Cazuza, o poeta do rock brasileiro Francisco Fernandes Ladeira Há

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Cazuza, o poeta do rock brasileiro
Francisco Fernandes Ladeira
Há vinte e cinco anos, no dia 7 de julho, falecia Agenor Araújo de Miranda Neto, mais
conhecido como Cazuza, um dos maiores nomes do rock brasileiro. Cazuza iniciou sua
carreira musical em 1982, na banda Barão Vermelho. Com o Barão, ele gravou três álbuns,
lançando alguns clássicos do rock nacional como “Bete balanço”, “Pro dia nascer feliz” e “Por
Que a gente é assim?”. Em 1985, por causa de divergências musicais, Cazuza anunciava sua
saída da banda para seguir uma breve, porém profícua, carreira solo (gravaria cinco discos
em apenas quatro anos).
Concomitante à sua nova empreitada musical, surgiam os primeiros diagnósticos revelando
que Cazuza havia contraído o vírus HIV, causador da AIDS. A enfermidade não marcaria
apenas a vida pessoal do cantor, também seria responsável por uma guinada em sua
carreira. O cantor de rock cedia lugar ao artista maduro e eclético, que soube registrar como
poucos os principais acontecimentos de seu tempo. Músicas como “O Tempo Não Para”,
“Brasil” e “Burguesia” refletem não apenas as angústias enfrentadas pelo cantor, retratam de
forma fidedigna como era o contexto brasileiro do final da década de 1980, período marcado
por grande instabilidade política e econômica. Em “O Tempo Não Para”, Cazuza mandava um
recado para a imprensa sensacionalista que já o dava como morto, “mas se você achar que
eu estou derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, por que o tempo, o tempo não
para”, dizia o compositor.
Já no samba-rock “Brasil”, Cazuza conseguiu descrever de forma singular a grande
corrupção e o clima de impunidade que imperavam no país. “Brasil! Mostra tua cara. Quero
ver quem paga. Pra gente ficar assim. Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio?
Confia em mim”. Não por acaso, a música, em versão gravada por Gal Gosta, foi tema de
abertura da Telenovela “Vale Tudo”, trama que tinha como principal temática a questão de
que se valia a pena, ou não, ser honesto no Brasil. Cazuza ainda criticou veementemente o
mimetismo e o antinacionalismo da elite brasileira. “A burguesia não tem charme nem é
discreta. Com suas perucas de cabelos de boneca. A burguesia quer ser sócia do Country. A
burguesia quer ir à Nova York fazer compras. A burguesia é a direita, é a guerra.”
Em “Ideologia”, o compositor retratou (antecipando-se aos grandes teóricos da pósmodernidade) as transformações do mundo pós Guerra Fria, época marcada pelo
enfraquecimento das ideologias e por grandes incertezas. “As ilusões estão todas perdidas,
os meus sonhos foram todos perdidos. Ideologia, eu quero uma pra viver”. Pode-se
questionar a maneira como Cazuza conduzia a sua vida privada. Entretanto, não cabe a nós
examinar aspectos pessoais de um artista, mas analisar a qualidade de sua obra. Nos
tempos atuais, em que “cantores de uma música só” são alçados ao status de grandes ídolos
nacionais, é sempre interessante relembrar obras contundentes e atemporais como foi a
música de Cazuza.
Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG
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