NEUROPLASTICIDADE: TRABALHANDO CONCEITOS DE NEUROCIÊNCIA NA ESCOLA(1) Karine Ramires Lima(2), Alexandre Garcia(3), Geórgia Filipin(4), Liane da Silva de Vargas(5), Pamela Billig Mello-Carpes(6) (1) Trabalho executado com recursos do Ministério da Educação (Edital Proext/MEC 2015) e da CAPES (Programa Novos Talentos). (2) Estudante de Farmácia, bolsista PROCAD/CAPES 2016; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, Rio Grande do Sul; [email protected]. (3) Estudante de Enfermagem, bolsista PROCAD/CAPES; Universidade Federal do Pampa, Uruguaiana, Rio Grande do Sul; [email protected] (4) Estudante de Fisioterapia, bolsista PDA/Unipampa 2016; Universidade Federal do Pampa, Uruguaiana, Rio Grande do Sul; [email protected] (5) Co-orientador; Universidade Federal do Pampa, campus Uruguaiana-RS; [email protected]. (6) Orientador; Universidade Federal do Pampa, campus Uruguaiana-RS; [email protected]. Palavras-Chave: Neurociência, Neuroplasticidade, Educação, Ensino. INTRODUÇÃO A neurociência é a ciência que estuda o sistema nervoso (LURIA, 1981) e é uma área multidisciplinar, uma vez que este ramo do conhecimento se integra a outras ciências que possuem como tema central o estudo do cérebro. O cérebro humano, principal componente do sistema nervoso, está diretamente relacionado com os processos de aprendizagem, diante disto é fundamental aprender conceitos de neurociência na escola, pois esta pode ser uma ferramenta para auxiliar no processo de ensinoaprendizagem (OLIVEIRA, 2014). O conceito de plasticidade cerebral se refere à capacidade que o cérebro possui de se remodelar e remapear suas conexões, reagindo às experiências, aos aprendizados e aos danos, excluindo teorias antigas de que o cérebro seria imutável (CHOPRA; TANZI, 2013). Este conceito é importante, pois constitui a base neurobiológica da aprendizagem, situação na qual a influência do meio externo diante da exposição a novos desafios e conhecimentos é capaz de causar modificações no sistema nervoso central (SNC) promovendo seu desenvolvimento constante (ROTTA et al., 2016). A promoção da ciência de um modo geral, por sua vez, deve estar presente em todo o processo educativo, pois estimula um comportamento reflexivo e questionador (MAGALHÃES et al., 2012). Neste sentido, o objetivo deste trabalho é relatar uma ação que buscou promover a divulgação da neurociência com a finalidade de proporcionar uma melhor compreensão das características e capacidade cognitiva do cérebro humano, trazendo conceitos específicos da neurociência, como a neuroplasticidade. METODOLOGIA A ação sobre neuroplasticidade cerebral foi realizada em quatro escolas do município de Uruguaiana-RS, mediante o programa de extensão POPNEURO, que visa a popularização da neurociência, e abrangeu cento e dezenove (119) alunos, todos estudantes do ensino fundamental, com idade entre 10 e 13 anos, além de incluir cinco professores. Na atividade, foram inicialmente discutidos os conceitos mais importantes através de uma breve explanação teórica, com projeção de slides e, posteriormente, foram realizadas atividades práticas objetivando maior compreensão sobre a temática. Primeiramente foi apresentado o conceito de plasticidade cerebral, assim como seu mecanismo. Para facilitar o entendimento, esta foi simulada com o uso de uma sacola plástica, na qual foi submetida a uma força/estímulo (puxada com as mãos em direções opostas), sendo assim, seu formato foi modificado de forma que ela não mais retornou ao seu formato original. Através desta analogia, introduzimos o conceito de neuroplasticidade aos alunos, discutindo os efeitos que diversos estímulos podem ter sobre nosso cérebro e como podem interferir na sua capacidade de se modificar e reorganizar. Em um segundo momento realizou-se duas atividades práticas a fim de melhor compreender os conceitos vistos anteriormente. A primeira atividade foi chamada de "quebra de rotina", onde foi proposto que alunos voluntários vestissem seus casacos de olhos fechados e escrevessem no quadro com a mão não dominante, o objetivo desta atividade foi ressaltar a importância de praticar atividades diárias que estimulem o fortalecimento das conexões sinápticas cerebrais. A segunda atividade, neurogame, consistiu em um jogo de perguntas e respostas retomando conceitos trabalhados durante as ações anteriores do POPNEURO, o grupo que obteve maior pontuação foi premiado com cubos mágicos, um jogo que envolve Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa desafio cerebral. Para a avaliação da ação aplicou-se um questionário antes e outro após a intervenção aos alunos, também se aplicou um questionário aos cinco professores da educação básica responsáveis pelas turmas. Os dados foram tabulados e são apresentados na forma de percentuais. Ao final da ação os alunos puderam atribuir uma nota (considerando uma escala de 0 a 10), que é apresentada na próxima sessão na forma de média e desvio padrão. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ação neuroplasticidade cerebral foi efetiva ao atingir o objetivo de popularizar conceitos de neurociência. Notou-se grande interesse dos alunos quanto à temática apresentada e às atividades propostas. A nota atribuída pelos alunos à ação foi de 9,6 ± 1,48, confirmando a boa aceitação dos alunos em relação à proposta. Apenas 20,5% dos alunos afirmaram ter ouvido falar sobre o tema anteriormente à intervenção, sendo que, após as atividades, 87,5% dos alunos afirmou saber o que é plasticidade cerebral, indicando que a ação foi importante para o aprendizado sobre este conceito da neurociência. Antes da intervenção, a maioria dos alunos não tinha conhecimento sobre o tema plasticidade cerebral, mas 90,2% deles afirmou achar que uma pessoa idosa pode aprender a usar o computador, 83% afirmou achar possível aprender coisas novas e difíceis diariamente, e, 91% afirmou achar importante ler e buscar novos conhecimentos. Diante disto, percebe-se que a neurociência está constantemente presente no nosso dia-a-dia, e conceitos como plasticidade cerebral podem ser facilmente explicados diante de situações já conhecidas. Frison et. al. (2012) ressaltam que esta teoria facilita a aprendizagem de conceitos mais complexos, pois o ensino parte do que o educando já conhece sobre a temática. Os professores consideram importante adotar práticas que estimulem a plasticidade cerebral e relataram que praticam atividades em sala de aula que envolvam e desafiem o raciocínio, tais como quebracabeças e palavras cruzadas. Também foi consenso entre eles que qualquer aluno pode superar suas dificuldades nas matérias propostas pela escola com uso de recursos pedagógicos diferenciados. Levar conhecimentos científicos relacionados à aprendizagem para sala de aula, tal como a plasticidade cerebral, é relevante não só para o conhecimento do aluno, mas também do professor, pois a neurociência proporciona aos educadores a oportunidade de compreender de forma mais efetiva os processos de ensino-aprendizagem, conhecendo melhor os processos neurobiológicos que permitem compreender como o educando aprende (GROSSI et al., 2014). CONCLUSÕES Os resultados apresentados permitem afirmar a importância da divulgação da neurociência junto a escolares, e que a popularização desta ciência contribui significativamente para fomentar a busca pelo saber. Além disso, trabalhar conceitos como a plasticidade cerebral é importante e impacta positivamente a percepção dos estudantes, despertando interesse e curiosidade dos alunos e professores. REFERÊNCIAS CHOPRA, D.; TANZI, R. E. Supercérebro: como expandir o poder transformador da sua mente. Tradução de Bianca Albert, Eliana Rocha, Rosane Albert. Alaúde Editorial, São Paulo, 2013. FRISON, M.D.; VIANNA, J.; RIBAS, F. K. Ensino de ciências e aprendizagem escolar: manifestações sobre fatores que interferem no desempenho escolar de estudantes da educação básicas. IX Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 2012. GROSSI, M. G. R. et al. Uma reflexão sobre a neurociência e os padrões de aprendizagem: a importância de perceber as diferenças. Debates em educação, v. 6, n.12, 2014. LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, São Paulo: edição da Universidade de São Paulo, 1981. MAGALHÃES, C. E. R.; DA SILVA, E. F. G.; GONÇALVES, C. B. A interface entre a alfabetização científica e divulgação científica. Revista Amazônica de Ensino de Ciências, v. 5, n.9, p.14-28, 2012. OLIVEIRA, G. G. Neurociências e os processos educativos: um saber necessário na formação de professores. Educação Unisinos, v. 18, n.1, p. 13-24, jan/abr. 2014. ROTTA, N. T.; FILHO, C. A. B.; BRIDI, F. R. S. Neurologia e aprendizagem: abordagem multidisciplinar [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Artmed, 2016. Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa