A UNIVERSIDADE DO TERCEIRO MILÊNIO RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ (ORGANIZADOR) Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF. Professor Convidado do Curso de Doutorado em Educação da UNINCOR – Três Corações. [email protected] ALITTA GUIMARÃES ANTÔNIO JULIANO BREYNER DEO PIMENTA EYMARD FRANCISCO BRITO JOANA BEATRIZ BARROS PEREIRA Alunos do Curso de Doutorado em Educação da UNINCOR – Três Corações (2003/2004) SUMÁRIO Introdução - Ricardo Vélez Rodríguez. I - Gestão Comunitária: Uma reflexão sobre as perspectivas educacionais para o 3º Milênio - Joana Beatriz Barros Pereira. II - O ensino à distância e a sua evolução no Brasil - Eymard Francisco Brito de Oliveira. III - O ensino superior na América Hispano-Portuguesa - Antônio Juliano Breyner. IV - O dilema de Pinocchio: Conseqüências culturais da moral contra-reformista no Brasil - Alitta Guimarães. V - A Universidade Paulo Freire - Deo Pimenta. INTRODUÇÃO RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ No decorrer do primeiro semestre de 2003 tive oportunidade de dirigir um Seminário sobre Política e Educação na Cultura Brasileira, no Curso de Doutorado em Educação oferecido pela UNINCOR. Ao ensejo desse Seminário, os doutorandos prepararam as monografias que constam desta obra, explorando aspectos fundamentais da problemática educacional contemporânea. Foi gratificante trabalhar num ambiente de liberdade de pensamento, de avaliação crítica do material estudado e de ânsia pela disciplina acadêmica. Esse foi, efetivamente, o pano de fundo que presidiu aos trabalhos do Seminário ao longo do semestre. Prometi aos meus alunos preparar uma publicação a partir das monografias. E eis que, com os materiais que eles me enviaram, estou apresentando a obra mencionada. As idéias que desenvolvo nesta Introdução foram expostas por mim em palestra proferida na UNINCOR, no dia 2 de agosto de 2003. Desenvolverei os seguintes itens: 1) A tradição pombalina e o seu peso na história da Universidade brasileira 2) A essência da Universidade e os novos reptos da sua estrutura neste início de milênio 3) As Universidades Comunitárias: uma alternativa para o Terceiro Milênio no Brasil 4) As Monografias que integram esta obra 1) A tradição pombalina e o seu peso na história da Universidade brasileira.- As reformas pombalinas, inspiradas na denominada “aritmética política” do ministro de Dom José I, ensejaram em Portugal um processo de modernização vertical do Estado e da sociedade. A essência dessa ideologia consistia na convicção de que o Estado, de posse da ciência aplicada, garantiria o enriquecimento da Nação, e possibilitaria o equacionamento das questões morais. Surgiu, assim, no contexto da cultura luso-brasileira, um modelo que convencionou-se denominar de “Patrimonialismo modernizador” ou “Neopatrimonialismo”. O Estado tutelar garantiria o progresso e a ordem. Concepção positivista avant la lettre, que seria reforçada, posteriormente, com o ingresso, no panorama cultural brasileiro, da filosofia de Augusto Comte, na segunda metade do século XIX. Vale a pena lembrar que os grandes momentos modernizadores que se desenvolveram no contexto da nossa realidade brasileira, passaram a se inspirar nessa matriz tutelar. Podemos mencionar os mais importantes deles: a) Momento de consolidação das instituições de ensino superior, a partir da vinda de Dom João VI para o Brasil em 1808. Surgem, ao redor do monarca, as primeiras instituições com a finalidade específica de formar os técnicos de que o Estado carece. Para isso não é necessário criar a Universidade. Basta com Faculdades ou Institutos controlados pela Coroa. As cinco propostas de criação da Universidade, que são apresentadas ao longo do Segundo Reinado, são sempre engavetadas com a mesma desculpa: o Brasil não precisa, para formar os seus técnicos, de Universidades, que por outro lado constituem sério risco de ideologização e de anseios independentistas, como aconteceu na América espanhola, onde ao redor de cada Universidade surgiu uma República. b) Momento do liberalismo radical de Frei Caneca e de Cipriano Barata. O ideal de República Iluminista acalentado por eles decorria da “aritmética política” pombalina: a República seria um reino onde as luzes da elite governassem, numa versão de ditadura científica próxima do despotismo napoleônico. Regimes revolucionários como o ensejado pela “Confederação do Equador”, inspiraram-se nesse pano de fundo cultural, que também deu asas a movimentos contestatários como a Balaiada, a Sabinada, etc. A Propaganda Republicana inspirar-se-ia, em várias das suas versões ao longo do século XIX, nesse contexto. c) Momento de ingresso do Positivismo na cultura brasileira, a partir da década de 1860, ao ensejo do “surto de idéias novas que se abateu sobre a cultura brasileira dos quatro pontos do horizonte”(Sílvio Romero). Os Positivistas, tanto os pertencentes ao Apostolado, como os representantes da corrente denominada de “Positivismo Ilustrado”, rejeitavam a idéia de Universidade, por considerá-la uma instituição ligada à “metafísica liberal”. Foi reforçada, destarte, assim, a concepção pombalina que já tinha se sedimentado na nossa cultura. d) Momento castilhista-getuliano: Getúlio Vargas, fiel discípulo de Júlio de Castilhos, considerava que a questão da modernização do Estado correspondia ao que ele denominava de “equacionamento técnico dos problemas”. Competia ao Estado, presidido pelo Executivo hipertrofiado, equacionar todos os problemas, com ajuda dos “Conselhos Técnicos Integrados à Administração”. Destarte, Getúlio estabeleceu um modelo de inspiração pombalina e positivista, que ensejou um tecnocratismo autoritário (de que, aliás, ainda não se desvencilhou a nossa estrutura estatal, haja vista o peso que a tecnocracia tem na gestão do Estado e o pouco que a representação política, sediada no parlamento, tem a dizer em face das políticas traçadas pelos tecnocratas, em matéria econômica, por exemplo). e) Momento do ciclo militar (1964-1984): constituiu uma variante do modelo getuliano, batizada pelo general Golbery do Couto e Silva de “engenharia política”. Segundo a Reforma Constitucional de 1967, o Estado empresário (lembremos que no período as empresas estatais passaram de 90 a 490), gerido pela tecnocracia obediente ao Executivo hipertrofiado, é a instância que realmente governa o país (o petit comité das nove horas, que despacha diretamente com o General-Presidente). f) Momento da redemocratização: em que pese o fato de o Brasil ter enveredado novamente pela trilha da vida democrática a partir de 1985, no entanto não se desvencilhou a administração do Estado de todos os traços centralizadores e de despotismo ilustrado herdados do passado. Como já foi destacado, o Ministério da Fazenda constitui, ainda hoje, o feudo dos tecnocratas, que elaboram as políticas nessa área muitas vezes sem levar em consideração a representação política, que pouco ou quase nada pode fazer para mudar as decisões tomadas. De outro lado, o Parlamento constitui o lugar da barganha cartorial e perante a opinião pública anda bastante desacreditado, junto com os Partidos políticos. A figura da “medida provisória”, mediante a qual os Presidentes da República têm governado nas últimas décadas, constitui pesada herança dos decretos-lei do período getuliano e dos “atos institucionais” do ciclo militar. O que significou, nesse contexto de herança de Patrimonialismo modernizador, o surgimento da Universidade nos anos 30 do século XX? A Universidade, é importante lembrar, foi exigência da sociedade civil. Inicialmente os cientistas da Academia Brasileira de Ciências, sob o comando de Otto de Alencar e Amoroso Costa, nas primeiras décadas do século passado, consideraram que era necessária a Universidade para o Brasil ingressar no caminho da pesquisa científica, estiolada pela ideologia positivista. Nos anos 20, junta-se a eles a Associação Brasileira de Educadores, que passa a mostrar a necessidade da Universidade, como lugar onde se desenvolva a pesquisa básica e se garanta o estudo e a difusão da Cultura Superior. A Universidade do Distrito Federal, em 1935 e a USP, em 37, são a resposta dada pela sociedade civil, através dos educadores e dos cientistas, ao Estado tecnocrático getuliano. A Universidade brasileira, consolidada na melhor tradição universitária européia, vai aos poucos, no decorrer das décadas de 50 até 70 do século passado, perdendo o élan inicial e se descaracterizando na opção massificante e profissionalizante em que hoje se encontra. Volta o nosso sistema de ensino superior a revestir as caraterísticas do sistema imaginado por Pombal. Mas, como o Estado terminou sendo privatizado pelas corporações e patotas, a Universidade, notadamente a pública, termina se perdendo no assembleismo e no patrulhamento ideológico dos grupos de ativistas, configurando a realidade anódina e distante da sociedade que hoje encontramos e sofrendo de absoluta crise de identidade, sob o domínio inconteste do baixo clero da esquerda acadêmica. Perdida a sua identidade, a Universidade alinha-se com o sindicalismo operário, perdendo a sua capacidade crítica e deixando de pensar os graves problemas nacionais. 2) A essência da Universidade e os novos reptos da sua estrutura neste início de milênio.- Encontramos, ao longo da história da Universidade ocidental, três grandes momentos, a saber: • A Universidade medieval, caracterizada como “Universitas magistrorum et scholarium” (Universalidade dos que ensinam e dos que aprendem). A essência da Universidade medieval era o binômio professor-aluno. A burocracia era apenas questão de meio para o fim acadêmico. A Universidade gozava de plena autonomia econômica e acadêmica, perante os outros poderes sociais. Ela, representada pelo Studium, reinava independente do Imperium (poder temporal dos Senhores Feudais e dos Reis) e do Sacerdotium (Poder espiritual do Papa e dos bispos). Ao ensejo das Universidades Medievais, cria-se o ambiente de liberdade necessário para a retomada, na modernidade, da tradição da ciência antiga. • A Universidade moderna, caracterizada como “Universitas scientiarum” (Universalidade das ciências), cuja grande manifestação será a Universidade Alemã de fins do século XVIII e início do século XIX. É a Universidade que incorpora, junto à tradição humanística medieval, a pesquisa básica e a ciência aplicada (esta última nas Escolas Politécnicas, que aparecem na França no final do século XVIII). • A Universidade hodierna, que pode ser caracterizada como “Universitas culturarum et technicarum” (Universalidade das Culturas e das Técnicas), em que se tenta preservar o patrimônio humanístico das épocas anteriores, em estreito diálogo intercultural, junto com a democratização das ciências e das técnicas, a serviço dos seres humanos. Quatro grandes reptos encontramos para as Universidades neste início de milênio: Globalização, Interdisciplinariedade, Humanismo e Pragmatismo. 3) As Universidades Comunitárias: uma alternativa para o Terceiro Milênio no Brasil.- Como já foi destacado, a Universidade pública tradicional perdeu o rumo. Terminou sendo posta a serviço das classes alta e média alta pelas corporações políticas que a administram, em decorrência do fato de o vestibular constituir uma seleção de tipo econômico, aprovando somente aqueles que conseguiram pagar estudo secundário particular, bem como cursinho preparatório. As Universidades particulares passaram a atender, em cursos noturnos de menor qualidade, os anseios profissionalizantes das classes menos favorecidas e programaram a ampliação de cursos em função de demandas imediatas que muitas vezes conduzem à rápida saturação do mercado. As Universidades confessionais, comprometidas com a formação humanística, não conseguem no entanto absorver a grande massa de jovens formados no segundo grau e que almejam entrar na Universidade. Há um vácuo no que tange a responder às necessidades sentidas pelas comunidades nas variadas regiões do país. É aí que se inserem as Universidades Comunitárias, que passam, ao longo das três últimas décadas, a serem organizadas em vários pontos do território nacional. Ressalte-se que a política educacional do MEC, claramente favorável ao predomínio do ensino oficial, tem infernizado burocráticamente a vida das Universidades particulares, das comunitárias e das confessionais, no contexto do velho vício cartorial de “oferecer dificuldades para vender facilidades”. É de todos conhecido o peso burocrático das Universidades oficiais, notadamente as federais, que não se identificam, via de regra, com as necessidades das regiões onde estão situadas. As Universidades Comunitárias são portadoras, em primeiro lugar, de uma estrutura administrativa ágil, que responde com rapidez às demandas do meio. Torna-se necessário, no entanto, destacar algumas exigências que as Universidades Comunitárias deverão levar em consideração, para que a sua presença seja realmente frutífera. Essas exigências são as seguintes: a) Formação humanística.- Em face da carência dessa formação no Segundo Grau, as Universidades Comunitárias, sensíveis às necessidades das comunidades por elas atendidas, devem criar um pano de fundo humanístico, sobre o qual possa ter sentido a formação profissional. A grande carência no exercício das várias profissões, hoje, é constituída pela visão atomística da realidade por parte dos novos profissionais. A melhor forma de educar profissionais de qualidade, é lhes dando uma fundamentada visão do homem e do mundo. Especialistas de várias áreas hoje insistem nisso, como por exemplo o professor Peter Drucker, para quem a formação do administrador do futuro depende da educação do homem como pessoa que saiba entender os seus semelhantes e que tenha criatividade suficiente para elaborar soluções novas perante os mutantes e agudos problemas do mundo contemporâneo. Somente formação técnica não basta. Sugeriria um ano de estudos humanísticos, como fundamento para o resto. b) Formação profissional, levando em consideração as necessidades regionais e incorporando novas tecnologias de ensino, como os cursos virtuais, os chats, os cibercafés, etc. É ruim para os educandos e para os educadores que no Brasil não haja campi virtuais reconhecidos academicamente pelo MEC. Estamos atrasados em relação aos nossos vizinhos nesse ponto. Argentina, Chile, Colômbia, etc., já incorporaram de longa data essas tecnologias e lhes conferiram validade acadêmica. c) Pesquisa, levando em consideração o perfil histórico da instituição, bem como as necessidades da região onde a Universidade Comunitária estiver situada. Nem todo professor é pesquisador básico. A formação na pesquisa é diferente da formação para o ensino. O professor deve pesquisar na sua área de educação e sobre o ato de ensinar. Mas a pesquisa básica implica em exigências diferentes das que são cobradas dos docentes. É importante distinguir esses dois tipos de atividades de pesquisa. O docente deve ser um pesquisador aplicado. Difere do pesquisador puro. Mas ambas as dimensões da pesquisa precisam estar presentes nas Universidades Comunitárias. Os programas de doutorado são talvez, hoje, o lugar específico para formar pesquisadores básicos. Os programas de mestrado são os lugares para formar docentes/pesquisadores aplicados. As Universidades Comunitárias devem, outrossim, tentar equacionar o problema do financiamento da pesquisa básica, hoje totalmente dependente do orçamento estatal no nosso país. Por isso não há pesquisa básica entre nós. As Universidades Comunitárias devem se aliar ao setor produtivo da sua região, a fim de elaborar modelos de cooperação para a pesquisa básica. É lógico que se houvesse entre nós uma sadia política de incentivos fiscais para financiamento da pesquisa, as coisas seriam infinitamente mais fáceis. Hoje, infelizmente, só gozam de incentivos fiscais algumas atividades culturais muito pontuais. A reforma tributária, pelo que se vê, não leva em consideração a ampliação do leque de incentivos fiscais para pesquisa. É uma reforma cartorial que busca aumentar impostos simplesmente, na trilha das vetustas derramas portuguesas. 4) As Monografias que integram esta obra.- Propus, no início do Seminário, os seguintes temas, com a finalidade de que os doutorandos, nas suas monografias, desenvolvessem um ou alguns deles: a - A problemática do Estado Patrimonial brasileiro. É possível sair do patrimonialismo? b - Conseqüências culturológicas (educacionais, principalmente), da adoção, no Brasil, da moral contra-reformista c - Em busca de um modelo de Universidade brasileira, afinada com os requerimentos do desenvolvimento d - Em busca de um modelo de pesquisa básica no Brasil. Por que não temos Prêmios Nobel, enquanto milhares de "pesquisadores" freqüentam as reuniões anuais da SBPC? e - A questão da educação básica: questões essenciais que devem ser levadas em consideração f - A educação brasileira no contexto da realidade latino-americana Os trabalhos apresentados pelos Doutorandos no final do período e que ora são publicados, ajustaram-se às exigências mencionadas no início deste item. Alitta Guimarães aprofundou nos aspectos relacionados à nossa herança da Moral contra-reformista e às implicações desse passado cultural no sistema educacional; Antônio Juliano Breyner partiu para situar o sistema brasileiro de ensino superior no contexto da história da educação universitária na América Latina; Deo Pimenta caracterizou detalhadamente uma experiência de Universidade Comunitária, a UNIFREIRE, como voltada essencialmente para a problemática social brasileira; Eymard Francisco Brito fez uma longa e aprofundada explanação acerca das novidades pedagógicas apresentadas pelas modalidades de ensino à distância, no nível universitário, tanto no Brasil quanto à escala mundial; Joana Beatriz Barros Pereira, por sua vez, traçou os lineamentos gerais do que, no seu entender, seria básico no conceito de Gestão Comunitária das Universidades. Nesta Introdução procurei situar os reptos com que se defronta hodiernamente a Universidade brasileira, em face da nossa tradição de ensino superior profissionalizante, super-especializado e massificado, destacando as novidades que apresentam as Universidades Comunitárias. Considero que de todas estas reflexões os leitores poderão tirar valiosas conclusões, no que tange aos imperativos hodiernos de reformulação do nosso sistema de educação superior no Brasil. O Seminário sobre Política e Educação na Cultura Brasileira cumpriu, assim, com a finalidade desse tipo de atividade acadêmica no nível de Doutorado, dando ensejo a materiais novos que enriquecem a reflexão crítica sobre as nossas instituições educacionais, no contexto da realidade brasileira e latino-americana. Juiz de Fora, Março de 2004. I - GESTÃO COMUNITÁRIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS PARA O TERCEIRO MILÊNIO JOANA BEATRIZ BARROS PEREIRA Como ser histórico que é o homem, uma reflexão sobre educação deve passar pela história. Passear pelos tempos da pessoa humana santa, da pessoa humana cientista, e ir ao encontro da pessoa humana cidadã. Num breve trilhar histórico, há marcas do tempo na visão do humano, consideradas, geralmente, em dimensões particularizadas. Na idade medieval, em inspiração cosmológica, a pessoa humana foi situada em função da preocupação com o ar, a terra, o fogo e a água. O homem foi obra da divindade e prêmio para o universo. A sofística reagiu a esta filosofia e deslocou o eixo cronológico para o eixo antropológico. Sócrates, Platão e Aristóteles exploraram a riqueza da psiché humana. A patrística praticamente conservou estas idéias. Durante a Idade Média prevaleceu a especulação metafísica, e o teocentrismo reinante estabeleceu uma condição de determinante sobre a figura da pessoa humana. Neste recolhimento forçado mas em sono latente, o humano renasce provocando a Renascença como uma nova sofística, resgatando o homem e a pessoa humana numa dimensão antropológica, manifestando essa concepção principalmente através da arte. A era moderna, de posse dessa figura humana carente do entendimento de si mesmo e na procura da consciência de si própria, buscou entender como era, quem era e para que era o homem no contexto da realidade daquele momento. Nesta busca de entendimento, não com responsabilidade de apenas um pensador para dar as respostas, mas com estudos que se completavam, a pessoa humana foi considerada na sua racionalidade através de diversas formas de reflexão, como Locke e suas comprovações, a visão crítica de Kant, Hume em visão fenomenológica, Descartes com a subjetividade, Spencer em visão evolucionista, Bacon abordando o enfoque empirista e o entendimento da natureza, Hegel com a dialética, Berkeley nas reflexões idealistas, Hobbes em visão materialista,, com o positivismo de Comte e outros mais que contribuíram para entender e constituir uma pessoa humana sujeito. Como sujeito, se viam e se construíam, e a corrente existencialista levantou seus pareceres com Kierkegaard, Sartre e Heidegger. A existência humana não podia ser considerada apenas na individualidade e assim acentuam-se os estudos envolvendo as relações sociais. Marx, Marcuse e Eric Fromm... Contemporaneidade. Modernismo. Pósmodernismo. Muito se pensou, muito se pesquisou, muito se pensa ainda. Muito se fez. Muito se faz e muito está se fazendo Um fazer que sempre mostrou a relação com o saber. O saber que passou pelas teorias de Copérnico onde a Terra era o centro do Universo, fez Galileu titubear circunstancialmente diante da Inquisição para afirmar que o Sol era o centro do Universo, Darwin relegar Deus a um plano secundário pela Teoria da Evolução das Espécies, Mendel brincar com as ervilhas e dizer ao mundo que existe uma herança genética responsável pelas características do homem e, no século XX, Watson e Crick isolarem o até então procurado gen. O saber que foi produzido e, por Ter sido produzido, foi provocando o caminhar dos tempos, fez a história. O saber que faz, hoje, a teoria da complexidade. Que traz Morin e nos incita a construir uma outra idéia de pessoa humana, um outro mundo para abarcar esta outra pessoa humana. Não a santa da era medieval, não a cientista radical da era moderna, mas a cidadã do Terceiro Milênio. O final da década de 80 e início da década de 90 delineou um novo quadro na Europa e no Mundo. A queda do Muro de Berlim, a alteração geopolítica no Bloco Soviético Europeu, a modificação na economia norte-americana uma perspectiva nova de mundo para esse novo milênio. A abolição das fronteiras econômicas européias e a formação da Comunidade Européia, os acordos entre os países recentemente industrializados como Coréia do Sul, Formosa, Tailândia, Indonésia, o Japão e sua extensão comercial no hemisfério sul, o mercado comum entre os Estados Unidos e Canadá estendido para o México, o NAFTA, o MERCOSUL. O mundo em plena globalização. São pólos macroregionais que demandam uma profunda integração de estruturas. Integração econômica, social e cultural diante de um pluralismo evidente nas circunstâncias em que ocorrem. Neste contexto está a pessoa humana, cidadã destes tempos. As modificações que vão ocorrendo, físicas, de limites geográficos, do modo de produção, do atendimento aos direitos da pessoa humana, revelam marcas de um processo amplo, articulado ao processo social como um todo, atingindo estruturas quer seja no âmbito pessoal ou institucional. Esta articulação, para preservar a identidade humana no que concerne à cidadania, deve resguardar a dimensão racional, física, espiritual, ética, estética, política e social de cada elemento das comunidades. Diante da diversidade de tempo e espaço, de culturas e utopias, o desafio deste Milênio é preservar o humano na sua identidade mais profunda diante desta complexidade do mundo globalizado, de modo que cada um, segundo Rubem Alves, possa "gestar a cada dia um sentido novo de viver". A educação está inserida neste contexto como um processo para desenvolver as potencialidades que compõem a natureza humana, quer sejam razão, liberdade, sociabilidade, espiritualidade, sexualidade, eticidade. É um fator de mudança social, de desenvolvimento, privilégio de todos, sem exceção. Até mesmo em perspectiva missionária, a educação deve ser oportunizada ao homem no sentido de desenvolver o que tem dentro de si, seja razão, seja emoção, disponibilizando-se para o seu próprio bem e o bem de sua comunidade. O aprender a ser, a fazer, a conviver e a conhecer, quatro pilares da educação contemporânea expressos no Relatório Delors (Educação: um Tesouro a descobrir. Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI) da UNESCO, editado em 1998, devem sustentar a educação que se dirige à totalidade do ser, sustentar o resgate do humano pelo humano. A educação dissemina conhecimento. Conhecimento que é relativo ao tempo, ao espaço, à cultura, à política, que é construído. Que é belo, prazeroso, libertário, que nunca acaba, que é e sempre está por vir. Por tudo isso, verdade momentânea. Este conhecimento projeta o homem, pois sempre presume o novo e descortina o futuro. Abordando a relação do conhecimento e a verdade do mundo, Morin diz que o objetivo do conhecimento não é descobrir o segredo do mundo numa palavra mestra, mas dialogar com o mistério do mundo. Dialogar com o mundo em movimento, em transformações, em novo momento a cada momento, portanto, com verdades que surpreendem, contextuais, sempre a serem interpretadas. Um novo formato se delineia na arte de fazer ciência, quando nos defrontamos com esta forma de interpretar o mundo. Diante desta realidade em movimento, a educação do futuro nos solicita: 1) uma abordagem global da realidade em perspectiva holística; 2) o desenvolvimento de habilidades e competências para aprender a aprender; 3) dinamismo e criatividade; 4) acompanhamento dos avanços científicos e tecnológicos; 5) diálogo constante com o mundo do trabalho. Pensando este conhecimento sistematizado nesta projeção de futuro, a Universidade se vê diante de um futuro de grandes desafios. Grande no que diz respeito ao quantitativo num mundo de mais de 6 bilhões de habitantes, à dimensão demográfica, à diversidade intelectual e cultural, à distribuição de riquezas, às condições ecológicas do planeta, ao modo de produção, à violência, às relações de poder, às relações econômicas, à globalização, aos direitos humanos, aos paradigmas da ciência introjetados na nossa realidade, à velocidade das informações num mundo cibernético, entre outras condições de destaque no tocante a pensar a vida humana e sua humanidade. Com o olhar de horizonte, tridimensional, a universidade deve discutir e provocar discussões sobre as verdades das ciências, sobre a informação e a construção de conhecimento no tocante às habilidades e competências para a cidadania plena, sobre a identidade terrena e a condição humana, sobre as incertezas e a necessidade de compreensão, sobre a ética do gênero humano. A consciência, a responsabilidade e o comprometimento dos humanos com a identidade terrena e a condição humana no planeta é uma meta a ser buscada por todos os que nele habitam, quer se apresente em figura jurídica ou física. A todos cabe este dever. Com maior responsabilidade se vê a instituição Universidade, pois a ela cabe o dever de sensibilizar, esclarecer, conscientizar, promover e zelar pela consciência de si mesma e de toda a humanidade. Diante deste contexto de tamanha complexidade, Educação, Ciência e Tecnologia constituem as áreas mais fundamentais para o desenvolvimento. A pósmodernidade traz consigo uma visão nova da educação que valoriza cada pessoa e cada sociedade, que compreende fatores cruciais da produtividade moderna, do crescimento econômico, do desenvolvimento social e da ética em todas as dimensões das relações humanas. Utilizando os conhecimentos da Ciência e as Tecnologias desta era em prol do homem e da sociedade, com a consciência da educação continuada e com a responsabilidade da convivência social enriquecedora, novos paradigmas surgem e propiciam formas renovadas de pensar o mundo. A relação ensinar-aprender sustentada em si mesma, depara-se com um aluno construtor de seu próprio conhecimento, com uma escola que propicia a interação dos ambientes físico e social para que o aluno construa, no processo, o seu conhecimento; com uma educação que prepare o aluno para aprender, para a busca de informações e para a aplicação das mesmas; com um professor que assessore o aluno em sua construção; com uma visão de mundo e, sobretudo no trato com os conteúdos, de forma holística, globalizante, transdisciplinar; com a consciência de professor e aluno como seres inacabados, que se constróem constantemente, assim como constróem a sociedade em que estão inseridos. O Milênio que começa remete-nos a estes novos paradigmas em educação, como conseqüência da própria atuação humana na história da humanidade. É processo. Estamos em processo. Temos a responsabilidade de construir a sociedade que almejamos e, ao mesmo tempo, ser ela própria. Temos a responsabilidade de promover o conhecimento e torná-lo propriedade de todos, nas mais diversas nuanças, nos mais diversos espaços, nas mais diversas culturas. E, nessa dimensão contextual e conjuntural, o desafio da educação é estar globalizada respeitando sua identidade e a identidade da comunidade em que está inserida, globalizar o seu mundo sem dele sair. E globalizar, sendo a educação sustentada pelo conhecimento. Conhecimento para todos. Bibliografia ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. Campinas: Papirus, 2002 ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação. 2ª edição. Piracicaba: UNIMEP, 1998. BUARQUE, Cristovam. "Por uma Universidade ligada". In: Ensino Superior, Agosto de 2002: pgs. 32-37. MORIN, Edgard. Os sete saberes necessários à educação do futuro. (Tradução de Catarina Eleonora F Silva e Jeanne Sewaya). 3ª edição. São Paulo: Cortez, 2001. MORIN, Edgard. "Religar a ciência e os cidadãos". In: Ética, cultura e educação. São Paulo: Cortez, 2001. MORIN, Edgard. "Sobre a reforma universitária". In: Educação na diversidade. Os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 2002. PAIM, Antônio; Leonardo PROTA e Ricardo VÉLEZ Rodríguez. Educação para a cidadania: Compêndio. 2ª edição. Londrina: EDUEL / Instituto de Humanidades, 1999. RIOS, Terezinha Azevedo. Compreender e ensinar. São Paulo: Cortez, 2001. II - O ENSINO À DISTÂNCIA E A SUA EVOLUÇÃO NO BRASIL EYMARD FRANCISCO BRITO DE OLIVEIRA I : EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ENSINO A DISTÂNCIA O ensino a distância tende-se a ser adotado por países de todo o mundo. Ele divulga e democratiza o conhecimento, utilizando avançadas tecnologias da comunicação, correio, rádio, cinema, televisão via satélites, vídeo e Internet. Abrange a instrução em todos os níveis. As chances de estudar e aprender eram mínimas na Antigüidade. Os livros eram manuscritos e ficavam sobre a guarda dos sacerdotes e iniciados na Antigüidade e nos Mosteiros na idade Média. Mas foi com a invenção de Gutemberg, no século XIV, uma prensa de imprimir, rápida e eficiente e nos tipos móveis de metal, que introduziu na Europa, que revolucionaram a técnica de impressão. Graças a ele, é que se tornou possível a transmissão da palavra escrita a crescente número de pessoas. O primeiro livro impresso foi a Bíblia. Com os livros, surgiram as chances de aprendizado sem a presença do professor. Em função do aparecimento de novas tecnologias de informação, a evolução do ensino a distância divide-se em três fases: • Geração Textual – de 1890 a 1960 – baseada numa atitude isolada de autoaprendizado e tendo como suporte apenas materiais impressos; • Geração Analógica – de 1960 a 1980 – baseada numa atitude de autoaprendizado através de materiais impressos, de tecnologias de mídia como áudio e vídeo; • Geração Digital – 1980 até os dias atuais, é um auto-aprendizado com suporte de recursos tecnológicos com alto grau de interação através dos computadores pessoais, e a facilidade de acesso às redes de computadores locais e remotas, pela Internet, Intranets e Extranets. A segunda tecnologia que possibilitou o ensino à distância foi o correio, no século XVIII, através de distribuição de material impresso, livros, apostilas e cartas. Conta a história que a origem da EAD, está nos cursos por correspondência no século XVIII, até meados do século XIX. BARRETO (1995)1 em seu estudo, observou que há registro de que em 1833, na Suécia, havia um curso de contabilidade por correspondência. Foi o embrião do projeto de Educação à Distância (EAD), no mundo. O início da EAD, na Inglaterra data de 1840 e, em 1843, é criada a Phonografic Corresponding Society. Em 1856, em Berlim, Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt fundaram a primeira escola de línguas por correspondência. Os Estados Unidos começaram com o ensino à distância em 1874, com a Illionois Weeleyan University. William Harper, Reitor e fundador da Universidade de Chicago, em 1881, ofereceu um curso de Hebraico por correspondência. Em 1889, havia no Queen’s College do Canadá, vários cursos de baixo custo, com o objetivo de compensar as grandes distâncias entre os centros urbanos daquele país. A terceira tecnologia que possibilitou o avanço da EAD foram os meios eletrônicos, no século XX. O telégrafo, telefone, rádio e redes de computadores, agilizaram, facilitaram e favoreceram entre outros, a população rural. Muitos projetos em várias partes do mundo surgiram a partir de 1960. A televisão contribuiu muito para a educação ao aliar imagens em movimento aos sons. Através da informática e da telecomunicação outras formas de ensino ganharam espaço e credibilidade, criando oportunidades diversas não só as instituições de ensino via Internet, mas também, as empresas que investem em treinamento. A França, a Espanha e a Inglaterra, foram os países que mais divulgaram sobre a educação a distância, apresentando diversos trabalhos no campo de aplicação dessa modalidade de educação e servindo de inspiração para a América Latina e Caribe, Venezuela e Costa Rica. Na Inglaterra, há uma empresa de consultoria, Open University, cujo objetivo é apoiar e ensinar nações a fazerem uma educação à distância com qualidade e credibilidade. No Paquistão, a Universidade Aberta Allma Iqbal, iniciou suas atividades em 1974, com o objetivo específico de formar docentes, carência do país – com o propósito de universalizar o ensino primário. A Universidade Aberta do Sri Lanka, criada em 1980, atende aos setores de importância para o desenvolvimento do país, como as profissões da área tecnológica e formação de professores. Na Tailândia, a Universidade Aberta Sukhothiai Thommathirat atende atualmente quatrocentos mil alunos, em cursos diversos, proporcionando oportunidades educativas a pessoas que não tinham acesso a universidades presenciais. Na Indonésia, a Universidade de Terbuka, criada em 1984 para atender estudos superiores, prevê o atendimento a mais ou menos cinco milhões de alunos. Em 1985, a Universidade Nacional Aberta Indira Gandhi, na Índia, surgiu com o propósito de atendimento ao ensino superior. A Austrália investe muito em ensino superior à distância. Programas diversos foram desenvolvimentos nas universidades de Queesnsland, New England, Macquary, Murdoch e Deakin. A percentagem dos alunos a distância é igual ou maior do que a de alunos presenciais na Universidade de New England, ou seja 75%. Na China, citamos a experiência da Universidade para Todos os Homens e as 28 universidades locais por televisão. Também na América Latina, a expansão do ensino a distância é importante, o objetivo é garantir o acesso de alunos ao ensino superior, com qualidade. Destacam-se: Universidade Aberta, da Universidade Nacional Autônoma do México, em 1972; a Universidade Estatal a Distância da Costa Rica, em 1977; a Universidade Nacional Aberta da Venezuela, em 1977 e a Universidade Estatal Aberta e a Distância da Colômbia, em 1983. Em 1986, a Universidade Nacional da Patagônia San Juan Bosco (UNPSJB), aprovou a criação do Sistema de Educação a Distância (SEAD), realizando um Projeto de Pesquisa na Patagônia Sul (Chubut, Santa Cruz e Terra do Fogo) com a finalidade de levantar informações da região, apresentar a proposta do SEAD e conhecer as necessidades da população em interesses de estudo. Para a pesquisa foram utilizadas várias técnicas em 22 localidades da Patagônia. O resultado foi excelente, e é fonte permanente de consulta para o estabelecimento. A pesquisa revelou que as pessoas queriam cursos em docência, técnicos, astronomia e horticultura. Atualmente, a Direção de Educação a Distância (DeaD) da UNPSJB faz parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária –INTA, para desenvolvimento de cursos que realmente são necessários para a região. Nos cinco continentes a educação a distância foi adotada em todos os níveis de ensino, em sistemas formais e não-formais de ensino, atendendo, portanto, a milhões de estudantes e interessados no autoconhecimento. Experiências, como treinamento, aperfeiçoamento e reciclagem de professores, no México, Tanzânia, Nigéria, Angola e Moçambique, têm dado resultados satisfatórios. Experiências de programas não-formais de ensino para adultos são utilizados nas áreas de saúde, agricultura e previdência social, tanto por empresas como órgãos governamentais. Nas empresas alemãs, o alto índice de produtividade e qualidade da mão-de-obra especializada está ligada diretamente ao treinamento e reciclagem de funcionários. De modo geral, na Europa, o investimento em educação a distância é praticamente a treinamento de pessoal na área de custos e finanças. Nos Estados Unidos, desde janeiro, no programa de governo de George W. Busch, o investimento em formação e treinamento de pessoas está sendo maciço. BREEN (2003)2, como educação a distância cita o caso de John Sperling, presidente da Apollo Group, empresa com ações negociadas na bolsa eletrônica Nasdaq e dona da Universidade de Phoenix, o maior sistema universitário do país, com 140.000 alunos em 4 campus. Em 1989, Sperling comprou um estabelecimento de ensino a distância desativada. Formou uma equipe técnica com a missão de criar um sistema educacional virtual e lucrativo. Foram cinco anos de experiências na transformação da sala de aula em bits e bytes. Atualmente, a Phoenix Online têm uma receita aproximada de 327 milhões de dólares. E, no momento, a preocupação de Sperling é eliminar todos os livros-textos do sistema educacional, substituindo-os por um material de ensino personalizado totalmente digital. A propósito, desde 2001, a Apollo International é sócio do grupo Pitágoras de ensino, de Minas Gerais. 1.1. Ensino a distância no Brasil VIANNEY(1999)3 em seu estudo nos oferece um cenário de propostas e desafios do ensino a distância no Brasil. Ao longo dos anos foram muitas tentativas. Nos Estados Unidos, Europa esta modalidade de ensino já é uma constante. O que falta é transformar o perfil das instituições, ou seja, planejar, lançar estratégias e objetivos, fazer investimentos e colher os frutos. No Brasil, a EAD surgiu em 1904 com os cursos por correspondência, de acordo com o Instituto de Pesquisa Avançadas em Educação. Os cursos oferecidos eram em espanhol e surgiram no Rio de Janeiro, através de representação de uma escola norteamericana. Em 1923, através da interação rádio/escola, foi criado o primeiro programa educativo da América do Sul, na Rádio Sociedade Roquete Pinto, no Rio de Janeiro. Ao formular o projeto, Edgard Roquete-Pinto sabia do poder de alcance do rádio na educação e na integração de pessoas. Os contatos com os alunos era através de correspondência. Em 1936, ela foi doada ao Ministério da Educação e Saúde, com finalidade educativa. Dessa maneira, surgiu a Rádio Ministério da Educação. Em 1927, com o Cinema Educativo, foi criada a Comissão de Cinema Educação, do Rio de Janeiro. Em 1932, surgiu a Ginástica via Rádio, no Rio de Janeiro. As aulas eram orientadas por Oswaldo Diniz Magalhães. Data também desta época o “Manifesto – Pioneiros da Escola Nova”, os educadores com visão no futuro já queriam utilizar os recursos tecnológicos do rádio, cinema e impressos para inovar a educação brasileira. Em 1936, outra tentativa da EAD. Criação do Instituto Nacional do Cinema educativo, pelo Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Foi absorvido em 1966 em Instituto Nacional de Cinema. Neste mesmo ano surge, a Rádio Ministério da Educação. Em 1937, criação do Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação. Em 1939, foi criado o Instituto Rádio Monitor. Em 1941, o Instituto Universal Brasileiro, com mais de 50 anos de experiência, dedicados à informação e ao preparo de profissionais. São 3.100.000 pessoas que estudaram ao longo desse tempo, que comprovam o método de educação à distância. A “Voz da Profecia”, foi uma instituição de ensino à distância, com a finalidade de evangelizar, em 1943. Produziram sete cursos de ensino por correspondência, tendo atingido até 1977, 25.000 pessoas. Em 1943 e 47, surge a Universidade do Ar. A primeira durou dois anos e atendia principalmente na formação do professor leigo. A segunda, em São Paulo, pelo Senac, Sesc e Emissoras Associadas, com a finalidade de treinar comerciantes e empregados em técnicas comerciais. As aulas eram retransmitidas por onze estações de rádio do interior. Na década de 1950, a Universidade do Ar, atingia 318 cidades e oitenta mil alunos. Com o advento da primeira televisão no Brasil, a TV Tupi, Edgard Roquete-Pinto e o engenheiro José Oliveira Reis, elaboram um projeto para instalação de um canal de televisão educativa, no Rio de Janeiro. Foi obtido a concessão do canal da TV e a emissora foi comprada de uma empresa norte-americana. Devido a dívidas, ela nunca foi instalada. Em 1957, foi criado o Sistema Rádio-educativo Nacional (Sirena), elaborando programas para emissoras de diversos pontos do país. Com as Escolas Radiofônicas: Educação Popular via Rádio, em 1958, a Igreja Católica em Natal (RN), com o Serviço de Assistência Rural (SAR), deu início a uma experiência interessante, atingindo um grande número de pessoas. Também, em 1959, a Diocese de Aracaju, cria a Escola Radiofônica, em convênio com o Sirena, possibilitando o ensino a distância na região. O Movimento de Educação de Base (MEB – 1961/65) foi criado pela Igreja Católica sob o patrocínio do Governo, com metas em alfabetização, conscientização política, sindicalismo, instrumentalização das comunidades, sua cultura e animação. Para este fim, o MEB elaborou uma pedagogia popular, através de Sistema de Rádio-educativa, que consistia em programas educativos de comunidade/escola. Vinte e cinco emissoras transmitiam as chamadas aulas radiofônicas. No final de 1965, havia 4.552 escolas radiofônicas. Em 1961, foi implantado um projeto especial: a alfabetização de adultos, através da TV Rio, pela Fundação João Batista do Amaral. Este projeto estendeu-se até 1965. Com a Escola de educação aberta por correspondência, houve cursos especializados com técnicas de iniciação musical, para o aprendizado de violão e guitarra. Em 1962, o EAD esteve presente: • No Instituto de Investigações Científicas e Criminais, no Rio de Janeiro, havia oferta de cursos para formação de detetives com diplomas ao final do curso além da carteira de identificação profissional do aluno. Infelizmente, não era reconhecido pelas instituições oficiais. Foram matriculados até 1970, 5.000 alunos. • A Fundação João Batista Amaral oferecia programa pela TV Rio, para reciclagem de professores primários. • Com a Universidade de Cultura Popular, lançamento de Gilson Amado, através da TV. A idéia foi aceita e em 1966 era veiculado pela TV Continental. No final de 1964, com ação do Ministério da Educação: • Petição ao Conselho Nacional de Telecomunicação, de 48 canais de VHF e cinqüenta de UHF, para TV educativa. • Formalização e planejamento da Radiofusão educativa. Em 1965, criação na Escola de Comando e Estado Maior (Eceme), do Ministério de Exército, Divisão de Ensino à Distância (DED), com objetivos: • Preparar oficiais candidatos para ingressar na Escola; • Elaborar, organizar e aplicar provas de Concurso de Admissão à ECEME; • Manter atualizados os oficiais que concluem os cursos. O Sertre – Serviço de Rádio e Televisão Educativos foi criado através de um convênio da Secretária de Educação do Estado do Rio Grande do Sul e o Ministério da Educação, com a finalidade também de educação e cultura. O Centro de Ensino Técnico de Brasília (CETEB) foi criado em 1965 no Rio de Janeiro, pela Fundação Brasileira de Educação com o nome de Centro de Ensino Tecnológico. As atividades presenciais tiveram início em 1968 e, a partir de 1973/1974, desenvolveu programas de educação à distância. Em 1967: • Ministério da Educação, criou a Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa (Funteve), atual TVE, no Rio de Janeiro. • Fundação Padre Landell de Moura do Rio Grande do Sul, com programas junto a empresas privadas e governo; • Fundação Padre Anchieta, de São Paulo na educação formal e não-formal; • Instituto de Administração Municipal (Ibam), no Rio, com cursos de treinamentos de pessoal de prefeituras municipais. • Associação Mens Sana, em São Paulo, cursos por correspondência, na área de parapsicologia, com uso de materiais impressos. • Cursos Guanabara de Ensino, no Rio de Janeiro, cursos profissionalizantes por correspondência. Em 1968, a Instituição Dom Bosco Escolas Reunidas, em São Paulo, oferecia cursos profissionalizantes por correspondência. Conforme estatística a demanda era de 6.900 alunos, até 1970 e de 5.200 alunos, em 1971. Em 1969, outras experiências: • TV Cultura – Fundação Padre Anchieta em São Paulo. • TVE do Maranhão – Fundação Maranhense – Centro educativo do Maranhão, pelo governo do Estado. Oferecia curso de tele-educação em circuito fechado para a 5ª série, e, a partir de 1970, em sinal aberto para as outras séries do 1º grau. Sistema de recepção em tele-salas de escolas da rede oficial. Em 1995, havia 1.104 tele-salas em todo o Estado, atingindo em torno de 41.400 alunos. • Projeto Sate – Decreto n.65.239 do Governo Federal, instituindo o Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais. • O Projeto Saci – do Instituto de Pesquisas Espaciais do CNPq, de São José dos Campos, viabilizou em rede via satélite, por TV e Rádio, em 1969, Curso Supletivo de 1º grau para professores leigos, no Rio Grande do Norte. Data-se também desta época, o primeiro curso de mestrado em Tecnologia Educacional no país, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- (INPE) Década de 1970: • Projeto Minerva, iniciativa da Fundação Padre Landell de Moura (RS) e da Fundação Padre Anchieta (SP) para produção de textos e programas educacionais. Ênfase na educação de adultos, com base na Lei 5.692. O Projeto Minerva era transmitido em rede nacional, por 1.200 emissoras de rádio e 63 emissoras de televisão, com objetivo de preparar alunos para exame supletivos de Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial. Atendeu 17.246 alunos no período de 1970-1971. • Sistema Nacional de Ensino por Correspondência, com a finalidade de formação de recursos humanos do Ministério da Fazenda. Os programas eram administrados pela Escola de Administração Fazendária (ESAF). Os cursos oferecidos: na área de Português, Redação Oficial, Introdução à Administração, Administração por Objetivos, Computação e Contabilidade Pública. • Cosmetologia. Ensino à distância com material impresso – por correspondência. Era ministrado pelo Instituto Cosmos de Beleza. O conteúdo era sobre estética facial. Em 1971: • Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT), responsável pela revista Tecnologia Educacional, organizadora de seminários na área. Iniciou com o nome de Associação Brasileira de Tele-Educação, e a partir de 1969, produtora dos Seminários Brasileiros de Tele-Educação, sendo de sua autoria, os programas de capacitação de professores - ensino por correspondência. • João da Silva: Telenovela Educativa – primeira novela educativa da TV brasileira. Foi dirigida por Jacy Campos (recebeu menção honrosa do júri do Prêmio Japonês de melhor programa didático de 1973. Os programas ficaram no ar em 1973/1974 – veiculação de 100 capítulos, 25 aulas retrospectivas, 10 programas complementares e 5 livros de apoio. • Supletivo 1º grau: Fase 1- era transmitido a nível nacional, pelo Ministério da Educação, através de programas radiofônicos. Com o objetivo de coordenar experiências e elaborar uma política voltada para a educação a distância, foi criado o Programa Nacional de Telecomunicações (PRONTEL) em 1972, ligado à Secretaria Geral do Ministério da Educação e Cultura. A Fundação Roberto Marinho apresentou em 1970, um planejamento de educação a distância supletiva de 1º e 2º graus, utilizando material didático impresso, o rádio e a televisão. Em 1974: Centro de Estudos de Pessoal do Exército (CEPE) com programas de aperfeiçoamento de civis e militares em atuação nos estabelecimentos de ensino militar. Cursos por correspondência, com recursos – módulos de ensino e audiovisuais, como meio auxiliar. Através da Fundação Educacional do Ceará, foi criada a Televisão Educativa do Ceará (TVE/CE), sendo difundida em oito municípios. Produz e gera tele-aulas e material impresso de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental. É instrumento de apoio ao ensino presencial., A Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, em 1975, criou um programa de ensino a distância com o objetivo de atualizar, aperfeiçoar e especializar professoras da área de ciências do 1º grau. Ainda, na década de 1970, houve vários projetos, como: • Petrobrás – (Projeto Acesso), do Ceteb/Fubrae, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, curso de educação à distância por correspondência, parceria com a Petrobrás, supletivo aos funcionários da empresa. • Cursos de Auxiliares de Clínica e de Cirurgia Ltda, no Rio de Janeiro. Seis cursos por correspondência, impressos/postagem. • MEC/Supletivo – Projeto Logos II: habilitação de professores leigos sem afastamento da docência. Projeto de atuação em dezenove estados brasileiros. Aprendizagem através de módulos impressos e tutoria local ou por interação com uma central de atendimento, por carta ou telefone. • Aperfeiçoamento para Instrutores de Formação Profissional Rural, criado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), em parceria com o CETEB, com o objetivo de formar servidores de órgãos estaduais de assistência técnica e extensão rural. De 1978 a 1982, foi desenvolvido pelo Ministério do Exército, curso por correspondência de preparação de Comandantes, atualmente é realizado pelo Estado Maior do Exército. Em 1978, criação do Centro de Tele-educação do Sul, composto de cinco instituições de ensino superior, da zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul, uma iniciativa do Cites e do Ministério da Educação. O Colégio Anglo-Americano, no Rio de Janeiro, iniciou também em 1978, suas atividades de produção e oferta de cursos por correspondência, com alunos do Brasil e em 27 países. Sistema Nacional de Tele-educação do SENAC: núcleo de atividades de Ensino a distância, em caráter experimental, na área de aprendizagem comercial. Implantação do Centro Difusor do Desenvolvimento Profissional, com cursos de ensino por correspondência. Lançamento do Telecurso 2º grau, em janeiro/78, convênio firmado entre a Fundação Roberto Marinho e a Fundação Padre Anchieta. Com programas televisivos, com uso de autores do cast da Rede Globo; fascículos semanais vendidos em bancas de revistas e programação de chamadas de audiência, durante a programação da Globo, da TV Cultura, mais 38 emissoras comerciais e 8 canais educativos. O objetivo do curso preparar alunos para os exames oficiais de supletivo, ao estilo do antigo Madureza. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI-SP), criou também em 1978, o Auto-Instrução com Monitoria (AIM), com oferta de cursos por ensino de correspondência, em Leitura e Interpretação de Desenho Técnico Mecânico e também nas áreas de matemática, Eletrônica, Eletrotécnica. E em 1980, iniciou o ensino à distância. Na década de 1980, o Projeto Conquista, criação da Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FCBTVE, futura FUNTEVÊ), pelo Ministério da Educação/TVE. Telenovela para o ensino supletivo de 5ª a 8ª séries e programas de alfabetização, com o uso da televisão, dentro do projeto Movimento Brasileiro de Alfabetização. Seriado com 200 capítulos. Implantação do Programa de Alfabetização de Adultos, com o uso de multimeios. Consistia o programa de 60 tele-aulas dramatizadas e fascículos de apoio para alunos e monitores. Atingiu os estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Ceará, Paraná e Rio de Janeiro. A Fundação Brasileira de Educação, através do Centro de Ensino de Niterói (FUBRAE/CEN), organiza módulos instrucionais para aplicação com suporte de tutoria e encontros presenciais. Criação do IRDEB – Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia, pelo governo do estado, substituindo o PRONTEL. Foi produzido pelo Departamento de Ensino Fundamental do MEC, 64 programas de rádio com a finalidade de ensinar francês a professores não-titulados, em exercício de 1ª a 4ª séries, nos estados do Paraná, Espírito Santo e Alagoas. Programação de Pós-Graduação Tutorial a Distância – ensino por correspondência, iniciativa da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT), em parceria com a Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior do MEC (CAPES), com o objetivo de capacitar docentes universitários, no interior do Brasil. Este projeto consta no Parecer CFE 891/80, Documento 237. Foi suspenso em 1983. O Projeto Seringueiro, com ênfase nas áreas de Comunicação e Expressão, Matemática e Ciências Físicas e Biológicas, produção de 230 programas veiculados pela Rádio Nacional de Brasília, em convênio com a rádio Cruzeiro do Sul, no Acre, em 1980. A Universidade Aberta, convênio da Universidade de Brasília com a Open University, para a implementação de programas de ensino à distância, no Brasil, iniciou com os cursos de Ciências Políticas, Relações Internações e Pensamento Político Brasileiro, com seis meses de duração, uso de fascículos e de sessões presenciais de tutoria em capitais de estado. Os programas foram coordenados pelo Decanato de Extensão da UnB. Foram inscritos 4 mil alunos, nos três primeiros cursos, em 1980. Em 1981, a Universidade Brasília lança parcerias com os jornais de grande circulação no país, para a publicação de fascículos de auto-aprendizagem. O estabelecimento de ensino fornecia certificação. Até o ano de 1983, havia sido inscritos 30 mil alunos. A Universidade Aberta concluiu o programa em 1984. Com sucesso também o programa de Aperfeiçoamento do magistério, para professores do 1º grau. Os cursos oferecidos foram: Língua Portuguesa, Matemática, Alfabetização, Ciências Sociais, Ciência Físicas e Biológicas e Metodologia Geral. E para os docentes de ensino superior, o curso de Especialização em Tecnologia Educacional – Tutoria a Distância. A Série Patati-Patatá, da TVE, no Rio de Janeiro, constou de um seriado com 50 programas, estimulando atividades de sala de aula, junto a professores de 1º grau. Este programa foi premiado no Japão. O Telecurso 1º grau – supletivo de 5ª a 8ª séries, foi uma parceria da Fundação Roberto Marinho com o Ministério da Educação e a Universidade de Brasilia. FUNTEVE, assume a coordenação da TV Educativa e da rádio MEC do Rio de Janeiro, de Brasília e dos centros de Cinema Educativo e de Informática Educativa. Em 1982, pela Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior-(Abeas–DF), cursos de Especialização em Ciências Agrárias, com uso de material impresso, tutoria a distância e encontros presenciais de avaliação. Com o uso do rádio e da televisão, o Centro de Tecnologias Educacionais (CTE), da Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seec/RJ), montaram o Plano de Ação de Educação e Cultura (PAEC), de atualização pedagógica para 9.124 professores de 1ª a 4ª séries da rede estadual; e, em parceria com o Laboratório de Currículos da SEEC/RJ, treinamento para professores das áreas de Francês, Português, Ciências, Matemática, prevenção ao uso de tóxicos, utilização do livro didático e tecnologias educacionais. Educando o Educador, projeto de ensino à distância do Centro Educacional de Niterói (CEN), da FUBRAE, da Faculdade do Centro Educacional de Niterói (FACEN), para a Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Goiás. Cursos: Planejamento Educacional, Administração escolar, orientação Educacional e disciplinas específicas. Em 1987, a FACEN foi alienada à Sociedade Salgado Oliveira de Educação e Cultura (ASOEC) e às Faculdades Integradas de São Gonçalo (atualmente, Universidade Salgado de Oliveira), mantidas pela ASOEC, que certificaram as últimas turmas. Criação neste mesmo ano pelo Governo do Mato Grosso, da TVE/MT, Televisão Educativa, hoje no Mato Grosso do Sul. O Projeto Ipê surgiu em 1984, através da Secretária da Educação do estado de São Paulo e da Fundação Padre Anchieta, com produção e distribuição de cursos de atualização de professores de 1º e 2º graus. Em 1985, terminou o convênio entre a Universidade Aberta do Nordeste, Universidade de Brasília e o Jornal O Povo (Fortaleza/CE) sendo criada a Fundação Demócrito Rocha em parcerias com universidades da região Nordeste, iniciando a produção própria de cursos de ensino á distância, através de publicações em jornais. O Novo Telecurso 2º grau, criação da Fundação Roberto Marinho em parceria com o Banco Bradesco S.A., com produção de 900 tele-aulas e de 500 programas de rádio, com veiculação diária pelas mesmas redes que exibiam os programas anteriores. Criação pela Universidade Brasília da CEAD/UnB – Coordenadoria de Educação a Distância. Promoveu ensino por correspondência sobre a Constituição, em 1988, atingindo 100 mil participantes. Em 1987, houve o primeiro Encontro Brasileiro de Educação e Televisão. Lançamento do projeto Universidade Vídeo, pelo CNPq, durante a 39ª reunião da SBPC, visando estimular a produção em vídeo. Criação de um catálogo com filmes e vídeos disponíveis em ciência e tecnologia. O curso Direito Achado na Rua, de extensão universitário à distância, por correspondência, foi promovido pela CEAD-UnB. No mesmo período, foram produzidos os cursos Abuso de Drogas, Freud, Rosseau e outros. Verso e Reverso: Educando o Educador, criação da Rede Manchete de televisão e da Fundação Educar. São 24 programas de televisão, com duração de 30 minutos cada, aos domingos, 12 publicações de apoio e um manual de orientação, num mix de tele-educação e ensino por correspondência. Design pedagógico da Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos. Participação de Paulo Freire, como consultor especial, da implantação do programa na Arquidiocese de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. No Ministério da Educação, a Portaria 511/88 montou um grupo de trabalho, para estudo e elaboração de uma Proposta de Política Nacional de Educação a Distância. O Instituto Nacionais de Pesquisas Educacionais (INEP) cria uma Coordenadoria de Educação a Distância. O Projeto Novo Saber, criação da Universidade Salgado Oliveira – Parecer CFE 630/89 – com cursos de especialização a distância, modelo semidireto de EAD, nas áreas de Administração Educacional, Supervisão Educacional, Planejamento Educacional e Lingua Portuguesa, para os estados de Goiás, Maranhão, Espírito Santo e Ceará. Em 1996, com atuação nas áreas de Administração, Biologia, Educação Física, Letras, História e Direito, com 8.626 alunos matriculados, em 83 municípios de 17 estados brasileiros. Foi implantado em 1988, pelo Banco Itaú, o Treinamento em Local de Trabalho (TLT), com a finalidade de preparar mais de 800 multiplicadores de treinamento. Mínimo de 1 aluno por agência Workshop presencial inicial, seguido de atividades de educação a distância, com uso de material impresso, no período de 1988-1994. Criado em 1989, o Instituto Nacional de Educação a Distância (INED), atuou até 1996 no desenvolvimento e implantação de projetos de cursos por educação a distância, junto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, à escola de Administração Fazendária (ESAF) e à prefeitura de Curitiba (PR); a TVE, no Rio de Janeiro produz a série de rádio e TV Trabalhando – conteúdos do 1º grau, com suporte de material impresso, para reciclagem de docentes das primeiras séries do Ensino Fundamental. Na década de 90, a Universidade de Brasília cria mais grupo de trabalho em EAD, o Centro de Educação Aberta e Continuada. Nesta década, o Centro produziu os cursos de Política, de Ciências e Tecnologia, Introdução Crítica ao Direito do Trabalho e O Microcomputador Sem Mistérios. Ensino por correspondência, inicio da utilização de produção multimídia, com atividades de aprendizagem, encaminhadas aos alunos através de disquetes. A Ceteb/Petrobrás, ofereceram cursos técnicos por correspondência, para funcionários da Petrobrás, reconhecidos pelo Conselho Federal de Educação para certificação em nível de 2º grau, e o de Plataformista, em nível de 1º grau; em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), a Fundação Brasileira para a o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (SBPC), criou o curso Matemática por Correspondência, para professores de 1º grau, até 1991; o Centro de Ensino de Niterói, da Fundação Brasileira de Educação, promove a distância cursos profissionalizantes, com certificação de 2º grau. O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/SEED4 lança o Projeto Piloto de utilização do Satélite na Educação – Jornal da Educação: Edição do Professor. A receptividade do programa, com 600 de 3ª série de magistério, em seis estados brasileiros, forneceu subsídios para o lançamento da série Um Salto para o Futuro – programa de atualização de docentes das séries iniciais do 1º grau e auxiliar na formação de professores, ainda cursando universidade. Após 1997, o “Salto” passa a integrar a grade de programação do canal TV Escola, criado pelo Ministério da Educação em 1995. A Secretaria de Ensino Superior do MEC propõe discussões com o propósito de estimular a EAD nas universidades brasileiras. Surge, então, “Cátedras da UNESCO”. Criação da Coordenação Nacional de EAD, no organograma do MEC; o SENAI cria, no Rio de Janeiro, a Coordenadoria do Programa de Educação a Distância (CPEAD), uso de materiais impressos e encontros presenciais. Realização de pesquisas, para identificar demandas no setor industrial. Solicitação de cursos nas áreas de Garantia da Qualidade, Segurança, Supervisão, Manutenção e Informática; o Projeto Oito Cidades – programa da Secretaria Estadual de Educação, para apoiar o uso de multimeios em sala de aula, em oito cidades do Rio Grande do Norte. Distribuição de equipamentos de videocassete, televisão, acervo de vídeos educativos e realização de programas intensivos de treinamento para professores, para o uso desses recursos. Em 1993, licenciatura plena em Ciências Naturais e Matemática – 5ª a 8ª séries, aprovado pelo Conselho de ensino e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (Resolução 028/CEPE/93); criação do Sistema Nacional de Educação a Distância, através de protocolo de intenções para ações cooperadas entre o Ministério da Educação, o Conselho dos Secretários Estaduais de Educação (CONSED), o Conselho dos Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) e da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME); Acordo de Cooperação Técnica 4/93, entre o MEC e a UnB, ficando a Universidade de Brasília como coordenadora desse consórcio inter-universitário de EAD; a Secretaria Municipal de Educação, do Rio de Janeiro, cria uma central de produção multimídia – audiovisuais de suporte ao ensino; de programas de televisão com veiculação local e de cursos a distância, com suporte de material impresso. Até 1998, produção acumulada superior a 500 programas; o Ministério da Educação cria, o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINEAD), com convênios de Cooperação Técnica 06/93, assinado pelo ME, Ministério das Comunicações e pela Empresa Brasileira de Telecomunicações, criando o Sistema Nacional de Educação a Distância; decreto presidencial, estabelecendo acordo entre o MEC e o Ministério das Comunicações para redução de tarifas de telecomunicações para EAD; início de cursos produzidos pela CFEAD do SENAI-RJ. Design instrucional com apoio de ferramentas, para hierarquizar objetivos e produção de mapas instrucionais com base nas teorias da aprendizagem, para o domínio e ensino baseado em competência. Cursos realizados e matrículas acumuladas até 1997: • Noções Básicas da Qualidade Total: 23.340 alunos no Brasil; 224, na Venezuela e 149, na Argentina; • Elaboração de Material Didático Impresso, com ênfase em EAD, com 85 alunos; • Higiene e Segurança do Trabalho para a Qualidade de Vida, com 116 alunos; • Uso Eficiente de Energia, com 75 alunos. Em 1994, início do Telecurso 2000, convênio entre a Fundação Roberto Marinho e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, com programas de televisão, coleções de fascículos para preparação de alunos candidatos ao exames supletivos e de certificação profissionalizante. Veiculação pela Rede Globo e canais educativos;. Pela Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura de Curitiba (PR), início da estruturação de equipes especializadas em Educação a Distância. O projeto recebeu o nome de Programa de Educação a Distância – Curitiba: Lições de Modernidade e Cidadania. A Coordenadoria do Programa de Educação a Distância do SENAI-RJ recebe nova denominação: Centro de Educação a Distância, mantendo a oferta dos cursos iniciados em 1993. Através do Decreto 1.237 é criado o Sistema Nacional de Educação a Distância no Brasil. Em 1994, o Núcleo de Educação a Distância do Instituto de Educação da Universidade Federal do mato Grosso (UFMT) cria o curso de Licenciatura em Educação Básica, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, com apoio da Tele-Université du Quebec (Canadá). O curso da UFMT foi autorizado pela Resolução n. 88 do Conselho Diretor da UFMT, e reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação, em 1999. Foi criado pelo Núcleo de Educação a Distância da Universidade Gama Filho (RJ), programas de extensão e pós-graduação, através de materiais impressos, tutoria via correio e encontros presenciais. A TV-SENAC surge como canal de TV a Cabo por acesso codificado em banda digital do satélite Brasilsat. Distribuição de programação cultural, reciclagem profissional e de interesse de aprendizagem, na área do comércio, com interatividade mediada por fax/telefone/e-mail. Especialização em Educação Contínua a Distância, realização da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, em convênio com o ME. Curso de Pós-Graduação lato sensu, com uso de materiais impressos e encontro presenciais de integração. Infovia – projeto Rede Nacional de Tecnologia, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Integração de redes sistema CNI/SENAI, oferecendo Internet e serviços avançados, como vídeo conferência e TV corporativa. A Infovia é estruturada em sistema integrado por satélite e uso de fibras terrestres, possibilitando ações de educação a distância e uso administrativo. Em 1995, é criado o Laboratório de Ensino a Distância pelo programa de PósGraduação em Engenharia de Produção, da Universidade Federal de Santa Catarina. Consta de pesquisa de produção de modelos e estratégias para o uso da Internet, videoconferência e outras tecnologias da comunicação e informação na EAD. Criação também do Programa de Pós-Graduação lato sensu pela Universidade Gama Filho. Educação por correspondência, através de material impresso, sobre a conjuntura política nacional. O público-alvo é os graduados em geral, com carga horária de 450 horas, estudo individualizado A Secretaria de Educação Física e Desportos e a Divisão Nacional de Doenças Crônico-Degenerativas, do Ministério da Educação, ofereceram o curso Exercício e Saúde, pela modalidade ensino por correspondência. Os alunos receberam sete conjuntos de impressos, com textos e exercícios. Foi destinado a professores e médicos que atuavam na área de educação física, em 1995/6. O Multirio – criação da Secretaria Municipal de Educação, com produção de programas televisivos, para capacitação profissional de professores e com apoio pedagógico na rede municipal de ensino. Criação da Secretaria de Educação a Distância, em dezembro/95, pelo Ministério da Educação. Lançamento pelo Governo Federal do Programa TV Escola, equipando escolas públicas com “kits” tecnológicos, para veiculação de programas educativos. Lançamento pelo Departamento de Ensino Interativo a Distancia da Universidade Anhenbi-Morumbi, dos primeiros ambientes virtuais de aprendizagem por Internet no Brasil, com curso de extensão universitária na área de Moda, outro curso foi sobre Empregabilidade, para alunos do Ensino Médio, com uso da Internet para simulações em ambientes interativos. Tem início a EAD on line, pela Escola Paulista de Medicina, atualmente, Universidade Federal de São Paulo. Cursos de graduação pela Internet, material de livre acesso e auto-avaliação on line. Aprovação da Legislação Específica da EAD, com destaque para o artigo 80, que institui a educação a distância como modalidade eqüivalente para o ensino em todos os níveis. Projeto Virtus, uma criação do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco sobre interfaces digitais, ciberespaco na sociedade, bibliotecas virtuais e jornalismo on-line. Instituição do núcleo Universidade Virtual – Univir, da Faculdade Carioca, com programação de cursos abertos de educação a distância, com o uso de ambientes Internet. A Secretaria Municipal de Educação da cidade de Curitiba, projeta o primeiro programa de educação a distância na área de Alfabetização: princípios básicos, com utilização de material impressos, tutoria, por carta ou telefone; dos cursos de Geografia: Princípios Básicos; Ensino de Arte; Matemática. Tem início pelo Instituto de Informática de Pontifícia Católica de Campinas, por Internet de duas disciplinas do curso de Mestrado em Informática, com 75% das atividades on line e avaliações presenciais. Oferta de cursos de especialização em Educação-Psicopedagogia, Atualização Pedagógica e Supervisão Escolar pelo Centro de Estudos de Pessoal do Exército e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uso de materiais impressos, vídeo-aulas e tutoria por telefone, fax e e-mail. Lançamento pela Universidade de Brasília – UnB e apoio da Cátedra da UNESCO em Educação a Distância, do Curso de Especialização em Avaliação a Distância. São 860 alunos matriculados em 1997 e 450 concluem o curso em 1999. Produção de módulos impressos, ensino por correspondência e encontros presenciais periódicos. Em Salvador, a empresa Informática e Gestão, registra os domínios www.openschool.com. e www.open-school.com.br. Criação de ambiente virtual de aprendizagem a distância. Oferta e acesso a links de cursos on-line em toda a rede. A Universidade Gama Filho, cria programa de extensão universitária – Introdução Histórica ao Liberalismo, com uso de mídia impressa. Institucionalização do Projeto Virtus, pela Universidade Federal de Pernambuco, com ambientes virtuais de estudo, soluções tecnológicas e abordagem pedagógica próprias da UFPE. O SENAR/CEFET, do Rio de Janeiro, oferecem cursos de educação aberta para produtores rurais, nas áreas de Bovinocultura de Leite e cultivo de bananas e uvas, através de programas de rádio, fascículos, vídeo-aulas e áudio-cassetes, junto a produtores rurais de Ceres e Urutaí, municípios de Goiás. Pela Universidade Federal de Uberlândia, programa de Capacitação de Professores. São atendidos 90 mil professores da rede pública do estado de Minas Gerais, nas áreas de Matemática, Português e Reflexões sobre a Prática Pedagógica. Financiamento do governo de Minas e recursos do Banco Mundial. Uso de materiais impressos, vídeo-aulas e uso de linhas DDG 0800. Programa com suporte de 3.500 facilitadores, 180 monitores e 84 instituições. Cooperação Internacional entre Brasil e Estados Unidos, Memorando de Entendimentos sobre Educação, com ênfase no uso de tecnologia. Criação e interligação de centros de experimentação em tecnologia educacional e criação de banco de dados especializado na área. Com conteúdos fornecidos pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e metodologia do Centro de Educação Aberta, Continuada e a Distância da Universidade de Brasil (UnB), programa de Especialização em Saúde Pública, ensino por correspondência, cinco módulos impressos e início de interações via correio eletrônico (e-mail) no processo de tutoria feito pela ENSP. A Fundação Roberto Marinho cria o canal Futura (O Canal do Conhecimento) com programa educativo e profissionalizante Início também como canal de assinatura (Net/Multicanal/Sky) e em 1998, como canal aberto. Lançamento pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) do primeiro curso de Mestrado a Distância, por sistema vídeo conferência. Criação do ambiente Laboratório de Ensino a Distância (LED) de aprendizagem por Internet. Oferta de cursos via Internet. Programa de Aperfeiçoamento profissional na área de saúde – em Dermatologia, pela Universidade São Paulo. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cria o Laboratório de Estudos Cognitivos – experimentos no uso de tecnologias da Informática na Educação. Oferece curso de especialização a distância para países da América Central por Internet. A Universidade Anhembi-Morumbi, com cursos nas áreas de Turismo, Marketing e Administração, em ambiente Internet. Em 1999, novo curso de especialização em Moda, com 200 alunos inscritos. Criação de projeto de experimentação do uso das mídias videoconferência e teleconferência, pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). A Fundação Vanzolini, promove ciclo de 13 teleconferências sobre o ensino e o mercado de trabalho em engenharia, no Brasil, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Em 1999, a Universidade São Paulo/Fundação Vanzolini/Escola Politécnica, lança duas disciplinas do curso de especialização em Administração Industrial na Internet e o curso Trend Distance Learning, pela Internet. Surge a Gerência de EAD, em substituição ao Centro de Educação a Distância do SENAI-RJ, em 96. Recebe nova denominação em 97: Divisão de Educação a Distância (DIEDAD). São cursos auto-instrucionais, material didático impresso, apoio de tutoria e consultoria técnica. Estabelecido o Consórcio interuniversitário para a Criação de um programa de cooperação em EAD, entre as universidades públicas do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM-UFBA), elabora um projeto de utilização do ciberespaço como instrumento pedagógico, oferecendo vários cursos on-line. Tutoria de orientação das atividades por lista de discussão, via Internet. A Universidade Gama Filho, lança programa de qualificação pedagógica de profissionais para o exercício do magistério universitário, com orientação de estudo, e acompanhamento individualizado. Avaliações presenciais, uma vez por mês, pelos professores das disciplinas, que desempenham funções de tutoria. Oferecimento do curso de Telecomunicações, para aperfeiçoamento profissional de graduados, com sistema de ensino flexível e de qualidade, tendo como público-alvo, profissionais de nível superior (engenheiros eletrônicos e de telecomunicações). Até 1999, já estavam implantados 14 pólos pedagógicos da EGF, atendimento a alunos, ensino a distância, em 10 estados da Federação. O programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC e o SENAI, com uso de ambiente virtual de aprendizagem, desenvolvido pelo Laboratório de Ensino a Distância (LED), oferece curso de especialização por Internet: Gestão de Instituições de Ensino Técnico, com alunos espalhados pelo país. Produção de cursos de educação continuada para professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da rede estadual de Minas Gerais, com o uso de televisão, mídia impressa e supervisão presencial, pela Universidade Federal de Uberlândia. Curso de Educação Continuada para 43 mil professores da rede estadual, com um ano de duração, sobre proposta curricular e as práticas pedagógica no estado, com o uso de impressos, vídeo-aulas, telefonia e teleconferência, foi ministrado pela Secretaria da Educação do Estado de Santa Catarina e o LED/UFSC. A UFSC iniciou em 1998, o Plano Sul de Pós-Graduação a Distância. São sete cursos de mestrado, para alunos em seis universidades, interligadas por videoconferência, no interior de Santa Catarina. O programa foi financiado pela CAPES e pela Fundação Catarinense de Ciência e Tecnologia (FUNCITEC). Em 1999, realização pela UFSC/LED de oito programas de extensão, com dez mil matrículas, inclusive o curso de Engenheiro Empreendedor, patrocinado pela FINEP, extensivo a todas as faculdades de engenharia no Brasil. Atividades por Internet. A ESAF cria o curso de Contabilidade Prática Avançada, para 263 professores de contabilidade e auditoria. Inicio do Projeto Virtus, parceria da Universidade Federal de Pernambuco e a comunidade externa. Realização de cursos on-line para auditores fiscais da ESAF, Consultoria técnico-pedagógica e sistemas de comunicação do Projeto Virtus. Em 1999, oferta de vários cursos: 30 disciplinas de graduação a distância cursos de Comunicação Social, Ciência da Informação, Design e Educação; Informática, Sociologia, Engenharia Elétrica. Uso do software próprio, ambientes virtuais de estudo, com 1.000 alunos e 20 professores; Educação Continuada em Contabilidade, programa de parceria com a ESAF, com 2.000 alunos e 109 professores; Curso de extensão em Proteção e Controle em Sistemas de Potência, por Internet e interações, vídeoconferência, público: 30 alunos. Curso de Capacitação Continuada para professores do Ensino Fundamental do estado do Ceará, pela Fundação Demócrito Rocha, atendendo a 32.709 matrículas. Os alunos estão em 10.702 escolas, em 184 municípios. Através do UNIVIR, núcleo de educação a distância da Faculdade Carioca (RJ), oferta de duas disciplinas de um programa de pós-graduação por Internet, com uso do ambiente Learning Space (Lotus Corporation). Neste mesmo ano, 1998, outros cursos, com entrega de conteúdos e de atividades de aprendizagem via rede: Planejamento e Desenvolvimento de cursos de EAD via rede, em parceria com a Cia Vale do Rio Doce; Introdução à Internet e Fundamentos da Ação Gerencial, em parceria com a Polícia Militar do Rio de Janeiro; Introdução à Administração e Metodologia de Pesquisa, com atividades complementares a disciplinas do curso regular de Administração da instituição. O Projeto Univir produz portais educacionais com informações de acesso a cursos, para a Associação Brasileira de Recursos Humanos, o setor elétrico (Eletrovir) e a Secretaria Municipal de Trabalho do Rio de Janeiro (Universidade Virtual do Trabalhador). A Universidade São Francisco cria o Núcleo de Educação a Distância, com Espaço de Pesquisa, desenvolvimento de EAD, por mídia impressa, vídeos, e ambientes Internet. Criação de cursos de extensão em Didática do Ensino Superior e em Automotivação; Programa de especialização a distância na área de Design de Aplicações para Internet, com uso do Programa DúvidaNet, para soluções. Na pós-graduação, curso de design instrucional – semi presencial, aulas quinzenais, aulas virtuais e tutoria pela Internet. A Universidade Federal de São Paulo, elabora programa de nove cursos on-line em Saúde: Aperfeiçoamento em Interpretação do Campo Visual (educação continuada); Aperfeiçoamento em Nutrição e em Saúde Pública (especialização) e em Ortopedia Oncológica (especialização). A aprendizagem está centrada na resolução de problemas, ajuda de estrutura de Web e hipertexto. Recursos também de Hipermídia, correio eletrônico, vídeo e lista de discussão. Em 1999, houve expansão da EAD. Muitos estabelecimentos de ensino superior ofereceram cursos com uso da Internet e videoconferência, que continua sendo usado por programas de pós-graduação, em parceria entre universidades e empresas. Congressos e seminários diversos de EAD, no Brasil, mostram a importância do ensino, as estratégias de uso e as ferramentas do aprendizado via Internet. A Universidade Brás Cubas, inicia atividades com a plataforma Learning Space, como estratégias de operacionalização da EAD. Introdução à Cultura Judaica, curso on-line promovido pelas Faculdades Integradas Hebraico-Brasileiras Renascença, de São Paulo, ambiente Internet de aprendizagem gratuito. Oficializado pela Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Virtual, de ensino a distância, com sete cursos de extensão. O curso de Mestrado a Distância em Informática, pelo Instituto de Informática Puccamp com 90% de virtualização nas disciplinas. Os alunos podem fazer opção presencial ou a distância. A avaliação são presenciais. Início do curso de Licenciatura a Distância – capacitação interna, pelo Núcleo de Educação a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso, com uso da Internet, CDROM . Formação de professores e tutores, para atuar em EAD. Curso de Histopatologia, pela Universidade São Paulo, acesso livre aos alunos da Institutição, com atividades e avaliação por autocorreção on-line. O Ministério de Educação e Cultura – MEC5, através da Secretária de Educação a Distância, em parceria com os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ministram curso de Formação de Professores em Exercício, habilitação 2º grau, para 1.129 professores leigos. A Universidade Virtual Pública do Brasil – UniRede, foi criada em 6 de janeiro de 2000, com o lema: “No ano 2000 nasce uma nova universidade no Brasil”, com o propósito de melhorar o ensino público no Brasil. Formalizada no mesmo ano, em 23 de agosto, chegou a 62 instituições de Ensino Superior-IES entre Universidades Federais, Estaduais e Centros de Educação Tecnológica-CEFET. A Seed/MEC e a UniRede6 se uniram e criaram o curso de extensão TV na Escola e os Desafios de Hoje, que é coordenado pela Universidade de Brasilia-UnB envolvendo outras universidades do consórcio. Foram matriculados aproximadamente 34 mil professores da rede pública de ensino básico – fundamental e médio. São 700 pessoas envolvidas na produção e oferta dos cursos da UniRede. 1.2. EAD – Conceitos Vários autores procuram conceituar o ensino a distância através de sua evolução ao longo do tempo. Antigamente, era estabelecido conceito através de comparação entre a educação presencial ou convencional com a educação externa. “Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação”. (Decreto 2.494, de 10.02.1998 – artigo I). O Ministério da Educação e Cultura, define o Ensino a Distância, como uma modalidade de transmissão do conhecimento formal sem a intermediação física de um professor, num horário pré-determinado, dentro de um ambiente específico que seria a sala de aula. GALVÊAS (2003)7, em seu trabalho sobre a EAD, cita o parece de Maria José Ferro Tavares, da Universidade Aberta de Portugal (EAD), “no mundo atual em que se fala de globalização, não só econômica, mas também cultural e educacional, o ensino a distância, na sua dupla vertente tradicional e virtual (ou elearning), apresenta-se como o ensino do futuro e para um futuro que se perspectiva de grande investimento na educação ao longo da vida, centrada no aprendiz e em que o docente é mais um orientador de percursos de aprendizagens auto geridas por cada um dos estudantes, do que um professor excátedra perante uma turma de estudantes que o seguem. É por isto, que o ensino a distância se distingue do ensino presencial: pela sua flexibilidade curricular, pela existência de módulos creditáveis – quer estejam integrados num curso de graduação ou de pós-graduação, quer disponibilizados em disciplinas singulares”. PERRY e RUMBLE (1987)8 já afirmavam naquela data, que o ensino a distância estabelece uma comunicação de “mão-dupla”, ou seja, o professor e o aluno não estão presentes na sala de aula, e a comunicação entre eles se dá através de correspondência postal, eletrônica, telefone, telex, rádio, modem, vídeodisco via computador, e televisão apoiada em meios abertos. KEEGAN (1991)8 conceitua o ensino a distância como um conjunto de materiais didáticos aplicados a educação e têm como referência a educação por correspondência, do Reino Unido; o estudo em casa (home study), dos Estados Unidos; estudos externos (external studies), na Austrália; ensino a distância, na Open University do Reino Unido; téléenseignement, em francês; Fernstudium/Fernunterricht, em alemão; educatión a distância, em espanhol; e teleducação, em português. Apresenta, também vários conceitos emitidos por pesquisadores da EAD, como: DOHMEM (1967)8 define Ferstudium, como autoestudo, onde a aprendizagem do aluno ocorre através de material didático e o acompanhamento e supervisão é realizado por um grupo de professores, através dos meios de comunicação. PETERS (1973)8 define Fernunterricht, ou ensino a distância como um método de partilhar conhecimentos, habilidades, atitudes e competência, através da divisão do trabalho e de princípios organizacionais, pelo uso dos meios de comunicação. Atinge muitos estudantes ao mesmo tempo. É uma forma industrializada de ensinar e aprender. MOORE (1973)8 em seu estudo diz que no ensino a distância as ações dos professores são executadas a partir das ações dos alunos e a comunicação entre eles deve ser facilitada por meios impressos, eletrônicos, mecânicos ou outro tipo. HOLMBERG (1977)8 afirma que o ensino a distância é uma forma diferenciada de ensino em que os alunos não estão sob a “contínua supervisão de tutores presentes”, em salas de aula ou em um mesmo local. O estabelecimento de ensino é responsável pelo planejamento, direção e instruções da educação a distância. LITWIN (2001)9 diz que o ensino se caracteriza pela flexibilidade em torno da proposta da educação, e que hoje, como resultado do desenvolvimento das tecnologias da comunicação, as interações professores e alunos são favorecidas e diminuem a distância. A Associação Brasileira de Tecnologia Educacional –ABT, sugere: Educação a distância é uma forma de desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem que, utilizando sistema de tecnologia da comunicação capaz de suprir o afastamento físico, total ou parcial, entre professores e estudantes, promova efetivamente a consecução dos objetivos educacionais fixados. Nos conceitos acima podemos elencar algumas características sobre o EAD, como: ausência do professor e aluno, ao contrário da escola formal; organização educacional – planejamento e sistematização do ensino; utilização de meios de comunicação para integração do professor e aluno e transmitir os conteúdos educativos; comunicação de mão dupla, com possibilidades de diálogos e iniciativas e participação de uma fonte inovadora de ensino. 1.3. Características A EAD tem algumas características especiais. No parecer de ARMENGOL (1987)10, ele diz: • população estudantil relativamente dispersa: não existe barreira geográfica. Geralmente são pessoas que não continuaram os estudos em escolas presenciais por alguma razão, outros necessitam aperfeiçoamento profissional, e o ensino a distância possibilita a esses alunos uma nova maneira de aprender. • Predominância de alunos adultos: além de cursos oferecidos aos adultos também há cursos para crianças e adolescentes, todos mediados por tutores treinados a estimular sua clientela a valorizarem a aprendizagem individual através dos meios de comunicação. No caso de adultos com baixa escolaridade, é indispensável que aprendam a estudar, administrar o tempo de estudo e que seja estimulado também a tomar iniciativas e a construir sua autonomia. O processo ensino/aprendizagem deve ser de acordo com o ritmo do aluno. • Cursos autoinstrucionais: cursos independentes, com material selecionado, exercícios para fixar o aprendizado, auto-avaliações, atividades e textos complementares. O curso deve ser preparado por equipes multidisciplinares/transdisciplinares. O processo ensino/ aprendizagem deverá ter apoio externo. • Cursos pré-produzidos, geralmente com recursos de textos impressos, combinados com outros meios de comunicação como revistas, jornais, livros, rádio e televisão educativos em circuito aberto ou fechado, filmes, computadores, vídeodiscos, vídeotextos, comunicações mediante telefone, rádio e satélite, equipamentos para testes (kits). Segundo Armengol, a logística desses cursos se caracteriza pela centralização da produção, combinada com uma descentralização da aprendizagem. • Comunicações massivas, isto é, com os cursos montados é econômico aplicá-lo a um grande número de alunos. • Comunicações organizadas em duas direções: comunicação entre alunos e tutoria, orientação, observações sobre os trabalhos e atividades realizados pelo aluno, autoavaliação e avaliação final. A comunicação é através da palavra escrita, sendo usado também o telefone, o rádio e reuniões entre tutor e aluno ou com grupo de alunos. Quando houver facilidade de acesso, utilizar o microcomputador ligado na rede telefônica pelo modem. • Estudo individualizado: o aprender a aprender é um recurso para o aluno do EAD. O aluno é um indivíduo com personalidade e características próprias, e seu aprendizado deve obedecer a sua maneira de ser. O aluno deve ser orientado aprender a estudar por conta própria, desenvolvendo competências, habilidades, independência e iniciativas. • Forma mediadora de conversação guiada: a) através de textos impressos, nos exercícios, na auto-avaliação contínua, são procedimentos de dupla via, facilitando o acesso do aluno ao professor, ao tutor, ou à equipe de mediadores; b) correio eletrônico e a conferência eletrônica; no Brasil, o chamado AlterNex, que liga as organizações e as pessoas via computador que tenha o MODEM (Modulador/DEMolulador); c) Internet gráfica (Web) que contribui para a expansão do EAD, de forma interativa, trocando idéias, experiências, informações, possibilidade auto-descobrimento. O único problema está no idioma, mas os materiais didáticos estão sendo traduzidos em vários idiomas, a fim de facilitar a integração entre alunos. • Tipo industrializado de ensino/aprendizagem: produção em massa de materiais didáticos/autoinstrucionais é o mais utilizado em escala mundial. É valorizado o trabalho multidisciplinar/transdisciplinar e em equipe. • Nova Tecnologia Informativa (NTI): uso da computação, microeletrônica e telecomunicações, para o sucesso do ensino à distância. Seria importante e interessante se a educação presencial (escolas) utilizassem também destas tecnologias. • Estruturas curriculares flexíveis: via módulos e créditos; possibilita melhor desenvolvimento do aluno oferecendo abertura e facilidades na aprendizagem • Custo-benefício: O custo de desenvolvimento de programas de educação a distância, caso envolva uso de software especializado, televisão/vídeo, o investimento inicial é alto. Mas quando há uma população estudantil grande, a EAD pode ser barata. Nunes(2001) afirma que “a variável custo de ensino é geralmente mais baixa no ensino a distância sempre e quando a população estudantil a ser atendida for suficientemente grande.” O ensino a distância também tem característica de prestação de serviço público, porque contribui: Na democratização do saber, criando condições de acesso a cultura a milhares de pessoas, através da universalização do ensino básico. Na educação formal ou informal, o ensino a distância desempenha vários papéis, seja na atualização de conhecimentos até a formação profissional, na reflexão crítica, na criatividade. Na formação e na capacitação de profissionais, na formação básica e em níveis universitários. Neste sentido, a EAD tem demonstrado ser uma modalidade de ensino com grande potencial por ser um meio de educação de massa. A presença da informática na capacitação profissional gera avanços nos procedimentos de treinamento a distância ou treinamento independente com a ajuda do computador. Na capacitação e atualização de professores, com programação especial de cursos para aqueles que são responsáveis pela educação infantil e de adolescentes; educação aberta e continuada, possibilitando múltiplas experiências e cursos sobre saúde (prevenção da AIDS, técnica e métodos de higiene e saneamento), ecologia, tecnologia, artes, música, ciências, matemática, etc. Na educação para a cidadania, a EAD, promove ações educativas formando cidadãos conscientes, sendo co-participantes no processo de construção do país. NUNES (2001)11 cita uma série de problemas que impediram o desenvolvimento da EAD. Foram muitas tentativas que não deram certo. Entre os problemas, estão: na organização de projetos, não havia uma continuidade, falta de critério de avaliação dos projetos; descontinuidade dos programas prestação de contas à sociedade, ao governo ou às entidades financiadoras, falta de estruturação na gerenciamento dos programas, projetos não atendiam as necessidades do país, gerenciamento ineficaz sem qualificação técnica ou profissional, não havia divulgação dos programas, e a organização de projetos com proposta de testar metodologias. A EAD é um produto da globalização e está surgindo em escala industrial. É o “mercado do conhecimento”, em que a EAD aparece como uma modalidade lucrativa, atraindo alunos em todas as partes. Na opinião de COIÇAUD (2001), “essa dinâmica de compra e venda de pacotes pedagógicos industrializados através dos meios eletrônicos, pode gerar problemas de homogeneização cultural impostos por determinados países ou por determinadas regiões”. 1.4. Recursos tecnológicos SIMONDON (1969)12, filósofo francês, afirma que o homem iniciou seu processo de humanização, a partir do momento que usou recursos existentes na natureza em benefício próprio. Pedras, ossos, galhos transformaram-se em ferramentas utilizadas pelo homem na pré-história. Contava também com o seu cérebro, a mente criadora e a força das mãos. Com a evolução do tempo ele precisou de outros equipamentos que ampliassem seus horizontes, suas habilidades e competências. Tinha que garantir sua sobrevivência. A evolução do homem através da história confunde-se com as tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época. Assim, o homem foi se transformando socialmente de acordo com a tecnologia. As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC), desenvolvem formas eletrônicas de armazenamento, tratamento e difusão da informação. Tornam-se mediáticas - pois combina recursos audiovisuais, telecomunicações e informação. Por isso, geram produtos informacionais cujas características são a possibilidade de interação comunicacional e a linguagem digital. As tecnologias da comunicação se processam com rapidez, gerando produtos diferentes e sofisticados, como telefone celular, fax, software, vídeo, computador multimídia, Internet, televisão interativa, realidade virtual, videogames. Essas tecnologias, infelizmente, nem sempre estão ao alcance da população No ensino a distância são utilizados muito recursos tecnológicos, como base nos seguintes objetivos: a) assegurar a atualização profissional via tecnologia; b)levar à prática do uso das tecnologias como recurso de aprendizagem/ensino; c)integrar a tecnologia pedagogicamente na prática docente. A tecnologia dos meios de comunicação de massa e da informática, consolidada na EAD, será a base desse novo paradigma, que mudará os conceitos da sala de aula. A escola vai ao aluno, seja utilizando desde o meio mais tradicional, que é o material impresso até os recursos de última geração. A cartilha deu início à alfabetização de grande parte da população, alavancando os progressos educacionais. O livro didático apareceu no século XIX, quando os professores resolveram deixar de “ditar pontos”, ou de fazer os alunos copiá-los do quadro de giz. Hoje, os livros são veículos de informação, graças a invenção da impressão gráfica de Gutemberg. Muitos cursos EAD estão baseados em material impresso. O cinema, a TV e o vídeo, são conquistas tecnológicas que permitiram a reprodução de imagens associando sua transmissão a distância acoplada ao som. Toda imagem é produção, é um dado de cultura. Sabe-se que atrás de cada imagem há um homem que cria. E atrás da produção existe os jornais, a publicidade, a propaganda, a computação gráfica, as revistas, a televisão e satélites onde também estão muitos interesses: pessoais, políticos e econômicos. Essas tecnologias como recursos educativos contribuem para consolidar um padrão de qualidade no ensino público, para enriquecimento cultural e profissional desenvolvendo competências e habilidades através de cursos e treinamentos a distância. A Internet, é uma tecnologia que aproxima aluno/grupo de alunos e o tutor (chamado de método tutorial) como o que é utilizado na Universidade Oxford, Inglaterra. Não se oferece a mesma orientação para todos os alunos, à medida que o curso se desenvolve, e sim o atendimento às necessidades de cada um em particular. Este relacionamento é essencial para o aluno e o tutor. O avanço da tecnologia da informação propicia uma mudança no cenário do conhecimento, que deixará de ser monopólio das instituições. Isto significa repensar o papel do professor. Ele será cada vez menos um guardião de conceitos e passará a ser um facilitador da integração no contexto do ensino, de conhecimentos acessíveis pelos meios de comunicação. Construir, com base no conhecimento é uma atitude especial na sociedade da informação. II : A RELAÇÃO ENSINO E APRENDIZAGEM NO ENSINO A DISTÂNCIA Nas sociedades atuais, a informação, o conhecimento e as tecnologias se tornam cada vez mais disponíveis a um número diversificado de pessoas. A Internet, rede mundial de informações que torna o hipertexto acessível a todos os interessados, é um processo presente na cultura dos povos. A construção do saber na escola deverá ser interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar. Muitos projetos que integram várias disciplinas, considerados extracurriculares, vão se tornar curriculares. São estratégias para sintonizar o currículo com o conhecimento contemporâneo. Pensadores como Dewey, Neill, Piaget, Vigotsky, Freinet e Paulo Freire, já tinham em mente que a construção dar-se-ia com base no conhecimento. A motivação para a aprendizagem iria além, levando o aluno a referir o conhecimento escolar ao vivido e observado, de modo espontâneo. DEWEY (1997)13 filósofo e pedagogo americano teve muito a ver com a teoria da educação. Inspirado no pragmatismo de William James, evoluiu para a doutrina que seria chamado instrumentalismo. Considerava a natureza como a realidade última e postulava uma teoria do conhecimento baseada na experimentação e na verificação, idéias que foram a origem da “escola de Chicago”. Sua idéia sobre a educação centra-se nos interesses do aluno e no desenvolvimento de todos os aspectos de sua personalidade. PIAGET (Suíça, 1896–1980)14 estudou Filosofia, Lógica, Religião e Epistemologia. Buscou na Filosofia, na Biologia e na Psicologia a ponte necessária para realizar estudos referentes ao conhecimento humano. Acreditava que todo conhecimento é construído pelo indivíduo e o desenvolvimento estimulado pelo impulso dos seres humanos para reduzir as incertezas (conflitos) com que se defrontam e, dessa forma, se adaptarem ao ambiente. A formação e o trabalho como biólogo, influenciaram-no ao explicar o desenvolvimento intelectual pois, a partir de um trabalho realizado com moluscos, ficou convencido de que atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente. Em WADSWORTH (1993)14 aprendemos que Piaget afirmava que a mente e o corpo não funcionam independentemente um do outro e de que a atividade mental submete- se às mesmas leis que, em geral, governam a atividade biológica. Esta inferência o levou a conceber o desenvolvimento intelectual do mesmo modo que o desenvolvimento biológico e atos cognitivos como atos de organização e de adaptação ao meio. Isto não implica que o comportamento mental deva ser completamente atribuído ao funcionamento biológico, mas que os conceitos referentes ao desenvolvimento biológico são úteis e válidos para se pesquisar o desenvolvimento intelectual. Segundo Piaget, o conhecimento surge da interação entre o sujeito (indivíduo) e o objeto do conhecimento (meio). Admite que o crescimento biológico é programado ontogeneticamente em cada indivíduo a partir de estruturas genéticas fixadas na espécie e que o crescimento psíquico decorre da relação sujeito (indivíduo), objeto (meio), com o qual o indivíduo interage. Para Piaget, a palavra aprendizagem tem dois significados: • aprendizagem no sentido amplo – sinônimo de desenvolvimento. Neste sentido, é adequado falar em desenvolvimento de ou aprendizagem do conhecimento físico, do conhecimento lógico-matemático e do conhecimento social; • aprendizagem no sentido restrito, referindo-se à aquisição de informação específica do ambiente. Este tipo de aprendizagem é assimilada aos esquemas existentes. A maior parte da aprendizagem é deste tipo, mas ambas as formas implicam compreensão. O aspecto mais importante na teoria de Piaget é o fato de que o indivíduo constrói o conhecimento a partir de suas ações sobre o meio ambiente. O conhecimento físico é construído através das ações sobre os objetos. O conhecimento lógico-matemático é construído a partir das ações sobre os objetos, sendo que o componente é a ação do educando e não o objeto em si. A construção do conhecimento social depende da ação do aluno sobre ou da interação com outras pessoas. Em decorrência disso, a implicação pedagógica básica recai sobre o método educacional, que precisa ser consistente com o modo como as pessoas adquirem o conhecimento, pois muitos não aprendem porque não conseguem entender aquilo que lhes é ensinado. Um conceito, desenvolvido por VYGOTSKY (1996)15, muito interessante para a compreensão do processo ensino/aprendizagem, é o de zona de desenvolvimento proximal (zona blizahaishego razvitiya), entendida como um espaço dinâmico de sensibilidades, onde as pessoas, presentes ou em memória, estão afetadas uma pelas outras e, portanto, onde o desenvolvimento cognitivo pode avançar. Para Vygotsky, o surgimento da consciência se dá através das ações do indivíduo no mundo e da interiorização transformadora da fala e dos símbolos culturais. O desenvolvimento real determina-se através da solução independente de problemas (define funções que já amadureceram). O desenvolvimento potencial determina-se através da solução de problemas, mas sob a orientação de um adulto (professor/tutoria) ou em colaboração com companheiros mais capazes (trabalho em grupo, em equipe, interação à distância). O desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. Permite-nos delinear o futuro imediato do educando e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente o que já foi atingido através do desenvolvimento, como também àquilo que já está em processo de maturação. As aplicações pedagógicas práticas, quando de posse desses conceitos, visa conhecer a zona proximal do aluno a fim de estimular seu desenvolvimento mental. Para que tal fato ocorra são necessárias pesquisas concretas, que determinem a zona de desenvolvimento proximal que o indivíduo se encontra. Vygostsky (1934), realizou estudos na área da psicologia ao fazer considerações sobre as atividades humanas como uma unidade de análise da consciência. As atividades humanas se transformam com ajuda de instrumentos como as ferramentas e os signos. Afirma, ainda, que os instrumentos são próprios do meio onde as pessoas estão inseridas e as ações uma vez interiorizadas, permitirá interação com outros indivíduos, modificando e regulando a conduta humana. As funções são construídas a partir das relações que se estabelecem com objetos sociais através de processos de mediação. As pessoas desenvolvem suas atividades de acordo com a cultura e educação recebidas. FREINET13 valorizou o ensino baseado em métodos ativos e no trabalho de equipe como meio de formação do educando, centralizando as atividades escolares em torno do uso da imprensa na escola. A partir do princípio de que o ensino simultâneo não levava em conta as diversas aptidões e tipos de inteligência dos alunos, procurou-se estabelecer a diferenciação pedagógica em graus e ciclos sucessivos, da qual já se havia sido cogitado. Já Alexander S. Neill13, em sua escola de Summerhill, pôs em prática a educação em liberdade. Aboliu a hierarquia professor-aluno e, portanto, a relação de autoridade na experiência pedagógica, encaminhando a criação à auto-educação, de acordo com seu ritmo individual de desenvolvimento. Para PAULO FREIRE (1983)16, o objetivo da educação deveria ser a liberação do oprimido, que lhe daria meios de transformar a realidade social a sua volta mediante a conscientização, isto é, conhecimento crítico do mundo. No período de 1958-1964 no Brasil e depois de 1964 no Chile, Paulo Freire pôs em prática com bons resultados, seu método de alfabetização de adultos. A eficácia e a validade do método baseia-se a partir da realidade do alfabetizando, do seu universo, do valor pragmático das coisas e fatos de sua vida cotidiana, de suas situações existenciais. Obedece às normas metodológicas e lingüísticas, mas vai além delas, ao desafiar o homem ou a mulher que se alfabetizam a se apropriarem do código escrito com vista a cidadania. FONSECA (1999)17 em seu livro Aprender a Aprender, ao questionar os modelos escolares obsoletos, que ainda produzem acumuladores e repetidores de informação, sugere que a escola do futuro seja responsável pelo desenvolvimento do pensamento. Os programas escolares são inadequados e ineficientes. Recorda os conceitos de inteligência de Aristóteles – componentes emocionais e éticos do processo do pensamento a Piaget, com a teoria da emergência gradual das inteligências sonsório-motora, pré-operacional, operacional e formal, teoria do construtivismo e Howard Gardner, com as sete múltiplas inteligências (lingüística, musical, lógico-matemática, visual, corporal, interpessoal e intrapessoal). Fonseca, mostra que seu estudo se fundamenta nas propostas de Reuven Feuerstein, autor do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI). Por sua vez, Feuerstein, aluno de Piaget, elaborou o PEI, a partir das pesquisas de Vygotsky – o desenvolvimento como condição de aprendizagem – e de Luria – modelo neuropsicológico do processo cognitivo; a atenção, o processamento e a planificação como três unidades funcionários do cérebro. O autor enfatiza ainda que, num mundo onde a adaptação à mudança é uma urgência, o desenvolvimento da inteligência deverá ser a principal finalidade da educação O PEI combate atitudes tradicionais que aparecem em afirmações que dizem que “algumas pessoas não foram feitas para aprender”. O PEI, é utilizado em 35 países e propõe-se a desenvolver aquisições cognitivas como projeção de relações virtuais, orientação espacial, comparações, classificações, relações temporais, relações hierárquicas e transitivas, pensamento silogístico, categorização, síntese visual-espacial e progressão seqüencial. Pode ser aplicado em sala de aula no decorrer de dois a três anos. A experiência da aprendizagem é realizado pelo mediatizador. É a pessoa que se interpõe, intervém entre os estímulos e os próprios indivíduos mediatizados, com a intenção de mediatizar tais estímulos, adequando-os às suas necessidades específicas. Ele provoca desafios, propõe tarefas não-convencionais, interage, supera o imediatismo, promove a auto-estima, compartilha comportamento e sentimentos, ajuda na amplicação do repertório e favorece o exercício da cidadania. Em 1965 a UNESCO18 passou a usar o termo “educação permanente”, significando educação para toda a vida. Diferencia-se do modelo conceito tradicional de educação. A educação é um processo de integração social e cultural que acompanha o indivíduo na infância e adolescência. A educação permanente é uma tendência da educação contemporânea. Oferece meios de realização, como o da educação extra-escolar ou paralela. Entendemos, neste sentido, a educação de rua, educação familiar, de grupos, principalmente a educação à distância, que oferece uma educação permanente. As formas de aprendizagem que os adultos se recorrem, varia desde o estudo individual até os cursos organizados por pedagogos com especialização nesta área de educação, e ministrados por professores especializados. Formam-se grupos de estudos e realizam-se seminários, laboratórios, cursos por rádio e televisão, vídeo, CD, etc. Também variam muito os objetivos, que vão desde a alfabetização ao aperfeiçoamento pessoal. Todas as correntes citadas abordaram o ensino e a aprendizagem no âmbito da educação. As novas situações criadas pela sociedade pós-industrial, o avanço contínuo da informática e dos meios de comunicação e a complexidade crescente dos novos conhecimentos e técnicas acentuaram a necessidade de novas aprendizagens. Mas as tecnologias da informação e da comunicação não dispensam a educação escolar. Desta se espera que preparem os alunos para renegociar os significados veiculados pela mídia, analisando-a, criticando-a construtivamente. Deve objetivar também levar o aluno a ter capacidade de inferir, prever, resolver problemas, continuar a aprender, adaptarse às mudanças, trabalhar em equipe, intervir solidariamente na realidade. Tais competências são as que agregam maior valor ao trabalho e ao exercício da cidadania nas sociedades atuais: os processos produtivos e as práticas sociais são afetadas também pela tecnologia da informação. A aprendizagem ocorre de modo eficaz se a pessoa está preparada para aprender. Este preparo é resultante de uma combinação de crescimento e experiência um processo pelo qual modificações no comportamento resultam da experiência ou da prática. Os conteúdos do ensino são desenvolvidos para encorajar os estudantes a conquistarem objetivos específicos. Durante a década de 1950 e1960, educadores dividiram os objetivos educacionais em três áreas: área cognitiva, área psicomotora e área afetiva. Área Cognitiva dá ênfase a processos como a compreensão, a lembrança, a resolução de problemas e a criatividade. Essa área subdivide-se em conhecimento e capacidades e habilidades intelectuais. O conhecimento se refere ao reconhecimento ou lembrança de informações específicas, conceito, generalizações e amplas teorias. As capacidades e habilidades se referem às maneiras de manipular os conhecimentos: compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. A maioria dos objetivos da educação recai na área cognitiva e a maioria do trabalho dedicado a currículos e ao desenvolvimento dos testes trata dessa área. Área Psicomotora enfatiza certas capacidades motoras, manipulação de objetos ou certos atos que pedem coordenação neuromuscular. Esses objetivos são os mais freqüentemente relacionados com cursos de caligrafia (Instituto Universal Brasileiro – EAD), dicção e educação física, assim como com cursos comerciais e técnicos. Área afetiva dá ênfase ao sentimento, à emoção, grau de aceitação ou rejeição, autoestima. Esses objetivos expressam-se por meio de atitudes, apreciações, valores, quadro emocionais, necessidade de aprender, crescimento pessoal. Portanto, a aprendizagem é um processo orientado. É social e comunicativo, e não apenas individual e mental As pesquisas sobre os métodos de ensino estudam os efeitos que diferentes métodos produzem no rendimento apresentado pelo estudante. Há dois tipos de métodos de ensino: o individual e o de grupo. Os métodos para grupo são os mais usados. Os métodos para ensino individual vêm-se tornando bastante usados e difundidos, como resultado do desenvolvimento da instrução programada e da instrução apoiada em técnicas de computadores. O estudo dos métodos individuais levou a uma pesquisa mais séria sobre métodos de ensino em geral. Esses estudos eram realizados de diversas maneiras, como: estudos do papel do professor, condições da sala de aula e muito pouco sobre o aprendizado. O estudo de métodos para grupos também eram deficientes porque os resultados nem sempre eram os esperados e raramente mostravam que uma técnica era melhor do que outra. Por exemplo, alguns estudos apontavam que o ensino não dirigido é melhor do que o ensino dirigido. A classificação dos métodos de ensino do ponto de vista de psicólogos educacionais, são: sociológico, administrativo e psicológico. Sociológico, é examinada a formação social, emocional e cultural dos professores e dos alunos; administrativo, considera como ensinar a grande número de estudantes que diferem em capacidades e necessidades; e psicológicos, a necessidade de motivação ou de estímulos positivos, fundamentais para que o ensino se torne eficiente. O resultado do ensino eficiente é a instrução, conjunto de conhecimentos que constituem a cultura do sujeito. O ensino e a aprendizagem constituem as duas fases do processo de aquisição de conhecimentos, cuja manifestação é a instrução alcançada num dado momento. Esses fatores se relacionam na escola. No processo educativo, o ensino (proporcionado pelo professor), desenvolve-se em função da aprendizagem (realizada pelo aluno) e da instrução (conjunto dos conhecimentos adquiridos). O ensino a distância é o método de instrução na qual a comunicação entre o aluno e o professor ocorre de forma indireta, mediante a combinação de material impresso, meios eletrônicos e outras técnicas. 2.1 A aprendizagem nos meios eletrônicos BRUNER (1997)19 ao conceituar as instituições escolares como comunidades de aprendizes que contribuem no processo “educar-se uns aos outros” afirma que a mente humana é agenciadora, portanto, busca o diálogo com outras mentes ativas. O conhecimento e a comunicação são interdependentes e ninguém pode ir em busca de significados sem ajuda dos sistemas simbólicos da cultura. Afirma, ainda, que o ensino à distância é uma ferramenta poderosa que possibilita interação social entre as pessoas, contanto que seja democratizado, valorizado e que os indivíduos tenham acesso as diversas formas de veiculação. MARTI (1993)20 diz que o meio informático permite o tratamento integrado de diferentes notações simbólicas – gráficas, lingüísticas, musicais, matemáticas, em tempos reais e dinâmicos possibilita a resolução de problemas e propicia o desenvolvimento de habilidades metacognitivas necessárias para a regulação dos próprios processos de aprendizagem. TAYLOR (1991)21 conceitua os meios instrucionais como um sistema de comunicação – um meio de expor os alunos a determinadas experiências de aprendizagem. Os meios instrucionais incluem materiais impressos, fitas, gravações em vídeos, computadores e, é claro, professores. RUGGIERO (1989)22 considera que materiais audiovisuais seriam: os programas radiofônicos, as películas, as emissões televisivas, a série de diapositivos, os programas de computador. O meio permite circular uma mensagem codificada em certo tipo de material. Um material-mensagem necessita de um meio para chegar ao destinatário. Em CARVALHO (1988)23 encontramos classificação dos filmes sonoros e do videocassete como “recursos audiovisuais – projeções móveis”. O autor diz que para aprendizagem esses recursos audiovisuais devem ser utilizados levando-se em conta, principalmente, os seguintes princípios: custo, adequação e versatilidade. Na aplicação da televisão como recurso de aprendizagem, NÉRICE (1977)24 faz distinção entre a televisão educativa e a televisão instrutiva. A primeira, transmite mensagens de cultura e de atualidade da vida presente, em todos os sentidos, de maneira a tornar o indivíduo mais atualizado e mais sensibilizado para com a realidade e os valores que orientam a civilização humana. A televisão instrutiva visa a um ensino sistemático, referente a uma área de estudo ou disciplina, bem como a um curso, destinado a um público certo e com preocupação de avaliação de sua ação. As vantagens da aprendizagem via televisão, na visão de Nérice, são: • a televisão como meio de acelerar e aprimorar a aprendizagem obtida na escola; • colocação de situações/soluções na aprendizagem; • aulas mais preparadas, mais informativas, mais vivas; • possibilita a repetição dessas aulas por meio de VT; • proporciona todas as vantagens oferecidas pelo filme, como apresentar fatos reais e atuais e, também, fatos históricos, reconstituídos por meio de representações, e ampliar ou reduzir imagens, conforme a necessidade do ensino/aprendizagem; • evita ao professor repetir as mesmas falas, dando-lhe liberdade para novas pesquisas, melhoria de aulas já realizadas e elaboração de novas aulas. Pode-se dizer que o ensino e aprendizagem à distância atualmente é o meio mais fácil de desafiar os limites do próprio conhecimento. O sistema educacional precisa ajustarse a esse novo contexto com uma visão mais abrangente do negócio propiciando ao aluno, trabalhador ou pessoas interessadas essa nova realidade. Cada pessoa estuda de acordo com seu tempo, horário e local sob a orientação e supervisão do tutor. A interatividade ocorre com pessoas de diversas partes do Brasil e também de outros países. A aprendizagem via Internet possibilita o desenvolvimento de competências como a ampliação de conhecimentos, criatividade e reflexão crítica. Nas escolas tradicionais de ensino, alguns alunos aprendem e outros têm dificuldades na aprendizagem. No ensino a distância, a abordagem tutorial torna a aprendizagem acessível a todos que realmente querem e precisam aprender. A conquista do tutor está em mostrar as dificuldades de cada um e ajudá-lo a encontrar soluções através de programas de computador altamente interativos. São três os fatores da abordagem interativa: a) interatividade constante, com desafios motivando o aluno a descobrir caminhos através do material oferecido; b) qualidade da abordagem interativa, acompanhar sempre o aluno, sanar seus problemas de aprendizagem, usando uma comunicação de qualidade e confiança. A interação não deve ser feita usando questões de múltipla escolha; c) os aprendizes devem anotar todos os passos e experiências ao longo do curso, suas dúvidas e progressos. O tutor deve manter registro do desempenho dos alunos para facilitar seu trabalho de acompanhamento. As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC) possibilita através das aplicações educativas uma aprendizagem interativa. As bibliotecas, laboratórios de pesquisa e equipamentos sofisticados podem e devem ser acessados pelo usuário que disponha de um computador conectado por linha telefônica a uma central distribuidora de serviços. Uma rede de Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) é uma coleção de redes que oferecem programas de aplicação, serviços e comunicação via computadores, telefones e equipamentos de vídeo. A Internet é uma rede de longa distância formada por milhões de computadores que podem comunicar-se entre si, ao mesmo tempo, na transmissão e recebimento de textos, imagens e sons. Atualmente, são mais de 200 milhões de pessoas conectadas no mundo inteiro. Vários são os termos usados na Internet para auxiliar a aprendizagem: • Teleacesso: uso on line de recursos como bibliotecas, conjuntos de dados, museus, imagens de satélites e de salas de aula conectadas. • Publicação virtual: são materiais de pesquisa publicados por meio das redes de telecomunicações. Tem como objetivo motivar alunos a investirem também em seus trabalhos. • Telepresença: habilidade pela qual alunos pode interagir através da TIC, acompanhando experiências diversas, testemunhando situações de risco, desastre ecológico, avalanche de neve, erupção vulcânica e, também coletando dados para pesquisas. • Teleconsultas: utilizar a TIC para consulta on line entre alunos e especialistas (professores com doutorado, pesquisadores, profissionais, cientistas, etc.) e as respostas instantâneas através de chats (ferramenta de conversa on line na Internet, bate-papo eletrônico). • Teleparticipação: é uma estratégia de troca de informações entre usuários. Têm início com a troca de correio eletrônico entre dois alunos de escolas diferentes, estendendo a comunicação a outros e assim cada vez mais, chegando a troca de idéias, experiência e recursos diversos. • Telecolaboração: é o emprego das telecomunicações na solução de problemas, na realização de projetos e na investigação compartilhada entre salas de aula. Uma das modalidades de aprendizado on line é a do treinamento profissional. Nos Estados Unidos, estimam-se que os gastos totais de treinamento e educação básica na Web atingiu em 2002, seis bilhões de dólares. Os profissionais de diversos segmentos, seja da educação formal ou informal, sentem a necessidade de mudança. O ser humano vive em constante desenvolvimento, e também tem enfrentado muitos desafios de rever as metodologias e tecnologias disponíveis utilizadas nos seus processos de trabalho, sobretudo, nas empresas onde desempenha papel de importância. Muitas organizações que já desenvolvem programas de treinamento técnicocomportamentais têm condições de rever sua política de ação, seus valores, metas e objetivos, possibilitando assim, a construção de um diferencial de qualidade e serviço. As empresas ganham: abre-se o caminho da competitividade e o seu pessoal ganham conhecimentos, adquiridos através de treinamento, habilidades e competências. Como qualquer metodologia, o treinamento tem limitações em sua eficácia e abrangência. O treinamento a distância, tem sua tendência cada vez mais na utilização das tecnologias de comunicação nos processos de ensino-aprendizagem. Assim, renasce a idéia do ensino a distância estimulando as pessoas a serem eternos estudantes. A tecnologia disponível: TV, Internet, CDRom, vídeo cassete, vídeo conferência, etc., é cada dia que passa mais popularizada e utilizada pela sociedade em geral, e pelas organizações, trazendo mudanças nos paradigmas da educação formal e informal. Esta mudança vêm da globalização. O ensino a distância já existe em todo o mundo. No Brasil, há uma carência de educação, desde o ensino básico até o superior, refletindo na formação profissional de jovens e adultos, e com a EAD, as possibilidades de ganho são imensas, considerando nossas dimensões geográficas. O ensino ou o treinamento à distância não vai substituir a educação presencial. Vai acrescentar, agregar novas possibilidades, permitindo que um número maior de pessoas aprendam. São muitos os benefícios oferecidos pelo treinamento à distância, comparativamente ao treinamento presencial: diminui os custos com transporte de pessoal, democratiza informações, pode ser aplicado ao mesmo tempo para muitas pessoas e pode ter início em qualquer tempo. GALVÊAS (2003)7, professor do SENAC, afirma que a EAD, tem uma abordagem democrática, horizontal, flexível e dialética. Gerando, portanto, um rompimento do monopólio do saber escolástico, acadêmico e formal, ou seja, a escola não é mais a detentora absoluta do saber, e o professor deixa de ser o único detentor do conhecimento. O papel do professor/tutor – está nas novas relações de aprendizagem. Exemplificando, o projeto do Movimento de Educação de Base/MEC era alfabetizar, apoiar os primeiros passos da EAD no desenvolvimento do ensino/aprendizagem e despertar habilidades por meio de treinamento constante: • Comunicação: falar com desembaraço, organizar suas idéias, saber idiomas e conhecer informática. • Matemática: saber fazer contas e estimativas sem ajuda de calculadoras; interpretar gráficos e tabelas; usar a matemática na solução de problemas. • Criatividade: usar raciocínio, capacidade para analisar, criar soluções para novas situações. • Gerenciar a própria vida: saber quais são os seus conhecimentos, habilidades, competência e aptidões ao programar seus objetivos, auto-estima positiva, inteligência emocional, ter autogerenciamento, saber trabalhar em equipe, ser uma pessoa íntegra e conviver com o regulamento do trabalho. O EAD está presente nas empresas promovendo estes treinamentos e ajudando as pessoas a enriquecerem sua auto-estima, desenvolvendo seu talento, superando suas deficiências e oferecendo-lhes condições no aprendizado de novas técnicas para o bom desempenho de seu trabalho. O aluno deverá manter uma atitude positiva perante o estudo, dedicando-lhe tempo, interesse e concentração. 2.2 Tutor/professor CASTRO (1999)25, coordenadora de EAD na Universidade Castelo Branco, afirma que o ensino a distância é uma solução para pessoas que não tiveram condições de estudar, e que esta alternativa de educação facilita o conhecimento permanente, enriquece o saber, o vocabulário, além de expandir o domínio na área da informática. O objetivo do professor na escola formal é transmitir informações para serem repetidas. Seu papel, no horário escolar, é exclusivo. O aluno é levado a memorizar textos. Os recursos são utilizados para chamar atenção do aluno sobre a matéria. As questões de avaliação cobram do aluno a reprodução da informação contido no material impresso. O sistema didático atual, com seus objetivos, conteúdos, métodos, e avaliação, condicionam o aluno a repetir o que já sabe. Uma educação para ser libertadora deve ter como objetivo os modos de pensar, fazer e sentir dos alunos. O tutor deve aprimorar no aluno esses modos. Os modos de pensar são atividades abstratas, e é importante que o aluno aprenda a pensar, a solucionar, a encontrar respostas. Essas atividades têm recebido muitos nomes: habilidades, capacidades, competências, operações, comportamentos. O fazer é próprio do ser humano. Enquanto o pensar á abstrato, o fazer é concreto. O sentir, segundo Jean Piaget, é uma energia que acompanha o que pensamos ou fazemos. No ensino a distância são os orientadores/tutores que coordenam o curso. São professores formados em pedagogia e outras licenciaturas, que passaram por processo de seleção, de estudos sobre a EAD, o sistema de aprendizagem e os conteúdos das disciplinas que faz parte da grade curricular. Ensinar a distância é muito diferente do ensinar presencialmente. O tutor dentro do processo ensino/aprendizagem, leva o aluno a aprender, a saber pensar, a criar, a inovar, a construir seu conhecimento, a se valorizar, a colher informações que podem lhe ser úteis. Dentro dessas características, CASTRO25, elaborou dois quadro sobre: modalidades e funções da tutoria. Tutoria: Modalidades Modalidades de Tutoria O tutor cria um clima cordial, humano e resolve as dúvidas que possam ocorrer durante a aprendizagem, de modo individual ou coletivo; ajuda nas tarefas de autoaprendizagem, corrigindo os trabalhos que os alunos realizam em casa e os exercícios de auto-avaliação a Não presencial Presencial Correio convencional Correio eletrônico Telefax DDG Individual ou em grupo Vídeo O tutor não explica a totalidade do programa, porque esta é a função do Material Instrucional Tutoria: Funções Orientação Docência As funções da tutoria Avaliação Pesquisa F U N Ç Õ E S Realizar atividades para ampliar as unidades didáticas Aclarar dúvidas As funções do tutor Ampliar temas das unidades didáticas pouco elaboradas Orientar em metodologia e técnica de estudo Animar e auxiliar na superação e superar dificuldades Promover a participação Segundo WOLCOTT (1995)26, no ensino a distância o professor deve levar em conta alguns aspectos, como o contexto de ensino, os alunos e os métodos. No contexto de ensino há mediatização pelo uso da tecnologia, e há outro tipo de aprendizagem. O tutor/professor para atuar ativamente deve conhecer bem o ambiente e sua influência no contexto. Deve saber trabalhar com as potencialidade do meio e adequá-los à abordagem instrucional; os alunos vão vivenciar um ensino diferente do presencial, e o professor deverá estar atento aos obstáculos psicológicos, sociais e técnicos que estes alunos enfrentarão nos cursos; quanto aos métodos, é preciso explorar estratégias alternativas de ensino, reduzir a distância interpessoal, promover a interação entre alunos e perseguir os objetivos da aprendizagem. A equipe de tutores participam da elaboração dos diferentes materiais instrucionais, de cada disciplina do curso, visando atingir os objetivos. Resta ao aluno começar a aprender ou dar continuidade ao estudo com a seriedade necessária. 2.3 Curso de Técnica Operatória em Vídeo A proposta da tese é comprovar a eficácia do ensino a distância no aprendizado de vídeocirurgia no curso de graduação em medicina, que será ainda será discutido. Essa proposta implica a existência da instituição dentro do perfil de EAD, de tutores capazes de utilizarem os meios instrucionais de maneira adequada, dentro das técnicas e procedimentos de realização de laparoscopia, com objetivos de manter a atenção dos graduandos, estimular a reflexão sobre o que está acontecendo, promover troca de conhecimento e experiências, de alunos e professores. Flexner já defendia antigamente uma proposta pedagógica que rejeitava a passividade e que fosse dado ao aluno outra maneira de aprender além de escutar e memorizar É importante a definição do ambiente virtual, dos meios instrucionais no processo pedagógico, de maneira a avaliar corretamente todos os passos a serem seguidos na produção e no aperfeiçoamento do vídeo educativo. O objetivo específico do curso seria a participação integral do aluno. O curso deve atender a demanda de EAD dos alunos. O ideal é produzir um vídeo que alie o conteúdo à linguagem e tecnologia audiovisual. Os vídeos de ensino a distância devem aproximar do modelo da aula tradicional na linguagem científica e nos procedimentos técnicos. Integrar televisão e vídeo às práticas pedagógicas é a intenção que deve perpassar todo o conteúdo do curso. Além de motivar o aluno, promover discussão interativa, a pesquisa e a extensão do trabalho para além da exibição, porque é através da aula expositiva que a aprendizagem acontece. Na produção do vídeo exige-se equipe formada por profissionais da área, embora o roteirista e o diretor não podem ignorar a relevância do projeto. A equipe pedagógica devem discutir os elementos principais na produção do vídeo e pertinentes ao roteiro: as imagens, as informações, as cenas, as falas, cenário, e a estrutura narrativa da cirurgia. A aprendizagem deve possibilitar ao aluno maior autonomia na condução das técnicas operatórias, pois ele aprende a aprender, aprende a ser, aprende a fazer e aprende a conviver. Os orientadores escolhem o suporte para o curso, elaboram os materiais impressos e vídeos. Nos materiais impressos explora-se os conceitos, os fatos e as práticas. As cenas utilizadas têm ligação com os conceitos explorados para promover a aprendizagem. Os exemplos ajudam a concretizar as idéias, a relacionar os conteúdos do curso com a experiência real do aluno. O advento dos meios eletrônicos possibilita esta modalidade de aprendizagem na prática médica. A ultra-sonografia, a medicina nuclear, a tomografia e a ressonância magnética contribuem para o diagnóstico médico. SIGULEM (1997)27, afirma que “novos equipamentos de monitorização de pacientes, como videolaparoscopia e analisadores automáticos de eletrocardiogramas, fluxos sangüíneos e gasosos, globais e regionais, oferecem informações vitais que auxiliam o médico quer no tratamento eficaz do paciente, quer no apoio à pesquisa.” Segundo SABBATINI (2001)28, a educação médica a distância é uma revolução e uma solução necessária para a reciclagem de médicos possibilitando um aprendizado contínuo. Citando como características, a flexibilidade, o tempo, o horário, e problemas de custos com viagens. A avaliação interativa, com resultados via correio eletrônico. Vários hospitais nos Estados Unidos, como o Hospital Computer Project, informatizado em 1962, o Latter Day Saints Hospital – LDS, em Salt Lake City, a Kaiser permanent, a Universidade de Stanford, todos com projetos na área de informática em saúde, no histórico de pacientes. Em vários países da Europa, houve também quem se preocupasse em ser pioneiro na informática médica. Podemos citar: Alemanha: Wagner, em Heidelberg; Reichertz, em Hannover; França: Grémy, em Paris; Inglaterra: Anderson, em Londres; Suécia: Peterson, em Estocolmo. A importância dos projetos está também na pesquisa científica e em melhorar os currículos médicos, via meios eletrônicos. Nesses países já havia hardware e software avançados e muitos recursos tecnológicos disponíveis na medicina, há quinze anos, além de profissionais especializados. No Brasil, a informática em saúde, iniciou na Disciplina de Nefrologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, em 1985. Atualmente, a informática ajuda o profissional médico no seu trabalho diário, e é imprescindível esta matéria ser incluída no currículo para que seja desenvolvido habilidades e competências, porque muitos são os benefícios de sua utilização, seja na comunicação com outros profissionais, na informações dos pacientes, na integração da informação em saúde em nível nacional. No parecer de SABATTINI28 as Faculdades de Medicina deveriam assumir a vanguarda no uso da Tecnologias de Informação (TI) em todo curso médico, e também treinar professores e alunos com o objetivo de melhorar o acesso à informação disponível de forma eletrônica. Nos Estados Unidos os cursos de educação a distância pelas universidades estão dominando o mercado. As faculdades de Harvard e de Stanford já tem parte de seu currículo em forma eletrônica, e os alunos novatos tem obrigação de ter um computador e acesso à Internet. No Brasil, é imprescindível que as escolas médicas se atualizem e busquem recursos nos meios eletrônicos. O Instituto Kerr de Ensino e Pesquisa, oferece treinamento para o uso dos aparelhos de ultra-som para diagnóstico, além de três a quatro cursos por mês. Nos EUA, 56% das 500 maiores empresas formaram as universidades corporativas. A Sociedade Brasileira de Cardiologia oferece mais cursos que as faculdades de medicina e eles são válidos na revalidação do diploma como especialista de cardiologia. Existem várias possibilidades de aprender via Internet. Há os “laboratórios virtuais”, em que os alunos podem realizar experimentos biológicos no animal, (por exemplo, choque hemorrágico ou registro de potenciais elétricos cardíacos) e de manejo de pacientes. Nas áreas de educação médica, o contato com o paciente será insubstituível e o trabalho em laboratórios também STEIN29 professor assistente de Desenho Industrial do Instituto de Tecnologia e Estudos Avançados da Universidade de Monterry, no México, apresenta um modelo de Universidade Virtual, em EAD, que se divide em duas partes: área pedagógica e a outra, estrutura organizacional. Afirma que o ensino à distância é um recurso para reciclagem médica e para aprendizado permanente, e neste contexto está o perfil do médico do século XXI. Mundo exterior Equipo docente Teoría História influye elabora influye usa evalúa explica Diseño y desarrollo del ambiente de aprendizaje contrata Actividad del estudiante determina Intención compra Misión possibita En cualquier tiempo y espacio lleva a determina Organización Medios Proveedora Perspectivas possibilita (Institución) Visión Estructura / Contexto selecciona Perfil del estudiante Operación COIÇAUD (2001)30 observa que as instituições têm relativa autonomia. O modelo institucional varia de acordo com a história do estabelecimento, através de estatutos, de conceitos e definições, da geração de projetos, da maneira de agir nos diferentes papéis, da operacionalização, das tarefas, da organização, dos controles, etc. A ideologia da instituição é que vai formar e caracterizar o modelo educacional. A cultura institucional deve garantir a sua autonomia. Na educação presencial, os alunos devem assistir as aulas regularmente, enquanto a distância, há flexibilidade; o modelo institucional de ensino aprendizagem presencial é realizado através das aulas a grupo de alunos, e a distância, o modelo ocorre na produção de materiais de estudo. Para iniciar um projeto de EAD, deve elaborar um planejamento estratégico, estabelecendo objetivos, metas. A realização de pesquisas sobre público-alvo, segmento, evita fracassos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BARRETO, S. L. "Educação a Distância: perspectiva histórica". In: Estudos - Revista da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. Brasília, ano 17, n.26., 1999. 2. BREEN, B. "O bilionário do ensino". In: Revista Exame. Editora Abril, ano 37, n.8, 23.abr.03. 3. VIANNEY, J., BARCIA, R. M., LUZ, R. J.P. "Universidade virtual: oportunidades de crescimento ou ameaça para as instituições de ensino superior". In: Estudos - Revista da Associação de Mantenedoras de Ensino Superior. 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Um século depois de Colombo, Sir Walter Raleigh subiria o Orinoco, em busca do eldorado, e seria derrotado pelas cataratas. A ilusão da serra que emanava prata tornou-se realidade em 1545, com o descobrimento de Potosi, mas antes morreram, vencidos pela fome e pela doença ou varados a fechadas pelos indígenas, muitos dos expedicionários que tentaram, infrutiferamente, alcançar o manancial da prata, subindo o rio Paraná. Havia, sim ouro e prata em grandes quantidades, acumulados no planalto do México e no altiplano andino. Fernão Cortez revelou para a Espanha, em 1519, a fabulosa magnitude do tesouro asteca de Montezuma, e quinze anos depois chegou a Sevilha o gigantesco resgate, um aposento cheio de ouro e de prata, que Francisco Pizarro mandou pagar ao inca Atahualpa antes de estrangulá-lo. Anos antes, com o ouro arrancado das Antilhas, a Coroa pagara o serviço dos marinheiros que acompanharam Colombo em sua primeira viagem. Finalmente, a população das ilhas do Caribe deixou de pagar tributos, porque desapareceu: os indígenas foram completamente exterminados nas lavagens de ouro, na terrível tarefa de revolver as areias auríferas com a metade do corpo mergulhado na água, ou lavrando os campos até a extenuação, com as costas dobradas sobre os pesados instrumentos de aragem trazidos da Espanha. Muitos indígenas da Ilha Dominicana antecipavam-se ao destino imposto por seus novos opressores brancos: matavam seus filhos e se suicidavam em massa. O historiador Fernandez de Oviedo interpretava assim, em meados do século XVI, o holocausto dos antilhanos: “” Muitos deles, por passatempo, mataram-se com veneno para não trabalhar, e outros se enforcaram com as próprias mãos “”. ( GALEANO, 1970) “Entre 1545 e 1558 descobriram nas férteis minas de prata de Potosi, na atual Bolívia, e as de Zacatecas e Guanaruato no México... Em meados do século XVII, a prata englobava mais de 99% das exportações da América hispânica “ ( GALENO, 1970 ) “ Entre 1503 e 1660, chegaram ao porto de San Lúcar de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata. A prata transportada para a Espanha em pouco mais de um século e meio, excedia três vezes o total das reservas européias. E é preciso levar em conta que estas cifras oficiais são sempre minimizadas “. ( GALENO, 1970 ). A América portuguesa também cedeu aos europeus a sua riqueza vinda do solo e subsolo. O ouro extraído de Minas Gerais, principalmente na cidade de Ouro Preto, onde a maior quantidade de ouro do mundo naquela época, foi levado para o enriquecimento dos países europeus, Celso Furtado escreveu que a Inglaterra, que seguiu uma política clarividente em matéria de desenvolvimento industrial, utilizou o ouro do Brasil para pagar importações essenciais de outros países e pôde concentrar inversões no setor manufatureiro. Rápidas e eficazes inovações tecnológicas puderam ser aplicadas graças a esta gentileza histórica de Portugal. O centro financeiro se transladou de Amsterdã para Londres. Segundo as fontes britânicas, a entrada de ouro brasileiro alcançava 50 mil libras por semana em alguns períodos. Sem esta tremenda acumulação de reservas metálicas, a Inglaterra não teria podido enfrentar, posteriormente, Napoleão. Após o ouro, a prata, veio a cana de açúcar trazida por Cristóvão Colombo e introduzida na República Dominicana. Posteriormente: Cuba, Jamaica, Haiti, Porto Rico e no Brasil, principalmente no Nordeste do Brasil. A exploração da cultura canavieira pelos portugueses e o açúcar levado para a Europa enriqueceu os países como Inglaterra, França, Holanda e os Estados Unidos da América do Norte. Além das riquezas providas pelas pedras preciosas, existiam também as riquezas cultiváveis como o algodão que no século XVIII tinha o Brasil e o México como os países de maior produção mundial. São Luiz do Maranhão via partir um milhão de libras de algodão bruto. O ciclo da borracha na Amazônia, teve seu apogeu em 1890. O Brasil era o maior produtor de borracha do mundo. O desastre ocorreu pela produção da Malásia. Este acontecimento ocorreu pelo roubo das sementes de melhor qualidade das seringueiras brasileiras pelo senhor de naturalidade inglesa Henry Wickham, contrabandeou-as para Liverpool e posteriormente plantadas na Malásia e a inundação mundial da borracha dominava o mundo e o Brasil perdeu seu lugar privilegiado e acabou o ciclo da borracha. Todos os ciclos custaram milhares, milhões de vidas humanas: indígenas, negros e os brancos excluídos. O solo da América Latina enriqueceu a Europa e a América do Norte e recebeu por tudo isso um solo regado a sangue, miséria e sofrimento. Emir Sader em seu artigo: América latina, adios? Aponta como fator que despertou o mundo para a existência da América Latina foi o massacre da Escola de Santa Maria de Iquique, no norte do Chile, em que milhares de trabalhadores mineiros foram fuzilados diretamente do navio que estavam os “negociadores” do governo chileno durante as greves dos trabalhadores. As ruas de Iquique jorraram sangue pelas calçadas, o governo demonstrava que não podia suportar a paralisação da principal atividade econômica do pais, controlada por empresas norte-americanas. Poucos anos depois explodiu a maior revolução social do continente até então: revolução mexicana, de Zapata e Pancho Villa, revolução que deu a pauta dos movimentos populares durante meio século na América Latina, seu caráter nacionalista, agrária e antiimperialista. Ainda na Segunda década do século, em Córdoba, na Argentina em 1918, surgiu a primeira reforma universitária, um movimento que colocava o tema da democratização da educação e da incorporação do movimento estudantil às mobilizações sociais que viriam a si generalizar nas décadas seguintes. O movimento de reforma em Córdoba critica a qualidade do ensino praticado. Isso foi citado na época da seguinte forma: “ Los universidades han sido hasta aqui el refugio secular de los mediocres, la enta de los ignorantes, la hospitalizacuion segura de los inválidos y lo que ses por aún – el lugar donde las formas de tiranizar y de insensibiizar hallaraon la cátedra que las dictara. Las universidades han llegado a ser asi el fiel reflejo de estas sociedades decadentes que se empenam em ofrecer el triste espectáculo de uma inmovilidade senil. Poe eso que la ciência, frente a estas caras mudas y cerradas, para silenciosa o entre mutilados e grotesca el ser servicio burocratico”. Após a independência dos países da América hispânica-portuguesa, as oportunidades para o crescimento podia ser esperado. Um continente privilegiado por suas terras e riqueza, dois idiomas predominavam: espanhol e português, facilitando nossas relações. Faltava-nos duas grandes conquistas para erguer-mos e ser-mos um continente desenvolvido: desenvolvimento econômico e educacional. O sistema educacional é o alicerce para o desenvolvimento da América hispânica-portuguesa. Entendemos que não faremos um grande continente, economicamente forte, tecnologicamente competitivo, se não dermos prioridade ao ensino, ao sistema de alfabetização com consciência, aliviando da opressão, da exclusão milhares de americanos de língua portuguesa e espanhola, que sofrem na cegueira educacional, imposta pelas classes detentoras do poder, que para manter este poder guilhotinaram incessantemente o desenvolvimento de conhecimento do povo. 2) A construção da Universidade A construção da Universidade na América Latina deu-se certamente apropriada pela classe dominante, em um regime oligárquico e revelou desde o seu início sua preocupação em formar uma elite, que através do poder aquisitivo aliado ao poder monetário dominou a sociedade, sendo que a grande parte dessa sociedade, assistia a enebriada escalada de uma classe privilegiada. Segundo Simon Schwartzman em América Latina: Universidade em transição: “ As universidades modernas têm muito em comum com todos estes fenômenos de abrangência histórica universal. Dizem que universidades e igrejas são as instituições mais antigas que existem, e isto não pode ser simples coincidência. De fato universidades e igrejas compartem algumas características importantes: ambas proclamam ser o repositório das formas mais elevadas do conhecimento, cultivado zelosamente pelos iniciados, que são por isto admirados, respeitados e invejados pelos demais. O conhecimento que proclamam ter não é somente prático e útil ( ainda que a ciência, o milagre e a mágica tenham certamente sua utilidade ), mas principalmente, pretende dar acesso às verdades consideradas mais profundas e fundamentais, qualquer que seja o sentido que se atribua, em cada sociedade em cada era, a estas palavras. É um tipo de certeza que um mundo incerto e inseguro, que só pode ser vislumbrado de longe pelos que estão fora”. A universidade tem como seus usuários aqueles que possuem qualidades para pertencer a esta instituição, e somente os cidadãos que oriundos de uma classe privilegiada financeiramente e/ou aqueles que mesmo não pertencentes a uma classe abastadas, sejam ligados por algum tipo de elo aos mais abastados, ingressam nas instituições de ensino superior. Tanto a Espanha quanto Portugal, eram dominados pela Igreja Católica Apostólica Romana, da Igreja vinham os conhecimentos e nela os estudantes mantinham uma estreita ligação com a própria Igreja. As universidades ensinavam teologia, direito canônico e medicina. A história nos faz acreditar que as universidades surgiram das escolas católicas, algumas ganharam corpo e alma própria desvinculando da Igreja e outras continuaram sob a regulamentação eclesiástica. As universidades da América hispânica-portuguêsa tem seu modelo no sistema napoleônico, sendo organizada, controlada e supervisionada pelos governos. Caracterizava a educação superior na América Latina de escolas profissionalizantes de curso superior como: direito, medicina, engenharia e as escolas militares. Essa forma de ensino superior denota a caracteristica das universidades da América, formam o cidadão em uma profissão, dando a este cidadão condição de fazer-se cidadão próspero e em benefício da sociedade a que ele pertence. Essa caracteristica refletirá por tempo indeterminado no ensino superior da América, sendo um alicerce concreto para enfatizar o sistema educacional epistemologicamente congruente com a profissionalização dos cidadãos. A igreja católica controlou por um longo período a educação superior na América Latina. Segundo Carlos Alberto Torres, com o advento do Estado Liberal oligárquico estas instituições se virão obrigadas a funcionar como centros eminentes de irradiação da cultura católica. Após a reorganização nacional e do fortalecimento das ideologias liberais ( maçônicas ou anticlericais) que emanavam dos novos estados oligarquicos, a presença de intelectuais católicos nas universidades públicas constituiu a mais efetiva expressão deste pensamento na educação superior. Torres sugere que a reforma de 1918 confrontou o modelo da universidade oligarquica ao tentar romper os vínculos entre pensamento liberal e dominação oligarquica e, ao mesmo tempo, procurou estabelecer a base de uma legitimidade democrática na missão acadêmica fundada em um consenso substantivo. A reforma universitária de Córdoba em 1918 foi um fato crucial na transformação do ensino na América latina. A reforma propunha uma universidade democrática baseada na administração pelos estudantes, a autonomia política, administrativa e do ensino, como também, seleção dos professores que iriam pertencer ao quadro docente através de competência. Outros avanços propostos pela reforma de 1918 foi: liberdade de ensino, ensino gratuito na universidade, Estas propostas estão firmemente ancoradas numa projeto baseado em liberdade, na plenitude do estado democrático e principalmente reflete a necessidade da universidade ser o baluarte da democracia plena. Segundo Carlos Alberto Torres no artigo – La universidad latinoamerica: de la reforma de 1918 al cambio estructural en los noventa. “Las críticas a la universidade tradiconal surgidas en circulos politicos e intelectuales, y la repercusiones políticas, administrativas y organizadas de la reforma universitaria de 1918, favorecieron la formación de un neuvo modelo de universidade en la región. El movimiento de reforma queria un neuvo tipo de instituición, más responsable de las demandas sociales por democracia, pero autónoma en su relación com el nuevo modelo de Estado que prevaleceria en la región”. Na América hispânica, a transformação da universidade republicana elitista em uma instituição antioligárquica é resultante do movimento reformista de 1918 em Córdoba. “ A universidade de Córdoba, em relação às universidades de Buenos Aires e de La Plata e as universidades provinciais ( Santa Fé e Tucuman ) era um baluarte do clero e da oligarquia aristocrática, e a companhia de Jesus que a tinha governado em suas origens, continuava na verdade, a dirigir sua orientação. A rebelião de Córdoba corresponde à ascensão das camadas médias e a força do movimento democrático antioligárquico”. ( TRINDADE, 2002 ). Simon Schwartzman tem como idéia sobre os estudantes e a reforma de 1918, que a na realidade, a reforma não consagrou o governo das universidades pelos estudantes, mas sim a divisão tripartite dos órgãos de governo entre estudantes, professores e ex-alunos. Os conflitos entre as classes no pensamento de Schwartzman gerou algumas lideranças de grande projeção nacional como: Alfredo Palácios na Argentina, Haya de la Torre no Peru, Raul Roa em Cuba e Rómulo Becanvour na Venezuela. Outro acontecimento no ensino na América Latina que modificou profundamente a filosofia educacional foi certamente a participação com o intuito não muito claro de fomentar melhoramentos por parte dos Estados Unidos da América, que através da Agência Interamericana de Desenvolvimento (USAID), criou propostas para que os Estados Nacionais a partir de determinados pressupostos, capitaneados pelo pensamento americano, delimitasse e proporcionasse aos países latino-americanos um sistema educacional vigiado veladamente pela maior potência mundial. Para a América latina foi enviado o Prof. Rudolph Atcon. Este senhor percorreu toda a América latina como conselheiro. “ afirmó hace veinte años que la universidad en la region en virtud de su resistencia natural a los cambios era, en efecto, la última intituición conservadora que prevalecia en una region movilizada por una fuerte oleada de cambios. Atcon percibia tanto condiciones históricas como tendencias estructurales comunes en el conjunto indiscriminado de universidades. Señalaba, por ejemplo, que estas instituiciones en Latinoamérica se componem de um número limitado de académicos profesionales semiautónomos y en las cuales la cátedra articula los fines educativos de la escuela en su conjunto “. (TORRES, 1999). O modelo do Prof. Rudolph Atcon para a universidade tinha na verdade o intuito de transformar essas universidades, cujas entidades mantenedoras era o Estado Nacional, em universidades privadas, ou então, eximir o Estado Nacional da responsabilidade de custeio, manutenção, organização e administração das universidades da América Latina. A participação dos Estados Unidos da América do Norte em toda a América Latina foi preponderante para que as universidades copiassem alguns modelos americanos, introduzindo um sistema universitário semelhante as industrias americanas (fordismo). O desenvolvimento educacional na América latina não foi homogêneo. “Essa diferença de desenvolvimento da educação superior na América ibérica se explica de várias maneiras. Baseia-se, primeiramente, no desafio para o colonizador espanhol diante do nível mais avançado de civilização dos indígenas comparado aos do território português. Essa situação obriga os espanhóis a implantar um ensino superior, cuja tarefa é formar missionários com um bom conhecimento da língua e dos costumes dos nativos; enquanto que, no Brasil por exemplo, os jesuítas ensinavam em suas missões a língua geral em lugar do grego e do hebraico”. ( TRINDADE, 2002). Segundo o mesmo TRINDADE: “ a razão fundamental, entretanto, se deve à presença de um sistema universitário mais desenvolvido na Espanha: no século XVI, Portugal contava apenas com duas universidades (COIMBRA e ÉVORA), enquanto que a Espanha já possuía oito, dentre as quais a de maior prestígio era a de Salamanca “. A construção do ensino superior experimentou vários momentos importantes. Além da reforma universitária em 1918 e a participação da Agencia Interamericana para o desenvolvimento da América (USAI) principalmente na década de sessenta, vários países experimentaram movimentos particulares e intensos, principalmente no século XX. Esses experimentos provocados por conflitos entre as classes ou mesmo entre os poderes constituídos, fomentaram um avanço no sistema educacional na América latina. Esse desenvolvimento não proporcionou o alavancamento dos países da América hispânica-portuguêsa nos aspectos sócio-político e industrial. Talvez os avanços e retrocessos sejam pertinentes à marcha para novas conquistas, novos desbravamentos. Aprender com erros e constituir um novo panorama no sistema educacional da América latina é o desafio para este século. 3) Desafios para o ensino superior na América Latina. A situação dos países da América latina sofreram transformações devido ao movimento permanente de evolução. O modelo que existia estava inserido em protecionismo do parque industrial, extrativismo, aumento brutal da dívida externa e estacionamento do produto interno bruto. Todas essas categorias significavam um atraso que percorria todos os países latino-americanos. As modificações estruturais da política e da economia para o século XXI determina novos paradigmas, que deverão ser analisados e estudados, tendo os Estados Nacionais de procurarem integrar nas novas proposituras mundiais. Os avanços tecnológicos e a mundialização são fatores reais que deverão ser enfrentados e novas adaptações e modificações de paradigmas permearão os processos inter países. Na década de noventa podemos afirmar que houve expansão da educação superior. Aumento de matrículas nos cursos superiores passaram de aproximadamente 270.000 mil egressos para sete milhões. Vários fatores contribuíram para este aumento de egressos: oferecimento de vagas pelas instituições de ensino superior de origem privada, aumento do números de professores e aumento de oferta dos cursos. Porém a quantidade não trouxe consigo a qualidade dos cidadãos que ingressam em nossas escolas superiores. As instituições de ensino superior privadas proporcionaram um aumento efetivo de vagas, correspondendo à massa de cidadãos represadas pelas escolas publicas, que não aumentaram efetivamente o numero de vagas, deixando a cargo das privadas essa oferta. As universidades privadas ( SCHWARTZMAN – 2003 ) nos países como Brasil, Colômbia, Chile, El Salvador e República Dominicana, a metade ou mais das matriculas de terceiro grau se encontra localizada em instituições desse setor. Em vários outros países como: México, Peru e Venezuela, ao redor de um terço ou mais das matrículas não universitária é oferecida pelo setor privado. Em geral, pode estimar-se que mais de dois milhões de alunos cursam seus estudos em instituições privadas de nível universitário ou não universitário, dos quais a metade pertence ao Brasil. “O conjunto de dados permite observar uma dupla dinâmica de educação superior na América Latina, com os fenômenos de massificação e de privatização. Na maior parte dos países é a via pública que assegura a massificação, salvo no Brasil, onde o peso do ensino privado é preponderante. No entanto, constatamos que há, em toda parte, uma tendência de expansão do setor privado. Em determinados países, a hegemonia do ensino superior público permanece muito forte, sobretudo no México, no Uruguai e na Argentina; porém mesmo em tais países, a presença das instituições se faz sentir apesar do ritmo de expansão mais lento que nos demais. Ainda é tempo de enfrentar esse complexo problema com políticas públicas que preservem a missão pública do ensino universitário na América Latina. Somente no futuro poderemos avaliar as conseqüências dessa evolução recente das universidades na América Latina, caso ela continue, pela inércia governamental, a depender principalmente do setor privado e qual o impacto sobre a formação das elites sociais e da pesquisa científica e tecnológica para as quais a universidade desempenha sempre um papel tão fundamental”. ( TRINDADE – 2002) Swartzman continua em sua publicação: “Universidades privadas de absorção de demandas estudantis, criadas geralmente nas últimas duas décadas. Concentram sua oferta de serviços docentes em torno de um núcleo de carreiras de alta demanda e baixo custo de produção e, ocasionalmente, operam como verdadeiras fábricas de títulos. Com independência de seu estatuto jurídico, ou incluso em alguns casos nas disposições legais do respectivo país, um grupo relativamente amplo das universidades privadas deste tipo atua em um mercado com fins de lucro, estando fortemente separadas da propriedade das empresas ( em mãos de seus donos ) da condução dos assuntos acadêmicos, que é delegada a uma ou mais pessoas que conformam a direção institucional”. Os desafios que ora abarcam os sistemas educacionais da América Latina, não encontram respostas comprometidas com o desenvolvimento desses sistemas. Existe uma dicotomia visível entre o que e se espera da educação e o que ela realmente reproduz em busca do desenvolvimento almejado. “Tanto na área da educação como em outras áreas, a América Latina está plenamente consciente da urgência dos desafios da educação que são comuns em outros lugares do Mundo. Trata-se de passar de um sistema social para outro: transpor a era industrial ( e muitas vezes a agrícola) para entrar na era do conhecimento”. ( TRINDADE – 2002) Jeffrey M Puryear dirigente do programa de educação e diálogo interamericano, em seu artigo - Educação na América Latina: problemas e desafios coloca a necessidade existente para atender as demandas do novos paradigmas para este século. “Para atender essas demandas, os sistemas educacionais da América latina precisarão perseguir, simultaneamente, alguns objetivos desafiantes, e às vezes, contraditórios. Terão de capacitar os estudantes para emprego em uma economia moderna, competitiva em nível internacional; de incentivar mudanças tecnológicas e científicas; de promover mobilidade e equidade sociais e de preparar os indivíduos para uma cidadania democrática. Para alcançar tais objetivos são necessários sistemas educacionais que sejam sensíveis às mutações econômicas e sociais ora em curso e que sejam capazes de se ajustarem, significativamente, nos níveis regionais e local, para acomodar grupos diferentes. O mesmo pesquisador DR. Jeffrey, quando analisa a qualidade da educação na América Latina traça um quadro sombrio: “A qualidade da educação que a maioria das crianças recebe na América Latina é inadequada, principalmente no caso das escolas públicas, que acolhem a maioria dos alunos do primário e secundário e, virtualmente, todos os estudantes pobres. A ênfase dada a expansão acarretou menos atenção aos processos e aos resultados do ensino. Fundos que poderiam Ter sido destinados a laboratórios, livros-texto ou treinamento de professores, foram gastos, ao invés, com mais salas de aula e administradores e professores inadequadamente pagos. Posteriormente o mesmo autor aponta cinco indicadores da existência de um sério problema de qualidade em todos os níveis de ensino: a média de gastos por aluno continua ( na América Latina ) grifo nosso, bastante inferior à dos países industrializados; Os índices de repetência são altos; as taxas de conclusão são baixas; as notas dos testes são baixas e fraco desempenho em ciência e tecnologia. Os indicadores acima apontados acarretam para as universidades um conflito que leva a baixa de qualidade do ensino nessas instituições de ensino superior, notadamente nas universidades privadas, onde um número crescente de alunos despreparados, ingressam nessas universidades e mesmo que as instituições privadas de ensino superior tentem maximizar a qualidade do ensino, esbarram no não acompanhamento desse ensino pelos alunos que não possuem competência epistemológica para tal. Neste novo século e milênio, as sociedades – no mundo e, certamente, na América Latina e no Caribe – lançam novamente seu olhar sobre a educação, colocando-a no centro da busca de paradigmas novos e válidos, que correspondam às expectativas do desenvolvimento e da paz no futuro. Como acentua o relatório da Comissão Delors (1996), para que o ensino possa contribuir eficazmente para o progresso técnico e para o desenvolvimento, é preciso, que inculque nos alunos conhecimentos, habilidades e valores que correspondam às necessidades deles e da sociedade. As democracias modernas e sua economia precisam de cidadãos que saibam compreender e tratar a informação ( saber por que e não apenas, saber como) que saibam trabalhar de maneira solidária e resolver os problemas. Na América Latina e no Caribe, o consenso dominante a este respeito e as estratégias de integração a longo prazo abrem um novo caminho para o futuro”. ( TRINDADE – 2002). As declarações tanto a ocorrida em Havana em novembro de 1996 e a Declaração Mundial sobre a Educação superior, asseguram a igualdade de oportunidades deve ser extensiva as possibilidades de permanência e conclusão dos cursos superiores para todos que nela ingressam. Notoriamente essas declarações vão de encontro a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A declaração de Havana compreende a expectativa do desenvolvimento do cidadão nas instituições de ensino superior , tendo como filosofia educativa o desenvolvimento da pessoa, como cidadão e como profissional, em perspectiva de uma educação inclusiva, para todos , permanente e sem fronteiras. As instituições de educação superior, disse a Conferência Latinoamericana, tem que transformar-se em: Centros aptos para facilitar la actualización, el reentrenamiento y la reconversón de profesionales, y ofrecer sólida formación en las disciplinas fundamentales junto com una amplia diversificación de programas y estudios, diplomas intermedios y puentes entre los cursos y las asignaturas. Simismo, deben procurar que las tareas de extensón y difusión sean parte importante de su quehacer acadêmico. (...) La educación permanente debe hacer posible, además, que cualquier persona, en cualquier etapa de su vida, pueda regresar a la aulas encontrando siempre en ellas la opurtunidad de reincorporarse a la vida acadëmica y alcanzar nuevos niveles de formación profesional, dado que, más allá del credencialismo, la competência adquirida posee un valor en sí misma.(...) La educación superior necesita introducir métodos pedagógicos basados en el aprendizaje para formar graduados que aprendam a aprender y a emprender, de surte que sean capazes de generar sus propios empleos e incluso crear entidades productvivas que contribuyan a abatir el flagelo del desempleo. Es necessário promover el espíritu de indagación, de manera que el estudiante esté dotado de las herramientas que le permitan la búsqueda sistemática y permanente del conocimiento, lo cual implica la revision de los métodos pedagógicos vigentes, trasladando el énfasis puesto actualmente en la transmissión del conocimiento hacia el proceso de su generación. De este modo los alumnos adquirán los intrumentos para aprender a aprender, a conocer, a convivir y a ser. O grande desafio das instituições de ensino superior da América Latina, é passar da palavra à ação. As trocas, as modificações, as rupturas, as transformações nos Estados Nacionais são demoradas, sujeitas às vontades políticas e técnicas. Os governos relutam em romper com o fracasso institucional do ensino superior na América Latina, criando um processo revolucionário de ensino, sem sofismas, sem meio-termo, aplicando na América Latina um sistema educacional que se aplicado com competência e qualidade, em pouco tempo, o mundo olharia para os países da América Latina com o respeito que esta merece. Enfrentar os desafios é certamente aumentar a competitividade internacional na área econômica. Devemos incrementar nossas competências e habilidades tradicionais e acrescentar outras. A economia é dinâmica e o mercado de trabalho também o é, isto implica em desenvolvimento científico, fazendo uma reciprocidade entre o ensino e o mercado de trabalho. Enfrentar os desafios é articular os compromissos com equidade social. Essa equidade deve ser construída com responsabilidade e participação efetiva da sociedade. A equidade faz-se presente no processo democrático que abrange quase todos os países da América Latina, que após vários anos de ditadura em diversos países, hoje assistimos a implantação da democracia, e esta, por sua vez, traz como compromisso imperativo a equidade social. As instituições de ensino superior que habitam este espaço, devem constituir os seus projetos com definição clara da responsabilidade de formação de jovens para o mercado de trabalho, para o emprender, para a construção de uma sociedade mais justa, mais eqüitativa, mais socialmente correta. BIBLIOGRAFIA ALBORNOZ, Orlando. Introducción, la educación superior en el siglo XXI. Visión de América Latina y el Caribe. Tomo I, Caracas: Unesco/Cresale, 1997 ATCON, R. P. Rumo a reformulação estrutural da universidade brasileira. Rio de Janeiro: MEC/DESU, 1966 BERNHEIN, C. T. 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São Paulo: Cortez, 2001 PAIM, Antonio. O liberalismo contemporâneo. 2 ed. Rio de Janeiro: tempo brasileiro, 272 p, 2000 RENAULT, Alain. Les Révolutions de l'Université, essai sur la modernisation de la culture. Paris: Calman-Lévy, 281 p. 1995 SCHWARTZMAN, S. América Latina: Universidades en Transición. Washington: OEA, 1996, cap. 5 – Financiamento, disponível na Internet, www.ibge.gov.br _____________. La universidad como Empresa Económica. Seminário sobre “El papel de las Universidades en el Desarollo Social” realizado pelas agências de cooperação técnica da Alemanha. SERRANO, Rafael. "La acreditación de la educación superior en Colombia". In: Yarzabal et al, 1999 SGUISSARDI, V. "A crise do Poder na UFSCAR: descaminho de um modelo?", In: Educação & Sociedade, v. VII, n. 21, p. 53-82, ago/1985 ___________, Universidade, Fundação e Autoritarismo – O caso da UFSCAR. S. Paulo: ED. Da UFSCAR, 1993 TEDESCO, J. C. Educación y Sociedad en la Argentina 1880-1900. Buenos Aires, Pannedille, 1970 TORRES, C. A, The politics of nonformal education in Latin America. New York: Praeger, 1990 ___________, "The Latin American University. From the Reform of 1978 to structural adjustment in the 1990". In: Journal of Higher Education, 1990 TRINDADE, Hélgio (org). A universidade em ruínas na república dos professores. Petrópolis: Vozes, 1999 UNESCO. Panorama Estadístico de la Enseñanza Superior en el Mundo: 19801995. Paris: Conferência Mundial sobre Educación Superior. YARZABAL, Luis. "La evaluación como estrategia de cambio de la educación superior". In: Avaliação, v.3, n. 4, Raies, Campinas. 1998 IV - O DILEMA DE PINOCCHIO: CONSEQÜÊNCIAS CONSEQÜÊNCIAS CULTURAIS DA MORAL CONTRACONTRA-REFORMISTA NO BRASIL ALITTA GUIMARÃES Este texto se propõe a pensar a questão da educação brasileira do ponto de vista das conseqüências da moral contra-reformista que marcou o início de nossa história. Não se trata apenas dos dezesseis milhões de analfabetos, nem dos seis por cento da população na Universidade, nem da força de trabalho que vem se formando com deficiências e que em menos de duas décadas poderá estar aumentando o desemprego. Esses são fatos importantes, como importante é a adaptação a novas tecnologias e a busca da excelência. Mas o ponto aqui buscado é outro. Diz respeito a valores que parecem estar sendo negligenciados há muito tempo. Diz respeito a formas de educação que vão além de querer compartilhar verdades conosco: obrigam-nos a conviver com possíveis mentiras. E, se completa o auto-engano, estamos aptos a reproduzi-lo, a levá-lo adiante. Nosso ponto de reflexão tem origem por volta do século XII, na Europa Ocidental, quando a tendência formal na educação consolidou-se com o crescimento das cidades e as crescentes necessidades de comunicação e comércio (leitura, escrita, cálculo; falar corretamente, inclusive outros idiomas). Com o desenvolvimento e os contatos com outras culturas, valores religiosos começaram a ser contestados. No século XVI a Reforma Protestante se opôs à obediência do Papa em Roma e originou as Igrejas Protestantes, que logo se multiplicaram pela Europa em três vertentes (luterana, calvinista e anglicana), gerando muitos conflitos e reflexões sobre o cristianismo, por exemplo, ao insistir na leitura da Bíblia pelo povo. A influência protestante se fez notar na estruturação do novo mundo que surgia: a questão do enriquecimento desdemonizado, a idéia da especialização, que está na base da organização do mundo econômico moderno (22) (23), a popularização da Bíblia, a noção de responsabilidade e do risco, a irritação com a aristocracia e a ostentação (festas, luxo), o cooperativismo e as iniciativas comunitárias se opondo às questões paternalistas. Logo a Igreja Católica tomaria uma série de medidas em resposta à expansão protestante, medidas estas a início defensivas e depois mais belicosas. Ao conjunto destas medidas foi dado o nome de Contra-Reforma. Foram elas: a Inquisição (1542), o Index (que levantou a questão sobre os livros permitidos e proibidos (1543)), o Concílio de Trento (1545-1563), a elaboração de textos religiosos padrão (missal, catecismo), o controle moralizador e austero das imagens sacras. Surgiram novas devoções: os anjos da guarda, o Menino Jesus. Uma nova ordem religiosa, dentre outras que surgiram, foi muito importante: a dos jesuítas, da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. Foram desta ordem os religiosos que chegaram ao Brasil colônia ainda no século de seu desenvolvimento. A educação sofreu um “policiamento” e uma padronização através da adoção da “Ratio Studiorum” (1599), um plano de estudos metódico, o primeiro sistema organizado de educação católica , base filosófica dos jesuítas. Esse sistema gessava possibilidades de discussão e prosperou no solo fecundo do estado patrimonialista, originado na hipertrofia do poder patriarcal original. Com ele, a Contra-Reforma alargou seu âmbito de dominação, mesmo porque o ensino era voltado para as elites e no interesse da consolidação da Igreja. Na Europa, a Roma semipagâ e exuberante do Renascimento transformava-se numa cidade severa, que bania o luxo e os divertimentos. Milhares de protestantes foram assassinados em 1572 (Massacre de São Bartolomeu). O Edito de Nantes, de 1598, concedeu aos protestantes liberdade civil e de culto, mas os conflitos continuaram. Em 1681 foi instituído o sistema das dragonadas, que obtinha, pela espada, a conversão em massa de protestantes. O fervilhar das questões espirituais da Contra-Reforma mobilizou artistas (arquitetos, músicos, escultores, pintores), e apareceram obras magníficas, altares trabalhados, anjos e santos em poses dramáticas. O gosto por Aristóteles supera o gosto por Platão. Em Portugal, a Contra-Reforma se acompanhou do “policiamento” da cultura, com a conseqüente imobilização, que se estendeu à vida cultural, ao ensino e às nascentes atividades científicas, por cerca de dois séculos. O classicismo trouxe uma perspectiva estética e cultural com restrições artificiais (ordem, equilíbrio e moderação à maneira de Grécia e Roma), que seria mais tarde suplantado pelo romantismo ainda no final do século XVIII. Assim, temporariamente foram refreadas as esperanças que o Humanismo e as descobertas do mundo haviam despertado em Portugal. Sem um objetivo real e na falta de um impulso criador, aparecem o formalismo na prosa e na poesia, o gosto pelos conceitos, da imagem pela imagem, os jogos de palavras, o refinamento da linguagem em sutilezas. A língua portuguesa ganha muitos vocábulos e um crescente domínio dos meios de expressão, o que a tornou, até hoje, um idioma complexo a ser estudado. As “verdades” assim ditas às vezes soam falsas, ou simplesmente, ensejam mentiras. A mentira é um sinal importante dentro da psicopatologia. Inicialmente surgida como um mecanismo infantil de defesa, ou como parte de uma atividade lúdica, indica as crianças mais inteligentes, mas também um nível baixo de socialização. O objetivo da mentira é uma espécie de camuflagem: fazer com que as pessoas acreditem no que não é verdade, ou duvidem do que é verdadeiro. As mentiras infantis podem ter ainda a finalidade de ridicularizar os adultos, ou serem uma reação às mentiras que os adultos também contam. Também podem servir para sinalizar conflitos internos. Por exemplo, uma pessoa mentiria para manter a auto-estima. É que a mentira permite modificar a verdade, e serve aos objetivos de encaixar o mundo num sistema próprio, e assim lidar melhor com a realidade; tornar coisas irreais em reais e vice-versa, confundindo as outras pessoas. Quem disse que nunca mentiu está mentindo. Às vezes são as mentiras inocentes: - “Tudo bem?” – “Sim, obrigado!” (mesmo que haja um problema); outras vezes é a mentira piedosa, que esconde do doente seu estado de saúde. Kant (10), autor da idéia do imperativo categórico/hipotético, pretendia um padrão ético rigoroso. Nunca mentir, (“mesmo que um louco armado com um machado nos pergunte aonde nossos filhos estão dormindo”). (1) Uma das mentiras mais freqüentes é o auto-engano, em que deliberadamente nos convencemos de algo que não é verdade. Podemos elaborar histórias encobridoras para um passado desconfortável, por exemplo. Podemos agir como cegos diante de alguém, não querendo ver aquilo que todos podem ver. O senso moral, que deveria racionalmente nortear as ações humanas, falha diante de nossa vulnerabilidade, nossos hábitos, nossas paixões, até diante de nossa óbvia transitoriedade: quantos vivem como se fossem imortais... Somos sujeitos ao erro e ao auto-engano, pois nossa razão é finita e sofre de influência de nossas emoções e sentimentos. Uma defesa contra isso foi mostrada por um bispo inglês, J. Butler (16921752): quando lidamos com coisas, não há um ideal para comparação, elas são o que são. Mas, ao lidarmos com pessoas num meio social, nós as avaliamos, a partir da comparação com uma espécie de ideal de perfeição(2). As dificuldades aí aparecem, porque o ideal do homem ainda não se cumpriu. Outra forma de simplificar a questão e não nos enganarmos já foi muito usada na história da humanidade: trata-se de uma relação parcial em que apenas um aspecto do outro serve ao relacionamento, geralmente auto-limitado: é o princípio da utilidade. Uma vez estabelecido num vínculo, as pessoas são usadas, consentindo ou não nisso. Embora a mentira seja em princípio uma questão filosófica, trazer a discussão para o plano educacional é importante. Muitas vezes já se fez a denúncia de aulas que são mentiras, de títulos que são mentiras, de fatos que se distorcem deliberadamente. Se é verdade que se educa com o exemplo, esta questão é preocupante. A fraude em provas pode ser uma espécie de ponta do “iceberg” (se os professores perpetuam mentiras, então o aluno também mente, só que do seu jeito). “A mentira arranha. A verdade dói profundamente” Mauro Mota (1912- ) Antologia em Verso e Prosa Pinocchio, de Carlo Lorenzini (1825-1890) notável metáfora da qual se serviu o mundo da arte no decorrer do século XX e que influenciou pelo menos cinco cineastas: Disney, Kubrick, Spielberg, Coppola, Benigni. Collodi, era o pseudônimo do florentino Carlo Lorenzini, escolhido por ser o nome da terra natal de sua mãe. Ele escreveu Pinocchio na época em que eclodiam as grandes mudanças sociais suscitadas pela Revolução Industrial, em meados do século XIX, trazendo novos hábitos, alterações dos sistemas e controles familiares, que muitos tentaram reprimir com um apelo mais forte à moral. O “Zeitgeist” ou espírito do tempo coloca Pinocchio como metáfora do cotidiano, e a questão da escolha entre o bem e o mal. As sociedades emergentes, às voltas com novas relações sociais e novas oportunidades de lazer, também tinham problemas com a questão trabalho-ócio, com o uso do tempo, com a valorização do lucro e do dinheiro e com a relativização simultânea dos dez mandamentos e dos sete pecados capitais. As pessoas pareciam menos temerosas. Havia também a perspectiva de um século novinho em folha, prestes a irromper, com novos temores e esperanças. A mentira encontrava ainda grande condenação moral; também o teatro era criticado como a oficialização da mentira. O que era fácil e livre demais, assim como o prazer, era olhado com cautela, pois induzia o homem ao erro e ao pecado. Mas o desejo de liberdade fremia, as pessoas iam expandindo seus corações e mentes, de modo a dificilmente voltar às antigas dimensões. Ora, vinha, desde Platão(15) , a noção da mentira como perversão metafísica, o que resultou em discussões filosóficas ao longo dos séculos. E que, parodiando Sartre(21), a mentira mistura o ser e o nada. É também uma questão que remete ao desrespeito pela dignidade do homem. Pinocchio poderia se tornar um “menino de verdade” porque era um menino de mentira, um boneco de pau que falava e andava, mas não conhecia. Então Pinocchio(*) mente. E a mentira se torna visível em sua face, porque seu nariz cresce. Mas “ficar de nariz comprido” também significa não obter o que se pretende. Pinocchio tem que procurar outro caminho. O Pinocchio de 1940 de Walt Disney é um boneco de madeira criado por Geppeto, que pede à primeira estrela da noite que o transforme em “menino de verdade”. E é a Fada Azul que faz com que Pinocchio possa mexer, falar, andar. Mas, tornar-se um menino de verdade dependerá só dele, se agir com coragem, sinceridade, lealdade, honestidade e generosidade. O Grilo Falante, nomeado sua consciência, mostra-lhe que é preciso se afastar das tentações: “Tentações são coisas erradas que, na ocasião, parecem certas”(3). Mas Pinocchio tem dificuldades de se situar num eixo moral. Fica fascinado pelas más companhias que o desviam duas vezes do caminho certo: na primeira, em vez de ir à escola, acredita que terá sucesso e fama num teatro de marionetes, e termina escravizado e ameaçado de virar lenha. Na Segunda, em vez de ir para casa, acredita que será feliz numa ilha (que numa tradução é sugestivamente chamada de cidade do EnrolaTrouxas), repleta de guloseimas e brinquedos grátis, sem nenhuma disciplina, onde os meninos podem quebrar tudo, e fumar, jogar, beber. Só que, horas depois, são transformados em burrinhos de carga e vendidos. (*)Porque Collodi o chamou de Pinocchio? Talvez porque “pinoca” seja sinônimo de janota (o que se veste com apuro excessivo); ou porque o verbo “pinocar” indique relacionamento sexual (“pinocada”), uma analogia com o nariz que cresce; ou porque “pino”, além da forma fálica, descreve bem as formas do boneco de madeira. Pinocchio consegue escapar das duas situações, mas há um problema: ele mente. E a mentira estampa-se em seu rosto porque seu nariz cresce. E como diz o ditado: “a mentira tem pernas curtas e nariz comprido”. A história, metaforicamente, mostra as misérias e a redução do homem; mostra que o homem, uma vez inserido num eixo temporal, não é mais alienado, não se deixa levar pelas circunstâncias. Busca autenticidade, sabe quem ele é, aprende após refletir sobre as experiências passadas, age sobre o presente com propósito e finalidade, antecipa mentalmente as conseqüências de seus atos e pode modificar o seu futuro. As correntes pedagógicas vêm propondo, há dois séculos, técnicas diversas para preparar as pessoas para a vida em sociedade. No entanto, muitas vezes se teve a impressão de que a ênfase não era o desenvolvimento de diferentes potencialidades nos educandos, mas a simples capacitação de mão de obra para o comércio e a indústria. O ensino mais completo e sofisticado vem ficando restrito aos círculos mais fechados das elites. A moral perpetuada através do sistema educacional, pode ser assim resumida (12): A) moral social apoiada na busca do consenso, que tenta primeiro a concordância, mesmo mínima, na qual a divergência é esperada e no qual o comportamento social pode ser diferente do comportamento religioso. Esse padrão acompanhou a Reforma Protestante. B) moral social apoiada em dogmas inquestionáveis, impostos às vezes de maneira violenta, algo como o “magister dixit” medieval, um sistema no qual a divergência soaria como heresia: o comportamento social seria análogo ao comportamento religioso. Este padrão acompanhou a Contra-Reforma. Como a rigidez moral foi permeável à leviandade e à frouxidão dos costumes? Da mesma forma que a água procura pelas brechas de uma fortaleza (e geralmente acaba por achar), também o espírito da Contra-Reforma, por ser mais fechado e autoritário (auto-defensivo), pode ter ensejado mais comportamentos de transgressão. O verdadeiro ladrão, entre uma porta aberta e outra fechada, escolhe a fechada, pois assim terá mais prazer em seu ofício. Num sistema formatado, e com um fanatismo obsessivo pelas “verdades”, medram a hipocrisia, a mentira, os arranjos, as conspirações, as tramas, age-se nos bastidores, no deslizar de sombras. Nesses sistemas a discussão não convém, é cuidadosamente evitada, porque a troca de idéias traz a claridade, e o consenso destrona vaidades. “Há mil maneiras de se praticar injustiças sem se quebrar uma única lei”. Jehoshua Steinberg (1839-1908) Muitas coisas, boas, inclusive, podem ser atraiçoadas pela ênfase excessiva na moral e na virtude. Quando se acredita que haja uma só verdade, dogmaticamente imposta, restringe-se a liberdade. No consenso pode-se respirar, diminui o não dito, pode-se discutir, ponderar, estabelecer acordos. Qual o espaço em nossas salas de aula para estas práticas? O nosso nariz continua a crescer? As conseqüências da Contra-Reforma na educação brasileira, a meu ver, abrangem os seguintes pontos: Favorecimento de cultura elitista importada da Europa, com tendência preconceituosa, com pouca autocrítica e consenso limitado. A invasão da cultura estrangeira nas colônias mostrou-se ineficaz, mas com a ilusão de eficiência. E gerou questões até engraçadas quando se viu a formalidade e a pompa em versão tropical. As falas e as vestes contrastando com a verdade regional, descambando para uma excessiva familiaridade e invasão de privacidades, para a corrupção. Talvez por essa razão, a adoção de um terceiro caminho tenha respondido às necessidades de negociação e mediação, e possa estar na gênese do que se convencionou denominar “jeitinho” brasileiro que, entre outras coisas, reforça a desvalorização do trabalho. Subordinação do saber a interesses políticos, econômicos e sociais, limitando a liberdade acadêmica. Com isso vem a restrição da originalidade do pensamento, a tentação do plágio e das falsificações, as distorções da realidade de acordo com o que se deseja, além da criação de mitos e da caricaturização da ciência. A sistematização compulsiva serviu para controlar a realidade, efetuando recortes no mundo que negaram e desvirtuaram outras possibilidades. Ora, as exigências de uma educação moderna e inclusiva abrangem: • Raciocínio sistemático. • Domínio de si próprio ( aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais). • Aprendizagem de convivência e trabalho em equipe (discussão, diálogo). • Visão compartilhada dos problemas e co-criação para o encontro de melhores soluções. • Profundo respeito à verdade. Assim, tornamo-nos permeáveis ao espírito da Contra-Reforma em seus aspectos negativos (pois, decerto, há aspectos positivos) e temos o dilema de Pinocchio: a autonomia e a liberdade, o tornar-se pessoa que importa e que se importa com os outros. Teremos, daqui para a frente, melhores momentos? Poderemos aprender, nós que lecionamos? Respeitaremos os esforços de tantos, que antes de nós, lutaram pela transparência, pela honestidade de comportamentos e idéias, pela liberdade, pela humanidade? Ou, como no filme Blade Runner (Philip K. Dick), diremos que “todos estes momentos ficarão perdidos no tempo como lágrimas na chuva” ? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BLACKBURN,S.: Dicionário Oxford de Filosofia, RJ, Jorge Zahar Editor, 1997. 2. BUTLER, J.(1692-1752): Three Sermons on Human Nature, Londres, 1897. www.bartleby.com/ 3. COLLODI, C.: The Adventures of Pinocchio , Classic books online. 4. www.pagebypagebooks.com/C_Collodi/The_Adventures_of_Pinocchio/ 5. FENICHEL, O.: Teoria Psicanalítica das Neuroses, trad. de Samuel P. Reis, SP, Atheneu, 1981. 6. GADOTTI,M.: História das Idéias Pedagógicas, SP, Ática, 1999. 7. GRIMBERG, C.: História Universal, vol. 10, Lisboa, Publ. 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RATIO STUDIORUM (1599): Documentos corporativos da Companhia de Jesus (texto oficial) 18. www.puj.edu.co/pedagogia/seminário 19. RODRÍGUEZ, R.V. : “A Filosofia em Ibero-América” in: Cultura Revista de História e Teoria das Idéias, Lisboa, Artipol – Universidade Nova de Lisboa, vol. XII, 2000-2001. 20. RODRÍGUEZ, R.V.: “A Ética da Solidariedade como solução à escalada da violência na América Latina” in: A essência dos vínculos, org. Solange Thiers e Elaine Thiers, Rio de Janeiro, Ed. Altos da Glória, 2001. 21. SARTRE, J.P. : O Ser e o Nada, trad. Paulo Perdigão, Petrópolis, Vozes, 1997. 22. WEBER, M.: A ética protestante e o espírito do capitalismo. (1904). Ed. Pioneira, 2001. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva, vol. 1, Brasília, UnB, 1991. V - A UNIVERSIDADE PAULO FREIRE DEO PIMENTA O instituto Paulo Freire (IPF) está sendo chamado a envolver-se com a formação de pesquisadores e educadores, inclusive com a incorporação dos modernos meios de comunicação, com rigor cientifico, mas sem os exageros do credencialismo. Paulo Freire deixou como legado livros, artigos, vídeos. Não deixou discípulos como seguidores de suas idéias. Deixou um espírito que une, hoje, em muitas partes do mundo, um conjunto de pessoas e de instituições, que passamos a denominar Universidade Paulo Freire (UNIFREIRE). E que é a Universidade Paulo Freire? Ela se constitui de uma rede de núcleos, espalhados por todo o planeta e linkados entre si pelo espírito do legado de Freire e por todos os modernos meios de comunicação, desenvolvendo programas e projetos para a libertação e promoção dos oprimidos. É uma Universidade fundada “no sonho por um mundo menos malvado, menos feio, menos autoritário, mais democrático, mais humano”, segundo as próprias palavras de Freire. MOVIMENTO PELA UNIVERSITAS PAULO FREIRE FÓRUM PAULO FREIRE – III Encontro Internacional Tema Geral: Educação: o sonho possível. Paulo Freire e o futuro da humanidade Los Angeles, 19 a 21 de setembro de 2002. (Jason Ferreira Mafra) BREVE HISTÓRICO E PERSPECTIVAS DO MOVIMENTO PRÓ UNIVERSITAS PAULO FREIRE (UNIFREIRE) “O verdadeiro compromisso é a solidariedade, e não a solidariedade com os que negam o compromisso solidário, mas com aqueles que, na situação concreta, se encontram convertidos em coisas”.(Freire, In: Educação e Mudança: 1999:19) 1. O que é o movimento Pró-Universitas Paulo Freire e a UNIFREIRE? O movimento Pró-Universitas Paulo Freire foi lançado no II encontro do Fórum Internacional Paulo Freire realizado na cidade de Bolonha, em 2000. Trata-se de uma ação coletiva de educadoras/educadores que, identificados com o pensamento libertadorprogressista, fundamentalmente o freiriano, trabalham para a construção da Universidade Paulo Freire (UNIFREIRE). Um movimento pela aprendizagem solidária e cooperativa, participando de uma organização nova da sociedade baseada na solidariedade ativa (sociedades pós-capitalistas), criando redes de colaboração solidária em todos os níveis (locais, regionais e mundiais) e buscando a construção democrática de uma alternativa póscapitalista à globalização excludente. Constitui-se num conjunto de compromissos e princípios assumidos por pessoas empenhadas em realizar a utopia de uma universidade consubstanciada pelas idéias de universalidade e de pluralidade, condições éticas para edificar a cidade do saber da nação freiriana e de todos os que com ela se identificam. A UNIFREIRE é universidade internacional para o empoderamento de pessoas e instituições, uma cooperativa social para o conhecimento, registrada no Brasil e inspirada no legado de Paulo Freire, lutando pela justiça, pelo amor, pela beleza, pelos/com os oprimidos, com os marginalizados, os pobres, as vítimas de injustiças, de racismo e de toda a forma de exclusão etc. Revela-se, assim, num centro articulador, transnacional , configurado pela utilização educativa do espaço virtual e presencial, onde a informação e o conhecimento sejam mediados pelos ideais e pela ética freiriana e, ao mesmo tempo, norteados pelo rigor científico e pela radicalidade na democratização de sua disseminação. Todos são, simultaneamente, educandos e educadores. Portanto, todos podem e devem aprender e ensinar, aprendendo a aprender e aprendendo a ensinar. A UNIFREIRE se configura numa rede virtual em auto-construção (autopoiesis) promotora de uma inteligência coletiva, constituindo-se e constituída pela Nação Freiriana Planetária. È portanto, uma comunidade virtual desterritorializada e livre para a produção e difusão do conhecimento por meio de uma nova maneira de ler e de transformar o mundo. Uma cidade educativa virtual que, ocupando o ciberespaço da informação, assume a Terra como paradigma maior, isto é, o planeta como uma única comunidade: um planeta, um povo, uma comunidade. Nesse sentido, a UNIFREIRE é entendida como um espaço que, na era da informação, animaria a construção coletiva do conhecimento onde todos podem “dizer sua palavra” (Paulo Freire), oferecendo possibilidades concretas de libertação. Ela ocuparia um espaço público não estatal, ou no sentido habermasiano, uma esfera pública cidadã, conectando grupos, redes e movimentos, formando para e pela cidadania. Identificando-se com as concepções e princípios de Universidade Livre, seus pressupostos fundamentais, podem ser sintetizados nas seguintes ideais :a) a informação é um direito humano fundamental, pois ela permite o acesso a outros direitos; b) como direito, o acesso às informações deve ser livre e gratuito em todos os níveis e formas; c) todos podem ensinar algo, todos podem aprender algo. Nesse sentido, a palavra Obuchenia de Vigotsky, significando, ao mesmo tempo, “ensino e aprendizagem”, é muito apropriado para esse princípio da UNIFREIRE; d) a informação é o único bem de que todos precisam e que não se perde quando é compartilhado, ao contrário, só é válido quando é socialmente democratizado. 2. Gênese e evolução histórica do projeto UNIFREIRE Paulo Freire insistia na idéia de que “primeiro a gente faz, depois dá o nome”. Por isso, embora a UNIFREIRE não esteja formalmente institucionalizada, já é uma realidade em construção. Resulta, na verdade, de uma caminhada que, em grande medida, representa um sonho do próprio Paulo Freire, visto que na sua origem remonta à época em que ele ainda se encontrava entre nós. Em decorrência da grande procura por parte de educadores, educadoras e instituições a respeito da teoria freiriana, em 1996, por razões objetivas – como os limites impostos pelas constantes viagens e por almejar atender um número maior de pessoas – Paulo Freire propôs que se criassem, no instituto Paulo Freire, Cursos de Especialização visando atender à demanda das pessoas que, de várias partes do mundo, solicitavam sua presença formativa. Inspirados nos formatos das cátedras livres propostas por Francisco Gutiérrez e Jacinto Ordõnez, na Costa Rica, e com vistas à formação de uma Cátedra Livre Paulo Freire no Brasil, tais cursos constituir-se-iam num programa de pesquisas e de estudos prospectivos em nível de pós-graduação objetivando formar docentes e pesquisadores do campo pedagógico. As atividades estariam, inicialmente, sob a Coordenação de Moacir Gadotti, Donaldo Macedo e Carlos Alberto Torres, sob a orientação geral do próprio Paulo Freire. A primeira proposta estruturou-se em torno de um curso de especialização para estudantes estrangeiros sobre o Pensamento de Paulo Freire, contando com a presença de Paulo Freire, como um dos docentes. Os alunos teriam aulas de manhã e à tarde. No primeiro período, Paulo Freire coordenaria os debates em torno das questões levantadas pelo grupo de estudos. No segundo, eles participariam, de grupos de trabalho e discussões com outros professores para consolidação das teses discutidas pela manhã e para o inicio do processo de orientação. Essa foi a proposta de curso apresentada por Paulo Freire e discutida pela equipe da sede central do IPF. Os alunos participariam também de visitas e projetos locais que se fundamentam na pedagogia freiriana e realizariam pesquisas nos arquivos Paulo Freire na sede do IPF-São Paulo. Seria um curso de 100 horas, que, em nível de pós-graduação e nos moldes acadêmicos, corresponderiam a 10 créditos. O curso teria início na segunda quinzena do mês de maio de 1997. Infelizmente, o projeto foi abordado, visto que Paulo Freire falecera no dia 02 de maio desse mesmo ano. No ano seguinte, no primeiro Encontro internacional do Fórum Paulo Freire, realizado em 30 de abril de 1998, elaborou-se um primeiro documento-manifesto, a “Carta de São Paulo”, cujos princípios, rediscutidos e aprofundados, tornar-se-iam idéias integrantes do compromisso ético para o surgimento do Movimento Universitas Paulo Freire. Assim, como afirma José Eustáquio Romão, a “certidão de nascimento” da UNIFREIRE foi selada com a carta de Bolonha, dois anos depois, no segundo Encontro do mesmo Fórum, realizado na Itália, entre 29 de abril a 1º de maio de 2000. Em essência, os dez compromissos da Universitas Paulo Freire contidos na carta de Bolonha foram os seguintes: 1. Trabalhar para criar, em cada instituição de Ensino Superior, um núcleo da Universitas Paulo Freire (UNIFREIRE); 2. Voltar-se para a formulação e concretização dos princípios e dimensões da planetaridade, do processo civilizatório, da eticidade e da democracia; 3. Buscar, além da cibercultura e dos recursos que a eletrônica colocou a disposição da telecomunicação, outros procedimentos que permitam a construção do saber; 4. Tomar o saber instituído apenas como ponto de partida para o instituinte, através de processos dinâmicos de incorporação da sabedoria de todos os segmentos sociais, compreendendo os universos simbólicos de construção da existência dos oprimidos como contextos geradores dos seus próprios processos pedagógicos; 5. Ter como meta a reinvenção do espírito universitas da instituição, como estratégia para neutralizar o caráter corporativo; 6. Desenvolver-se na linha da Escola Superior Cidadã, portanto, inspirada no princípio de que a informação é um direito primário fundamental; 7. Recusar o status de verdade definitiva das afirmações e observações que se dizem “imparciais”, visto que quem afirma e observa sempre o faz de determinado ponto de vista; 8. Condenar toda e qualquer forma de discriminação, dominação e exclusão; 9. Observar os seguintes princípios: aprender precede a ensinar e ensinar se dilui na experiência fundante de aprender; não se ensinam apenas conteúdos, mas a aprender, isto é, a pensar certo; pensar certo e estar sempre em dúvida com as próprias certezas, a partir da observação do mundo; a curiosidade ingênua deve ser substituída pela curiosidade epistemológica. 10. Reconhecer todas as titulações e certificações de quem, formal ou informante, concluir estudos, pesquisas e práticas caracterizadas pelos princípios contidos nesta Carta. Em 17 de agosto do mesmo ano, o Conselho Internacional Diretivo do IPF e o Colegiado da Sede Central, indicando às deliberações do III Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire, discutiram o Movimento e apontaram as seguintes diretrizes e encaminhamentos relativos à estrutura e funcionamento da UNIFREIRE: 1- A UNIFREIRE, segundo os princípios definidos na Carta de Bologna, é acima de tudo um movimento. A sua institucionalização deverá respeitar o seu caráter de movimento. 2. O instituto Paulo Freire, como órgão responsável por este movimento, coordena, articula e mobiliza suas atividades. 3. Para isso, o conselho Internacional constitui um comitê Diretivo formado por José Eustáquio Romão (Coordenador – Brasil), Fausto Telleri (Itália), Azril Bacal (Suécia), Ângela Antunes (Brasil), Jason Mafra (Brasil) e Margarita Victoria Gomes (Argentina-Brasil). Este comitê deverá elaborar a primeira versão do documento de referência da operacionalização do Movimento da Universidade Paulo Freire a ser amplamente discutido. 4. Para criar um núcleo da Universitas Paulo Freire, instituições e movimentos interessados deverão enviar uma proposta de trabalho ao comitê Diretivo da UNIFREIRE que poderá submete-la à apreciação do Conselho Internacional de Assessores do IPF. 5. A proposta de trabalho pode ser tanto de nível de pós-graduação quanto de educação continuada e deverá ter por base os princípios do legado de Paulo Freire, da Carta de São Paulo e da Carta de Bologna. 6. A proposta de trabalho deverá conter: um histórico que demonstre a relação dela com os princípios da UNIFREIRE bem como um plano de desenvolvimento, acompanhamento, avaliação, formas e fontes de financiamento. 7. Para facilitar o seu funcionamento, a UNIFREIRE será estruturada através de um campus virtual em rede, em permanente autoconstrução, com o objetivo de edificar a cidade educativa virtual da nação dos cidadãos que comungam com os ideais de Paulo Freire em qualquer parte do mundo. 8. A terra constitui-se o paradigma da UNIFREIRE, entendendo-se como única comunidade, onde os seres humanos dividem o mesmo território como outros seres. Comentando esses princípios, Francisco Gutiérrez afirma que a “UNIFREIRE requer nestes momentos ir preparando caminhos, relacionando-se com gente audaz, aberta, sonhadora e desinstitucionalizada. Não podemos criar um espaço de aprendizagem dentro das coordenadas existentes. Os referenciais são nossa imaginação e nosso amor para que Paulo Freire siga exercendo seu magistério através de todos os que acreditam em seu ideal e sua dimensão político-pedagógico. Aliar-se às estruturas atuais é abortar uma idéia estupenda”. José Eustáquio Romão sugere que as representações do IPF: “deveriam ser de até duas categorias: Nacionais (RN) e locais (RL). As primeiras responderiam como uma espécie de coordenação das ações do IPF em um país, as demais seriam apenas coordenações de membros do IPF em uma localidade. Resta a indagação sobre as obrigações de cada um. Como seria sua institucionalização. Penso que deveriam ser institucionalizadas de acordo com as leis de cada país e cópia do registro ser enviada ai IPF em São Paulo, para ser ter o conhecimento do que está acontecendo em cada representação. Tal registro seria acompanhado da programação de atividades da representação. Penso também que deveria ser estudada uma vinculação institucional de cada representação ao IPF central, bem como alguma forma de aprovação da programação, para que o nome de Paulo Freire e do Instituto não sejam tomados em vão (em planos, projetos e programas que contrariem sua filosofia e política)”. Walter Garcia tem opinião parecida com a de Romão: “entendemos que a idéia é interessante e bem vinda, mesmo porque qualquer iniciativa que pretenda preservar e ampliar as propostas de Freire, para nós são altamente estimulantes. A forma jurídica deve ser a que melhor se adapta à estrutura jurídica do país e a forma de articulação conosco, definiríamos depois de ouvir o que lhes parece mais interessante”. Gutierrez nos chama a atenção para o fato de que o habitus – conjunto de disposição incorporadas, estruturadas e estruturantes (Bourdieu) – próprio das tradicionais instituições universitárias e no campo acadêmico, seja expurgado no projeto da universidade que queremos. Contudo, entendemos que dar a UNIFREIRE um caráter institucional, não significa minar seu pressuposto educativo-libertário, como encantadoramente, sempre nos alerta Gutierrez. O habitus institucional está muito mais em nossas práticas do que na formalidade das instituições. Portanto, é nossa postura crítica e ética, no que fazer cotidiano, que nos dará a certeza de não cairmos nas armadilhas da institucionalização reproduzindo o velho modelo. Formalizar a UNIFREIRE significa criar condições para sua operacionalidade. Um caminho que, no modelo de sociedade em que vivemos, é a brecha de ações transformadoras nas mais variadas organizações civis e não-governamentais. Uma coisa é pensar e reproduzir os modelos de instituições opressoras (como certas escolas, igrejas, universidades, redes de comunicação, estruturas militares, empresas privadas e governamentais etc.), outra é referenciar-se em instituições de resistência, contrahegemônicas (ONGs, partidos de esquerda, MST, sindicados, associações, comunidades, movimentos etc). Instituições que são essencialmente libertadoras, e, nesse sentido, contrainstitucionais às velhas práticas. Nessa perspectiva, existe grande diferença entre ser instituição para a reprodução e ser instituição para a transformação. Nessa última, trata-se de engajamento necessário numa organização (na perspectiva orgânica de Gramsci) dentro da sociedade que temos para a sociedade que queremos. Por esse meio, faremos caminhos de transformação. Caso contrário, como os projetos da UNIFREIRE serão viabilizados sem algum tipo de financiamento? Que canias teremos para conseguir recursos? Como as pessoas terão o reconhecimento de seus cursos na UNIFREIRE? Apesar de nos opormos ao credencialismo, tudo isso ainda tem grande peso enquanto capital cultural e simbólico na sociedade. Não podemos ignorar essa cobrança ou superestimar o voluntarismo dos educadores e educadoras. Na concepção que temos sobre o papel da UNIFREIRE, desinstitucionalizar é, sobretudo, no cotidiano de cada instituição, criar uma cultura propriamente desinstitucionalizadora. Em outras palavras, significa assumir seu papel de sujeito de mudança numa organização referenciada pela ação comunicativa da esfera pública cidadã. 3. Realizações da UNIFREIRE desde a carta de Bolonha até aqui, reconhecidas as limitações materiais em termos de estrutura humana e financeira, o Movimento Universitas amadureceu bastante. Mesmo não institucionalizada, a UNIFREIRE, como projeto em construção, já existe. Seus primeiros cursos a distância para educação continuada, via Rede Mundial de Computadores, inauguram uma de suas dimensões mais importantes: o ciberespaço do saber. Relacionamos aqui seus primeiros trabalhos realizados, em andamento ou projetos próximos: 1) "Cruzando fronteiras: iniciação à obra de Paulo Freire" (2000) 2) "Lições de Freire cruzando fronteiras: três falas que se completam" (2002) 3) Metodologia do ensino da matemática (mediação pedagógica) 4) Formação de educadores de jovens e adultos (em andamento) Em setembro de 2002, iniciou-se o primeiro grande projeto de formação de Jovens e Adultos da UNIFREIRE, intitulado Projeto JovemPaz. Esse projeto objetiva fortalecer a articulação política, a autonomia e a organização comunitária dos jovens, desenvolvendo ações de formação de jovens e adultos para a construção da cultura da paz e da sustentabilidade. Além disso temos programado os projetos Cátedra do oprimido e Pedagogia da Terra; consciência e práxis ecopedagógica na perspectiva freiriana. Dois grandes projetos que devem selar a inauguração dos cursos presenciais da UNIFREIRE. Levantamento feito pelo Instituto Paulo Freire de São Paulo (órgão que articula e coordena a UNIFREIRE) mostra que hoje podemos falar de uma Comunidade Freireana Mundial, isto é, Institutos, Cátedras, Núcleos de Estudos, Centros de Material e de Pesquisa, Grupos de Estudos, Bibliotecas, Associações, Escolas, Universidades e/ou Faculdades, Espaços Culturais e Educacionais e outros que levam o nome de Paulo Freire e que realizam projetos referenciados no paradigma freireiano. Dessa forma, levantamos mais de cem países onde existem pessoas e/ou grupos que referenciam seus estudos e suas práticas educacionais no pensamento de Paulo Freire. Esse levantamento está ainda em fase inicial e, portanto, não representa um mapa aproximado do que seja hoje a nação freiriana. Mas já temos alguns dados indicativos dessa dimensão. Por exemplo, já estão constituídos 11 institutos Paulo Freire: IPF-Argentina (rosário), IPFArgentina (Tandil), IPF-Brasil (Maranhão), IPF-Brasil (Nordeste-Natal), IPF-Brasil (São Paulo), IPF-Brasil (Ceará) IPF-Espanha (Valência), IPF-EUA (Los Angeles), IPF-Israel (Mazkeret Batia), IPF-Portugal (Porto), IPF-República Dominicana. Em processo de formação temos outros 11: IPF-Alemanha (Berlim), IPF -Alemanha (Munique), IPF-Brasil (Rio de janeiro), IPF-canadá (toronto), IPF-Chile (Temuco), IPF-China, IPF-Colômbia (Bogotá), IPF-Escócia, IPF Itália (Bolonha), IPF-México (Cuernavaca), IPF-Suécia. Sobre as Cátedras Livres Paulo Freire, Núcleos ou Centro de Estudos, destacamos: África do Sul (Johanesburgo), Argentina (Buenos Aires), Argentina (Três Rios), Brasil (Recife), Brasil (São Paulo), Costa Rica (heredia), México (Guadalajara), México (Morellos), Portugal (Évora), Venezuela (Caracas). 4. Agenda e plano de ações da UNIFREIRE (2002-2004) Como se vê, a UNIFREIRE é hoje o grande projeto da Comunidade Freiriana Mundial. Esses dois anos, desde a Carta de Bolonha, serviram para amadurecer e clarear as idéias sobre a importância, a concepção, e o papel da UNIFREIRE no mundo contemporâneo. Evidentemente que, pela própria dialética do sentido mesmo da UNIFREIRE, não se trata de fechar essas três questões. Contudo, é chegado o momento de traçarmos um plano de metas para que avancemos quantitativa e qualitativamente em nosso projeto. Apresentamos aqui algumas sugestões de temas que devem ser debatidos e encaminhados no encontro do Fórum Paulo Freire de Los Angeles: 1) Concluir o documento de referência da UNIFREIRE, a partir das discussões acumuladas até aqui e dos primeiros referenciais (cartas de São Paulo e de Bolonha), onde deverá constar a máxima objetividade os seguintes aspectos: a) Histórico; b) justificativa; c) concepção; d) Princípios, e) Objetivos, f) Estrutura Organizacional e Operacional.. 2) Definir o caráter institucional da UNIFREIRE; 3) Elaborar um calendário semestral das atividades da UNIFREIRE até 2004; 4) Rediscutir o Conselho Diretivo da UNIFREIRE, ratificando-o ou retificando-o, bem como estabelecer uma agenda de encontros periódicos do Conselho Diretivo para avaliação e encaminhamentos das ações; 5) Criar estratégias para que a UNIFREIRE seja atividade prioritária nos Institutos Paulo Freire (pensar numa equipe que cuidará intensamente dessa questão); 6) Criação do Portal Virtual da UNIFREIRE linkado aos IPFs, mas independente; 7) Mapear todas as instituições e pessoas da Comunidade Freiriana. Objetiva-se, com isso, estreitar laços, informações relações e desenvolver projetos com pessoas e instituições que efetivam suas concepções e práticas referenciadas na vida e na obra do educador Paulo Freire. Quem são e o que essas pessoas, núcleos grupos, cátedras e IPFs etc. vêm realizando em termos de atividades, projetos, estudos e ações educativas na perspectiva de Freire. Com isso, estamos também atualizando dados para disponibilizá-los na página eletrônica da UNIFREIRE, viabilizando projetos, ampliando assim a rede de relações da Comunidade Freireana do Planeta. ORIGEM DAS CÁTEDRAS PAULO FREIRE As Cátedras Livres Paulo Freire nasceram no início da década de 90 por iniciativa de Francisco Gutiérrez e Jacinto Ordoñez, na Costa Rica, em diversas universidades latinoamericanas, procurando fugir da formalidade dos cursos universitários de pós-graduação e centrando-se na discussão de paradigmas emergentes, temáticas prospectivas e novas tecnologias. Em suas diversas sedes, subsedes e núcleos de estudos freireanos, organizam-se as Cátedras Livres Paulo Freire, que consistem no oferecimento de Cursos Livres (Extensão) e de Cursos de Pós-graduação (aperfeiçoamento e especialização) na modalidade presencial e a distância, incluindo palestras, seminários e cursos de educação continuada de educadores das redes de ensino pública e privada, voltados para os diversos níveis de ensino no Brasil e no exterior. Formam-se também grupos de estudos que objetivam aprofundar o conhecimento sobre Paulo Freire, bem como contribuir para a atualização de sua obra. Além disso, são desenvolvidas atividades que, à luz do pensamento freireano, visam dar respostas aos desafios educacionais contemporâneos. CÁTEDRAS DA UNIFREIRE Cátedra Livre Paulo Freire, IPF, Brasil. Coordenadora: Prfª Dra. Ângela Antunes. Cátedras Paulo Freire no mundo. Na rede da Unifreire. Cátedra do Oprimido, Coordenador: Prfº Dr. José Eustáquio Romão. CÁTEDRA DO OPRIMIDO Em meados de 2002 um grupo de pesquisadores e pesquisadoras decidiu de reunir periodicamente através de círculos de cultura, para se discutir assuntos ligados ao processo civilizatório do oprimido. O tema central de discussão é a hipótese: quando houve avanços na humanidade, estes vieram do oprimido? Deverá, cada pesquisador e pesquisadora procurar comprovar essa hipótese, cada um em sua área. A princípio foram criados dois Núcleos de trabalho, um na cidade de Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, que a cada reunião cresce o número de integrantes. As dependências usadas são as salas do Núcleo de Pesquisa da pós-graduação do Centro de Ensino Superior, que se localiza à Avenida Rio Branco, num belíssimo imóvel tombado. O segundo núcleo está instalado na moderna sede da Universidade Nove de Julho, na cidade de São Paulo, também no centro de pós-graduação do mesmo. ENCAMINHAMENTOS: 1º) Constituição e instalação da "Cátedra do Oprimido", no contexto da UNIFREIRE; 2º) Formulação coletiva do Programa "Civilização do Oprimido" [1], que deverá desdobrar-se em planos e projetos de levantamentos, estudos, pesquisas, dissertações, teses e cursos. 3º) Realização, no mínimo semestral, de um Círculo de Cultura, na sede do IPF em São Paulo, de todo o grupo envolvido, para socialização dos resultados dos trabalhos desenvolvidos e discussão dos fundamentos do PCO, da Cátedra do Oprimido, da UNIFREIRE e do próprio IPF. 4º) Formulação e implementação de cursos da "Cátedra do Oprimido", a partir dos resultados dos projetos de levantamentos, estudos, pesquisas, dissertações e teses [2]. 5º) Estruturação imediata de um curso sobre a perspectiva do oprimido nos diversos setores da atividade humana (epistemologia do oprimido, filosofia do oprimido, antropologia do oprimido, literatura do oprimido, por exemplo), para objetivação de convênio com a Universidade Lusófana de Humanidades e Tecnologia, localizada em Lisboa, com vistas ao credenciamento dos créditos desenvolvidos no curso. 6º) Preparação de um documento coletivo sobre a "Civilização do Oprimido" para ser apresentado no III Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire, a ser realizado em setembro, em Los Angeles (EUA). [1] Como o termo "civilização" está definitivamente marcado pelo egocentrismo, o grupo deve buscar a formulação de uma expressão mais adequada que dê conta do que se está querendo dizer: os avanços do humanismo pelo conjunto da humanidade, a partir dos impulsos e realizações de formações ou classes sociais periféricas e oprimidas. [2] No caso de quem estiver desenvolvendo dissertações de mestrado e teses de doutoramento, os Círculos de Cultura transformar-se-á em uma experiência nova de "orientação coletiva" e de antecipação da mediação entre a academia e a realidade social, que é um dos objetivos básicos da ação do IPF. CÁTEDRA DO OPRIMIDO DE PROJETOS Cada pesquisador do núcleo, desenvolve individualmente seu projeto que se baseia na hipótese (tema central do núcleo). Os campos são muito variados, indo da história à psicologia e ainda biologia, arquitetura, filosofia, geografia entre outros. ANEXO Carta de Bolonha Carta di Bologna UNIFREIRE. Ensinar e Aprender (Obuchenie) PREÂMBULO O renascimento Feudal do século XIII determinou uma ampla movimentação dos habitantes dos burgos, de uma classe ascendente cujas demandas forçaram a Igreja a exteriorizar suas tarefas pedagógicas, antes voltadas para a formação de seus próprios quadros nas escolas monásticas. O aparecimento das escolas catedrais respondeu, portanto, inicial de organização corporativa de mestres e aprendizes. Delas derivou universidades medievais. A universidade nasceu no mundo ocidental e suas matriciais – quer seja a prévia de studium generale, quer seja a definitiva studiorum – já denunciavam sua transnacionalidade. à necessidade a maioria das denominações de universitas Não se discute mais que Bolonha é o berço universitário. Também não se levantam dúvidas sobre o fato de que ela impregnou-se do espírito democrático e supranacional. Os estudiosos da história da educação são unânimes em afirmar que, se não foi a primeira em ordem cronológica, esta Universidade foi a mais antiga organização universitária no sentido etimológico do termo: várias “nações” de estudantes se reuniram e contrataram seus mestres. Ou seja, as diferenças das nacionalidades dos aprendizes foram superadas pela organização e institucionalização da universitas. Paulo Freire (1921-1997) foi o educador do final do século XX que mais se destacou na defesa dos oprimidos e na proposição da bandeira da libertação através de um processo pedagógico em que o educando e os educadores se promovem como seres humanos em comunhão. O reconhecimento mundial desse educador encontrou sua mais alta expressão na promulgação da “Década Paulo Freire”, pela UNESCO, na Conferência Mundial de Educação de Jovens e Adultos, realizada em Hamburgo, em 1998. No mundo ocidental, coincidentemente, a Universidade nasceu sob a égide de alguns princípios que também são significativos no legado das idéias e ações de Paulo Freire: organização da resistência de minorias oprimidas; superação das diferenças de origem geopolítica; multiculturalismo; compromisso com o rigor científico. No caso particular de Bologna, os estudantes proclamaram o caráter contrário às ordens instituídas verticalmente, tomando uma “iniciativa educanda”, em lugar de uma “iniciativa docente”. Por isso, nada mais emblemático do que retomar, numa perspectiva freiriana, a discussão da Universidade em Bologna. E, revendo esses quase mil anos de História, buscar, nas suas fontes mais libertárias, a seiva que deverá alimentar a concepção de uma nova Universidade, a ser construída num contexto de aggiornarmento tecnológico e comprometida com a libertação de todos os povos. As preocupações de Paulo Freire, expressas em vários momentos, sobre “a contingência do individual e a transcendência do coletivo”, acalentava a idéia de constituir uma organização que desse continuidade as suas propostas. Daí, com um grupo de educadores, criou o Instituto Paulo Freire. O instituto Paulo Freire (IPF) está sendo chamado a envolver-se com a formação de pesquisadores e educadores, inclusive com a incorporação dos modernos meios de comunicação, com profundo rigor científico, mas sem os exageros do credencialismo. Pensou-se desde os primórdios do IPF, na “Cátedra Paulo Freire”. Paulatinamente, a idéia foi evoluindo para a constituição de uma verdadeira Universidade. E o que é uma universidade? Certamente não se limita a um conjunto de professores e de alunos; não é somente a biblioteca, laboratórios e currículos. Ela não se confunde com suas paredes, seus equipamentos, suas quadras de esporte. Uma Universidade é um conjunto de relações sociais e humanas. Enfim, ela se caracteriza por um espírito. Paulo Freire também não deixou como legado livros, artigos, vídeos. Não deixou discípulos como seguidores de suas idéias. Deixou um espírito que une, hoje, em muitas partes do mundo, um conjunto de pessoas e de instituições, que passamos a denominar Universidade Paulo Freire (UNIFREIRE). E o que é a Universidade Paulo Freire? Ela se constitui de uma rede de núcleos, espalhados por todo o Planeta e linkados entre si pelo espírito do legado de Freire e por todos os modernos meios de comunicação, desenvolvendo programas e projetos para a libertação e promoção dos oprimidos. É uma Universidade fundada “no sonho por um mundo menos malvado, menos feio, menos auditório, mais democrática, mais humano”, segundo as próprias palavras de Freire. COMPROMISSOS Face ao exposto, nós, participantes do II Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire, reunidos em Bologna (Itália), de 29 de março a 1º de abril do ano 2000, inspirados no legado de Paulo Freire e dando continuidade aos compromissos assumidos na “Carta de São Paulo”, comprometemo-nos com os seguintes princípios, teses e encaminhamentos: I – Trabalhar para criar, em cada Instituição de Ensino Superior, um núcleo da Universitas Paulo Freire (UNIFREIRE), voltando para a formação de pesquisadores e educadores, comprometidos com a causa dos oprimidos, de modo a constituir, organizar e consolidar uma rede de pólos de revisão crítica do papel da Universidade no novo milênio. II – A universitas voltar-se-á para a formulação e concretização dos princípios e dimensões da planetariedade, do processo civilizatório, da eticidade e da democracia. Por isto, há de transcender fronteiras e “alfândegas” criadas pelas discriminações de gênero, étnicas, nacionais, econômicas, culturais, políticas e religiosas, superando limites físicos, através da culturas digital, da utilização da presença virtual que diferentes meios de comunicação modernos colocam à nossa disposição para a configuração de uma inteligência coletiva; há de superar a barreira do tempo e da alienação pelo resgate e incorporação das contribuições da pedagogia crítica ao longo de toda a História, visando à construção de uma universidade simultânea e, por isso mesmo, uma meta universidade; há de denunciar toda e qualquer ameaça às relações orientadas pela ética e, finalmente, deverá trabalhar pela expansão de democracia que se limita hoje, na maioria dos países, aos direitos da institucionalidade política, construindo a democracia econômica, social e cultural. III – Além da cibercultura, além dos recursos que a eletrônica colocou à disposição da telecomunicação, serão buscados, pela UNIFREIRE, outros procedimentos que permitam a construção do saber – confundido nas atuais instituições de ensino com a informação e o conhecimento – uma vez que a sabedoria só surge no momento em que somos capazes de, associando dados recolhidos pela informação e processos formulados pelo conhecimento, construir nossa própria inteligência do universo, pronunciando-a como movimento recriador da vida. IV – A UNIFREIRE só terá o saber instituído como ponto de partida para o instituinte, através de processos dinâmicos de incorporação da sabedoria de todos os segmentos sociais, tomando os universos simbólicos de construção da existência dos oprimidos como contextos geradores dos seus próprios processos pedagógicos. V – A UNIFREIRE terá como meta a reinvenção do espírito universitas da instituição, como estratégia para neutralizar o caráter corporativo que acabou por nela predominar em muitos lugares, através da construção da dimensão da planetariedade, também contraposta ao globalismo, voltado para forjar um projeto de sociedade individualista, meritocrático, discriminatório e excludente. VI – A UNIFREIRE, no espírito de universidade populares, será desenvolvida na linha da Escola Superior Cidadã, portanto, inspirada no princípio de que a informação é um direito primário fundamental – o primeiro de todos os direitos – pois sem ele não chegamos à consciência, nem conseqüentemente, ao acesso a outras conquistas. VII – Cientificamente, a UNIFREIRE não considerará como verdade definitiva as afirmações e observações que se dizem “imparciais” pois quem afirma e observa sempre o faz de determinado ponto de vista. “E o erro não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo”, como dizia Paulo Freire. O ponto de vista da UNIFREIRE será o da objetividade científica, que só se obtém com a leitura do mundo, isto é, com uma rigorosa abordagem, através do método científico, das determinações naturais e sociais. VII – Se a prática da formação deve estar, numa perspectiva freiriana, impregnada da ética universal do ser humano, a UNIFREIRE condenará toda e qualquer forma de discriminação, dominação e exclusão. IX – “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção e construção” e “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina a aprender”. A UNIFREIRE observará os seguintes princípios: aprender precede a ensinar e ensinar se dilui na experiência fundante de aprender; não se ensina apenas conteúdos, mas a aprender, isto é, a pensar certo; pensar certo é estar sempre em dúvida com as próprias certezas, a partir da observação do mundo; a curiosidade ingênua deve ser substituída pela curiosidade epistemológica. X – A UNIFREIRE buscará o reconhecimento de todas as titulações e certificações de quem, formal ou informalmente, concluir estudos, pesquisas e práticas caracterizadas pelos princípios contidos nesta carta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: - ROMÃO, José Eustáquio. Civilização do oprimido. Revista de Educação CEAP, Salvador, nº41. p.15-27,2003. - _______. Pedagogia Dialógica, São Paulo: Cortez Editora, 2002. - FREIRE, Paulo. Educação e Mudança, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. - _______. Ação Cultural Para a Liberdade, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. - _______. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.