UM PARADIGMA PARA OS DOCENTES DO SÉCULO XXI NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO Fernanda Biazetto Vilar Fabrício [email protected] Joseli Monteiro Tozetto [email protected] Sandra Mara Piotto [email protected] Marilda Aparecida Behrens [email protected] RESUMO Esse ensaio aborda questões relacionadas à mudança paradigmática na Educação no contexto da Sociedade do Conhecimento, que por apresentar características próprias, impõem a necessidade de uma nova concepção do processo de ensino e aprendizagem. Apresenta a trajetória dos paradigmas dentro da educação, como a história social e política influenciaram a abordagem do professor dentro da sala de aula. Passa pelo Paradigma da Ciência, onde houve a ruptura da visão de homem, mente e corpo e da educação em várias ciências especificas. Para finalizar, tentaremos responder às questões: por qual caminho que estamos indo? Para qual novo paradigma estamos caminhando? Este questionamento provavelmente está presente na mentalidade de muitos professores, pois a escola, uma instituição constituída historicamente partícipe de uma sociedade em permanente mudança, sofrendo variáveis e pressões de todos os lados, continua teimosamente com uma estrutura imóvel e impermeável, resistindo a todos, ou quase todos, os elementos do novo contexto. Palavras-Chave: educação, paradigmas, sociedade do conhecimento, tecnologia 1145 INTRODUÇÃO Ao observar o processo de evolução da humanidade pode-se consignar uma marcante presença de descobertas, inovações e avanços, relacionados diretamente com o espírito de aventura, inquietude, características sempre presentes nos seres humanos. Será importante ressaltar que as transformações rápidas e profundas decorrentes destas descobertas tem reflexo nos mais variados setores, destacando os avanços tecnológicos, a transformação dos paradigmas econômicos e produtivos, com impacto nas mudanças relacionadas com a educação. A realidade hoje é de um crescimento exponencial de acesso a informações, mas o ponto determinante está na transformação de informação em conhecimento, num processo de aprendizagem significativa, onde se desenvolvem habilidades e competências para que se utilize o conhecimento em situações práticas. Por isto a Educação na “Sociedade do Conhecimento” está passando por profundas mudanças. Educar em uma sociedade do conhecimento significa muito mais do que capacitar as pessoas para o uso das tecnologias, mas sim investir na construção de competências, no “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e a viver junto”, e isto sabemos, não é algo mecânico e nem pronto e acabado, cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de igual atenção. A produção do conhecimento – identidade desta nova sociedade – é privilegiada nesta modalidade de ensino/aprendizagem, pois exige do aluno um maior envolvimento e compromisso com o saber. Daí emerge a necessidade de criar ambientes de aprendizagem que oportunizem uma prática pedagógica significativa, compatível com as exigências da sociedade – valorizando a reflexão, o espírito investigativo, a curiosidade, a criticidade, a criatividade, a ação, a capacidade de resolver problemas. O professor é, sem dúvida, o autor e ator fundamental que pode favorecer a mudança, devido à sua condição de dar direção a sua prática pedagógica, não apenas na reprodução do conhecimento – paradigma conservador – como também na direção da construção de um paradigma inovador, que nasce na perspectiva de uma ciência contemporânea. 1146 Esta proposta é fundamentada em processos interativos e dialógicos, considerado o tempo/espaço do sujeito aprendente para uma educação de qualidade e assim, contribuindo para que a aprendizagem ocorra mediante processo de ação-reflexão-ação. PARADIGMAS EDUCACIONAIS E A AÇÃO DOCENTE Estamos vivendo uma época de grandes e significativas mudanças – um novo paradigma do saber está sendo estruturado a partir da necessidade de se formar um cidadão capaz de atender às exigências da sociedade - uma sociedade da informação e do conhecimento. Quando se trabalha com conhecimento, trabalhar e aprender se tornam indistinguíveis. O trabalhador na nova economia pensa, comunica-se, interage e colabora. Surge então a preocupação com a formação desse sujeito – um ser crítico, criativo, reflexivo, preocupado com bem estar comum, capaz de resolver problemas e de trabalhar em grupo. Pensar então na formação desse cidadão, implica pensar na Educação, pretende-se aqui instigar uma reflexão sobre a mudança paradigmática da Ciência no século XXI e sua influência na docência. Por muitos anos, a Ciência estava embasada nos pressupostos do paradigma conservador, este, influenciado pelo pensamento newtoniano-cartesiano (BEHRENS, 2005; MORAES, 1997) que conduzia o homem a uma visão reducionista, dualista, e compartimentalizada (razão e emoção, ciência e ética, mente e corpo) - não somente da verdade, mas de si mesmo, semeando uma concepção determinista e mecanicista do universo. Esta visão fragmentada levou a uma concepção de Educação, onde a prática pedagógica se restringia à reprodução do conhecimento, restrita à sala de aula física, num ambiente austero de silencio e disciplinado. Neste contexto, segundo Behrens (2005) as abordagens pedagógicas reprodutivas foram denominadas de paradigma Tradicional, paradigma Escolanovista e paradigma Tecnicista. Ao trabalhar o Paradigma da Ciência ou Paradigma Newtoniano-Cartesiano, vemos que a influência econômica é muito grande. A fragmentação que esse paradigma impõe vem da idéia de separação da mente e da matéria que foi gerada não dentro da educação, mas sim na Revolução Industrial, no Positivismo, com a fragmentação do trabalho. O sistema capitalista levou a divisão do trabalho em especialidades, em funções específicas para cada indivíduo desenvolver uma área própria 1147 da produção, refletindo na educação, ou seja, a fragmentação do ensino, a divisão do conhecimento em campos especializados, a separação das ciências, tudo isso foi conseqüência da ruptura do homem (razão) com a natureza (emoção). Vemos emergir na contemporaneidade um novo paradigma de produção e desenvolvimento, em substituição ao paradigma taylorista-fordista. Behrens (2005) afirma que a visão mecanicista reducionista do trabalho levou à fragmentação, a divisão, a compartimentalização, os quais são processos ultrapassados pelo paradigma da sociedade do conhecimento que exige conexões, relações, no sentido de reaproximar as partes para buscar a visão do todo. Assim, a escola, no paradigma conservador, cumprindo seu papel de reprodutora do status quo, passa para uma formação utilitária, técnica e científica. O grande objetivo da escola era a reprodução do conhecimento, a cópia, assim como uma fábrica que só busca o resultado final, o produto, que tem que ter como forma a padronização. Não há desenvolvimento da autonomia num ambiente onde prevalece o autoritarismo do professor, em que os alunos vêem o professor como dono exclusivo do saber. Se esta afirmativa se faz verdade, a simples transmissão do saber será a prática na sala de aula. O pensamento newtoniano-cartesiano começou a perder forças com o estudo da ciência – baseada em explicações, proposições e contribuições da f´ísica – onde é proposto um novo paradigma para a ciência, influenciando uma nova visão de mundo, de universo, de homem. Para a nova cosmovisão, o universo não é uma máquina composta com uma infinidade de objetos, mas um todo dinâmico indivisível. Suas partes são eventos interconectados que só podem ser compreendidos profundamente levando em conta o movimento cósmico como um todo. (CARDOSO, 1995,p.35, In BEHRENS, 2000, p.34) Então, o Paradigma Conservador teve a sua crise, o que está levando a mudanças na educação. E está crise foi gerada pela própria industrialização, a que deu origem a todo esse Paradigma Cientifico. Pois a tecnologia desenvolvida pela indústria foi absorvida rapidamente pela comunidade e está passou ater acesso às informações de maneira mais rápida e maior (a Internet, a própria televisão). A sociedade de produção de massa que não tinha acesso fácil às informações, onde o conhecimento era sigiloso e apenas quem detinha o poder tinha direito e acesso a ele, passou para uma sociedade do conhecimento, onde a informação passa a ser mais disponível. Além disso, a ganância empresarial que 1148 levou a destruição da natureza, também passou a ser uma preocupação da população, que voltou a unir novamente homem e natureza, mente e matéria, razão e emoção. A era da informação levou a buscar um conhecimento mais totalitário, o entendimento do todo e não só das partes E a crise dos paradigmas conservadores levou a educação a novos referenciais, e surgem os Paradigmas Inovadores, que agora buscam a produção do conhecimento, a reflexão, a crítica ao sistema, a busca por uma nova sociedade. Passou-se a valorizar o sentimento, a emoção, as sensações, a intuição e não apenas a lógica formal e a razão. Não foi uma mudança completa, de abandonar esse pontos de vistas científicos, mas sim aliar a idéia do racional com o emocional. O mundo eletrônico facilitou a comunicação e encurtou as distâncias.(...) A exploração dos conhecimentos em todas as áreas e bombardeio de informações afetam profundamente as bases culturais da humanidade. Mas os avanços técnicos, científicos e eletrônicos não trouxeram a vida em plenitude para os homens (...) nesse processo, seduzido pela tecnologia, o homem passou a destruir a Terra e, em especial, a si mesmo e seus semelhantes. (BEHRENS, 2005, p.27) E é a esperança e o desejo de transformar e mudar a ótica reducionista e mecanicista do paradigma conservador newtoniano-cartesiano que nos leva a repensar o processo de ensino e de aprendizagem que vêm sendo desenvolvidos. Neste cenário, é construído o paradigma inovador da ciência, que, segundo Behrens (2005), aparece com várias denominações – paradigma emergente, paradigma sistêmico, paradigma da complexidade – oferecendo abordagens para a Educação, que levem à produção do conhecimento, numa retomada do todo, superando a fragmentação e propondo uma prática pedagógica transformada e transformadora, diante da necessidade de uma formação do indivíduo para ser um sujeito ativo na sociedade, formação esta que já não está restrita à mera atualização de conhecimentos, mas implica em que o sujeito-aluno seja capaz de construir e comparar novas estratégias de ação, redefinindo e enfrentando os problemas cotidianos de seu universo de atuação, o que implica aprender a viver com a incerteza e por iss é necessário desenvolver a autonomia dos alunos e dos professores. OS TEMPOS MUDAM E É PRECISO MUDAR COM ELES O desafio que a sociedade do conhecimento impõe é o de superar esta visão reproducionista do saber, por isto, o paradigma newtoniano-cartesiano tornou-se insatisfatório na medida em que a humanidade absorveu os avanços advindos da revolução tecnológica, onde novos 1149 conhecimentos passaram a ser produzidos a partir de um crescimento exponencial de acesso a informações. O pensamento newtoniano-cartesiano começou a perder forças com o estudo da Ciência – baseada em explicações, proposições e contribuições da Física – onde é proposto um novo paradigma para a ciência, influenciando uma nova visão de mundo, de universo, de homem. Não importa em que sociedade estejamos, em que mundo nos encontremos, não é possível formar engenheiros ou pedreiros, físicos ou enfermeiras, dentistas ou torneiros, educadores ou mecânicos, agricultores ou filósofos, pecuaristas ou biólogos sem uma compreensão de nós mesmos enquanto seres históricos, políticos, sociais e culturais; sem uma compreensão de como a a sociedade funciona. (FREIRE, 1992, p.134) Assim, esta transformação da sociedade, que sai de um paradigma newtoniano cartesiano, traz um tempo de expectativas e perplexidade, com crises de concepções e paradigmas. Estamos vivendo a nova era, a era do conhecimento, da globalização das telecomunicações, mesmo que ainda não atinja a grande massa populacional. No entanto, o uso da informática e da educação a distância, se não romper com os antigos paradigmas empiristas de ensino-aprendizagem, será mais uma ferramenta para a reprodução de informações e não de construção do saber por parte dos alunos e professores. As novas tecnologias criaram novos espaços para o conhecimento, que agora não cabe tão somente à escola transmiti-lo. O que cabe à escola então? Cabe a ela organizar um movimento de renovação cultural, movimento este que as empresas já vêm fazendo. Se hoje vale tudo para aprender, isto vai além da assimilação dos conteúdos. Nesta nova concepção, o homem também passa a ser visto como um ser único num sistema complexo de relações e de totalidade - “Somos apenas um fio de uma teia cósmica de infinitas relações” (CARDOSO, 1995, p.36) Este novo paradigma da ciência afeta diretamente a Educação, pois o mundo está em constante mudança e transformação e conseqüentemente, o pensamento também é construído como uma rede “Acompanhando a transformação, o pensamento está sempre em processo. Portanto; por ser provisório não é estável e nem fixo” (BEHRENS, 2000, p.38), então se torna estritamente necessário que a Educação ultrapasse a visão compartamentalizada, defendendo a idéia de interconexão de saberes, como uma teia interligada e interdependente. DELORS, (2001) em seu relatório para a UNESCO, sobre a educação para o século XXI, aponta os quatro pilares do conhecimento: “Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a 1150 viver juntos e Aprender a ser”, buscando-se o desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal e social, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade e iniciativa. Levando-os a aprender a aprender. Isto significa ter condição de refletir, analisar e tomar consciência do que sabemos, dispormo-nos a mudar os conceitos e os conhecimentos que possuímos, seja para processar novas informações, seja para substituir conceitos cultivados no passado e adquirir novos conhecimentos. (MORAES 1997, p. 144) A abrangência do “Aprender a Aprender” está na busca de habilitar o estudante a pesquisar e produzir conhecimento próprio e o foco central aponta para a autonomia produtiva de professores e alunos. O paradigma da complexidade é um desafio à Educação de possibilitar ao aluno um processo de ensino e aprendizagem holístico, resgatando o ser humano como um todo, mais que habilidades e competências – uma Educação que propicie a visão da totalidade, propondo uma ação docente alicerçada na aliança de três abordagens – visão sistêmica/holística que resgata o ser humano em sua totalidade, a abordagem progressista que tem como pressuposto central a transformação social e o ensino com pesquisa que considera o aluno e o professor como pesquisadores e produtores dos seus próprios conhecimentos (BEHRENS, 2000, p.60-62). Sob essa perspectiva, a educação em um ambiente virtual apresenta-se como uma das possibilidades para atender a formação integral do indivíduo – reconhecendo o ser humano em sua multidimensionalidade, como um ser dotado de múltiplas inteligências e com diferentes capacidades cognitivas, além de permitir uma educação conectada e contextualizada à realidade de cada aluno. Na proposta do paradigma da complexidade, o professor não é a única e nem a mais importante fonte do conhecimento. O indivíduo recebe informações a todo o momento e através de inúmeras fontes, o que remete aos educadores uma nova postura comunicacional e pedagógica. Cabe ao professor, mais do que transmitir o saber, articular experiências em que o aluno reflita sobre suas relações com o mundo e o conhecimento, assumindo o papel ativo no processo ensino-aprendizagem, que, por sua vez, deverá abordar o indivíduo como um todo e não apenas como um talento a ser desenvolvido. 1151 Nesta perspectiva, o professor passa a ter uma nova proposição metodológica em que se torna o articulador e o orquestrador do processo pedagógico. Atua em parceria com os alunos, propõe atendimento diferenciado, freqüenta biblioteca e laboratórios de informática junto com os estudantes. (BEHRENS, 2000, p. 123) O desafio está, portanto, na incorporação de um novo processo de aprendizagem que oportunize ao aluno, atividades que exijam não apenas o seu investimento intelectual, mas também o seu emocional, o sensitivo, intuitivo, estético, tentando não simplesmente desenvolver habilidades, mas o indivíduo em sua totalidade. Numa recuperação do todo (na superação da fragmentação), a perspectiva de uma visão holística propõe considerar não somente a razão e a sensação, mas também a intuição e o sentimento, transpondo o racionalismo reducionista que valoriza o progresso material e negligencia o progresso humano. ( BEHRENS, 2000, p. 66 ) De acordo com o novo paradigma, a própria noção de conhecimento deve ser revista. O conhecimento não é algo acabado nem definitivo. Conforme as leis da Física Quântica, mesmo os objetos são relativos, dependendo do olhar do observador (MORAES, 1997). Assim, a realidade quântica jamais será observada duas vezes da mesma forma. Isso torna os conceitos relativos, e a realidade será sempre um modo particular de percepção do mundo e das coisas, não havendo verdades duradouras, eternas, mas verdades relacionais e, portanto, transitórias. Esta nova prática exige ambientes que superem o espaço da sala de aula, com a realização de atividades colaborativas em que as experiências sejam vivenciadas, individualmente e em grupo, que invistam o aluno de responsabilidades reais ante seu processo de aprendizado e o mundo que o cerca, atividades que sejam avaliadas, mais do que por uma avaliação formal dos conteúdos, mas pela auto-realização que elas proporcionem, Neste contexto, o aluno não aprende apenas nas aulas e a sala de aula deixa de ser o lugar da transmissão e da repetição do saber para sediar importantes momentos de socialização do aprendizado individual e de experiências em grupo, do diálogo e do confronto entre estas experiências e a teoria, da formulação de problemas e da busca de soluções. Em termos de estratégias de ensino, o novo paradigma sugere a diminuição da importância das aulas expositivas e uma preparação para o futuro profissional, um encontro entre a teoria e a prática. 1152 A metodologia prescreve um encontro entre a teoria e a prática, caracterizando uma opção que busque equilíbrio entre os pressupostos teóricos e práticos numa interdependência direta. As duas visões (teoria e prática) se completam, se interconectam, se aproximam e buscam provocar a visão do todo. Num processo de inter-relação, a teoria se constrói na prática e a prática se constrói na teoria. (BEHRENS, 2000, p.73-74) Dentro das abordagens do paradigma emergente, o professor sai da posição de instrutor, passando a ser um parceiro na produção do conhecimento, buscando uma aliança e um processo de envolvimento e participação do aluno, numa perspectiva de trabalho coletivo, buscando caminhos compartilhados na investigação. Dinâmico, mediador, articulador, crítico e criativo, baseadose na investigação e na produção do conhecimento pelos alunos e pelos professores, com autonomia, criatividade e criticidade. O ensino e a pesquisa percebidos com indissociáveis trazem um novo direcionamento à prática pedagógica. Principalmente redimensionando o conceito de pesquisa, segundo Lüdke (1896) “a palavra pesquisa ganhou ultimamente uma popularização que chega por vezes a comprometer seu verdadeiro sentido”, ou seja, pesquisar não resume-se a compilar dados extraídos de materiais impressos ou até mesmo da Internet. Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro numa sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as suas inibições; um ser crítico e inquiridos, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, p.47) Faz-se necessário ainda ressaltar que, ao contrário do paradigma tradicional, no paradigma emergente, em nenhuma das abordagens mencionadas, a avaliação tem caráter punitivo, passando a ser processual e transformadora, buscando a participação individual e coletiva, gerando o enriquecimento no processo educativo. O aluno participa, com o professor, do processo de criação de critérios para a avaliação. Exigência e rigorosidade fazem parte do processo tanto quanto a liberdade de expressão. As práticas educacionais e sua legitimação estão ancoradas no paradigma da ciência moderna, o que significa trazer para a educação um determinismo, tanto no nível da produção dos conhecimentos quanto nos diferentes aspectos das relações institucionais. 1153 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a crise dos paradigmas conservadores vimos uma busca pelo homem dentro deste mundo, onde a idéia ecológica de Capra (1996) vê o homem relacionado diretamente com o planeta, com o universo. Vimos também com Freire (1992) à busca pela liberdade consciente, o saber para ser livre e com Demo (1996) a pesquisa como meio, como referência, a construção do conhecimento através da busca incessante, pela pesquisa. Refletindo com essas idéias podemos pensar nos caminhos que a educação deverá tomar daqui pra diante. As mudanças são reais e estão acontecendo na sociedade de uma forma geral, sem distinções, trazendo para a instituição escola uma necessidade de transformação no seu sistema educacional, mesmo que esta transformação se dê de forma lenta, parcial e gradativa. Assim, o rápido e crescente desenvolvimento da informática, a utilização de novas tecnologias, as mudanças de valores ambientais, sociais e culturais, a mudanças de paradigmas, que são de tal velocidade e impacto, que, por vezes fazem com que as instituições sociais não as acompanhem. A impressão é de que tudo acontece rápido demais. Com a tecnologia da informação, o mundo está rapidamente se transformando; o conceito de presença e distância se altera profundamente e as formas de ensino e aprendizagem também. Há uma aproximação entre os cursos presenciais - que se apresentam cada vez mais semipresenciais - em ambientes virtuais. O avanço da tecnologia promoveu uma revolução cultural nas inter-relações de todos os sistemas e provocou um redimensionamento nas relações dos indivíduos na sociedade. As novas formas de comunicação, de aquisição e construção de conhecimentos, provenientes do desenvolvimento das TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação) e do rápido crescimento da Internet, abriram novas e atraentes possibilidades educacionais, mas ainda existem aqueles que vêem em todos esses aparatos como uma educação de menor qualidade, utilizada apenas para se aligeirar os estudos de quem não dispõe de tempo para freqüentar um curso regular. Este pré-conceito está ligado ao tempo em que se fazia educação por correspondência, utilizando-se, apenas, o correio como meio de comunicação no processo de ensino/aprendizagem. 1154 Neste cenário é fundamental que a Educação seja capaz de responder às novas necessidades que se apresentam e uma das formas de realizar essa tarefa é através da capacitação continuada de professores e a formação de profissionais para essa nova realidade. A prática dos educadores deve ser repensada, criando nas escolas o ambiente para o desenvolvimento de cidadãos críticos, dotados de autonomia de aprendizagem. É claro que essa caminhada está apenas começando, e que a sua real execução demorará alguns anos. Não apenas por causa do docente que ainda precisa se qualificar e que dentro deste processo teremos muitas recusas, por medo, insegurança, ou por comodismo. Mas também por causa dos alunos que vêm de uma educação escolar ainda fincada nos moldes tradicionais, que tem dificuldade em serem responsáveis e buscarem o seu próprio conhecimento. E, sem esquecer que as universidades terão que adaptar-se às tecnologias, ter os recursos de informação disponíveis a todos, e isso demanda de investimento financeiro. Enfim, o paradigma emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a visão uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência, procurando interconectar vários interferentes que levem o aluno a uma aprendizagem significativa, com autonomia, de maneira contínua, como um processo de aprender a aprender para toda a vida. (BEHRENS, 2005, p.111). Dentro desta perspectiva, os novos paradigmas educacionais, que consideram que os alunos devem ser preparados para conviver em uma sociedade em constante mudança, assim como também devem ser os construtores de seu conhecimento e, sujeitos ativos neste processo, trazem em seu cerne, uma real possibilidade de mudança da estrutura educacional, fazendo com que a escola transforme-se de transmissora para produtora de conhecimento. 1155 REFERÊNCIAS BEHRENS, M. A. O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica. Petrópolis, Vozes, 2005. ____________. Formação Continuada e a Prática Pedagógica. Curitiba,PR: Champagnat, 1996. CAPRA, F. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A canção da inteireza. Uma visão holística da Educação. São Paulo: Summus, 1995. DELORS, Jacques. Educação, Um Tesouro a Descobrir. Editora Cortez, 5a Edição, Brasília, 2001. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas,SP: Autores Associados, 1996. FERGUSON, Marilin. Ver e Voar: Caminhos para o aprendizado. In: Conspiração Aquariana. Trad. Costa, Evaristo, 7ª. Edição, Rio de Janeiro: Record, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. __________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GADOTTI, Moacir. Escola Vivida, Escola Projetada. Editora Papirus, 2ª Edição, Campinas, 1995. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. A Pedagogia Histórico-Crítico Social dos Conteúdos. São Paulo: Loiola, 1986. LÜDKE, Menga. Pesquisa Universitária. São Paulo. 1986 em Educação: Abordagens Qualitativas.Editora Pedagógica MORAES, M.C. O Paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997. MORAN, José Manuel. O que é educação a http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm. Acesso em 31 jul. 2005. distância. Disponível em: NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. Trad.; Sérgio Tellaroli; São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ROLDÃO, Maria do Céu. Gestão Curricular, Fundamentos e Práticas. Edição: Ministério da Educação, Lisboa, 1999.