DOENÇA BIPOLAR Do Diagnóstico ao Tratamento Evidência Científica/Aspectos Actuais MÓDULO 4 – DEPRESSÃO BIPOLAR, Aspectos Actuais da Terapêutica Formador: Drª Manuela Abreu Assistente Hospitalar do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria Mestre em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Profª Doutora Maria Luísa Figueira Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa TEXTOS DE APOIO ÍNDICE 1. Introdução.................................................................................................. 2 2. Terapêutica Antidepressiva ..................................................................... 2 3. Lítio e Terapêutica Anticonvulsivante..................................................... 6 3.1. Lítio ...................................................................................................... 6 3.2. Valproato.............................................................................................. 7 3.3. Carbamazepina.................................................................................... 7 3.4. Lamotrigina .......................................................................................... 8 3.5. Novos anticonvulsivantes..................................................................... 8 4. Terapêutica Antipsicótica......................................................................... 9 5. Electroconvulsivoterapia (ECT) ............................................................. 10 6. Conclusões.............................................................................................. 11 7. Bibliografia .............................................................................................. 12 Manuela Abreu 2 1. Introdução O tratamento da depressão bipolar permanece bastante controverso, já que o seu racional implicaria, naturalmente, o uso de antidepressivos e a evidência clínica apresenta-se, na sua maioria, contraditória. A terapêutica mais frequente da depressão bipolar inclui antidepressivos, lítio e estabilizadores do humor, como a lamotrigina, valproato e carbamazepina. Mais recentemente, realizaram-se estudos clínicos com antipsicóticos atípicos, designadamente, olanzapina e quetiapina, com resultados promissores. O objectivo deste módulo é rever os estudos mais importantes, dentro de cada classe de fármacos mais usados nesta patologia, no sentido de se perceber a dimensão da complexidade da decisão terapêutica, ou seja, porque razão nalguns casos se justifica a prescrição de dois estabilizadores do humor ou de um anticonvulsivante associado a um antidepressivo, ou o ainda, outra estratégia terapêutica. 2. Terapêutica Antidepressiva Tratar a depressão bipolar com antidepressivos, ou não tratar, continua a suscitar diferendos entre os especialistas nesta área. Se a maioria dos autores estão de acordo em relação ao facto de não existirem estudos suficientes que demonstrem a superioridade de um antidepressivo em relação aos demais quanto à eficácia, o mesmo já não acontece face ao risco de indução de um episódio maníaco (Wehr 1987). Os principais problemas da medicação antidepressiva, nestes doentes, são: risco de indução de mania, ciclação rápida e subsequente resistência ao tratamento, recaída frequente após a sua descontinuação e agravamento de um estado misto de hipomania disfórica, presente em muitos episódios depressivos (Dubovsky 2005). © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 3 Uma determinada escola sustenta que os antidepressivos tradicionais facilitam a indução de mania ou ciclação rápida e não conferem benefício profiláctico, a longo prazo, na depressão bipolar (Ghaemi 2001). Esta perspectiva, adoptada por muitas US practice guidelines, aconselha cautela no uso de antidepressivos, devendo estes ser usados em associação a estabilizadores do humor e por períodos breves (Hirschfeld 2002; Keck 2004 e Suppes 2005). Outra ideia comum é que a suspensão prematura dos antidepressivos, após sucesso terapêutico do episódio agudo de depressão bipolar, pode aumentar o risco de recaída, constituindo este último um problema mais importante que a potencial ciclação rápida causada pelos antidepressivos. (Altshuler 2003). O debate acerca da terapêutica antidepressiva na depressão bipolar é ainda controverso, pelo que se torna importante mostrar resultados de estudos efectuados até ao corrente ano. Numa breve revisão cronológica das opções terapêuticas na depressão bipolar, baseadas em estudos controlados com antidepressivos, constatamos que na década de 70 foi dada particular atenção, ao inibidor irreversível da monoaminooxidase (IMAO), tranilcipromina, cuja eficácia foi demonstrada em dois estudos controlados com placebo (Himmelhoch 1982; Himmelhoch 1991). Este fármaco não foi comercializado em Portugal. Também relativamente à eficácia, diversos estudos mostraram equivalência entre os IMAOs e tricíclicos, em particular, a imipramina (Baumhackl 1989; Cohn 1989; Thase 1992 e Nemeroff 2001). Noutros, foi sugerida a sua superioridade, especialmente quando o quadro depressivo bipolar apresentava características de atipicidade, como sejam a anergia, hipersónia ou hiperfagia (Himmelhoch 1991). Entre os antidepressivos tricíclicos, o mais estudado foi a imipramina, que mostrou ser mais eficaz do que o placebo. Foi ainda comparada a eficácia da imipramina com a fluoxetina (Cohn 1989), moclobemide (Baumhackl 1989), maprotilina (Kessell 1975) e tranilcipromina (Himmelhoch 1991). Como resultados, obtiveram-se taxas de resposta semelhantes às da imipramina, à excepção do tranilcipromina, que se mostrou inequivocamente superior, como já referido. Também a maior eficácia da fluoxetina foi pouco clara, dada a medicação concomitante de lítio nesse braço do estudo, face aos restantes. © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 4 Posteriormente foram realizados estudos controlados com SSRIs: o já referido, comparação da fluoxetina com imipramina (Cohn 1989) e dois mais recentes que avaliaram a eficácia da paroxetina associada ao lítio e ao valproato, respectivamente (Young 2000 e Nemeroff 2001). A questão fundamental e controversa da associação de um antidepressivo a um estabilizador do humor, ser ou não eficaz, permanece, contudo, por responder. Apenas um estudo abordou este aspecto e mostrou que a adição de um SSRI ou de um tricíclico era tão eficaz quanto o uso de lítio por si só, em níveis terapêuticos (Nemeroff 2001). Doentes com litemias >0.8 mEq/L não beneficiaram de terapêutica antidepressiva coadjuvante, enquanto que para níveis <0.8 mEq/L houve vantagem na combinação com paroxetina. O segundo estudo, encontrou respostas sobreponíveis na associação de lítio com divalproato e na terapêutica conjunta de cada um destes fármacos com paroxetina (Young 2000). A maioria dos novos antidepressivos usados na depressão bipolar, paroxetina, venlafaxina, fluoxetina, citalopram e nefazodone tem sido investigada, em estudos abertos, em adição a um estabilizador do humor, com aparente eficácia (Silverstone 2004). Face à questão da indução de mania, é de salientar que estudos realizados com bupropion, de acção predominantemente dopaminérgica, apontam para um menor risco de viragem com este antidepressivo (Sachs 1994). Na metanálise de Peet (1994), é sugerido que o risco de viragem com os SSRI é muito inferior ao dos tricíclicos e não significativamente superior ao placebo. Esta análise foi criticada por estar baseada em dados de estudos clínicos desenhados para a fase aguda da depressão e não para detectar possíveis viragens maníacas (Sachs 1996). Poucos foram ainda os estudos que avaliaram o resultado, a longo prazo, dos novos antidepressivos. Uma excepção é o estudo padronizado de 10 semanas de terapêutica na fase aguda e manutenção durante um ano, que compara bupropion, sertralina e venlafaxina, associados a estabilizadores do humor (Post 2003 e Leverich 2006). Os resultados mostraram um aumento de risco, três vezes superior, de indução de mania com venlafaxina relativamente ao bupropion (Leverich 2004). © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 5 Em relação a estudos controlados com antidepressivos, uma metanálise recente de 12 estudos padronizados concluíu que a terapêutica antidepressiva, por curtos períodos, é eficaz na depressão bipolar e que a taxa global de viragem para mania ou hipomania, parece ser semelhante com os antidepressivos (3.8%) ou com placebo (4.7%), (Gijsman 2004). O problema que se coloca é o facto de serem resultados de uma metanálise, ou seja, de um estudo observacional de diversos trabalhos com metodologias heterogéneas. Embora este aspecto não invalide os resultados, obriga naturalmente, a uma análise bastante crítica dos mesmos. Ao ser abordado o aspecto da descontinuação dos antidepressivos encontramos dois estudos observacionais, com um longo follow-up, que mostram uma taxa de recaída menor, após resposta positiva aos antidepressivos (em especial, SSRIs), nos doentes que mantinham essa terapêutica durante 6 meses, em relação aos que a suspendiam (Altshuler 2003 e Joffe 2005). Em oposição, o estudo padronizado, a longo prazo, inserido no NIMH Systematic Enhancement Program for Bipolar Disorder (STEP-BD) study, avaliou nos últimos cinco anos, a descontinuação de antidepressivos após resposta inicial. A análise interina sugere que os antidepressivos foram, aparentemente, ineficazes na diminuição da morbilidade do humor, ao fim de um ano de follow-up após a recuperação do episódio depressivo agudo (Ghaemi 2005). Nos com ciclação rápida, a persistência de antidepressivos, após a fase aguda, parece associar-se ao agravamento da situação depressiva. De notar que estas observações são ainda preliminares e que os resultados definitivos apenas serão obtidos no final deste ano. Perante o elevado risco de suicídio da depressão bipolar impõe-se, ainda, ser pesada a necessidade do uso destes fármacos versus as respectivas complicações. Goldberg, com base num grande projecto naturalístico, refere que a adição de antidepressivos a estabilizadores do humor não pareceu associada à diminuição da incidência de ideação suicida (Goldberg 2003). Os antidepressivos podem agravar estados mistos de hipomania disfórica em doentes deprimidos, aumentando o risco de suicídio pela impulsividade, agitação e agressividade que acarretam. © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 6 Em resumo, antes de se tomar a decisão de prescrever, ou não, um antidepressivo a doentes bipolares deve ser tido em conta que o risco de viragem é maior em doentes com: Perturbação bipolar tipo I e história prévia de indução de mania com estes fármacos; ciclação rápida no ano anterior e; episódio actual de depressão, após fase maníaca nos últimos dois meses. Um segundo aspecto a considerar é o facto da sintomatologia configurar um episódio depressivo major ou tratar-se apenas de sintomas depressivos subsindromáticos, para os quais não existem dados sobre a eficácia e segurança da terapêutica antidepressiva (Goldberg 2005). 3. Lítio e Terapêutica Anticonvulsivante 3.1. Lítio Vários estudos, alguns levados a cabo na década de 70, demonstraram a superioridade do lítio, em relação ao placebo, no tratamento da depressão bipolar. Esta vantagem, no entanto, não se verificava quando comparado com os antidepressivos (Price 1986; Silverstone 2004 e Dubovsky 2005). A combinação de lítio com carbamazepina, no tratamento de depressão bipolar refractária, demonstrou eficácia em cerca de 50% dos doentes, num estudo de Kramlinger (1989). Num trabalho de Baldessarini (2001), observou-se redução do risco de suicídio em doentes bipolares medicados com lítio vs não medicados com lítio. Estes e outros trabalhos publicados permitem concluir que o lítio é um fármaco útil no tratamento da depressão bipolar. No entanto, será mais indicado como agente potenciador de antidepressivos, antipsicóticos ou anticonvulsivantes que em monoterapia. A sua eficácia parece ser maior na prevenção de episódios depressivos que no tratamento agudo dos mesmos e maior na prevenção de episódios maníacos que de episódios depressivos (Dubovsky 2005). Tendo em conta os seus efeitos acessórios e janela terapêutica reduzida, deverá ser utilizado na menor dose eficaz, com vários doentes a permanecerem sem sintomas com apenas uma toma diária à noite (Neuroscience Education Institute – www.neiglobal.com). © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 7 3.2. Valproato Em estudos não randomizados e de pequenas dimensões, o valproato, em combinação com antidepressivos ou fármacos antimania, demonstrou eficácia de 30 a 50% em doentes bipolares com episódio depressivo (Calabrese 1990 e McElroy 1993). Segundo Dubovsky (2005), na prática clínica, o valproato não parece ser particularmente eficaz enquanto “antidepresssivo”, pelo que a sua utilização na depressão bipolar dever-se-á limitar à potenciação de antipsicóticos, antidepressivos ou outros anticonvulsivantes, tendo sempre presente o seu potencial teratogénico (defeitos do tubo neural), (Neuroscience Education Institute – www.neiglobal.com). 3.3. Carbamazepina A carbamazepina demonstrou eficácia em 50 a 60% de doentes bipolares deprimidos, nalguns estudos de pequenas dimensões (Post 1986 e Brambilla 2001). Num trabalho de Shire, em comparação com placebo, os sintomas depressivos observados em doentes com episódio misto melhoraram, significativamente, com carbamazepina (Neuroscience Education Institute – www.neiglobal.com). A experiência clínica parece indicar que a carbamazepina é útil no tratamento agudo da depressão bipolar, sendo este efeito potenciado pelo lítio ou valproato (Dubovsky 2005). O intervalo terapêutico situa-se entre 400 e 1200 mg/dia, devendo iniciar-se o tratamento com 400 mg/dia. Esta dose poder-se-á aumentar, 200 mg/dia em cada semana. A titulação lenta do fármaco e as formulações de libertação prolongada permitem uma maior tolerabilidade aos efeitos acessórios, nomeadamente a sedação. Dado a carbamazepina ser indutor enzimático, poderá ser necessário realizar ajustes periódicos da dose (Neuroscience Education Institute – www.neiglobal.com). © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 8 3.4. Lamotrigina Um estudo, multicêntrico e duplamente cego, demonstrou que a lamotrigina, em monoterapia, dosagem de 50 e 200 mg/dia, era eficaz, e significativamente superior ao placebo, na redução da pontuação da MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale) em doentes com depressão bipolar; a redução alcançada era semelhante para as duas dosagens (Calabrese 1999). Noutros dois estudos (Bowden 2003 e Calabrese 2003), a lamotrigina demonstrou ser eficaz no prolongamento do tempo até novo episódio depressivo, sendo que num destes estudos (Calabrese 2003), o prolongamento do tempo observou-se tanto para o episódio depressivo como para o episódio maníaco. Apesar da escassez de dados, a lamotrigina parece ser claramente eficaz, em monoterapia, no tratamento agudo da depressão bipolar (Calabrese 1999), obrigando, no entanto, a uma lenta titulação até se alcançar a dose desejada (100-200mg/dia), de modo a evitar efeitos acessórios, como rash cutâneo (Neuroscience Education Institute – www.neiglobal.com). Está igualmente indicada como terapêutica de manutenção, impedindo recorrências quer depressivas, quer maníacas (Dubovsky 2005). 3.5. Novos anticonvulsivantes A gabapentina foi avaliada em vários estudos com doentes bipolares, não tendo sido demonstrada eficácia enquanto estabilizador de humor ou utilidade enquanto terapêutica para depressão bipolar. O topiramato também não apresenta evidência de eficácia enquanto estabilizador de humor. A oxcarbazepina, a zonisamida, o levetiracetam, a tiagabina e a vigabactrina, não têm estudos controlados, pelo que, de momento a sua utilização na doença bipolar não está recomendada (Dubovsky 2005; Neuroscience Education Institute – www.neiglobal.com). © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 9 4. Terapêutica Antipsicótica O interesse nos antipsicóticos atípicos no tratamento da depressão bipolar foi proveniente de estudos de episódios de mania. Doentes com quadros de mania mista mostraram benefício relativamente aos sintomas depressivos e de mania. A medicação antipsicótica pode ser útil em suprimir a hipomania disfórica mista em doentes com depressão bipolar, sendo recomendados os atípicos em vez dos neurolépticos, já que estes últimos foram associados a agravamento da depressão (Keck 2004). Gao K e colaboradores, autores da revisão sistemática de antipsicóticos na depressão bipolar (2005), descrevem dois estudos padronizados, em dupla ocultação controlados com placebo, desenhados para a depressão bipolar. Um primeiro (Tohen 2003), onde foi comparada a eficácia da olanzapina face à associação de olanzapina-fluoxetina (OFA) e ao placebo, numa população de 833 doentes de ambulatório com o diagnóstico de depressão bipolar tipo I, durante 8 semanas. A análise dos resultados mostrou que os doentes medicados com olanzapina em monoterapia e com a associação à fluoxetina (OFA) melhoraram, significativamente, em relação à sintomatologia depressiva, comparativamente ao placebo. O effect size da olanzapina em monoterapia foi pequeno (0.32), mas o da OFA foi moderado (0.68). O effect size é a medida da magnitude de tratamento de um fármaco relativamente ao placebo. Avalia-se como o “ganho terapêutico” além do placebo, (magnitude do tratamento, acima do placebo a dividir pelo desvio padrão). O effect size é considerado pequeno: <0.4; médio: 0.4 a 0.79 e grande:> 0.79. A análise mostrou ainda, que ambas as formas de medicação com olanzapina melhoraram os sintomas vegetativos, como sejam, a redução do sono e do apetite, mas apenas a combinação de olanzapina-fluoxetina melhorou o core do humor, ou seja, a tristeza, a lentidão, a anedonia e os pensamentos pessimistas. Outro aspecto importante é que a taxa de indução de mania foi equivalente nos três grupos. A olanzapina tem-se mostrado, igualmente eficaz na prevenção de recaídas, de depressão ou mania (Tohen 2003 e 2004). © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 10 Recentemente, Calabrese e colaboradores (2005), publicaram um estudo sobre o tratamento agudo da depressão bipolar com quetiapina em monoterapia. Estudo BOLDER (BipOLarDEpRession). A investigação incidiu sobre um total de 542 doentes de ambulatório, com Perturbação bipolar tipo I e tipo II, com sintomatologia configurando um episódio depressivo major. Os doentes, distribuídos ao acaso por três grupos, foram medicados, durante 8 semanas, com quetiapina (300 mg ou 600 mg) ou placebo. Desde a primeira semana que se observou uma melhoria em todas as medidas de eficácia (MADRS e HAM-D), quando comparadas com placebo. O effect size dos grupos de 600 mg e 300 mg de quetiapina, foi, respectivamente, 0.81 e 0.67. A taxa de resposta favorável no final do estudo foi equivalente em ambos os grupos de quetiapina e superior ao placebo. Ambas as doses de quetiapina melhoraram, igualmente, os sintomas depressivos nos doentes com ciclação rápida. A incidência de mania, induzida pelo tratamento, foi comparável ao placebo. Como conclusão da análise de eficácia, segurança e tolerabilidade, a quetiapina mostrou ser eficaz nos doentes com depressão bipolar, actuando nos sintomas depressivos, incluindo a ideação suicida. Não existem estudos controlados, em grande escala, com dupla ocultação relativamente à eficácia de outros antipsicóticos atípicos na depressão bipolar, no entanto, existe alguma evidência de que a risperidona pode melhorar os sintomas depressivos em doentes com Perturbação bipolar (Vieta 2002 e Shelton 2004). 5. Electroconvulsivoterapia (ECT) A electroconvulsivoterapia permanece um dos tratamentos mais eficazes na depressão bipolar, sendo a sua eficácia superior à dos antidepressivos (Grunhaus 2002). Aparentemente tem uma resposta mais rápida na depressão bipolar que na unipolar e com menor intensidade de estímulo eléctrico. É considerada tratamento de eleição na depressão grave psicótica, em especial com elevado risco de suicídio; Depressão bipolar refractária ao © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 11 tratamento farmacológico; Depressão bipolar com lentificação psicomotora grave e intolerância à medicação farmacológica (Grunze 2005). 6. Conclusões Apesar da elevada “carga” associada à depressão bipolar, quer pela incapacidade funcional que acarreta, quer pelo risco de suicídio associado, não existe ainda uma orientação clara, consubstanciada por um vasto leque de estudos, relativa ao tratamento desta patologia. (Grunze 2005). É muito usada, na prática clínica, a associação de um antidepressivo a um estabilizador do humor no sentido de optimizar a resposta. Contudo, sempre que é prescrita medicação antidepressiva em doentes bipolares, existe a possibilidade de uma eventual “viragem” para um estado de mania ou ciclação rápida. Por este motivo aconselha-se minimizar a exposição dos doentes a estes fármacos (American Psychiatry Association, APA 2002; Grunze 2002 e Goodwin 2003). Os especialistas estão, na sua maioria, de acordo quanto ao facto da monoterapia antidepressiva ser inadequada na depressão bipolar. (APA 2002; Grunze 2002 e Goodwin 2003). No entanto, esta não é a prática corrente, em particular, no âmbito dos cuidados primários (Blanco 2002). Estão ainda em discussão as questões relativas ao início da terapêutica antidepressiva e durante quanto tempo a sua manutenção, tornando-se necessária a criação de directrizes claras da estratégia terapêutica mais adequada na depressão bipolar (Moller 2000). As orientações terapêuticas da APA e do 2004 Expert Consensus Guideline Series (Keck 2004) para a depressão bipolar recomendam lítio ou lamotrigina como tratamento de 1ª linha em monoterapia. Em relação ao lítio existe uma maior confiança clínica, havendo com a lamotrigina uma confiança moderada. Algumas guias de orientação sugerem que os antidepressivos podem estar indicados como tratamento unimodal de primeira linha nalguns subgrupos © 2006 Vale & Vale Eds, Lda. Doença Bipolar Manuela Abreu 12 de doentes (Goodwin 2003) mas como já referido, a grande maioria preconiza o uso concomitante de um estabilizador do humor (APA 2002; Grunze 2002 e Goodwin 2003). 7. Bibliografia 1. Altshuler L, Suppes T, Black D et al. Impact of antidepressant discontinuation after acute bipolar depression remission on rates of depressive relapse at 1-year follow-up. Am J Psychiatry 2003; 160: 1252-62. 2. American Psychiatric Association. Practice Guideline for the Treatment of Patients with Bipolar Disorder [Revision]. Am J Psychiatry 2002; 159 (suppl 4):1-50. 3. Baldessarini RJ, Tondo L Hennen J. Treating the suicidal patient with bipolar disorder. Reducing risk with lithium. Ann. N.Y. Acad. Sci. 2001; 932: 24-38. 4. Blanco C, Lage G, Olfson M, et al. 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