o Mandola- 129 te. Através da gráfica dos dados, visualiza-se uma grande proximidade na avaliação do fator aparência dos produtos por parte dos consumidores. Destaca-se nesta análise o amendoim doce – crí-crí, com pontuação média de 4,53 e o mandolate, com média de 4,12. Nesse intervalo, encontram-se o amendoim torrado e salgado, com média de 4,43 e o amendoim torrado, com média de 4,36. A análise apresenta resultados positivos, visto que todos os produtos ficaram com sua avaliação média relativamente alta na escala Likert. Apenas o mandolate se distancia para menos em relação aos demais produtos. A presente análise é fonte de informação para a tomada de decisões dos gestores quanto ao melhoramento da aparência dos produtos que menos agradaram os consumidores pesquisados em sua primeira impressão. Além da avaliação da aparência de forma ampla na amostragem, segue-se no gráfico 6, a avaliação com distinção para a faixa etária: Gráfico 6: Avaliação perceptual média da aparência por faixa etária 130 Percebe-se uma relativa variação na avaliação por faixa etária. Enquanto os idosos mostram-se satisfeitos quanto ao aspecto aparência em todos os produtos, os jovens apresentam uma avaliação um pouco menos satisfatória. Já os adultos mantêm-se em avaliação mediana em relação aos jovens e aos idosos. Novamente o produto amendoim doce – cri-cri destaca-se mantendo uma maior proximidade entre a avaliação média das três faixas etárias. Em relação às faixas etárias e os produtos, destaca-se o mandolate para o público jovem com a menor avaliação, ficando em 3,93 pontos de média. Esse dado chama a atenção, visto que, na avaliação do sabor, esta faixa etária apresentou uma boa análise para este produto. Cabe ainda ressaltar que, além de receber a menor avaliação pela faixa etária dos jovens, o produto mandolate apresentou a menor pontuação neste aspecto nas três faixas etárias pesquisadas se comparado com a avaliação dos demais produtos. Essa informação pode ser de grande valia para a empresa trabalhar este produto no aspecto aparência. Após a avaliação ampla e por faixa etária, segue a avaliação por sexo, visando também a identificar a análise perceptual do público feminino e masculino. Gráfico 7: Avaliação perceptual média da aparência por sexo 131 A avaliação por sexo visa a identificar a percepção de cada público quanto à aparência do produto. Essa avaliação resultará em trabalhos efetivos de produção e de marketing para melhorar a aparência e a qualidade do produto. Os resultados desta análise apresentam-se de forma muito rica, demonstrando a diferença existente entre a percepção do público feminino em relação à percepção do público masculino. Enquanto o público masculino manteve a média de avaliação em 4,65, 4,63 e 4,42, o público feminino manteve-a em 4,44, 4,28, 4,16 e 3,89. Mesmo sendo médias relativamente altas na escala Likert de 5 a 1, tal resultado chama a atenção para o percepção do público feminino, que se mostrou mais exigente quanto ao aspecto aparência. Com tal informação, cabe a empresa uma atenção especial a este público e as suas percepções. 4.6.3 Análise Perceptual: Embalagem O último aspecto avaliado mediante a utilização da escala Likert é a embalagem. Assim como a aparecia é percebida pelo sentido da visão, o mesmo ocorre com a embalagem. A embalagem tinha como funções iniciais proteger, conter e viabilizar o transporte dos produtos. Com o desenvolvimento da humanidade e da economia, a embalagem teve também conotações para conservar, expor e vender os produtos, e tornando-se assim uma importante ferramenta do marketing para atrair o consumidor por meio do seu visual atraente e comunicativo. (MESTRINER, 2002, p. 12). Com a evolução do mercado, em com a maior competição entre os produtos, o quesito tornou-se um forte item, influenciando a decisão de compra. Assim, os consumidores tornaram-se mais exigentes quanto a este aspecto, e as indústrias passaram a vestir os produtos para agradá-los. “Nos anos pós Segunda Guerra Mundial surgiram os supermercados, e a venda em sistema de auto-serviço estimulou os produtos a conterem a informação necessária para concretizar a venda sem o auxílio de vendedores” (MESTRINER, 2002, p. 13). Assim, entendeu-se importante avaliar a percepção do público pesquisado quanto ao aspecto embalagem. 132 Gráfico 8: Avaliação perceptual média da embalagem Neste aspecto, tanto o amendoim torrado e salgado quanto o amendoim torrado e o amendoim doce – cri-cri tiveram avaliações similares, variando suas médias de 4,38 a 4,44. Distanciando-se desta média está o mandolate com sua avaliação em 3,64. A avaliação gráfica apresenta o lapso existente entre a avaliação da embalagem do produto mandolate em relação à embalagem dos demais produtos pesquisados. Tal lapso chama a atenção para a embalagem deste produto, no sentido de instigar os motivos que levaram à sua avaliação inferior. Extrai-se aqui uma importante informação para a atuação da empresa neste aspecto do referido produto. O gráfico 9 apresenta a avaliação por faixa etária. Busca-se a identificação da percepção de cada público. 133 Gráfico 9: Avaliação perceptual média da embalagem por faixa etária Dada à importância da embalagem no processo de comercialização dos produtos, buscou-se a percepção dos consumidores, por faixa etária, quanto a este aspecto, resultando no gráfico acima. A faixa etária compreendida pelos jovens apresenta uma avaliação positiva para os produtos amendoim torrado e salgado, amendoim torrado, amendoim doce – Cri-Cri, obtendo uma avaliação que varia de 4,11, 4,22 e 4,48 respectivamente. Esta avaliação pode ser considerada positiva, visto que a avaliação máxima é de 5 na escala Likert. Já o produto mandolate apresentou uma avaliação um pouco inferior, ficando em 3,63 de média. Essa avaliação não chega a ser considerada negativa, visto que fica acima da avaliação mediana da escala Likert, mas em relação às demais 134 embalagens pesquisadas, sinaliza a necessidade de melhoramentos, pois no aspecto sabor apresentou uma avaliação superior. A mesma percepção ocorre na faixa etária adulta, porém com uma avaliação um pouco superior em relação à avaliação da faixa etária dos jovens, com as médias em 4,47, 4,42, 4,35 e 3,53 respectivamente. Como na avaliação da faixa etária dos jovens, também na avaliação da faixa etária adulta percebe-se uma ligeira variação entre os três primeiros produtos com relação ao quarto produto mandolate. Isso reafirma a necessidade de mudanças na embalagem deste produto. A faixa etária dos idosos, que envolve os consumidores pesquisados com idade superior a 60 anos, apresentou a melhor avaliação em relação às demais, ficando suas médias em 4,55, 4,91, 4,45 e 4,27. Essas avaliações são superiores em relação às demais, no entanto cabe lembrar que esta faixa etária apresentou a menor avaliação no quesito sabor. Isso significa que, mesmo com uma excelente avaliação no aspecto embalagem, este não será o suficiente para estimular este público a adquirir e consumir tais produtos. Na sequência, a avaliação do aspecto embalagem em relação ao sexo dos consumidores. Após a avaliação ampla e por faixa etária, segue a avaliação por sexo, visando também a identificar a análise perceptual do público feminino e masculino. Gráfico 10: Avaliação perceptual média da embalagem por sexo 135 A avaliação da embalagem por sexo apresentou proximidade entre a avaliação do público feminino e masculino. No entanto, o público feminino apresentou uma avaliação levemente inferior em relação ao público masculino, destacando-se desta forma a necessidade de uma maior atenção a este público. No comparativo entre os produtos, destaca-se novamente a embalagem do produto mandolate com sua avaliação média abaixo da avaliação média das demais embalagens. Visualiza-se, assim, que em ambas as avaliações, a embalagem do produto mandolate apresentou avaliações inferiores, destacando-se a necessidade de mudanças deste aspecto antes do lançamento do produto no mercado. A embalagem do produto é um meio e não um fim. Ela não é um produto final em si, mas um componente do produto que ela contém e que, este sim, é adquirido e utilizado pelo consumidor. Sua função é tornar compreensível o conteúdo e viabilizar a compra. Ela agrega valor ao produto, interfere na qualidade percebida e forma conceito sobre o fabricante elevando ou rebaixando sua imagem de marca. (MESTRINER, 2002, p.11). Assim, justifica-se a necessidade de avaliação deste aspecto bem como sua importância no processo de desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade. 4.6.4 Pesquisa de Consumo e Intenção de Consumo Após a aplicação da pesquisa de análise sensorial e perceptual, os consumidores foram questionados sobre o consumo atual de tais produtos. O questionamento visou a identificar o tamanho do público que consome alguns desses produtos dentro do total do público pesquisado. 136 20% Amendoin Tor. Salg. 22% Amendoin Torrado Amendoin Cri-Cri 13% 21% Mandolate Não Consome 24% Gráfico 11: Consumo atual dos produtos pesquisados Após a plotagem dos dados, visualiza-se facilmente o tamanho do público que atualmente consome alguns dos produtos pesquisados em relação ao público que não consome. Em termos percentuais, pode-se afirmar que, do total do público pesquisado, 20% do público, ou seja, 29 respondentes não consomem nenhum desses produtos atualmente. Já em relação ao público que consome, ou seja, 80%, 31 respondentes afirmaram que consomem o produto amendoim torrado e salgado; 18 consomem o amendoim torrado; 35 consomem o amendoim doce – cri-cri; e 30 consomem o mandolate. Na aplicação deste questionário, não se teve a intenção de identificar de que fabricantes consumiam esses produtos, mas, voluntariamente, um número relativo de respondentes revelou que consomem esses produtos em casa, produzidos ou preparados por eles próprios. Com relação à intenção de compra dos produtos, o resultado está expresso no gráfico 12: 137 1 Amendoin Tor. Salg. 33 48 Amendoin Torrado Amendoin Cri-Cri 15 Mandolate Não Consome 53 Gráfico 12: Intenção de compra Os resultados apresentaram-se positivos, visto que, no questionamento anterior, 29 respondentes afirmaram que não consomem tais produtos e neste apenas um consumidor não compraria nenhum dos produtos pesquisados. Além do resultado satisfatório quanto à intenção de compra, também mostrou-se um elevado público que consome tais produtos. Desta forma, pode significar para o consumidor mais uma marca na opção de consumo desses produtos, não necessitando investimentos no estímulo a esse consumo por parte da empresa. Como pode ser visualizado no gráfico 12, 53 respondentes comprariam o produto amendoim doce – Cri Cri; 48 comprariam o mandolate; 33 comprariam o amendoim torrado e salgado; e 15 comprariam o amendoim torrado. O questionamento quanto às sugestões de novos produtos resultou nos mais diversas produtos, destacando-se os que seguem no gráfico 13. 1 Bolacha Amendoim 1 2 Cuca de Amendoim 7 Torta de Amendoim 2 Pé de Moleque Amendoim com Chocolate 2 Crí-Cri com açucar 2 4 Torrone Bom Bom Amendoim Farelo de Amendoim 4 4 Gráfico 13: Sugestões de novos produtos Cocada 138 Além das sugestões do gráfico 13, ocorreram diversas sugestões de rapaduras as quais não estão na relação acima, visto já serem produtos produzidos pela empresa. No entanto, serve como indicação da intenção de compra. As sugestões elencadas no gráfico 13 são de extrema valia para a empresa, visto que está mantém sua abordagem de cima pra baixo, ou seja, da empresa para o consumidor, mas agora levando em consideração também a opinião e a sugestão do consumidor, buscando uma maior efetividade nas tomadas de decisões com a aproximação das abordagens a partir da empresa e a partir do consumidor, observando o que Kotler e Armstrong (2000) argumentam de que as empresas mais inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Ou seja, não adianta oferecer só o que o cliente quer nem oferecer só o que pode ser produzido, mas tentar adequar da melhor forma as necessidades dos clientes com sua real capacidade de produção. Nesta etapa do trabalho, avaliaram-se os resultados da pesquisa de análise sensorial e perceptual dos consumidores, elencando-se as diversas percepções dos sujeitos pesquisados. Na sequência, apresenta-se a avaliação geral do trabalho de pesquisa, englobando as diversas perspectivas, que incluem a avaliação da empresa, do estabelecimento varejista e dos consumidores. No final desta avaliação geral, serão apresentadas as sugestões à empresa objeto do estudo de caso. 139 5 PROPOSIÇÕES COM BASE NA PESQUISA A proposição do desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade é o objetivo deste trabalho. A análise dos dados é o resultado da pesquisa. As informações aqui obtidas podem servir de alicerce para a proposição de desenvolvimento de novos produtos que atendam a segmentos do mercado deste estudo. O sucesso do empreendimento, no entanto, dependerá da capacidade de interpretação desses resultados e da criatividade dos profissionais participantes no desenvolvimento desses produtos. 5.1 Propostas Estratégicas Avaliação Empresa 5.1.1 Propostas PEIEX Por meio da pesquisa aplicada e da entrevista junto aos gestores da empresa, fez-se a avaliação das informações coletadas e estruturou-se a matriz de identificação estratégica da empresa Doces Müller, com o objetivo de propor uma maior atuação em alguns determinados pontos considerados importantes para a empresa. As propostas da figura 14 são resultado da análise das informações coletadas em conjunto pelo pesquisador e pela equipe técnica do PEIEX, por meio do instrumento de pesquisa (questionário e entrevista semiestruturada). Trata-se de sugestões de melhoria de acordo com os pontos identificados na matriz de identificação estratégica. A aplicação e os resultados desta aplicação são de responsabilidade dos gestores, e dependerá do empenho e dedicação destes para a melhoria dos pontos salientados. 140 Figura 13: Matriz de identificação estratégica Fonte: BURKHARD, 2010. Quadro 3: Legenda matriz de identificação estratégica ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA AE1 Estratégia Organizacional AE2 Estrutura Organizacional AE3 Indicadores de Desempenho CH1 CH2 CH3 CH4 CAPITAL HUMANO Estratégia de Recursos Humanos Administração de Recursos Humanos Educação e Treinamento Indicadores de Recursos Humanos FC1 FC2 FC3 FC4 FINANÇAS E CUSTOS Administração Financeira Indicadores Financeiros Administração de Custos Indicadores de Custos VENDAS E MARKETING VM1 Avaliação de Mercado VM2 Políticas Mercadológicas VM3 Análise de Desempenho 141 PM1 PM2 PM3 PM4 PM5 PM6 PRODUTO E MANUFATURA Desenvolvimento de Produto Gestão da Inovação Processo de Manufatura Qualidade e Indicadores Gestão Ambiental Eficiência Energética Fonte: BURKHARD, 2010. As propostas apresentadas pelo programa PEIEX seguem elencadas na ordem utilizadas acima. A – ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA São propostas para esta área: • Elaborar manual de procedimentos e instruções operacionais; • Conhecer sua participação no mercado, buscar informação junto a entidades governamentais e/ou instituições de ensino; • Elaborar e implantar seu planejamento estratégico, estabelecendo e formalizando a missão, a visão, os objetivos de curto e longo prazo e a política da empresa; • Implantar indicadores para verificar a satisfação do cliente, procurando identificar o que é mais importante na compra do produto (preço, qualidade, aparência, sabor, embalagem) e se o cliente está satisfeito com as condições oferecidas pela empresa, a exemplo da pesquisa realizada neste estudo. • Expor em murais os objetivos e metas da empresa para uma melhor interação entre os funcionários e a empresa. Criar uma cultura de colaboradores com vínculo organizacional traz vantagem competitiva para a empresa, à medida que desenvolve o comprometimento das pessoas. Funcionários comprometidos são recursos indispensáveis para se alcançarem os objetivos empresariais, pois o comprometimento é visto na disposição para agir, nas atitudes e comportamentos. É dedicação e perseverança. Esforço para apresentar diferentes soluções, mostrar empenho, iniciativa e criatividade. • Formalizar o organograma da empresa; 142 • Informatizar a empresa e construir sua home page na internet para que os clientes possam consultar e contatar a empresa via meio eletrônico; • Elaborar o regulamento interno da empresa. B – CAPITAL HUMANO São propostas para esta área: • Implantar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO; • Estabelecer critérios para admissão de pessoal, como escolaridade, experiência profissional; C – FINANÇAS E CUSTOS São propostas para esta área: • Avaliar a liquidez do negócio, através de empresa especializada como SPC e SERASA; D – VENDAS e MARKETING São propostas para esta área: • Participar de feiras e rodadas de negócios; • Utilizar dados de pesquisas de mercado, realizadas por instituições de ensino ou órgãos públicos; • Elaborar uma estrutura de vendas que possa auxiliar a empresa na colocação do produto em outros mercados; • Verificar indicadores de contribuição e de rentabilidade; • Manter a proposta de atualização e inovação dos produtos. E – PRODUTO e MANUFATURA São propostas para esta área: • Implantar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA. 143 • Elaborar ficha de controle e lubrificação de equipamentos; • Analisar o desempenho do fornecedor, verificar se o prazo de entrega está de acordo com a necessidade da empresa, se o produto é bem condicionado, se não há perdas no transporte, se o pagamento é facilitado; • Buscar apoio junto a entidades como a EMATER para desenvolver novos fornecedores; • Desenvolver documentação e codificação dos produtos através de planilha ou programa gerenciador. • Tornar o layout conveniente à produção; • A empresa pode ainda utilizar-se da “Lei do Bem” (lei de incentivos fiscais para pessoas jurídicas que realizam pesquisas e desenvolvimento de inovação tecnológica). Na legislação brasileira, inovação tecnológica significa concepção de novo produto ou processo de fabricação que inclua funcionalidades que configurem melhorias e ganho de qualidade ou produtividade. Outra evidência constatada na análise dos dados coletados é a necessidade de mudanças na forma de atuação da empresa no mercado o qual é abordado na seção seguinte. 5.1.2 Propostas da Pesquisa De acordo com as informações coletadas na empresa, esta se encontra em um momento crítico de adaptação estratégica, necessitando direcionar seus esforços a partir de seu alinhamento estratégico. Para auxiliar a empresa na tomada de decisões, usou-se a matriz estratégica de Ansoff, também conhecida como Matriz Produto/Mercado. As estratégias produto-mercado tratam da escolha da parcela da demanda a que a empresa irá atender e com que oferta específica. A escolha da parte da demanda a ser atendida pela empresa tem duas dimensões: a escolha de mercados e a escolha dos segmentosalvo dentro de cada mercado. Uma empresa pode atuar em um ou vários mercados distintos, entendendo-se por mercado aquela parte da demanda total que se caracteriza por apresentar uma mesma necessidade específica. Pode atuar nos mercados já explorados ou 144 expandir-se para novos mercados (ANSOFF; McDONNELL, 1993). Por outro lado, independente do número de mercados em que atue, a empresa necessitará decidirse, em cada mercado, por um conjunto de consumidores. Este conjunto poderá constituir o mercado total ou algum segmento do mercado. E, por fim, para cada mercado ou segmento específico, a empresa deverá definir a oferta específica que fará em relação à sua própria linha de produtos. Após análise da situação contemporânea da empresa objeto do estudo de caso, identificou-se uma ampla e completa estrutura de produção e distribuição dos seus produtos. Isso levou à constatação de que, com o mesmo número de funcionários na produção, com os mesmos veículos de distribuição, poder-se-ia atuar no mercado oferecendo um número maior de produtos com um mesmo custo fixo, ou seja, produzir e vender mais produtos com a mesma estrutura existente. Esta constatação levou a escolha do desenvolvimento de produtos dentre as dimensões apresentadas na matriz estratégica de Ansoff, ilustrado na figura 14. Figura 14: Estratégia produto-mercado Doces Müller com base no modelo de Ansoff Fonte: Rocha e Christensen (1987, p. 297). A partir da decisão de atuar no desenvolvimento de novos produtos como estratégia de crescimento, a empresa parte para o estudo deste processo. Durante o estudo e as discussões quanto ao desenvolvimento de novos produtos, foram analisadas duas abordagens que a empresa poderia adotar no processo de desenvolvimento de novos produtos com base em Costa (2006): de baixo para cima (a partir do cliente) e de cima para baixo (a partir da empresa). A abordagem de baixo para cima representa que o cliente é a base, ou seja, os pilares de informações e também de importância para as empresas, visto que o 145 planejamento estratégico da empresa deve ser desenvolvido baseado nos clientes. Na outra abordagem, de cima para baixo, pode-se observar que as informações são levadas de dentro da empresa para fora, ou seja, é mais importante para esta organização sua política interna de desenvolvimento de novos produtos do que creditar confiança em informações que o mercado pode sugerir. Neste estudo de caso, a empresa avalia suas competências e sua estrutura existente e parte desta informação para o desenvolvimento de novos produtos. Isto acontece porque as organizações que adotam a abordagem de cima para baixo tentam produzir com base em sua capacidade e técnica de produção. Essas empresas aproveitam o que a sua capacidade de produção permite produzir e então produzem levando em consideração somente suas condições, mesmo sem ter a comprovação do seu público-alvo de que o produto que será produzido tem potencial de consumo. Desta forma, a abordagem a partir da empresa tem um foco com maior risco de os clientes não aceitarem o que as empresas estão querendo oferecer, de acordo com sua capacidade de produção. Com isso, as empresas devem ter mais cuidado ao elaborar seus novos produtos quando estão considerando mais sua capacidade de produzir. Kotler e Armstrong (2000) argumentam que as empresas mais inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Ou seja, não adianta oferecer só o que o cliente quer nem oferecer só o que pode ser produzido, mas tentar adequar da melhor forma as necessidades dos clientes com sua real capacidade de produção. Com base na abordagem a partir da empresa, a Doces Müller Indústria e Comércio LTDA. necessita considerar o risco de o cliente não aceitar o produto que está sendo oferecido, efetuando assim a pesquisa sensorial e de análise perceptual bem como a pesquisa de intenção de compra junto aos estabelecimentos varejistas distribuidores do produto. 5.2 Propostas Estratégicas Avaliação Estabelecimentos Varejistas Com base no alinhamento estratégico da empresa e na forma de abordagem utilizada para o desenvolvimento dos novos produtos, fez-se necessária a investigação dos canais de distribuição dos produtos, ou seja, os estabelecimentos 146 varejistas, com relação à sua intenção de compra dos produtos oferecidos. Esses estabelecimentos assumem elevada importância no processo, visto que são o caminho até o consumidor. A análise gráfica aponta uma excelente margem de aceitabilidade para os produtos: Amendoim Torrado e Salgado, Amendoim Doce – Crí-Crí, Mandolate e o Melado Batido. Diferentemente desses produtos, outros produtos não apresentaram aceitação, o que subentende-se um maior risco na sua comercialização. São os produtos: Amendoim In Natura, Amendoim Torrado e a Rapadura Paçoquinha. A baixa intenção de compra desses produtos, não significa o seu descarte do portfólio da empresa, pois podem ser considerados como produtos básicos, ou seja, são as coisas básicas, elementares, sem as quais não existe a oportunidade de entrar no mercado. Como exemplo, para entrar no mercado de derivados de amendoim, logicamente a empresa oferece amendoim in natura, ou amendoim torrado, por exemplo. O cliente espera mais do que o produto genérico quando paga, nominalmente, por esse produto. A menos que suas outras expectativas mínimas sejam satisfeitas, não haverá venda (LEVITT, 1990). A identificação da intenção de compra dos produtos pesquisados auxilia no direcionamento e pré-classificação dos produtos que serão desenvolvidos e levados para etapa seguinte da pesquisa da análise sensorial e perceptual. A análise do portfólio é o alicerce para fazer escolhas importantes – tanto para investimento quanto para uma direção estratégica. A diversificação precisa encontrar métodos para avaliar o equilíbrio dos negócios no seu portfólio para ajudar a direcionar a alocação de recursos entre eles. Para fazer análise do portfólio, utilizou-se o ciclo de vida dos produtos, citado por Drucker (1973). Drucker, em 1973, identificou sete tipos de negócios que ainda hoje pode-se utilizar para avaliação do portfólio. Segundo Drucker, os sete tipos de negócios se classificam da seguinte forma: 1. Os ganha-pães de hoje: produtos e serviços que estão tendo bons lucros e contribuindo de forma positiva para o fluxo de caixa e para o lucro. 2. Os ganha-pães de amanhã: investimentos no futuro da empresa. Produtos e serviços que, apesar de ainda não estarem dando uma forte contribuição financeira para a empresa, estão em mercados em crescimento ou sob outros 147 aspectos atraentes, e que devem assumir o papel de ganha-pães no futuro, quando os ganha-pães de hoje acabarem desaparecendo. 3. Os ganha-pães de ontem: produtos e serviços que sustentaram a empresa no passado, mas que agora não estão contribuindo significativamente nem para o fluxo de caixa nem para o lucro. Muitas empresas têm uma predominância de negócios desse tipo, indicando que elas têm sido lentas em investir em desenvolvimentos futuros. 4. Desenvolvimentos: produtos e serviços recentemente desenvolvidos que podem ter algum futuro, mas nos quais é necessário um maior investimento para que eles possam alcançar esse futuro. 5. Dorminhocos: produtos e serviços que já existem há algum tempo, mas que até agora falharam em se estabelecer nos seus mercados ou cujos mercados potenciais até agora não se desenvolveram. A esses é permitida a permanência no portifólio na esperança de que algum dia eles deslanchem. 6. Investimentos no ego gerencial: produtos e serviços que têm fortes defensores entre gerentes influentes, mas para os quais há pouca demanda comprovada no mercado. Por causa do envolvimento de gerentes poderosos, a empresa continua a colocar recursos nesses produtos, na expectativa de que, eventualmente, eles tenham êxito. 7. Fracassos: produtos e serviços que fracassaram em ter um papel significativo no portfólio da empresa e que não têm chance real de tê-lo. Esses são mantidos no portfólio da empresa em grande parte por causa da inércia. É mais fácil fazer isso do que admitir a derrota e retirá-los do mercado ou se desfazer deles. Os sete tipos de negócios têm ligação com o ciclo de vida dos produtos figura 16. Se ficarem estagnados no desenvolvimento, dorminhocos ou elogios ao ego contribuirão muito pouco para a empresa, mas para se esperar que algum dia eles deem suas contribuições, deverão estes receber seus devidos investimentos. Estrategicamente, a empresa precisa identificar a classificação de seu portfólio a fim de direcionar seus recursos. Se deixar os produtos sem investimentos, é improvável que tenham sucesso, então é preciso investir, e principalmente saber em quais dos produtos investir. 148 Figura 15: Tipos de produtos no portfólio Na análise dos resultados da pesquisa em relação ao portfólio de produtos da empresa, pode-se identificar a rapadura como sendo os ganha-pães de hoje, sendo este produto responsável pela contribuição para o fluxo de caixa e para o lucro, visto tratar-se do único produto produzido e comercializado atualmente. Como ganha-pães de amanhã, pode-se identificar o melado batido, amendoim torrado e salgado e o amendoim doce – cri-cri, que, apesar de ainda não estarem gerando grandes volumes de vendas para a empresa, estão em mercados com potencial de crescimento e devem assumir o papel de ganha-pães no futuro com base na pesquisa realizada junto aos estabelecimentos varejistas. O produto identificado como em desenvolvimento é o mandolate que sinaliza através dos resultados da pesquisa como um potencial futuro, no entanto demanda maiores investimentos, principalmente no aspecto aparência e embalagem. Como produto dorminhoco, pode-se identificar o amendoim in natura, que existe há algum tempo, mas que até agora falhou em se estabelecer no mercado. Este produto ainda continuará no portfólio como produto básico e que talvez possa futuramente apresentar um melhor desempenho. No portfólio atual da empresa não se identificaram produtos ganha-pães de ontem, produtos fracasso nem investimentos do ego gerencial. 149 Destaca-se a situação favorável do portfólio da empresa com relação aos tipos de negócio no modelo de Drucker (1973) e o ciclo de vida dos produtos, visto que seu portfólio se encontra em uma alta força do negócio e uma alta atratividade do mercado. Observa-se apenas a necessidade de investimentos nos produtos classificados como desenvolvimento. 5.2.1 Proposta de Plano de Marketing O processo de desenvolvimento de um novo produto consiste em seis estágios: geração de ideias, seleção de ideias, análise comercial, desenvolvimento do produto, teste de mercado e comercialização. O propósito de cada estágio é decidir se a ideia deve ser desenvolvida ou abandonada posteriormente. A empresa deseja minimizar a chance de as ideias fracas seguirem em frente e as boas serem rejeitadas. Existem diferentes tipos de planos de marketing, para diferentes propósitos. Dentre as diversas propostas de modelo de plano de marketing, optou-se por utilizar o plano de marketing modelo de Kotler e Lee (2008). O plano de marketing proposto para a empresa Doces Müller Indústria e Comércio Ltda toma a seguinte configuração: Sumário Executivo Nessas últimas décadas, verifica-se uma evolução do consumidor no sentido de adotar uma postura mais consciente em relação aos produtos que adquire. No setor alimentício, essa evolução ocorre em função da busca por uma melhor qualidade de vida, agregando à dieta questões de saúde, incluindo produtos com menor conteúdo de gorduras e calorias e rico em fibras. A indústria de alimentos, assim como toda a cadeia agro alimentar, vem acompanhando esse maior interesse do consumidor (ISHIMOTO; NACIF, 2001). As mudanças tecnológicas e econômicas têm incentivado a competitividade, levando as empresas a progredirem nas áreas de produção e de comércio, atuando com estruturas voltadas para o marketing (GIRARDI, 2002). Os elementos do composto mercadológico na indústria de alimentos são inúmeros e podem influenciar na decisão de compra do produto e na satisfação dos consumidores. Assim, têm-se 150 diversas formas de apresentação do produto, as quais podem destacar o aspecto físico, características nutricionais, finalidades, tipo de embalagem e apresentação visual, garantias, marcas e logotipo. A gestão estratégica de marketing inclui a adaptação do produto, do preço, da distribuição e da comunicação, variáveis internas que precisam estar orientadas com as variáveis externas às quais a empresa estiver sujeita e que se encontram no meio em que a empresa atua e não são controláveis pela organização. As tendências da indústria de alimentos e do padrão de consumo orientam os caminhos do agronegócio brasileiro, que luta para se adequar a um novo cenário competitivo (STEFANELO, 2002). Análise da Situação A atenção voltada para as demandas, os desejos e as necessidades do consumidor faz parte da realidade de qualquer indústria de alimentos. Identificar a origem e as necessidades desse mercado, seu desenvolvimento e sua efetivação em consonância com o comportamento e os objetivos da empresa são tarefas do marketing. Consoante as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, a Doces Müller Indústria e Comércio LTDA apresenta-se na seguinte situação: Forças: • Marca conhecida; • Conceito dos produtos; • Conceito da empresa; • Localização para o mercado atual. Fraquezas: • Pouco controle sobre a rede de distribuição; • Dependência de fontes de matéria-prima; • Pouco conhecimento das estratégias dos concorrentes. Oportunidades • Aumento do poder de compra do consumidor; • Disponibilidade de linhas de crédito para investimentos; • Necessidades não satisfeitas do consumidor. 151 Ameaças • Mudanças nos padrões de consumo; • Lançamento de produtos substitutivos no mercado; • Redução no poder de compra dos consumidores. Esforços anteriores realizados pela empresa, em alguns momentos específicos, no sentido de ampliar canais de distribuição tem demonstrado variações nos padrões de consumo por etnias. Exemplo: regiões colonizadas e de predominância da etnia alemã apresenta um maior consumo dos produtos, se comparado com regiões com predominância de outras etnias. A mesma constatação ocorre em relação ao clima, ou seja, quanto mais baixas as temperaturas, maior o consumo da linha de produtos comercializados pela empresa. Objetivos e Metas de Marketing Ter a atenção voltada para as demandas, desejos e necessidades do consumidor compõe os objetivos gerais do marketing. Assim, pode-se ter como objetivos específicos: - estímulo ao consumo dos produtos; - aumento na participação de mercado mediante aumento nas vendas dos produtos; - mudança no comportamento do consumidor por meio de incentivos ao consumo; - maior satisfação do cliente; - maior obediência e fidelidade do cliente à marca. Propõe-se a fixação de metas de vendas nos atuais mercados, tais como: 1° - Elevação em 50% das vendas dos produtos ganha-pães de hoje (Rapaduras) em relação ao ano anterior; 2° - A venda dos novos produtos (ganha-pães de amanhã) terá que atingir o mesmo volume financeiro de venda que os produtos ganha-pães de hoje até o ano de 2012. 3° - Aquisição de novos veículos e aumento dos canais de distribuição até maio de 2011; 152 4° - Início das obras de implantação da nova planta industrial até dezembro de 2011. Público Alvo O público-alvo da empresa são consumidores residentes na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Esse público varia entre jovens, adultos e idosos. Em relação às barreiras percebidas e benefícios relacionados aos objetivos de marketing, tem-se como barreira a concepção dos próprios gestores quanto ao assunto. Este necessita ser trabalhado e implementado a fim de que o plano seja compreensível e aplicável para proporcionar benefícios e, consequentemente, refletir-se positivamente sobre os resultados da empresa. Posicionamento Posicionamento é a técnica pela qual se tenta criar uma imagem ou identidade para um produto, Marca ou empresa. É o espaço que um produto ocupa na mente do consumidor em um determinado mercado. O posicionamento de um produto é como os compradores potenciais o veem e se expressa pela relação de posição entre os competidores. O posicionamento está associado ao que vender, ou seja, que produto a empresa vai oferecer ao mercado. Essa definição deve envolver tanto os aspectos tangíveis quanto os aspectos intangíveis do produto; tanto os benefícios funcionais quanto os psicológicos: a) O produto Os produtos que compõem e que virão a compor o portfólio de produtos da empresa Doces Müller Indústria e Comércio Ltda buscam oferecer alta qualidade, com matéria-prima selecionada e natural. b) A venda Os apelos que oferecem maior motivação à compra são a garantia da qualidade do produto da empresa e o fato de a empresa ser local e oferecer 153 produtos naturais. c) Apelos à venda Dentre os apelos que melhor resultado apresentam está a garantia da qualidade dos produtos, qualidade esta garantida por mais de 13 anos no mercado. d) Consumidores O grupo de consumidores é composto por jovens, adultos e idosos que residem na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. e) Concorrência Em relação à concorrência de outras marcas e produtos, a empresa sofre influência de outras agroindústrias locais, as quais apresentam certa preferência dos consumidores por este motivo. Também enfrenta a concorrência de grandes indústrias de produtos derivados de amendoim, como a empresa De Colônia e a Doces Santo Antônio. Outros concorrentes, não menos importantes, são os produtos substitutos, tais como chocolates, bolachas, que facilmente podem ser substituídos nos momentos de consumo. f) “Nichos” de mercado Quanto à existência de “nichos” de mercado ainda não explorado, a empresa acredita que existam, como a oferta regular dos produtos ao longo do ano, o que garantiria a fidelidade dos estabelecimentos varejistas e dos consumidores, considerando a dificuldade que as indústrias têm de manter a regularidade na oferta dos produtos visto à sazonalidade da matéria-prima. 154 g) A visão do produto pelo consumidor A atuação da empresa no mercado reflete uma imagem na mente do consumidor. Da mesma forma acontece com o produto, por isso é preciso preocupar-se com o adequado posicionamento da empresa e dos produtos no mercado. No cenário mercadológico, considerando produtos e marcas concorrentes, propõe-se um posicionamento com produtos de qualidade superior e com preços acima do preço dos concorrentes, fixando desta forma a imagem de um produto de alta qualidade ao qual o consumidor se dispõe a pagar mais por isso. Composto (Mix) de Marketing: Estratégias para Influenciar o Público-alvo Produto Das quatro variáveis do composto de marketing, pode-se considerar o produto como sendo a mais crítica no processo decisório como já visto ao longo deste estudo. A empresa precisa administrar suas marcas como um dos principais patrimônios da empresa. Além de administrar a marca, é necessário posicionar o produto de forma correta para que as estratégias alcancem seus objetivos. O “P” de produto foi objeto de estudo ao longo deste trabalho e consiste em um produto com boa aceitação de ambos os públicos pesquisados, no entanto com possibilidades de melhoramento principalmente quanto à embalagem, como no caso do mandolate. Além da preocupação com o produto acabado, sugere-se à empresa uma atenção especial quanto aos fornecedores de matéria prima, visto serem estas as principais responsáveis pela qualidade do produto. A sugestão é de que a empresa fomente a produção local tanto da matéria prima amendoim como também do melado, podendo assim acompanhar a produção e dar o devido suporte técnico aos produtores. 155 Preço Considerando “P” de preço, a administração da empresa pode seguir uma das quatro estratégias mostradas a seguir: - A estratégia de desnatamento rápido: consiste em lançar o novo produto a um preço alto e com elevado gasto em promoção. Objetivos: maior lucro unitário possível e acelerada penetração no mercado. - A estratégia de desnatamento lento: consiste em lançar o novo produto a um preço alto e com pouca promoção. Objetivos: maior lucro possível e baixo custo promocional, aplica-se quando mercado e a concorrência são limitados. - A estratégia de penetração rápida: consiste em lançar o novo produto a um preço baixo e com alto gasto em promoção. Objetivos: acelerada penetração e conquista de maior participação no mercado. - A estratégia de penetração lenta: consiste em lançar o novo produto a preço baixo e com pouca promoção. Objetivos: maior aceitação no mercado e maior lucro líquido devido aos baixos custos. Propõe-se a utilização da última estratégia, ou seja, penetração lenta com lançamento de novos produtos a preço baixo e pouca promoção. O preço poderá ser gradativamente elevado à medida que se perceba o aumento na sua demanda. Local (Praça) Atualmente a empresa efetua as vendas a pronta entrega e garante a troca dos produtos vencidos, o que representa um grande diferencial competitivo e uma considerável garantia de qualidade do produto para os estabelecimentos varejistas e para os consumidores. Esta estratégia pode ser melhorada utilizando lotes de produtos e pedidos mínimos, facilitando e agilizando o processo de venda. A utilização de lotes pode ser por caixas padronizadas, com quantidades definidas por produto, o que facilita consideravelmente o processo de transporte e entrega do produto. 156 O local de venda, ou seja, a localização e a disposição do produto nos pontos de venda apresentam-se como fator sine qua non para atrair a atenção do consumidor. Pensando nisso, propõe-se a utilização e a distribuição aos estabelecimentos varejistas de Display de Balcão e Rack, possibilitando, assim, a disposição dos produtos em pontos estratégicos de venda. Figura 16: Display de balcão Fonte: Fábrica de ideias, 2011 Figura 17: Rack expositor Fonte: Fábrica de ideias, 2011 Promoção No “P” de promoção, a estratégia de marketing deve observar algumas etapas importantes, tais como: - Os esforços realizados em propaganda devem ter como objetivo lembrar sobre a empresa e seus produtos e informar sobre o lançamento de novos produtos. - Decisão de orçamento: este pode ser estabelecido com base na disponibilidade de recursos, porcentagem sobre as vendas, paridade competitiva e em objetivo tarefa. Na decisão de orçamento, deve-se estimar os custos na produção dos expositores, como display de balcão e rack. 157 - Decisão de mensagem: inclui sua geração, avaliação, seleção e execução eficaz. - Promoção de vendas: A empresa deve escolher dentre as várias ferramentas de incentivo de que dispõe, em sua maioria a curto prazo, que visa estimular a compra mais rápida e/ou em maior volume de um produto específico por consumidores ou comerciantes, como o incentivo em momentos festivos, festas de São João e Páscoa. Enquanto a propaganda oferece uma razão para a compra, a promoção de vendas oferecerá um incentivo à compra. - Promoção ao consumidor: amostra grátis, cupons, descontos, prêmios, brindes, experimentações gratuitas, demonstrações são exemplos de promoções que podem ser utilizadas pela empresa para atrair a atenção dos consumidores. - Promoção aos intermediários (estabelecimentos varejistas): descontos, condições especiais de compra, propaganda cooperativa, distribuição dos display e rack expositor. Plano de Avaliação Ao longo de todos os passos do plano de marketing, a empresa deve adotar uma atitude de controle e de reajuste do que foi estabelecido, isto com o objetivo de melhorar sempre os resultados. Para tanto, ao longo do processo, deve-se “avaliar” constantemente o plano de marketing. Propõe-se o cronograma de avaliação aos gestores: Atividades 1 – Avaliar objetivos Períodos: meses Abr.11 Mai.11 Jun.11 Jul.11 Ago.11 Set.11 Out.11 Nov.11 Dez.11 Jan.12 Fev.12 Mar.12 Abr.12 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 2 – Avaliar a recepção dos consumidores 3 – Avaliar impacto no mercado 4 – Avaliar evolução das vendas 5 - Avaliar desempenho empresa 6 – Avaliar o cumprimento do plano Quadro 4: Cronograma de avaliação dos gestores Fonte: Elaboração própria. X X X X X X X X X X X X X X X 158 Neste sentido, o plano de marketing estará constantemente em alteração, adaptando-se às mudanças ocorridas no exterior (mercado e concorrência) e no interior da empresa. Orçamento Para a implantação do plano de marketing proposto, a empresa deverá destinar recursos de seu orçamento a fim de garantir que o plano seja executado em sua integralidade e que possa produzir seus resultados. Propõe-se a destinação de 5% das receitas mensais para a implantação do plano de marketing. A implantação do plano visa principalmente à geração de receitas incrementais oriundas do aumento no volume de vendas. Plano de Implementação Propõe-se que a empresa designe responsáveis por cada etapa da implementação do plano de marketing, tal como o representante comercial para avaliar a recepção dos consumidores e impacto no mercado, o administrador para avaliar os objetivos e evolução das vendas, os gestores para avaliar o desempenho da empresa e o cumprimento do plano. O presente plano fica como proposta para a empresa e seus gestores a fim de implementar, executar, avaliar, adaptar e dar continuidade ao plano de marketing, lembrando que o presente fica como teste de habilidade para os gestores. Estratégias bem sucedidas têm sua raiz na vantagem competitiva sustentável de um produto. 159 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo tem a finalidade de mostrar algumas conclusões sobre o estudo realizado a partir do atendimento aos objetivos propostos pela pesquisa. Inicialmente são apresentados as conclusões relativas ao estudo de caso. Em seguida, são expostas algumas limitações do trabalho. Por fim, são relacionadas algumas possibilidades de estudos, como forma de aprimoramento acadêmico neste campo de pesquisa. Conclusões Diante da atual conjuntura de mercado, as organizações necessitam de estratégias empresariais para enfrentar as mudanças no ambiente externo e adaptar o ambiente interno a esse novo cenário. A introdução de novas técnicas de gestão passa a ser fundamental para conduzir as estratégias de competitividade. As principais razões para isso se encontram nos papéis que as estratégias desempenham como base aos processos de operações, suporte na tomada de decisões, vislumbrando a vantagem competitiva. Entre os instrumentos de gestão, as estratégias de marketing se destacam como ferramentas capazes de orientar e direcionar o desempenho organizacional. A plena aplicação e utilização dessas estratégias tem proporcionado inúmeras vantagens para o desenvolvimento das atividades organizacionais, entre elas, o aumento no volume de vendas, melhoria nos processos de produção e distribuição resultando em um maior potencial competitivo. As estratégias de marketing têm sido utilizadas por muitas organizações para orientar as atividades desenvolvidas e, a partir disso, contribuir para o 160 gerenciamento dos negócios. Constituem-se em uma ferramenta que pode orientar os processos operacionais, produtivos, comerciais, administrativos e gerenciais. Assim como as demais organizações, as do setor agroindustrial também necessitam de instrumentos de apoio à gestão para planejar estratégica e operacionalmente suas atividades, a fim, de competir em mercados altamente dinâmicos. A maioria dessas organizações utiliza as estratégias de marketing com o intuito de aumentar as vendas e melhorar o desempenho organizacional. Manter ou implementar as estratégias de marketing é uma maneira de permitir que as organizações agroindustriais alcancem seus objetivos e tenham uma gestão mais efetiva. Com base nesse contexto, a presente pesquisa propôs o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade para a empresa Doces Müller Indústria e Comércio Ltda.. Para atingir seu objetivo principal, a pesquisa implicou inicialmente uma revisão na literatura dos principais conceitos ligados ao alinhamento organizacional com as estratégias de marketing e de competitividade. Nesse sentido, a ênfase foi para o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade. A partir disso, a pesquisa procurou identificar junto aos gestores a situação atual da organização, bem como a visão destes quanto ao futuro dela. Neste sentido, a pesquisa assumiu características exploratórias e buscou identificar, na percepção dos agentes organizacionais, a configuração empírica da empresa. Para isso foi necessário caracterizar a organização objeto do estudo de caso, elucidar seu contexto atual e esclarecer o ambiente interno. Os resultados revelaram as forças e as fraquezas da organização, possibilitando assim a proposição de uma maior atuação em alguns pontos diagnosticados como importantes e muito importantes para a gestão da organização. Muito importantes: indicadores de desempenho, indicadores de recursos humanos, qualidade dos indicadores, estratégia organizacional, estrutura organizacional, educação e treinamento dos recurso humanos, avaliação de mercado, política mercadológica, gestão de inovação, processo de manufatura, gestão ambiental, eficiência energética; Importantes: administração financeira, indicadores financeiros e indicadores de custos. Essas informações permitiram entender a importância da gestão estratégica na organização em estudo e compreender também a importância desenvolvimento de novos produtos nas estratégias de competitividade. do 161 A partir das informações coletadas na empresa, tratou-se de desenvolver os novos produtos em mercados atuais conforme matriz produto/mercado, no modelo de Ansoff, utilizada para determinar oportunidades de crescimento de unidades de negócio da organização. Esta estratégia produto mercado trata da escolha da parcela em demanda a que a organização pretende atender. Observando as aptidões da empresa e seu processo produtivo, tomou-se outra importante decisão estratégica, decisão de utilizar a abordagem de cima para baixo, ou seja, considerar primeiramente as aptidões da empresa. O foco na empresa para desenvolvimento de novos produtos. Como o objetivo deste estudo foi a proposição do desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade e munido das informações elementares para a tomada de decisões, selecionou-se para o teste de intenção de compra por parte dos estabelecimentos varejistas os produtos Amendoim Cru (in natura), amendoim torrado e salgado, amendoim torrado, amendoim doce – cri-cri, mandolate, melado batido e a rapadura paçoquinha. Desta pesquisa resultaram os produtos melado batido, amendoim torrado, amendoim torrado e salgado, amendoim doce – cri-crí e a mandolate, levando-os à etapa seguinte da pesquisa, excluindo-se apenas o melado batido, visto sua natureza de complemento alimentar. Os produtos selecionados para etapa seguinte da pesquisa junto aos consumidores destacaram-se dos demais na intenção de compra dos estabelecimentos varejistas, apresentando já nesta fase uma maior probabilidade de sucesso na sua comercialização. Afunilando aos produtos a serem desenvolvidos a fim de proporcionarem uma maior competitividade à organização, partiu-se para a pesquisa junto aos consumidores, a fim de identificar suas percepções quanto ao sabor, aparência, embalagem além das informações quanto ao consumo atual, intenção de consumo e sugestões de novos produtos. Os resultados da pesquisa junto aos consumidores apresentaram claramente a avaliação dos produtos quanto às características pesquisadas, resultando na lista dos produtos potenciais a serem comercializados, tais como o amendoim doce cri-crí com uma excelente avaliação em todos os critérios, seguido do amendoim torrado e salgado e do amendoim torrado. 162 Diferentemente desses produtos, o produto mandolate apresentou também uma excelente avaliação no aspecto sabor, por parte de todos os públicos pesquisados. No entanto, nos aspectos aparência e embalagem, ficou com avaliações ligeiramente inferiores às avaliações dos demais produtos. Cabe, então, a este um maior investimento em desenvolvimento da sua aparência e embalagem antes de seu lançamento no mercado. Quanto às estratégias de marketing a serem utilizadas para o desenvolvimento, distribuição e comercialização da produção, sugere-se o plano de marketing com base no composto de marketing: produto, preço, promoção e praça – 4 P’s. Além do composto de marketing, fica também a proposição de um posicionamento adequado de mercado, o qual resultará em uma melhor identificação do produto em relação a seus benefícios aos consumidores; ao grupo alvo em relação a quem são os consumidores que melhor respondem às ofertas; e quanto à concorrência sobre os produtos ou marcas considerados substitutos. Os resultados encontrados na pesquisa revelaram que a Doces Müller Indústria e Comércio LTDA, entre outras estratégias, optou pela estratégia de atuar em mercados atuais com produtos novos, utilizando para a produção dos novos produtos suas aptidões e capacidades internas, o que resultaria em grande risco. Este, no entanto, foi atenuado pela pesquisa de intenção de compra junto aos estabelecimentos varejistas e junto aos consumidores. Kotler & Armstrong (2000) argumentam que as empresas mais inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Ou seja, não adianta oferecer só o que o cliente quer nem oferecer só o que pode ser produzido, mas tentar adequar da melhor forma as necessidades dos clientes com sua real capacidade de produção. A crescente globalização a competitividade internacional têm influenciado o processo de desenvolvimento de novos produtos. Seguindo neste raciocínio, Urban e Hauser (1993 apud COSTA, 2006, p. 1) defendem que “o bom desempenho empresarial é resultado de um contínuo processo de desenvolvimento dos produtos e à adequada gestão das suas características”. Neste sentido o desenvolvimento de novos produtos bem como a adequada gestão dos produtos existentes mostram-se fundamentais para a competitividade das organizações. 163 Desta maneira, o termo desenvolvimento não se atém ao desenvolvimento de novos produtos, mas parte para novos patamares, como desenvolvimento local que pode ser impulsionado por esta e outras organizações mediante o fomento da produção local da matéria-prima e a aplicação dos recursos através de novos investimentos e novos postos de trabalho. É importante destacar, também, as contribuições deste estudo, salientando-se que esta pesquisa contribui com a academia à medida que procurou ampliar as discussões sobre o tema escolhido. Outras contribuições referem-se à organização estudada. Afirma-se que este estudo contribui com a Doces Müller Indústria e Comércio LTDA., pois permitiu analisar a dinâmica organizacional no que se refere ao alinhamento da competitividade. Nesse sentido, percebe-se que o estudo oferece subsídios para que essa organização possa planejar e definir suas estratégias. Além disso, contribui com as demais organizações que, por intermédio deste estudo, poderão verificar suas configurações. Limitações Esse estudo teve algumas limitações, as quais estão relacionadas aos procedimentos metodológicos adotados e às dificuldades naturais que envolvem um trabalho desta natureza. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa que procurou identificar os produtos potenciais para desenvolvimento como estratégia de competitividade, limitando-se as perspectivas dos agentes envolvidos no estudo. Com isso, os resultados limitaram-se a refletir a percepção dos agentes no que se refere aos aspectos investigados. Além disso, esta pesquisa foi classificada como um estudo de caso pois abordou o contexto específico de uma organização agroindustrial localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Essa metodologia não teve intenção de generalização dos resultados às demais organizações. Outra limitação da pesquisa diz respeito à questão geográfica, visto que a coleta de dados se realizou apenas na região noroeste deste estado. Também a limitação amostral, pois tratou-se de uma amostra não-probabilistica por conveniência, e a maior parte da amostra dos consumidores foi obtida dentro de um único estabelecimento varejista. 164 Sugestões de novos estudos Este tópico dedica-se a delinear algumas sugestões a fim de contribuir com a pesquisa, por meio da indicação de novos estudos no campo de estratégias competitivas. Sugere-se a realização de futuras pesquisas que contemplem o desenvolvimento de novos produtos como estratégia de competitividade em um conjunto mais amplo de organizações e/ou em organizações de outros setores. Com a aplicação desta pesquisa em outras organizações poderá ser traçado um comparativo entre organizações com características semelhantes e avaliados os resultados alcançados. Outra possibilidade de investigação é quanto ao desenvolvimento de novos mercados, ou a diversificação, ou ainda penetração no mercado, como estratégia de competitividade, contemplando assim um estudo com as quatro perspectivas de crescimento de acordo com a matriz produto/mercado de Ansoff. 165 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia Aplicada, São Paulo, v. IV, n. 2, p. 379-397, abr./jun. 2000. AGENDA 21. Conferência das nações unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteud o=>. Acesso em: 12 mar. 2010. ALENCAR, Edgard. Complexos agroindustriais. Lavras: UFLA/FAEPE, 2001. ALMEIDA, Jalcione. 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Adota critérios para a seleção de terceirização produtos/serviços 8. A empresa está informatizada – quais setores utilizam 9. Possui seguro (predial, de produtos, de pessoas, etc.) 10. São buscadas inovações tecnológicas (adm./produção) e como são aplicadas S N P AE2 - Estrutura Organizacional 1. Possui alvará 2. Possui organograma geral da empresa 3. Possui descrição de funções 4. Possui normas (direitos, deveres) 5. Possui procedimentos / instruções operacionais S N P AE3 - Indicadores de Desempenho 1. Conhece sua participação de mercado 2. Calcula a taxa de produto X funcionário 3. Estabelece o índice de satisfação do cliente 4. Possui um sistema de monitoramento empresarial 5. Utiliza a relação Desempenho X Benefícios 6. Adota outros indicadores além destes citados. Especifique. 178 CAPITAL HUMANO S N P RH1 - Estratégias de Recursos Humanos 1. Pratica política de participação nos lucros 2. Possui política salarial 3. Possui plano de carreira 4. Adota incentivos legais: vale-transporte, adiantamentos 5. Adota incentivo: 14º salário 6. Adota incentivo: vale-refeição / refeitório 7. Adota incentivo: convênio médico / odontológico / farmacêutico 8. Adota incentivo: vale compras / vale-alimentação 9. Adota incentivo: Seguro de vida em grupo 10. Adota incentivo: prêmio assiduidade / produtividade 11. Aproveita estagiários / 1º emprego 12. Privilegia a atuação generalista dos funcionários. 13. Adota incentivo ao trabalho em grupo ou individual 14. Possui política de autonomia de resolução S N P RH2 - Administração de Recursos Humanos 1. Possui registro dos funcionários ativos (quantos na administração e quantos na produção) 2. Possui critérios de admissão / perfil do quadro 3. Possui política Desempenho X Benefício (individual e/ou coletivo) 4. Encontra-se em situação legal (FGTS, INSS, contrato social, contrato de representante) S N P RH3 - Educação e Treinamento 1. Adota política de educação e treinamento 2. Identifica as necessidades de treinamento. Especifique. 3. Efetua treinamento habitual (interno/externo; próprio/3º, individual/grupo) 4. Possui forma de avaliação do aprendizado 5. Forma multiplicadores 6. Possui formas de auxiliar a educação. Especifique. S N P RH4 - Indicadores de Recursos Humanos 1. Identifica absenteísmo. Especifique as causas 2. Ocorre rotatividade. Especifique as causas. 3. Efetua investimentos em educação e treinamento em relação ao faturamento. Informe o percentual. 4. Efetua avaliação de desempenho dos funcionários 5. Realiza pesquisa de clima/satisfação dos funcionários 6. Outros. Especifique. 179 FINANÇAS e CUSTOS S N P FC1 - Administração Financeira 1. Executa controle de contas a pagar/receber 2. Desconta títulos 3. Possui empréstimos 4. Adota critérios de aplicações 5. Faz orçamento de investimento e despesas 6. Possui situação creditícia regular 7. Existe uma sustentação econômica principal (economia de escala) 8. A empresa trabalha com instituições financeiras. Especifique. 9. A empresa obteve por parte do governo algum incentivo. Especifique. S N P FC2 - Indicadores Financeiros 1. Possui capital de giro (se tem, quanto?) 2. Executa o fluxo de caixa 3. Prazo médio de pagamento fornecedor é menor que do recebimento do cliente 4. Executa balancete – Demonstrativo mensal 5. Possui política de pagamento do terceirizado. Especifique. 6. Possui sistema de negociação. Especifique. 7. Avalia o seguro do negócio. Especifique como: 8. Conhece a rentabilidade do setor 9. Avalia o patrimônio (ativo e passivo) 10. Possui liquidez 11. Executa orçamento x controle de contas (orçamento x pagamentos - quanto gastou) 12. Prazo médio de recebimento cliente e entrega do produto (em dias) S N P FC3 - Administração de Custos 1. Utiliza algum programa ou planilha pré-elaborada na estrutura de formação do custo do produto 2. Atualiza os índices da planilha. Especifique 3. Como é a margem (preço venda x custo) 4. O que contempla o custo do produto e o que REPRESENTA CADA ITEM EM %: 4.1. Administrativo a. Custo fixo – máquinas/equipamentos/instalações b. Avaliação da relação entre pessoal administrativo x pessoal fabril (como é colocado) 4.2. Financeiro (despesas bancárias são agregadas ao custo do produto – exemplo: tarifas bancárias/juros/financiamentos/investimentos). 4.3. Manufatura (mo/tempo/mp) 4.4. Embalagem (mo/tempo/mp/embalagem) 180 FINANÇAS e CUSTOS (Continuação) S N P FC4 - Indicadores de Custos 1. Possui planilha de controle 2. Conhece a ociosidade 3. Calcula o Custo fixo / Custo variável 4. Controla o índice de sucatas 5. Adota horas extras 6. Existe retrabalho. Qual é o índice. 7. Conhece o giro de estoque por ano 8. Ocorrem devoluções de matéria-prima. Especifique o volume anual (percentual). 9. Calcula o faturamento por funcionário 10. Acompanha os preços do produto no mercado 11. Possui outros indicadores além destes citados. Especifique VENDAS e MARKETING S N P VM1 - Avaliação de Mercado 1. Acompanha preços concorrentes no mercado 2. Avalia tendências (moda) 3. Prospecta novos clientes/mercados 4. Realiza ou utiliza dados de pesquisa (clientes ou mercado) 5. Define os concorrentes. Especifique 6. Conhece o mercado em que atua 7. Utiliza todo o potencial de mercado da empresa 8. Sabe quanto representa a venda dos produtos da própria marca. Especifique 9. Possui cadastro de clientes 10. A equipe de vendas está estruturada. Especifique. 11. A equipe de vendas passou ou passa por alguma orientação ou treinamento específico voltado para a venda 12. Participa de feiras e rodadas de negócios 13. Estabelece relacionamento com representantes/vendedores: Treinamento, exclusividade, contrato, avaliação. S N P VM2 - Política Mercadológica 1. Possui política de preços e prazos 2. Faz promoção 3. Faz propaganda 4. Adotas política de novos lançamentos 5. Possui relacionamento com clientes 181 VENDAS e MARKETING (Continuação) 6. Paga comissões 7. Possui estrutura de vendas (possui loja própria – atacado / varejo) 8. Adota manutenção de estoque de produtos acabados 9. Produz material promocional 10. Possui seguro de transporte (empresa-cliente) – forma de retirada 11. Adota política de garantia 12. Executa negociação 13. Privilegia como principal estratégia mercadológica massificação. 14. Participa de redes de cooperação. S N P VM3 - Análise de Desempenho 1. Possui indicadores de margem de contribuição 2. Possui indicadores de margem de rentabilidade 3. Apresenta lucro (indicadores) compatível 4. Possui estatísticas de vendas 5. Conhece a sazonalidade 6. Estabelece vida útil 7. Existe um sistema de confirmação do estoque – consulta por estoque / comunicação de estoque / processo de manufatura 8. Possui outros indicadores além destes citados. Especifique. COMÉRCIO EXTERIOR S N P CE1 – Engenharia de Exportação 1. Conhece as vantagens de exportar 2. Sabe quem pode exportar 3. Sabe para onde exportar 4. Sabe quando exportar 5. Sabe como exportar 6. Sabe o que exportar 7. Conhece os erros de como não exportar 8. Conhece as barreiras da exportação 9. Sabe para quem exportar 10. Conhece o universo do exportador 11. Conhece as adaptações dos produtos para exportação 182 COMÉRCIO EXTERIOR (Continuação) S N P CE 2 – Plano de Internacionalização da Empresa 1. Realiza a avaliação da capacidade exportadora 2. Conhece a estrutura de um Plano de Internacionalização da empresa 3. Desenvolve o passo a passo do Plano de Internacionalização S N P CE 3 - Consórcio de Exportação 1. Sabe o que é um Consórcio de Exportação 2. Conhece as vantagens de um Consórcio 3. Conhece os tipos de Consórcio 4. Sabe as dificuldades para realizar um Consórcio 5. Conhece as etapas de criação de um Consórcio S N P CE 4 – Processo de Exportação 1. Conhece um fluxograma de exportação 2. Prepara a documentação de exportação 3. Conhece o Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX 4. Realiza a exportação 5. Realiza o câmbio PRODUTO e MANUFATURA S N P PM1 - Desenvolvimento de Produto 1. Possui documentação e codificação dos produtos 2. Possui estrutura de produtos / ficha técnica 3. Há interação área comercial / produto 4. Conhece o tempo médio de desenvolvimento de produto. Especifique. 5. Há desenvolvimento com custo objetivado 6. É proprietário do ferramental 7. Possui marcas e patentes 8. Avalia a escolha da matéria-prima S N P PM2 – Gestão da Inovação 1. PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO 1. Considera inovação importante para seu negócio 2. Considera a inovação como o principal diferencial competitivo no seu ramo de negócio 3. Possui estratégia tecnológica, se sim qual? Lança na frente ou segue os concorrentes 4. Considera a estratégia tecnológica como parte de sua estratégia competitiva PRODUTO e MANUFATURA (Continuação) 2. CONHECIMENTO SOBRE INSTRUMENTOS DE APOIO A INOVAÇÃO 1. Conhece entidades de fomento para projetos de inovação 2. Interessa apresentar projeto de inovação para alguma entidade de fomento 183 3. 3. 4. Conhece a legislação existente para a inovação (Leis da Inovação Federal e Estadual e Lei do Bem) PRÁTICA DA INOVAÇÃO 1. Tem competência interna para desenvolver produtos inovadores 2. A empresa possui área/unidade de Pesquisa e Desenvolvimento 3. Já desenvolveu trabalho com em parceria com Universidade e/ou Instituto de Pesquisa - Especifique 4. A parceria foi positiva e produziu os resultados esperados 5. Tem ou já teve algum pleito de financiamento aprovado por entidade de fomento - Especifique 6. Já utilizou algum incentivo fiscal para inovação REDES DE INTERAÇÃO 1. Acompanha as tecnologias do mercado no Brasil 2. Acompanha as tecnologias do mercado no exterior 3. Acompanha pesquisas acadêmicas no seu ramo de negócio S N P PM3 - Processo de Manufatura S N P 1. FERRAMENTARIA 1.1. A fabricação/manutenção do ferramental é própria. 1.2. Documenta e codifica o ferramental. 1.3. Existe facilidade de localização do ferramental. S N P 2. MANUTENÇÃO 2.1. A manutenção industrial é própria. 2.2. Existe possibilidade de terceirização (elétrica, hidráulica, mecânica, pneumática) 2.3. Existe ficha de controle dos equipamentos (manutenção preventiva) 2.4. Existe ficha de lubrificação 2.5. Conhece a máquina que provoca o maior número de paradas. Especifique. 2.6. Conhece o tempo médio de produção e paradas. Especifique. 2.7. Conhece os tipos comuns de parada de máquinas. Especifique S N P 3. LOGÍSTICA – COMPRA 3.1. Há critério de seleção de fornecedores (cotação) 3.2. Conhece o tempo entre pedido e recebimento. Especifique. 3.3. Existe critério para o meio de transporte e responsabilidade do pagamento do frete. Especifique. 3.4. Faz conferência de recebimento (mercadoria x pedido – mercadoria x nota fiscal) 3.5. Possui documentação para ordens/solicitação de compra 3.6. Analisa o controle do desempenho do fornecedor 3.7. Planeja o fornecimento de matéria prima. PRODUTO e MANUFATURA (Continuação) S N P 4. LOGÍSTICA – ARMAZENAMENTO (almoxarifado) 4.1. Possui local de armazenamento dos suprimentos 4.2. Existe um responsável para descarregamento 4.3. Possuí estoque intermediário (almoxarifado de linha) 4.4. Possui transporte interno (carrinhos, gruas, etc) 184 4.5. Controla o estoque – conhece o estoque 4.6. Existe comunicação com a administração 4.7. Possui política de estoque mínimo 4.8. Faz FIFO (First in – First out) S N P 5. MANUFATURA – OPERACIONAL 5.1. Há critério de manufatura (informar nome dos setores). Especifique. 5.2. Há critério para o grau de mecanização. Especifique. 5.3. Há critério para o grau de automatização. Especifique. 5.4. Idade média das máquinas compatível com a exigência de mercado. Especifique. 5.5. Há critério de tempo médio de troca de ferramentas 5.6. Há critério de tempo de troca de ferramenta do gargalo do produto principal 5.7. As máquinas são dedicadas ou multiuso S N P 6. MANUFATURA – FUNCIONAL 6.1. Há critério para os turnos de operação. Especifique 6.2. Utiliza fichas de fabricação (quantidade, prazos, ferramentais) 6.3. Possui controle estatístico de fabricação (capacidade nominal, capacidade real, códigos de parada, tempos de parada) 6.4. Lay-out conveniente. 6.5. Fluxo produtivo é conveniente. 6.6. Existe planejamento da produção 6.7. Existe flexibilidade de manufatura 6.8. Conhece o tempo de processamento do principal produto S N P PM4 - Qualidade e Indicadores 1. Calcula o índice de rejeição e retrabalho 2. Elabora estatísticas de qualidade (análise a partir dos dados) 3. Tem reclamações / devoluções de clientes 4. Possui padronização dos tempos/processos/operações/qualidade 5. Adota o sistema Toyota de 7 perdas 6. Outros indicadores além destes citados. Especifique. PRODUTO e MANUFATURA (Continuação) S N P PM5 - Gestão Ambiental 1. Adota a minimização de resíduos sólidos, líquidos e gasosos 2. Adota acondicionamento adequado de resíduos perigosos e disposição final adequada 3. Efetua coleta seletiva 4. Controla resíduos gerados 5. Substitui produtos e materiais que possam prejudicar trabalhadores e meio ambiente 6. Possui licença (IBAMA, alvará da vigilância sanitária, liberação dos bombeiros, outros...) 7. Controla e minimiza o custo de energia (elétrica, carvão, óleo combustível) 8. Possui EPC, fornece e exige sua utilização pelos funcionários 9. Possui condição adequada de higiene e limpeza das instalações 185 10. Possui adequada situação ambiental, envolvendo temperatura, luminosidade e umidade (local de trabalho). 11. Disponibiliza boas condições de sanitários aos clientes 12. Há boa condição das máquinas, equipamentos, ferramentas, ambiente 13. Há boa aparência do ambiente, pessoas, produto e instalações 14. Possui política de segurança de higiene e segurança do trabalho (SESMT, CIPA,...) 15. Existe climatização do ambiente (exaustores, ar condicionado, ventiladores) 16. Utiliza registros de acidentes de trabalho anuais. 17. Apresenta medidas preventivas para evitar acidentes de trabalho. S N P PM6 - Eficiência Energética S N P 1. GESTÃO 1.1. Possui um programa interno de conservação de energia (COCICE, CICE) 1.2. Existe um plano para implantação de uma CICE 1.3. Redução de consumo de energia faz parte da política da empresa 1.4. Há trabalho voltado para eficiência energética na empresa 1.5. Há funcionários da empresa que atuam na área de energia. Quantos? S N P 2. INSTALAÇÕES 2.1. Condições das instalações elétricas 2.2. É cultura haver ambientes iluminados em períodos não produtivos 2.3. Há ambientes com iluminação natural 2.4. Há cultura de usar aparelhos de ar condicionado com janelas e/ou portas abertas PRODUTO e MANUFATURA (Continuação) S N P 3. EQUIPAMENTOS 3.1. As instalações possuem luminárias sujas e/ou calhas envelhecidas 3.2. Há emendas de cabos elétricos na alimentação das máquinas e/ou alimentação 3.3. Há filtros que necessitam de limpeza nos aparelhos de ar condicionado 3.4. Há tanques e/ou tubulações de água quente sem isolamento térmico 3.5. Existem vazamentos de fluidos nos sistemas produtivos das bombas 3.6. Os motores das máquinas continuam ligados em períodos ociosos 3.7. Há pontos de desperdício de água 3.8. As descargas de vapor (quando aplicável) obedecem a uma periodicidade pré-definida 3.9. Há um programa de manutenção preventiva dos sistemas da empresa 186 ANEXO 2 Derivados de Amendoim: Pesquisa exploratória de um mercado potencial ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS GESTORES Questionamentos: 1 – Quais os objetivos da empresa a médio e longo prazo? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2 – Existe matéria prima suficiente para atender a demanda da produção? Quais os fornecedores potenciais? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3 – A empresa pretende ampliar canais de distribuição? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 187 ANEXO 3 Derivados de Amendoim: Pesquisa exploratória de um mercado potencial QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO MERCADO VAREJISTA A empresa Doces Muller Ind. E Com. LTDA, com a intenção de ampliar seu portfólio de produtos quer saber sua opinião sobre a possibilidade de compra dos produtos abaixo relacionados. Assinale com um X na opção que melhor reflete sua intenção de compra. Produtos Grau de intenção de compra Amendoim Cru ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria Amendoim Torrado e Salgado ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria Amendoim Torrado ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria Cri - Cri ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria Mandolate ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria Melado Batido ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria Rapadura Passoquinha ( ) Compraria ( ) Ainda não sei se compraria ( ) Não compraria OBRIGADO – SUA OPINIÃO É MUITO IMPORTANTE PARA NÓS. 188 ANEXO 4 Derivados de Amendoim: Pesquisa exploratória de um mercado potencial QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO CONSUMIDOR A empresa Doces Muller Ind. E Com. LTDA, com a intenção de ampliar seu portfólio de produtos quer saber sua opinião sobre os produtos abaixo: Assinale com um X na opção que melhor reflete sua percepção do produto. Sendo: + 5 – Gostei Muito; 1 – Não Gostei. Produtos 5 SABOR 4 3 2 1 5 APARÊNCIA 4 3 2 1 5 EMBALAGEM 4 3 2 1 Amendoim Torrado e Salgado Amendoim Torrado Cri - Cri Mandolate 1 – Já consome algum desses produtos de outros fabricantes? Qual(is) dos produtos? ( ) Amendoim Torrado e Salgado; ( ) Amendoim Torrado; ( ) Cri – Cri; ( ) Mandolate; ( ) Não consome. 2 – Após sua análise perceptual, quais dos produtos analisados você compraria? ( ) Amendoim Torrado e Salgado; ( ) Amendoim Torrado; ( ) Cri – Cri; ( ) Mandolate; ( ) Não compraria. 3 – Gostaria de participar, sugerindo algum produto inovador que pudesse ser elaborado a partir da matéria-prima básica de nossos produtos: o AMENDOIM?................................................................................................................. 4 – Características do respondente: Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: ................ OBRIGADO – SUA OPINIÃO É MUITO IMPORTANTE PARA NÓS. 189 ANEXO 5 – PORTFÓLIO DE PRODUTOS 190 191