juliana barboza caetano de paula

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UM PARADIGMA PARA OS DOCENTES DO SÉCULO XXI NA SOCIEDADE DO
CONHECIMENTO
Fernanda Biazetto Vilar Fabrício
[email protected]
Joseli Monteiro Tozetto
[email protected]
Sandra Mara Piotto
[email protected]
Marilda Aparecida Behrens
[email protected]
RESUMO
Esse ensaio aborda questões relacionadas à mudança paradigmática na Educação no contexto da
Sociedade do Conhecimento, que por apresentar características próprias, impõem a necessidade de uma
nova concepção do processo de ensino e aprendizagem.
Apresenta a trajetória dos paradigmas dentro da educação, como a história social e política
influenciaram a abordagem do professor dentro da sala de aula.
Passa pelo Paradigma da Ciência, onde houve a ruptura da visão de homem, mente e corpo e da
educação em várias ciências especificas.
Para finalizar, tentaremos responder às questões: por qual caminho que estamos indo? Para qual novo
paradigma estamos caminhando?
Este questionamento provavelmente está presente na mentalidade de muitos professores, pois a escola,
uma instituição constituída historicamente partícipe de uma sociedade em permanente mudança,
sofrendo variáveis e pressões de todos os lados, continua teimosamente com uma estrutura imóvel e
impermeável, resistindo a todos, ou quase todos, os elementos do novo contexto.
Palavras-Chave: educação, paradigmas, sociedade do conhecimento, tecnologia
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INTRODUÇÃO
Ao observar o processo de evolução da humanidade pode-se consignar uma marcante
presença de descobertas, inovações e avanços, relacionados diretamente com o espírito de aventura,
inquietude, características sempre presentes nos seres humanos.
Será importante ressaltar que as transformações rápidas e profundas decorrentes
destas descobertas tem reflexo nos mais variados setores, destacando
os avanços tecnológicos, a
transformação dos paradigmas econômicos e produtivos, com impacto nas mudanças relacionadas com a
educação.
A realidade hoje é de um crescimento exponencial de acesso a informações, mas o
ponto determinante está na transformação de informação em conhecimento, num processo de
aprendizagem significativa, onde se desenvolvem habilidades e competências para que se utilize o
conhecimento em situações práticas. Por isto a Educação na “Sociedade do Conhecimento” está
passando por profundas mudanças.
Educar em uma sociedade do conhecimento significa muito mais do que capacitar as
pessoas para o uso das tecnologias, mas sim investir na construção de competências, no “aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e a viver junto”, e isto sabemos, não é algo mecânico e nem
pronto e acabado, cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de igual atenção.
A produção do conhecimento – identidade desta nova sociedade – é privilegiada nesta
modalidade de ensino/aprendizagem, pois exige do aluno um maior envolvimento e compromisso com
o saber. Daí emerge a necessidade de criar ambientes de aprendizagem que oportunizem uma prática
pedagógica significativa, compatível com as exigências da sociedade – valorizando a reflexão, o
espírito investigativo, a curiosidade, a criticidade, a criatividade, a ação, a capacidade de resolver
problemas.
O professor é, sem dúvida, o autor e ator fundamental que pode favorecer a mudança,
devido à sua condição de dar direção a sua prática pedagógica, não apenas na reprodução do
conhecimento – paradigma conservador – como também na direção da construção de um paradigma
inovador, que nasce na perspectiva de uma ciência contemporânea.
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Esta proposta é fundamentada em processos interativos e dialógicos, considerado o
tempo/espaço do sujeito aprendente para uma educação de qualidade e assim, contribuindo para que a
aprendizagem ocorra mediante processo de ação-reflexão-ação.
PARADIGMAS EDUCACIONAIS E A AÇÃO DOCENTE
Estamos vivendo uma época de grandes e significativas mudanças – um novo
paradigma do saber está sendo estruturado a partir da necessidade de se formar um cidadão capaz de
atender às exigências da sociedade - uma sociedade da informação e do conhecimento. Quando se
trabalha com conhecimento, trabalhar e aprender se tornam indistinguíveis. O trabalhador na nova
economia pensa, comunica-se, interage e colabora. Surge então a preocupação com a formação desse
sujeito – um ser crítico, criativo, reflexivo, preocupado com bem estar comum, capaz de resolver
problemas e de trabalhar em grupo. Pensar então na formação desse cidadão, implica pensar na
Educação, pretende-se aqui instigar uma reflexão sobre a mudança paradigmática da Ciência no século
XXI e sua influência na docência.
Por muitos anos, a Ciência estava embasada nos pressupostos do paradigma
conservador, este, influenciado pelo pensamento newtoniano-cartesiano (BEHRENS, 2005; MORAES,
1997) que conduzia o homem a uma visão reducionista, dualista, e compartimentalizada (razão e
emoção, ciência e ética, mente e corpo) - não somente da verdade, mas de si mesmo, semeando uma
concepção determinista e mecanicista do universo. Esta visão fragmentada levou a uma concepção de
Educação, onde a prática pedagógica se restringia à reprodução do conhecimento, restrita à sala de aula
física, num ambiente austero de silencio e disciplinado. Neste contexto, segundo Behrens (2005) as
abordagens pedagógicas reprodutivas foram denominadas de paradigma Tradicional, paradigma
Escolanovista e paradigma Tecnicista.
Ao trabalhar o Paradigma da Ciência ou Paradigma Newtoniano-Cartesiano, vemos
que a influência econômica é muito grande. A fragmentação que esse paradigma impõe vem da idéia de
separação da mente e da matéria que foi gerada não dentro da educação, mas sim na Revolução
Industrial, no Positivismo, com a fragmentação do trabalho. O sistema capitalista levou a divisão do
trabalho em especialidades, em funções específicas para cada indivíduo desenvolver uma área própria
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da produção, refletindo na educação, ou seja, a fragmentação do ensino, a divisão do conhecimento em
campos especializados, a separação das ciências, tudo isso foi conseqüência da ruptura do homem
(razão) com a natureza (emoção).
Vemos emergir na contemporaneidade um novo paradigma de produção e
desenvolvimento, em substituição ao paradigma taylorista-fordista. Behrens (2005) afirma que a visão
mecanicista reducionista do trabalho levou à fragmentação, a divisão, a compartimentalização, os quais
são processos ultrapassados pelo paradigma da sociedade do conhecimento que exige conexões,
relações, no sentido de reaproximar as partes para buscar a visão do todo.
Assim, a escola, no paradigma conservador, cumprindo seu papel de reprodutora do
status quo, passa para uma formação utilitária, técnica e científica. O grande objetivo da escola era a
reprodução do conhecimento, a cópia, assim como uma fábrica que só busca o resultado final, o produto,
que tem que ter como forma a padronização.
Não há desenvolvimento da autonomia num ambiente onde prevalece o autoritarismo
do professor, em que os alunos vêem o professor como dono exclusivo do saber. Se esta afirmativa se
faz verdade, a simples transmissão do saber será a prática na sala de aula.
O pensamento newtoniano-cartesiano começou a perder forças com o estudo da
ciência – baseada em explicações, proposições e contribuições da f´ísica – onde é proposto um novo
paradigma para a ciência, influenciando uma nova visão de mundo, de universo, de homem.
Para a nova cosmovisão, o universo não é uma máquina composta com uma infinidade de objetos, mas
um todo dinâmico indivisível. Suas partes são eventos interconectados que só podem ser
compreendidos profundamente levando em conta o movimento cósmico como um todo. (CARDOSO,
1995,p.35, In BEHRENS, 2000, p.34)
Então, o Paradigma Conservador teve a sua crise, o que está levando a mudanças na
educação. E está crise foi gerada pela própria industrialização, a que deu origem a todo esse Paradigma
Cientifico. Pois a tecnologia desenvolvida pela indústria foi absorvida rapidamente pela comunidade e
está passou ater acesso às informações de maneira mais rápida e maior (a Internet, a própria televisão).
A sociedade de produção de massa que não tinha acesso fácil às informações, onde o conhecimento era
sigiloso e apenas quem detinha o poder tinha direito e acesso a ele, passou para uma sociedade do
conhecimento, onde a informação passa a ser mais disponível. Além disso, a ganância empresarial que
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levou a destruição da natureza, também passou a ser uma preocupação da população, que voltou a unir
novamente homem e natureza, mente e matéria, razão e emoção.
A era da informação levou a buscar um conhecimento mais totalitário, o
entendimento do todo e não só das partes E a crise dos paradigmas conservadores levou a educação a
novos referenciais, e surgem os Paradigmas Inovadores, que agora buscam a produção do
conhecimento, a reflexão, a crítica ao sistema, a busca por uma nova sociedade. Passou-se a valorizar o
sentimento, a emoção, as sensações, a intuição e não apenas a lógica formal e a razão. Não foi uma
mudança completa, de abandonar esse pontos de vistas científicos, mas sim aliar a idéia do racional
com o emocional.
O mundo eletrônico facilitou a comunicação e encurtou as distâncias.(...) A exploração dos
conhecimentos em todas as áreas e bombardeio de informações afetam profundamente as bases
culturais da humanidade. Mas os avanços técnicos, científicos e eletrônicos não trouxeram a vida em
plenitude para os homens (...) nesse processo, seduzido pela tecnologia, o homem passou a destruir a
Terra e, em especial, a si mesmo e seus semelhantes. (BEHRENS, 2005, p.27)
E é a esperança e o desejo de transformar e mudar a ótica reducionista e mecanicista
do paradigma conservador newtoniano-cartesiano que nos leva a repensar o processo de ensino e de
aprendizagem que vêm sendo desenvolvidos. Neste cenário, é construído o paradigma inovador da
ciência, que, segundo Behrens (2005), aparece com várias denominações – paradigma emergente,
paradigma sistêmico, paradigma da complexidade – oferecendo abordagens para a Educação, que
levem à produção do conhecimento, numa retomada do todo, superando a fragmentação e propondo
uma prática pedagógica transformada e transformadora, diante da necessidade de uma formação do
indivíduo para ser um sujeito ativo na sociedade, formação esta que já não está restrita à mera
atualização de conhecimentos, mas implica em que o sujeito-aluno seja capaz de construir e comparar
novas estratégias de ação, redefinindo e enfrentando os problemas cotidianos de seu universo de
atuação, o que implica aprender a viver com a incerteza e por iss é necessário desenvolver a autonomia
dos alunos e dos professores.
OS TEMPOS MUDAM E É PRECISO MUDAR COM ELES
O desafio que a sociedade do conhecimento impõe é o de superar esta visão
reproducionista do saber, por isto, o paradigma newtoniano-cartesiano tornou-se insatisfatório na
medida em que a humanidade absorveu os avanços advindos da revolução tecnológica, onde novos
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conhecimentos passaram a ser produzidos a partir de um crescimento exponencial de acesso a
informações. O pensamento newtoniano-cartesiano começou a perder forças com o estudo da Ciência
– baseada em explicações, proposições e contribuições da Física – onde é proposto um novo paradigma
para a ciência, influenciando uma nova visão de mundo, de universo, de homem.
Não importa em que sociedade estejamos, em que mundo nos encontremos, não é possível formar
engenheiros ou pedreiros, físicos ou enfermeiras, dentistas ou torneiros, educadores ou mecânicos,
agricultores ou filósofos, pecuaristas ou biólogos sem uma compreensão de nós mesmos enquanto
seres históricos, políticos, sociais e culturais; sem uma compreensão de como a a sociedade funciona.
(FREIRE, 1992, p.134)
Assim, esta transformação da sociedade, que sai de um paradigma newtoniano cartesiano, traz um tempo de expectativas e perplexidade, com crises de concepções e paradigmas.
Estamos vivendo a nova era, a era do conhecimento, da globalização das
telecomunicações, mesmo que ainda não atinja a grande massa populacional.
No entanto, o uso da informática e da educação a distância, se não romper com os
antigos paradigmas empiristas de ensino-aprendizagem, será mais uma ferramenta para a reprodução de
informações e não de construção do saber por parte dos alunos e professores.
As novas tecnologias criaram novos espaços para o conhecimento, que agora não
cabe tão somente à escola transmiti-lo. O que cabe à escola então? Cabe a ela organizar um movimento
de renovação cultural, movimento este que as empresas já vêm fazendo. Se hoje vale tudo para
aprender, isto vai além da assimilação dos conteúdos.
Nesta nova concepção, o homem também passa a ser visto como um ser único num
sistema complexo de relações e de totalidade - “Somos apenas um fio de uma teia cósmica de infinitas
relações” (CARDOSO, 1995, p.36)
Este novo paradigma da ciência afeta diretamente a Educação, pois o mundo está em
constante mudança e transformação e conseqüentemente, o pensamento também é construído como
uma rede “Acompanhando a transformação, o pensamento está sempre em processo. Portanto; por ser
provisório não é estável e nem fixo” (BEHRENS, 2000, p.38), então se torna estritamente necessário
que a Educação ultrapasse a visão compartamentalizada, defendendo a idéia de interconexão de
saberes, como uma teia interligada e interdependente.
DELORS, (2001) em seu relatório para a UNESCO, sobre a educação para o século
XXI, aponta os quatro pilares do conhecimento: “Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a
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viver juntos e Aprender a ser”, buscando-se o desenvolvimento integral da pessoa: inteligência,
sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal e social, espiritualidade, pensamento
autônomo e crítico, imaginação, criatividade e iniciativa.
Levando-os a aprender a aprender. Isto significa ter condição de refletir, analisar e tomar consciência
do que sabemos, dispormo-nos a mudar os conceitos e os conhecimentos que possuímos, seja para
processar novas informações, seja para substituir conceitos cultivados no passado e adquirir novos
conhecimentos. (MORAES 1997, p. 144)
A abrangência do “Aprender a Aprender” está na busca de habilitar o estudante a
pesquisar e produzir conhecimento próprio e o foco central aponta para a autonomia produtiva de
professores e alunos.
O paradigma da complexidade é um desafio à Educação de possibilitar ao aluno um
processo de ensino e aprendizagem holístico, resgatando o ser humano como um todo, mais que
habilidades e competências – uma Educação que propicie a visão da totalidade, propondo uma ação
docente alicerçada na aliança de três abordagens – visão sistêmica/holística que resgata o ser humano
em sua totalidade, a abordagem progressista que tem como pressuposto central a transformação social e
o ensino com pesquisa que considera o aluno e o professor como pesquisadores e produtores dos seus
próprios conhecimentos (BEHRENS, 2000, p.60-62).
Sob essa perspectiva, a educação em um ambiente virtual apresenta-se como uma das
possibilidades para atender a formação integral do indivíduo – reconhecendo o ser humano em sua
multidimensionalidade, como um ser dotado de múltiplas inteligências e com diferentes capacidades
cognitivas, além de permitir uma educação conectada e contextualizada à realidade de cada aluno.
Na proposta do paradigma da complexidade, o professor não é a única e nem a mais
importante fonte do conhecimento. O indivíduo recebe informações a todo o momento e através de
inúmeras fontes, o que remete aos educadores uma nova postura comunicacional e pedagógica. Cabe ao
professor, mais do que transmitir o saber, articular experiências em que o aluno reflita sobre suas
relações com o mundo e o conhecimento, assumindo o papel ativo no processo ensino-aprendizagem,
que, por sua vez, deverá abordar o indivíduo como um todo e não apenas como um talento a ser
desenvolvido.
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Nesta perspectiva, o professor passa a ter uma nova proposição metodológica em que se torna o
articulador e o orquestrador do processo pedagógico. Atua em parceria com os alunos, propõe
atendimento diferenciado, freqüenta biblioteca e laboratórios de informática junto com os estudantes.
(BEHRENS, 2000, p. 123)
O desafio está, portanto, na incorporação de um novo processo de aprendizagem que
oportunize ao aluno, atividades que exijam não apenas o seu investimento intelectual, mas também o
seu emocional, o sensitivo, intuitivo, estético, tentando não simplesmente desenvolver habilidades, mas
o indivíduo em sua totalidade.
Numa recuperação do todo (na superação da fragmentação), a perspectiva de uma visão holística
propõe considerar não somente a razão e a sensação, mas também a intuição e o sentimento,
transpondo o racionalismo reducionista que valoriza o progresso material e negligencia o progresso
humano. ( BEHRENS, 2000, p. 66 )
De acordo com o novo paradigma, a própria noção de conhecimento deve ser revista.
O conhecimento não é algo acabado nem definitivo. Conforme as leis da Física Quântica, mesmo os
objetos são relativos, dependendo do olhar do observador (MORAES, 1997). Assim, a realidade
quântica jamais será observada duas vezes da mesma forma. Isso torna os conceitos relativos, e a
realidade será sempre um modo particular de percepção do mundo e das coisas, não havendo verdades
duradouras, eternas, mas verdades relacionais e, portanto, transitórias.
Esta nova prática exige ambientes que superem o espaço da sala de aula, com a
realização de atividades colaborativas em que as experiências sejam vivenciadas, individualmente e em
grupo, que invistam o aluno de responsabilidades reais ante seu processo de aprendizado e o mundo
que o cerca, atividades que sejam avaliadas, mais do que por uma avaliação formal dos conteúdos, mas
pela auto-realização que elas proporcionem,
Neste contexto, o aluno não aprende apenas nas aulas e a sala de aula deixa de ser o
lugar da transmissão e da repetição do saber para sediar importantes momentos de socialização do
aprendizado individual e de experiências em grupo, do diálogo e do confronto entre estas experiências
e a teoria, da formulação de problemas e da busca de soluções.
Em termos de estratégias de ensino, o novo paradigma sugere a diminuição da
importância das aulas expositivas e uma preparação para o futuro profissional, um encontro entre a
teoria e a prática.
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A metodologia prescreve um encontro entre a teoria e a prática, caracterizando uma opção que busque
equilíbrio entre os pressupostos teóricos e práticos numa interdependência direta. As duas visões
(teoria e prática) se completam, se interconectam, se aproximam e buscam provocar a visão do todo.
Num processo de inter-relação, a teoria se constrói na prática e a prática se constrói na teoria.
(BEHRENS, 2000, p.73-74)
Dentro das abordagens do paradigma emergente, o professor sai da posição de
instrutor, passando a ser um parceiro na produção do conhecimento, buscando uma aliança e um
processo de envolvimento e participação do aluno, numa perspectiva de trabalho coletivo, buscando
caminhos compartilhados na investigação. Dinâmico, mediador, articulador, crítico e criativo, baseadose na investigação e na produção do conhecimento pelos alunos e pelos professores, com autonomia,
criatividade e criticidade. O ensino e a pesquisa percebidos com indissociáveis trazem um novo
direcionamento à prática pedagógica. Principalmente redimensionando o conceito de pesquisa, segundo
Lüdke (1896) “a palavra pesquisa ganhou ultimamente uma popularização que chega por vezes a
comprometer seu verdadeiro sentido”, ou seja, pesquisar não resume-se a compilar dados extraídos de
materiais impressos ou até mesmo da Internet.
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção. Quando entro numa sala de aula devo estar sendo um ser aberto a
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as suas inibições; um ser crítico e inquiridos,
inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE,
1996, p.47)
Faz-se necessário ainda ressaltar que, ao contrário do paradigma tradicional, no
paradigma emergente, em nenhuma das abordagens mencionadas, a avaliação tem caráter punitivo,
passando a ser processual e transformadora, buscando a participação individual e coletiva, gerando o
enriquecimento no processo educativo. O aluno participa, com o professor, do processo de criação de
critérios para a avaliação. Exigência e rigorosidade fazem parte do processo tanto quanto a liberdade de
expressão.
As práticas educacionais e sua legitimação estão ancoradas no paradigma da ciência
moderna, o que significa trazer para a educação um determinismo, tanto no nível da produção dos
conhecimentos quanto nos diferentes aspectos das relações institucionais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a crise dos paradigmas conservadores vimos uma busca pelo homem dentro
deste mundo, onde a idéia ecológica de Capra (1996) vê o homem relacionado diretamente com o
planeta, com o universo. Vimos também com Freire (1992) à busca pela liberdade consciente, o saber
para ser livre e com Demo (1996) a pesquisa como meio, como referência, a construção do
conhecimento através da busca incessante, pela pesquisa. Refletindo com essas idéias podemos pensar
nos caminhos que a educação deverá tomar daqui pra diante.
As mudanças são reais e estão acontecendo na sociedade de uma forma geral, sem
distinções, trazendo para a instituição escola uma necessidade de transformação no seu sistema
educacional, mesmo que esta transformação se dê de forma lenta, parcial e gradativa.
Assim, o rápido e crescente desenvolvimento da informática, a utilização de novas
tecnologias, as mudanças de valores ambientais, sociais e culturais, a mudanças de paradigmas, que são
de tal velocidade e impacto, que, por vezes fazem com que as instituições sociais não as acompanhem.
A impressão é de que tudo acontece rápido demais. Com a tecnologia da informação,
o mundo está rapidamente se transformando; o conceito de presença e distância se altera
profundamente e as formas de ensino e aprendizagem também. Há uma aproximação entre os cursos
presenciais - que se apresentam cada vez mais semipresenciais - em ambientes virtuais.
O avanço da tecnologia promoveu uma revolução cultural nas inter-relações de todos
os sistemas e provocou um redimensionamento nas relações dos indivíduos na sociedade. As novas
formas de comunicação, de aquisição e construção de conhecimentos, provenientes do
desenvolvimento das TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação) e do rápido crescimento
da Internet, abriram novas e atraentes possibilidades educacionais, mas ainda existem aqueles que
vêem em todos esses aparatos como uma educação de menor qualidade, utilizada apenas para se
aligeirar os estudos de quem não dispõe de tempo para freqüentar um curso regular. Este pré-conceito
está ligado ao tempo em que se fazia educação por correspondência, utilizando-se, apenas, o correio
como meio de comunicação no processo de ensino/aprendizagem.
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Neste cenário é fundamental que a Educação seja capaz de responder às novas
necessidades que se apresentam e uma das formas de realizar essa tarefa é através da capacitação
continuada de professores e a formação de profissionais para essa nova realidade.
A prática dos educadores deve ser repensada, criando nas escolas o ambiente para o
desenvolvimento de cidadãos críticos, dotados de autonomia de aprendizagem.
É claro que essa caminhada está apenas começando, e que a sua real execução
demorará alguns anos. Não apenas por causa do docente que ainda precisa se qualificar e que dentro
deste processo teremos muitas recusas, por medo, insegurança, ou por comodismo. Mas também por
causa dos alunos que vêm de uma educação escolar ainda fincada nos moldes tradicionais, que tem
dificuldade em serem responsáveis e buscarem o seu próprio conhecimento. E, sem esquecer que as
universidades terão que adaptar-se às tecnologias, ter os recursos de informação disponíveis a todos, e
isso demanda de investimento financeiro.
Enfim, o paradigma emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a visão
uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência, procurando interconectar
vários interferentes que levem o aluno a uma aprendizagem significativa, com autonomia, de maneira
contínua, como um processo de aprender a aprender para toda a vida. (BEHRENS, 2005, p.111).
Dentro desta perspectiva, os novos paradigmas educacionais, que consideram que os
alunos devem ser preparados para conviver em uma sociedade em constante mudança, assim como
também devem ser os construtores de seu conhecimento e, sujeitos ativos neste processo, trazem em
seu cerne, uma real possibilidade de mudança da estrutura educacional, fazendo com que a escola
transforme-se de transmissora para produtora de conhecimento.
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