o paradigma da complexidade: um desafio para a educação

Propaganda
O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE: UM DESAFIO PARA A
EDUCAÇÃO
Kayane Celise Antoniacomi1-PUCPR
Daniel Paiter de Oliveira2 – PUCPR
Danyelle Vallin Stropa3- PUCPR
Grupo de Trabalho – Educação, Complexidade e Transdisciplinariedade.
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo propõe-se a apresentar o resultado de uma pesquisa sobre Paradigmas
Educacionais na Prática Pedagógica desenvolvida no programa de pós-graduação em
Educação de uma universidade particular do município de Curitiba/PR, com duração de 15
encontros, no qual participaram 25 mestrandos e doutorandos de variadas áreas do
conhecimento. Levantou-se como problema de pesquisa: Como desenvolver e aplicar uma
prática pedagógica liberta que proporcione uma metodologia criativa, crítica e transformadora
pautada em referenciais teóricos e práticos do paradigma da complexidade na Educação
Superior? Optou-se pela metodologia qualitativa do tipo pesquisa-ação supervisionada pela
professora pesquisadora e coordenadora do grupo de pesquisa “Paradigmas educacionais e
formação de professores - PEFOP” e do Projeto: Formação pedagógica do professor
universitário. Os principais autores que fundamentaram a pesquisa foram: Behrens (2013),
Capra(1996), Mizukami (1986), Libâneo (1986), Demo (1986), Freire (1982) e Moraes
(2007), Marcondes (2002), Kuhn (2001). A investigação inicialmente explorou os paradigmas
conservadores da educação, analisando-se criticamente o papel da escola, aluno, professor,
metodologia e avaliação . Posteriormente estiveram presentes discussões e análises sobre a
crise dos paradigmas da ciência e também do paradigma da complexidade. Ao longo do
estudo contemplaram-se momentos teóricos, reflexões, discussões e investigação teóricas
exploratórias. Elaboraram-se produções de quadros sinópticos individuais e sínteses coletivas,
além de artigos individuais e coletivos a respeito dos paradigmas conservadores, crise e
1
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2012). Atualmente professora na
Prefeitura Municipal de Curitiba e cursando Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná na Linha de Pesquisa: História e Políticas da Educação. Participa do grupo de pesquisa: Políticas,
Formação
do
Professor,
Trabalho
docente
e
Representações
sociais-POFORS.
E-mail:
[email protected].
2
Mestrando em Educação PUCPR. Professor Titular do Centro Universitário Tupy (Unisociesc).E-mail:
[email protected]
3
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Cesumar (2008), Pós em psicopedagogia institucional e
clínica pela Universidade Estadual de Maringá (2010) e atualmente coordenadora do Centro Social Marista
Ecológica. E-mail: [email protected]
ISSN 2176-1396
32500
superação de paradigmas e o paradigma da complexidade. O estudo favoreceu a possibilidade
de reflexão e discussão a respeito da prática pedagógica, reconhecendo a importância de um
ensino ponderado, amoroso, liberto e, sobretudo, que focalize a ética como virtude do
processo, no caminho de uma ciência da educação construído sob pilares sólidos de justiça.
Palavras-chave: Paradigmas conservadores. Complexidade. Educação.
Introdução
No romance Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa na voz de Riobaldo Tatarana
(sua personagem emblemática) ajuda, à tantas do livro, no parto de uma simples mulher do
sertão, quando da criança nascida, ele diz: “Minha Senhora Dona: Um menino nasceu! - O
mundo tornou a começar!...” (ROSA, 1993, p. 258).
Os problemas do mundo, tanto sociais quanto ambientais, econômicos, políticos, nos
fazem almejar renovação, novos pensamentos surgem, novas matrizes, ou seja, o objeto de
discussão deste trabalho: novos paradigmas emergem. Há confronto do passado com o futuro,
pois a civilização, ainda guiada pelos pressupostos cartesianos, tensionada por problemas
fundamentalmente éticos, repensa seus modos de vida, de ciência, de comunicação, de justiça
e especificamente suas práticas educacionais.
Menos crueldade e mais solidariedade. Um viés educativo amoroso, democrático,
igual, universal, respeitador de individualidades e criador de coletividades. Trata-se do
movimento paradigmático para superação do ranço tradicional da educação: hierárquico,
selecionador, competitivo, punitivo, a elevação da construção do conhecimento á condição
cidadã, livre, criativa, comunitária.
Há intenção de rompimento, mas o que é paradigma? No enfoque platônico paradigma
é um modelo, exemplo que se encontraria no mundo abstrato, paralelo, perfeito, com supostas
hierarquias de reproduções não exatas do mundo real (MARCONDES, 2002, p.15). Behrens
(2013, p.25) apresenta importante contribuição de Weil ao conceito de paradigmas: “em
grego, paradigma significa exemplo ou, melhor ainda, modelo ou padrão”. Na visão
contemporânea, paradigma seria o extrato de estudos em tal cena histórica, onde ocorrem
semelhanças conceituais em diferentes áreas do conhecimento, estruturas de pensamento se
multiplicam formando quase uma regra temporal (KHUN, 2001, p.67). Quando acrescentado
o aspecto político ao paradigma, o avaliamos como repertório de decisões lógicas,
conhecidas, precisas, linhas mestras que fornecem direção aos discursos, estamento do curso
das ciências, das teorias, da linguística e da ideologia. (MORIN, 1996, p.287).
32501
Um paradigma abrange toda a humanidade, dos assuntos cotidianos até as grandes
decisões políticas, está na fronteira das ciências e na prática da educação devido à abrangência
do método de pensamento, pois ele acaba por reproduzir o próprio método científico
empregado ao conhecimento, objeto dos processos educacionais. Nesse sentido:
a forma como a educação é desenvolvida traduz a percepção e o conhecimento de
tórias de aprendizagens implícitas e subjacentes às propostas utilizadas, com sérias
consequências no desencadeamento da prática pedagógica, independe do tipo de
tecnologia intelectual utilizado (MORAES, 2007, p. 17).
Percebe-se ainda hoje a existência de práticas pedagógicas apoiadas nos paradigmas
conservadores da educação, baseados no pensamento newtoniano-cartesiano, no qual a
educação acontece por meio da memorização, repetição e fragmentação do conhecimento. A
sociedade vive constante transformação, principalmente, por meio de suas tecnologias, essas
se transformaram em potente ferramenta do conhecimento, evidenciando assim, a necessidade
de rever as metodologias e propostas pedagógicas para atender ao paradigma da
complexidade.
Os paradigmas inovadores surgem na perspectiva de totalidade, da ideia de malha,
conexões ou teia buscando a superação do pensamento newtoniano-cartesiano. Reconhecendo
a existência de práticas pedagógicas ainda pautadas na cópia, memorização e repetição
levantou-se a seguinte problematização: Como desenvolver e aplicar uma prática pedagógica
liberta que proporcione uma metodologia criativa, crítica e transformadora pautada em
referenciais teóricos e práticos do paradigma da complexidade na Educação Superior?
Metodologia
O presente trabalho foi elaborado a partir de um processo de uma pesquisa-ação,
desenvolvida com 25 participantes, sendo professores, mestrandos e doutorandos de diversas
áreas do conhecimento que participaram em uma instituição privada de ensino de
Curitiba/PR, da pesquisa sobre Paradigmas Educacionais na Prática Pedagógica. Esta
pesquisa se integrou à linha Teoria e Prática pedagógica na formação de professores e ao
grupo de pesquisa: PEFOP- Paradigmas Educacionais e formação de professores e projeto
Formação Pedagógica do Professor Universitário.
A pesquisa foi desenvolvida em 15 encontros e o trabalho desenvolvido passou por
diferentes fases e momentos dentre eles leituras e reflexões, encontros de discussão teóricas
32502
explanatórias no qual docente e alunos dialogavam enriquecendo o aprendizado.
Recomendações de leituras e construção de quadros sinópticos individuais estiveram
presentes no processo proporcionando fundamentos para posteriores discussões e sínteses
coletivas.
Produções de artigos individuais e coletivos constituíram-se como atividades de
pesquisa, assim produziram textos relacionados aos paradigmas conservadores, crises e
rupturas de paradigmas e os inovadores da educação. A avaliação de todo o processo de
pesquisa aconteceu de forma individual e coletiva. Constituiram-se como os recursos
utilizados ao longo do percurso textos, notebooks, multimídia, filmes, músicas, Powerpoint e
cartazes.
Paradigma Conservador e suas abordagens: tradicional, escolanovista e tecnicista
O paradigma conservador é permeado pelo pensamento newtoniano-cartesiano,
responsável por levar o homem a separação do racional e o emocional (BEHRENS, 2013),
compreendo que “o universo organizou-se a partir da linearidade determinista de causa e
efeito” (BEHRENS, 2013, p.18). Este paradigma originou-se com Galileu Galilei e também
possuiu contribuições de Descartes a partir do “Discurso do Método”. Muitas críticas
incidiram sobre esse paradigma devido à fragmentação causada em nossa realidade e a sua
influência na educação, sendo o século XX conhecido como a sociedade da produção em
massa conforme explica Behrens (2013, p.18), “com essa influência, o século XX
caracterizou-se por uma sociedade de produção em massa. Alicerçada nos pressupostos do
pensamento newtoniano-cartesiano a ciência contaminou a educação com um pensamento
racional, fragmentado e reducionista”.
O paradigma conservador influenciou fortemente o século XX e fazem parte dele três
abordagens de ensino denominadas: tradicional, escolanovista e tecnicista, cada uma com
suas singularidades e características em relação ao modelo de escola, papel do aluno e
professor, metodologia e avaliação.
No que diz respeito a abordagem tradicional a escola é considerada um ambiente
conservador e rígido, local no qual estão presentes verdades absolutas e inquestionáveis,
sendo o professor o centro de todo o processo, uma figura autoritária e o único detentor do
conhecimento enquanto o aluno é passivo, recebendo os saberes de forma pronta e acabada
sem a possibilidade de realizar questionamentos, conforme explica Libâneo (1986, p.24),
32503
nessa abordagem “predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos
e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula”. A metodologia está pautada
em aulas expositivas e a aprendizagem ocorre a partir da repetição e memorização e
consequentemente os alunos são avaliados pela maior quantidade de conteúdos memorizados
e reproduzidos precisamente (BEHRENS, 2013).
A abordagem escolanovista surge aproximadamente em 1930, direcionando seu olhar
para o aluno, este que se constitui como o centro de todo o processo de ensino-aprendizagem
(BEHRENS, 2013). A escola necessita proporcionar as condições necessárias para que o
indivíduo se desenvolva, assim “com uma forte influência da psicologia e da biologia, a
Escola Nova buscava o autodesenvolvimento e a realização pessoal do aluno” (BEHRENS,
2013, p.45). O professor torna-se o responsável por facilitar a aprendizagem e promover uma
relação positiva e acolhedora dentro da sala de aula, acreditando nas diferenças individuais,
não possuindo o papel de comando e sim de orientador de seus alunos (BEHRENS, 2013),
Mizukami (1986, p.52) complementa que o professor diante do processo de facilitador
necessita “ser autêntico (aberto às suas experiências) e congruente, ou seja, integrado”.
Na metodologia levam-se em consideração os interesses dos alunos e os diversos
fatores culturais, religiosos dentre outros, privilegiando trabalhos em grupo, pesquisa dirigida
e unidades de experiência, sendo que a ênfase da avaliação do processo educativo está na
autoavaliação e valorização também dos aspectos afetivos dos alunos (BEHRENS, 2013).
Entre o final da década de 1960 e início de 1970 com suas bases firmadas no
positivismo, a abordagem tecnicista é inserida na educação, onde a escola se torna um espaço
de valorização da técnica e treinamento dos educandos, conforme é explicado por Behrens
(2013, p.47): “A abordagem tecnicista fundamenta-se no positivismo e propõe uma ação
pedagógica inspirada nos princípios da racionalidade, da eficiência, da eficácia e da
produtividade”. Neste contexto, o educando é caracterizado como sujeito acrítico e passivo
que aprende a partir de modelos de repetição é valorizado pelas respostas prontas e corretas,
aprendendo por meio do estímulo e reforço (MIZUKAMI, 1986). Já o professor torna-se
responsável por transmitir e reproduzir o conhecimento, utilizando-se de sistemas
instrucionais (BEHRENS, 2013).
Por meio de uma metodologia repetitiva e mecânica com a ênfase em aulas
expositivas e repetitivos exercícios, valorizam-se as respostas certas, os erros são punidos
com rigor e o treino constitui-se como uma meta para se poder alcançar a aprendizagem
32504
(BERENS, 2013). Diante deste cenário, ressalta-se que a avaliação visa o produto final,
estando conecta aos objetivos propostos, acontecendo em dois momentos: a avaliação prévia
dos alunos e a avaliação sobre os objetivos propostos (BEHRENS, 2013).
Superando paradigmas
É inevitável reconhecer que o paradigma newtoniano-cartesiano influenciou
fortemente nossa sociedade trazendo para a educação inúmeras consequências e “essa forma
de organizar o pensamento levou a comunidade científica a uma mentalidade reducionista na
qual o homem adquire uma visão fragmentada não somente da verdade, mas de si mesmo, dos
seus valores e dos seus sentimentos” (BEHRENS, 2013, p.17). Além de levar professores e
alunos a “a processos que se restringem à reprodução do conhecimento” (BEHRENS, 2013,
p.23). Porém não podemos conceber os paradigmas conservadores como um grande erro
histórico, eles devem ser concebidos como “[...] uma trajetória necessária no processo
evolutivo do pensamento humano” (BEHRENS, 2013, p.18).
Nos últimos anos as mudanças e avanços científico-tecnológico e a velocidade de
circulação das informações tornou o mundo interconectado, levando a crise do paradigma
conservador. Sobre essa crise Moraes (2007, p.55) explica: “a crise sempre provoca um malestar na comunidade envolvida, sinalizando uma renovação e um novo repensar. Em resposta
ao movimento que ela provoca, surge um novo paradigma explicando os fenômenos que o
antigo já não mais explicava”. Mas a mudança paradigmática não é tarefa fácil, inicialmente é
carregada de muitas resistências e acontece de forma gradual e por meio do envolvimento
(BEHRENS, 2013).
A educação na visão complexa requer abordagem sistêmica, do todo, evidente que
vanguarda e conflituosa com o antes, mas não dispensável por ser urgente, é preciso recuperar
a esfera, a perspectiva geral, a teia de relações, a trama, o tecido, a totalidade, o pensamento
sistêmico que propõe a visão do contexto, das iterações, da experiência multidimensional e
que considere o humano como solidário, emocional e não um poço morto de razão.
(BEHRENS, 2013, p.61)
32505
O paradigma da complexidade
O paradigma da complexidade reconhecido também como inovador ou emergente,
reconhece o mundo como um todo, com diversas partes integradas e interconectadas,
comparando-se a ideia de uma teia. Capra (1996, p.25) afirma que: “o novo paradigma pode
ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo
integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas”. Neste paradigma passa a existir a
aliança de três abordagens: holística, ensino com pesquisa e sistêmica. Em relação a este novo
paradigma Behrens (2013, p.34) ressalta que:
no novo paradigma, o universo passaria a caracterizar-se pela percepção do mundo
vivo como uma rede de relações. Essas redes conectadas encontram-se aninhadas em
sistemas dentro de outros sistemas. A noção do conhecimento científico como uma
rede de concepções e modelos desafia a comunidade científica, mas tem encontrado
crescente aceitação a ideia de que o pensamento sistêmico é sempre pensamento
processual.
Nesse sentido, na abordagem holística ou conhecida também como sistêmica,
podemos dizer que o mais forte impacto está no fato de que as partes podem ser entendidas a
partir do conhecimento do todo (BEHRENS, 2013). Nesse sentido Behrens (2013) ainda
explica que o aluno é visto como um ser complexo que está presente em um mundo com
diversas relações e suas múltiplas inteligências são levadas em consideração, enquanto o
papel essencial do professor está em superar o paradigma fragmentado e a reprodução do
conhecimento. A metodologia busca o envolvimento e participação dos alunos, possuindo
como seu foco a comunicação interativa, privilegiando a formação ética e respeito do aluno
como pessoa (BEHRENS, 2013). A avaliação na abordagem holística ocorre durante todo o
processo, acompanhando o crescimento do aluno e respeitando-o e valorizando a construção
do conhecimento.
a opção por uma metodologia sistêmica precisa
original, único e indiviso, um ser de relações,
inteligências múltiplas. Por isso é importante
transformadores, que ultrapassem o ensino e
significativa (BEHRENS, 2013, p.67).
considerar o aluno como ser
contextualizado e dotado de
propor projetos criativos e
provoquem a aprendizagem
Na abordagem do ensino com pesquisa a escola é concebida como um ambiente aberto
para novas experiências e descobertas, além de ser um ambiente crítico, produtivo e inovador,
onde o aluno é um sujeito investigador que produz conhecimento enquanto o professor é o
mediador e articulador que estimula e provoca o aluno (BEHRENS, 2013). Diante deste
32506
panorama Demo (1996, p.15) ressalta que o professor “[...] precisa saber propor seu modo
próprio e criativo de teorizar e praticar a pesquisa renovando-se constantemente e mantendo-a
como fonte principal de sua capacidade inventiva”.
Nesta metodologia encontramos a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa,
superando a reprodução do conhecimento e focalizando na produção do conhecimento,
mantendo o equilíbrio entre trabalhos individuais e coletivos (BEHRENS, 2013). Assim
como na abordagem holística, a avaliação perde seu caráter punitivo e ocorre de forma
contínua processual e participativa, realizando o acompanhamento e orientação dos projetos
desenvolvidos pelos alunos e os critérios avaliativos são definidos no início de toda a
proposta, assim professores e alunos criam um “contrato” (BEHRENS, 2013).
A abordagem progressista no Brasil tem como seu precursor Paulo Freire e considera a
escola como um espaço de transformação social, estando aberta ao diálogo e troca de
experiências.
dessa forma a abordagem progressista caracteriza-se por um processo de busca de
transformação social. Para desencadear esse processo, torna-se necessário uma
educação que propicie uma prática pedagógica crítica, reflexiva e transformadora
(BEHRENS, 2013, p.72).
O aluno é considerado ativo e crítico que constrói seu conhecimento a partir de suas
diversas relações com o mundo e o professor também faz parte do centro do processo, por
meio do diálogo possui uma relação horizontal com seus alunos, acreditando na capacidade
dos mesmos (BEHRENS, 2013). Logo, a metodologia está calçada na comunicação dialógica,
tendo como seus pontos essenciais de acordo com Saviani (1985, apud BEHRENS, 2013): “A
prática social, a problematização e instrumentalização, a catarse e retorno a prática social”.
Sobre a avaliação, esta acontece de forma processual, contínua e transformadora, onde
segundo Behrens (2013, p.78) “com a liberdade de expressão e pensamento, a reflexão e a
produção do conhecimento são revisitadas durante e no final do processo”, diante disto a
autora complementa que “o aluno, de maneira ativa e dinâmica, pode pronunciar-se sobre seu
progresso e sobre o progresso do grupo, num relacionamento fraterno, solidário e amoroso”
(p.78).
32507
Considerações Finais
A Terra embora geograficamente a mesma, foi encolhida pelos meios de comunicação,
se tornou densa e instantânea. Os problemas transformaram-se em cadeias de causas e efeitos
longas quase insondáveis. Hoje vivemos emergências ambientais, políticas, econômicas e
sociais gravíssimas, os velhos modos de mundo, exercidos na base de antigos paradigmas, não
habilitam responder aos anseios do futuro. Ciências como ecologia e cibernética englobam
diversas áreas do conhecimento antes fragmentado no furor cartesiano, os contextos dos fatos
científicos se emaranharam, pensadores como Edgar Morin, Fritjof Capra e outros perceberam
a exaustão dos antigos paradigmas e proclamaram as relações como complexas, surge o termo
complexidade, um enfoque sistêmico ou holístico do macro ao micro, das grandes decisões ao
trivial do cotidiano, da economia à genética, ou seja, o conhecimento e a ciência estudados de
maneira total, inclusiva, ampla, geral e com senso de justiça.
Este trabalho conclama a educação para imergir na visão complexa, sem recortes, sem
fragmentações e sim, composições com implicações principalmente éticas, diretas à uma
sociedade mais solidaria. A pedagogia na complexidade se torna fraterna, democrática e
sensível ao professor, como no belo trecho da obra Pedagogia da Autonomia: “É na minha
disponibilidade à realidade que construo a minha segurança indispensável à própria
disponibilidade. É impossível viver a disponibilidade à realidade sem segurança, mas é
impossível também criar a segurança fora do risco da disponibilidade” (FREIRE, 2013,
p.132)
O professor, nas abordagens dirigidas pela complexidade, não é o proprietário do
saber, torna-se um articulador, um facilitador, condutor da autonomia e da iniciativa do aluno
num ambiente escolar sadio, liberto, democrático e justo. Nesse sentido:
[...] o paradigma emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a
visão uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência,
procurando interconectar vários interferentes que levem o aluno a uma
aprendizagem mais significa, com autonomia, de maneira continua, como um
processo de aprender a aprender para toda a vida (BEHRENS, 2013, p.111).
Há contextualidade nos problemas, há entorno e condições de contorno e história, a
ditadura em sala é substituída pelo diálogo consistente, pelo ensino amoroso, pela didática
ponderada na qual se deseja a construção do saber por meio da curiosidade bem conduzida,
arejada, virtuosa, com a proposição de inteligência social que dialogue com as
32508
individualidades, abrindo janelas para uma ciência abrangente assentada em fortíssimos
pilares éticos. Uma ciência que contemplo o ser umano em sua plenitude e que busque uma
vida para melhor.
REFERÊNCIAS
BEHRENS, Marilda Aparecida. O Paradigma emergente e a prática pedagógica. 6ed.
Petrópolis: Vozes, 2013.
CAPRA, Fritjot. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix,1996.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores associados, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 47ª Ed. Rio de Janeiro: Paz&Terra, 2013.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Tradução de Beatriz Vianna
Boeira e Nelson Boeira. 7ª Ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. A pedagogia Histórico-Crítico
social dos Conteúdos. São Paulo: Loiola, 1986.
MARCONDES, Danilo. A crise de paradigmas e o surgimento da modernidade. In:
BRANDÃO, Zaia (org.) A crise dos paradigmas e a educação. 8ª Ed. São Paulo: Cortez,
2002.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
1986.
MORAES, Maria Cândida. Paradigma educacional emergente. 9 ed. Campinas: SP:
Papirus, 2007.
MORIN, Edgar. Epistemolgia da complexidade. In: SCHNITMAN, D. F. (org.) Novos
paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.
Download