SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Resumo da sessão Apresentações e relatos: “As perspectivas do Livro Verde da Futura Política Marítima Europeia” Eng. Miguel Sequeira (Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar) “O conceito de cluster e o seu papel no desenvolvimento local, regional e nacional” Prof.ª cat. Regina Salvador (Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Universidade Nova de Lisboa) “Identidades colectivas, identidades marítimas e comunidades ribeirinhas” Prof. cat. Carlos Diogo Moreira (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa) Prof. doutor Carlos Guedes-Soares (Unidade de Engenharia e Tecnologia Naval, Instituto Superior Técnico) (relato não recebido) Doutor Luís Martins (Museu Nacional de Etnologia) (relato não recebido) Contributo do ISCSP/SGL para discussão do Livro Verde SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected] SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Apresentações e Relatos As perspectivas do Livro Verde da Futura Política Marítima Europeia Eng. Miguel Sequeira (Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar) [email protected] Livro Verde da Política Marítima Europeia Em 7 de Junho de 2006, a Comissão Europeia adoptou um Livro Verde sobre a Futura Política Marítima Europeia e que se encontra em consulta pública até 30 de Junho de 2007. A primeira contribuição para o Livro Verde foi submetida em conjunto por Portugal, Espanha e França com ideias e propostas que estão reflectidas de forma clara na versão final adoptada pela Comissão. Um bom exemplo é a abordagem “holística” e transversal que está igualmente na base da Estratégia Nacional para o Mar aprovada pelo Governo Português no final de 2006. Pretende examinar: Todas as actividades dos Europeus ligadas ou com impacto no mar ou oceano; Todas as políticas associadas. Evitando a tradicional abordagem sectorial, com vista a: Encontrar a melhor forma de obter maiores benefícios do mar ou ocenao de forma sustentável; Desenvolver uma política marítima integrada aos vários níveis de acção cobrindo todas as actividades económicas baseadas ou relacionadas com o mar ou ocenao, fomentando o conhecimento científico, o crescimento económico, o emprgo e a qualidade de vida. Baseando-se numa abordagem ecossistémica para atingir o equilíbrio certo entre os aspectos económicos, ambientais e sociais. Capítulo 1: Introdução Estratégia de Lisboa como âncora Abordagem ecossistémica Acrescentar valor às acções Nacionais e Locais. Capítulo 2: Preservar a supremacia europeia em matéria de desenvolvimento sustentável das actividades marítimas Importância da economia marítima e fontes da sua competitividade Tendência negativa no número de Europeus com profissões marítimas Necessidade de melhorar a qualidade do emprego Papel da Directiva do Meio Marinho e Legislação de Segurança Marítima Identificação de desafios (ex: efeito das alterações climáticas) Desenvolvimentos na área da energia renovável e potencial da biotecnologia azul O papel dos clusters marítimos Sinergias entre sectores interrelacionados Capítulo 3: Maximizar a qualidade de vida nas regiões costeiras O papel especial das regiões costeiras A importância da saúde do meio marinho na qualidade de vida dos cidadãos Ameaças às áreas costeiras e seus habitantes O papel do turismo marítimo e costeiro nas economias locais Como gerir o interface terra/mar e reforçar as sinergias entre actividades. Capítulo 4: Fornecer instrumentos para gerir a nossa relação com os Oceanos Tipos de dados e informação necessários e a disponibilizar tanto sobre o mar e oceano como sobre as actividades humanas associadas Planeamento espacial como instrumento de regulação das actividades económicas nas áreas costeiras Apoio financeiro às regiões costeiras (fundos estruturais e de coesão) Capítulo 5: Governação Marítima Na UE Princípio da Subsidiariedade Monitorização e vigilância Policiamento do mar e utilização de meios escassos e caros disponíveis nos Estados Membros. Envolvimento de meios navais militares em actividades civis Papel da CE e dos Estados Membros na implementação do Planeamento Espacial Na arena internacional Dimensão externa da política marítima em assuntos globais (alterações climáticas, ambiente, biodiversidade, transporte marítimo, pescas, etc…) Diferentes realidades geográficas e vizinhanças não UE Capítulo 6: Reivindicar o património marítimo e reafirmar a identidade marítima da Europa Que iniciativas tomar para preservar o património marítimo e forjar um sentimento mais profundo de identidade marítima? Como utilizar a formação e a educação para desenvolver uma visão comum do papel dos oceanos nas nossas vidas? Como tornar mais favorável a imagem das profissões marítimas e melhorar o desempenho deste sectores. Capítulo 7: Caminho a seguir – o processo de consulta Empenho em ouvir todos os interessados durante o período de consulta pública que se estende até final de Junho de 2007. A Comissão apresentará uma comunicação ao Conselho e ao Parlamento Europeu com o resultado do processo de consulta e uma proposta de plano de acção. (10 Out 2007) Clusters Maritimes CLUSTER: “grupo de geograficamente próximo de empresas e instituições associadas em torno de uma área particular, interligadas por aspectos comuns e complementaridades” M.Porter Vantagens: Estimulo à competitividade e inovação Melhor formação e desenvolvimento de competências Aumento de produtividade e crescimento económico e desvantagens…no caso de Falta de massa crítica Dependência de poucos clientes ou grandes empresas Falta de flexibilidade para adaptação tecnológica Como surgem? Espontaneamente (oportunidades de mercado) Empreendedores (Empresas, Universidades) Eventos despoletadores (tecnologias, recursos, legislação) Tentação de criação artificial e réplica de casos de sucesso Custos e riscos elevados Grupos de interesse Distorção Qual o papel da UE e dos Governos e da Administração local na promoção dos Clusters? Catalizador e facilitador Enquadramento e criação de condições Troca de Informação Suporte financeiro em condições predefinidas; limitado no tempo; supervisionado; avaliado Património marítimo e identidade marítima Identidade comum entre as comunidades que ganham a vida em actividades ligadas ao mar e oceanos ou entre cidadãos cuja qualidade de vida está ligada de forma significativa ao mar. Reforço da compreensão da importância do mar para a sociedade e da contribuição das actividades marítimas para a economia e bem-estar das comunidades. Contributo para uma imagem mais positiva das actividades, reforçando o seu potencial de crescimento e aumentando o interesse das populações em escolher carreiras nestas áreas. Instrumentos e caminhos: Acções (em rede) da UE, Estados-Membros, Autoridades Regionais e Locais e Sector Privado Convenção da UNESCO para a protecção do património cultural subaquático Convenção Europeia para a protecção do património arqueológico “A continuidade que existe entre o passado, o presente e o futuro deve guiar e inspirar as estratégias europeias, nacionais e regionais e as políticas e acções que se prendem com o património cultural” Europa Nostra Contributos: http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/ http://www.emam.mdn.gov.pt/disc_publica.htm SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected] SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Apresentações e Relatos Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e Sociedade de Geografia de Lisboa CONTRIBUTO PARA A DISCUSSÃO DO LIVRO VERDE Na sequência da sessão de 26 de Abril de 2007, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e a Sociedade de Geografia de Lisboa submeteram, em 28 de Junho de 2007, à Comissão Europeia um contributo para a discussão do Livro Verde “Para uma futura política marítima da União: Uma visão europeia para os oceanos e os mares”, o qual está inserido na página http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/post_green_en.html (n.º 358). O comentário de ordem geral é de concordância com o seu conteúdo, se bem que expectante face ao ambicioso enquadramento nele preconizado; torna-se, todavia, necessário evidenciar no supracitado projecto (“uma visão europeia para os oceanos e os mares”) o encadeamento vital com o legado, com a história da Europa marítima, o reconhecimento de que “é na grandeza da sua história que o mar é uma oportunidade e um objectivo para a consolidação da identidade da Europa. Esta assenta sobre uma cultura comum, da qual o mar é elemento essencial” . A proposta de um programa comunitário de identificação e valorização das identidades marítimas é a achega concreta à questão “Que iniciativas deverá tomar a União Europeia para apoiar a formação e o património marítimos e forjar um sentimento mais profundo de identidade marítima?” suscitada no Livro Verde. Justificação da proposta de um programa comunitário de identificação e valorização das identidades marítimas A constatação de que os cidadãos europeus não têm uma percepção integrada do mar e muito menos da sua pertença a uma Europa marítima concitou particularmente a atenção do Livro Verde, mediante a apresentação de medidas concretas e o convite à formulação de iniciativas, os quais visam uma informação e participação públicas conducentes a uma “consciencialização crescente na Europa das ligações e interacções entre os oceanos e mares e as numerosas e diferentes actividades marítimas, o que permitirá refinar a definição das políticas e abrir caminho à identificação e exploração de novas, e sustentáveis, oportunidades, e bem assim aperfeiçoar uma visão comum do papel dos oceanos nas nossas vidas, do vasto património em que nos podemos inspirar e da fecunda promessa do nosso futuro marítimo”. O Livro Verde enuncia a vantagem de se “forjar um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades marítimas ou cuja qualidade de vida está fortemente ligada ao mar” e mais adianta que “um sentimento de identidade comum poderá muito possivelmente forjar-se em resultado da participação de todas as partes interessadas no processo de ordenamento do espaço marítimo”: desafio singular, porque a realidade são as comunidades ribeirinhas locais, com as suas múltiplas e diferenciadas identidades. Segundo Carlos Diogo Moreira (1) , as identidades marítimas são identidades colectivas e sempre culturais, projectos de comunidades ribeirinhas a que as nações europeias – e Portugal como nação marítima – devem conceder hoje uma nova atenção face à transfiguração em curso do ambiente marítimo e marinho. A proposta de um programa comunitário de identificação e valorização das identidades, ou dos projectos das comunidades ribeirinhas, tem por finalidade o estudo dos vectores memória e património e a sua análise comparativa no âmbito europeu. Justifica-se por ser um complemento fundamental das políticas de gestão integrada das zonas costeiras e abordar, em particular, questões relacionadas com: (1) O processo de reafectação de espaços, a reconstrução patrimonial e a diversidade cultural; (2) A utilização intensiva e inovadora dos litorais; (3) A complexidade da gestão das zonas ribeirinhas, simultaneamente espaços de centralidade e de vulnerabilidade ecológica; (4) A centralidade cultural das áreas portuárias. Objectivos da proposta: (1) Pôr em evidência a amplitude e diversidade das identidades (heranças, memórias, património, projectos) marítimas (paradoxalmente favorecidas pela globalização) e sensibilizar as opiniões para a necessidade da sua valorização e, consequentemente, das próprias comunidades ribeirinhas. (2) Analisar as percepções que as populações ribeirinhas (e em especial as populações de pescadores) têm do meio marinho, seus recursos e usos actuais e futuros e das políticas europeias. (3) Fornecer aos actores territoriais instrumentos precisos e eficazes de suporte às decisões sobre desenvolvimento local e regional. (4) Pôr em evidência memórias e patrimónios valorativos de identidades marítimas específicas e analisar a sua articulação no seio de uma identidade marítima plural e europeia. Importa que a União Europeia reconheça nesta proposta de programa a mais valia cultural que a futura política marítima reveste, atribuindo-lhe os fundos comunitários adequados à sua concretização. O mesmo programa contribuirá com a caracterização científica das comunidades ribeirinhas para uma aplicação mais eficiente de instrumentos financeiros da União Europeia, mormente com dados adequados para apoiar as regiões costeiras a erigir as instituições necessárias para a preservação do seu património marítimo. O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e a Sociedade de Geografia de Lisboa agradecem o apoio que esta proposta possa merecer de V. Ex.ª e, se for caso disso, solicitam que uma indicação lhes seja dada (para um dos pontos de contacto), de modo àquele apoio ser expresso em tempo útil (até 22 de Setembro de 2007) à Presidência Portuguesa e ao Gabinete do Comissário Europeu para as Pescas e Assuntos Marítimos. _______ (1) MOREIRA, Carlos D. (2007), “Identidades Colectivas, Identidades Marítimas e Comunidades Ribeirinhas”, comunicação apresentada na sessão sobre o Livro Verde da Futura Política Marítima da União, realizada na SGL em 26 de Abril de 2007. Pontos de contacto: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Prof. cat. Carlos Diogo Moreira [email protected] Sociedade de Geografia de Lisboa C/Alm. José Bastos Saldanha [email protected] Telf: +351 - 261 855 805 Tlm: +351 - 964 447 348 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected] SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Apresentações e Relatos Contributo do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e da Sociedade de Geografia de Lisboa COMENTÁRIOS AO LIVRO VERDE “PARA UMA FUTURA POLÍTICA MARÍTIMA DA UNIÃO: UMA VISÃO EUROPEIA PARA OS OCEANOS E OS MARES” Prof. cat. Carlos Diogo Moreira Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Lisboa [email protected] C/Alm. José Bastos Saldanha Sociedade de Geografia de Lisboa Lisboa [email protected] 1. A discussão pública do Livro Verde “Para uma futura política marítima da União: Uma visão europeia para os oceanos e os mares” proporciona a oportunidade de um comentário de ordem geral de concordância, se bem que expectante, face ao ambicioso enquadramento que é preconizado no mesmo Livro, caracterizado por uma abordagem holística dos oceanos e dos mares, por uma preocupação com o estado do meio marinho e a sua reabilitação, pela aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável para estabelecer o justo equilíbrio entre as dimensões económica, social e ambiental e estimular o crescimento e a criação de mais e melhor emprego e o investimento na competitividade e finalmente por contribuir para que os europeus adquiram uma nova consciência da grandeza do seu património marítimo, da importância dos oceanos nas suas vidas e do potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades económicas. No entanto, falta ao projecto “Uma visão europeia para os oceanos e os mares” o encadeamento vital com o legado, com a história da Europa marítima que Michel Mollat du Jourdin eloquentemente sintetiza em “A Europa e o Mar”. Não se trata de fomentar nem de justificar um novo imperialismo, antes reconhecer que “é na grandeza da sua história que o mar é uma oportunidade e um objectivo para a consolidação da identidade da Europa. Esta assenta sobre uma cultura comum, da qual o mar é elemento essencial”. (1) 2. Só é possível compreender e explicar a intimidade da relação dos europeus com o mar, mediante uma análise histórica desta convivência abrangendo as gentes do mar (salineiros, pescadores e marinheiros); mediterrânicos, ocidentais e nórdicos partilharam, apesar das suas diferenças, dois traços de carácter opostos, a sociabilidade e a independência, capazes de solidariedades tão sólidas como de antagonismos explosivos. A solidariedade de bordo enraizou-se numa multiplicidade de sociabilidades em terra, expressas em confrarias religiosas ou associações cooperativas. Efectivamente a vida marítima modelou as comunidades litorais das nações europeias e contribuiu para forjar afinidades que continuam a ser fonte de criação, de educação, de saber-fazer. Segundo Carlos Diogo Moreira (2) , os litorais europeus são ricos de uma história marítima multissecular, cujas heranças são constituídas simultaneamente por bens materiais, artefactos (embarcações, cais, armazéns, faróis) e bens imateriais, mentefactos (tradições, rituais, “espírito marítimo”). Uma identidade colectiva é algo que se partilha com os demais e que influi em maior ou menor grau na vida de quem comparte esse algo. Ela dános sentido: dá sentido ao que cremos, ao que fazemos, fizemos e queremos fazer no futuro. As identidades são sempre opções, que nada têm de estático ou definitivo: são projectos – quer dizer imagens mentais – submetidos a toda a sorte de erros, acertos, reajustes e negociações com a realidade. No entanto, raramente vivemos uma só identidade, mas várias, diversas pertenças cruzadas em simultâneo, algumas realistas, outras, sonhos de uma alteridade não cumprida ainda que possível. 3. As identidades marítimas são identidades colectivas e sempre culturais, projectos de comunidades ribeirinhas a que as nações europeias – e Portugal como nação marítima – devem conceder hoje uma nova atenção face à transfiguração do ambiente marítimo e marinho, com um estado de espírito renovado, para se aceitarem, sem nostalgias, tal como são actualmente num sistema planetário de recomposição que corresponde às mutações do mundo contemporâneo, à reclassificação das potências, ao reexame indispensável da história, às novas territorialidades caracterizadas pelo choque entre, por um lado, o mais local, o mais fortemente identitário e, por outro lado, o mais global (o qual impõe um claro rompimento dos espaços). A relação social e cultural com o mar desenvolvida nas comunidades ribeirinhas varia significativamente de um lugar a outro. Por vezes, as identidades marítimas construíram-se a partir do mar. Este torna-se, então, um referencial muito forte da cultura e do quotidiano das comunidades, o que deu origem, nas últimas décadas, a um verdadeiro fenómeno patrimonial, a autênticas “cruzadas do património” (Lowenthal, 1998) estigmatizadas por outros Hobsbawm e Ranger, mas que contribuíram, de forma estratégica, para a revitalização de marcadores simbólicos e, por aí, para a reorganização de espaços sociais. Outras vezes, as identidades construíram-se a partir também da terra. Ou seja, simultaneamente com as populações marítimas, outros actores das comunidades ribeirinhas – negociantes, armadores, autarcas, industriais e comerciantes – constroem uma outra identidade marítima, a pensar em alvos mais amplos a partir de outros instrumentos e doutras representações. Também, convocam o mau, mas para o fazer participar na elaboração de uma identidade urbana antes de ser marítima. Noutros casos ainda, não se sabe ao certo, quem reivindica na actualidade de novas identidades que se pressentem e que papel desempenham a nível local os actores políticos e económicos, os produtores de saber, os habitantes ribeirinhos e em que termos são iniciadores e destinatários das construções em curso. Nesse sentido, identidades inquietas, à procura delas próprias, exigindo um esforço constante de decifração, pois importa conhecê-las, já que o futuro das comunidades ribeirinhas passa pelos diversos grupos e actores sociais que as fabricam à sua medida, inventando-se territórios de pertença, favorecendo novas sociabilidades e espaços de vida (o campo das relações homem/mulher é, nisto, exemplar), por vezes voltando-se para o futuro e em outras ocasiões – porventura mais frequentes – reinsistindo nas concepções e práticas de sempre mesmo que pondo em risco os trabalhos e os dias de amanhã das comunidades. 4. “Reivindicar o património marítimo e reafirmar a identidade marítima da Europa”: A Comissão constatou que os cidadãos europeus não têm uma percepção integrada do mar e muito menos da sua pertença a uma Europa marítima, enunciando um conjunto amplo de medidas para obviar a esta situação, desde a necessidade de melhor informar o público sobre as questões marítimas até encorajar os EstadosMembros a assinarem a Convenção da UNESCO para a protecção do património cultural subaquático e a Convenção europeia para a protecção do património arqueológico. Retém-se, o entendimento correcto da magnitude do empreendimento e da sua evolução paulatina, aferida pela consciencialização crescente na Europa das ligações e interacções entre os oceanos e mares e as numerosas e diferentes actividades marítimas, o que permitirá refinar a definição das políticas e abrir caminho à identificação e exploração de novas, e sustentáveis, oportunidades, e bem assim aperfeiçoar uma visão comum do papel dos oceanos nas nossas vidas, do vasto património em que nos podemos inspirar e da fecunda promessa do nosso futuro marítimo. 5. “Que iniciativas deverá tomar a União Europeia para apoiar a formação e o património marítimos e forjar um sentimento mais profundo de identidade marítima?” A propósito desta questão, considera-se que o Livro Verde apenas enuncia a vantagem de se “forjar um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades marítimas ou cuja qualidade de vida está fortemente ligada ao mar”; e mais adianta que “um sentimento de identidade comum poderá muito possivelmente forjar-se em resultado da participação de todas as partes interessadas no processo de ordenamento do espaço marítimo”, podendo “também ser fomentado pelo sector privado e pelos governos”. Face à reflexão teórica anterior, racionaliza-se sobre uma comunidade ribeirinha europeia, de contornos mais amplos do que a comunidade europeia de gentes do mar referida por Mollat du Jourdin (3) ; desafio singular, porque a realidade são as comunidades ribeirinhas locais, com as suas múltiplas e diferenciadas identidades. Afigura-se, pois, oportuno propor um programa europeu de identificação e valorização das identidades, o mesmo é dizer dos projectos das comunidades ribeirinhas, em que caiba, nomeadamente o estudo dos vectores memória e património e o seu estudo comparativo no âmbito europeu. Trata-se, através daquele programa, de acrescentar às políticas de gestão integrada das zonas costeiras uma dimensão complementar, cultural e marítima específica das diferentes comunidades ribeirinhas. Na verdade, as mais recentes políticas de desenvolvimento, nomeadamente o desenvolvimento local fazem mesmo questão de integrar os vectores cultura e identidade. O programa europeu em causa justifica-se como complemento fundamental às políticas de gestão integrada das zonas costeiras, em especial por quatro grandes razões: (1) As reconversões das actividades de produção ligadas ao meio marítimo, as transformações ocorridas nos sistemas de defesa e a concentração das actividades portuárias obrigam a acompanhar os movimentos de homens e actividades; ora, nestes movimentos de afectação dos espaços muito traços histórico-culturais têm tendência para desaparecer, deixando por vezes em aberto a questão da diversidade cultural de cada porção das zonas ribeirinhas. (2) Os litorais nunca foram tão frequentados e utilizados e essa tendência parece acentuar-se, quer em termos quantitativos (densidades humanas crescentes) quer inovadores (actividades cada vez mais variadas para as quais são sucessivamente reivindicados espaços específicos). (3) As zonas ribeirinhas têm tendência para tornar-se em espaços de centralidade, em centros activos e criativos. Todavia, as especificidades ribeirinhas fazem com que se por um lado o seu património seja rico, plural, original (pela sua dimensão marítima e fronteiriça), por outro, é disperso e fragilizado pela proximidade do elemento marinho; ou seja, aquilo que os enriquece é o que os vulnerabiliza. Daí que sejam mais difíceis de estudar, identificar e desenvolver. (4) Enfim, no seio da variedade geográfica ribeirinha, as zonas portuárias tem sido (e ainda são) onde mais se elaboram as culturas marítimas, onde se efectua a sua contínua renovação, onde o encontro das culturas da terra e do mar é mais fecundo. O objectivo do programa europeu seria de quádrupla ordem: (1) Pôr em evidência a amplitude e diversidade das identidades (heranças, memórias, património, projectos) marítimas (paradoxalmente favorecidas pela globalização) e sensibilizar as opiniões para a necessidade da sua valorização e, consequentemente, das próprias comunidades ribeirinhas. (2) Analisar as percepções que as populações ribeirinhas (e em especial as populações de pescadores) têm do meio marinho, seus recursos e usos actuais e futuros e das políticas europeias. (3) Fornecer aos actores territoriais instrumentos precisos e eficazes de suporte às decisões sobre desenvolvimento local e regional. (4) Pôr em evidência memórias e patrimónios valorativos de identidades marítimas específicas e analisar a sua articulação no seio de uma identidade marítima plural e europeia. Importa que a União Europeia reconheça neste programa a mais valia cultural que a futura política marítima reveste, atribuindo-lhe os fundos comunitários adequados à sua concretização; devido a uma caracterização científica das comunidades ribeirinhas, o mesmo programa contribuirá para uma aplicação mais eficiente de instrumentos financeiros da União Europeia, mormente com dados adequados para assistir as regiões costeiras a erigir as instituições necessárias para a preservação do seu património marítimo. _______ (1) MOLLAT DU JOURDIN, Michel, (1995), A Europa e o Mar, Lisboa, Editorial Presença, p. 270. (2) MOREIRA, Carlos D. (2007), “Identidades Colectivas, Identidades Marítimas e Comunidades Ribeirinhas”, comunicação apresentada na sessão sobre o Livro Verde da Futura Política Marítima da União, realizada na SGL em 26 de Abril de 2007. (3) Ibid, idem, p. 183. SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected] SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Apresentações e Relatos Identidades Colectivas, Identidades Marítimas e Comunidades Ribeirinhas Carlos Diogo Moreira, Professor Catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa. 1. As identidades culturais e colectivas Para a maioria das pessoas a identidades colectiva é algo que se partilha com os demais e que influi em maior ou menor grau na vida de quem comparte esse algo. Na verdade, uma identidade colectiva é uma forma conjunta de definir a realidade junto com os outros. Decidimos colectivamente que é importante algo que nos une: algo que faz parte das nossas vidas. E ao mesmo tempo decidimos que esse algo que partilhamos é um referente para a interpretação da realidade. Olhamos o mundo através de um filtro comum, de uma chave partilhada. A identidade colectiva dá-nos sentido: dá sentido ao que cremos, ao que fazemos, fizemos e queremos fazer no futuro. As identidades são sempre, portanto, - não o esqueçamos – opções. São artifícios que resultam de processos de bricolage; assim como são também construções finitas, especulativas, jogos sempre imaginados e inacabados (o que não significa que não existam e, sobretudo, que num dado momento se apresentem com forma estável), algo sempre pronto a enriquecer-se desde qualquer direcção (por vezes, por mera causalidade, acidentalmente portanto). Nesse sentido, as identidades nada têm de estático ou definitivo: são projectos – quer dizer, imagens mentais – submetidos a toda a sorte de erros, acertos, reajustes e negociações com a realidade (com o próprio grupo e com os outros, concebidos como espelho que é preciso olhar para se conhecer e reconhecer). Indubitavelmente, a relevância do que partilhamos, a capacidade dos projectos identitários através dos quais vamos entendendo a realidade, depende do tipo de identidade colectiva e respectivos marcadores. Há identidades intensas e exclusivas; identidades que quase não nos deixam sentir e interpretar fora delas, construções mitificadas ao extremo de se tornarem asfixiantes. E há intensidades mais ligeiras e compatíveis, que não nos marcam a vida a fogo e que nos permitem a coexistência pacífica com outros olhares, com outras identidades. Porque raramente vivemos uma só identidade, mas antes várias identidades, diversas pertenças cruzadas em simultâneo, algumas realistas, outras, sonhos de uma alteridade não cumprida ainda que possível. Por vezes é difícil entender como se construíram projectos tão heterogéneos, de fronteiras tão fluidas. O certo, porém, é que as identidades colectivas, sendo um invento, parecem um invento imprescindível. 2. As identidades marítimas e as comunidades ribeirinhas Ora, tudo quanto se referiu sobre as identidades colectivas (que são sempre identidades culturais, no sentido em a antropologia empresta a este termo) aplica-se grosso modo às identidades marítimas. A vida marítima modelou as comunidades litorais das nações europeias e contribuiu para forjar afinidades que continuam a ser fonte de criação, de educação, de saber-fazer. Efectivamente, os litorais europeus são ricos de uma história marítima multissecular, cujas heranças são constituídas simultaneamente por bens materiais, artefactos (embarcações, cais, armazéns, faróis) e bens imateriais, mentefactos (tradições, rituais, numéricos ‘espírito marítimo’). Os litorais, ou de forma mais abrangente, as zonas ribeirinhas, estão intimamente ligadas ao desenvolvimento das civilizações europeias enquanto lugares privilegiados de fixação de actividades de intercâmbio de pessoas e coisas, de ajustamento de técnicas originais de adaptação às múltiplas formas de confrontação da terra e do mar e aos diversos modos de encarar e pensar o universo marinho, simultaneamente, fonte de perigos físicos e humanos e fonte de grandes riquezas e poder político. Foi certamente nos litorais europeus que os povos levaram as técnicas de utilização do meio marítimo a um nível de sofisticação quase total. Basta pensar nos portos das cidades gregas na Antiguidade, na Veneza dos fins da Idade Média, nas cidades portuárias do Renascimento, de que Lisboa é exemplo. Ou ainda nas grande capitais do comércio internacional como Londres, Liverpool ou Hamburgo. E todavia, nada mais frágil que esse interface em que a água das marés trabalha sem cessar, reduzindo, apagando, o que os homens penosamente conceberam e realizaram, por vezes, sectores inteiros das economias ribeirinhas e marítimas. O mar, portanto, fonte de matéria-prima (pescas, salinas...); espaço de comércio (por via marítima e dos portos); suporte de poder e área de defesa; fonte de recriação física e moral (as estações balneares, a navegação de recreio, as novas práticas lúdicas do litoral e dos espaços ribeirinhos em geral...) tudo dimensões que têm estado presentes, de um forma ou outra, com maior ou menor intensidade, conforme os tempos e os contextos, nos projectos identitários das comunidades ribeirinhas, projectos a que as nações europeias – e Portugal, como nação marítima – devem conceder hoje uma nova atenção, com um estado de espírito renovado, para se aceitarem, sem nostalgias, tal como são actualmente num sistema planetário de recomposição que corresponde às mutações do mundo contemporâneo, à reclassificação das potências, ao reexame indispensável da história, às novas territorialidades caracterizados pelo choque entre, por um lado, o mais local, o mais fortemente identitário e, por outro lado, o mais global (o qual impõe um claro rompimento dos espaços). A noção de identidade marítima deve, porém, ser sempre relativizada. À semelhança do que sugerimos a propósito das identidades colectivas, impõe-se utilizar o plural quando se aborda a construção das identidades marítimas. A relação social e cultural com o mar desenvolvida nas comunidades ribeirinhas varia significativamente de um lugar a outro. Por vezes, as identidades marítimas construíram-se a partir do mar. Este torna-se, então, um referencial muito forte da cultura e do quotidiano das comunidades, o que deu origem, nas últimas décadas, a um verdadeiro fenómeno patrimonial, a autênticas “cruzadas do património” (Lowenthal, 1998) estigmatizadas por outros Hobsbawm e Ranger, mas que contribuíram, de forma estratégica, para a revitalização de marcadores simbólicos e, por aí, para a reorganização de espaços sociais. Outras vezes, as identidades construíram-se a partir também da terra. Ou seja, simultaneamente com as populações marítimas, outros actores das comunidades ribeirinhas – negociantes, armadores, autarcas, industriais e comerciantes – constroem uma outra identidade marítima, a pensar em alvos mais amplos a partir de outros instrumentos e doutras representações. Também, convocam o mau, mas para o fazer participar na elaboração de uma identidade urbana antes de ser marítima. Noutros casos ainda, não se sabe ao certo, quem reivindica na actualidade de novas identidades que se pressentem e que papel desempenham a nível local os actores políticos e económicos, os produtores de saber, os habitantes ribeirinhos e em que termos são iniciadores e destinatários das construções em curso. Nesse sentido, identidades inquietas, à procura delas próprias, exigindo um esforço constante de decifração, pois importa conhecê-las, já que o futuro das comunidades ribeirinhas passa pelos diversos grupos e actores sociais que as fabricam à sua medida, inventando-se territórios de pertença, favorecendo novas sociabilidades e espaços de vida (o campo das relações homem/mulher é, nisto, exemplar), por vezes voltando-se para o futuro e em outras ocasiões – porventura mais frequentes – reinsistindo nas concepções e práticas de sempre mesmo que pondo em risco os trabalhos e os dias de amanhã das comunidades. 3. Uma ideia de programa Para além da reflexão teórica feita, será porventura importante o desenvolvimento de um programa de identificação e valorização das identidades, o mesmo é dizer dos projectos das comunidades marítimas (em que caiba, nomeadamente o estudo dos vectores memória e património). Actualmente no que respeita às zonas litorais e às comunidades ribeirinhas, as colectividades dispõem, regra geral, de meios relativamente bem definidos para proteger os espaços e os recursos naturais com que se relacionam. As políticas de gestão das zonas costeiras tendem a ser cada vez mais consistentes em matéria de qualidade do ambiente físico, da luta contra a poluição e protecção dos recursos marinhos. Não obstante, tal tem-se revelado manifestamente insuficiente. Trata-se, portanto, de acrescentar – através do programa referido – uma dimensão complementar a tais políticas de gestão e desenvolvimento: a dimensão cultural e marítima específica das diferentes comunidades ribeirinhas. Na verdade, as mais recentes políticas de desenvolvimento, nomeadamente o desenvolvimento local fazem mesmo questão de integrar os vectores cultura e identidade. O programa em causa justifica-se, aliás, muito em especial por 4 grandes razões: - As reconversões das actividades de produção ligadas ao meio marítimo, as transformações ocorridas nos sistemas de defesa, a concentração das actividades portuárias, obrigam a acompanhar os movimentos de homens e actividades. Ora, nestes movimentos de afectação dos espaços muito traços histórico-culturais têm tendência para desaparecer, deixando por vezes em aberto a questão da diversidade cultural de cada porção das zonas ribeirinhas. - Os litorais portugueses nunca foram tão frequentados e utilizados e essa tendência parece acentuar-se, quer em termos quantitativos (densidades humanas crescentes) quer inovadores (actividades cada vez mais variadas para as quais são sucessivamente reivindicados espaços específicos). - As zonas ribeirinhas têm tendência para tornar-se em espaços de centralidade, em centros activos e criativos. Todavia, as especificidades ribeirinhas fazem com que se por um lado o seu património seja rico, plural, original (pela sua dimensão marítima e fronteiriça), por outro, é disperso e fragilizado pela proximidade do elemento marinho. Ou seja, aquilo que os enriquece é o que os vulnerabiliza. Daí que sejam mais difíceis de estudar, identificar e desenvolver. - Enfim, no seio da variedade geográfica ribeirinha, as zonas portuárias têm sido (e ainda são) onde mais se elaboram as culturas marítimas, onde se efectua a sua contínua renovação, onde o encontro das culturas da terra e do mar é mais fecundo. Neste sentido, o objectivo do programa em questão seria de tripla ordem: - Pôr em evidência a amplitude e diversidade das identidades (heranças, memórias, património, projectos) marítimas (paradoxalmente favorecidas pela globalização) e sensibilizar as opiniões para a necessidade da sua valorização e – por consequência – das comunidades ribeirinhas. - Analisar as percepções que as populações ribeirinhas (e em especial as populações de pescadores) têm do meio marinho, seus recursos e usos actuais e futuros. - Fornecer aos actores territoriais instrumentos precisos e eficazes de suporte às decisões sobre desenvolvimento local. Recorde-se, a terminar, que, desde Maastricht, a União Europeia recomenda “uma gestão criativa das paisagens e das heranças culturais”. Nesse sentido, afigura-se evidente a muitos na Europa, o interesse em reconhecer a importância da dimensão marítima das culturas europeias. A nós, como portugueses – pela nossa história, pela nossa cultura e, em especial, pelo nosso futuro – parece-nos indispensável. SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected] SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Apresentações e Relatos O Conceito de Cluster e o seu papel no Desenvolvimento Local, Regional e Nacional Regina Salvador, Professora Catedrática do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova de Lisboa [email protected] CLUSTER DO MAR: OBJECTIVOS DO PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO O projecto pretende analisar as potencialidades de desenvolvimento de um mega-cluster do mar em Portugal. Justificar a importância do mar para a economia portuguesa é (quase) redundante: razões geográficas, históricas, geoestratégicas, sociais e económicas servem de sustentação. Há uma quase unanimidade na comunidade científica quanto às vantagens de uma abordagem tipo cluster face a uma abordagem sectorial. O Papel dos Clusters na Competitividade, Inovação e Difusão do Conhecimento O conceito de que o sucesso económico depende – pelo menos em parte –, da existência de concentrações industriais especializadas tem a sua origem há mais de 100 anos em Alfred Marshall (1890). Segundo ele, o crescimento económico e a liderança do Reino Unido no século XIX dever-se-iam maioritariamente ao desenvolvimento de diversas indústrias localizadas: era o caso dos têxteis no Lancashire, da cutelaria em Sheffield, do mobiliário em Wycombe ou da maquinaria nas West Midlands. A origem destas especializações industriais pode dever-se à existência de recursos naturais, de mercados consumidores ou simplesmente a um acidente histórico. Mas, uma vez estabelecida esta especialização geográfica, ela tende a auto-reforçar-se e portanto, a acentuar-se. A importância da concentração económica é visível hoje nos EUA: 40% do emprego total está localizado em 1.5% da superfície. Em apenas 18 localizações concentram-se mais de 50% do emprego total. Mas o exemplo histórico mais famoso é o dos “distritos industriais” da Terceira Itália. A região “mais esquecida” pelo poder central surgia como a região mais rica e com maior taxa de crescimento na UE. Outras regiões noutros países (Braden-Wurttemberg; Catalunha e Valência; Rhone Alpes e Provence-Alpes-Côte d’Azur; Silicon Valley, Route 128 de Boston e “Sun Belt” apresentam modelos semelhantes. O conceito tem cada vez mais vindo a ser associado ao de “Economia do Conhecimento”. Norton defende que a liderança económica depende do crescimento de clusters dinâmicos ou de concentrações localizadas. Para a OCDE os clusters inovadores são os motores do crescimento económico. “DIAMANTE” DA COMPETITIVIDADE DE PORTER Michael Porter desenvolveu o conhecido “modelo do diamante”, baseado em quatro “pontas”, a saber: Condições dos factores; Condições da procura ; Sectores conexos e de apoio; Estratégia, estrutura e rivalidade entre empresas. Porter considera ainda uma 5.ª e uma 6ª pontas do diamante, a história e as políticas publicas. Políticas de Clusters em Portugal Até agora, as políticas de clusters em Portugal são praticamente inexistentes. A 1ª contribuição para o tema veio em 1994 com o “Relatório Porter” (“Construir Vantagens Competitivas em Portugal”). Porter propôs a construção de “grandes” clusters nacionais (vinho, floresta, turismo). A falta de massa crítica nos clusters potenciais em Portugal exigia uma abordagem de “mega-cluster”, por forma a poder explorar as economias de escala e de aglomeração. Posição semelhante foi adoptada pela OCDE, em 2000, quando defendeu que o desenvolvimento económico português se deveria basear em 5 mega-clusters: Saúde; Comunicações e Electrónica; Aeronáutica e Automóvel; Têxtil; e Turismo. Proposta de “cluster” do mar em Portugal Achamos que, quer o Professor Porter, quer a OCDE negligenciaram o potencial de um mega-cluster do mar em Portugal (embora os clusters sugeridos representem os maiores no país). Os sectores marítimos são economicamente importantes, do ponto de vista das exportações, do emprego e do VAB e o seu valor pode ser majorado através da construção de um megacluster. Portugal tem a maior Zona Económica Exclusiva na União Europeia, pode fazer melhor uso dos seus importantes recursos naturais, o que exige uma efectiva exploração económica e política dos recursos marítimos. O Oceano é uma ligação geográfica fundamental entre Portugal Continental, a Madeira e os Açores. A jurisdição Portuguesa do Oceano tem também um papel estratégico para a Segurança Europeia e Atlântica. E a nível internacional, os oceanos têm uma importância maior do que nunca, nas perspectivas ambiental, económica e social. Tendo em conta as economias de aglomeração (de vizinhança ou de proximidade) dos diferentes sectores económicos, o desenvolvimento de um cluster do mar em Portugal deve ser encarado numa perspectiva mais ampla de mega-cluster. Segundo a OCDE, um mega-cluster é um conjunto de actividades distintas cujos bens ou serviços satisfazem a procura de uma mesma grande “área funcional da procura final”, recorrendo a competências básicas complementares e explorando as vantagens da articulação em rede dos actores empresariais, Estado, instituições de investigação, ONG. Metodologias para Estimação para Potencial de Desenvolvimento de um Cluster do Mar Para cada um dos sectores pretende-se identificar as respectivas tendências a nível mundial, reunir e tratar dados estatísticos básicos (a nível global, europeu, nacional e regional), estudar a respectiva organização industrial e os principais agentes económicos em presença. Propõe-se ainda realizar um levantamento exaustivo das políticas desenvolvidas em vários países europeus, em especial políticas de clusters (Grécia, Holanda, Dinamarca e Noruega), bem como da situação passada, actual e prospectiva na vizinha Espanha. A fase seguinte do projecto de investigação consistirá numa série de inquéritos e/ou entrevistas a diferentes tipos de actores directa ou indirectamente relacionados com os mesmos sete grandes sectores acima referidos: Empresas; Centros de Investigação; Associações Empresariais, Organizações Profissionais, Câmaras de Comércio e Sindicatos; organismos da Administração Pública Central e Local (Câmaras Municipais, Agências de Desenvolvimento Local); Universidades e Escolas Técnicas Superiores; ONG. A análise das respostas a esses inquéritos deverá permitir não só identificar as principais linhas de força nas relações entre empresas dentro de cada um dos sectores e respectiva importância relativa, como divisar ainda outras actividades económicas que devam ser objecto de pesquisa como potenciais integrantes do mega-cluster. Neste caso, será feita uma nova ronda de inquéritos a esses sectores assim identificados. Com base nos dados obtidos pelos inquéritos às empresas (volume de vendas, estrutura de custos, resultados líquidos, exportações, principais mercados) será possível modelizar os diferentes sectores, 1º de uma forma individual e depois em conjunto. Propõe-se ainda recorrer à análise factorial e de clusters para identificar os elementos principais das relações entre as variáveis em estudo. Já os modelos de regressão múltipla serão decisivos para identificar os factores determinantes da competitividade empresarial e o seu respectivo impacto no crescimento da produtividade e da inovação. Ficar-se-á então em condições de avançar com uma primeira redacção de conclusões e de recomendações em matéria de políticas públicas. A elaboração desses inquéritos e, em especial, a apreciação dos seus resultados deverá ser acompanhada por Grupos de Trabalho sectoriais e horizontais (por exemplo, políticas de formação profissional, de financiamento, de I&D, de capacidade empresarial e de gestão) idealmente constituídos por 4 a 6 pessoas cada. A composição e temas destes grupos resultarão de sugestões adiantadas em entrevistas a reconhecidos especialistas (“opinion makers”) dos diferentes sectores, que a equipa se propõe realizar nas fases iniciais do projecto. Além desses Grupos de Trabalho, o conjunto das entidades inquiridas deverá ser constituído em Comité Consultivo que deverá apreciar critica e interactivamente as conclusões do trabalho e respectivas recomendações em matéria de políticas públicas. Como resultado final destas Task Forces espera-se a identificação muito concreta de medidas de políticas públicas e de fortalecimento da sociedade civil que poderão garantir um desenvolvimento sustentável do mega-cluster. Metodologias para Quantificação do Nível de Competitividade Sectorial O conceito de cluster está intimamente ligado ao conceito de competitividade. OCDE: “competitividade é (…) a capacidade de empresas, indústrias, regiões, nações ou regiões supranacionais gerarem, de uma forma sustentada e enquanto expostas à concorrência internacional, rendimentos de factores e níveis de emprego relativamente elevados”. Indicadores de Competitividade 4 indicadores do nível de competitividade dos sectores/produtos do mar: - Proporção das exportações portuguesas a nível mundial (e/ou europeu). - Proporção do Valor Acrescentado Bruto (VAB) criado em Portugal face ao VAB mundial (e/ou europeu). - Saldo comercial (por sector e/ou produto). - Concentração geográfica (Quociente de Localização – QL) Factores de Competitividade Trabalho não especializado. Capital Humano. Capital Físico. Recursos Naturais. Investigação & Desenvolvimento. Economias de Escala. Economias de Aglomeração (Vizinhança/Proximidade). Metodologias para Quantificação das Ligações Intersectoriais A medição das ligações inter-sectoriais pode ser feita ou via inquéritos às empresas ou através da matriz de matriz input-output (IO). O estudo do Departamento de Prospectiva e Planeamento (DPP, 2004), veio desenvolver esse trabalho, procedendo ao apuramento de todo o sistema integrado de matrizes simétricas, facto que nos permite encarar a modelização como uma tarefa possível de ser feita, i.e., com dados minimamente actualizados, fiáveis e susceptíveis de utilização directa. Por exemplo, para medir as “Economias de Aglomeração”, podemos usar para cada produto e cada país um “Índice de Concentração da Oferta” que poderá ser obtido através da fórmula seguinte: EAit = ∑ i≠j {[(Tij + Tji)/ Xj] * (Nir/Nin) } / Ci Tij são as compras de i por parte do sector j; Xj é o output do sector j; Nir and Nin é o número de trabalhadores no sector i, na região e no resto do país (ou no país e no resto da EU), respectivamente; Ci é o custo médio de transporte por unidade de output. SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected] SECÇÃO DE GEOGRAFIA DOS OCEANOS Agenda | Agenda do Oceano 26 de Abril (Livro Verde) 19 de Setembro (FEP) | 11 de Outubro (I&DT) 16 de Novembro (Dia Nacional do Mar) Identidades Marítimas Europeias Os Nossos Museus do Mar Secção de Geografia dos Oceanos SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 2007 (LIVRO VERDE) Resumo da Sessão AS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E O DESENVOLVIMENTO LOCAL Livro Verde “Para uma futura política marítima da União” O reconhecimento da importância do âmbito local no desenvolvimento sustentável das actividades marítimas suscitou por parte da Sociedade de Geografia de Lisboa a proposta do tema “As comunidades ribeirinhas e o desenvolvimento local” para o Dia Nacional do Mar de 2007, que está a ser abordada em quatro sessões públicas: (a) em 26 de Abril, o contributo suscitado pela discussão do Livro Verde “Para uma futura política marítima da União: Uma visão europeia para os oceanos e os mares”; (b) em 19 de Setembro, “O Fundo Europeu para as Pescas”; (c) em 11 de Outubro, Encontro ”O contributo da Ciência e da Tecnologia”; e (d) em 16 de Novembro, Seminário “Uma identidade marítima plural e europeia”. Resumo da sessão de 26 de Abril de 2007 A sessão efectuou-se no auditório Adriano Moreira, durante a manhã, com o propósito de suscitar a formulação de contributos para a discussão pública do Livro Verde “Para uma futura política marítima da União: Uma visão europeia para os oceanos e os mares” a encerrar no dia 30 de Junho, tendo participado com evidente interesse cerca de 40 pessoas. O Prof. cat. Luís Aires Barros, presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa presidiu à sessão, que foi moderada pelo CAlm. José Bastos Saldanha. No início, o Eng. Miguel Sequeira (Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar) apresentou “As perspectivas do Livro Verde”. Passou-se ao primeiro tópico “O conceito de cluster e o seu papel no desenvolvimento local, regional e nacional”, introduzido pela Prof.ª cat. Regina Salvador (Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Universidade Nova de Lisboa), a que se seguiu um período de debate de cerca de 60 minutos, finalizado pelo relator, Prof. doutor Carlos Guedes-Soares (Unidade de Engenharia e Tecnologia Naval, Instituto Superior Técnico) que fez uma súmula dos seus aspectos mais relevantes. Decorrido um intervalo para café, a sessão prosseguiu com o segundo e último tópico “Identidade marítima” (a reafirmação de uma identidade marítima da Europa, mediante o forjar de um sentimento de identidade comum) com uma introdução pelo Prof. cat. Carlos Diogo Moreira (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa) que começou por contrapor com “Identidades colectivas, identidades marítimas e comunidades ribeirinhas” o título daquele tópico, que racionalizou, ao evidenciar a amplitude e diversidade das identidades (heranças, memórias, património, projectos) marítimas (parodoxalmente favorecidas pela globalização) e a importância de sensibilizar as opiniões para a necessidade da valorização daquelas identidades e, em consequência, das próprias comunidades ribeirinhas. Depois de um animado debate, em que foi sugerido ao Prof. Carlos Moreira o desenvolvimento de um programa de identificação e valorização das identidades, o Doutor Luís Martins (Museu Nacional de Etnologia), como relator, sintetizou os aspectos mais importantes da discussão. Veja as apresentações e as sínteses dos relatores Consulte a programação do Dia Nacional do Mar 2007 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, 100 1150-269 LISBOA PORTUGAL Telef.: 351+21 342 54 01 - 21 342 50 68 Fax: 351+21 346 45 53 E-mail: [email protected]