assistência de enfermagem no pós-operatório de

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Trabalho 166
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO DE TRANSPLANTE RENAL
Ana Elza Oliveira de Mendonça1
Izaura Luzia Silvério Freire2
Djailson José Delgado Carlos3
Richardson Augusto Rosendo da Silva4
Danyella Augusto Rosendo da Silva Costa5
Introdução: O transplante renal bem sucedido é o tratamento mais adequado para a Insuficiência Renal
Crônica (IRC), tanto do ponto de vista médico, social quanto econômico 1. Os avanços científicos e o
desenvolvimento de tecnologias inovadoras possibilitaram não apenas a realização dos transplantes de
órgãos, mas, também garantiram maior segurança aos pacientes. No entanto, ainda há riscos relacionados
ao procedimento cirúrgico, sendo mais comuns as complicações de ordem vascular como a estenose da
artéria renal ou da veia do enxerto 2,3. Sabe-se que inúmeros fatores relacionados às condições do órgão
doado, ao ajuste de drogas imunossupressoras e adesão ao tratamento podem influenciar a sobrevida do
paciente e do enxerto, sendo a rejeição crônica um dos principais problemas do transplante e causa de
falência do órgão transplantado após o primeiro ano 4,5. No cenário dos transplantes o enfermeiro
desempenha inúmeras funções administrativas e assistenciais que visam atender as demandas de recursos
materiais e humanos em todas as etapas do processo, que devem ocorrer de forma sincronizada. Sendo a
assistência de enfermagem no pré-operatório voltada ao preparo bio-psico-sócio-espiritual e emocional
dos pacientes e familiares para enfrentar o trauma anestésico e cirúrgico que irão vivenciar 6. A fase transoperatória requer total envolvimento entre o enfermeiro e a equipe cirúrgica, sendo responsável por
providenciar todos os recursos necessários, além de conferir a parte documental antes do procedimento
ser iniciado. Após a realização do transplante renal o paciente requer suporte de terapia intensiva, ou seja,
leito equipado com monitor multiparâmetros, suporte para oxigenioterapia e aspiração, bombas infusoras,
equipe médica e de enfermagem treinados e habilitados. Pois, as primeiras 24h do pós-operatório do
transplante renal estão associadas à instabilidade hemodinâmica e à necessidade de reposição parenteral
de grande quantidade de líquidos ou utilização de drogas vasoativas. Estudos mostram que a evolução
com poucas intercorrências nesse período inicial está associada à melhor sobrevida em longo prazo 6-8.
Sendo um dos cuidados primordiais do enfermeiro a detecção precoce das complicações relacionadas ao
procedimento cirúrgico. Objetivo: frente ao exposto o presente estudo visa descrever as atividades
desenvolvidas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem ao paciente em pós-operatório imediato de
transplante renal. Metodologia: trata-se de um estudo descritivo e observacional. O local do estudo foi a
unidade de transplante renal do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), vinculado ao Sistema
Único de Saúde (SUS), localizado no Município do em Natal/RN. O projeto foi previamente apreciado e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUOL, nº de protocolo: 415/2010. A coleta de dados foi
realizada a partir da observação sistematizada e, também, por meio de um roteiro estruturado. Os
prontuários foram utilizados de forma complementar à observação sistematizada da assistência de
enfermagem prestada aos clientes submetidos ao transplante renal. A busca dos registros de enfermagem e
a observação foram realizadas diariamente, durante todos os dias da semana, contemplando o período
matutino e vespertino. O acompanhamento da assistência de enfermagem aos pacientes submetidos ao
Enfermeira Intensivista do Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(HUOL/UFRN). Professora Mestre do Departamento de Enfermagem/UFRN. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação do
Centro de Ciências da Saúde/UFRN. E-mail: [email protected]
2
Profª. Mestre da Escola de Enfermagem da UFRN. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/UFRN. Email: [email protected]
3
Enfermeiro Intensivista do HUOL/UFRN. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
UFRN. E-mail: [email protected]
4
Enfermeiro. Professor Doutor Adjunto I do Departamento de Enfermagem da UFRN. E-mail: [email protected] 734
5
Enfermeira do Trabalho do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRN. E-mail: [email protected]
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transplante iniciava-se a partir do estágio pré-operatório imediato até a alta hospitalar. O preenchimento
do roteiro também foi desenvolvido diariamente. A coleta de dados ocorreu de agosto a dezembro de
2010. Obedeceu-se os seguintes critérios de inclusão: usuários transplantados no referido hospital, que
tivessem idade igual ou maior que 18 anos de idade, não apresentarem comprometimento cognitivo grave
e concordarem em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. O tempo médio de
acompanhamento dos pacientes foi de 15 dias. O roteiro constou das seguintes informações: dados
referentes à identificação do cliente (sexo, faixa etária, escolaridade, local de moradia, doença de base que
ocasionou a insuficiência renal crônica, tipo de doador, tipo de terapia dialítica utilizada no tratamento da
doença, início da terapia, tempo de internação e antecedentes pessoais); bem como a presença da
evolução de enfermagem durante o período de internação dos usuários (descrição de intercorrências no
pós-operatório, cuidados e prescrição de enfermagem). Resultados: observou-se que as atividades
assistenciais do enfermeiro na unidade de transplante renal seguem a Procedimentos Operacionais
Padrões (POPs), onde são preconizadas todas as atividades de forma seqüenciada didaticamente em fases
pré, trans e pós-operatória, visando uniformizar as ações dos profissionais que atuam diariamente no setor
ou na supervisão noturna. Os cuidados observados na fase pós-operatória foram: monitorização do estado
hemodinâmico; balanço hídrico rigoroso e reposição de líquidos; avaliação da dor; observação da incisão
cirúrgica; verificação da glicemia capilar; orientações quanto à imunossupressão; registro sobre os sinais
vitais e eliminações intestinais. Por serem os POPs elaborados de forma generalista é necessário que o
enfermeiro tenha conhecimento de como se deu o procedimento cirúrgico, quanto à ocorrência de
complicações, dificuldades, medicamentos utilizados, tempo cirúrgico e de isquemia do órgão e
alterações na recuperação pós-anestésica, para que possa sistematizar as suas ações, planejar os cuidados
a serem prestados e reavaliar periodicamente a assistência de enfermagem de acordo com as necessidades
de cada paciente, afim de proporcionar uma assistência individualizada e segurança. Para tanto, o
enfermeiro deve preparar e testar os equipamentos necessários para receber o paciente submetido ao
transplante renal, uma vez que, dentre os cuidados considerados essenciais na fase pós-operatória estão à
monitorização da temperatura, níveis glicêmicos e do estado hemodinâmico, com ênfase nos níveis
pressóricos devido ao risco de hemorragias, balanço hídrico rigoroso e reposição de líquidos. No entanto,
a reposição de fluidos se dá em função do volume urinário horário, considerado um indicador sensível do
volume intravascular e útil para avaliar a função renal9, devendo ser feito o controle da diurese a cada
hora objetivando um valor maior igual que trinta mililitros por hora, além do registro de características
como cor, odor, presença de sedimentos e hematúria, deve ainda ser observado a ocorrência de dobras,
trações ou obstrução por coágulos com o objetivo de manter a sonda vesical pérvia. Quanto ao manejo e
avaliação da dor em pacientes conscientes, considerada como quinto sinal vital, utiliza-se escalas
numéricas para o registro do valor informado pelo paciente e providencia-se a administração de
medicações sintomáticas prescritas9. Avaliam ainda o abdome observando a incisão cirúrgica quanto à
drenagem e presença edema e abaulamentos, visando detectar precocemente hematomas e sangramentos.
Instituir cuidados para a prevenção de infecção em todas as situações especialmente na realização de
curativos, manuseio de dispositivos invasivos, nos horários de visitas e estimular e supervisionar a
realização de exercícios respiratórios, que nesse serviço ainda é atividade do enfermeiro. Conclusões:
para atuar na unidade de transplante renal, o enfermeiro deve ser previamente treinado e habilitado a fim
de exercer as atividades assistências e gerenciais e ainda estar sensibilizado frente ao desafio de cuidar de
um paciente abalado pelo sofrimento das terapias dialíticas e tempo de permanência em fila de espera por
uma doação. Por meio da comunicação terapêutica atua junto ao paciente em todas as etapas do
transplante contribuindo para minimizar o sofrimento e os riscos peculiares desse momento tão delicado
que é a fase pós-operatória. Assim, conclui-se que a utilização de procedimentos operacionais padrões
assistenciais construídos pelos próprios enfermeiros da unidade, comunicando as atividades de modo
claro e preciso e desenvolvidos à medida que diferentes problemas foram detectados, conferem respaldo e
reconhecimento ao trabalho do enfermeiro em transplante renal.
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Descritores: transplante renal; cuidados pós-operatórios; assistência de enfermagem.
Área Temática do trabalho: Processo do cuidar em Saúde e Enfermagem
Eixo Temático do Evento: Pesquisa de enfermagem no processo de cuidar e educar:
interdisciplinaridade, transculturalidade e difusão do conhecimento
Referências
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In: PEREIRA, W. A. Manual de transplante de órgãos e tecidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
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