ESTUDO MOLECULAR PARA PREDISPOSIÇÃO À HIPERHOMOCISTEINEMIA Bioquímica A hiperhomocisteinemia é o aumento da concentração plasmática de homocisteína, um derivado da metionina, cuja concentração é influenciada por fatores genéticos, nutricionais e patológicos. O aumento da homocisteína plasmática, de natureza genética, resulta de alterações funcionais das enzimas metileno tetrahidrofolato redutase (MTHFR) e cistationa beta sintetase (CBS), envolvidas no metabolismo da metionina ou da deficiência de co-fatores enzimáticos, como as vitaminas B6 e B12 e o ácido fólico. A redução da atividade da CBS e a variante termolábil da MTHFR são as principais responsáveis pela hiperhomocisteinemia de origem genética, podendo provocar lesão e disfunção endotelial, seguidas da ativação plaquetária e formação de trombos, caracterizando alterações vasculares de grande importância clínica. Genética CISTATIONA BETA SINTETASE – CBS Uma das causas mais freqüentes de hiperhomocisteinemia grave é a deficiência de caráter homozigótico de CBS, cuja freqüência na população é em geral de aproximadamente 1:200000 a 1:335000. Os indivíduos afetados apresentam sérios problemas mentais, anormalidades esqueléticas, doença vascular arterial e tromboembolismo venoso prematuro. Sua deficiência de caráter heterozigoto ocorre em 0,3 a 1,4% da população em geral e também representa um fator de risco para a ocorrência de eventos tromboembólicos, porém em menor amplitude que os homozigotos. Na população brasileira, estima-se que a freqüência deste polimorfismo seja de 14,7% e que responda por um risco relativo de 5,3. O prejuízo funcional da CBS se deve a uma mutação denominado 844ins68, que consiste em uma inserção de 68 pb, na posição 844 da região codificante do éxon 8 de seu gene, no cromossomo 21. METILENO TETRA HIDROFOLATO REDUTASE – MTHFR Uma mutação pontual caracterizada pela substituição de C por T no nucleotídeo 677 (C677T) do gene da MTHFR resulta na expressão de uma variante termolábil da MTHFR. O genótipo homozigoto mutante (677TT), encontrado em 4 a 14% da população em geral, está associado ao aumento de 25% da concentração plasmática de homocisteína e pode gerar defeitos neurológicos, retardo psicomotor, doença vascular prematura e tromboembolismo. Uma outra mutação pontual no gene da MTHFR é a A1298C, uma substituição de A por C no nucleotídeo 1298. Em homozigose, é responsável pela redução da atividade da MTHFR, aumentando os níveis de homocisteína. Efeitos similares aos observados para os homozigotos 677TT ocorrem na combinação de heterozigose para as duas mutações da MTHFR. Esta combinação é de grande relevância clínica para os eventos vasculares, visto que a freqüência de A1298C e C677T varia de 40 a 50%, conforme as referências bibliográficas. Importância Clínica As mutações 844ins68 da CBS, em heterozigose ou homozigose, e C677T e A1298C da MTHFR, em homozigose ou combinadas, constituem fator de risco isolado para doenças vasculares, incluindo a doença arterial coronariana, o tromboembolismo venoso e arterial e o acidente vascular cerebral. Estudos de meta-análise reforçam a importância da hiperhomocisteinemia como fator de risco para o tromboembolismo venoso, relatando um risco relativo de 2,5 a 3,0. Na população www.hermespardini.com.br 1 brasileira, segundo os dados de um estudo em 3 centros nacionais - BRATROS (Brazilian Thrombosis Study) - a hiperhomocisteína tem prevalência de 16%. O risco para eventos tromboembólicos torna-se ainda maior na presença associada destas mutações a outros polimorfismos relacionados a trombofilias, como o FV Leiden, o G20210A do gene da Protrombina e o 4G/5G do PAI-1. Portanto, o Estudo Genético da Predisposição à Hiperhomocisteinemia é um teste de alta prioridade para indivíduos com história familiar desses eventos vasculares, principalmente se for detectado laboratorialmente níveis plasmáticos elevados de homocisteína, indicando a necessidade de procedimentos que previnam a ocorrência de alterações vasculares que prejudiquem a saúde (alimentação, atividade física, terapia farmacológica). Departamento de Genética Humana do IHP Referências Bibliográficas 1. 2. 3. Bonini-Domingos C R., Zamaro P J A., Mendiburu C F., Sanches F E., Cintra J R., Godoy J M P., Mattos L C. Freqüência da mutação 844ins68 do gene da cistationina betasintetase em pacientes com trombose venosa profunda. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.27 no.1 São José do Rio Preto Jan./Mar. 2005. Sabino A P. Defesa de monografia: Eventos trombóticos venosos e arteriais: Importância de fatores genéticos predisponentes e hiperhomocisteinemia. Faculdade de Farmácia, 2004. Van der Put N, et al. A second commom mutation in the methilenetetrahydrofloate reductase gene: an addicional risk factor for neural-tube defects? Am. J. Hum. Genet. 62:000-000, 1998. O estudo molecular para predisposição genética à hiperhomocisteinemia é oferecido pelo Departamento de Genética Humana do Instituto Hermes Pardini, pela técnica de Reação da Cadeia da Polimerase (PCR) para a CBS e PCR associada ao polimorfismo de tamanho de enzima de restrição (RFLP) para os polimorfismos da MTHFR. Para realizar o exame é necessário coleta de uma amostra de 4 a 5mL de sangue em EDTA, conservado em temperatura ambiente ou 1 papel filtro FTA. O resultado é liberado em 10 dias úteis. www.hermespardini.com.br 2