MÉTODOS CLÁSSICOS EM EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS MÉTODOS CLÁSSICOS EM EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS (2a¯ Edição) Luis Adauto Medeiros Professor Emérito UFRJ Juan Limaco Ferrel Angela Cássia Biazutti Professor Adjunto IM/UFF Professora Adjunta IM/UFRJ Instituto de Matemática - UFRJ Rio de Janeiro, RJ - 2000 M488 Medeiros, Luis Adauto, 1926Métodos Clássicos em Equações Diferenciais Parciais/ Luis Adauto Medeiros, Juan Limaco Ferrel, Angela Cássia Biazutti - 2. Ed. - Rio de Janeiro: UFRJ. IM, 1999. 163p. Inclui bibliografia. 1. Equações Diferenciais Parciais. I. Limaco Ferrel, Juan. II. Biazutti, Angela Cássia. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Matemática. IV. Tı́tulo. ISBN: 85-87674-02-1 CDD-20a 515.353 I don’t believe I can really do without teaching. The reason is, I have to have something so that when I don’t have any ideas and I’m not getting anywhere I can say to myself, ”At least I’m living; at least I’m doing something; I am making some contribution” - it’s just psychological. Richard Feymman (Prêmio Nobel de Fı́sica) PREFÁCIO A esta segunda edição foram anexadas substanciais modificações. A primeira edição foi adotada no Instituto de Matemática da UFF pelo Professor Juan Limaco Ferrel, sugerindo, com base em suas aulas, várias mudanças no texto e a introdução de uma coleção de exercı́cios resolvidos e outra por resolver com dificuldades semelhantes. O capı́tulo sobre equações parabólicas foi totalmente re-escrito pela Professora Angela Cássia Biazutti anexando, também, uma relação de exercı́cios resolvidos e por resolver. Note-se, entretanto, que apesar das alterações mencionadas foi mantido o caráter didático e metódico do texto com escolha de raciocı́nios simples, porém vigorosos, com o objetivo de transmitir ao aluno idéias, algumas vezes complexas. Acredito que um princı́pio pedagógico eficiente é apresentar os resultados matemáticos básicos em casos simples para que o aluno possa compreendê-los, por si só, desenvolvê-los em casos mais gerais. Concorda-se com B. Niewenglowski, ao dizer: “C’est en étudiant questions regardées comme élémentaires mais exigeant déjà un sérieux effort d’attention qui nait l’amour de la science; c’est en resolvant ce qu’on peut appeler de jolies questions qu’on se sent pris du desir d’aller en avant et qu’on réussit à allumer le flambeau sacré.” Os métodos adotados para o estudo de equações diferenciais parciais são “clássicos”, isto é, a derivada é no sentido de Newton-Liebniz, a integral é a de CauchyRiemann-Darboux e o espaço onde tudo acontece é o plano Euclidiano R2 , onde habitam as funções reais do texto. Agradeço à Lourdinha quem, pacientemente, fez a revisão do texto e re-desenhou as figuras com os instrumentos sagrados – a régua e o copo, substituto natural do compasso em situações apropriadas. À Liliana Angelina Leon e ao Silvano Bezerra de Menezes, agradeço pela leitura do texto por ocasião da disciplina introdutória de Equações Diferenciais Parciais no IMUFRJ, primeiro semestre de 1998. Agradeço, também, ao professor Waldemar Bastos da Unesp de Rio Claro que revisou este texto ao lecionar, apresentando diversas sugestes que foram aqui implementadas. Ao Wilson Góes, pela paciência ao digitar o manuscrito. Teresópolis, 2 de outubro de 1999 Luis Adaudo Medeiros INTRODUÇÃO (1a¯ edição) O presente texto, parte de uma trilogia sobre equações diferenciais parciais, baseia-se em notas de aula de lições professadas pelo autor na parte propedêutica do Instituto de Matemática da UFRJ. Este e o livro: L.A. Medeiros - N.G. Andrade ”Iniciação às Equações Diferenciais” LTC 1973, Rio de Janeiro, RJ, se completam. Note-se, entretanto, que podem ser lidos independentemente. O texto publicado pela LTC objetiva o estudo de três problemas básicos da Fı́sica modelados por equações diferenciais parciais. No presente estudo aqueles modelos são examinados sem a preocupação de fazê-los nascer da experiência, mas sim de um ponto de vista puramente analı́tico, sem a preocupação com a motivação. Os três operadores (1) ∂ 2u ∂ 2u − ; ∂y 2 ∂x2 ∂ 2u ∂ 2u + ; ∂y 2 ∂x2 ∂u ∂ 2 u − , ∂y ∂x2 são reencontrados por meio do estudo geral do operador diferencial parcial linear, de segunda ordem, no plano R2 , isto é: (2) a ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 2b + c , ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 sendo a(x, y), b(x, y), c(x, y) funções reais definidas em um aberto Ω do plano R2 . Quando os operadores diferenciais (1) são realizados, representando problemas da Fı́sica a variável y é o tempo denotado por t. Retornando ao citado livro da LTC, os operadores (1) seriam, da esquerda para a direita, o de vibrações transversais de uma corda elástica (d′ Alembert 1717-1783); o operador do potencial (Laplace 1749-1827) e o operador do calor (Fourier 1768-1830). Em dimensões do espaço superiores a dois, modelam uma grande variedade de problemas da Ciência em geral. No presente texto eles aparecem como formas canônicas das equações hiperbólicas, elı́ticas e parabólicas. x Apenas a tı́tulo de uma primeira informação, mencionou-se o operador y ∂ 2u ∂ 2 u + 2, ∂x2 ∂y de tipo misto (Tricomi 1897-1978). A presente exposição compõe-se de cinco seções. Uma dedicada ao problema de Cauchy para (2), estudo das caracterı́sticas e conseqüente classificação em hiperbólicos, elı́ticos e parabólicos. Nas seções seguintes são estudadas, resumidamente, cada uma das classes acima. No caso hiperbólico estuda-se o problema de Cauchy e o de Goursat. Analisa-se o método de Riemann aplicando-o à equação do telégrafo. Por meio da fórmula de Riemann reencontra-se a solução de d′ Alembert. Na seção dedicada às equações elı́ticas são estudados os problemas de Dirichlet e Neumann. Analisa-se a função de Green de um domı́nio do R2 que é calculada no caso de um cı́rculo de raio R. Salienta-se a estreita relação entre as funções harmônicas no R2 com as funções holomorfas em C. Conclui-se com o estudo das soluções analı́ticas por intermédio do método de Cauchy, por ele denominado ”método dos limites” e também chamado ”método de majorantes”. Dir-se-ia que se supõe do leitor o conhecimento dos fundamentos da análise matemática clássica. Agradece-se à Lourdinha pela revisão e leitura do manuscrito, modificando certos trechos da redação para torná-la mais clara. Também pela construção das figuras que aparecem no texto. Ao Wilson Góes pelo belo trabalho ”micrográfico”. Ao Sergio e Carlindo, da Reprografia do IM, pela colaboração no momento da impressão. Rio de Janeiro, março de 1977 Luis Adauto Medeiros xi SUMÁRIO 1. Equações no Plano R2 - Caracterı́sticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 Exercı́cios Resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2. Equações Hiperbólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Problema de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Problema de Goursat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Método de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Equação do Telégrafo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Cordas Vibrantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Princı́pio de Duhamel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Exercı́cios Resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 3. Equações Elı́ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Fórmulas de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Problema de Dirichlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 Função de Green no Cı́rculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 Problema de Neumann no Cı́rculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Observações sobre a Função de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Exercı́cios Resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 4. Equações Parabólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Fio de Comprimento Finito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 xii Fio de Comprimento Não Finito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Equação Não Homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 Propriedades das Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 Observação Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 Exercı́cios Resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 5. Soluções Analı́ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 Equações Diferenciais Ordinárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 Equações Diferenciais Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 1 1. EQUAÇÕES NO PLANO R2 -CARACTERÍSTICAS Nesta seção serão consideradas equações diferenciais parciais de segunda ordem, para a função incógnita u(x, y), uma aplicação numérica definida para x, y em um aberto Ω do plano R2 . Considere-se o operador diferencial (1) Lu = a(x, y) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 2b(x, y) + c(x, y) , ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 sendo a(x, y), b(x, y), c(x, y) funções reais definidas e regulares em Ω. O domı́nio de L é o espaço vetorial real C 2 (Ω) de todas as funções reais em Ω e aı́ duas vezes continuamente diferenciáveis. Tem-se que L é um operador linear, isto é, para todo par de funções u, v ∈ C 2 (Ω) e todo par de números reais α, β ∈ R, tem-se: (2) L(αu + βv) = α Lu + β Lv. Considere-se uma função F definida em Ω × R3 tal que a cada ponto (x, y, ξ, η, ζ) de Ω × R3 associa o número real F (x, y, ξ, η, ζ). Definição 1. Denomina-se equação diferencial parcial de segunda ordem, quase linear, na incógnita u(x, y), a uma equação do tipo: (3) ∂u ∂u , , Lu = F x, y, u, ∂x ∂y sendo L e F definidos anteriormente. Definição 2. Denomina-se solução de (3) a uma função u(x, y), de classe C 2 (Ω), tal que a igualdade (3) seja verificada pontualmente em Ω. 2 Considere-se uma curva γ do plano R2 , com equações paramétricas γ : x = ϕ(t) y = ψ(t) 0 ≤ t ≤ 1. Suponha γ regular e sem auto-intersecções. A derivada de ϕ e ψ relativamente ao ◦ ◦ ◦ ◦ parâmetro t, representa-se por ϕ e ψ. Supõe-se que ϕ2 + ψ 2 > 0 em [0, 1]. O Problema de Cauchy, para a equação diferencial quase linear Lu = ∂u ∂u , consiste em determinar uma solução u(x, y) para esta equação, , F x, y, u, ∂x ∂y conhecendo-se os valores de u(x, y) e das derivadas ∂u ∂u , sobre γ. Simbolicamente, ∂x ∂y escreve-se: ∂u ∂u Lu = F x, y, u, em Ω , ∂x ∂y ∂u ∂u u, ∂x , ∂y conhecidas sobre γ (4) Esta é uma formulação vaga do Problema de Cauchy. Posteriormente retorna-se a este problema com as condições necessárias sobre γ para que o problema (4) possua solução. Introduz-se uma notação, para tornar mais simples o texto. Assim, representa-se por H, U , V as seguintes funções definidas sobre γ: H(t) = u(x, y) com (x, y) ∈ γ U (t) = ∂u (x, y) com (x, y) ∈ γ ∂x V (t) = ∂u (x, y) com (x, y) ∈ γ ∂y Considere-se u uma solução do problema de Cauchy (4). São conhecidas sobre γ as funções u, ∂u ∂u e e, portanto, H(t), U (t), V (t) e F (ϕ(t), ψ(t), H(t), U (t), V (t)). ∂x ∂y 3 Portanto, são conhecidas as derivadas dU dV ∂ 2u e . Assim, as derivadas segundas , dt dt ∂x2 ∂ 2u ∂ 2u e são determinadas, sobre γ, por meio do sistema: ∂x∂y ∂y 2 dU ∂2u ◦ ∂ 2u ◦ ψ = ϕ + dt ∂x2 ∂x∂y ∂V ∂ 2u ◦ ∂ 2u ◦ = ϕ+ 2 ψ ∂t ∂x∂y ∂y ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u a ∂x2 + 2b ∂x∂y + c ∂y 2 = F x, y, u ∂x , ∂y (5) Observe, uma vez mais, que (5) está sendo considerado sobre a curva γ, isto é, para x = ϕ(t), y = ψ(t). A matriz do sistema (5) é: ◦ ϕ 0 a ◦ ψ ◦ ϕ 2b 0 ψ ◦ c cujo determinante é: ◦ ◦◦ ◦ δ = cϕ2 − 2bϕψ + aψ 2 . Do estudo de sistema de equações lineares, conclui-se: • Se δ 6= 0 o sistema linear (5) é determinado e sua solução ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u , , , ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 sobre γ, é obtida por meio da regra de Cramer. • Quando δ = 0 o sistema (5) é indeterminado ou impossı́vel. 4 Definição 3. i) Denomina-se curva caracterı́stica para a equação Lu = F , a curva γ sobre a qual δ = 0, isto é, ◦◦ ◦ ◦ cϕ2 − 2bϕψ + aψ 2 = 0. (6) ii) As curvas γ tais que δ 6= 0 denominam-se não caracterı́sticas. A seguir serão demonstrados alguns resultados permitindo o cálculo das curvas caracterı́sticas de Lu = F ou de L. Proposição 1. i) Se a 6= 0 sobre γ, as curvas caracterı́sticas de L são as soluções da equação diferencial ordinária: dy a dx (7) 2 dy − 2b dx + c = 0. ii) Se c 6= 0 sobre γ, as curvas caracterı́sticas de L são as soluções da equação diferencial ordinária 2 dx dx − 2b + a = 0. c dy dy (8) iii) Se a = c = 0 sobre γ, as curvas caracterı́sticas de L são as retas x = cst, y = cst, isto é, a dupla famı́lia de retas paralelas aos eixos coordenados. Demonstração: i) De fato, suponha que γ seja uma curva caracterı́stica para a equação Lu = F , ◦ e a(ϕ(t), ψ(t)) 6= 0 em t0 . Esta hipótese implica em ϕ(t) 6= 0 em uma vizinhança de t0 . Realmente, sendo γ caracterı́stica para Lu = F , obtém-se: (9) ◦ ◦◦ ◦ cϕ2 − 2bϕψ + aψ 2 = 0 sobre γ. 5 ◦ ◦ Seja ϕ(t) = 0 em uma vizinhança de t0 . Da equação (9) deduz-se que ψ(t) = 0 nesta ◦ ◦ vizinhança, contrariando a hipótese feita sobre γ de ser ϕ2 + ψ 2 > 0 em 0 ≤ t ≤ 1. ◦ Logo ϕ(t) 6= 0 em todo ponto t onde γ é definida. Sendo o coeficiente angular da reta ◦ tangente a γ dado por ψ(t) ◦ ϕ(t) , deduz-se que γ não possui tangente vertical em cada um de seus pontos. Resulta, daı́, que γ é definida por uma função y = f (x) e suas equações paramétricas podem ser escritas sob a forma seguinte: γ : x = x, y = f (x), isto é, ϕ é a identidade e ψ é igual a f . Logo, a equação δ = 0, das caracterı́sticas, reduz-se a dy a dx 2 dy − 2b dx + c = 0. ii) Semelhante ao caso (i). iii) Se a = c = 0 sobre γ e δ = 0, a equação caracterı́stica reduz-se a: ◦◦ (10) 2bϕψ = 0 sobre γ. Deve-se ter b 6= 0, pois se assim não fôsse, não existiria o problema a estudar, isto é, L seria o operador nulo. Logo, de (10), conclui-se que as caracterı́sticas de Lu = F são x = cst e y = cst. Exemplos 1. Considere o operador Lu = Tem-se a = −1, b = 0, c = 1. ∂ 2u ∂ 2u − · ∂y 2 ∂x2 6 As caracterı́sticas de Lu = F são dadas pela equação: 2 dy − +1 =0 dx ou y = x + k, y = −x + k. Note que o operador deste exemplo aparece no estudo das vibrações transversais de uma corda elástica. 2. Considere o operador ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 2 + · ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 Lu = As caracterı́sticas da equação Lu = F são dadas pelas soluções da equação diferencial ordinária: dy dx 2 dy −2 dx + 1 = 0, porque a = b = c = 1. Este operador fatora-se em cuja solução são as retas y = x + k. 3. Considere o operador do potencial Lu = ∂ 2u ∂ 2u + 2· ∂x2 ∂y As caracterı́sticas de Lu = F , são dy dx 2 + 1 = 0, dy −1 dx 2 = 0, obtendo-se dy =1 dx 7 porque a = c = 1 e b = 0. As soluções desta equação não são reais. Elas são dadas por y = ix, y = −ix, sendo i2 = −1. 4. Considere o operador Lu = ∂ 2u , no qual a = 1, b = c = 0. As caracterı́sticas ∂x2 de Lu = F são soluções da equação dy dx 2 = 0, isto é, a famı́lia de retas y = k, sendo k um número real. O operador L aparece nos problemas unidimensionais de transferência de calor. Observação 1. Dos exemplos acima estudados, observa-se o seguinte: α) Lu = ∂ 2u ∂ 2u − = F , possui duas famı́lias de caracterı́sticas, y = x + k e ∂y 2 ∂x2 y = −x + k. β) Lu = ∂u ∂ 2 u − = F , possui uma única famı́lia de caracterı́sticas, y = k. ∂y ∂x2 γ) Lu = ∂ 2u ∂ 2u + 2 = F não possui caracterı́sticas reais. ∂x2 ∂y O primeiro tem sua origem no estudo de vibrações transversais de uma corda elástica e o segundo no estudo de transferência de calor através de um fio metálico. O terceiro é originário de problemas estacionários. No que vem a seguir estes operadores serão ainda mencionados. Outros exemplos há, de modelos provenientes da Fı́sica Matemática. Por meio de conveniente mudança de variáveis demonstra-se que a equação Lu = ∨ ∨ F transforma-se em Lu = G, sendo L um dos operadores da Observação 1, razão porque eles são denominados formas canônicas do operador de segunda ordem no plano 8 R2 . Antes, porém, será feita uma classificação das equações diferenciais parciais de segunda ordem, semelhante a feita para as formas quadráticas no plano R2 . Considere-se uma forma quadrática no R2 , dada por: Q(ξ, η) = a ξ 2 + 2b ξη + cη 2 , cujo discriminante é b2 − ac. Diz-se que a forma é uma hipérbole quando b2 − ac > 0, uma parábola quando b2 − ac = 0 e uma elipse se b2 − ac < 0. Será adotada para as equações diferenciais parciais uma análoga classificação. Note-se que classifica-se nos tipos a equação Lu = F ou simplesmente o operador L. Definição 4. Considere-se a equação ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u ∂ 2u . + c(x, y) 2 = F x, y, u, , Lu = a(x, y) 2 + 2b(x, y) ∂x ∂x∂y ∂y ∂x ∂y i) Diz-se que ela é hiperbólica em Ω, quando b2 (x, y) − a(x, y)c(x, y) > 0 em Ω. ii) Diz-se que ela é parabólica em Ω se b2 (x, y) − a(x, y)c(x, y) = 0 em Ω. iii) Diz-se que a equação é elı́tica em Ω quando b2 (x, y) − a(x, y)c(x, y) < 0 em Ω. Observação 2. Note-se que sendo Lu o operador que caracteriza o membro da esquerda da equação, diz-se também que ele é hiperbólico, parabólico ou elı́tico como no caso da equação. Observação 3. Aplicando-se a Definição 4 às equações da Observação 1, conclui-se: os operadores em α), β) e γ), são, respectivamente, hiperbólico, parabólico e elı́tico em Ω = R2 . No que se segue, por meio da classificação em tipos obtida por meio da Definição 4 e da noção de caracterı́stica, reduz-se a equação Lu = F , da Definição 4, a uma das 9 formas α), β) ou γ). Observação 4. Da Definição 4 e da Proposição 1, conclui-se que no caso hiperbólico há duas famı́lias distintas de caracterı́sticas; no caso parabólico uma única e no caso elı́tico não há caracterı́sticas reais. Para redução de Lu = F às formas canônicas α), β) e γ) da Observação 1, iniciase com uma mudança de coordenadas. De fato, considere-se a transformação τ do R2 no R2 dada pelas funções: ξ = ϕ(x, y) e η = ψ(x, y). Supõe-se ϕ e ψ de classe C 1 (Ω) com Jacobiano não nulo, isto é: ∂ϕ ∂x J(ξ, η) = det ∂ψ ∂x ∂ϕ ∂y 6= 0 em ∂ψ Ω. ∂y Note-se que, no cálculo, considera-se ϕ, ψ ou ξ, η, assim: ξ(x, y), η(x, y). Isto facilita a notação. O objetivo é obter Lu, dado nas coordenadas x, y, nas novas coordenadas ξ, η dadas por τ . Nas novas coordenadas, obtém-se: ∂u ∂u ∂ξ ∂u ∂η = + ; ∂x ∂ξ ∂x ∂η ∂x ∂u ∂u ∂ξ ∂u ∂η = + · ∂y ∂ξ ∂y ∂η ∂y Sendo J(ξ, η) 6= 0 em Ω, calcula-se, pelas regras de Cramer, ∂u . ∂y ∂u ∂u ∂u , em função de , ∂ξ ∂η ∂x 10 Para as derivadas de segunda ordem, encontra-se: (11) 2 2 2 2 ∂ 2 u ∂ξ ∂η ∂ 2 u ∂η • ∂ u = ∂ u ∂ξ +2 + + ∂x2 ∂ξ 2 ∂x ∂ξ∂η ∂x ∂x ∂η 2 ∂x ∂u ∂ 2 η ∂u ∂ 2 ξ + + ∂ξ ∂x2 ∂η ∂x2 2 2 ∂ 2u ∂ 2 u ∂ξ ∂η ∂ 2 u ∂ξ ∂ 2 u ∂η +2 + = + 2 • ∂y 2 ∂ξ 2 ∂y ∂ξ∂η ∂y ∂y ∂η ∂y 2 2 + ∂u ∂ ξ + ∂u ∂ η ∂ξ ∂y 2 ∂η ∂y 2 ∂2 ∂ 2 u ∂ξ ∂ξ ∂ 2 u ∂ξ ∂η ∂ξ ∂η • + = + + ∂x∂y ∂ξ 2 ∂x ∂y ∂ξ∂η ∂y ∂x ∂x ∂y 2 2 2 + ∂ u ∂η ∂η + ∂u ∂ ξ + ∂u ∂ η ∂η 2 ∂x ∂y ∂ξ ∂x∂y ∂η ∂x∂y Considere as funções A(x, y), B(x, y) e C(x, y) definidas do modo seguinte: (12) 2 2 ∂ξ ∂ξ ∂ξ • A = a ∂ξ + 2b +c ∂x ∂x ∂y ∂y ∂ξ ∂η ∂ξ ∂η ∂ξ ∂η ∂ξ ∂η +c +b + • B=a ∂x ∂x ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y ∂y 2 2 ∂η ∂η ∂η • C = a ∂η + 2b +c ∂x ∂x ∂y ∂y Multiplicando (11)1 por a, (11)2 por c e (11)3 por 2b e adicionando-se o resultado, obtém-se, levando-se em conta (12), a equação Lu = F nas coordenadas ξ, η, isto é, ∨ Lu = G: (13) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u A 2 + 2B . +C = G ξ, η, u, , ∂ξ ∂ξ∂η ∂η 2 ∂ξ ∂η 11 Observe-se que G é a soma de F com os termos de primeira ordem que aparecem em (11). Por meio de cálculo obtém-se: B 2 − AC = −(b2 − ac), ∨ provando que a equação (13) Lu = G, transformada de Lu = F pela τ , possui o mesmo tipo que Lu = F nas coordenadas x, y. A próxima etapa consistirá em escolher a transformação τ : ξ = ϕ(x, y), η = ψ(x, y), de modo a obter os seguintes casos: • Hiperbólico, A = C = 0 (B 6= 0) Parabólico, A=B=0 • Elı́tico, B=0 • (C 6= 0) (A 6= 0, C 6= 0) Caso hiperbólico. Sejam ϕ(x, y) = c1 e ψ(x, y) = c2 as duas famı́lias independentes de caracterı́sticas de Lu = F . Provar-se-á que considerando-se a transformação de coordenadas τ : ξ = ϕ(x, y), η = ψ(x, y), a equação hiperbólica Lu = F reduz-se à forma ∂u ∂u ∂ 2u , = H ξ, η, u, , ∂ξ∂η ∂ξ ∂η (14) isto é, A = C = 0 em (13). Considerando-se em (14) a mudança de coordenadas: X = ξ + η, Y = ξ − η, 12 a forma (14) reduz-se a: ∂ 2u ∂u ∂u ∂ 2u − = H X, Y, u, , ∂X 2 ∂Y 2 ∂X ∂Y (15) dita forma canônica das equações hiperbólicas. Chamar-se-á, forma canônica (14) e (15). De fato, suponha-se o caso hiperbólico com a 6= 0. Resulta, Proposição 1, que as duas famı́lias independentes de caracterı́sticas são obtidas por meio da equação ordinária: dy a dx (16) 2 − 2b dy + c = 0. dx O caso c 6= 0 é semelhante. Tem-se b2 − ac > 0. Sejam ϕ(x, y) = ξ , ψ(x, y) = η , as famı́lias de caracterı́sticas soluções de (16). Supondo-se y definida implicitamente por ϕ(x, y) = ξ , obtém-se: ∂ϕ ∂ϕ dy + = 0. ∂x ∂y dx (17) Aqui supõe-se a, b, c, C 1 (Ω), de modo que ϕ e ψ satisfazem ao teorema das funções implı́citas. Resolvendo dy em (17) e substituindo-se em (16) obtém-se: dx ∂ϕ a ∂x 2 2 ∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ + 2b =0 +c ∂x ∂y ∂y De (12) conclui-se, da equação acima, que A = 0. em Ω. 13 De modo análogo, considerando-se a outra caracterı́stica ψ(x, y) = η , sendo a 6= 0, resulta, ver Proposição 1, ∂ψ a ∂x 2 2 ∂ψ ∂ψ ∂ψ + 2b =0 +c ∂x ∂y ∂y em Ω provando que C = 0 em Ω. Portanto, no caso hiperbólico, por meio das curvas caracterı́sticas como sistema de coordenadas, a equação transformada (13) reduz-se à forma: ∂u ∂u ∂ 2u = H ξ, η, u, , ∂ξ, ∂η ∂ξ ∂η que é a (14). Fazendo-se, nesta equação, X = ξ + η, Y = ξ − η, obtém-se a FORMA CANÔNICA das equações hiperbólicas: ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u . − = H X, Y, u, , ∂X 2 ∂Y 2 ∂X ∂Y Exemplo 1. Calcule a solução da equação 2 ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 5 + 3 = 0. ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 5 1 Tem-se a = 2, b = − , c = 3, obtendo-se b2 − ac = > 0 a equação hiperbólica. As 2 4 famı́lias de curvas caracterı́sticas são as soluções de dy 2 dx 2 −5 dy +3=0 dx 14 ou dy =1 dx e dy 3 = · dx 2 As famı́lias caracterı́sticas são: ϕ(x, y) = x − y = k; ψ(x, y) = 3x − 2y = k. A transformação τ é dada por: ξ = x − y; η = 3x − 2y. A equação em (ξ, η) possui A = 0, C = 0 e 2B = −1. Logo a transformada é ∂ 2u = 0. ∂ξ∂η Daı́ obtém-se a solução: u(x, y) = f (x − y) + g(3x − 2y) com f e g funções reais. Caso Parabólico. Considere famı́lia de caracterı́sticas de Lu = F dada por ϕ(x, y) = c. Para transformação τ toma-se ξ = ϕ(x, y) e η = ψ(x, y) uma qualquer função independente de ξ, isto é, com J(ξ, η) 6= 0 em Ω. Demonstrar-se-á que a equação Lu = F reduz-se a ∂u ∂u ∂ 2u . = H ξ, η, u, , ∂η 2 ∂ξ ∂η De fato, no caso parabólico tem-se b2 − ac = 0 sendo a e c não nulos. Suponha a 6= 0. Seja ξ = ϕ(x, y) e η como fixada acima. Obtém-se a fatoração da equação das caracterı́sticas: (18) dy b − dx a 2 =0 e b2 = ac. 15 A equação da caracterı́stica ϕ(x, y) = k, permite calcular a derivada dy por meio da dx equação ∂ϕ ∂ϕ dy + =0 ∂x ∂y dx (19) Resolvendo (19) em em Ω ∂ϕ 6= 0. ∂y dy e substituindo em (18), sendo b2 = ac em Ω, conclui-se que o dx coeficiente A = 0. Para o cálculo de B no caso parabólico, note-se que sendo b2 = ac, o B fatora-se sob a forma: b ∂ξ ∂ξ + B=a ∂x a ∂y (20) ∂η b ∂η . + ∂x a ∂y Sendo ϕ(x, y) = k1 , caracterı́stica da equação parabólica, obtém-se dy b = o que dx a implica, teorema das funções implı́citas: b ∂ϕ ∂ϕ + = 0. ∂x a ∂y Sendo, ∂ξ ∂ϕ ∂ξ ∂ϕ = , = , resulta de (20) que B = 0 em Ω. ∂x ∂x ∂y ∂y Para analisar a função C(x, y), tem-se, por definição: ∂ψ C=a ∂x (21) 2 2 ∂ψ ∂ψ ∂ψ + 2b , +c ∂x ∂y ∂y com a 6= 0. Note que η = ψ(x, y) é escolhida de modo que J(ξ, η) 6= 0, isto é, funcional- mente independente da caracterı́stica ξ = ϕ(x, y). Sendo a 6= 0 e b2 = ac, deduz-se que a C, dada por (21), fatora-se do modo seguinte: 2 ∂ψ ∂ψ 1 a , +b C= a ∂x ∂y 16 que é não nula. De fato, se (22) a obtém-se de (19) e ∂ψ ∂ψ +b =0 ∂x ∂y em Ω, b dy = , caso parabólico, que dx a (23) a ∂ϕ ∂ϕ +b =0 ∂x ∂y em Ω. Sendo o determinante do sistema linear (22), (23) não nulo em Ω, pois ϕ e ψ são independentes, conclui-se que a = 0, contradição. Conclui-se que no caso parabólico, isto é, b2 = ac em Ω, obtém-se A = B = 0 e C 6= 0. Resulta que a equação Lu = F reduz-se, pela τ , à FORMA CANÔNICA: ∂u ∂u ∂ 2u . = H ξ, η, u, , ∂η 2 ∂ξ ∂η Exemplo 1. Calcule a solução da equação x2 2 ∂ 2u ∂ 2u 2 ∂ u + 2xy + y =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 sendo Ω um domı́nio no primeiro quadrante x > 0, y > 0. Tem-se a = x2 , b = xy, c = y 2 , de modo que b2 − ac = 0 em Ω. A equação é parabólica. A caracterı́stica é a solução de y dy = dx x dy b = ou, dx a obtendo-se ϕ(x., y) = y = k, x 17 após integração. A transformação τ será ξ = ϕ(x, y) = y x e η = ψ(x, y) = y. Note-se que J(ξ, η) 6= 0 em Ω. A equação transformada é: η ∂ 2u =0 ∂η 2 ∂ 2u = 0. ∂η 2 ou Obtém-se u(ξ, η) = f (ξ)η + g(ξ), ou y y u(x, y) = yf +g x x Caso Elı́tico. em Ω. Para fazer o estudo do caso elı́tico, isto é, b2 − ac < 0, supõe-se que os coeficientes a, b, c sejam funções analı́ticas em Ω. Isto significa dizer que em cada ponto de Ω estas funções são representadas por séries de potências convergentes na vizinhança deste ponto. Portanto a equação caracterı́stica, a 6= 0, dy a dx (24) 2 − 2b dy + c = 0 em dx Ω possui soluções analı́ticas em Ω, veja Seção 5. Considere-se a solução (25) ϕ(x, y) = k ou ϕ1 (x, y) + i ϕ2 (x, y) = α + iβ, sendo i2 = −1, ϕ1 e ϕ2 reais, α, β números reais. Considera-se os módulos dos números ∂ϕ ∂ϕ , não nulos em Ω. complexos ∂x ∂y De (24) e (25) segue-se que ϕ é solução de (26) ∂ϕ a ∂x 2 2 ∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ + 2b = 0 em +c ∂x ∂y ∂y Ω. 18 Considere-se a transformação τ definida por: (27) ξ = ϕ1 (x, y) e η = ϕ2 (x, y). Observação 5. Note que ϕ1 (x, y) + i ϕ2 (x, y) é uma função holomorfa no sentido de ∂ϕ Cauchy. Portanto, valem as equações de Cauchy-Riemann. Foi admitido que e ∂x ∂ϕ 6= 0. Logo, o Jacobiano de ξ, η é não nulo, implicando a independência funcional ∂y de ϕ1 e ϕ2 . Isto porque ∂ϕ ∂ϕ1 ∂ϕ2 ∂ϕ ∂ϕ1 ∂ϕ2 = +i e = +i . O Jacobiano é ∂x ∂x ∂x ∂y ∂y ∂y ∂ϕ1 ∂ϕ2 ∂ϕ1 ∂ϕ2 − . ∂x ∂y ∂y ∂x As equações de Cauchy-Riemann são ∂ϕ2 ∂ϕ1 = , ∂x ∂y implicando em ∂ϕ1 ∂ϕ2 =− , ∂y ∂x ∂ϕ ∂ϕ2 ∂ϕ2 =− +i . Das equações de Cauchy-Riemann obtém-se: ∂y ∂x ∂y J(ξ, η) = ∂ϕ2 ∂x 2 + ∂ϕ2 ∂y 2 2 ∂ϕ = 6= 0. ∂y Retornando-se a (27), substituindo-se ϕ(x, y) = ϕ1 (x, y) + i ϕ2 (x, y) em (26), separando-se parte real e parte imaginária, obtém-se: ∂ξ a ∂x e 2 2 2 2 ∂ξ ∂ξ ∂η ∂η ∂η ∂ξ ∂η + 2b =a + 2b +c +c ∂x ∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y ∂ξ ∂ξ ∂η ∂η ∂ξ ∂η ∂ξ ∂η a +c +b + = 0. ∂x ∂y ∂x ∂y ∂y ∂x ∂x ∂y 19 Observe-se que ξ = ϕ1 e η = ϕ2 . Estas igualdades dizem que B = 0 e A = C em Ω. Resta provar que A e C não são as funções nulas. De fato, tem-se ∂ξ A=a ∂x 2 2 ∂ξ ∂ξ ∂ξ + 2b +c ∂x ∂y ∂y ∂ξ sendo b2 − ac < 0. Logo, a forma quadrática A é nula somente no vetor nulo = ∂x ∂ϕ ∂ϕ ∂η ∂η ∂ξ = 0. Analogamente, C = 0 somente quando = = 0. Sendo e ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y diferentes de zero em Ω não acontecerá que ∂ξ ∂ξ ∂η ∂η = = = = 0, identicamente ∂x ∂y ∂x ∂y em Ω. Logo A e C não são nulos. Resulta que no caso elı́tico, a FORMA CANÔNICA da equação Lu = F é: ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u . + 2 = H ξ, η, u, , ∂ξ 2 ∂η ∂ξ ∂η Exemplo 2. Considere a equação 2 ∂ 2u 2 ∂ u + x = 0, ∂x2 ∂y 2 x > 0, y > 0. Tem-se a = 1, b=0 e c = x2 , obtendo-se b2 −ac = −x2 < 0 em Ω. Logo, as caracterı́sticas são as soluções da equação: dy dx 2 + x2 = 0, isto é, dy = i x, dx dy = −i x. dx 20 Obtém-se as caracterı́sticas: 2y − ix2 = c1 , 2y + ix2 = c2 . Tem-se 2y − ix2 = ϕ1 + i ϕ2 e 2y + ix2 = ϕ1 − i ϕ2 , o complexo conjugado. Tem-se a transformação τ dada por: ξ = 2y, η = −x2 . A equação transformada é 1 ∂u ∂ 2u ∂ 2u + = ∂ξ 2 ∂η 2 2η ∂η que é a forma canônica da equação dada. OPERADOR DE TRICOMI Considere-se o operador Lu = y ∂ 2u ∂ 2u + 2, ∂x2 ∂y que aparece no estudo de equações diferenciais parciais modelando o movimento de fluidos transônicos. Foi estudado, inicialmente, por Tricomi, por isto recebe seu nome. Francisco Giacomo Tricomi, matemático italiano, (1897-1979), professor na Universidade de Turim. Além de significantes contribuições à investigação matemática, escreveu excelentes textos de análise matemática, variáveis complexas, equações diferenciais, funções ortogonais etc, os quais influenciaram nossa geração quando estudantes da Universidade do Brasil. 21 No operador de Tricomi, tem-se: a = y, b = 0, c = 1. O discriminante é b2 − ac = −y. Resulta que no semi-plano inferior y < 0, Lu é hiperbólico e no semi plano-superior y > 0, Lu é elı́tico. Poder-se-ia dizer que y = 0 é uma reta de parabolicidade. As caracterı́sticas, no caso hiperbólico, são as soluções da equação ordinária dy y dx 2 + 1 = 0. Daı́ obtém-se a dupla famı́lia de curvas caracterı́sticas (x − k)2 + 4 3 y = 0. 9 Como se observa, a equação de Tricomi Lu = 0 é de tipo misto, isto é, elı́tica em y > 0, parabólica para y = 0 e hiperbólica para y < 0. Como salienta Caetano Fichera em seu discurso “in memoriam” de Francisco Tricomi, 1979, na Academia Dei Lincei, Itália, “a equação de Laplace uxx +uyy = 0 é o protótipo das equações elı́ticas, a equação de Fourier ut −uxx = 0 o das parabólicas, a de d’Alembert utt −uxx = 0 das hiperbólicas e a de Tricomi yuxx +uyy = 0 o protótipo das equações de tipo misto”. Para informações mais precisas e resultados recentes, consulte-se: N.A. Lar’kin, The Tricomi Problem, Atas do 42o¯ Seminário Brasileiro de Análise, Univ. Estadual de Maringá, Maringá, PR, 1995. J. Barros Neto, On Fundamental Solutions for the Tricomi Operator, Atas do 49o¯ Seminário Brasileiro de Análise, IMEC-UNICAMP, Campinas, SP, 1999. 22 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1. Considere a equação: y ∂ 2u ∂ 2u + x = 0. ∂x2 ∂y 2 (i) Determine o tipo da equação. (ii) Encontre as curvas caracterı́sticas no caso hiperbólico. SOLUÇÃO: (i) Tem-se: a(x, y) = y; b(x, y) = 0; c(x, y) = x. Então a equação é hiperbólica se xy < 0 a equação é elı́tica se xy > 0 a equação é parabólica se x = 0 ou y = 0 (ii) As curvas caracterı́sticas são soluções da equação: dy y dx 2 de onde deduz-se que: dy =± dx Então + x = 0, r −x · y 23 Na região y > 0, x < 0, as curvas são: (−x)3/2 + y 3/2 = c − (−x)3/2 + y 3/2 = c e e na região y < 0 x > 0, as curvas são: x3/2 + (−y)3/2 = c x3/2 − (−y)3/2 = c. e 2. Determine as curvas caracterı́sticas da equação: 2 ∂ 2u ∂ 2u 2 2 2 ∂ u + 4(x + 1) + (x + 1) = 0. ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 SOLUÇÃO: Observa-se que: a(x, y) = 1 b(x, y) = 2(x2 + 1) c(x, y) = (x2 + 1)2 Então: b2 − ac = 3(x2 + 1)2 > 0. Logo a equação é hiperbólica. As curvas caracterı́sticas são soluções da equação: dy dx 2 − 4(x2 + 1) dy + (x2 + 1)2 = 0 dx ou seja √ √ dy = (2 ± 3)x2 + (2 ± 3). dx 24 Tem-se: √ √ 1 (2 − 3)x3 + (2 − 3)x − y = c 3 e √ √ 1 (2 + 3)x3 + (2 + 3)x − y = c. 3 3. Seja a equação ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂ 2u + 5 + 4 + 7 = sen x + cos x. ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 ∂y (i) Encontre as curvas caracteterı́sticas e as coordenadas caracterı́sticas. (ii) Reduzir à sua forma canônica. SOLUÇÃO: (i) Observa-se que os coeficientes do operador são: a(x, y) = 1; b(x, y) = 5; c(x, y) = 4 e F = sen x + cos x − 7 Logo, as curvas caracterı́sticas são soluções de dy dx 2 dy −5 dx +4 =0 ou seja: y−x=c e y − 4x = c e η = y − 4x. e as coordenadas caracterı́sticas são: ξ =y−x (ii) Como b2 − ac = 9 > 0, a equação é hiperbólica. ∂u · ∂y 25 Mediante a mudança ξ = y − x e η = y − 4x a equação fica transformada na forma canônica: ∂u ∂u ∂2u = G ξ, η, u, , 2B ∂ξ∂η ∂ξ ∂η onde B e G são dados em (12) e (13). Como: ∂ξ = 1; ∂y ∂ξ = −1; ∂x ∂η = −4; ∂x ∂ 2ξ ∂ 2ξ ∂2ξ = = =0 e ∂x2 ∂y 2 ∂x∂y e então: 9 B=− 2 e G = sen ∂ 2η ∂ 2η ∂ 2η = = = 0, ∂x2 ∂y 2 ∂x∂y ξ−η 3 + cos ξ−η 3 ∂η =1 ∂y ξ−η 3 ∂u ∂u −7 · + ∂ξ ∂η + cos ξ−η 3 Logo, a forma canônica é: ∂ 2u 7 = ∂ξ∂η 9 ∂u ∂u + ∂ξ ∂η 1 − 9 sen · 4. Reduzir à forma canônica as seguintes equações: (i) ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂ 2u −6 +9 2 +6 = 0. 2 ∂x ∂x∂y ∂y ∂y (ii) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂u + 4 + 8 + 5 = 0. ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 ∂x SOLUÇÃO: (i) Tem-se que: a(x, y) = 1; b(x, y) = −3; c(x, y) = 9; F = −6 ∂u · ∂y 26 Como b2 − ac = 0, a equação é parabólica. Sua caracterı́stica é solução da equação: dy dx 2 dy +6 dx +9 =0 que é y + 3x = c. Considerando-se as coordenadas: ξ = y + 3x e η = η(x, ) qualquer função, desde que J(ξ, η) 6= 0, segue-se que a equação é reduzida à forma canônica ∂ 2u C =G ∂η 2 onde C e G são dados por (12) e (13). Note que pode-se escolher η = y. Assim, como ∂η ∂η =0e = 1, encontra-se C = 9. Como ∂x ∂y ∂ξ = 1; ∂y ∂ 2ξ ∂ 2ξ ∂ 2ξ = = =0 ∂x2 ∂y 2 ∂x∂y ∂η = 1; ∂y e ∂ 2η ∂ 2η ∂ 2η = = = 0, ∂x2 ∂y 2 ∂x∂y então ∂u ∂u . + G = −6 ∂ξ ∂η A forma canônica é então: ∂ 2u 2 =− 2 ∂η 3 (ii) Tem-se que: a = 1; b = 2; ∂u ∂u . + ∂ξ ∂η c = 8. Como b2 − ac = −4 < 0, a equação é elı́tica. As soluções da equação: dy dx 2 dy −4 dx +8 =0 27 são complexas e dadas por y − x + i(−2x) = c1 y − x + i(2x) = c2 . Considerando-se a mudança ξ = y − x e η = −2x, a equação toma a forma canônica ∂ 2u ∂ 2u + 2 A ∂ξ 2 ∂η =G onde A e G são calculados por (12) e (13). Tem-se que A = 4 e G = −10 ∂u ∂u + 10 ·. Logo a forma canônica é dada por: ∂ξ ∂η ∂ 2u ∂ 2u 5 ∂u 5 ∂u + = − + · ∂ξ 2 ∂η 2 2 ∂ξ 2 ∂η 5. Determine a região na qual a equação ∂ 2u ∂u ∂u ∂ 2u − y +x +y +u=0 2 ∂x ∂x∂y ∂x ∂y é hiperbólica, parabólica ou elı́tica e transforme a equação na respectiva região para a forma canônica. SOLUÇÃO: Observa-se que a = 1. 7 b=− ; 2 c = 0 e F = −x y2 , 4 a equação é parabólica se y = 0 Como b2 − ac = e hiperbólica se y 6= 0. ∂u ∂u −y − u. ∂x ∂y 28 No caso parabólico, a equação toma a forma ∂u ∂ 2u = −x −u 2 ∂x ∂x que já está na forma canônica. No caso hiperbólico, as curvas caracterı́sticas são soluções da equação: ou seja: x = Lny e dy dx 2 dy +y dx =0 η = y. Tem-se que: y B(x, y) = − 2 e ∂u 1 du du − u. G = −(ξ − Lnη) −η + ∂ξ η dξ dη Então, a forma canônica dada por 2B ∂ 2u = ∂ξ∂η ∂ 2u = G nos dá ∂ξ∂η 1 + ξ − Lnη η ∂u ∂u 1 + + u. ∂ξ ∂η η 6. Encontre a solução geral das seguintes equações: (i) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u − 6 + 5 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (ii) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u − 4 + 4 = 0. ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 SOLUÇÃO: (i) Tem-se que a = 1; b = −3 e c = 5. Logo, b2 − ac = 4 > 0 e a equação é hiperbólica. 29 As curvas caracterı́sticas são as soluções da equação: isto é: x+y =c e dy dx 2 dy +6 dx +4 =0 5x + y = c. A mudança ξ = x + y e η = 5x + 4 reduz a equação à forma canônica: ∂ 2u = 0. ∂ξ∂η Tem-se u(ξ, η) = f (ξ) + g(η) com f e g funções arbitrárias. Logo, a solução é u(x, y) = f (x + y) + g(5x + y). (ii) Tem-se que: a = 1; b = −2; c = 4. Logo, b2 − ac = 0 e a equação é parabólica. A única curva caracterı́stica é solução da equação isto é: dy dx 2 dy +4 dx +4 =0 x + 2x = c. A transformação de coordenadas ξ = y + 2x e η = y reduz a equação à forma canônica ∂ 2u = 0. ∂η 2 Tem-se u(ξ, η) = f (ξ)η + g(ξ). Logo, a solução geral é dada por: u(x, y) = y f (y + 2x) + g(y + 2x). 7. Determine a solução geral da equação elı́tica: ∂ 2u ∂ 2u + 2 = 0. ∂x2 ∂y 30 SOLUÇÃO: Resolve-se a equação: α2 ∂ 2u ∂ 2u − 2 =0 ∂x2 ∂y onde α é constante. A mudança ξ = x + αy e η = x − αy transforma a equação na forma ∂ 2u = 0. ∂ξ∂η Então, u(ξ, η) = f (ξ) + g(η) ou seja u(x, y) = f (x + αy) + g(x − αy). √ Considerando-se em particular α = i, i = −1, tem-se a equação que se quer resolver e a solução será: u(x, y) = f (x + iy) + g(x − iy). 8. Encontre a solução geral da equação: 2 ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u ∂ 2u + 5 + 3 +2 +3 =3 2 2 ∂x ∂x∂y ∂y ∂x ∂x SOLUÇÃO: Tem-se que: a = 2; b= 5 , 2 c=3 e F =3−2 ∂u ∂u −3 · ∂x ∂y 31 1 > 0 e a equação é hiperbólica. 4 As curvas caracterı́sticas são as soluções da equação Logo b2 − ac = dy 2 dx isto é y − x = c e y− 2 dy −5 dx + 3 = 0, 3 x = c. 2 Mediante a mudança ξ = y − x e η = y − − Se v = 3 x, obtém-se a forma canônica 2 ∂u 9 ∂ 2u + = 3. 2 ∂ξ∂η ∂ξ ∂u , obtém-se ∂ξ 2 ∂v 2 − v+ =0 ∂η 9 3 que tem por soluções v(ξ, η) = F (ξ)e(2/9)η + g(3). Tem-se então u(ξ, η) = 3ξ + f (ξ)e(2/9)η + g(η) Finalmente, a solução é: 2 3 u(x, y) = 3(y − x) + f (y − x)e 9 (y− 2 x) + g y − 9. 3 x . 2 Reduzir a equação ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u − 2 +3 −2 +u=0 2 ∂x ∂y ∂x ∂y 32 ∂ 2v = cv, onde c é constante, introduzindo a nova variável v = u e−(aξ+bη) , ∂ξ∂η onde a e b são coeficientes a determinar. à forma SOLUÇÃO: As curvas caracterı́sticas são dadas por x + y = c e x − y = c. Mediante a mudança ξ = x − y e η = x + y, obtém-se a forma canônica: 4 ∂u ∂u ∂ 2u +5 + + u = 0. ∂ξ∂η ∂ξ ∂η Se v = u e−(aξ+bη) , obtém-se 4 ∂2v ∂v ∂v + (4b + 5) + (4a + 1) + (4ab + 5a + b + 1)v = 0. ∂ξ∂η ∂ξ ∂η Considerando: b = − 5 1 e a = − , obtém-se a forma 4 4 1 ∂ 2v = v. ∂ξ∂η 16 10. Resolver a equação x2 2 ∂2u ∂u 2 ∂ u − x + 4x + 2u = 0, x 6= 0. 2 2 ∂x ∂y ∂x SOLUÇÃO: Faz-se a mudança v = x2 u, obtém-se a forma ∂ 2v ∂ 2v − = 0, cuja solução é ∂x2 ∂y 2 v(x, y) = f (x − y) + g(x + y). Portanto u(x, y) = 1 1 f (x − y) + 2 g(x + y). 2 x x 33 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Classifique os seguintes operadores e encontre as caracterı́sticas que passam pelo ponto (2,3), caso existam 2. (i) ∂ 2u ∂2u ∂ 2u + + 3 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (ii) ∂ 2u ∂2u ∂ 2u + 4 + 4 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (iii) ∂ 2u ∂ 2u ∂2u + 5 + ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (iv) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 6 − 7 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 Encontre as caracterı́sticas, as coordenadas caracterı́sticas e a forma canônica das seguintes equações: (i) uxx + 2uxy + 3uyy + 4ux + 5uy + u = ex . (ii) 2uxx − 4uxy + 2uyy + 3u = 0. (iii) 3uxx + 5uxy + uyy + ux = x. (iv) uxx + uyy + 2ux + 8uy + u = 0. (v) uxy + 2uyy + 9ux + uy = 2. Respostas: (i) 6 ∃ caracterı́sticas, e B √ 2 2 (ii) (iii) (v) 3. ξ = y − x; η = √ √ 1 1 2x; uξξ + uηη = − uξ − 2 2 uη − u + 2 2 · 3 η = y; uηη = − u. 2 6 ∃ caracterı́sticas, ξ = y; η = x; a equação está na forma canônica. y y x = c; x − = c; ξ = x; η = x − ; uξη = 18 uξ + 17 uη − 4. 2 2 y + x = c; ξ = y + x; Determine a região na qual as equações seguintes são hiperbólicas, parabólicas ou 34 elı́ticas e transforme a equação na respectiva região à forma canônica. ∂ 2u ∂ 2u + 2 = x2 ∂x2 ∂y a) x b) x2 ∂ 2u ∂2u ∂u 2 + (y − 1) = 2 2 ∂x ∂y ∂x c) x2 2 ∂2u ∂ 2u 2 ∂ u − 2xy + y = ex ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 d) e2x e) sen2 x f) (x2 − 4) ∂ 2u ∂ 2 u ∂u ∂u 2 + (y − 1) + + = ex + 1 ∂x2 ∂y 2 ∂x ∂y g) (1 − x2 ) 2 ∂ 2u ∂2u ∂u ∂u 2 ∂ u − 2xy − (1 + y ) − 2x − 2y =0 2 2 ∂x ∂x∂y ∂y ∂x ∂y 2 ∂2u ∂u 3y ∂ u + e = +u 2 2 ∂x ∂y ∂y ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u 2 + sen 2x + cos =x x ∂y 2 ∂x∂y ∂x2 Respostas: ∂ 2u 1 a) Se x < 0, é hiperbólica e = ∂ξ∂η 4 ξ−η 4 4 1 1 − 2 (ξ − η) ∂u ∂u = ∂ξ ∂η Se x = 0, é parabólica e a equação já está na forma canônica. Se x < 0, é elı́tica e η4 1 ∂u ∂ 2u ∂ 2u + = + 2 2 ∂ξ ∂η 16 η ∂η c) É parabólica sempre e ∂ 2u 2ξ ∂u 1 ξ = 2 + 2 eη 2 ∂η η ∂ξ η 35 ∂ 2u 1 e) É parabólica sempre e = 2 ∂η 1 − e2(η−ξ) 4. sen −1 η−ξ e ∂u − . ∂ξ Encontre a solução geral das seguintes equações: (i) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 8 + 7 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (ii) 3 ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 4 − 4 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (iii) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u + 6 + 9 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (iv) 3 ∂ 2u ∂ 2u +4 2 =0 ∂x∂y ∂y (vi) 3 ∂ 2u ∂ 2u + 5 =0 ∂x2 ∂y 2 (v) 4 ∂ 2u ∂ 2u + 2 =0 ∂x2 ∂y Respostas: (i) u(x, y) = f (y − 7x) + g(y − x) (iii) u(x, y) = yf (y − 3x) + g(y − 3x) (ii) u(x, y) = f (y − 6x) + g(y + 2x) 3y (iv) u(x, y) = f (x) + g x − 4 (v) u(x, y) = f (x + 2i) + g(x − 2i) 5. Resolver as seguintes equações: a) ∂u ∂u ∂ 2u ∂ 2u − 2 +2 −2 =8 2 ∂x ∂y ∂x ∂y b) 4 c) ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2 u ∂u ∂u + − 2 + + 2 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 ∂x ∂y ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2 u ∂u ∂u + 5 + + + =2 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 ∂x ∂y Sugestão: Ver o exercı́cio resolvido 8. 36 Resposta: e 31 (y−x) 1 x + f (y − x). + g y− 3 4 b) 8 u(x, y) = 3 6. Determine a solução das seguintes equações: (i) x y− 4 ∂ 2u ∂ 2u ∂2u + 2 + 5 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 (iii) 2 (ii) ∂ 4u ∂ 4u ∂ 4u + 2 + =0 ∂x4 ∂x2 ∂y 2 ∂y 4 ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u − + 3 =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 Respostas: (i) (ii) u(x, y) = f (y − x + 2ix) + g(y − x − 2ix) u(x, y) = (x − iy)f1 (x + iy) + f2 (x + iy) + (x + iy)f3 (x − iy) + f4 (x − iy) Sugestão: Escrever a equação na forma ∂2 ∂2 + ∂x2 ∂y 2 ∂2 ∂2 + 2 u=0 ∂x2 ∂y e resolver duas equações elı́ticas respectivamente. 7. Encontre a solução geral das equações seguintes: (i) x2 (ii) y 2 ∂ 2u ∂ 2u ∂u 2 ∂ u 2 ∂u + 2xy + y + xy + y =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 ∂x ∂y ∂ 2u ∂2 ∂u 2 − α y − 2α2 = 0, α = constante. 2 2 ∂x ∂y ∂y Sugestão: Fazer v = yu. Respostas: (i) y −y y +g e u(x, y) = f x x 37 (ii) 8. u(y, x) = 1 1 f (y + αx) + g(y − αx). y y Transformar as seguintes equações para a forma: vξη = αv α = constante, mediante a mudança v = u e−(aξ+bη) , onde a e b são constantes a determinar. (i) 2 ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u + 6 + +4 +6 +u=0 2 2 ∂x ∂x∂y ∂y ∂y ∂x (ii) 3 ∂ 2u ∂ 2 u ∂u ∂ 2u + 7 + 2 + +u =0 ∂x2 ∂x∂y ∂y 2 ∂y (iii) ∂2u ∂ 2 u ∂u ∂u + 2 + + + 3u = 0 ∂x∂y ∂y ∂x ∂y Resposta: (ii) vξη = 84 v. 625 38 39 2. EQUAÇÕES HIPERBÓLICAS Na presente seção estudar-se-á alguns problemas significantes e métodos para as equações de tipo hiperbólico. Recorde-se que o modelo analisado anteriormente foi da forma Lu = F . Sendo o caso hiperbólico o de interesse, na presente seção, o operador reduz-se a Lu = ∂ 2u · ∂x∂y A função F será considerada da forma: ∂u ∂u ∂u ∂u = −a(x, y) F x, y, u, , − b(x, y) − c(x, y)u + f (x, y). ∂x ∂y ∂x ∂y Portanto, a equação hiperbólica a ser analisada é a seguinte: (1) ∂ 2u ∂u ∂u + a(x, y) + b(x, y) + c(x, y)u = f (x, y) ∂x∂y ∂u ∂y que é linear. Suas curvas caracterı́sticas são (2) x = c, y = c, isto é, as duas famı́lias de retas paralelas dos eixos coordenados. O operador no primeiro membro de (1) será representado por Lu, tendo-se: Lu = ∂u ∂u ∂ 2u + a(x, y) + b(x, y) + c(x, y)u. ∂x∂y ∂x ∂y 40 Nesta seção, serão formulados os problemas de Cauchy e Goursat para a equação Lu = f . A seguir analisa-se o método de Riemann dando uma fórmula explı́cita para a solução do problema de Cauchy, em função dos dados. O método de Riemann será aplicado ao estudo da equação do telégrafo e à equação de vibrações transversais de uma corda elástica reencontra-se a fórmula de d’Alembert. Finaliza-se a seção com um breve estudo sobre as soluções analı́ticas de uma equação diferencial parcial, pelo método dos limites de Cauchy. PROBLEMA DE CAUCHY Seja Γ um arco de curva regular no plano R2 , com sistema de coordenadas xOy, ortogonal. Supõe-se que Γ não intercepte cada caracterı́stica de Lu = f , em mais de um ponto. Para ser mais explı́cito, suponha Γ dada por y = g(x) ou x = h(y) e situada no quadrante x > 0, y > 0 do plano R2 . As funções g e h são supostas continuamente diferenciáveis; consulte a figura Fig. 1 41 O problema de Cauchy consiste em determinar uma solução u(x, y) da equação ∂u ∂y sobre Γ. Toma-se Ω o retângulo ABCD e a curva Γ como acima mencionada, contida (1) em um aberto Ω do R2 , contendo Γ no seu interior, conhecidos os valores de u e no retângulo da figura 1. Suponha conhecidas as funções ϕ(x) e ψ(x) sobre Γ, as quais são e continuamente diferenciáveis. O problema de Cauchy para Lu consiste em determinar u(x, y) definida em Ω satisfazendo às condições: (3) Lu = f em Ω u = ϕ(x), ∂u = ψ(x) Γ ∂y Γ ∂u sobre Γ. De ∂x fato, tem-se u(x, y) = ϕ(x), quando y = g(x). Derivando-se em relação a x, obtém-se: ∂u ∂u ′ = − g (x) + ϕ′ (x) ∂x Γ ∂y Γ Observação 1: Com os dados de (3) calcula-se, facilmente, o valor de ou ∂u = ϕ′ (x) − ψ(x)g ′ (x) = ζ(x) ∂x Γ O problema de Cauchy (3) para Lu, com coeficientes a(x, y), b(x, y), c(x, y) e membro da direita f (x, y) regulares em Ω, possui uma única solução. A demonstração é feita pelo método de aproximações sucessivas de Picard. A metodologia, como de hábito, consiste em transformar (3) em um sistema de equações diferenciais parciais e este em um sistema de equações integrais, equivalente, ao qual aplica-se o método de Picard. Será feita a transformação para um sistema a seguir. Considere-se a mudança de variáveis: v= ∂u ∂x e w= ∂u ∂y 42 em Lu = f , transformando-o no sistema: (4) As condições sobre Γ são: ∂v ∂y = f (x, y) − av − bw − cu ∂w ∂x = f (x, y) − av − bw − cu ∂u ∂y = w uΓ = ϕ(x), (5) wΓ = ψ(x), v Γ = ζ(x). Para obter o sistema de equações integrais, considere a figura e N = (x, y) um ponto no interior do retângulo ABCD que contém Γ e contido no aberto Ω. Trace por N as caracterı́sticas encontrando Γ em P e Q, sendo N P e N Q segmentos caracterı́sticos. Integrando-se a primeira e terceira equação (4) ao longo de QN e a segunda equação (4) ao longo de P N , resulta: (6) Z y v(x, y) = ζ(x) + [f (x, y) − av − bw − cu] dy g(x) Z x w(x, y) = ψ(x) + [f (x, y) − av − bw − cu] dx h(y) Z y u(x, y) = ϕ(x) + w dy g(x) Demonstra-se que (4) e (5) são equivalentes a (6). Aplica-se ao (6) o método de Picard obtendo-se a solução. Prova-se a unicidade. Não será feita a demonstração de existência de (6) para o problema de Cauchy. Preferiu-se formular o problema de Goursat e resolvê-lo pelo mesmo processo mencionado de aproximações sucessivas. O leitor pode repetir, sem dificuldade, o método para o sistema (6). 43 PROBLEMA DE GOURSAT Este consiste em determinar uma solução da equação Lu = f em um aberto Ω do R2 , quando os dados são conhecidos sobre curvas caracterı́sticas. Relembre-se que a curva Γ do problema de Cauchy foi escolhida totalmente diferente. Considere a figura a seguir: Fig. 2 Considere-se ϕ(y) e ψ(x) continuamente diferenciáveis, respectivamente, em y0 ≤ y ≤ y0 + b e x0 ≤ x ≤ x0 + a, a e b positivos. Formula-se o problema de Goursat como se segue. (7) Lu = f em Ω u(x0 , y) = ϕ(y) em y0 ≤ y ≤ y0 + b u(x, y ) = ψ(x) em x ≤ x ≤ x + a 0 0 0 Note-se que os dados são conhecidos sobre os segmentos caracterı́sticos y0 ≤ y ≤ y0 + b e x0 ≤ x ≤ x0 + a. 44 Será demonstrado que o problema de Goursat (7) possui uma única solução, pelo método de aproximações sucessivas. A metodologia é semelhante à descrita anteriormente, para o problema de Cauchy. Considera-se a mudança de variáveis v= ∂u ∂x e w= ∂u · ∂y As novas variáveis serão u, v, w, obtendo-se o sistema (4) que será reescrito: ∂v ∂y = f (x, y) − av − bw − cu ∂w (4) bis ∂x = f (x, y) − av − bw − cu ∂u ∂y = w As condições iniciais serão: (8) u(x, y0 ) = ψ(x), v(x, y0 ) = ψ ′ (x), w(x0 , y) = ϕ′ (y). A forma integral de (4)bis e (8) será: Z y v(x, y) = ψ ′ (x) + (f − av − bw − cu) dy y0 Z x ′ (f − av − bw − cu) dx (9) w(x, y) = ϕ (y) + x0 Z y u(x, y) = ψ(x) + w dy y0 Para entender o processo tome-se Ω igual ao retângulo ABCD da Fig. 2. Assim, no sistema (9) tem-se x, y é um ponto de Ω. Existência de Solução de (9) - Será demonstrada pelo método de aproximações sucessivas. De fato, considera-se como aproximações de ordem zero: (10) v0 = ψ ′ (x), w0 = ϕ′ (y), u0 = ψ(x). 45 O sistema de aproximações sucessivas é definido, indutivamente, por: Z y vn (x, y) = v0 (x) + (f − avn−1 − bwn−1 − cun−1 ) dy y0 Z x (f − avn−1 − bwn−1 − cun−1 ) dx wn (x, y) = w0 (y) + x0 Z y un (x, y) = u0 (x) + wn−1 dy (11) y0 para n = 1, 2, . . . . A próxima etapa consiste em provar que a sucessão (vn , wn , un ) converge, absoluta e uniformemente, no retângulo Ω Ω = {(x, y) ∈ R2 ; x0 ≤ x ≤ x0 + a, y0 ≤ y ≤ y0 + b}. De (11) obtém-se o sistema de diferenças: (12) Z y vn+1 − vn = − [a(vn − vn−1 ) + b(wn − wn−1 ) + c(un − un−1 )] dy y 0 Z x [a(vn − vn−1 ) + b(wn − wn−1 ) + c(un − un−1 )] dx wn+1 − wn = − x0 Z y un+1 − un = (wn − wn−1 ) dy y0 Daı́, resulta: |v1 − v0 | ≤ Z y y0 [ |f (x, y)| + |a| + |b| + |c| |v0 | + |w0 | + |u0 | ] dy. Representando-se por M = max |a|, |b|, |c| no retângulo e K = max(1, 3M ), obtém-se: |v1 − v0 | ≤ K Z y y0 |f | + |v0 | + |w0 | + |u0 | dy ≤ K N (y − y0 ) , 46 onde N = 4 max{|f |, |ϕ′ |, |ψ|, |ψ ′|} e daı́ |v1 − v0 | ≤ K N b ≤ K A. Analogamente, |w1 − w0 | ≤ K A e |u1 − u0 | < K A. A próxima diferença será: |v2 − v1 | ≤ Z y y0 |a||v1 − v0 | + |b||w1 − w0 | + |c||u1 − u0 | dy. Pela estimativa já calculada, obtém-se: Z y |v2 − v1 | ≤ AK |a| + |b| + |c| dy ≤ A K 2 (x − x0 + y − y0 ). y0 Daı́ calcula-se: |v3 − v2 | ≤ A K 3 Z y y0 (x − x0 + y − y0 ) dy = A K 3 (x − x0 )2 (x − x0 + y − y0 )2 . − 2 2 Portanto, resulta: |v3 − v2 | ≤ A K 3 (x − x0 + y − y0 )2 · 2! Procedendo-se indutivamente encontra-se: |vn − vn−1 | ≤ A K n (x − x0 + y − y0 )n−1 · (n − 1)! Demonstra-se, por indução finita, que esta desigualdade vale para todo n. As mesmas desigualdades são válidas para wn e un , obtendo-se: n−1 |vn − vn−1 | ≤ A K n (x − x0 + y − y0 ) (n − 1)! (x − x0 + y − y0 )n−1 (13) |wn − wn−1 | ≤ A K n (n − 1)! n−1 |un − un−1 | ≤ A K n (x − x0 + y − y0 ) (n − 1)! 47 para n = 1, 2, . . . . Considere-se as séries de funções: ∞ X v0 + (vn − vn−1 ) n=1 ∞ w + X (w − w 0 n n−1 ) n=1 ∞ X u0 + (un − un−1 ) (14) n=1 Examinar-se-á a convergência da primeira (14) sendo análoga à análise das outras. De fato, resulta de (13)1 que a série (14)1 é majorada pela série (15) A + AK ∞ X K n−1 n=1 (x − x0 + y − y0 )n−1 · (n − 1)! Sendo (x − x0 + y − y0 )n−1 ≤ (a + b)n−1 , conclui-se que a série (14)1 é dominada, em valor absoluto, pela série numérica convergente: A + AK ∞ X K + b)n−1 · (n − 1)! n−1 (a n=1 Note que esta série converge para o número A 1 + K eK(a+b) . Portanto, a série (14)1 converge absoluta e uniformemente no retângulo Ω = {(x, y) ∈ R2 ; x0 ≤ x ≤ x0 + a, y0 ≤ y ≤ y0 + b} para uma função contı́nua v(x, y). Sendo as somas parciais da série (14)1 iguais ao termo vn , para todo n, conclui-se que a sucessão (vn ) de aproximações sucessivas converge absoluta e uniformemente no retângulo Ω para a função contı́nua v(x, y). 48 Mutatis mutantis prova-se que as sucessões (wn ) e (un ) convergem absoluta e uniformemente, no retângulo Ω, para as funções contı́nuas w(x, y) e u(x, y). A convergência uniforme das sucessões (vn ), (wn ) e (un ) autoriza tomar o limite em (11) quando n → ∞. Assim, obtém-se v, w, u solução de (9). Unicidade - Suponha-se que existam duas soluções (v, w, u) e (v̂, ŵ, û) do sistema (9). Considerando-se U = u − û, V = v − v̂ e W − w − ŵ, são soluções Z y V (x, y) = − (aV + bW + cU ) dy y 0 Z x (aV + bW + cU ) dx (15) W (x, y) = − x0 Z y U (x, y) = − W (x, y) dy y0 As funções V , W , U são contı́nuas no retângulo fechado, logo aı́ limitadas. Conseqüentemente existe uma constante α > 0 tal que (16) |U (x, y)| < α, |V (x, y)| < α, |W (x, y)| < α para todo (x, y) no retângulo. Portanto, (15) e (16) obtém-se: Z |V (x, y)| ≤ y y0 ou (17) |a| + |b| + |c| α dy |V (x, y)| ≤ K α(y − y0 ) ≤ K α (x − x0 + y − y0 ) · 1! De modo análogo obtém-se: (18) |W (x, y)| ≤ K α (19) |U (x, y)| ≤ (x − x0 + y − y0 ) · 1! (x − x0 + y − y0 ) · 1! 49 Retornando à equação (15)1 , tomando o valor absoluto e empregando a estimativa (17) obtém-se: |V (x, y)| ≤ α K 2 (20) (x − x0 + y − y0 )2 . 2! Por um processo análogo, empregando (18) e (19) obtém-se: (21) |W (x, y)| ≤ α K 2 (22) |U (x, y)| ≤ α K 2 (x − x0 + y − y0 )2 2! (x − x0 + y − y0 )2 2! De modo indutivo, encontra-se: (x − x0 + y − y0 )n |V (x, y)| ≤ α K n n! (x − x0 + y − y0 )n (23) |W (x, y)| ≤ α K n n! (x − x0 + y − y0 )n |U (x, y)| ≤ α K n n! para n = 1, 2, . . . . Observando-se as estimativas (23), conclui-se que V , W e U são dominadas, em valor absoluto, pelo termo geral da série (15), que é convergente em valor absoluto e uniformemente no retângulo. Logo seu termo geral converge para zero, o que implica: V (x, y) = 0, W (x, y) = 0 e no retângulo, provando a unicidade. U (x, y) = 0 MÉTODO DE RIEMANN O método de Riemann permite calcular explicitamente a solução do problema de Cauchy para o operador Lu, em função dos dados de Cauchy sobre uma curva γ. Sendo Lu = ∂ 2u ∂u ∂u +a +b + cu, ∂x∂y ∂x ∂y 50 com coeficientes regulares. Segue-se, como foi visto, que Lu é do tipo hiperbólico com as duas famı́lias de caracterı́sticas dadas por x=c e y = c. Como foi visto anteriormente, considerando a curva γ regular e não interceptando cada caracterı́stica em mais de um ponto, então o problema de Cauchy (24) Lu = f em Ω u = ϕ, ∂u = ψ γ ∂x γ possui uma única solução. As hipóteses sobre ϕ, ψ, a, b, c são as fixadas. O método de demonstração é o de aproximações sucessivas de Picard, como foi feito para o problema de Goursat. No presente parágrafo será exposto o método de Riemann permitindo calcular explicitamente a solução u de (24) em função dos dados e da função de Riemann do referido problema. Posteriormente serão feitas aplicações à equação do telégrafo e à equação de vibrações transversais de uma corda elástica. A primeira etapa do método consiste em representar o produto (25) v Lu, sendo v(x, y) uma função real C 1 (Ω), sob a forma de uma divergência para, a seguir, aplicar o lema de Gauss ou a fórmula de Riemann-Green. De modo preciso, determina-se ∂u ∂u duas funções M e N , de classe C 1 (Ω), lineares em u, , tais que ∂x ∂y (26) v Lu = ∂M ∂N + ∂x ∂y em Ω. Isto equivale a dizer que v Lu é a divergência do campo de vetores (M, N ). 51 De fato, suponha-se que M =β ∂u ∂u + γu e N = α + δu, ∂y ∂x com α, β, γ, δ determinadas de modo que se verifique a (26). Obtém-se: (27) ∂ ∂u ∂u ∂ β α + γu + + δu = ∂x ∂y ∂y ∂x ∂α ∂u ∂β ∂u ∂ 2u + γ+ + δ+ + = (α + β) ∂x∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂δ ∂γ u. + + ∂x ∂y Portanto de (26) e (27), resulta: (29) α + β = v, γ+ (30) ∂β ∂γ + = cv ∂x ∂y ∂α = av, ∂y δ+ ∂β = bv ∂x Considerando-se, em particular (31) α=β= v 2 conclui-se de (29): (32) γ = av − 1 ∂v 2 ∂y e δ = bv − 1 ∂v · 2 ∂x Para que γ e δ dados por (32) satisfaçam à condição (30), deve-se ter: (33) ∂ 1 ∂v ∂ 1 ∂v av − + bu − = cv ∂x 2 ∂y ∂y 2 ∂x 52 ou, v é solução da equação: ∂v ∂v ∂a ∂b ∂ 2v v = 0, −a −b + c− − ∂x∂y ∂x ∂y ∂x ∂y (34) denominada equação adjunta de Lu = 0. O operador L∗ v, definido pelo membro da direita de (34), denomina-se adjunto de Lu. Considere-se uma solução particular v da equação L∗ v = 0 e com esta função v defina M e N do modo seguinte: ∂v 1 ∂ 1 ∂v v ∂u u = u av − + + av − (uv) M= 2 ∂y 2 ∂y ∂y 2 ∂y ∂v 1 ∂ 1 ∂v v ∂u u = u bv − + + bv − (uv) N= 2 ∂x 2 ∂x ∂x 2 ∂x Para calcular a solução do problema de Cauchy (24), guiar-nos-emos pela Fig. 3. Considere-se uma porção de curva γ representada pelo arco BC da Fig. 3. Será calculado o valor da solução u(x, y) em A de coordenadas (x0 , y0 ), como na Fig. 3. Supõe-se γ decrescente em x > 0, y > 0, tem-se C interseção de x = x0 com γ e B de y = y0 com γ. O problema de Cauchy será a determinação de u(x, y) satisfazendo as condições: Lu = f em R2 (35) ∂u = ψ sobre o arco BC u = ϕ, ∂x Supõe-se ϕ, ψ, a, b, c continuamente diferenciável e f contı́nua em R2 . Representa-se por Γ a fronteira de Ω, como na Fig. 3, orientada no sentido anti-horário. Suponha f = 0 para facilitar. Considere-se a solução particular da equação adjunta L∗ v = 0, sem condição inicial no momento. Como já foi verificado, define-se M e N por meio de v, obtendo-se a (28), isto é, v Lu = ∂N ∂M + · ∂x ∂y 53 Fig. 3 Se u for a solução do problema de Cauchy (35), com f = 0, integrando-se sobre Ω obtém-se: Z (36) Ω ∂M ∂N dxdy = 0. + ∂x ∂y Observação 2: Se f não for zero, a (36) será igual a Representa-se por R Ω R Ω vf dxdy. a integral dupla sobre Ω. Aplicando-se em (36) a fórmula de Riemann-Green, obtém-se: Z Z (37) M νx dΓ + N νy dΓ = 0, Γ Γ sendo νx = cos(ν, x) e νy = cos(ν, y), sendo ν a normal externa a Γ fora dos pontos angulosos, veja Fig. 3. 54 Reescrevendo (37) obtém-se: Z (38) M νx dΓ + BC + Z Z N νy dΓ + BC N νy dΓ + AB Z Z M νx dΓ + AB M νx dΓ + CA Z N νy dΓ = 0. CA Note-se que em (38) todas as integrais são curvilı́neas. Examinando-se νx , νy sobre as várias componentes de Γ, obtém-se: Sobre BC: νx dΓ = dy; νy dΓ = −dx Sobre AB: νx = 0; νy dΓ = −dx Sobre CA: νx dΓ = dy; νy = 0. Observe que tem-se sobre Γ: cos(ν, x)dΓ = dy e cos(ν, y)dΓ = dx. Em face dos cálculos sobre BC, CA e AB, reduz-se a (38) à forma: (39) Z BC M dy − Z BC N dx − Z N dx + AB Z M dy = 0. CA Substituindo-se M e N conhecidas em função da solução v de L∗ v = 0, obtém-se: Z Z 1 A dv M dy = uv C + (40) dy u av − 2 dy CA CA Z Z ∂v 1 B (41) dx u bv − N dx = uv A + 2 ∂x AB AB Sobre o arco CB são conhecidas u, ∂u ∂u , obtidas pelos dados de Cauchy ϕ e ψ. ∂x ∂y Assim, a (39) será simplificada se a solução particular v da equação adjunta L∗ v = 0 anular as integrais nos membros da direita de (40) e (41), respectivamente. Para que tal aconteça, é suficiente que sobre o segmento AB da equação y = y0 se tenha: (42) b(x, y0 )v(x, y0 ) − ∂v (x, y0 ) = 0 ∂x 55 ou v(x, y0 ) = exp Z x x0 b(s, y0 ) ds . Sobre o segmento AC de equação x = x0 deve-se ter: (43) a(x0 , y)v(x0 , y) − ou v(x0 , y) = exp Z ∂v (x0 , y) = 0 ∂y y y0 a(x0 , s) ds . Portanto, a solução v do problema adjunto L∗ v = 0 não será mais arbitrária, pois deverá satisfazer às condições (42) sobre AB e (43) sobre CA. Aqui chega-se ao ponto mais significativo do método de Riemann. Representese por R(x, y, x0, y0 ) a solução do problema adjunto L∗ v = 0, satisfazendo à condição (42) sobre AB e (43) sobre CA. Se assim for, R(x, y, x0, y0 ) = 1 em A. Esta solução R(x, y, x0, y0 ) do problema adjunto L∗ v = 0, denomina-se FUNÇÃO DE RIEMANN do problema de Cauchy (24) para Lu. É oportuno observar que AB e CA são segmentos caracterı́sticos de Lu. Portanto, a função de Riemann é solução de um problema de Goursat para o adjunto de Lu, cujas condições iniciais sobre os segmentos caracterı́sticos AB e CA são dadas em função dos coeficientes b(x, y) e a(x, y) de Lu, veja (42) e (43). A solução é igual a um em A. De modo simbólico, a função de Riemann seria a função v solução do problema de Goursat: (44) ∗ L v = 0 em Ω Z x v = exp b(s, y0 ) ds em AB x0 Z y v = exp a(x0 , s) ds em CA y0 v = 1 em A 56 (45) (46) Portanto se R for a função de Riemann do problema obtém-se: Z 1 A M dx = Ru C 2 CA Z 1 B N dy = Ru A 2 AB Substituindo-se (45) e (46) em (39), obtém-se: (47) 1 A 1 B Ru C − Ru A + 2 2 Z BC M dy − Z N dx = 0. BC Sendo R = 1 em A, obtém-se de (47) a forma explı́cita da solução do problema de Cauchy (24), dada por: (48) 1 uA = (Ru)B + (Ru)C − 2 Z BC M dy + Z N dx. BC Analisando (48) observa-se que u é conhecida em B e C. As funções M e N são conhecidas sobre CB porque u, ∂u ∂u , o são. Assim, (48) dá explicitamente a solução ∂x ∂y do problema de Cauchy (24) para qualquer ponto A do domı́nio de existência, fora de γ, onde são conhecidos os dados de Cauchy. Denonima-se (48) FÓRMULA DE RIEMANN para o problema de Cauchy (24). A seguir serão feitas aplicações do método de Riemann para o estudo da Equação do Telégrafo e da Equação de Vibrações Transversais de uma Corda Elástica. EQUAÇÃO DO TELÉGRAFO Nas equações diferenciais parciais da Fı́sica Matemática representa-se a variável y por t que representa o parâmetro tempo. Assim, com uma conveniente mudança de escala, a equação que modela o fluxo de eletricidade em um fio metálico é dada por ∂ 2V ∂V ∂ 2V − = −2 , 2 2 ∂t ∂x ∂t −∞ < x < +∞, t > 0, 57 sendo V (x, t) o potencial elétrico. Trata-se de uma equação hiperbólica. Tem-se LV = ∂ 2V ∂ 2V − ∂t2 ∂x2 e F = −2 ∂V ∂t é uma equação linear. Em geral, nos problemas de Fı́sica Matemática, procura-se a solução do problema de Cauchy fixando-se um dado instante quando inicia-se a observar ∂V quando t = 0. Então a curva o fenômeno. Escolhe-se t = 0. Portanto, fixa-se V e ∂t γ do problema de Cauchy é γ = {(x, t) ∈ R2+ ; t = 0}. Note-se que R2+ é o semiplano (x, t) com t ≥ 0. Estuda-se nesta seção o problema de Cauchy: (49) 2 ∂ V ∂ 2V ∂V − + 2 = 0 em t > 0, −∞ < x < +∞ 2 2 ∂t ∂x ∂t ∂V V (x, 0) = χ(x) e (x, 0) = ψ(x) em − ∞ < x < +∞ ∂t sendo χ e ψ continuamente diferenciáveis. Procura-se a solução sob a forma (50) V (x, t) = e−t U (x, t). Substituindo-se em (49)1 , encontra-se: (51) ∂ 2U ∂ 2U − = U. ∂t2 ∂x2 As condições iniciais (49)2 mudam para (52) U (x, 0) = χ(x), ∂U (x, 0) = χ(x) + ψ(x). ∂t 58 Para aplicar o método de Riemann, considere-se a transformação de coordenadas τ : (x, t) → (X, Y ) definida por: (53) 2X = x + t, 2Y = x − t. Fazendo-se o cálculo em (51) e representando por u(X, Y ) a nova incógnita obtém-se: ∂ 2u +u=0 ∂X∂Y (54 .) Para saber como mudam os dados iniciais, observe-se que a reta t = 0 do plano (x, t) é transformada, por (53), na bissetriz Y = X do plano X, Y . Portanto, o problema de Cauchy para (54) tem seus dados sobre a curva γ que é a bissetriz Y = X. Tem-se: ∂u 1 ∂u (X, X) − (X, X) = ψ(2X) + χ(2X). (55) u(X, X) = χ(2X), 2 ∂X ∂Y Tem-se a imagem geométrica dada pela Fig. 4. Deve-se calcular, com a fórmula de Riemann (48) a solução de (54) com dados (55) sobre a diagonal Y = X. Para tal necessário se torna calcular a função de Riemann do problema. Fig. 4 59 Note-se que em Lu dado por (54) tem-se a = b = 0, veja (24). Portanto o operador adjunto L∗ v = ∂ 2v + v . A equação adjunta será: ∂X∂Y ∂ 2v + v = 0. ∂X∂Y (56) A função de Riemann será tal que v é solução de (56) com v = 1 em A, veja Fig. 4. Note que A é a interseção das caracterı́sticas X = X0 e Y = Y0 . O problema de Goursat para (56) tem dados v = 1 em AB e v = 1 em CA, veja (44) para o cálculo da função de Riemann. Considere-se o produto (57) λ = (X − X0 )(Y − Y0 ), procurando-se a solução de (56) tal que (58) R(X, Y, X0, Y0 ) = ϕ(λ) sendo ϕ(0) = 1. Fazendo-se a mudança de variáveis (57) na equação (56), obtém-se: (59) λ d2 ϕ dϕ + + ϕ(λ) = 0, dλ2 dλ com a condição inicial (60) ϕ(0) = 1. Trata-se de uma equação de Bessel. O ponto λ = 0 é um ponto singular. Calcula- se, a seguir, uma solução analı́tica de (59), (60). Considere-se a série de potências (61) ϕ(λ) = 1 + a1 λ + a2 λ2 + · · · + an λn + . . . cujos coeficientes são determinados de modo que (61) seja solução de (59). Substituindose em (59), obtém-se a relação de recorrência: n(n − 1)an + nan + an−1 = 0, n = 1, 2, . . . 60 ou n2 an + an−1 = 0. Logo a função de Riemann é: ϕ(λ) = 1 − n λ2 λ3 λ n λ + − + · · · + (−1) +... 12 (1.2)2 (1.2.3)2 (n!)2 De modo explı́cito, tem-se: R(X, Y, X0, Y0 ) = 1 − (X − X0 )(Y − Y0 ) [(X − X0 )(Y − Y0 )]2 + +... 12 (1.2)2 A solução da equação dada pela fórmula de Riemann é: 1 (uR)B + (uR)C uA = 2 Z Z 1 1 ∂u ∂R ∂u ∂R + R dX − u dX − − 2 BC ∂X ∂Y 2 BC ∂X ∂Y (62) porque a = b = 0 e dX = dY em BC. Tem-se (63) dϕ ∂R = (Y − Y0 ) ∂X dλ R = ϕ(λ), e ∂R dϕ = (X − X0 ), ∂Y dλ R = 1 em B e C. Logo, encontra-se de (62): 1 1 uA = (uB + uC ) + 2 2 Z Z Y0 − X 0 ∂u ∂u ϕ(λ) dX + χ(X)ϕ′ (λ) dX − ∂X ∂Y 2 BC BC porque Y = X sobre CB e u(X, X) = χ(X). De (55), obtém-se: 1 u(x0 , t0 ) = (uB + uC ) + 2 Z t0 ϕ(λ) (ψ(2X) + χ(2X)) dX − 2 BC Z BC χ(2X)ϕ′ (λ)dX. 61 A solução da equação do telégrafo é: V (x0 , t0 ) = e−t0 u(x0 , t0 ) que converge para zero se t0 → ∞. CORDAS VIBRANTES Com a convenção feita sobre as variáveis y e t, obtém-se a equação diferencial parcial de vibrações transversais de uma corda elástica, dada do modo seguinte: 2 ∂ 2u 2∂ u − k = 0, ∂t2 ∂x2 t ≥ 0, −∞ < x < +∞. Representa-se por u(x, t) a deformação da corda no instante t. Tem-se o seguinte problema de Cauchy: (64) 2 2 ∂ u 2∂ u − k =0 ∂t2 ∂x2 ∂u u(x, 0) = ϕ(x), (x, 0) = ψ(x) ∂t em − ∞ < x < +∞ e t > 0 em − ∞ < x < +∞ Note-se que os dados de Cauchy são sobre a curva γ = {(x, t) ∈ R2+ ; t = 0} isto é, o eixo dos x. A equação (64)1 foi a primeira equação diferencial parcial estudada do ponto de vista matemático. Salienta-se a contribuição de Jean d’Alembert que, pela primeira vez, exibiu uma forma explı́cita para a solução do problema (64), conhecida por Fórmula de d’Alembert. Usando o método de Riemann reencontra-se a fórmula d’Alembert. Inicia-se fazendo uma mudança de coordenadas τ : (x, t) → (X, Y ) 62 sendo (65) X = x + kt e Y = x − kt. O k que aparece em (64)1 é uma constante positiva. Por meio de (65) a equação (64)1 transforma-se em ∂ 2u =0 ∂X∂Y (66) que é uma equação hiperbólica, cujas caracterı́sticas são as retas X = c, Y = c. A reta t = 0 transforma-se, por (65), na bissetriz Y = X do primeiro quadrante do plano R2 com coordenadas (X, Y ). Veja Fig. 5. Fig. 5 Os dados de Cauchy serão: (67) u(X, X) = ϕ(X) e ∂u ∂u ∂u (x, 0) = k (X, X) − k (X, X) = ψ(X). ∂t ∂X ∂Y Desta forma o problema de Cauchy (64) transforma-se no seguinte: ∂ 2u ∂X∂Y = 0 (68) ∂u ∂u u(X, X) = ϕ(X) e k (X, X) − k (X, X) = ψ(X) ∂X ∂Y 63 Supõe-se que ϕ e ψ continuamente diferenciáveis em −∞ < x < +∞. Resolve-se o problema de Cauchy (68) pelo método de Riemann. De fato, tem-se (69) Lu = ∂ 2u , ∂X∂Y logo a = c = b = 0, veja (24), o que traz ótimas simplificações. O adjunto de L é o operador L∗ v = (70) ∂2v · ∂X∂Y A fórmula de Riemann (48) é dada por: (71) 1 (uR)B + (uR)C + uA = 2 Z BC (N − M ) dX porque sobre BC tem-se Y = X. Sendo a = b = 0, obtém-se: (72) 1 ∂v ∂u ∂v v ∂u + . − − N −M =− 2 ∂Y ∂X 2 ∂Y ∂X Resta conhecer a função de Riemann que vai caracterizar a solução v da equação adjunta, logo ficam conhecidas M e N sobre BC. Para calcular a função de Riemann do problema de Cauchy (68), observe que no presente caso a = b = 0, logo a solução R do problema de Goursat (44) é R(x, y, x0, y0 ) = 1 em todo ponto, isto é, a função de Riemann é a identidade. Logo, (72) reduz-se a (73) N −M =+ 1 ψ(X). 2k Portanto, de (35), sendo R ≡ 1, a (71) toma a forma: (74) 1 1 uA = (uB + uC ) + 2 k Z BC ψ(λ) dλ. 64 Tem-se B é o ponto (X, X) e C é o ponto (Y, Y ). Logo uB = u(X, X) = ϕ(X) e uC = u(Y, Y ) = ϕ(Y ). Tem-se A é o ponto (X, Y ) e portanto, a solução é: 1 1 ϕ(X) + ϕ(Y ) + u(X, Y ) = 2 2k Z Y ψ(λ) dλ. X Sendo X = x + kt, Y = x − kt, obtém-se, pelo método de Riemann, a solução explı́cita do problema de Cauchy (64): (75) 1 1 ϕ(x + kt) + ϕ(x − kt) + u(x, t) = 2 2k Z x+kt ψ(λ) dλ x−kt que é a conhecida fórmula d’Alembert ou solução de d’Alembert. A seguir será feita uma interpretação da solução de d’Alembert. No instante em que observa-se a deformação de uma corda perturbada, observa-se o gráfico ϕ(x) = u(x, 0) que denomina-se configuração inicial. Para interpretar as sucessivas configurações supõe-se que ψ = 0. Assim a solução de (76) 2 2 ∂ u 2 ∂ u − k = 0 em − ∞ < x < +∞, t > 0 ∂t2 ∂x2 ∂u u(x, 0) = ϕ(x), (x, 0) = 0, −∞ < x < +∞, ∂x será, por intermédio da solução de d’Alembert, dada por: (77) u(x, t) = 1 ϕ(x + kt) + ϕ(x − kt) . 2 Note-se que ϕ(x − kt) obtida de ϕ(x) por meio de uma translação kt na direção positiva do eixo dos x. Analogamente, ϕ(x + kt) é obtida de ϕ(x) após uma translação −kt na direção negativa do eixo dos x. Portanto ϕ(x − kt) é onda de configuração inicial ϕ(x) que se propaga na direção positiva do eixo x, com velocidade de propagação k. Ela denomina-se onda progressiva. Semelhantemente, ϕ(x+kt) é a onda ϕ(n) se propagando 65 na direção negativa do eixo x, com velocidade k. Esta denomina-se onda regressiva. A solução de d’Alembert, quando ψ = 0, é a média aritmética das duas ondas. Note-se que (77), como solução de (76)1 , deve ser duas vezes continuamente diferenciável em −∞ < x < +∞. Será escolhida no presente exemplo uma função C ∞ em R, nula fora de um intervalo fechado. Escolheu-se esta função pois aparece em outras situações significantes. Considere-se a função cujo gráfico é: 1 − 1−x 2 e ρ(x) = 0 se |x| < 1 se |x| ≥ 1 Fig. 6 Esta função é C ∞ (R) e se anula no exterior do intervalo fechado −1 ≤ x ≤ +1. Ela pode ser considerada como configuração inicial ϕ(x). A solução de d’Alembert seria: u(x, t) = 1 [ρ(x + kt) + ρ(x − kt)]. 2 66 Ter-se-ia: 1 exp − 1 − (x + kt)2 ρ(x + kt) = 0 1 exp − 1 − (x − kt)2 ρ(x − kt) = 0 Será analisado para os instantes de tempo tn = • se − 1 < x + kt < +1 se |x + kt| ≥ 1 se − 1 < x − kt < +1 se |x − kt| ≥ 1 n , n = 0, 1, 2, 3. 2k Se n = 0, t = 0 e a solução u(x, 0) = 1 [ρ(x) + ρ(x)] = ρ(x) 2 e a configuração inicial é a da função ρ(x) cujo gráfico é o da Fig. 6. • Tem-se: Se n = 1, t1 = 1 1 e x ± kt = x ± . 2a 2 1 exp − 2 1 1 1− x+ 2 ρ x+ = 2 0 1 exp − 2 1 1− x− 2 1 = ρ x− 2 0 3 1 <x< 2 2 se − se 1 |x + | ≥ 1 2 1 3 <x<+ 2 2 se − se 1 |x − | ≥ 1 2 67 Fig. 7 • Obtém-se: n = 2, t2 = 1 e x ± kt = x ± 1 k 1 exp − 1 − (x + 1)2 ρ(x + 1) = 0 1 exp 1 − (x − 1)2 ρ(x − 1) = 0 se −2 <x <0 se |x + 1| ≥ 1 se 0 < x < +2 se |x − 1| ≥ 1 68 Fig. 8 • Resulta: n = 3, t3 = 3 e x ± kt = x ± 2a 3 2 1 exp − 2 3 1− x+ 2 3 ρ x+ = 2 0 1 exp − 2 3 1− x− 2 3 = ρ x− 2 0 1 5 <x<+ 2 2 se − se 3 |x + | ≥ 1 2 se + se 3 |x − | ≥ 1 2 1 5 <x<+ 2 2 69 Fig. 9 PRINCÍPIO DE DUHAMEL Será examinado o caso do operador linear Lu(x, t) = 2 ∂ 2u 2 ∂ u − k · ∂t2 ∂x2 Considera-se o problema de Cauchy (78) Lu(x, t) = h(x, t), −∞ < x < +∞, t ≥ 0 u(x, 0) = 0 e ∂u (x, 0) = 0 em − ∞ < x < +∞. ∂t Note-se que sendo L um operador linear, sem perda de generalidade, considera-se com condições iniciais nulas. O problema de Cauchy (*) será resolvido por meio do princı́pio de Duhamel, o qual é análogo ao método de Lagrange de variação dos parâmetros empregado no estudo de equações diferenciais ordinárias lineares dotadas de segundo membro. Ele será 70 empregado, também, no Capı́tulo 4 para resolver o problema (78) quando Lu(x, t) = ∂u ∂ 2 u − · ∂t ∂x2 De fato, o método consiste em determinar a solução do problema (78) sob a forma: (79) u(x, t) = Z t w(x, t, s) ds, 0 sendo w(x, t, s), para cada s ≥ 0 fixo, solução do problema de Cauchy: Lw(x, t, s) = 0 para t ≥ s (80) w(x, s, s) = 0, wt (x, s, s) = h(x, s) Note-se que s ≥ 0 é um parâmetro e (80) é um problema de Cauchy em t = s. Suponha- se h(x, t) duas vezes continuamente diferenciável e limitada em −∞ < x < +∞, t ≥ 0. É simples verificar que se w(x, t, s) for solução de (80), então u(x, t) definida por (79) é solução de (78). Então, considerando a função v(x, t, s) = w(x, t + s, s) conclui-se que v(x, t, s) é solução do problema de Cauchy: Lv(x, t, s) = 0 para t ≥ 0 (81) v(x, 0, s) = 0, vt (x, 0, s) = h(x, s) A solução deste problema é dada pela fórmula de D’Alembert (75), com ϕ = 0, ψ = h, isto é, 1 v(x, t, s) = 2k Z x+kt h(ξ, s) dξ. x−kt Substituindo v(x, t − s, s) = w(x, t, s) em (79) obtém-se a solução de (78) dada por: 1 u(x, t) = 2k Z tZ 0 x+k(t−s) x−k(t−s) h(ξ, s) dξ ds. 71 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1. Usando o método de Riemann, resolver o seguinte problema de Cauchy 2 ∂ u 2 ∂x∂y = 0 em R u(t, 2 − t) = 3t 0≤t≤2 ∂u (t, 2 − t) = t + 2 ∂x (*) SOLUÇÃO: Identificando o problema (*) na forma dada em (24), observa-se que a = 0, b = 0 e c = 0 e que a curva γ é dada por γ: x=t y =2−t 0≤t≤2 Então, a função de Riemann v solução do problema adjunto dado pela fórmula (44) 2 ∂ v ∂x∂y = 0 v = 1 v = 1 v = 1 em R2 , em AC em AB em A obtém-se que v(x, y) = 1 72 Pela fórmula (48) obtém-se: (i) 1 u(x0 , 2 − x0 ) + u(2 − y0 , y0 ) + u(x0 , y0 ) = 2 Z BC M dy − N dx. De (34.1), obtém-se que em BC M= t−1 , 2 N= t+2 · 2 Logo, (ii) Z 1 1 M dy − N dx = (t − 1)(−1) − (t + 2) · 1 dt 2 2 x0 BC 2 (2 − y0 )2 x0 2 − y0 x0 − + + = 2 2 2 2 Z 2−y0 e como B e C são pontos de γ, tem-se (iii) u(x0 , 2 − x0 ) = 3x0 e u(2 − y0 , y0 ) = 3(2 − y0 ). De (ii) e (iii) em (i), tem-se que u(x0 , y0 ) = x20 (2 − y0 )2 − + 2x0 − y0 + 2 2 2 é a solução. Como (x0 , y0 ) é arbitrário, vem que u(x, y) = 2. x2 (2 − y)2 − + 2x − y + 2. 2 2 Usando o método de Riemann, resolver: 2 ∂ u ∂x∂y = 0, no primeiro quadrante u(t, 1 − t2 ) = 2t2 (*) ∂u (t, 1 − t2 ) = t 0≤t≤1 ∂x 73 SOLUÇÃO: Considerando (*) na forma dada em (24), observa-se que os coeficientes do operador L, são a = b = c = 0 e que a curva γ é dada por γ: x=t y = 1 − t2 0≤t≤1 Como no exercı́cio 1, observa-se que a função de Riemann v é dada por v(x, y) = 1. Pela fórmula (48), obtém-se que a solução (*) no ponto A é dada por: p 1 u(x0 , y0 ) = u(x0 , 1 − x20 ) + u( 1 − y0 , y0 ) + 2 Z BC M dy − N dx. De (34.1), observa-se que em BC, curva contida em γ, tem-se M = − Então: Z BC M dy − N dx = Z √ 1−y0 x0 t 3t − 2 2 dt = t 3 eN= · 4 2 1 − y0 x2 − 0· 2 2 Como B e C são pontos de γ, vem: u(x0 , 1 − x20 ) = 2x20 e Logo, a solução de (*) é dada por: u(x0 , y0 ) = u( p 1 − y0 , y0 ) = 2(1 − y0 ). 1 − y0 1 x2 x2 3 3 2x20 + 2(1 − y0 ) + − 0 = 0 − y0 + · 2 2 2 2 2 2 Como (x0 , y0 ) é arbitrário, a solução é: u(x, y) = x2 3y 2 − + · 2 2 3 74 3. Determine a solução do seguinte problema de Cauchy: onde γ: 2 ∂ u 2 ∂x∂y = 0 em R ∂u u/γ = ϕ γ=ψ ∂x x = sen t y = cos t 0≤t≤ π 2 , ϕ(t) = cos t ψ(t) = 2 sen t SOLUÇÃO: Usando o método de Riemann, observa-se que a função de Riemann v é dada por v(x, y) = 1 De (34.1), tem-se que em BC contido em γ, vem: M= 1 + cos t, 2 N = sen t. Também, como B e C são pontos de γ, u x, q q 1 − x20 = 1 − x20 , u q Pela fórmula (48): (i) 1 u(x0 , y0 ) = 2 q 1− x20 + y0 + Z 1 − y02 , y0 = y0 . BC M dy − N dx 75 e (ii) Z BC Z arc sen √ 1−y02 1 sen t − 2 sen t cos t dt = 2 arc sen x0 q 1 y0 − 1 − x20 . = x20 + y02 − 1 + 2 2 M dy − N dx = De (i) e (ii), a solução é: − u(x, y) = x2 + y 2 + y − 1. 4. Calcule a solução do seguinte problema de Cauchy: 2 ∂ u ∂u + 2 = 0 em R2 ∂x∂y ∂x u(t, 3 − t) = t + 1 (*) 0≤t≤3 ∂u (t, 3 − t) = 2t + 3 ∂x SOLUÇÃO: Considerando (*) na forma dada em (24) observa-se que os coeficientes do operador L são: a = 2, b = c = 0 e que a curva γ é dada por: x=1 γ: 0 ≤ t ≤ 3. y =3−t Logo, a função de Riemann v é solução do problema 2 ∂ v ∂v ∂x∂y − 2 ∂x Ry v = e y0 2dS v = 1 v = 1 =0 em AB em AC em A 76 Então: v(x, y) = e2(y−y0 ) . De (34.1) tem-se que em BC, M = 2(t + 1)e2(3−t−y0 ) Z BC M dy − N dx = e N= 2t + 3 2(3−t−y0 ) e 2 5 3(3 − y0 ) 5 2(3−x0 −y0 ) 3x0 2(3−x0 −y0 ) + − e − e . 2 2 2 2 Pela fórmula (48), a solução é dada por: Z 1 (uv)B + (uv)C + u(x0 , y0 ) = M dy − N dx = 2 BC 1 2(3−x0 −y0 ) (x0 + 1)e + 4 − y0 + = 2 + 5 3(3 − y0 ) 5 2(3−x0 −y0 ) 3x0 2(3−x0 −y0 ) + − e − e = 2 2 2 2 = −x0 e2(3−x0 −y0 ) − 2 e2(3−x0 −y0 ) − 2y0 + 9. 5. Usando o método de Riemann, ache a solução do seguinte problema de Cauchy: 2 ∂ u ∂ 2u ∂x2 − ∂y 2 = 0 u(t, 4 − 2t) = t 0≤t≤2 ∂u (t, 4 − 2t) = 2t + 1 ∂x 77 SOLUÇÃO: Fazendo a mudança: ξ = x − y e η = x + y, o problema transforma-se em: 2 ∂ u =0 ∂ξ∂η u(3t − 4, 4 − t) = t ∂u ∂u (3t − 4, 4 − t) + (3t − 4, 4 − t) = 2t + 1 − ∂ξ ∂η (*) Observa-se que mediante a mudança, a curva γ: Γ: é transformada em e que x=t y = 4 − 2t 0 ≤ t ≤ 2, ξ = 3t − 4 η =4−t 0≤t≤2 ∂u ∂u ∂u =− + · ∂x ∂ξ ∂η Logo, a função de Riemann v associada a (*) como nos problemas 1, 2, e 3, é dada por v(ξ, η) = 1 E: 8 − ξ0 +4 uB = − 3 uC = −η0 + 4 M= 1 ∂u 2 ∂η N= 1 ∂u 2 ∂ξ 78 Então: 1 u(ξ0 , η0 ) = (uB + uC ) + 2 Z BC M dη − N dξ. Mas, Z BC M dη − N dξ = Z 8−3η0 ξ0 −(3t + 2) − 3 (t + 1) dt 2 9 9 7 7 = − (8 − 3η0 )2 + ξ02 − (8 − 3η0 ) + ξ0 . 4 4 2 2 Logo: 1 u(ξ0 , η0 ) = 2 = − 8 − ξ0 3 9 9 7 7 + 4 − η0 + 4 − (8 − 3η0 )2 + ξ02 − (8 − 3η0 ) + ξ0 = 4 4 2 2 9 9 11ξ0 76 (8 − 3η0 )2 + ξ02 + 10η0 + − · 4 4 3 3 Então: u(x, y) = − 6. 2 9 9 11 76 8 − 3(x + y) + (x − y)2 + 10(x + y) + (x − y) − · 4 4 3 3 Sem fazer uso do método de Riemann, deduzir a fórmula de D’Alembert para re- solver o problema: 2 2 ∂ u 2 ∂ u − K = 0 em ∂t2 ∂x2 u(x, 0) = ϕ(x) em ∂u (x, 0) = ϕ(x) ∂t − ∞ < x < +∞, t > 0 − ∞ < x < +∞ 79 SOLUÇÃO: Fazendo a mudança ξ = x + Kt η = x − Kt transforma-se o problema à forma ∂ 2u = 0 o qual tem solução geral canônica ∂ξ∂η u(ξ, η) = f (ξ) + g(η) ou seja (i) u(x, t) = f (x + Kt) + g(x − Kt) Como u(x, 0) = ϕ(x), vem (ii) f (x) + g(x) = ϕ(x) Como ∂u (x, 0) = ψ(x), vem ∂t Kf ′ (x) − Kg ′ (x) = ψ(x). (iii) Então, de (ii) e (iii), 1 1 f (x) = ϕ(x) + 2 2K 1 1 g(x) = ϕ(x) − 2 2K Z x ψ(s) ds x0 Z x ψ(s) ds. x0 E de (i), tem-se 1 1 u(x, t) = ϕ(x + Kt) + ϕ(x − Kt) + 2 2K 7. Z x+Kt g(s) ds. x−Kt Encontre a solução do seguinte problema de Goursat: 2 ∂ u = f (x, y) ∂x∂y u(0, y) = ϕ(y) u(x, 0) = ψ(x) onde ϕ e ψ são de classe C 1 e ϕ0 = ψ0 . 80 SOLUÇÃO: Integrando na equação, tem-se: (i) u(x, y) = Z x 0 Z y f (r, s) dsdr + g(x) + h(y). 0 Como u(x, 0) = ψ(x), vem: (ii) g(x) + h(0) = ψ(x) e como u(0, y) = ϕ(y), vem: (iii) g(0) + h(y) = ϕ(y). Logo, de (ii) e (iii), g(x) + h(y) = ψ(x) + ϕ(y) − g(0) − h(0). Mas, de (ii), g(0) + h(0) = ψ(0). Logo: (iv) g(x) + h(y) = ψ(x) + ϕ(y) − ψ(0). De (iv) e (i), vem u(x, y) = ψ(x) + ϕ(y) − ψ(0) + 8. Z x 0 Z y f (r, s) dsdr. 0 Usando o problema 7, resolver os seguintes problemas de Goursat: 2 ∂ u ∂x∂y = x (i) 2 u(x, 0) = x u(0, y) = y 2 2 ∂ u =y+1 ∂x∂y (ii) u(x, 0) = 2x + 1 u(0, y) = y − 1 81 SOLUÇÃO: 2 (i) 2 u(x, y) = x + y + = x2 + y 2 + Z x 0 Z y r dsdr = 0 x2 ·y 2 u(x, y) = (2x + 1) + (y − 1) − 1 + = 2x + y − 1 + 9. Z 0 x Z y +1 dsdr = 0 xy 2 + xy. 2 Determine a solução do seguinte problema de Goursat: 2 ∂u ∂ u +α = f (x, y) ∂x∂y ∂y u(x, 0) = ψ(x) u(0, y) = ϕ(y) α = constante onde ψ e ϕ são de classe C 1 com ψ(0) = ϕ(0). SOLUÇÃO: Pode-se escrever a equação na forma: ∂ ∂y ∂u + αu = f (x, y). ∂x Integrando em y ∂u + αu = ∂x Z 0 y f (x, s) ds + g̃(x). 82 Multiplicando por eαx ∂u (u eαx ) = eαx ∂x Z y f (x, s) ds + eαx g̃(x). 0 Integrando em x: αx ue = Z x 0 Z y αr e f (r, s) dsdr + Z x eαr g̃(r)dr + h(y). 0 0 Logo, −αx (i) u(x, y) = e Z x 0 Z y eαr f (r, s) dsdr + g(x) + e−αx h(y). 0 Como u(x, 0) = ψ(x), tem-se ψ(x) = g(x) + e−αx h(0). (ii) Como u(0, y) = ϕ(y), tem-se (iii) ϕ(y) = g(0) + h(y). De (ii) e (iii), (iv) g(x) + e−αx h(y) = ψ(x) + e−αx ϕ(y) − e−αx h(0) − e−αx g(0). Mas de (iii): e−αx h(0) + e−αx g(0) = e−αx ϕ(0). Então, (v) g(x) + e−αx h(y) = ψ(x) + e−αx ϕ(y) − ϕ(0) . 83 De (v) e (i), tem-se −αx u(x, y) = e , Z 0 10. x Z 0 y eαr f (r, s) dsdr + ψ(x) + e−αx ϕ(y) − ϕ(0) . Determine a solução do problema de Goursat 2 2 ∂ u 2 ∂ u − K =0 ∂t2 ∂x2 u(x, t) = ϕ(x) quando u(x, t) = ψ(x) quando x + Kt = 0 x − Kt = 0 onde ϕ e ψ são de classe C 1 com ϕ(0) = ψ(0). SOLUÇÃO: Observa-se que a solução geral da equação: 2 ∂ 2u 2 ∂ u −K =0 ∂t2 ∂x2 é dada por (i) u(x, t) = f (x + Kt) + g(x − Kt). Como u(x, t) = ϕ(x) quando x + Kt = 0, vem: (ii) ϕ(x) = f (0) + g(2x). Como u(x, t) = ψ(x) quando x − Kt = 0, vem: (iii) ψ(x) = f (2x) + g(0). 84 De (ii), vem: x − Kt − f (0). g(x − Kt) = ϕ 2 De (iii), substituindo x por x + Kt , vem: 2 x + Kt f (x + Kt) = ψ 2 − g(0). Como por (ii), g(0) + f (0) = ϕ(0), x − Kt x + Kt f (x + Kt) + g(x − Kt) = ϕ +ψ − ϕ(0). 2 2 De (i), vem: x + Kt x − Kt +ψ − ϕ(0). u(x, t) = ϕ 2 2 11. Determine a solução do problema de Goursat: 2 ∂ 2u ∂u 3 ∂ u x − x − =0 ∂x2 2 ∂y ∂x u(x, y) = ϕ(y) u(x, y) = ψ(y) onde ϕ(2) = ψ(2). x 6= 0 x2 em y − =0 0≤y≤2 2 em y + x2 =4 2≤y≤4 2 85 SOLUÇÃO: Observa-se que a mudança de coordenadas ξ=y− x2 2 e η=y+ x2 2 reduz a equação à sua forma canônica: ∂ 2u =0 ∂ξ∂η de onde deduz-se que a solução geral é dada por: x2 x2 +g y+ . (i) u(x, y) = f y − 2 2 Das condições dadas, vem: x2 . ϕ(y) = f (0) + g y + 2 Mas y + x2 = 2y. Então: 2 (ii) ϕ(y) = f (0) + g(2y). Analogamente: (iii) ψ(y) = f (2y − 4) + g(4). x2 x2 e 2y − 4 por y − , tem-se: 2 2 x2 x2 x2 1 1 x2 +g y+ =ϕ y+ − f (0) + y− + 4 − g(4). (iv) f y − 2 2 2 2 2 2 Logo, substituindo 2y por y + Como de (ii), ϕ(2) = f (0) + g(4), tem-se de (iv) e (i): 1 x2 1 x2 u(x, y) = ϕ y+ +ψ y− + 4 − ϕ(2). 2 2 2 2 86 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Usando o método de Riemann, resolver os seguintes problemas de Cauchy: 2 ∂ u 2 ∂x∂y = 0 em R (i) u(t, 1 − t) = t + 2 0 ≤ t ≤ 1 ∂u (t, 1 − t) = 3t + 5 ∂x 2 ∂ u 2 ∂x∂y = 0 em R (ii) u(t, 4 − t2 ) = t2 0 ≤ t ≤ 2 ∂u (t, 4 − t2 ) = 4t ∂x Resposta: (ii) u(x, y) = 2x2 + y − 4. 2. Determine a solução dos seguintes problemas de Cauchy: 2 ∂ u ∂u 2 ∂x∂y + 3 ∂x = 0 em R (i) u(t, 2 − t) = 2t + 1 0 ≤ t ≤ 2 ∂u (t, 2 − t) = 3t − 1 ∂x 2 ∂ u ∂u 2 ∂x∂y + ∂y = 0 em R (ii) u(t, 5 − t) = 2t 0 ≤ t ≤ 5 ∂u (t, 5 − t) = t − 1 ∂x Resposta: (ii) u(x, y) = (y − 1)e5−y−x + 3x − 4. 3. Usando o método de Riemann, encontre a solução dos seguintes problemas: 2 ∂ u ∂ 2u − 4 =0 ∂x2 ∂y 2 (i) u(t, 1 − t) = 2t 0 ≤ t ≤ 1 ∂u (t, 1 − t) = 3t + 1 ∂x 2 ∂ u ∂ 2u − 9 =0 ∂x2 ∂y 2 (ii) u(t, 2 − t) = 3t ∂u (t, 2 − t) = 2t + 1 ∂x 87 Resposta: (ii) u(x, y) = − 4. 2 4 67 4 79 85 6 − 2(y + 3x) − (y − 3x)2 . + (y + 3x) + (y − 3x) + 4 12 24 3 3 Determine a solução dos seguintes problemas: Respostas: 2 ∂ u ∂ 2u ∂t2 − ∂x2 = 0 (i) u(x, 0) = cos x ∂u (x, 0) = sen 4x ∂t 2 ∂ u ∂ 2u − 9 =0 ∂t2 ∂x2 (iii) u(x, 0) = x2 + 1 ∂u (x, 0) = 2x + 3 ∂t 2 ∂ u ∂ 2u − 4 =0 ∂t2 ∂x2 (ii) u(x, 0) = ex ∂u (x, 0) = e2x + x ∂t 2 ∂ u ∂ 2u − 4 =0 ∂t2 ∂x2 (iv) u(x, 0) = 3x ∂u (x, 0) = 2 sen x ∂t 1 sen 4x sen 4t 4 (ii) u(x, t) = 3x + sen x sen 2t (i) u(x, t) = cos x cos t + 5. Fazendo uso do problema 7, resolver os seguintes problemas de Goursat: 2 ∂ u = xy ∂x∂y (i) u(0, y) = sen y u(x, 0) = sen x 2 ∂ u 2 2 ∂x∂y = x (1 − y ) (ii) 2 u(0, y) = y + y u(x, 0) = x2 + 2x 88 Respostas: 2 ∂ u = 2x + 3y ∂x∂y (iii) y u(0, y) = 2 e u(x, 0) = 3 ex − 1 2 ∂ u 3 ∂x∂y = x y (iv) u(0, y) = sen 2y u(x, 0) = x2 + x 3xy 2 −3 2 x4 y 2 (iv) u(x, y) = x2 + x + sen 2y + 8 (iii) u(x, y) = 3ex + 2ey + x2 y + 6. Determine a solução do problema de Goursat: 2 ∂u ∂ u +β = f (x, y) ∂x∂y ∂x u(x, 0) = ψ(x) u(0, y) = ϕ(y) onde ψ(0) = ϕ(0). β = constante Resposta: −βy u(x, y) = e Z 0 7. y Z x 0 eβr f (r, s) dsdr + ϕ(y) + e−βy (ψ(x) − ψ(0)). Encontre a solução dos problemas: 2 ∂ u ∂ 2u ∂t2 − ∂x2 = 0 (i) u(x, t) = 3x + 1 quando u(x, t) = 2x + 1 quando x+t=0 x−t=0 89 2 ∂ u ∂ 2u 2 −4 2 =0 ∂t ∂x (ii) u(x, t) = sen2 x quando u(x, t) = ex − 1 quando Resposta: (iii) x − 2t = 0 2 ∂ u ∂ 2u − 9 =0 ∂t2 ∂x2 (iii) u(x, t) = cos2 x quando u(x, t) = ex2 quando 2 u(x, t) = cos 8. x + 2t = 0 x − 3t 2 +e x + 3t = 0 x − 3t = 0 x+3t 2 2 − 1. Encontre a solução do problema de Goursat 2 ∂ 2 u ∂ 2 u ∂u y ∂x2 − ∂y 2 + ∂y = 0 u(x, y) = ϕ(x) u(x, y) = ψ(x) Resposta: y 6= 0 sobre x+ y2 =4 2≤x≤4 2 sobre x− y2 =0 0≤x≤2 2 x y2 x y2 = f (2). − +2 +g + u(x, y) = f 2 4 2 4 90 91 3. EQUAÇÕES ELÍTICAS Conforme visto anteriormente, as equações diferenciais parciais elı́ticas de segunda ordem, lineares, no plano R2 , possuem a forma canônica Lu = ∂ 2u ∂ 2u + 2 = f (x, y). ∂x2 ∂y Elas guardam ı́ntima relação com as funções de variáveis complexas, razão porque será feita uma breve revisão sobre as funções holomorfas. O plano R2 possui uma estrutura de espaço vetorial obtida por meio das operações: (1) Igualdade − (x, y) = (x′ , y ′ ) se x = x′ e y = y ′ Adição − (x, y) + (x′ , y ′ ) = (x + x′ , y + y ′ ) Multiplicação por Escalar − λ(x, y) = (λx, λy), λ ∈ R Esta estrutura algébrica é enriquecida definindo-se, de modo apropriado, uma multiplicação no espaço vetorial R2 , como vem a seguir. (2) Multiplicação (x, y) · (x′ , y ′ ) = (xx′ − yy ′ , xy ′ + x′ y). Munido desta multiplicação o espaço vetorial R2 é transformado em um corpo, denominado corpo dos números complexos, representado por C. Em busca de uma notação apropriada para os objetos de C, note-se que para todo par (x, y) ∈ C, tem-se: (x, y) = x(1, 0) + y(0, 1). 92 Represente-se por i o par (0, 1) e identifique-se (1, 0) ao número real 1. Logo, todo objeto de C escreve-se sob a forma: (3) (x, y) = x + iy. Note-se que i2 = (0, 1) · (0, 1) = (−1, 0) e identificando-se (−1, 0) ao número real −1, obtém-se i2 = −1. O número complexo i denomina-se unidade imaginária. Portanto, todo objeto do corpo C tem a representação: (x, y) = x + iy i2 = −1 (4) Note-se que a interpretação geométrica de C é dada pela imagem geométrica do espaço vetorial R2 que lhe é subjacente. Os objetos de C serão representados por z, isto é, z = x + iy que geometricamente representa-se no R2 pelo vetor (x, y), isto é, uma flecha com origem em (0, 0) e extremidade em (x, y), como na figura abaixo. Diz-se, também, plano complexo C que é o plano R2 enriquecido da multiplicação (2). Define-se o módulo do número complexo z = x + iy como sendo o módulo do vetor (x, y) do R2 , isto é, (5) |z|2 = x2 + y 2 , é o módulo de z ∈ C. 93 Considerando-se coordenadas polares, com eixo polar coincidindo com o semi-eixo x ≥ 0 dos reais positivos, a cada ponto (x, y) do plano R2 associa-se o ângulo θ do vetor (x, y) com o eixo polar e o seu comprimento ρ. Logo, obtém-se: x = ρ cos θ e y = ρ sen θ. Resulta, daı́, a representação em coordenadas polares para os objetos de C: (6) z = ρ(cos θ + i sen θ), sendo ρ = |z|. Demonstra-se que eiθ = cos θ + i sen θ, obtendo-se a representação polar de z dada por (7) z = ρ eiθ , 0 ≤ θ ≤ 2π, 0 ≤ ρ < ∞. Será examinada, a seguir, a relação entre as soluções u(x, y) da equação elı́tica (8) ∂ 2u ∂ 2u + 2 =0 ∂x2 ∂y em Ω, aberto do R2 , e as funções f : C → C que possuem derivadas contı́nuas em Ω ⊂ C. De fato, uma função f que a cada número complexo z ∈ C associa um número complexo f (z) ∈ C denomina-se uma função complexa de uma variável complexa z. Representa-se por f : C → C ou simplesmente por w = f (z). Sendo z = x + iy, w = f (z) = u(x, y) + iv(x, y), com u e v funções reais definidas no R2 . Portanto, escreve-se: (9) w = f (z) ou w = u(x, y) + iv(x, y) 94 Sendo z = x + iy, x denomina-se a parte real de z e y a parte imaginária de z. Do mesmo modo, sendo w = u(x, y) + iv(x, y), a função u é parte real de w e v sua parte imaginária. A noção de limite de uma função w = f (z) em um ponto z0 define-se ipsis literis como no caso de funções reais. A noção de derivada é análoga. Assim, diz-se que w = f (z) é derivável em z0 , quando existe o limite: (10) lim z→z0 z6=z0 f (z) − f (z0 ) · z − z0 Este número complexo denomina-se derivada da f em z0 e representa-se por f ′ (z0 ). Diz-se que f é derivável em Ω ⊂ C, quando o for em cada z0 ∈ Ω. Para interpretar o limite (10) considere-se z = x + iy e f (z) = u + iv. Tem-se: (11) u(x, y) − u(x0 , y0 ) + i[v(x, y) − v(x0 , y0 )] · x − x0 + i(y − y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) lim Supõe-se u, v continuamente diferenciáveis e considera-se (11) segundo as retas y = y0 e x = x0 . Obtém-se: (12) f ′ (z0 ) = ∂v ∂u +i ∂x ∂x no ponto (x0 , y0 ) e (13) f ′ (z0 ) = −i ∂u ∂v + ∂y ∂y no ponto (x0 , y0 ). A existência do limite (11) implica a igualdade de (12) e (13). Obtém-se: (14) ∂u ∂v = ∂x ∂y e ∂u ∂v =− ∂y ∂x 95 como uma condição necessária para a existência do limite (11). As equações (14) são denominadas equações de Cauchy-Riemann para w = f (z). Se w = f (z) for continuamente derivável em Ω vem que u e v são soluções das equações (14). Uma condição suficiente para que w = f (z) seja derivável em Ω é que u e v sejam continuamente diferenciáveis e satisfaçam às equações de Cauchy-Riemann (14) em Ω. Quando uma função w = f (z) é continuamente derivável em Ω ela é denominada holomorfa em Ω. Do estudo das funções holomorfas, pode-se derivar (14) mais uma vez, obtendo-se de (14): ∂ 2u ∂ 2u + 2 =0 e ∂x2 ∂y (15) ∂ 2v ∂ 2v + = 0 em Ω ∂x2 ∂y 2 isto é, u e v são soluções da equação (8). Uma função u solução da equação (8) denomina-se harmônica. Logo, ficou provado que as partes real e imaginária de uma função holomorfa w = f (z) em Ω ⊂ C são harmônicas em Ω. Examina-se, a seguir, a obtenção de uma função holomorfa por meio das harmônicas, como fez Riemann em sua teoria das funções complexas. Seja Ω um aberto conexo do R2 e u: Ω → R uma função harmônica. Considera-se dois pontos (x0 , y0 ) e (x, y) de Ω e γ um arco de curva regular com extremos nestes pontos, cujo primeiro (x0 , y0 ) supõe-se fixo. Considere-se as funções P (x, y) = − e Q(x, y) = ∂u ∂y ∂P ∂Q ∂u . Sendo u harmônica, obtém-se = , provando que a forma ∂x ∂y ∂x diferencial P (x, y)dx + Q(x, y)dy é exata em Ω, isto é, existe w: Ω → R, continuamente diferenciável tal que dw = P dx + Qdy. Consequentemente a integral Z γ ∂u ∂u − dx + dy ∂y ∂x não depende de γ e apenas de (x, y) pois (x0 , y0 ) é suposto fixo. Logo, fica bem definida 96 a função: (16) Z v(x, y) = γ ∂u ∂u dx + dx − ∂y ∂x Considere-se γ a poligonal de vértices em (x0 , y0 ), (x, y0 ), (x, y). Logo, como a integral não depende do caminho γ e Ω é conexo, resulta: v(x, y) = − Z x x0 ∂u (ξ, y0) dξ + ∂y Z y y0 ∂u (x, η) dη. ∂x Obtém-se: ∂u ∂v =− ∂x ∂y (17) e ∂v ∂u = · ∂y ∂x Sendo u e v continuamente diferenciáveis em Ω e soluções das equações de CauchyRiemann (17), conclui-se que f (z) = u + iv é holomorfa em Ω ⊂ C. A função v denomina-se harmônica conjugada de u. Conclui-se, deste modo, a estreita relação entre as funções harmônicas e as funções holomorfas. ∂2 ∂2 + , denomina-se operador de Laplace ∂x2 ∂y 2 ou Laplaciano. Dizer que u é harmônica em Ω é equivalente a dizer que u é solução da O operador de segunda ordem ∆ = equação de Laplace ∆u = 0. FÓRMULAS DE GREEN Considere-se um par de funções reais u e v pertencentes a C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω). Um cálculo simples conduz à identidade: (18) ∂v ∂ ∂v ∂ u + u = ∇u · ∇v + u∆v ∂x ∂x ∂y ∂y 97 sendo ∇ϕ, gradiente de ϕ, o vetor ∂ϕ ∂ϕ . Se Γ for a fronteira regular de Ω e ν o , ∂x ∂y vetor unitário da normal externa a Γ, a derivada de v na direção da normal ν é dada por: ∂v ∂v ∂v = νx + νy , ∂ν ∂x ∂y (19) sendo (νx , νy ) as componentes do vetor unitário ν. Integrando-se (18) sobre Ω e empregando o Lema de Gauss, obtém-se: (20) Z Γ Z Z ∂v ∂v νx + u νy dΓ = ∇u · ∇v dxdy + u∆v dxdy. u ∂x ∂y Ω Ω Por meio da definição (19), modifica-se (20) obtendo-se: (21) − Z u∆v dxdy = Ω Z Ω ∇u · ∇v dxdy − Z u ∂v dΓ ∂ν Z v ∂u dΓ. ∂ν Γ denominada primeira fórmula de Green. Permutando-se u e v em (21), obtém-se: (22) − Z Ω v∆u dxdy = Z Ω ∇u · ∇v dxdy − Γ Multiplicando-se (21) por −1 e adicionando-se à (22), obtém-se: (23) Z ∂v ∂u (u∆v − v∆u) dxdy = u dΓ −v ∂ν ∂ν Ω Γ Z denominada segunda fórmula de Green. Proposição 1. Seja u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) harmônica em Ω. Então Z Γ ∂u dΓ = 0. ∂ν 98 Demonstração: Sendo ∆u = 0 em Ω, tomando-se v = 1 na primeira fórmula de Green (22), obtém-se a demonstração da Proposição 1. Proposição 2 (Propriedade da Média). Seja u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) harmônica em Ω e |z − z0 | < R um cı́rculo de raio R contido em Ω. Então o valor de u no centro do cı́rculo é igual à média dos valores de u sobre a circunferência |z − z0 | = R. Demonstração: Sem perda de generalidade suponha Ω contendo a origem e o cı́rculo com centro na origem, isto é, z0 = (0, 0). Sendo u harmônico, e γ a circunferência |z| = r, r ∈ (0, R), resulta da Proposição 1 que: Z (24) γ ∂u x(s), y(s) ds = 0. ∂ν Tem-se x = r cos θ, y = r sen θ e ds = r dθ, 0 < θ ≤ 2π. A normal ν à circunferência tem a direção do raio. Logo, de (24) obtém-se: Z 2π d u(r cos θ, r sen θ) dθ = 0, dr 0 0 < r < R. Integrando em r, obtém-se: Z R dr Z 2π 0 0 d u(r cos θ, r sen θ) dθ = 0. dr Permutando as integrais, obtém-se: Z 2π u(R cos θ, R sen θ) dθ = u(0, 0)2π. 0 Multiplicando por R ambos os membros, obtém-se: 1 u(0, 0) = 2πR Z γ u(x(s), y(s)) ds. 99 Considere-se uma função real de variável real ϕ = ϕ(x) e Ω o intervalo ]a, b[ da reta. Suponha ϕ harmônica em ]a, b[ , isto é, ϕ′′ (x) = 0 em ]a, b[ . Obtém-se ϕ explicitamente dada por ϕ(x) = αx + β, sendo α e β números reais. Note que o máximo ou mı́nimo de ϕ são assumidos na fronteira do intervalo ]a, b[ . Esta propriedade vale em geral para as funções harmônicas do plano R2 (ou do Rn !). De fato, suponha u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) harmônica em Ω e assumindo o seu valor mı́nimo em um ponto (x0 , y0 ) interior ao aberto Ω. Seja Cε um cı́rculo de raio ε centro em (x0 , y0 ) contido em Ω. Tem-se da propriedade da média que u(x, y) = u(x0 , y0 ) sobre toda circunferência de centro (x0 , y0 ) contido em Ω, pois 1 u(x0 , y0 ) = 2πǫ Z 1 u(x(s), y(s))ds ≥ 2πǫ γ Z u(x0 , y0 )ds = u(x0 , y0 ) . γ Então u ≡ u(x0 , y0 ) em um disco que toca a fronteira. Logo o mı́nimo de u em ∂Ω coincide com o mı́nimo de u em Ω, isto é, o mı́nimo de u é assumido na fronteira de Ω. Vemos, também, que se o mı́nimo é assumido no interior então o conjunto dos pontos em Ω em que u assume este valor é aberto. Como u é contı́nua, este conjunto também é fechado. Daı́, como Ω é conexo, conclui-se que u é constante em Ω.Análogo para o máximo. Tem-se u(x, y) > u(x0 , y0 ) para todo (x, y) em Ω − {(x0 , y0 )}. Logo, u(x, y) > u(x0 , y0 ) sobre a circunferência γ do cı́rculo Cε , isto é, Z u(x(s), y(s)) ds > 2πε u(x0 , y0 ). γ Dividindo-se por 2πε e empregando a Proposição 2, obtém-se uma contradição. Logo o mı́nimo de u não é assumido no interior de Ω. Análogo para o máximo. A seguir será estudado o problema da determinação de uma função harmônica no interior de um aberto Ω do plano sendo conhecidos seus valores sobre a fronteira Γ de Ω. Antes serão feitas algumas considerações fı́sicas que servirão de motivação. 100 De fato considere-se um fluido em um canal situado no R3 , fluindo com velocidade v. Note-se que v é um vetor que no instante t possui as componentes v1 , v2 , v3 , segundo um sistema de coordenadas ortogonais do R3 . O movimento será suposto irrotacional, isto é, a velocidade angular w = 1 2 rot v é nula em cada ponto. Quando o movimento do fluido é irrotacional existe uma função real ϕ tal que o vetor velocidade é o gradiente de ϕ em cada ponto do fluido, isto é, v = grad ϕ. Serão estudados movimentos cujo vetor velocidade é sempre paralelo a um plano fixo. Assim, limita-se o estudo ao movimento em um plano, que escolhe-se para plano de coordenadas (x, y). O vetor velocidade possui duas componentes v1 na direção x e v2 na direção y. Assim, v = grad ϕ ou v1 = ∂ϕ ∂x e v2 = ∂ϕ · ∂y Suponha que o fluido seja incompressı́vel, isto é, div v = 0 em cada ponto do fluido. Representando o fluido por um aberto Ω do plano R2 com coordenadas (x, y), tem-se div v = 0 é a equação: ∂v2 ∂v1 + = 0 em ∂x ∂y Ω. Sendo v = grad ϕ, deduz-se que se div v = 0 em Ω, então ∂2ϕ ∂2ϕ + =0 ∂x2 ∂y 2 em Ω, mostrando que ϕ é harmônica em Ω. O problema que se deseja resolver é o de determinar ϕ: Ω → R, sendo ∆ϕ = 0 em Ω e ϕ conhecida sobre Γ. Problema de Dirichlet - Seja Ω um aberto do R2 com fronteira regular Γ e g ∈ C 0 (Ω). O problema de Dirichlet consiste em determinar ϕ ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) tal 101 que: (25) ∆ϕ = 0 em ϕ = g e Γ Ω O problema de Dirichlet será aqui estudado pelo método de Green. Ele consiste em determinar uma função associada a Ω, denominada Função de Green do domı́nio Ω, de modo que se obtém a solução explicitamente no interior de Ω por meio de uma integral curvilı́nea ao longo da fronteira Γ de Ω, do produto de g pela derivada na direção da normal a Γ da função de Green de Ω. Foi visto que se w = f (z) for holomorfa em Ω então sua parte real é harmônica em Ω. Tem-se que log(z − z0 ) é holomorfa em Ω, sendo log(z − z0 ) = log |z − z0 | + i arg(z − z0 ). Do mesmo modo − log(z − z0 ). Representando por r = |z − z0 |, resulta que − log r ou 1 1 log é a parte real da função − log(z − z0 ) holomorfa em Ω − {z0 }, logo ∆ log = 0 r r em Ω − {z0 }. Considere um ponto (x0 , y0 ) no interior de Ω e seja Cε um cı́rculo de raio ε centro em (x0 , y0 ) contido em Ω, como na figura.] 102 1 é harmônica. A r fronteira de Ω′ é Γ + γ. Da segunda fórmula de Green (23) com u = ϕ solução de (25) 1 e v = log , obtém-se: r Z ∂ log r1 1 ∂ϕ ϕ dΓ = 0 − log ∂ν r ∂ν Γ+γ Seja γ a circunferência de Cε e Ω′ = Ω − Cε . Em Ω′ a função log ou (26) Z Z ∂ log 1r ∂ log 1r 1 ∂ϕ 1 ∂ϕ − ϕ dΓ = ϕ dΓ. − log − log ∂ν r ∂ν ∂ν r ∂ν γ Γ Cálculo da Integral no Membro da Direita de (26). Sobre a circunferência γ tem-se: d log 1ε ∂ log 1r 1 = = − · ∂ν γ dε ε 103 Sendo ds = ε dθ, obtém-se: Z Z ∂ϕ 1 1 ϕ ds − log ds = Iε = − ε γ ε γ ∂ν Z Z 2π ϕ(x0 + ε cos θ, y0 + ε sen θ) dθ + ε log ε =− 2π 0 0 ∂ϕ dθ. ∂ν Sendo ϕ ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω), e lim ε log ε = 0, obtém-se: ε→0 (27) lim Iε = − ε→0 Z 2π ϕ(x0 , y0 ) dθ = −2π ϕ(x0 , y0 ). 0 Logo, quando ε → 0 em (26) obtém-se: (28) 1 ϕ(x0 , y0 ) = − 2π Z Γ ∂ log ∂ν 1 r 1 ∂ϕ ϕ − log r ∂ν dΓ. ∂ϕ sobre Γ. Aqui tem-se ∂ν uma situação semelhante a encontrada quando se analisou a função de Riemann no Note que de (23) sabe-se que ϕ = g em Γ mas se desconhece método de Riemann na seção 2. De fato, seja h ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) harmônica em Ω. Tomando-se h e ϕ obtém-se da segunda identidade de Green: 1 0=− 2π (29) Z ∂h ∂ϕ ϕ dΓ. −h ∂ν ∂ν Γ Adicionando-se (28) com (29), resulta: (30) 1 ϕ(x0 , y0 ) = − 2π Z Γ ∂ log r1 1 ∂h ∂ϕ ϕ − log + h dΓ. + ∂ν ∂ν r ∂ν Em (30) procede-se como no caso da função de Riemann acima lembrado. Para libertar (28) da derivada normal ∂ϕ , é suficiente determinar a função harmônica h tal que ∂ν h + log 1 =0 r em Γ. 104 A função harmônica h(x, y) + log 1r denomina-se função de Green no domı́nio Ω. Conhecida a função de Green em Ω, a solução do problema de Dirichlet (25) é obtida, explicitamente, em cada ponto (x0 , y0 ), interior à Ω, pela fórmula: (31) 1 ϕ(x0 , y0 ) = − 2π Z g Γ ∂G dΓ. ∂ν Seja Ω um aberto conexo com fronteira regular Γ e P = (x0 , y0 ) um ponto de Ω. Define-se como função de Green em Ω a uma função real GP satisfazendo às equações: i) GP (x, y) = log 1r + h(x, y) em Ω − {P } ii) GP (x, y) = 0 em Γ iii) GP é duas vezes continuamente diferenciável em Ω − {P }, contı́nua em Ω − {P } e harmônica em Ω − {P }. A seguir usando-se o método de Green, resolve-se o problema de Dirichlet (25) quando Ω é um cı́rculo, encontrando-se a fórmula de Poisson. FUNÇÃO DE GREEN NO CÍRCULO Considere-se um cı́rculo Ω de raio R e centro na origem O. Seja P um ponto interior ao cı́rculo e P ′ o seu inverso, isto é, OP × OP ′ = R2 . 105 Deseja-se calcular o valor da solução ϕ do problema de Dirichlet em P . Represente por Ω o cı́rculo e por γ sua circunferência. Seja M um ponto qualquer do cı́rculo Ω. Considere-se as medidas: rP = M P, rP ′ = M P ′ , r = OP, r ′ = OP ′ . Verifica-se, a seguir, que a função de Green para o cı́rculo Ω é dada por: 1 − log GP (M ) = log rP (32) R 1 , r rP ′ sendo O o centro do cı́rculo, isto é, (0, 0) e M um ponto de coordenadas (x, y) no cı́rculo. Tem-se h(x, y) = − log R 1 − log é definida em Ω − {P } o mesmo acontecendo r rP ′ 1 · Portanto GP definida por (32) satisfaz à condição (i) da definição de função rP de Green. com log Antes de verificar a condição (ii) obtém-se que GP dada por (32) satisfaz a (iii). Para verificar a (iii), suponha M sobre a circunferência γ de Ω e considerese os triângulos OM P e OM P ′ . Sendo P ′ o inverso de P em relação a γ tem-se OP × OP ′ = R2 . Logo, os triângulos possuem um ângulo igual em O compreendido entre lados proporcionais, sendo, por este motivo, semelhantes. Daı́ obtém-se: rP r = ′ rP R ou R 1 1 = · rP r rP ′ Daı́ resulta que GP = 0 sobre γ, verificando a condição (iii). Assim GP é uma função de Green no cı́rculo Ω. A seguir calcula-se (31) no caso do cı́rculo Ω sendo a função de Green dada por GP (M ) = log R 1 1 − log · rP r rP ′ 106 Deve-se calcular ϕ(P ). Para tal, considere-se um sistema de coordenadas polares com pólo no centro O de Ω, com eixo polar o suporte de OP . Sejam (ρ, α) as coordenadas polares de M neste sistema. Do triângulo OM P obtém-se: rP2 = ρ2 + r 2 − 2ρr cos α e do triângulo OM P ′ resulta rP2 ′ = ρ2 + r ′2 − 2ρr ′ cos α. Sendo OP × OP ′ = R2 ou rr ′ = R2 , obtém-se: rP2 ′ = ρ2 + R2 R4 − 2ρ cos α. r2 r A direção da normal a γ coincide com a do raio. Logo, ∂ 1 drP ρ − r cos α log rP = = ∂ρ rP dρ rP2 2 ρ − Rr cos α ∂ log rP ′ = · ∂ρ rP2 ′ Daı́, obtém-se para ∂GP , em γ: ∂ν 2 ∂GP r 2 R − Rr cos α R − r cos α + 2 =− ∂ν γ rP2 R rP2 ou, substituindo-se rP2 encontra-se: −R2 + r 2 1 ∂G = · ∂ν γ R R2 + r 2 − 2Rr cos α 107 Encontra-se para solução do problema de Dirichlet no cı́rculo de raio R, a solução explı́cita: R2 − r 2 ϕ(x0 , y0 ) = 2π (33) Z 2π 0 g(Rcosα, Rsenα)dα , R2 + r 2 − 2Rr cos α sendo (x0 , y0 ) as coordenadas de P no interior de Ω, r a distância de P ao centro e α o ângulo polar de OM , para M ∈ γ. A expressão (33) denomina-se fórmula de Poisson para o problema de Dirichlet no cı́rculo Ω. Retornando-se ao Problema de Dirichlet (25), provar-se-á que a solução é única. De fato, suponha-se que existam duas soluções ϕ1 e ϕ2 do problema (25). Resulta que a função ϕ b = ϕ1 − ϕ2 é solução de ∆ϕ b = 0 em Ω e ϕ b = 0 em Γ. Daı́ resulta, da primeira fórmula de Green, que ϕ b é a função nula em Ω ou ϕ1 = ϕ2 . PROBLEMA DE NEUMANN NO CÍRCULO Como anteriormente, Ω representa um cı́rculo de raio R centro na origem e circunferência fronteira γ. O problema de Neumann consiste em determinar uma função ∂ϕ em γ. Simbolicamente harmônica ϕ em Ω quando é conhecida a derivada normal ∂ν tem-se: (34) ∆ϕ = 0 em Ω ∂ϕ = h em γ ∂ν Considere-se coordenadas polares (r, θ) e obtém-se para expressão do Laplaciano: ∆ϕ(r, θ) = 1 ∂ 2ϕ ∂ 2 ϕ 1 ∂ϕ + + · ∂r 2 r ∂r r 2 ∂θ 2 108 Considere-se v(r, θ) harmônica em Ω e nula para r = 0, isto é, ∂ ∂v 1 ∂ 2v r + = 0 em ∂r ∂r r 2 ∂θ 2 v(0, θ) = 0 (35) Ω De posse desta função, defina-se uma nova por: ϕ(r, θ) = Lema 1. Z r 0 v(ρ, θ) dρ. ρ ϕ(r, θ) é harmônica em Ω. Demonstração: De fato, tem-se: (36) ∂ϕ v(r, θ) = ∂r r e ∂ 2ϕ v(r, θ) 1 ∂v(r, θ) = − + ; ∂r 2 r2 r ∂r ∂ 2ϕ = ∂θ 2 Z 0 r ∂ 2 v(ρ, θ) dρ. ∂θ 2 Daı́ resulta que 1 ∆ϕ(r, θ) = 2 r Z r 0 ∂ ∂v 1 ∂ 2v ρ + dρ, ∂ρ ∂ρ ρ ∂θ 2 sendo zero porque v harmônica. Em (34) sendo ϕ harmônica em Ω, sua derivada normal possui a integral sobre γ igual a zero, cf. Proposição 1. Logo, o dado na fronteira h ∈ C 0 (Ω) deve ser tal que Z (37) 2π h(α) dα = 0. 0 Para resolver o problema de Neumann (34), considera-se o seguinte problema de Dirichlet: (38) ∆ψ = 0 em Ω ψ = Rh(α) em γ 109 Obtém-se a solução de (38) por meio da fórmula de Poisson (33), isto é: Z R(R2 − r 2 ) ψ(r, θ) = 2π (39) 2π R2 0 h(α)dα · + r 2 − 2Rr cos α Daı́, conclui-se que ψ(r, θ) assim obtida é harmônica em Ω e R ψ(0, θ) = 2π Z 2π h(α) dα = 0 0 por (37). Logo, a função (40) ϕ(r, θ) = Z 0 r ψ(ρ, θ) dρ + c ρ é solução do problema de Neumann (34). De fato, foi visto que ∆ϕ = 0 em Ω. Resta apenas examinar a derivada normal de ϕ, dada por (40), ao longo de γ. Tem-se: Rh(α) ∂ϕ ∂ϕ v(r, θ) v(r, θ) = = h(α). = = = ∂ν γ ∂r r=R r R R r=R De (40) e (39) obtém-se a fórmula de Poisson para o problema de Neumann (34). OBSERVAÇÕES SOBRE A FUNÇÃO DE GREEN Para salientar uma vez mais a relação entre as funções harmônicas no plano R2 e as funções holomorfas em C, dar-se-á mais um método geral para o cálculo da função de Green, no caso de um aberto limitado conexo Ω do R2 . Representa-se por Γ sua fronteira regular. Foi visto anteriormente que resolver o problema de Dirichlet (25) em Ω consiste em conhecer uma função de Green em Ω. Pensa-se em Ω como um 110 aberto de plano complexo C. Demonstra-se que existe uma função holomorfa w = f (z) transformando, de modo biunı́voco e conforme, Ω em uma cı́rculo unitário C1 com centro na origem, de modo que um ponto zP de Ω se transforma no centro de C1 e Γ na circunferência γ de C1 . [Consulte-se L.A. Medeiros, Funções Complexas, McGraw Hill do Brasil, 1972]. Interpreta-se geometricamente w = f (z) como uma transformação de um plano cuja variável é z = x+iy em outro cuja variável é w = u(x, y)+iv(x, y), como vem salientado na figura. Suponha zP o ponto de Ω tal que f (zP ) = 0. Logo f (z) = (z − zP )F (z), sendo F (z) holomorfa em Ω. Sendo f ′ (zP ) 6= 0, pois f é invertı́vel, obtém-se: f ′ (z) = F (z) + (z − zP )F ′ (z) implicando em F (zP ) 6= 0. A função GP (x, y) = − log |f (z)| 111 é uma função de Green em Ω. De fato, tem-se: i) GP (x, y) = − log |z − zP | − h(x, y), sendo h(x, y) = log |F (z)|, que é harmô- nica, por ser a parte real da função holomorfa log F (z). ii) GP (x, y) = 0 para (x, y) ∈ Γ. Isto porque se z ∈ Γ tem-se f (z) ∈ γ isto é, |f (z)| = 1 e o log |f (z)| = 0. iii) GP é duas vezes continuamente derivável em Ω−{zP }, contı́nua em Ω−{zP } e harmônica em Ω − {zP }. Reciprocamente, suponha conhecida a função de Green de Ω, isto é, GP (x, y) = log 1 + h(x, y). |z − zP | Demonstrar-se-á que existe uma w = f (z) holomorfa em Ω, transformando Ω em C1 de bP (x, y) a função modo biunı́voco tal que f (zP ) = 0, zP ∈ Ω e f (Γ) = γ. De fato, seja G harmônica conjugada de GP (x, y). Resulta que bP ) f (z) = e−(GP +iG é holomorfa em Ω ⊂ C. Mostrar-se-á que f satisfaz as condições requeridas. Se z = x +iy ∈ Γ, sendo GP (x, y) = 0, pois GP é função de Green para Ω, tem-se bP (x,y) f (z) = e−iG logo |f (z)| = 1. Cálculo de f (zP ). Tem-se bP (x,y) · e f (z) = e−(h(x,y)+iG − log 1 |z−zP | . Sendo a primeira parcela limitada, vem f (zP ) = lim f (z) = 0, z→zP provando que zP tem como imagem por f o centro do cı́rculo. 112 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1. Denomina-se exponencial complexa a função f : C → C, holomorfa, solução da equação diferencial df =f dz (1) em C e f (z) = ex , para z ∈ R. Determine a solução f do problema acima. SOLUÇÃO: De fato, seja f (z) = u(x, y) + iv(x, y), holomorfa em C. Tem-se f ′ (z) = i ∂u + ∂x ∂v · Logo sendo solução de (1), resulta: ∂x ∂v ∂u +i = u + iv. ∂x ∂x Obtém-se, daı́, ∂u =u e ∂x ∂v =v ∂x para (x, y) ∈ R2 . Da primeira equação obtém-se (3) u(x, y) = ex h(y) sendo h duas vezes continuamente derivável. Substituindo na equação de CauchyRiemann ∂v ∂u = , ∂y ∂x 113 notando-se que ∂v = v, obtém-se ∂x v = ex (4) dh(y) · dy Substituindo-se (3) e (4) na equação de Cauchy-Riemann ∂u ∂v = , ∂x ∂y obtém-se a equação diferencial ordinária: h′′ (y) + h(y) = 0, cuja solução geral é: h(y) = a cos y + b sen y, a e b constantes. Portanto escreve-se: (5) u(x, y) = ex h(y) = ex (a cos y + b sen y) v(x, y) = ex h′ (y) = ex (a sen y − b cos y) Pela condição (2) tem-se f (x) = ex quando y = 0, isto é, (6) u(x, 0) = ex , v(x, 0) = 0. De (5) e (6) conclui-se que a = 1 e b = 0. Logo obtém-se: u(x, y) = ex cos y e v(x, y) = ex sen y. Consegüintemente, a solução de (1) e (2) holomorfa em C é: (7) f (z) = ex (cos y + i sen y) 114 para todo z ∈ C. Verifica-se que f dada por (7) é solução da equação funcional f (z1 + z2 ) = f (z1 ) + f (z2 ) para par z1 , z2 ∈ C. Representa-se a função exponencial dada por (7) por f (z)ez , z = x + iy. portanto, ez = ex (cos y + i sen y), e quando x = 0, obtém-se: eiy = cos y + i sen y denominada fórmula de Euler. 2. Seja f : C → C definida por f (z) = a0 + a1 z + · · · + an z n onde ai ∈ C; i = 1, . . . , n. Provar que Re f e Im f respectivamente parte real de f e parte imaginária de f são funções harmônicas em R2 . SOLUÇÃO: Bastaria provar que f é holomorfa em todo C, para isso será suficiente provar que g(z) = z n é holomorfa pois a combinação linear de funções holomorfas é holomorfa. Como lim z→z0 g(z) − g(z0 ) z n − z0n = lim = z→z0 z − z0 z − z0 = lim z n−1 + z n−2 z0 + · · · + z0n−1 = z→z0 = n z0n−1 . Logo ∀ z0 ∈ C 3. ∃ g ′ (z0 ) e g ′ (z0 ) = n z0n−1 . Então, g é holomorfo e f também. Determine duas funções u(x, y) e v(x, y) que sejam polinômios de grau 4 e harmô- nicas em R2 . 115 SOLUÇÃO: Pelo exercı́cio 2, f (z) = z 4 tem parte real e imaginária harmônicas. Tem-se: f (z) = u + iv = (x + iy)4 onde z = x + iy u + iv = x4 + y 4 − 6x2 y 2 + i(4x3 y − 4xy 3 ) Pode-se considerar u(x, y) = x4 + y 2 − 6x2 y 2 4. e v(x, y) = 4x3 y − 4xy 3 . Determine as funções harmônicas em R2 dada pela parte real e imaginária das seguintes funções holomorfas: (i) f (z) = ez ; (ii) f (z) = z 3 + 2z; (iii) f (z) = z e−z . SOLUÇÃO: (i) f (z) = u + iv = ex+iy onde z = x + iy = ex (cos y + i sen y) = ex cos y + i ex sen y. Logo, u(x, y) = ex cos y (ii) e v(x, y) = ex sen y. f (z) = u + iv = (x + iy)3 + 2(x + iy) = (x3 − 3xy 3 + 2x) + i(3x2 y − y 3 + 2y) Logo, u(x, y) = x3 − 3xy 3 + 2x e v(x, y) = 3x2 y − y 3 + 2y 116 são as funções harmônicas procuradas. f (z) = u + iv = (x + iy)e−(x+iy) (iii) = e−x (x cos y + y sen y) + ie−x (y cos y − x sen y). Logo, u(x, y) = e−x (x cos y + y sen y) e v(x, y) = e−x (y cos y − x sen y). 5. Seja u(x, y) = x2 − y 2 + 4x uma função harmônica em R2 . Determine v tal que f (x + iy) = u(x, y) + iv(x, y) seja holomorfa em C. SOLUÇÃO: Como as equações de Cauchy-Riemann devem verificar, tem-se (i) ∂u ∂v =− = 2y ∂x ∂y (ii) ∂v ∂u = = 2x + 4 ∂y ∂x De (i), integrando em x, tem-se v(x, y) = 2xy + F (y). Derivando em relação a y e igualando a (ii), tem-se: 2x + F ′ (y) = 2x + 4. Então F (y) = 4y + C e v(x, y) = 2xy + 4y + C, sendo C uma constante real qualquer. 6. Seja u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) harmônica em Ω. Provar que: 2 Z Ω 2 u|∇u| dxdy = Z Γ u2 ∂u dΓ. ∂γ 117 SOLUÇÃO: Considere u e v como u2 e u respectivamente na primeira fórmula de Green (21). 7. Seja u, v ∈ C 4 (Ω) ∩ C 3 (Ω). Provar que: Z ∂∆v dΓ = ∆u ∂γ Γ Z ∆v Γ ∂∆u dΓ. ∂γ SOLUÇÃO: Considere u e v como ∆u e ∆v respectivamente na segunda fórmula de Green (23). 8. No gráfico abaixo, tem-se γγ ′ = R2 . Usando vetores, provar que SOLUÇÃO: Sejam ~u e ~v os vetores unitários → → ~u = OM → ||OM|| e ~v = OP → ||OP || · Então: ~γP = R ~u − γ~v e ~γP ′ = R~u − γ ′~v . γ γP = · γP ′ R 118 Logo: |~γP2 | = γP2 = R2 − 2Rγ~u · ~v + γ 2 |~γP ′ |2 = γP2 ′ = R2 − 2Rγ ′~u · ~v + (γ ′ )2 Donde γP2 − γR2 γ 2 2 2 γ − γγ ′ = 0 pois γ − γ ′ = R2 = R + γ − ′ γ′ P γ′ ou seja: γP2 γ = ′ 2 γP ′ γ Então: 9. ou γ γP = como querı́amos provar. γP ′ R γ γ2 = · γ′ R2 Seja u(x, y) = x2 − y 2 . (i) Verifique que u é solução do problema em ∆u(x, y) = 0 u(x, y) = 2x2 − 1 em onde Ω ∂Ω Ω = (x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 < 1 . (ii) Usando a fórmula (33) e (i) deduzir que (a) Z 0 2π cos 2α dα = 0. 3 − 2 cos α − 2 sen α (b) Z 0 2π cos 2α dα 2π − 5 − 4 cos α 3 119 SOLUÇÃO: (i) É trivial. (ii) Como u é solução do problema de Dirichlet no cı́rculo, pela fórmula (33) tem-se 1 − (x2 + y 2 ) x −y = 2π 2 2 (a) Considerando x = y = 0 2π 1+ x2 + y2 cos 2α dα · − 2x cos α − 2y sen α 1 na fórmula anterior, tem-se 2 Z 0 (b) Considerando x = Z 2π cos 2α dα = 0. 3 − 2 cos α − 2 sen α 1 e y = 0 na fórmula anterior, tem-se 2 Z 2π 0 cos 2α dα 2π = · 5 − 4 cos α 3 120 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Determine os polinômios de grau 3, 5, e 7 que sejam harmônicos em R2 . Resposta: De grau 3, considere u(x, y) = x3 − 3xy 2 e v(x, y) = 3x2 y − y 3 ; de grau 5, considere u(x, y) = x5 − 10x3 y 2 + 5xy 4 e v(x, y) = 5x4 y − 10x2 y 3 + y 5 . 2. Determine as funções harmônicas conjugadas associadas às funções harmônicas seguintes: (i) u(x, y) = x e−x cos y + ye−x sen y (ii) u(x, y) = x3 − 3xy 2 + 2x (iii) u(x, y) = ex cos y (iv) u(x, y) = x3 − 3xy 2 (v) u(x, y) = x5 − 10x3 y 2 + 5xy 4 Respostas: 3. (i) v(x, y) = ye−x cos y − xe−x sen y (ii) v(x, y) = 3x2 y − y 3 + 2y (vi) v(x, y) = 5x4 y − 10x3 y 3 + y 5 Seja u ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) harmônica em Ω. Provar que Z nu Ω Sugestão: Ver o exercı́cio 6. n−1 2 |∇u| dxdy = Z Γ un ∂u dΓ. ∂γ 121 4. No gráfico abaixo tem-se (ρ, α) coordenadas polares de M e (γ, θ) coordenadas polares de P . Usando vetores, mostre que: γP2 = ρ2 + γ 2 − 2ργ cos(α − θ) γP2 ′ = ρ2 − γ′2 − 2ργ ′ cos(α − θ) 5. Sabendo que u(x, y) = 2xy é harmônica, provar que Z 0 Sugestão: Ver o exercı́cio 9. 2π sen 2α dα = π. 3 − 2 cos α − 2 sen α 122 123 4. EQUAÇÕES PARABÓLICAS Da classificação feita no Capı́tulo 1, tem-se que as equações diferenciais parciais do tipo parabólico, lineares, no plano R2 possuem a forma canônica: (1) Lu = ∂u ∂ 2 u − = f (x, y). ∂t ∂x2 Entre outras interpretações fı́sicas, a equação (1) modela o fluxo de temperatura em um fio metálico. O problema de Cauchy para (1) formula-se a seguir. Fio de Comprimento Finito - Sejam L > 0 e u0 (x) uma função real contı́nua e limitada em 0 < x < L. T é um número real positivo. Encontrar u(x, t), função real, definida em 0 < x < L, 0 < t < T , satisfazendo às condições: (2) 0 < x < L, 0 < t < T ut = uxx , u(x, 0) = u0 (x), 0<x≤L u(0, t) = u(L, t) = 0, 0 ≤ t ≤ T Fio de Comprimento Não Finito - A função u0 (x) é contı́nua e limitada em −∞ < x < +∞. Encontrar u(x, t) definida no semiplano −∞ < x < +∞ e 0 < t < ∞, satisfazendo às condições: (3) ut = xxx , u(x, 0) = u0 (x), − ∞ < x < +∞, 0 < t < +∞ − ∞ < x < +∞ 124 No caso de fio de comprimento finito, para resolver o problema (2), emprega-se o argumento de séries de Fourier que surge naturalmente como uma imposição do método de separação de variáveis. De fato, suponha que se deseje encontrar uma solução u(x, t) de (2) da forma u(x, t) = X(x)Y (t) isto é, com as variáveis separadas. Substituindo-se na equação (2), obtém-se a condição para determinar X(x), Y (t), isto é, X ′′ (x) Y ′ (t) = = −λ2 Y (t) X(x) para todo x e t. Daı́ obtém-se: Y ′ (t) + λ2 Y (t) = 0, cuja solução geral é 2 Y (t) = c e−λ t . Para obter X encontra-se a equação X ′′ (x) + λ2 X(x) = 0, com condições na fronteira dadas por X(0) = X(L) = 0, que resultam da condição de contorno em (2). A solução geral desta equação diferencial ordinária é: X(x) = A cos λ x + B sen λ x. As constantes devem ser determinadas pelas condições X(0) = X(L) = 0. Encontra-se: A=0 e λn = nπ , L n = 1, 2, . . . . 125 Obtém-se uma sucessão de soluções particulares dadas por: un (x, t) = Bn e−λn t sen nπx , L n = 1, . . . . Sendo linear o problema (2), conclui-se que as somas finitas também são soluções, isto é: n X Bn e−λn t sen ν=1 nπx , L é uma solução. A solução geral seria o limite quando n → ∞. Para tal, supõe-se que u0 (x) foi estendida de forma ı́mpar ao intervalo ] − L, L[ e aı́ possui uma série de Fourier convergente. Com esta hipótese calcula-se por meio de u0 (x) os coeficientes Bn , isto é, 2 Bn = L (4) Z L u0 (x) sen 0 nπx dx. L Conclui-se que a solução de (2) é obtida por meio da série (5) u(x, t) = ∞ X n=1 Bn e−λn t sen nπx L cujos coeficientes são dados por (4). Para o caso de comprimento não finito, o método de separação de variáveis não funciona bem. Para constatar, é suficiente proceder como no caso finito para deduzir não ser possı́vel a determinação de uma coleção enumerável de λn . (Consulte-se L.A. Medeiros - N.G. Andrade, Iniciação às Equações Diferenciais Parciais, LTC - Rio de Janeiro, RJ, 1978). Por meio da tentativa de obter a solução no caso de comprimento não finito pelo caso finito, o método sugere o emprego da transformada de Fourier (no caso em que 126 −∞ < x < +∞, ou seja, um fio infinito) ou da transformada de Laplace (no caso em que 0 < x < +∞, que se denomina fio semi-infinito, para distinguı́-lo do caso anterior), ao invés da série de Fourier. Do ponto de vista filosófico, tudo resulta do fato que o d2 não é mais enumerável no caso de comprimento não dx2 finito. Para uma compreensão deste ponto, necessário seria o estudo da teoria espectral espectro do operador derivada dos operadores, o que será feito posteriormente. Retornando ao caso de comprimento não finito, procede-se de modo puramente formal com a hipótese de que as operações de integração a serem feitas sejam permissı́veis. Multiplica-se, então, ambos os membros da equação em (3) por e−iσx e integra-se em −∞ < x < +∞, obtendo-se Z (6) +∞ −iσx e ut (x, t) dx = −∞ Z +∞ e−iσx uxx (x, t) dx. −∞ Tem-se (7) Z +∞ −iσx e −∞ ∂ ut (x, t) dx = ∂t Z +∞ e−iσx u(x, t) dx = vt (σ, t), −∞ representando-se por (8) v(σ, t) = Z +∞ e−iσx u(x, t) dx, −∞ denominada a Transformada de Fourier da função u(x, t), denotada por F [u(x, t)]. Demonstra-se que (9) F [uxx (x, t)] = −σ 2 F [u(x, t)]. De (7), (8), (9), a equação (6) reduz-se à equação ordinária: (10) vt (σ, t) = −σ 2 v(σ, t). 127 Encontra-se a condição inicial para (10), observando-se que, de (8) tem-se: v(σ, 0) = Z +∞ −∞ e−iσx u(x, 0) dx = F [u0 (x)]. Logo, fazendo-se (11) v0 (σ) = v(σ, 0) = F [u0 (x)] = Z +∞ e−iσx u0 (x) dx −∞ tem-se que a condição inicial de (10) é, de modo natural: (12) v(σ, 0) = v0 (σ). A solução de (10) e (12) é: 2 v(σ, t) = e−σ t v0 (σ). Sabe-se, do estudo da transformada de Fourrier, que: −σ 2 t e 2 1 − x4t . =F √ e 4πt Logo, (13) 2 1 − x4t v(σ, t) = F √ e · F [u0 (σ)]. 4πt Observação. Dadas as funções u e v, denomina-se convolução de u com v, a função u ∗ v definida por: (u ∗ v)(x) = Prova-se que F [u ∗ v] = F (u) · F (v). Z +∞ −∞ u(ξ)v(x − ξ) dξ. 128 Aplicando a observação acima à igualdade (13), obtém-se: (14) 2 1 − x4t v(σ, t) = F √ ∗ u0 (x) . e 4πt Sendo, por (8), v(σ, t) = F [u(x, t)], obtém-se de (14) 2 1 − x4t ∗ u0 (x) . F [u(x, t)] = F √ e 4πt Sendo F invertı́vel e a operação de convolução comutativa, obtém-se a solução de (3), fio de comprimento infinito: (15) 1 u(x, t) = √ 4πt Z +∞ e −(x−ξ)2 4t u0 (ξ) dξ −∞ denominada fórmula de Poisson, para solução do problema (3). Observação. A convolução de duas funções v(x) e w(x) satisfaz a seguinte propriedade: se v é contı́nua e limitada e w é infinitamente derivável para x ∈ R, então v ∗ w é ∂k ∂kw (v∗w) = v∗ · Tal fato decorre diretamente ∂xk ∂xk da definição e de resultados de convergência de integrais impróprias. infinitamente derivável para x ∈ R e −x2 e 4t Aplicando o resultado acima às funções v(x) = u0 (x) e w(x, t) = √ e obser4πt vando que w ∈ C ∞ (R × (0, ∞)), isto é, w ∈ C ∞ (R × (ε, ∞)), para todo ε > 0, obtém-se, de (15), u ∈ C ∞ (R × (0, ∞)) e ut = uxx . Como, por hipótese, |u0 (x)| ≤ M em R, para algum M > 0, tem-se |u(x, t)| ≤ M Z ∞ −∞ −ξ2 e 4t √ dξ = M. 4πt 129 Esta limitação será usada para mostrar que, para cada x0 ∈ R, lim (x,t)→(x0 ,0+ ) u(x, t) = u0 (x0 ). Com efeito, seja δ > 0. Suponha |(x, t) − (x0 , 0)| < δ, com t > 0. Da continuidade de u0 , resulta que, para cada ε > 0 existe δ1 > 0 tal que (16) ε , 2 |u0 (x) − u0 (x0 )| < para todo |x − x0 | < δ1 . Tem-se então que: (17) |u(x, t) − u0 (x0 )| ≤ |u(x, t) − u0 (x)| + ε · 2 Por outro lado, como (18) Z +∞ −∞ −ξ2 e 4t √ dξ = 4πt Z +∞ −∞ e −(x−ξ)2 4t √ 4πt dξ = 1, tem-se (19) |u(x, t) − u0 (x)| ≤ Z ∞ −∞ −y 2 e 4t √ |u0 (x − y) − u0 (x)| dy. 4πt Como u0 ∈ C 0 (R) tem-se u0 uniformemente contı́nua em compactos de R, logo, se ε |x − x0 | ≤ δ1 , tem-se que existe η > 0 tal que, se |y| < η, então |u0 (x − y) − u0 (x)| < · 4 Assim (19) pode ser reescrita da forma |u(x, t) − u0 (x)| ≤ Z −y 2 |y|≥η e 4t ε √ |u0 (x − y) − u0 (y)| dy + 4 4πt Z Utilizando-se novamente (18) e a limitação de u0 , encontra-se (20) |u(x, t) − u0 (x)| ≤ 2M Z −y 2 |y|≥η e 4t ε √ dy + · 4 4πt |y|<η −y 2 e 4t √ dy. 4πt 130 Efetuando mudança de variável conveniente e lembrando que a integral converge, tem-se Z −y 2 |y|≥η e 4t √ dy = 4πt Z |s|≥ 2 n √ t R∞ −∞ 2 e−s ds √ 2 e−s ε 2π √ dx ≤ π 8M desde que t ≤ δ2 , onde δ2 depende apenas de η e de ε. Substituindo-se em (20), e, em seguida, substituindo-se (20) em (17), obtém-se finalmente que |u(x, t) − u0 (x0 )| ≤ ε, para todo (x, t) tal que |(x, t) − x0 , 0)| ≤ δ, t > 0, desde que δ ≤ min{δ1 , δ2 }. Foi provado então o seguinte resultado de existência de soluções: Teorema 1. Se u0 ∈ C 0 (R), u0 limitada, então a função (21) Z +∞ −(x−ξ)2 1 4t √ e u0 (ξ) dξ, u(x, t) = 4πt −∞ u (x), se x ∈ R, t = 0 0 se x ∈ R, t > 0 é solução de (3). Além disso, u ∈ C ∞ (R × (0, ∞)) ∩ C 0 (R × [0, ∞)). Deve-se chamar a atenção para esta propriedade importante da solução: mesmo com dado inicial u0 apenas contı́nuo e limitado, a solução se torna completamente regular para t > 0 ! Tal propriedade é conhecida como efeito regularizante. EQUAÇÃO NÃO HOMOGÊNEA Dada u0 (x) contı́nua e limitada em R e h(x, t) contı́nua e limitada em R × [0, ∞), encontrar u(x, t), definida no domı́nio −∞ < x < +∞, 0 ≤ t < +∞, limitada, solução 131 do problema: ut = uxx + h, −∞ < x < +∞, t > 0 u(x, 0) = u (x), −∞ < x < +∞ 0 u ∈ C 2 (R × (0, ∞)) ∩ C 0 (R × [0, ∞)) (22) Observe que, como se trata de um problema linear, pondo u = v + w, onde v satisfaz (3) e w é solução de wt = wxx + h, −∞ < x < +∞, t > 0 w(x, 0) = 0, −∞ < x < +∞ w ∈ C 2 (R × (0, ∞)) ∩ C 0 (R × [0, ∞)) (23) resulta que u é solução de (22). Logo, basta considerar o problema (23). Embora o problema (23) seja resolvido com auxı́lio da transformada de Fourier, será empregado um método semelhante ao de variação de parâmetros ou de Lagrange, para resolver equações diferenciais ordinárias lineares não homogêneas. Este método no caso de equações diferenciais parciais lineares denomina-se Princı́pio de Duhamel. Já foi aplicado no Capı́tulo 2 sobre Equações Hiperbólicas. Princı́pio de Duhamel: Seja h ∈ C(R × [0, +∞)), h limitada. Se, para cada s > 0, z(x, t, s) é solução do problema (24) então w(x, t) = Rt 0 zt = zxx , −∞ < x < +∞, t > 0 z(x, 0, s) = h(x, s), −∞ < x < +∞ z ∈ C 2 (R × (0, ∞)) ∩ C 0 (R × [0, ∞)) z(x, t − s, s) ds é solução de (23). Demonstração: Tem-se w(x, 0) = 0 da definição de w. Da regra de Derivação de 132 Leibniz, tem-se wt (x, t) = z(x, 0, t) + Z 0 t dz (x, t − s, s) ds. ∂t Utilizando-se (24) encontra-se wt (x, t) = h(x, t) + Z t 0 zxx (x, t − s, s) ds = h(x, t) + wxx (x, t), em R × (0, ∞). A regularidade de w decorre da regularidade de z. Utilizando-se então o Princı́pio de Duhamel para resolver o problema (23) e, notando que a solução de (24) é a mesma do problema (3), dada pela fórmula de Poisson (15), encontra-se a solução procurada (25) w(x, t) = Z tZ 0 +∞ −∞ (x−ξ)2 e− 4(t−s) p h(ξ, s) dξ ds. 4π(t − x) Fio de Comprimento Semi-Infinito – A função u0 (x) é contı́nua e limitada em 0 < x < ∞ e a função h(t) é contı́nua e limitada em 0 < t < ∞. Encontrar u(x, t), definida no domı́nio 0 < x < ∞ e 0 < t < ∞, u(x, t) limitada, satisfazendo às condições abaixo: (26) ut = uxx , 0 < x < ∞, u(x, 0) = u0 (x), x ≥ 0 u(0, t) = h(t), t ≥ 0 t>0 No caso particular em que h(t) = 0, ∀ t > 0, sendo u0 (0) = 0, estendendo u0 de forma ı́mpar a toda reta pode-se utilizar a solução já obtida para o caso do fio infinito, para encontrar a solução de (26). Considere-se agora o caso particular em que u0 (x) = 0, 133 para todo x > 0, isto é ut = uxx , 0 < x < ∞, u(x, 0) = 0, x ≥ 0 u(0, t) = h(t), t ≥ 0 (27) t>0 Sendo f : [0, ∞) → R, define-se a transformada de Laplace de f , denotada por L(f ), por: F (s) = L(f (t)) = Z ∞ e−st f (t) dt. 0 Retornando ao problema (27), define-se L(u(x, t)) = U (x, s), transformada de Laplace na variável t de u(x, t) e L(h(t)) = H(s). Nesse caso, utilizando-se as pro- priedades da transformada da derivada de uma função e a linearidade, obtém-se de (27) e da condição de limitação de u(x, t), o seguinte problema de valor inicial: (28) Uxx (x, s) − sU (x, s) = 0 U (0, s) = H(s) |U (x, s)| ≤ K(s), ∀ x ≥ 0 A solução geral da equação diferencial, nesse caso, é dada por √ s U (x, s) = c1 (s)ex √ + c2 (s)e−x s . Utilizando a condição de limitação conclui-se que c1 (s) = 0 e, em seguida, substituindose a condição inicial obtém-se √ U (x, s) = H(s)e−x (29) Verifica-se que √ −x s e =L √ x 4πt3 e s . −x2 4t . 134 Por outro lado, sendo (u ∗ v)(t) = Rt 0 u(t − y)v(y) dy, obtém-se L(u ∗ v) = L(u) · L(v). Utilizando estas observações em (29), obtém-se, finalmente 1 u(x, t) = √ 4π Z 0 t p −x2 x e 4(t−ξ) h(ξ) dξ. (t − ξ)3 Observe que, combinando as soluções dos dois problemas, um com u0 (x) = 0 e outro com h(t) = 0, pode-se resolver o problema mais geral (26). PROPRIEDADES DAS SOLUÇÕES Os problemas de valor inicial e/ou de contorno associados a equações diferenciais parciais são denominados bem postos, no sentido de Hadamard (1865-1963), quando têm solução, ela é única e depende continuamente dos dados, isto é, dois problemas com dados bem próximos têm soluções bem próximas. Esta propriedade mostra um comportamento estável do modelo. Para verificar a propriedade de unicidade, vai ser provado o resultado a seguir. É um resultado bastante geral, pois também pode ser aplicado à equação do calor em dimensão espacial n. Teorema 2 (Princı́pio do Máximo para a Equação do Calor). Sejam a e b finitos, a < b e T > 0 dados e α constante positiva. Suponha que u ∈ C 2 ((a, b) × (0, T ]) ∩ C 0 ([a, b] × [0, T ]) é solução da equação ut = α2 uxx , em (a, b) × (0, T ]. Então u atinge seu máximo e seu mı́nimo em {(a, t) ∪ (b, t), t ∈ [0, T ]} ou em {(x, 0), x ∈ (a, b)}. Demonstração: Seja v(x, t) = u(x, t) + εx2 , onde ε > 0 arbitrário. Então, v ∈ C 2 ((a, b) × (0, T ]) ∩ C 0 ([a, b] × [0, T ]) e v satisfaz (30) vt = α2 vxx − 2εα2 . Da continuidade de v segue-se que existe (x0 , t0 ) ∈ [a, b] × [0, T ] onde v atinge seu máximo. Suponha, por contradição, que (x0 , t0 ) ∈ (a, b) × (0, T ). Como v ∈ C 2 ((a, b) × 135 (0, T ]), segue-se que vt (x0 , t0 ) = 0 e ∂ 2v (x0 , t0 ) ≤ 0. ∂x2 Comparando com (30) obtém-se 2εα2 ≤ 0. Suponha agora que (x0 , t0 ) ∈ (a, b) × {T }. Novamente da regularidade de v segue-se que vt (x0 , t0 ) ≥ 0 e ∂ 2v (x0 , t0 ) ≤ 0, ∂x2 de onde, comparando com (30), novamente se chega a 2εα2 ≤ 0, concluindo então que o máximo de v ocorre em Γ = {(a, t) ∪ (b, t), t ∈ [0, T ]} ∪ {(x, 0), x ∈ (a, b)}. Por outro lado, da definição de v, max [0,T ]×[a,b] u(x, t) ≤ max [0,T ]×[a,b] v(x, t) ≤ max u(x, t) + ε max x2 . Γ [a,b] Tomando limite quando ε tende a zero, obtém-se max [0,T ]×[a,b] u(x, t) ≤ max u(x, t). Γ Como a desigualdade vale no outro sentido, tem-se a igualdade. No caso do mı́nimo, o argumento é similar, tomando w = −u. Com o auxı́lio do princı́pio do máximo, fica simples provar a unicidade de soluções do problema (2), inclusive no caso não homogêneo (o resultado também pode ser usado para mostrar a unicidade em dimensão espacial maior que 1). Teorema 3. Sejam u0 ∈ C[0, L], f, g ∈ C[0, ∞), com u0 (0) = f (0) e u0 (L) = g(0). Seja g ∈ C 1 ((0, L) × (0, ∞)). Então existe no máximo uma solução para o problema (31) u ∈ C 2 ((0, L) × (0, ∞)) ∩ C([0, L] × [0, ∞)) u = α2 u + g, 0 < x < L, t > 0 t xx u(x, 0) = u0 (x), x ∈ [0, L] u(0, t) = f (t) u(L, t) = g(t), t ≥ 0 136 Demonstração: Suponha que u e v sejam duas soluções de (31). Então w = u − v é solução do problema wt = α2 wxx , 0 < x < L, t > 0 w(x, 0) = 0, x ∈ [0, L] w(0, t) = w(L, t) = 0, t ≥ 0 Seja T > 0 arbitrário. Pelo Teorema 2, o máximo e o mı́nimo de w são atingidos no conjunto {(0, t) ou (L, t), t ∈ [0, T ]} ∪ {(x, 0), x ∈ (0, L)}, onde w = 0, logo w = 0 em [0, L] × [0, T ]. Como T > 0 é arbitrário, w = 0 em [0, L] × [0, ∞), isto é u = v. Para mostrar a unicidade de soluções no caso do problema (3), tem-se o seguinte resultado: Teorema 4. Sejam g ∈ C(R × (0, ∞)) e u0 ∈ C(R) limitadas. Então existe no máximo uma solução u ∈ C 2 (R × (0, ∞)) ∩ C(R × [0, ∞)), u limitada, do problema (32) ut = α2 uxx + g, em R × (0, ∞) u(x, 0) = u (x), x ∈ R 0 Demonstração: Sejam u1 e u2 soluções de (32). Então w = u1 − u2 satisfaz (33) wt = α2 wxx , em R × (0, ∞) w(x, 0) = 0, x ∈ R, com w limitada Seja M > 0 tal que |w(x, t)| ≤ M para cada (x, t) ∈ R × [0, ∞) e T > 0 e α > 0, com Ω = {x ∈ R, |x| < a}. Defina v: R × [0, ∞) → R por: v(x, t) = w(x, t) − M 2 2M α2 t x − · a2 a2 137 Tem-se, então, v ∈ C 2 (Ω × (0, T ]) ∩ C(Ω × [0, T ]). De (33) segue-se que vt = α2 vxx em Ω × (0, T ], então, do Teorema 2, segue-se max v(x, t) = max v(x, t) Γ Ω×[0,T ] onde Γ = Γ1 ∪ Γ2 , com Γ1 = ∂Ω × [0, T ] e Γ2 = Ω × {0}. Mas, em Γ1 , tem-se v(x, t) ≤ M − 2M α2 t −2M α2 t M a2 − = ≤0 a2 a2 a2 e, em Γ2 , v(x, 0) = w(x, 0) − M x2 −M x2 = ≤ 0, a2 a2 logo se conclui que v ≤ 0 em Ω × [0, T ]. Assim, por definição de v, tem-se w(x, t) ≤ M 2 2M α2 t x + , a2 a2 ∀ (x, t) tal que |x| ≤ a e t ∈ [0, T ]. Fazendo a tender a +∞ tem-se w(x, t) ≤ 0, ∀ x ∈ R, t ∈ [0, T ]. Como T > 0 arbitrário tem-se w(x, t) ≤ 0 em R × [0, ∞). Tomando agora ṽ(x, t) = −w(x, t) − M 2 2M α2 t x − a2 a2 e utilizando raciocı́nio análogo, encontra-se w≥0 em R × [0, ∞), de onde se conclui, finalmente, que w = 0, logo u1 = u2 . 138 OBSERVAÇÃO FINAL A partir da expressão (21) para a solução do problema de Cauchy associado à equação do calor (3), pode-se notar a seguinte propriedade: o valor de u(x, t) depende dos valores do dado inicial u0 (ξ), para todo ξ, −∞ < ξ < +∞. Reciprocamente, o valor de u0 num ponto ξ0 tem um efeito imediato em todos os pontos (para t > 0). Diz-se então que o fluxo de calor se propaga com uma velocidade infinita. Tal comportamento é bem diferente do que ocorre com a equação da onda (e todas as equações hiperbólicas). Já foi observado também, logo após o Teorema 1, o denominado efeito regularizante, isto é, a solução é infinitamente continuamente diferenciável (para t > 0), mesmo quando o dado inicial não seja; isto significa que as singularidades são imediatamente absorvidas e a solução se torna regular assim que ocorre a propagação. Assim como no caso do modelo homogêneo, observando a expressão da solução (25) do problema de Cauchy para a equação do calor não homogênea (23), nota-se que, mesmo que h(ξ, s) seja nula exceto numa região (−ε, ε) × (0, s0 ), com s0 , ε > 0 “pequenos”, os valores da solução u(x, t) em todos os pontos (x, t), onde x ∈ R e t > 0, dependerão dos valoes de h nesta pequena região. 139 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1. A temperatura inicial nos pontos de abcissa 0 ≤ x ≤ L de uma barra com su- perfı́cie lateral isolada, é igual a u0 (x) = u0 constante e seus extremos se mantêm às temperaturas constantes u(0, t) = u1 e u(L, t) = u2 , 0 < t < ∞. (a) Determine a temperatura u(x, t) em cada ponto x e em cada instante t, t > 0. (b) Determine a temperatura estacionária ū(x) = lim u(x, t). t→∞ SOLUÇÃO: O problema que se deseja resolver é: u = u , 0 < x < L, 0 < t < ∞ t xx u(x, 0) = u0 , 0 ≤ x ≤ L u(0, t) = u , u(L, t) = u , t > 0 1 2 Procura-se solução da forma u(x, t) = v(x, t) + ū(x), onde ū(x) é a solução estacionária (de equilı́brio), a qual satisfaz a equação e as condições de fronteira, isto é, ′′ ū (x) = 0, ū(0) = u1 , 0<x<L ū(L) = u2 Assim, ū(x) = u1 + (u2 − u1 ) Lx , logo a função v(x, t) satisfaz as seguintes condições: vt = vxx , 0 < x < L, 0 < t < ∞ v(x, 0) = u0 − ū(x), 0 ≤ x ≤ L v(0, t) = v(L, t) = 0, t > 0 140 Este problema já foi resolvido anteriormente, tendo como solução v(x, t) = ∞ X n=1 − nπt L Bn e sen nπx L onde 2 Bn = L Z L 0 [u0 − ū(x)] sen nπx dx. L Substituindo-se ū(x) e integrando, encontra-se, finalmente ∞ nπt x X 2 u(x, t) = u1 + (u2 − u1 ) + (−1)n (u2 − u0 ) − (u1 − u0 ) e− L sen L n=1 nπ nπx . L 2. Determine uma solução do problema misto u = u , 0 < x < L, 0 < t < ∞ t xx u(x, 0) = 1 + sen πx , 0 ≤ x ≤ L L u(0, t) = u(L, t) = 1, t > 0 SOLUÇÃO: Aplicando a transformada de Laplace com relação à variável t e denotando U (x, s) = L(u(x, t)), encontra-se πx Uxx (x, s) − s U (x, s) = −1 − sen L U (0, s) = U (L, s) + 1 s Resolvendo este problema obtém-se 1 1 U (x, s) = + sen s s + π 2 /L2 πx L 141 e, utilizando-se uma tabela de transformadas de funções elementares, chega-se à solução procurada 2 − π 2t u(x, t) = 1 + e L sen πx . L 3. Seja Ω aberto de R2 , a(x, t) > 0 em Ω e Lu(x, t) = a(x, t)uxx + b(x, t)ux + c(x, t)ut , com Lu > 0 em Ω, onde as funções a, b e c são regulares. (a) Se u ∈ C 2 (Ω), mostre que u não tem máximo local em Ω. (b) Se u ∈ C 2 (Ω) ∩ C(Ω), mostre que u atinge seu máximo em ∂Ω (a fronteira de Ω). SOLUÇÃO: (a) Suponha, por absurdo, que u atinge um máximo local em (x0 , t0 ) ∈ Ω. Então ∇u(x0 , t0 ) = 0. Além disso, como a função x → u(x, t0 ) tem também um máximo local ∂ 2u (x0 , t0 ) ≤ 0. Nesse caso, ∂x2 em (x0 , t0 ), segue-se que Lu(x0 , t0 ) = a(x0 , t0 )uxx (x0 , t0 ) ≤ 0, o que é uma contradição com a hipótese. Logo tem-se o resultado. (b) Como u ∈ C(Ω), u tem um máximo em Ω. De (a) tem-se que o máximo só pode ser atingido em ∂Ω. 142 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Considere o problema u = u , 0 < x < L, t > 0 t xx u(x, 0) = u0 (x), 0 ≤ x ≤ L u (0, t) = u (L, t) = 0, t ≥ 0 x x (a) Use o método de separação de variáveis e série de Fourier para obter uma candidata a solução do problema. (b) Dê condições sobre u0 (x) para que a expressão encontrada no item (a) seja realmente solução do problema, u ∈ C 2 ([0, L] × (0, ∞)) ∩ C 0 ([0, L] × [0, ∞)), e u satisfaz as condições inicial e de fronteira. (c) Mostre que a solução obtida converge para uma solução de equilı́brio (independente de t), quando t → ∞. ∞ P n2 π 2 t a0 + an e− L2 cos Resposta: u(x, t) = 2 n=1 2 an = L Z 0 L u0 (x) cos nπx , onde L nπx dx, L n = 0, 1, 2, . . . 2. Use a transformada de Laplace para resolver o problema Resposta: u = u , 0 < x < L, t > 0 t xx ux (0, t) = ux (L, t) = 0, t > 0 u(x, 0) = 1 + cos 2πx L 2 − 4πL t u(x, t) = 1 + e cos 2πx . L 143 3. Sendo u0 ∈ C(R), limitada e α ∈ R utilize a transformada de Fourier para resolver o problema ut = uxx + αu, x ∈ R, u(x, 0) = u0 (x), x ∈ R Resposta: t>0 αt Z +∞ (x−ξ)2 e − 4t √ dξ, u (ξ)e 0 u(x, t) = 4πt −∞ u (x), x ∈ R, t = 0 x ∈ R, t>0 0 4. Sejam α, h e β constantes reais não nulas. Use transformada de Laplace para resolver o problema ut = α2 uxx − h2 u, x, t > 0 u(x, 0) = 0, x ≥ 0 u(0, t) = β, lim u(x, t) = 0, x→∞ t≥0 Resposta: βx √ u(x, t) = 2α π 5. Z 0 t 2 e−h r − x2 2 e 4τ α dτ. τ 3/2 Utilize o princı́pio do máximo para provar a unicidade de soluções do problema (26). 144 145 5. SOLUÇÕES ANALÍTICAS O objetivo da presente seção é fazer um estudo elementar das soluções analı́ticas das equações diferenciais parciais. As demonstrações da existência de soluções analı́ticas para equações ordinárias ou diferenciais parciais, são devidas a Cauchy, publicadas em C.R. Acad. de Sc. de Paris, vol. XIV, p. 1020 e vol. XV pp. 44, 85, 131 (1842). A demonstração de Cauchy baseia-se num método de comparação por ele denominado “Método dos Limites”, hoje conhecido como método das funções majorantes. Posteriormente, este método foi desenvolvido por Sofia Kowalewsky em sua tese de doutorado orientada por Weierstass, em 1874, em Göttingen. Há contribuições significantes de Goursat e Darboux sobre este método. Na presente exposição, analisa-se um caso bem particular na tentativa de passar para o leitor a idéia genial de Cauchy. Consulte-se para outras informações Goursat [3] ou Hadamard [4]. Tendo em vista ser Sofia Kowalewsky uma representante, famosa, do belo sexo, que aparece no presente texto, considera-se educativo dizer algo sobre sua vida. Das fotografias conhecidas, deduz-se ter sido ela uma charmosa e linda mulher. Filha de um general de artilharia do exército russo, descendente do rei da Hungria. Contam seus biógrafos, que sua paixão pela matemática surgiu ao ler as notas de aula dos cursos de matemática que seu pai fez na escola de artilharia em Moscou. Casou-se com um estudante russo de sobrenome Kowalewsky e a seguir, ambos, foram completar seus estudos em Berlim. Ele em geologia e ela, evidentemente, em matemática, tendo como orientador de trabalho o jovem matemático Weierstrass. Sob esta orientação deu profundas contribuições às equações diferenciais parciais e às integrais Abelianas, cf. J. Hadamard op. cit. . Posteriormente viajou para Paris onde teve oportunidade de conhecer grandes 146 mestres. Nesta ocasião, fez significativas contribuições à Fı́sica Matemática, tendo sido homenageada com prêmio da Academia de Ciências. Por intermédio de Weierstrass foi convidada por Mittag Lefler para ocupar uma posição permanente na Universidade de Estocolmo, onde trabalhou até sua morte. Dizem seus biógrafos que fez igualmente substanciais contribuições literárias, como acontecia às pessoas cultas da época. Retornando ao estudo das soluções analı́ticas, inicia-se com a análise de uma única equação ordinária servindo de modelo para a compreensão do criativo método de Cauchy. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS Considere-se a função f : Ω → R, sendo Ω um aberto do plano R2 e o problema de Cauchy: dy dx = f (x, y) y(x0 ) = y0 (1) Com (x0 , y0 ) denota-se um ponto do aberto Ω. A função real f é suposta analı́tica em uma vizinhança do ponto (x0 , y0 ), isto é, em uma vizinhança deste ponto a f representase pela série de potências aı́ convergente: f (x, y) = ∞ X i,j=1 sendo aij = aij (x − x0 )i (y − y0 )j 1 ∂ i+j f , calculadas em (x0 , y0 ). i!j! ∂xi ∂y j Denomina-se solução analı́tica do problema de Cauchy (1) a uma função y = y(x) analı́tica em uma vizinhança do ponto x0 , satisfazendo a (1)1 pontualmente e a condição 147 (1)2 . O resultado fundamental de Cauchy, diz que se f for analı́tica em uma vizinhança de (x0 , y0 ) então o problema (1) possui uma solução analı́tica. Todo o trabalho deste parágrafo consiste em demonstrar este resultado. Para simplificar os cálculos, supõe-se x0 = 0 e y0 = 0, isto é, a origem. O problema de Cauchy toma a forma: (2) dy dx = f (x, y) em uma vizinhança de y(0) = 0 (0, 0) A solução y = y(x) procurada escreve-se sob a forma (3) y(x) = ∞ X b k xk , k=0 em uma vizinhança do zero. Os coeficientes bk são dados por (4) bk = 1 dk y , calculados em x = 0. k! dxk Os coeficientes bk , k = 0, 1, 2 . . . são calculados por meio da equação (2) e suas derivadas dy sucessivas calculadas no ponto x = 0. De fato, tem-se = f (0, 0) e dx x=0 (5) b0 = y(0) b = y ′ (0) = f (0, 0) 1 2! b2 = y ′′ (0) = fx (0, 0) + fy (0, 0)b1 3! b3 = y ′′′ (0) = fxx (0, 0) + 2b1 fxy (0, 0) + fyy (0, 0)b21 + 2b2 fy (0, 0) ................................................................................................... Portanto os coeficientes do desenvolvimento (3) são conhecidos, devido às relações (5), por meio dos coeficientes do desenvolvimento de f (x, y) em série de potências, em uma 148 vizinhança da origem, isto é, (6) f (x, y) = ∞ X aij xi y j i,j=1 sendo 1 ∂ i+j f aij = i!j! ∂xi ∂y j (7) . x=0 y=0 d2 y d3 y Portanto, fazendo-se x = y = 0 em (5) obtém-se , , . . . que darão dx2 x=0 dx3 x=0 os coeficientes bk do desenvolvimento (3) de y(x), por meio dos coeficientes aij do desenvolvimento (6) de f (x, y). Portanto de (5) obtém-se os coeficientes bk de (3) em função dos aij . De modo preciso os bk são obtidos por meio de polinômios em aij com coeficientes inteiros não negativos. Dois são os problemas a resolver: i) A convergência de (3) com os coeficientes bk dados por (5). ii) É esta série solução de (2) ? Admitindo-se a (i) demonstra-se a (ii). De fato, substituindo-se y = y(x) dada por (3) com coeficientes (4) calculados por (5) na equação obtém-se a função ϕ(x) = y ′ (x) − f (x, y(x)) definida em uma vizinhança de x = 0, nula com todas as derivadas em uma vizinhança do zero onde a série converge. Logo ϕ é a função nula nesta vizinhança provando o ii). Resta demonstrar a convergência da série (3). Esta convergência será obtida por meio do método de funções majorantes que Cauchy denominou método dos limites. Considere-se uma função F (x, u) analı́tica em (0, 0), isto é, (8) F (x, u) = ∞ X i,j=1 Aij xi uj 149 convergente em |x| < r, |u| < ρ, cujos coeficientes não negativos são tais que: (9) |aij | ≤ Aij ; i, j = 0, 1, . . . Diz-se que a função analı́tica F (x, u) é uma majorante da função analı́tica f (x, y): formula-se com F o problema de Cauchy majorante du dx = F (x, u) u(0) = 0 (10) Considere-se a solução analı́tica u de (10) dada por: u(x) = c0 + c1 x + c2 x2 + . . . (11) convergente em |x| < T sendo 1 dk u ck = . k! dxk x=0 (12) Por um processo análogo ao desenvolvido para obter (5), calcula-se os ck em função dos coeficientes Aij de (8). Tem-se que os ck são obtidos como polinômios em Aik , com coeficientes inteiros não negativos. Portanto ck = P (Aij ) e bk = P (aij ). Tem-se por (9): (13) |bk | ≤ |P (aij )| ≤ P (Aij ) = ck para todo k = 0, 1, 2, . . . Logo, (13) afirma que se (10) possuir solução analı́tica convergente em uma vizinhança de zero, então ela é majorante da função y(x) dada por (3). Logo, a série (3) é convergente em uma vizinhança da origem, como desejava-se provar. Resta, apenas provar que (10) possui solução analı́tica. O sucesso do método consiste em escolher 150 de modo conveniente a função F (x, u) majorante da f (x, y) de modo a obter-se um problema de Cauchy de simples solução. Suponha-se que a função f seja analı́tica em {(x, y) ∈ R2 , |x| ≤ a, |y| ≤ b} e seja M o máximo de f neste domı́nio. Tem-se que ∞ X aij ai bj i,j=0 converge para f (a, b). Logo, |aij ai bj | < M ou |aij | ≤ M ai bj i, j = 0, 1, 2, . . . . Logo, ∞ X i i,j=0 j aij x y ≤ M ∞ X i,j=1 x ( a i j y . b A soma da série geométrica da direita é M F (x, y) = y x 1− a 1− b e a série da esquerda é a função f (x, y) do problema (2). Logo, F (x, y) é uma função analı́tica majorante de f (x, y) na vizinhança da origem {(x, y) ∈ R2 ; |x| < a, |y| < b}. Portanto natural é escolher F (x, u), |x| < a, |u| < b para compor o problema majorante auxiliar (10). Obtém-se o problema auxiliar majorante: (14) M du = x dx 1 − 1 − u a u(0) = 0 em |x| < a, |u| < b 151 A equação (15) u du M 1− = b dx 1 − xa é de fácil resolução. De fato, as variáveis se separam e sua solução é: (16) x u2 . = −aM log 1 − u− 2b a Daı́ obtém-se uma solução de (14) dada por: (17) s M x u = b − b 1 + 2a log 1 − . b a Toma-se log 1 = 0, resultando que u(0) = 0. Esta função u é analı́tica numa vizinhança da origem. Realmente, a função sob o radical é analı́tica no interior do intervalo |x| < a e se anula para (18) b − 2aM . x=ρ=a 1−e Quando pertence ao cı́rculo Cρ de raio ρ e centro na origem, o radical em (17) x 2aM ser inferior a log 1 − é uma função analı́tica. É conseqüência do módulo de b a um. Para verificação deste fato, note-se que sendo |x| < a obtém-se: x log 1 − a =− ∞ X xn an−1 n n=1 1 uniforme e absolutamente convergente em |x| < ρ < a. Tem-se: ∞ 2aM 2aM X 1 |x|n x ≤ log 1 − ≤ b a b n=1 an−1 n ∞ 2aM X 1 ρn 2aM ρ ≤ log 1 − = = 1. n−1 n b a b a n=1 152 Conclui-se que u dada por (17) possui uma representação em séries de potências convergente em Cρ e majorante de (3). Logo (3) converge em Cρ . A unicidade segue-se supondo-se que existam duas soluções y, ŷ para o problema de Cauchy (2). Fazendo-se z = y − ŷ, obtém-se z ′ (x) = f (x, y(x)) − f (x, ŷ(x)), z(0) = 0, pois y(0) = ŷ(0) = 0. A solução dada por (3) com os coeficientes dados por (5) é a série com coeficientes nulos, logo z é a função nula em Cρ ou y = ŷ. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS A extensão do método dos limites de Cauchy para equações diferenciais parciais é conhecida sob a denominação de teorema de Cauchy-Kowalewsky. Para facilitar a compreensão do processo limitar-se-á a um sistema de equações diferenciais parciais do tipo seguinte: (18) 2 ∂u ∂uj i X = Gij (u1 , u2 ) ∂x ∂y j=1 ui (0, y) = φi (y) para todo y i = 1, 2. Note-se que Gij (ξ, η), i, j = 1, 2, é uma função real definida em um aberto Ω do R2 , continuamente diferenciável. Com ui (x, y), i = 1, 2, representa-se uma função definida em um aberto do R2 , continuamente diferenciável, tal que para todo par (x, y) tem-se (u1 (x, y), u2(x, y)) pertence a Ω. A função φi (y), i = 1, 2, é o dado de Cauchy conhecido sobre a reta x = 0 do plano R2 . Supõe-se continuamente derivável. 153 Supõe-se φi (0) = 0, o que não é restritivo. É suficiente considerar a mudança de variáveis ui (x, y) − φi (y) = vi (x, y), i = 1, 2. Logo na nova variável tem-se vi (0, y) = 0 para todo y. Conseqüentemente, sendo φi (0) = 0 tem-se ui (0, 0) = 0, pela condição de Cauchy. Portanto, Gij (u1 (x, y), u2(x, y)) em x = 0, y = 0 reduz-se a Gij (0, 0). Portanto, a série de Taylor de Gij (u1 , u2 ) em uma vizinhança da origem (0, 0) escreve-se: (19) Gij (u1 , u2 ) = ∞ X r s bij rs u1 u2 , r,s=1 sendo bij rs = (20) 1 ∂ r+s Gij r!s! ∂ur1 ∂us2 calculadas em x = 0, y = 0. A série de Taylor do dado inicial em uma vizinhança da origem do eixo dos y, é dada por: (21) φi (y) = ∞ X aiℓ y ℓ , ℓ=1 sendo: (22) aiℓ = 1 dℓ φi (y) , ℓ! dy ℓ em y = 0. Note-se que a0 = φi (0) = 0, assim, inicia-se o somatório (21) com ℓ = 1. O objetivo é demonstrar a existência de soluções analı́ticas do problema de Cauchy (18), por intermédio do método dos limites ou, equivalentemente, das funções majorantes. Supõe-se, então, Gij (u1 , u2 ), i, j = 1, 2, analı́ticas em |ui | < a, i = 1, 2 e φi (y) analı́tica em |y| < b. Logo, admite-se, que as séries (19) com coeficientes (20) e (21) com coeficientes (22), convergem, respectivamente, em |ui | < a, i = 1, 2 e |y| < b. 154 Deve provar que (18) possui uma solução analı́tica em uma vizinhança da origem (0, 0) do R2 . De modo preciso, tem-se como objetivo principal, provar o problema de Cauchy (18), com estas hipóteses, possui uma solução do tipo: (23) ui (x, y) = ∞ X ciαβ xα y β , i = 1, 2 α,β=1 com coeficientes dados do modo seguinte: ciαβ = (24) 1 ∂ α+β ui (x, y) , α!β! ∂xα ∂y β para x = 0, y = 0, com i = 1, 2. Para uma clara compreensão do método dos limites de Cauchy, calcula-se, a i seguir, os coeficientes ciαβ de (23) em função dos coeficienes bij rs e aℓ dados por (20) e (22), respectivamente, supondo-se que (23) com coeficientes (24) seja solução de (18). Cálculo dos coeficientes ciαβ De fato, ci00 = ui (0, ) = φi (0) = 0, por hipótese ci10 = ∂u1 ∂u2 ∂ui (0, 0) = Gi1 u1 (0, 0), u2(0, 0) (0, 0) + G12 u1 (0, 0), u2(0, 0) (0, 0) ∂x ∂y ∂y obtido da equação (18). Tem-se, de (18), ui (0, y) = φi (y), logo ∂ui (0, y) = φ′i (y) e ∂y ∂ui (0, 0) = φ′i (0). ∂y 155 Resulta de (20), que Gij u1 (0, 0), u2(0, 0) = Gij (0, 0) = bij 00 . Daı́, obtém-se: ′ i2 i ci10 = bi1 00 φi (0) + b00 φ2 (0), i = 1, 2. Tem-se, igualmente, ci01 = ∂ui (0, 0) = φ′i (0), ∂y mas, Em resumo, obteve-se: dφi (y) φ′i (0) dy y=0 i = 1, 2 = ai1 . ci = bi1 ai + bi2 ai 00 1 00 2 10 i c01 = ai1 (25) Calcula-se o segundo coeficiente de (23) dado por (24). De (18), obtém-se: 2 X ∂ 2 ui = ∂y∂x j=1 ∂Gij ∂u1 ∂Gij ∂uj ∂u ∂ 2 uj + + Gij (u1 , u2 ) 2 . ∂u1 ∂y ∂uj ∂y ∂y ∂y Cálculo em x = 0, y = 0 De (20), obtém-se: ∂Gij = bij 10 ∂u1 e ∂Gij = bij 01 , ∂u2 quando as derivadas são calculadas em x = 0, y = 0, isto é, u1 (0, 0) = 0, u2 (0, 0) = 0. ∂ui (0, 0) = φ1i (0) = ai1 e Gij u1 (x, y), u2(x, y) = bij Da condição inicial 00 em x = 0, ∂y y = 0. Da condição inicial em (18), obtém-se: ∂ 2 ui 1 (0, 0) = φ′′i (0) = ai2 . 2 ∂y 2 156 Daı́, obtém-se o coeficiente ci11 dado por: ci11 (26) 2 X ij i 1 ij i ij i b10 a1 + b01 a2 + b00 a2 = 2 j=1 para i = 1, 2. Por este processo, vão sendo obtidos os coeficientes ciαβ da série (23), hipotética solução de (18). Examinando-se (25) e (26), deduz-se que estes coeficientes ciαβ serão i obtidos por meio de polinômios em bij rs e aℓ , com coeficientes números inteiros não i negativos. Relembre-se que bij rs e aℓ são os coeficientes das representações de Gij (u1 , u2 ) e φi (y) em séries de potências numa vizinhança da origem, (19), (20), (21), (22). Considere-se a série (23) com os coeficientes (24) calculados por (25), (26), etc, i por meio de polinômios em bij rs e aℓ , com coeficientes inteiros não negativos. Suponha, por enquanto, que ela seja convergente em uma vizinhança v(0, 0) da origem do plano R2 . Considere-se a função 2 X ∂uj ∂ui Gij u1 (x, y), u2(x, y) (x, y) − (x, y) Φi (x, y) = ∂x ∂y j=1 i = 1, 2, definida na vizinhança de convergência v(0, 0). Por repetição do processo de cálculo dos coeficientes acima desenvolvido, conclui-se que Φi (x, y) = 0 em (0, 0) com todas as suas derivadas. Resulta que Φi (x, y) é a função identicametne nula em v(0, 0), provando que se a série (23), com coeficientes (25), (26), etc, for convergente, sua soma será solução do problema de Cauchy (18). Portanto, resta provar a convergência de (23) com os coeficientes dados por (25), (26), etc. Convergência da série (23) Considere-se a série (23) com os coeficientes dados por (25), (26), etc, isto é, i polinômios em bij rs , aℓ , com coeficientes inteiros não negativos. 157 A demonstração é semelhante a que foi feita no caso de equações ordinárias. Temse, apenas, mais cálculo a fazer. Emprega-se o método dos limites devido a Cauchy. No presente caso, consiste em obter majorantes, conhecidas, para as Gij (u1 , u2 ) e φi (y), i, j = 1, 2. Considere-se Hij (u1 , u2 ) e ψi (y), analı́ticas, tais que: (27) Hij (u1 , u2 ) = ∞ X ij r s Brs u1 u2 r,s=0 convergente em |ui | < a, sendo (28) ij |bij rs | < Brs , para todos os ı́ndices e (29) ψi (y) = ∞ X Aiℓ y ℓ ℓ=1 convergente em |y| < b, sendo (30) |aiℓ | < Aiℓ , para todos os ı́ndices. Portanto, conhecidas as majorantes Hij (u1 , u2 ) e ψi (y), considera-se o problema de Cauchy: (31) 2 ∂V ∂Vj i X = Hij (V1 , V2 ) ∂x ∂y j=1 Vi (0, y) = ψi (y) i = 1, 2 Note-se que Hij (V1 , V2 ) e ψi (y) são funções analı́ticas conhecidas. 158 Pelo mesmo processo para construir a solução (23) com coeficientes (24), obtidos i por (25), (26) e por meio de poliômios em bij rs , aℓ com coeficientes inteiros não negativos, obtém-se a representação em série da solução Vi (x, y) de (31). Deste modo, encontra-se (32) Vi (x, y) = ∞ X i Cαβ xα y β , α,β=1 ij ij sendo os coeficientes Cαβ obtidos, neste caso, por meio de polinômios em Brs e Aiℓ com coeficientes inteiros não negativos. ij De (28) e (30) deduz-se que os Cαβ coeficientes de (32) majoram os cij αβ coefiij i cientes de (23). De fato, tem-se cij αβ = P (brs , aℓ ), polinômio com coeficientes inteiros ij ij não negativos e Cαβ = P (Brs , Aiℓ ) polinômios com coeficientes inteiros não negativos. i i ij Tem-se |bij rs | < Brs e |aℓ | < Aℓ . Conseqüentemente vale a majoração: ij i ij |cij | ≤ P |b |, |a | ≤ P (Brs .Aiℓ ) = ciαβ j rs ℓ αβ (33) provando que a série (32) majora a série (23) na vizinhança da origem (0, 0) onde convergem. Sendo (32) convergente conclui-se que (23) é convergente, logo (18) possui uma solução analı́tica. Assim, o sucesso do método repousa na escolha de um problema majorante (31) de simples resolução como procedeu-se no caso de equações ordinárias. A etapa seguinte consiste da escolha e resolução do problema majorante (31). De fato, suponha que as séries φi (y) = ∞ X i a y i e Gij (u1 , u2 ) = ν=1 ∞ X r s bij rs u1 u2 r,s=0 convirjam, respectivamente nas vizinhanças da origem: |y| < ρ e |u1 | + |u2 | < R, 159 sendo |G(u1 , u2 )| < M na segunda vizinhança. Então, obtém-se as majorações: |aiν | < (34) M ρν e |bij rs | < (35) M (r + s)! M ≤ r+s · r+s R R r!s! Definindo-se M ρν e ψi (y) = ∞ X Aiν = ij Brs = M (r + s)! Rr+s r!s! obtém-se: (36) Aiν ν y =M ν=1 com |y| < ρ e Hij (V1 , V2 ) = ∞ ν X y ν=1 ∞ X ρ ij Brs V1r V2s , r,s=0 ou r s ∞ X V1 V2 (r + s)! Hij (V1 , V2 ) = M R R r!s! r,s=0 (37) com |u1 | + |u2 | < R. Sendo (38) M 1− V1 +V2 R r s ∞ X k X (r + s)! V1 V2 = , r!s! R R r+s=0 k=0 160 obtém-se de (37) e (38) (39) Hij (V1 , V2 ) = M 1− V1 +V2 R , independente de i, j = 1, 2. Para |V1 | + |V2 | < R. De (31) obtém-se (40) ψi (y) = My , ρ−y independente de i = 1, 2, para |y| < ρ. De (39) e (40) o problema de Cauchy majorante toma a forma: (41) 2 ∂Vi X ∂Vj M = (x, y), V +V 1 − 1 R 2 j=1 ∂y ∂x My , i = 1, 2 Vi (0, y) = ρ−y Sendo Hij (u1 , u2 ) e ψi (y) independentes de i, j, natural seria procurar soluções de (41) da mesma natureza, isto é, V1 (x, y) = V2 (x, y) = V (x, y). Logo, o problema (41) simplifica-se na seguinte (42) 2M ∂V ∂V = ∂x ∂y 1 − 2V R V (0, y) = M y ρ−y Observação 1: O sistema (42) é redutı́vel a um sistema linear do tipo: ∂V ∂V a(V ) + b(V ) = 0, b(V ) 6= 0 ∂x ∂y (43) V (0, y) = φ(y), 161 cuja solução é dada, explicitamente, por: a(V ) x V (x, y) = φ y − b(V ) (44) cf. Courant-Hilbert [2]. O problema (42) toma a forma: ∂V ∂V 2 1− V − 2M =0 R ∂x ∂y V (0, y) = φ(y) (45) com φ(y) = My , ρ−y |y| < ρ. Segue-se da Observação 1 que a solução de (45) é dada por: a(V ) V (x, y) = φ y − x , b(V ) com a(V ) = 1 − Logo, a solução será: 2 V, R V (x, y) = φ y + b(V ) = −2M. 2M x . 2 1− R V Mz , efetuando-se o cálculo algébrico, obtém-se a equação ρ−z do segundo grau para o cálculo de V Substituindo-se em φ(z) = (46) 2 ρV 1 − V R 2 = (V + M ) 1 − V y + 2M x . R 162 Análise simples permite concluir a existência de solução analı́tica de (45) a partir de (46). De fato, observe-se que a solução V de (45) que se deseja obter deve ser nula em x = 0, y = 0, pois V (0, y) = My . Tomando-se x = 0, y = 0 em (46), ela reduz-se a ρ−y 2 V (0, 0) 1 − V (0, 0) = 0, R R>0 obtendo-se V1 (0, 0) = 0 e V2 (0, 0) = R · 2 Das duas soluções a que interessa ao problema (45) é a V1 (x, y). Sendo R > 0, as duas soluções são diferentes em (0, 0), logo o discriminante δ(x, y) da equação do segundo grau (46) é maior que zero em (0, 0). Sendo δ(x, y) uma função contı́nua, existe uma vizinhança da origem (0, 0) onde δ(x, y) é estritamente positivo. Logo, nesta vizinhança a raiz V1 (x, y) da equação (46), obtida explicitamente, é uma função analı́tica. Assim, (45) possui uma solução analı́tica. A unicidade de solução analı́tica do problema de Cauchy (18) faz-se de modo análogo ao que foi feito para o correspondente problema para equações diferenciais ordinárias. 163 BIBLIOGRAFIA [1] CAUCHY, Augustin Louis - Équations Différentielles Ordinaires, (Cours inedit Paris) Johnson Reprint Corporation, Paris 1981. [2] COURANT, R. and HILBERT, D. - Methods of Mathematical Physics, Vol. II, Interscience Publ. N.Y. 1962 [3] GOURSAT, E. - Cours d’Analyse Mathématique, Tome II, Gauthier-Villars, 1949. [4] HADAMARD, J. - Problème de Cauchy et les Équations aux Dérivées Partielles Linéaires Hyperboliques, Hermann Edt., Paris, 1932. [5] PICARD, E. - Leçons sur l’Équations aux Dérivées Partielles, Gauthier-Villars, Paris, 1950. [6] PÉRSICO, E. - Introduzione alla Fı́sica Matemática, Zenichelli, Bologna, Italy, 1941. [7] PETROVSKY, I.G. - Lectures on Partial Differential Equations, Interscience, N.Y., 1954. [8] RIEMANN, B. - Oeuvres Mathématiques, Gauthier-Villars, Paris, 1898. 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