ENTREVISTA “Mudanças de humor ocorrem em condições normais de nosso cotidiano. Isto significa que todas as pessoas podem sentir tristeza, alegria, raiva, ódio, ficar irritadas, muito tristes ou alegres, entre outras emoções e sentimentos, que dão tonalidade a nossa vida afetiva. Portanto, queixas ou sentimentos isolados de alegria, tristeza ou irritabilidade não são suficientes para diagnosticar um problema psiquiátrico. Isto porque, estas manifestações afetivas tendem a ser de curta duração, não se sustentam ao longo do tempo, não causam problemas maiores na vida das pessoas e o indivíduo pode modular seu estado de humor, ou seja, sair do estado basal de tristeza e ser capaz de sentir alegre ou com bem estar”, declara o Psiquiatria Prof. Dr. Ricardo Alberto Moreno. O que é a bipolaridade? Quando falamos em transtorno bipolar (TB) nos referimos a uma doença reconhecida há mais de 3000 mil anos ao longo da história da Medicina. Na doença bipolar encontramos a presença de vários sintomas e sinais que compõem o chamado episódio depressivo ou maníaco/hipomaníaco que tendem a se repetir ao longo da vida do paciente. Os sintomas persistem a maior parte do tempo, duram pelo menos 15 dias no caso do episódio depressivo, 4 dias ou mais no caso do episódio maníaco/hipomaníaco. Geralmente as mudanças de comportamento são percebidas pelas pessoas a volta do paciente, as alterações psicológicas e físicas ocorrem durante os episódios da doença e podem deixar sequelas ou marcas importantes na vida do paciente e dos seus. É possível identificar sinais precoces de TB em crianças e adolescentes? Sim, crianças que apresentam mudanças no seu comportamento (diferente do que é esperado para a faixa etária) e que tem parentes de primeiro grau (pais, irmãos, tios ou primos) portadores da doença bipolar devem ser avaliadas por um médico psiquiatra. Os sintomas são semelhantes aos do adulto, porém são expressos de forma diferente. Por exemplo, tristeza, retraimento social (não brincar ou sorrir), ter problemas para dormir, não se alimentar, ou também ser muito inquieta, agitada, desafiadora, não medir o risco dos seus atos, brincar o tempo todo, entre outros, podem ser sinais de alerta. Lembrando que, um sintoma isolado não faz diagnóstico e na presença dos sintomas, estes devem durar a maior parte do tempo, por dias, semanas ou meses. A doença bipolar tem um componente genético e quase sempre encontramos familiares afetados pela doença bipolar, por depressão ou por outros transtornos psiquiátricos. Qual a diferença entre bipolaridade e depressão? A doença bipolar se caracteriza pelos episódios recorrentes de depressão e episódios de mania ou hipomania. A mania é um estado de exaltação do humor com euforia ou irritabilidade que vem acompanhada de outros sintomas. Já a hipomania é uma forma mais leve de euforia e que não causa prejuízo significativo no funcionamento da pessoa. Como é realizado o diagnóstico? O diagnóstico é realizado pelo médico psiquiatra através do exame do estado mental da pessoa, no momento da entrevista e pela avaliação do histórico de vida e dos antecedentes familiares do paciente. Também é levado em consideração a presença atual ou o passado de outras doenças psiquiátricas/clínicas, além do histórico de uso, abuso ou dependência de drogas lícitas ou ilícitas. Alguns exames laboratoriais podem ser solicitados para avaliar a condição física da pessoa, entretanto, não há até o momento, nenhum exame laboratorial capaz de confirmar o diagnóstico. Após diagnosticado, quais os tratamentos? O tratamento do TB é para a vida toda e consiste no uso de medicamentos chamados de estabilizadores ou reguladores do humor que previnem as recaídas ao longo da vida. Outros medicamentos podem ser utilizados conforme a necessidade, como remédios para ansiedade, para dormir e antidepressivos. A orientação psicológica para o paciente e a família é fundamental assim como a psicoeducação. O paciente pode controlar a doença sem medicamentos? Não, esta é uma crença de muitos pacientes, principalmente quando a doença está controlada, o que leva ao abandono do tratamento. Sem o tratamento preventivo o paciente sempre terá o risco de ocorrer novos episódios de depressão, mania/hipomania. É algo parecido, como outras doenças crônicas, a diabetes, hipertensão ou problemas cardíacos que requerem uso de medicamentos contínuos e mudanças no estilo de vida, com hábitos mais saudáveis. Um paciente bipolar pode ter uma vida comum? Com o tratamento medicamentoso a doença é controlada e devolve ao indivíduo o seu funcionamento normal ou no mínimo muito próximo do seu normal. Ele tem condições de ter uma vida plena. Temos vários exemplos de personalidades que viveram bem, controlando sua doença. Quais outros fatores, além do tratamento médico, podem auxiliar na qualidade de vida desse paciente? Há necessidade de uma equipe multidisciplinar? A doença é complexa e envolve fatores biológicos do corpo, da psicologia da pessoa, de sua vida de relações interpessoais e do seu ambiente como um todo. Além dos medicamentos que são o foco principal do tratamento é necessário que a pessoa modifique seu estilo de vida, promovendo hábitos saudáveis como dormir bem, alimentação adequada, aprender a identificar e lidar com situações estressantes Agosto 2014 - APM - Regional Piracicaba 15