CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ÁREA DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS Curso de Mestrado em Nanociências GRACIELA SCHNEIDER VITALIS UTILIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE CLOREXIDINA COMO ALTERNATIVA DE MEDICAÇÃO INTRACANAL. Santa Maria, RS 2012 GRACIELA SCHNEIDER VITALIS UTILIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE CLOREXIDINA COMO ALTERNATIVA DE MEDICAÇÃO INTRACANAL. Dissertação apresentado ao Curso de Mestrado em Nanociências do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Nanociências. Orientador(a): Prof(a). Dr(a). RENATA PLATCHECK RAFFIN Santa Maria, RS 2012 “Se vi mais longe foi por ter me apoiado em ombros gigantes” Isaac Newton AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais pela oportunidade e valorização do estudo, pela dedicação a mim prestada, e apoio em cada decisão tomada. Ao meu grande marido, Carlos F. Brilhante Wolle, pelo amor eterno, palavras de incentivo, colaboração, dedicação e paciência, muita paciência. Sem o teu apoio seria impossível realizar qualquer sonho. Ao meu filho Érico, que me ensinou o que é o verdadeiro amor, e a importância que tem um simples e sincero sorriso. Às pessoas que de uma forma ou outra, me deram suporte para estar ausente, me substituindo em afazeres diários, fazendo com que, mesmo a distancia, eu tivesse confiança e serenidade para saber que meu filho estava bem. Em especial à Jussara. Ao meu irmão Alex e minha cunhada Maitê, pelo companheirismo, dedicação e todo apoio desprendido a minha família. Ao meu sogro, cunhados, concunhadas e sobrinhos, pelos fins de semana de descontração e momentos de alegria. Em especial à Luciana, por ter se mostrado forte e segura nos momentos em que tudo parece ruir. Aos meus amigos, que por hora, um pouco afastados devido às circunstâncias, nunca deixaram de estar ao meu lado. Em especial a Mariana Sudati Rodrigues, pela cumplicidade e dedicação à nossa amizade. Aos meus colegas de mestrado, que foram muitos, pelo companheirismo, ajuda mútua e horas descontraídas no laboratório, em especial à Michelli, Ricardo, Delita, Fran e Ana. À Gabi Farias, pela amizade, oportunidade de convívio e muita ajuda no laboratório. À Isabel Roggia e Gabi Moraes, pelo apoio e auxílio nas horas de maior sufoco, sempre dispostas a nos ajudar. A aluna Camilla Filippi, pela dedicação e auxílio no laboratório de microbiologia. Aos professores Roberto Christ e Sandra Cadore pela colaboração a este trabalho. À professora Patrícia Gomes pela dedicação e carinho com que trata a docência. Aos demais professores do Mestrado em Nanociência, por todo conhecimento ofertado, colaborando para o meu crescimento pessoal e profissional. Ao Anderson Veras Maciel pela receptividade e disposição. À Karla, Gustavo, Madjer, Micheline e Fernanda Corrêa, pelo auxílio e colaboração. À PUCRS e UFPEL pela oportunidade de trabalhar com pessoas dedicadas e dispostas a colaborar para o desenvolvimento deste trabalho, em especial ao Juliano Soares, Luciana Zollmann, Professora Dra. Adriana Etges e Silvana Pereira de Souza. Às pessoas que nasceram com o dom de fazer da docência a sua profissão, me fazendo entender que pesquisa não se faz sozinho, e que o conhecimento é uma troca de experiência: Professora Solange Fagan, que foi a grande incentivadora desta “louca aventura”, pela amizade e doação ao meio acadêmico. Professora Maria Martha Campos, pelo exemplo, incentivo, acolhimento e colaboração. E à professora, e minha orientadora, Renata Raffin, pela coragem de ter aceitado o desafio de me orientar, dedicando a mim muita paciência, conhecimento, palavras de incentivo e amizade. O que me possibilitou desvendar os mistérios de se fazer pesquisa, servindo de exemplo e estímulo à docência. Muito Obrigada! RESUMO A medicação intracanal tem por objetivo eliminar os microrganismos presentes no interior do sistema de canais radiculares, possibilitando o reparo dos tecidos perirradiculares danificados pela ação microbiana. Apesar dos inúmeros medicamentos utilizados, ainda não existe um fármaco ideal. Assim, este estudo visa desenvolver e caracterizar nanopartículas contendo clorexidina, avaliar seu processo de degradação na associação com a pasta de hidróxido de cálcio e analisar sua eficácia através de testes in vitro e in vivo. Foram desenvolvidas e caracterizadas nanopartículas lipídicas sólidas contendo clorexidina nas concentrações de 0,2 e 0,5 %, na forma de suspensão e gel, apresentando valores de tamanho médio de partícula de 88,5 nm e 84,6 nm, respectivamente. As amostras foram armazenadas por 90 dias mantendo-se estáveis em temperatura ambiente e geladeira, porém instáveis em estufa a 40°C. O doseamento da clorexidina livre associada à pasta de hidróxido de cálcio mostrou uma redução de 33 % de fármaco após 14 dias de análise, já a clorexidina nanoencapsulada sofreu degradação de apenas 10 % do seu total. O teste de difusão em ágar frente à C. albicans e E. faecalis, pelo período de 72 h, mostrou halos de inibição de menor tamanho, porém com aumento crescente. Apesar deste resultado aparentemente desfavorável, a concentração inibitória mínima mostrou valores iguais para as nanopartículas em comparação ao fármaco livre frente aos mesmos microrganismos. Para observar a penetração das nanopartículas no interior dos túbulos dentinários foi utilizado como método de análise a microscopia eletrônica de varredura associada à energia dispersiva de raios X, através da identificação de átomos de cloro. Esta técnica permitiu observar a presença das nanopartículas no interior dos túbulos e depositadas sobre a superfície dentinária. No teste in vivo em ratos, foi possível observar, radiograficamente e histologicamente, a ação das nanopartículas lipídicas de clorexidina, inclusive da associação à pasta de hidróxido de cálcio, melhorando as propriedades microbianas da mistura. Os resultados sugerem que a clorexidina pode ser associada a nanopartículas lipídicas sólidas, mantendo a ação antimicrobiana da clorexidina, possibilitando seu uso como medicação intracanal em Odontologia e auxiliando na preservação do fármaco quando em associação com a pasta de hidróxido de cálcio evitando sua degradação pelo elevado valor de pH. Palavras-chave: clorexidina, hidróxido de cálcio, medicação intracanal, nanopartículas lipídicas sólidas. ABSTRACT Intracanal medication aims to eliminate micro-organisms present within the system of canals, making the repair of tissues damaged by microbial action. Despite the numerous drugs used, there is not an ideal drug. This study aimed to develop and characterize nanoparticles containing chlorhexidine. Furthermore, it aimed to evaluate its degradation when associated to calcium hydroxide, and to analyze their performance in vitro and in vivo. Solid lipid nanoparticles containing chlorhexidine were developed and characterized in concentrations of 0.2 and 0.5 % chlorhexidine (suspension and gel), showing average particle size values of 88.5 nm and 84.6 nm, respectively. The samples were stored for 90 days and remained stable at 5°C and room temperature, but unstable at 40°C. The free chlorhexidine concentration reduced in 33% when associated to calcium hydroxide after 14 days of analysis. O the other hand, nanoencapsulated chlorhexidine degraded only 10 % at the same conditions. The agar diffusion test against C. albicans and E. faecalis, for 72 h, showed smaller zone of inhibition but they increased size. Despite this seemed unfavorable, the MIC result showed equal values for chlorhexidine in free form and in nanoparticles. To verify the penetration of nanoparticles in the dentin tubules, SEM/EDS was used, through the identification of chlorine atoms, allowing the observation of nanoparticles in the interior of dentin tubules and deposited on the dentin surface. In the in vivo test using rats, it was able to observe, histologically and radiographically, the effect of the lipid nanoparticles, including when associated to calcium hydroxide, improving the antimicrobial properties of the association. These results suggest that chlorhexidine can be associated to solid lipid nanoparticles, keeping its antimicrobial effect, enabling its use as intracanal medication in dentistry, and assisting in the preservation of the drug when in association with calcium hydroxide paste to avoid their degradation by high pH value. Keywords: nanoparticles. calcium hydroxide, chlorhexidine, intracanal medication, solid lipid LISTA DE ABREVIATURAS ACN – Acetonitrila; ANOVA – Análise de Variância; ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária; ATCC – American Type Culture Collection; B&B – Microscopia óptica Brown e Brenn BHI – Brain Heart Infusion; BV – Balão volumétrico; CA – Acetato de clorexidina; CDA – Diacetato de clorexidina; CEUA – Comissão de Ética no Uso de Animais; CIM- Concentração inibitória mínima; CL – Clorexidina; CLAE – Cromatografia Líquida de Alta Eficiência; COBEA – Conselho Brasileiro de Experimentação Animal; DMSO – Dimetil sulfóxido; DP – Desvio Padrão; DPR – Desvio Padrão Relativo; EDS – Espectrometria dispersiva de raios-X; EDTA – Ácido Etilenodiaminotetracético; ES – Estufa; GE – Geladeira; HCA – Pasta de hidróxido de cálcio; IARC – International Agency of Research on Cancer; IPD – Índice de polidispersão; LPS – Lipopolissacarídeo; MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura; MET – Microscopia Eletrônica de Transmissão; MFA – Microscopia de Força Atômica; MHA – Agar Muller-Hinton; MMT – montmotilonita; NBR - Nanopartículas Lipídicas Sólidas sem o fármaco; NC – Nanocápsulas; NCL – Nanopartículas Lipídicas Sólidas de Clorexidina; PCL – Poli (ε-caprolactona); PLGA – Poli (L-ácido láctici-co-ácido glicólico); PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; TA – Temperatura ambiente; UFC – unidades formadoras de colônia; UFPEL – Universidade Federal de Pelotas; UFRGS – Universidade Federal do Rio grande do Sul; UNIFRA – Centro Universitário Franciscano. SUMÁRIO LISTA DAS FIGURAS .......................................................................................................... 15 LISTAS DAS TABELAS ....................................................................................................... 18 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 18 1.1. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 19 2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 20 2.1. A ESTRUTURA DENTÁRIA .......................................................................................... 20 2.2. O TRATAMENTO ENDODÔNTICO .............................................................................. 23 2.3. A CLOREXIDINA ............................................................................................................ 26 2.4. AS NANOPARTÍCULAS ................................................................................................. 32 3. METODOLOGIA............................................................................................................... 37 3.1. DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS CONTENDO CLOREXIDINA ..... 37 3.1.1. Teste de solubilidade ...................................................................................................... 37 3.1.2. Preparo das suspensões contendo nanocápsulas de clorexidina ..................................... 37 3.1.3. Preparo das suspensões contendo nanopartículas lipídicas sólidas de clorexidina. ....... 38 3.1.4. Preparo dos géis contendo NCL. .................................................................................... 40 3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS ........................................................ 41 3.2.1. Determinação do potencial zeta...................................................................................... 41 3.2.2. Determinação do índice de polidispersão e diâmetro das partículas .............................. 41 3.2.3. Determinação do pH ....................................................................................................... 41 3.2.4. Validação da metodologia para doseamento da clorexidina .......................................... 42 3.2.4.1. Métodos Cromatográficos ........................................................................................... 42 3.2.4.2. Preparo das amostras para o doseamento da clorexidina ............................................ 42 3.3. DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE DAS SUSPENSÕES E GÉIS CONTENDO NCL............. ............................................................................................................................. 43 3.4. ENSAIO MICROBIOLÓGICO ........................................................................................ 43 3.4.1. Preparo da suspensão microbiana ................................................................................... 43 3.4.2. Concentração inibitória mínima ..................................................................................... 44 3.4.3 Teste de difusão em ágar com cilindro de aço inoxidável ............................................... 46 3.5. AVALIAÇÃO IN VITRO DA DEGRADAÇÃO DA CLOREXIDINA QUANDO ASSOCIADA À PASTA DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO ..................................................... 47 3.5.1. Divisão dos grupos ......................................................................................................... 47 3.5.2. Preparo das amostras ...................................................................................................... 48 3.5.3. Determinação do pH ....................................................................................................... 49 3.5.4. Doseamento da clorexidina ............................................................................................ 49 3.6. PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO NOS TÚBULOS DENTINÁRIOS .................. 50 3.6.1. Obtenção dos dentes humanos ........................................................................................ 50 3.6.2. Preparo das amostras ...................................................................................................... 50 3.7. ESTUDO IN VIVO ............................................................................................................ 52 3.7.1. Distribuição dos grupos e cálculo do tamanho da amostra ............................................ 53 3.7.2. Indução das lesões periapicais ....................................................................................... 54 3.7.3. Instrumentação e preenchimento do canal..................................................................... 54 3.7.4. Exame radiográfico......................................................................................................... 54 3.7.5. Análise histológica ......................................................................................................... 55 3.7.6. Análise Estatística .......................................................................................................... 56 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 57 4.1. PREPARO DAS NANOPARTÍCULAS CONTENDO CLOREXIDINA ........................ 57 4.1.1. Teste de solubilidade ...................................................................................................... 57 4.1.2. Preparo das nanocápsulas poliméricas de clorexidina.................................................... 57 4.1.3. Preparo das NCL ............................................................................................................ 58 4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS NCL ..................................................................................... 59 4.3. DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE DAS SUSPENSÕES E GÉIS CONTENDO NCL.... ...................................................................................................................................... 64 4.3.1. Diâmetro médio das partículas e índice de polidispersão............................................... 64 4.3.2. Análise do pH e doseamento .......................................................................................... 68 4.4. AVALIAÇÃO IN VITRO DA DEGRADAÇÃO DA CLOREXIDINA ASSOCIADA À PASTA DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO ................................................................................. 71 4.4.1. Análise do pH ................................................................................................................. 72 4.4.2. Doseamento .................................................................................................................... 73 4.5. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA ...................................................................................... 75 4.5.1. Teste de difusão em ágar ................................................................................................ 75 4.5.2. Concentração inibitória mínima (CIM) .......................................................................... 77 4.6. PENETRAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS NOS TÚBULOS DENTINÁRIOS .......... 78 4.7. ESTUDO IN VIVO EM RATOS ....................................................................................... 84 4.7.1. Análise radiográfica ........................................................................................................ 84 4.7.2. Análise histológica ......................................................................................................... 87 5. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 92 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 94 ANEXOS ............................................................................................................................... 108 ANEXO 1 – Validação da metodologia analítica para doseamento da clorexidina nas suspensões e géis de nanopartículas. ................................................................................... 108 1. Especificidade..................................................................................................................... 108 2. Linearidade ......................................................................................................................... 109 3. Precisão e repetibilidade ..................................................................................................... 110 4. Exatidão .............................................................................................................................. 111 ANEXO 2 – Carta de aprovação pelo comitê de ética para realização do experimento em ratos..... .................................................................................................................................. 113 ANEXO 3 – Carta de aprovação do comitê de ética para estudo utilizando dentes humanos................................................................................................................................. 114 LISTA DAS FIGURAS Figura 1: Estrutura dentária e sua divisão morfológica. http://dentistaemcuritiba.wordpress.com/2010/01/10/dentista-em-curitiba-tratamento-decanal/ ......................................................................................................................................... 20 Figura 2: Estrutura dentária, em destaque a presença dos túbulos dentinários. ....................... 21 Figura 3: Estrutura dentária com presença de cárie e contaminação do tecido pulpar. ............ 21 Figura 4: Micrografias mostrando a presença de E. faecalis no interior dos túbulos dentinários de dentes bovinos. Microscopia eletrônica de varredura (Hapassalo e Orstavik, 1987). ......... 22 Figura 5: Infecção dos túbulos dentinários de dentes bovinos por E. faecalis. B&B stain microscopia óptica (Hapassalo e Orstavik, 1987). ................................................................... 22 Figura 6: Esquema didático demonstrando a sequência de procedimento do tratamento endodôntico: preparo biomecânico, conometria e obturação. .................................................. 23 Figura 8: Estrutura química da clorexidina .............................................................................. 26 Figura 9: Representação esquemática de (a) nanocápsulas e (b) nanoesferas; e B. Representação esquemática de nanopartículas lipídicas sólidas (STROHER, ARMIJO e RAFFIN, 2010). ........................................................................................................................ 33 Figura 10: Método de obtenção de nanopartículas lipídicas sólidas contendo clorexidina por altas taxas de cisalhamento. A) Fase oleosa; B) Fase aquosa; C) Ultra-Turrax ....................... 40 Figura 11: Fluxograma ilustrativo da microdiluição para determinação da CIM. ................... 45 Figura 12: Placas de 96 poços para microdiluição e definição das CIMs. ............................... 45 Figura 13: Desenho ilustrativo dos procedimentos realizados para o teste de difusão em ágar com cilindros de aço inoxidável. .............................................................................................. 46 Figura 14: Esquema de distribuição das amostras na placa petri. ............................................ 47 Figura 15: Etapas realizadas para o preparo das amostras. A) e B) A associação dos géis à pasta de hidróxido de cálcio foi feita na proporção 1:1, em peso; C) Mistura dos géis; D) Géis armazenados em recipiente e ambiente apropriado. ................................................................. 48 Figura 16: Preparo das amostras para análise em CLAE. A) Géis e pastas foram pesados em um balão volumétrico de 10 mL; B) Os balões foram agitados no vortex por 5 minutos; C) Géis levados para sonicar por 15 minutos; D) O conteúdo dos balões foi transferido para tubos de ensaios e depois para centrífuga por 15 min. ............................................................. 49 Figura 17: Etapas realizadas para o processo de análise das nanopartículas lipídicas no interior do elemento dentário. A) Padronização das amostras; B) confecção de sulcos para o processo de clivagem; C) Clivagem da estrutura dentária; D) Dessecador utilizado para o processo de desidratação das amostras; E) Amostras fixadas em stub e metalizadas com ouro; F) MEV/EDS utilizado para registro das micrografias e espectros. ............................................. 52 Figura 18: Fluxograma das etapas para o estudo in vivo. ......................................................... 56 Figura 19: Distribuição do tamanho médio das partículas (nm) inicial das suspensões contendo NCL 0,2 % (linha vermelha); 0,5 % (linha verde) e NBR (linha azul). ................... 60 Figura 20: Valores referentes a sobreposição dos gráficos do potencial zeta (mV) (A) da suspensão e gel de NCL 0,2 %; (B) da suspensão e gel NCL 0,5 %; (C) suspensão e gel NBR; e (D) suspensão e gel do fármaco livre. As linhas vermelhas representam o potencial zeta inicial, e as linhas verdes após os 90 dias. ................................................................................ 62 Figura 21: Valores referentes a sobreposição dos gráficos do tamanho médio das partículas (nm) (A) da suspensão e gel de NCL 0,2 %; (B) da suspensão e gel de NCL 0,5 %; (C) suspensão e gel de NBR. As linhas vermelhas representam as suspensões e as linhas verdes os géis. ........................................................................................................................................... 63 Figura 22: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio de partícula das suspensões de NCLs (A) 0,2% e (B) 0,5% no tempo 0 (linhas vermelhas) e após 90 dias de armazenamento em TA (linhas verdes), GE (linhas azuis) e ES (linhas pretas)............................................................. 65 Figura 23: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio de partícula das suspensões NBRs no tempo 0 (linha vermelha) e após 90 dias de armazenamento em TA (linha verde), GE (linha azul) e ES (linha preta). ............................................................................................................ 66 Figura 24: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio das partículas dos géis de NCLs (A) 0,2 % e (B) 0,5 % no tempo 0 (linhas vermelhas) e após 90 dias de armazenamento em TA (linhas azuis), GE (linhas verdes) e ES (linhas pretas) ............................................................ 67 Figura 25: Proliferação fúngica nas amostras dos géis de NBRs armazenadas em GE e ES. .. 68 Figura 26: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio das partículas dos géis de NBRs no tempo 0 (linha vermelha) e após 90 dias de armazenamento em TA (linha verde). ................ 68 Figura 27: Sobreposição de cromatogramas correspondente ao gel de NCL 0,5 % (linha preta) e NCL 0,5 % HCA após 2 (linha vermelha) e 14 dias (linha rosa). ......................................... 74 Figura 28: Placas após o período de 72 horas para análise do diâmetro com paquímetro digital. ....................................................................................................................................... 76 Figura 29: Micrografia eletrônica da exposição dos túbulos dentinários após o processo de remoção da smear layer nas amostras do grupo controle......................................................... 79 Figura 30: Microscopia eletrônica de varredura. A) Micrografia eletrônica da deposição das NCL sobre a superfície dentária. B) Micrografia eletrônica da presença de NCL no interior dos túbulos dentinários. ............................................................................................................ 80 Figura 31: A) Micrografia da estrutura dentária com a suspensão de NCL depositada (1) sobre a luz do canal e (2) no interior dos túbulos dentinários. B) Espectro do EDS mostrando presença de cloro (1) na superfície dentária e em menor quantidade de átomos cloro (2) no interior dos túbulos dentinários. ............................................................................................... 81 Figura 32: Micrografias de NCL obliterando a entrada dos túbulos dentinários (A) em gel e (B) em suspensão. ..................................................................................................................... 82 Figura 33: Micrografia dos túbulos dentinários. A) em gel. B) em suspensão. ....................... 82 Figura 34: A) Micrografia de NCL na superfície dentária e no interior dos túbulos dentinários e B) seus respectivos espectros em EDS. ................................................................................. 83 Figura 35: A) Micrografia da região apical do canal radicular e mínima presença de NCLsobre a superfície dentinária, confirmada B) pelo espectro do EDS que identificou pequena quantidade de cloro. ................................................................................................... 83 Figura 36: Imagens radiográficas representativas das lesões periapicais em ratos após a utilização de medicação intracanal de acordo com cada grupo: (A) Controle; (B) Gel CL 0,5 %; (C) Gel NCL 0,5 %; (D) Gel NBR; (E) Gel CL 0,5 % HCA; (F) Gel NCL 0,5 % HCA; (G) HCA. ......................................................................................................................................... 85 Figura 37: Gráfico referente às áreas de radiolucidez das lesões periapicais a partir das imagens radiográficas após o tratamento com diferentes medicações intracanal. ................... 86 Figura 38: Imagens das lâminas histológicas representativas das lesões periapicais em ratos após a utilização de medicação intracanal de acordo com cada grupo: (A) Controle; (B) Gel CL 0,5 %; (C) Gel NCL 0,5 %; (D) Gel NBR; (E) Gel CL 0,5 % HCA; (F) Gel NCL 0,5 % HCA; (G) HCA......................................................................................................................... 88 Figura 39: Gráfico referente aos escores do infiltrado inflamatório a partir da análise histopatológica .......................................................................................................................... 89 Figura 40: Sobreposição de cromatogramas: linha azul correspondente a nanopartícula lipídica sem a presença de fármaco; linha preta correspondente ao hidróxido de cálcio e linha vermelha correspondente amostra padrão de clorexidina....................................................... 108 Figura 41: Curva padrão da clorexidina obtida por CLAE. ................................................... 110 Figura 42: Fluxograma do teste de exatidão. .......................................................................... 111 LISTAS DAS TABELAS Tabela 1: Componentes utilizados na fase orgânica para o preparo das suspensões contendo nanocápsulas de clorexidina. .................................................................................................... 38 Tabela 2: Componentes da fase oleosa utilizados no preparo de suspensões contendo NCL. . 39 Tabela 3: Divisão dos grupos de acordo com a medicação testada para determinação da CIM. .................................................................................................................................................. 44 Tabela 4: Divisão dos grupos de acordo com a formulação. .................................................... 47 Tabela 5: Distribuição dos grupos. ........................................................................................... 51 Tabela 6: Distribuição dos animais nos diferentes grupos experimentais. ............................... 53 Tabela 7: Composição das nanocápsulas poliméricas alterada por este estudo. ...................... 58 Tabela 8: Valores referentes à caracterização físico-química das suspensões contendo NCL 0,2 e 0,5 % e NBR, e do fármaco livre um dia após sua obtenção (+DP). ............................... 59 Tabela 9: Valores referentes à caracterização físico-química dos géis contendo NCL 0,2 e 0,5 % e NBR, e fármaco livre um dia após sua obtenção (+DP). .................................................. 61 Tabela 10: Diâmetro médio das partículas e IPD das suspensões de NCLs 0,2 e 0,5 % e NBR (+DP). ....................................................................................................................................... 65 Tabela 11: Diâmetro médio das partículas e IPD dos géis de NCLs 0,2 e 0,5 % e NBR (+DP). .................................................................................................................................................. 67 Tabela 12: Média do pH e doseamento das suspensões de NCLs 0,2 e 0,5 %, NBR e CL (+DP). ....................................................................................................................................... 69 Tabela 13: Média do pH e doseamento dos géis de NCLs 0,2 e 0,5 %, NBR e CL (+DP). ..... 70 Tabela 14: pH inicial e final de cada formulação. .................................................................... 72 Tabela 15: Concentração inicial (%) de fármaco e após o período de 14 dias nos diferentes grupos, e sua redução neste período. ........................................................................................ 74 Tabela 16: Média dos halos de inibição (mm) + DP da solução de CL e das NCL. ................ 76 Tabela 17: CIM de acordo com a formulação e o tipo de microrganismo. .............................. 77 Tabela 18: Análise quantitativa do espectro do EDS detectando o cloro. ................................ 81 Tabela 19: Análise quantitativa do espectro do EDS detectando o cloro. ................................ 83 Tabela 20: Análise quantitativa do espectro do EDS detectando o cloro. ................................ 84 18 1. INTRODUÇÃO A estrutura dentária é formada por esmalte, dentina e cemento. A dentina é composta por inúmeros túbulos dentinários que possuem diâmetro variando de 2,5 µm (próximo à polpa) a 1 µm (na junção dentina-esmalte e cemento-dentina) totalizando aproximadamente 15.000 túbulos em 1 mm2 de dentina próximo à junção cemento-dentina. Pela presença de cáries, fraturas ou desgastes da estrutura dentária, os microrganismos podem penetrar, multiplicar-se e invadir numerosos túbulos expostos (COHEN e BURNS, 1998) e, devido ao diâmetro, podem alcançar uma profundidade de 200 µm nas áreas cervical e média da raiz, e cerca de 60 µm na região apical (LOVE, 1996). As bactérias que penetram nos túbulos dentinários são a principal causa das inflamações pulpares e periapicais. Devido a isso, o objetivo do tratamento endodôntico é eliminá-las dos canais radiculares, para possibilitar a resolução e o reparo dos tecidos perirradiculares danificados pela ação bacteriana (COHEN e BURNS, 1998). Para auxiliar no processo de desinfecção do canal principal e seus túbulos dentinários são utilizados agentes químicos, como soluções irrigadoras, e medicamentos intracanal (LEONARDO, 2008). O uso de medicações intracanal tem sido defendido por alguns autores (HELING et al, 1992; EVANS et al, 2003; SIRÉN et al, 2004, VIANNA et al, 2004; SOARES et al, 2006; LEONARDO, 2008) por reduzir o número de microrganismos que resistiram ao preparo biomecânico, tornando o sistema de canais radiculares um meio impróprio para o seu desenvolvimento e proliferação. Dentre as alternativas de medicação intracanal, encontra-se a clorexidina, que vem sendo amplamente pesquisada devido a inúmeras qualidades que apresenta, como ação antimicrobiana imediata e amplo espectro antimicrobiano sobre bactérias Gram-positivas, Gram-negativas, anaeróbicas facultativas e aeróbias, além de atuar também em leveduras e fungos (HENNESSEY, 1973; SEN, SAFAVI, SPANGBERG, 1999). Para potencializar os benefícios da clorexidina, podemos buscar auxílio na nanotecnologia, através de sistemas de liberação controlada de fármacos, que apresentam diversas vantagens sobre o sistema de administração convencional. Dentre as vantagens, destacam-se a maior eficácia terapêutica, proporcionada pela liberação progressiva e controlada do fármaco a partir da nanopartícula e, a diminuição significativa da toxicidade por 19 utilizar menor concentração do fármaco e possuir maior tempo de ação. Além disso, esse sistema evita a instabilidade e decomposição do fármaco (bio-inativação prematura); além de possibilitar a penetração mais profunda nos tecidos em decorrência do seu reduzido tamanho (NHUNG et al, 2007). 1.1. OBJETIVOS Apesar dos inúmeros medicamentos utilizados entre as sessões do tratamento endodôntico, ainda não existe um fármaco ideal. Desta forma, este estudo visa: (i) desenvolver e caracterizar nanopartículas contendo clorexidina, bem como avaliar sua estabilidade; (ii) avaliar in vitro o processo de degradação da clorexidina livre e na forma de nanopartícula após seu mistura com pasta de hidróxido de cálcio; (iii) avaliar a ação antimicrobiana in vitro em cepas de Enterococcus faecalis e Candida albicans, e suas respectivas concentrações inibitórias mínimas; (iv) avaliar in vitro a penetração das nanopartículas no interior dos túbulos dentinários de dentes humanos extraídos e, por fim, (v) avaliar sua ação como medicação intracanal in vivo em dentes de ratos com lesão periapical, a partir da análise da resposta histológica e radiográfica, colaborando com o desenvolvimento de medicamentos mais modernos, completos, eficientes e com menores efeitos indesejáveis. 20 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. A ESTRUTURA DENTÁRIA A estrutura dentária (Figura 1) é composta por uma porção coronária e uma porção radicular. A porção mais interna apresenta uma câmara pulpar que é preenchida por um feixe vásculo-nervoso chamado de polpa. Na porção coronária, a dentina é recoberta pelo esmalte, e na porção radicular, a dentina é recoberta pelo cemento. Figura 1: Estrutura dentária e sua divisão morfológica. http://dentistaemcuritiba.wordpress.com/2010/01/10/dentista-em-curitiba-tratamento-de-canal/ A dentina apresenta vários túbulos dentinários em toda sua extensão, que são preenchidos por prolongamentos de células especializadas, os odontoblastos (BHASKAR, 1989). O número de túbulos dentinários aumenta consideravelmente da parte média até próximo à polpa (MARSHALL et al, 1997). Assim como seu diâmetro, que pode chegar a 2,5 µm próximo à polpa, enquanto que na junção esmalte-dentina é de 0,8 µm. Schilke e colaboradores (2000) estudaram o número e o diâmetro dos túbulos dentinários em humanos e encontraram na camada de dentina mais profunda, aproximadamente, 21.343 túbulos/mm2 com diâmetro médio de 2,90 µm, e na porção média 21 da dentina cerca de 18.781 túbulos/mm2 com diâmetro médio de 2,65 µm, confirmando que quanto mais próximo a polpa, maior é o diâmetro e quantidade de túbulos dentinários presentes (MARSHALL et al, 1997) (Figura 2) . Figura 2: Estrutura dentária, em destaque a presença dos túbulos dentinários. http://periodontiaonline.blogspot.com/2011/03/sensibilidade-dental-uma-luz-no-fim-do.html Muitos destes túbulos dentinários podem ficar expostos devido à presença de cáries (Figura 3), fraturas ou desgastes da estrutura dentária. Quando expostos, microrganismos podem penetrar para o seu interior colonizando toda esta região (COHEN e BURNS, 1998). Figura 3: Estrutura dentária com presença de cárie e contaminação do tecido pulpar. http://sites.amarillasinternet.com/sorridente/servicos.html 22 Como os túbulos apresentam diâmetro muito maior que os microrganismos, estes podem alcançar grandes profundidades de penetração. Haapasalo e Orstavik (1987) foram os primeiros pesquisadores a introduzir um modelo para infecção e desinfecção da dentina radicular, in vitro, através de cilindros de dentina obtidos de raízes de incisivos bovinos contaminados por Enterococcus faecalis (E. faecalis) pelo período de 21 dias. Os autores analisaram sua penetração nos túbulos dentinários através da microscopia eletrônica de varredura (Figura 4) e óptica após coloração específica (Brown e Brenn) e, observaram, que na infecção leve, a profundidade de penetração foi de 300 – 400 µm, na infecção moderada de 400 – 500 µm, e em infecção severa chegou a 800 – 1000 µm (Figura 5). Figura 4: Micrografias mostrando a presença de E. faecalis no interior dos túbulos dentinários de dentes bovinos. Microscopia eletrônica de varredura (Hapassalo e Orstavik, 1987). Figura 5: Infecção dos túbulos dentinários de dentes bovinos por E. faecalis. B&B stain microscopia óptica (Hapassalo e Orstavik, 1987). Estes microrganismos que penetram nos túbulos dentinários são a principal causa das inflamações e infecções pulpares e periapicais. 23 2.2. O TRATAMENTO ENDODÔNTICO As alterações sistêmicas são consideradas um grande problema de saúde no Brasil e também no mundo. No entanto, algumas complicações odontológicas podem intervir na condição da saúde geral do paciente, principalmente se ele apresentar alterações cardiovasculares, diabetes mellitus, entre outros, devendo ser a prevenção o melhor tratamento. Portanto, mais do que necessário, é importante eliminar riscos de complicações e melhorar qualitativamente a vida do paciente (GROSSI et al, 1997). Desta forma, o tratamento endodôntico tem por objetivo eliminar os microrganismos presentes no sistema de canais radiculares, remover o tecido pulpar desintegrado que pode servir como substrato para o crescimento microbiano, preencher e vedar o espaço endodôntico com material inerte, estável e compatível, impedindo a recolonização bacteriana, evitando a periodontite apical (PINHEIRO et al, 2009; RICUCCI et al, 2009, SINGLA et al, 2009) (Figura 6). Figura 6: Esquema didático demonstrando a sequência de procedimento do tratamento endodôntico: preparo biomecânico, conometria e obturação. http://drarebecamoura.blogspot.com/2010/12/desmistificando-o-tratamento-de-canal.html Para obtenção de sucesso no tratamento, a desinfecção do sistema de canais radiculares com a presença de processo infeccioso é fundamental na terapia endodôntica. A anatomia do canal radicular é complexa, contendo muitas ramificações e irregularidades morfológicas, proporcionando um ambiente favorável para a colonização de microrganismos, dificultando o processo de desinfecção (LEE et al, 2008; MILLER e BAUMGARTNER, 2010). 24 A morfologia complexa do sistema de canais radiculares determina áreas inacessíveis do preparo biomecânico como canais laterais, acessórios, secundários, intercondutos, deltas apicais e túbulos dentinários, contribuindo para a permanência de microrganismos nessas regiões (LIN et al., 1991; SIQUEIRA; UZEDA; FONSECA, 1996). Uma redução significativa no número de microrganismos presentes no canal principal se obtém pela da ação dos efeitos químicos e mecânicos da irrigação e da instrumentação (SJOGREN et al, 1990; HOLLAND, SOARES, SOARES, 1992; TROPE, DELANO, ORSTAVIK, 1999). O hipoclorito de sódio é a solução irrigante mais comum usada em endodontia desde 1900. Pode ser utilizado sozinho ou em combinação com uma solução quelante, como o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), que reduz as bactérias e elimina a lama dentinária (smear layer) aderida às paredes do canal radicular, promovendo um aumento da permeabilidade e melhorando o selamento das obturações (AKISUE et al, 2010; DEWSNUP et al, 2010). Um estudo publicado por Schlafer e colaboradores (2010) assegura que não é possível acessar os canais laterais e suas ramificações apicais com a instrumentação mecânica. Por isso, usam-se métodos de desinfecção química que têm efeito bactericida, para complementar o método mecânico. Conforme Akisue e colaboradores (2010), a utilização de hipoclorito de sódio em um intervalo de concentrações de 0,5 % a 5,25 % é um eficaz agente antimicrobiano. Porém, em baixas concentrações, é ineficaz contra microrganismos específicos e, em altas concentrações, tem pouca biocompatibilidade, causando inflamação periapical. Com tal complexidade, alguns microrganismos permanecem viáveis nestas regiões de difícil acesso (SJOGREN et al, 1990; HOLLAND, SOARES, SOARES, 1992; TROPE, DELANO, ORSTAVIK, 1999), apresentando um rápido crescimento quando o canal é deixado vazio, sem uma medicação intracanal entre as sessões (SJOGREN et al, 1991; TROPE, BERGENHOLTZ, 2002). Por se tornar um auxiliar importante, a medicação intracanal deve possuir ação antimicrobiana com potencial para eliminar microrganismos remanescentes ao preparo químico-mecânico; promover a reparação dos tecidos periapicais (SJOGREN et al, 1990; HOLLAND, SOARES, SOARES, 1992; TROPE, DELANO, ORSTAVIK, 1999); funcionar como uma barreira física, impedindo o suprimento de substrato, ocupando espaço a fim de limitar a multiplicação microbiana (CHONG, PITT FORD, 1992). Além disso, deve reduzir a 25 inflamação periapical; apresentar capacidade de solubilizar matéria orgânica, pois a permanência de resíduos pode funcionar como reservatório de microrganismos (LOPES, SIQUEIRA, 2004); ter a capacidade de neutralizar produtos tóxicos como o lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano, que é uma endotoxina que exerce importante papel na etiopatogenia das doenças da polpa e dos tecidos perirradiculares (TANOMARU et al, 2003). Ainda, eliminar o exsudato persistente; não provocar agressão aos tecidos periapicais; estimular o reparo por tecido mineralizado e, combater à reabsorção dentinária (LOPES, SIQUEIRA, 2004). Dentre as substâncias de escolha está o hidróxido de cálcio, que foi introduzido inicialmente como um agente de capeamento pulpar em 1930, e, desde então, tem sido usado na terapia endodôntica como medicação intracanal (KRITHIKADATTA et al, 2007; SIQUEIRA et al, 2007; TURK et al, 2009). O hidróxido de cálcio tem recebido destaque especial por apresentar certa atividade antimicrobiana, capacidade de neutralizar toxinas, manter o selamento temporário do canal e estimular a reparação dos tecidos localizados na região periapical (ESTRELA et al, 1999). Porém, o tempo necessário para que o hidróxido de cálcio desempenhe suas propriedades é de pelo menos duas semanas (NERWICH, FIDGOR, MESSER, 1993; TAKAHASHI et al, 1996) e, ainda, deve ocorrer a manutenção de altas concentrações de hidroxila para que mantenha o pH em níveis extremamente elevados (ESTRELA et al, 1999; SJOGREN et al, 1991). Além disso, o hidróxido de cálcio não consegue eliminar os microrganismos que se encontram mais profundamente nos túbulos dentinários ou no sistema de canais radiculares devido a sua baixa solubilidade ou capacidade de difusão (ESTRELA et al, 1999; ERCAN et al; 2007), ou seja, não age quando não há contato direto com o microrganismo e os sítios mais distantes acabam por não ter uma elevação significativa do pH (ESTRELA et al, 1995; 1999; 2001). Para complementar a ação do hidróxido de cálcio, o uso da clorexidina tem sido sugerido por diversos autores (HELING et al, 1992; EVANS et al, 2003; SIRÉN et al, 2004, SOARES et al, 2006; LEE et al, 2008). Um estudo publicado em 2008 por Lee e colaboradores descreve que o hidróxido de cálcio é um excelente agente antimicrobiano para canais radiculares infectados; porém, é menos eficaz frente a E. faecalis e C. albicans, microrganismos frequentemente isolados nos casos de infecções persistentes de canais radiculares, havendo a necessidade de utilizar medicação intracanal alternativa, como a clorexidina, que possui capacidade de adsorção à 26 dentina, facilitando a erradicação da flora resistente à terapia. Para que haja a máxima atividade antimicrobiana, a superfície da infecção dentinária deve ser exposta a uma solução concentrada de clorexidina por um período suficiente. Siqueira e Sen (2004) referem que medicamentos como a clorexidina e o hidróxido de cálcio em associações têm potencial para serem utilizados como medicamentos intracanal em suspeita de infecção fúngica e bacteriana. Para Turk e colaboradores (2008), a combinação desses antimicrobianos melhora as suas atividades e o equilíbrio de suas deficiências contra infecções polimicrobianas. 2.3. A CLOREXIDINA Em 1940, nos laboratórios de pesquisa da “Imperial Chemical Industries Ltda.”, Macclesfield, Inglaterra, a clorexidina foi desenvolvida para ser utilizada como um agente antiviral; porém, foi abandonada devido à sua ineficiência. Anos mais tarde, foi redescoberta devido à sua eficácia antibacteriana (ZEHNDER et al, 2006) (Figura 7). Figura 7: Estrutura química da clorexidina Fonte: PUBCHEM, 2008. A clorexidina é representada pela fórmula molecular de C22H30Cl2N10, com massa molar de 505,4 g/mol (PUBCHEM, 2008). A clorexidina é composta estruturalmente por dois anéis clorofenólicos nas extremidades, ligados a um grupamento bisguanida de cada lado, conectados por uma cadeia central de hexametileno (DENTON, 1991). Esta bibisguanida catiônica é uma base forte, mais 27 estável na forma de sal, sendo praticamente insolúvel em água. Os sais originalmente produzidos foram o acetato de clorexidina e cloridrato de clorexidina, mas devido a sua baixa solubilidade em água foram substituídos, com o passar do tempo, pelo sal atualmente usado, o gluconato de clorexidina (ZAMANY et al, 2003; ZEHNDER, 2006). As soluções aquosas de clorexidina são mais estáveis em valores de pH de 5 a 8. Acima deste valor, ocorre precipitação da clorexidina, enquanto que em pH ácido, há redução da sua atividade, devido à perda da estabilidade da solução. Em pH fisiológico, exerce excelente atividade antimicrobiana, proporcionada pela liberação das moléculas de carga positiva (PARSONS et al, 1980; RINGEL et al, 1982) . O efeito antimicrobiano da clorexidina se dá pela atração e adsorção das moléculas catiônicas da clorexidina à superfície celular dos microrganismos (que é carregada negativamente). Esta interação promove a alteração da permeabilidade da membrana celular, resultando na perda dos componentes intracelulares e no desequilíbrio osmótico da célula (HENNESSEY, 1973; DELANY et al, 1982; GOMES et al, 2006). Em pH neutro, é rapidamente adsorvida à superfície celular dos microrganismos, fazendo com que a concentração de moléculas livres de clorexidina na solução seja baixa (DAVIES, 1973; BONESVOLL et al, 1974). Além da atividade antimicrobiana de amplo espectro, a clorexidina apresenta a característica de substantividade, que é a atividade resultante da adsorção e da subsequente liberação da clorexidina, pela sua capacidade de ligação de forma reversível às superfícies dentais (especificamente na hidroxiapatita, presente no esmalte e dentina) e mucinas salivares, sendo lentamente liberada para o ambiente à medida que sua concentração no meio decresce permitindo, desse modo, um tempo de atuação prolongado, prevenindo a colonização bacteriana e o desenvolvimento do biofilme (BASRANI et al, 2002; GOMES et al, 2006; SOARES et al, 2007). A sua substantividade foi observada mantendo sua ação antimicrobiana pelo período de 48 h (SCHAFER e BOSSMANN, 2005) e 72 horas (SIRÉN et al, 2004) após ser removida do canal radicular, o que não ocorre com os demais desinfetantes que rapidamente se dissipam e não apresentam efeito antimicrobiano residual. Porém, quanto maior o contato com os tecidos periapicais, dependendo da sua concentração, maior serão os efeitos tóxicos sobre estes tecidos. 28 Hoje em dia, o digluconato de clorexidina é amplamente utilizado nas áreas médica, odontológica, veterinária e alimentar. Na odontologia, sua aplicação ocorre há alguns anos como um potente agente anti-séptico utilizado principalmente como agente ativo de enxaguatórios bucais, agindo no controle da placa bacteriana e no tratamento de infecções periodontais. Na endodontia, tem sido proposto na forma de líquido ou gel, em diferentes concentrações, tanto como agente irrigante durante o preparo químico-mecânico (PARSONS et al, 1980; DELANY et al, 1982; JEANSONNE e WHITE, 1994; LEONARDO et al, 1999; FERRAZ et al, 2001; ZAMANY et al, 2003; ERCAN et al, 2006), quanto como medicação intracanal (HELING et al, 1992; SIQUEIRA e UZEDA, 1997; LINDKOG et al, 1998; GOMES et al, 2003; SOARES et al, 2007; VIANNA et al, 2007). Alguns estudos demonstraram que a atividade antimicrobiana da clorexidina líquida é igual ou superior ao gel quando o contato direto foi adotado como metodologia (FERRAZ et al, 2001; GOMES et al, 2001; VIANNA et al, 2004). Por outro lado, a clorexidina em gel facilita a instrumentação, melhorando a capacidade dos instrumentos em eliminar tecidos orgânicos, compensando sua capacidade de dissolvê-lo e diminuindo a formação de smear layer (FERRAZ et al, 2001). A smear layer foi definida por Sen e colaboradores (1995) como sendo uma camada amorfa, irregular e granular, composta por restos e raspas de dentina, remanescentes de tecido pulpar e bactérias, que acabam se depositando e obturando a entrada dos túbulos dentinários prejudicando a ação dos agentes irrigantes e medicação intracanal. A clorexidina apresenta amplo espectro de ação sobre linhagens Gram-positivas e negativas (HENNESSEY, 1973), mas de fundamental importância é sua ação sobre a espécie Gram-positiva E. faecalis (BASRANI et al, 2002) e ao fungo C. albicans (WALTIMO et al, 1999, PAQUETTE et al, 2007), devido à relação destes microrganismos com o insucesso endodôntico, por persistirem ao protocolo químico-mecânico convencional de desinfecção do canal radicular. Apesar de todas estas qualidades, o digluconato de clorexidina pode ser inativado por compostos aniônicos (PRADO et al, 2004) e não atua, significantemente, na neutralização do LPS bacteriano, mesmo em concentrações mais elevadas. A concentração de clorexidina (na forma de digluconato) normalmente utilizada varia entre 0,12 e 2,0 %; porém, em concentrações iguais ou inferiores a 0,25 % é menos agressiva exibindo reações inflamatórias mais brandas, não provocando necrose tecidual nem edema 29 persistente. Em concentrações iguais ou maiores a 0,5 % produz necrose tecidual e exacerba o processo inflamatório retardando o processo de reparação tecidual do periodonto apical (PRADO et al, 2004; FARIA et al, 2007). Isso se deve a formação da para-cloroanilina, que é um subproduto gerado a partir da hidrólise da clorexidina em função do tempo, do pH e do aquecimento. É uma amina aromática que tem se mostrado tóxica para humanos provocando hemólise, metahemoglobinemia e cianose (BASRANI et al, 2007). Além disso, a paracloroanilina faz parte do Grupo 2B da IARC (International Agency of Research on Cancer) formado por substâncias que possuem possível ação carcinogênica em humanos (IARC, 1997b). Um maior interesse pela utilização da clorexidina como agente de desinfecção dos canais radiculares surgiu para incrementar as propriedades antimicrobianas do hidróxido de cálcio, já que alguns microrganismos têm mostrado capacidade de sobrevivência ao pH elevado, principalmente o E. faecalis e C. albicans. A adição da clorexidina poderia proporcionar maior atividade antimicrobiana e conferir maior substantividade à formulação (TANOMARU et al., 2002). Evans e colaboradores (2003) compararam o efeito antimicrobiano da pasta de hidróxido de cálcio e da sua associação com clorexidina 2 % utilizando um modelo experimental in vitro. Incisivos bovinos foram padronizados e contaminados com E. faecalis por 1 semana. Após este período, as raspas de dentina foram coletadas e semeadas em ágar BHI. A contagem das unidades formadoras de colônia foi feita após a incubação e revelaram que a associação do hidróxido de cálcio com clorexidina foi significantemente mais eficaz na eliminação de E. faecalis que o uso isolado de hidróxido de cálcio. Basrani e colaboradores (2003) utilizaram diferentes modelos experimentais para avaliar o desempenho antimicrobiano da clorexidina (0,2 e 2 % líquida ou gel) e hidróxido de cálcio (isolado ou em associação à clorexidina gel a 0,2 %) contra E. faecalis através do teste de difusão em ágar por 48 horas e pelo método de desinfecção da dentina radicular humana in vitro após 7 dias da aplicação das medicações. Tanto o teste de difusão em ágar como o teste de desinfecção da dentina radicular, mostrou uma superioridade da clorexidina gel 2 % e da solução de clorexidina 2 % sem diferença estatística entre elas. O hidróxido de cálcio apresentou os piores resultados, confirmando que a clorexidina é mais efetiva para eliminação do E. faecalis in vitro. Basrani, Ghanem e Tjaderhane (2004) avaliaram a associação entre o hidróxido de cálcio e a clorexidina com o objetivo de determinar se as propriedades físico-químicas da 30 formulação seriam adequadas para uma boa medicação intracanal. Os resultados mostraram que a clorexidina não afetou o elevado pH do hidróxido de cálcio, nem sua radiopacidade e tempo de trabalho; porém, diminuiu a tensão superficial e aumentou a viscosidade do hidróxido de cálcio, confirmando que a associação das duas medicações apresenta propriedades físico-químicas satisfatórias. Schafer e Bossmann (2005) analisaram a eficácia antimicrobiana da clorexidina e do hidróxido de cálcio contra E. faecalis in vitro. Para isso, 40 dentes humanos foram padronizados, esterilizados e infectados com E. faecalis por 9 dias. Após este período, foi feita a divisão em 4 grupos para preenchimento do canal com as seguintes medicações: pasta de hidróxido de cálcio, solução de clorexidina 2 %, associação de hidróxido de cálcio à solução de clorexidina 2 % numa proporção 1:1, e água destilada. Tais medicações permaneceram no interior do canal radicular por 3 dias, para posterior coleta das raspas de dentina, que foram levadas para análise microbiológica. Como resultados, a clorexidina 2 % foi significantemente mais eficaz que a pasta de hidróxido de cálcio e a associação de ambos, e não foi observado aumento na eficácia antimicrobiana do hidróxido de cálcio associado à clorexidina 2 %. Barbin e colaboradores (2008) analisaram quimicamente a presença de paracloroanilina, por meio da espectrometria de massas e cromatografia líquida, na solução de clorexidina 0,2 % isolada ou em associação com o hidróxido de cálcio. As análises foram realizadas em seguida ao preparo das amostras e após o período de 7 e 14 dias. Na solução de clorexidina foi encontrada a presença de para-cloroanilina após os 14 dias. Quando em associação com hidróxido de cálcio, houve decomposição total da clorexidina em diferentes compostos, porém, não foi demonstrada a presença de para-cloroanilina. Para avaliar se a associação entre o hidróxido de cálcio e a clorexidina 0,4 % afetava o desenvolvimento do fenótipo osteogênico in vitro, da Silva e colaboradores (2008) analisaram a morfologia e a atividade celular, a atividade da enzima fosfatase alcalina, teor de proteína total, imunolocalização de sialoproteína no tecido ósseo e a formação de nódulos mineralizados. Os resultados mostraram que a associação entre a pasta de hidróxido de cálcio e clorexidina 0,4 % não afetou o desenvolvimento do fenótipo osteogênico. Delgado e colaboradores (2010) avaliaram a eficácia do hidróxido de cálcio e do gel de clorexidina 2 % contra E. faecalis presentes nos túbulos dentinários in vitro. Foram utilizados 60 dentes humanos. Estes foram contaminados e, posteriormente, tratados com hidróxido de cálcio, gel de clorexidina 2 %, associação do hidróxido de cálcio com o gel de 31 clorexidina 2 % e salina como grupo controle. As amostras de dentinas foram obtidas nas profundidades de 0 – 100 e de 100 – 200 µm. Estas foram levadas para contagem de unidade formadora de colônias (UFC) e para análise da viabilidade bacteriana através da microscopia de fluorescência. Como resultados, tanto a clorexidina como o hidróxido de cálcio apresentaram ação antimicrobiana contra o E. faecalis, porém, a clorexidina apresentou maior atividade antimicrobiana quando comparada com o hidróxido de cálcio, e a clorexidina associada com o hidróxido de cálcio teve uma ação semelhante a clorexidina isolada. Vaghela e colaboradores (2011) avaliaram eficácia antimicrobiana no processo de desinfecção de túbulos dentinários utilizando como veículos para o hidróxido de cálcio o propilenoglicol e iodofórmio em óleo de silicone em comparação ao gel de clorexidina a 2 % conta E. faecalis e C. albicans. O estudo in vitro utilizou blocos de dentes humanos e as raspas de dentina foram removidas numa profundidade de 200 µm e 400 µm. Como grupo controle foi utilizado salina. O gel de clorexidina a 2 % apresentou uma efetividade antibacteriana e antifúngica superior aos demais grupos. O tipo de veículo alterou as propriedades antimicrobianas do hidróxido de cálcio: quando associado ao propilenoglicol, o hidróxido de cálcio teve maior ação antibacteriana contra o E. faecalis, e quando associado ao iodofórmio com óleo de silicone, o hidróxido de cálcio apresentou uma maior ação antifúngica contra C. albicans. Kayaoglu e colaboradores (2011) compararam a atividade antibacteriana da própolis com clorexidina a 2 % e o hidróxido de cálcio em um estudo in vitro contra E. faecalis. As raspas de dentina foram coletadas nos tempos de 1 e 7 dias após o uso da medicação intracanal e concluíram que a clorexidina foi desinfetante mais potente nos dois tempos e que a ação antibacteriana do própolis foi semelhante ao hidróxido de cálcio. Com o objetivo de avaliar a influência do gel de clorexidina a 2 % sobre a o pH, a liberação de cálcio e a capacidade de redução de endotoxinas da pasta de hidróxido de cálcio, Signoretti e colaboradores (2011) realizaram um estudo, com duração de 30 dias, onde o grupo I era formado por hidróxido de cálcio em solução salina, grupo II hidróxido de cálcio associado a clorexidina 2 % e grupo III formado por clorexidina 2 %. O grupo I e II apresentaram um pH alcalino durante todo o estudo porém, o grupo I apresentou maior valor de pH que o grupo II após os 30 dias. Em relação à liberação de cálcio, o grupo II liberou mais cálcio que o grupo I após 15 dias. E o grupo II e III apresentou uma maior redução de endotoxinas quando comparado ao grupo I. Foi observado que, in vitro, a adição da clorexidina não interfere nas propriedades químicas do hidróxido de cálcio e que nenhuma das 32 pastas avaliadas pode reduzir completamente o teor de endotoxinas; porém, a adição de clorexidina ao hidróxido de cálcio, aumentou a redução de endotoxinas em comparação ao uso isolado. 2.4. AS NANOPARTÍCULAS São sistemas de liberação controlada de fármacos e apresentam como principais vantagens ao sistema de dosagem convencional, a maior eficiência terapêutica pela liberação progressiva e controlada do fármaco encapsulado, necessidade de menor concentração do mesmo e, por isso, diminuição significativa da toxicidade e, promoção de um maior tempo de ação (NHUNG et al, 2007). As nanopartículas lábeis podem-se apresentar na forma de lipossomas, nanoemulsões, nanopartículas poliméricas (nanoesferas e nanocápsulas), e nanopartículas lipídicas sólidas. As nanopartículas poliméricas são carreadores de fármacos, que apresentam tamanho inferior a 1 µm, e são compostas, principalmente, por polímeros biodegradáveis. Podem ser nanocápsulas ou nanoesferas que diferem entre si pela sua composição e organização estrutural (SCHAFFAZICK et al, 2003) como mostra a Figura 8A. As nanoesferas não apresentam óleo em sua composição e, por isso, não apresentam um núcleo oleoso definido e, sim, um sistema monolítico em que o fármaco encontra-se homogeneamente disperso ou solubilizado no interior da matriz polimérica (SCHAFFAZICK et al, 2003). As nanocápsulas são sistemas nanovesiculares apresentando um núcleo oleoso rodeado por uma matriz polimérica. A cavidade pode conter um composto ativo líquido ou sólido ou uma dispersão molecular (FESSI et al, 1989). Este reservatório pode ser lipofílico ou hidrofílico de acordo com a forma de obtenção e material utilizado. Também podem conter o composto ativo na sua superfície ou difundido na matriz polimérica (KHOEE e YAGHOOBIAN, 2009). 33 A B Figura 8: Representação esquemática de (a) nanocápsulas e (b) nanoesferas; e B. Representação 1 2 esquemática de nanopartículas lipídicas sólidas (STROHER, ARMIJO e RAFFIN, 2010). As nanopartículas lipídicas sólidas foram desenvolvidas no início da década de 1990 como um sistema de transporte alternativo ao sistema tradicional existente, como emulsões, lipossomas e nanopartículas poliméricas (MULLER et al, 2000; MEHNERT e MADER, 2001; MULLER et al, 2002; ALHAJ et al, 2008). Apresentam como principais vantagens sua estabilidade química, proteção do composto ativo contra degradação, liberação controlada, excelente tolerância, e produção em larga escala favorável (ALHAJ et al, 2008), além de poder ser utilizados tanto com fármacos hidrofóbicos como hidrofílicos (MULLER et al, 2000). Muitos métodos têm sido desenvolvidos para preparar as nanopartículas lipídicas sólidas, tais como alta pressão de homogenização (SIEKMANN, WESTESEN, 1994; LANDER et al, 2000; LIPPACHER et al, 2002, LIPPACHER et al, 2004), solvente ou emulsificação por evaporação (SIEKMANN, WESTESEN, 1994), ultra-som ou altas taxas de cisalhamento e pelo método de difusão do solvente (HU et al, 2005; 2006). As nanopartículas lipídicas com partículas sólidas na sua matriz (Figura 8B) são derivadas a partir de emulsões óleo/água mediante a simples substituição de lipídios líquidos por lipídios sólidos à temperatura ambiente (MULLER et al, 2007). Durante o processo de produção, os lipídios são fundidos e o fármaco dissolvido nesta fase oleosa, que posteriormente, é dispersa em uma solução aquosa surfactante. A préemulsão obtida é homogenizada a alta pressão produzindo uma nanoemulsão quente óleo/água. Após o resfriamento, gotas se cristalizam formando nanopartículas lipídicas com partículas de matriz sólida (MULLER et al, 2007). Ao se preparar uma nanopartícula lipídica sólida apenas com lipídios sólidos, as partículas da matriz tendem a formar um cristal perfeito deixando um espaço limitado para 34 acomodar o fármaco, isto limita a capacidade de armazenamento, podendo levar à expulsão do composto ativo da matriz lipídica durante o armazenamento (BUNJES, WESTESEN e KOCH, 1996). Já a utilização da mistura de lipídios sólidos e líquidos faz com que ocorra a formação de partículas de matriz com imperfeições, proporcionando mais espaços para acomodar o composto ativo proporcionando um aumento na quantidade de composto no interior da matriz durante o armazenamento. Poderia se afirmar que a perfeição do sistema é sua imperfeição na matriz cristalina (MULLER et al, 2007). O uso da clorexidina em nanopartículas foi descrito primeiramente por Lboutounne e colaboradores (2002) trabalho no qual foi realizada a encapsulação da clorexidina base em nanocápsulas de poli-ε-caprolactona e sua atividade bactericida residual avaliada, in vivo, como agente antiséptico comparando um detergente desinfetante de clorexidina ao que apresentava nanocápsulas de clorexidina, obtendo como resultado uma ação bactericida sustentada por mais de 8 horas do detergente que continha nanocápsulas de clorexidina. Nhung e colaboradores (2007) compararam a ação do gel de nanocápsulas de clorexidina (Nanochlorex) com 2-propanol 60 % (v/v) e gel à base de etanol 62 % (v/v) (Purrell) como agente antiséptico sob a flora da pele de residentes e confirmou ação imediata e sustentada do efeito bactericida do Nanochlorex constituindo-se como um meio promissor de desinfecção e higienização das mãos em diversos procedimentos. Meng e colaboradores (2009) tiveram como objetivo elaborar um composto formado por acetato de clorexidina (CA) intercalado com cristais de montmorilonita (MMT). No estudo de liberação, apresentou um efeito burst inicial nas primeiras 24 horas e continuou seu processo de liberação até 72 horas. A atividade antibacteriana foi analisada pelo método da zona inibitória contra Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa e os resultados indicaram forte atividade antibacteriana contra bactérias Gram positivas e Gram negativas. Assim, concluíram que o MMT poderia ser sugerido como um carreador de entrega controlada de fármacos. Huynh e colaboradores (2010) desenvolveram um sistema de liberação controlada de diacetato de clorexidina (CDA) a base de poliuretano em dois formatos, em filmes ou em sanduíches de poliuretano, obtidos através da evaporação do solvente. A liberação de CDA foi dependente da concentração inicial de fármaco, da estrutura do sistema (filme ou sanduíche) e da natureza do meio de liberação (água destilada ou solução aquosa de NaCl a 0,9 %). A taxa 35 de liberação foi significantemente menor em solução fisiológica. Para CDA-filme, a liberação se prolongou por até 11 dias e, em CDA-sanduíche, por até 29 dias. O estudo antibacteriano foi realizado com CDA-filme em Staphylococcus aureus e Staphylococccus epidermidis permanecendo com atividade antibacteriana por 35 dias. Musial e colaboradores (2010) observaram a liberação de clorexidina quando associada à metilcelulose e poli(ácido acrílico) como carreadores poliméricos, na forma de gel. As taxas de liberação e concentração de clorexidina foram comparadas com sua respectiva viscosidade, pH e condutividade nas temperaturas de 22 °C, 32 °C (como temperatura corporal de referência) e 42 °C . Em observação em MEV, com auxílio do EDS, os átomos de cloro foram identificados e co-relacionados com a presença de clorexidina, desta forma a distribuição da clorexidina na matriz polimérica se mostrou mais homogeneamente dispersa na matriz de poli(ácido acrílico). A taxa de liberação de clorexidina no sistema de metilcelulose foi afetada pela temperatura, quanto maior o aumento da temperatura, maior a taxa de liberação da clorexidina. Em poli(ácido cítrico), a temperatura não influenciou significantemente na liberação do fármaco. Ao final de 10 h, teve-se um aumento em torno de 35 % da taxa de liberação no sistema de metilcelulose enquanto que na poli(ácido cítrico) o aumento foi de apenas 0,5 %. Na Odontologia, alguns estudos utilizando nanopartículas vêm sendo realizados. Bouillaguet e colaboradores (2006) testaram a citotoxicidade de três diferentes cimentos endodônticos: AH Plus, Epiphany e GuttaFlow (que apresenta nanopartículas de prata na sua composição), em culturas celulares através do ensaio MTT, e os resultados mostraram que a maioria dos materiais apresentavam riscos significativos. Após o período de 72 h, o GuttaFlow se apresentou significativamente menos tóxico que o AH Plus e Epiphany, porém sua toxicidade aumentavam com o tempo e isso poderia estar atribuído à liberação de partículas de prata. Com o objetivo de investigar a atividade antimicrobiana e a eficácia de impedimento de formação do biofilme no processo de desinfecção de canais radiculares pelo uso de nanopartículas associadas ao cimento de óxido de zinco e eugenol, Kishen e colaboradores (2008) numa primeira etapa, avaliaram as propriedades físicas e antimicrobianas de três diferentes tipos de nanopartículas: nanopartículas de óxido de zinco, nanopartículas de quitosana e nanopartículas de óxido de zinco com revestimento de múltiplas camadas de quitosana. A ação antimicrobiana das nanopartículas de quitosana apresentou maior atividade, porém, diminuída quando adicionado ao cimento de óxido de zinco e eugenol. As 36 nanopartículas de óxido de zinco, ao contrário, apresentavam menor ação antimicrobiana, mas em associação ao cimento de óxido de zinco e eugenol, apresentaram maior atividade antimicrobiana. A adição de nanopartículas de óxido de zinco e de quitosana aumentou a atividade antimicrobiana do cimento de óxido de zinco e eugenol. Em uma segunda etapa, o efeito das nanopartículas na aderência de E. faecalis na parede da dentina foi avaliada e os resultados mostraram que o tratamento com as nanopartículas reduziram, significantemente, a adesão do E. faecalis na dentina e que a adição de nanopartículas de óxido de zinco e nanopartículas de quitosana inibiriam a recolonização microbiana e formação de biofilme, melhorando a capacidade antimicrobiana dos cimentos endodônticos. Gomes Filho e colaboradores (2010) realizaram o primeiro estudo para avaliar o uso de nanopartículas de prata como agente irrigante. O trabalho teve como objetivo analisar a resposta tecidual, em ratos, frente a implantes de tubos de polietileno preenchidos com esponja de fibrina embebidas em 1 mL de dispersão de 47 ppm de nanopartículas de prata, 23 ppm de nanopartículas de prata, e hipoclorito de sódio a 2,5 %. A análise foi feita em 7, 15, 30, 60 e 90 dias, sendo que, para cada período, 6 ratos foram sacrificados e os implantes e tecidos adjacentes removidos, fixados e preparados para análise em microscopia óptica. Os resultados obtidos mostraram que ambos os materiais provocaram reações moderadas em 7 dias. Após os 15 dias, a resposta inflamatória das nanopartículas de prata a 23 ppm e o hipoclorito de sódio a 2,5 % foram semelhantes ao grupo controle e, aos 30 dias, as nanopartículas de prata a 47 ppm foram semelhantes ao controle. A partir disto, concluíram que a dispersão de nanopartículas de prata foi biocompatível, especialmente em concentrações mais baixa. Pagonis e colaboradores (2010) avaliaram, in vitro, a ação de nanopartículas de poli (L-ácido láctico-co-ácido glicólico), PLGA, contendo azul de metileno sob ação de luz vermelha de comprimento de onda correspondente a 665 nm frente a E. faecalis. Utilizaram blocos de dentes humanos extraídos contaminados com E. faecalis divididos em três grupos: o grupo I não recebeu tratamento com nanopartículas de azul de metileno nem aplicação de luz; o grupo II foi tratada apenas com nanopartículas de azul de metileno e, o grupo III que recebeu tratamento com nanopartículas de azul de metileno seguida de aplicação de luz. O sinergismo da luz com as nanopartículas de azul de metileno promoveu uma redução significativa das unidades formadoras de colônia, sendo a utilização de nanopartículas de PLGA como meio de carreador de fármacos fotoativados um coadjuvante promissor no tratamento antimicrobiano de canais radiculares. 37 3. METODOLOGIA 3.1. DESENVOLVIMENTO DE NANOPARTÍCULAS CONTENDO CLOREXIDINA Todo o processo de desenvolvimento, caracterização e teste de estabilidade foram realizados no laboratório de Nanotecnologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). 3.1.1. Teste de solubilidade Um teste piloto foi realizado visando avaliar a solubilidade da clorexidina na fase orgânica da suspensão coloidal (sem a presença do polímero), bem como nos componentes da referida fase oleosa, seguindo a metodologia descrita na Farmacopéia Brasileira (4a edição). Para isso, foram testados diferentes tensoativos, entre eles o monoestearato de sorbitano, monoleato de sorbitano e lecitina; diferentes óleos, triglicerídio de ácidos cáprico/caprílico, cocoato de butilenoglicol, óleo de oliva e óleo de melaleuca; e, também, diferentes polímeros, a poli-ε-caprolactona e o Eudragit L100. A solubilidade da clorexidina em diferentes lipídios também foi avaliada, dentre eles a manteiga de karité em diferentes concentrações (5, 7 e 10 %), álcool cetílico, ácido esteárico e monoestearato de glicerila. 3.1.2. Preparo das suspensões contendo nanocápsulas de clorexidina Para o preparo das suspensões de nanocápsulas de clorexidina, tentou-se reproduzir o método de obtenção descrito por Lboutounne e colaboradores (2002). A partir da adaptação da metodologia de Lboutounne e colaboradores (2002), alguns componentes da fase orgânica foram substituídos, como mostra a Tabela 1, enquanto que os componentes da fase aquosa mantiveram-se os mesmos, água (53 mL) e polissorbato 80 (0,0766 mg). As suspensões contendo nanocápsulas de clorexidina foram obtidas pelo método de deposição interfacial de polímeros pré-formados, descrito por Fessi e colaboradores (1989). 38 Tabela 1: Componentes utilizados na fase orgânica para o preparo das suspensões contendo nanocápsulas de clorexidina. Componentes Tensoativo Quantidade monoestearato de sorbitano 0,0766 g monoleato de sorbitano lecitina Polímero poli-ε-caprolactona 0,1 g Eudragit L100 27 mL Acetona triglicerídio de ácido cáprico/ caprílico Óleo 0,31 g cocoato de butilenoglicol óleo de oliva óleo de melaleuca Clorexidina 0,2 % 0,02 g 1% 0,1 g 2% 0,2 g Os componentes da fase orgânica e aquosa foram mensurados e colocados em diferentes béqueres. Ambos foram vedados com parafilme para evitar a evaporação da acetona e da água e mantidos sob constante agitação magnética e em banho-maria a 40 °C pelo tempo de 30 minutos para a completa dissolução de seus componentes. A seguir, a fase orgânica foi vertida lentamente com auxílio de um funil na fase aquosa. A mistura formada permaneceu sob as mesmas condições de temperatura e agitação por mais 10 minutos e levada para o rota-evaporador, a 100 rpm, para eliminação do excesso de água e do solvente orgânico até obtenção do volume final desejado de 10 mL de suspensão. As concentrações de clorexidina avaliadas foram de 0,2, 1 e 2 % (m/v). 3.1.3. Preparo das suspensões contendo nanopartículas lipídicas sólidas de clorexidina. As suspensões contendo nanopartículas lipídicas sólidas de clorexidina (NCL) foram obtidas por um método inédito utilizando apenas alta taxa de cisalhamento. A composição da fase aquosa manteve-se a mesma, água (90 mL) e polissorbato 80 (3 g). Na fase oleosa alguns componentes foram testados com o objetivo de obter NCL com melhores 39 características físico-químicas. Os componentes utilizados na fase oleosa estão descritos na Tabela 2. Tabela 2: Componentes da fase oleosa utilizados no preparo de suspensões contendo NCL. Componentes Tensoativo Óleo Quantidade monoleato de sorbitano 2g manteiga de karité 5g álcool cetílico ácido esteárico monoestearato de glicerila Clorexidina 0,2 % 0,2 g 0,5 % 0,5 g 1% 1g 2% 2g Os componentes da fase oleosa foram pesados e colocados em banho-maria a 40 °C até completa fusão da manteiga de karité. A fase aquosa foi pesada e colocada sob constante agitação magnética, à temperatura de 55 °C, até que todos os componentes estivessem solubilizados. A fase aquosa foi vertida sobre a fase oleosa. A mistura foi levada ao Ultra-Turrax pelo tempo de 20 minutos e com agitação de 24.000 rpm (Figura 09). 40 A C B Figura 9: Método de obtenção de nanopartículas lipídicas sólidas contendo clorexidina por altas taxas de cisalhamento. A) Fase oleosa; B) Fase aquosa; C) Ultra-Turrax O volume final da suspensão foi de 100 mL e diferentes concentrações de clorexidina foram utilizadas (0,2; 0,5; 1,0 e 2,0 % m/v). Para efeito comparativo, foram preparadas suspensões brancas (NBR), sem a adição de clorexidina, sendo estas preparadas através do mesmo método. 3.1.4. Preparo dos géis contendo NCL. Os géis foram preparados a partir da adição de hidroxietilcelulose a 1,5 % (m/v) às suspensões. A mistura foi levada mantida por 24 h a 5 °C para completa hidratação da hidroxietilcelulose e formação do gel. Para obtenção do gel contendo clorexidina livre (CL), fez-se primeiramente o gel, adicionando a hidroxietilcelulose à água e, após 24 h, o fármaco disperso em polissorbato 80 foi acrescentado ao gel. 41 3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS As suspensões e géis contendo NCL foram caracterizadas com relação à determinação do pH, diâmetro médio das partículas, índice de polidispersão, potencial zeta, teor de fármaco e taxa de associação. 3.2.1. Determinação do potencial zeta O potencial zeta das suspensões e géis de NCL foi avaliado através de eletroforese em Zetasizer nano-ZS modelo ZEN 3600, Malvern Instruments, após diluição (500 vezes, v/v) em solução de NaCl 10 mM previamente filtrada através de membrana 0,45 µm Chromafil Xtra RC-45/25 (MACHEREY-NAGEL GmbH & Co. KG, Duren, Alemanha). Os resultados foram obtidos através dos valores da média de três amostras diferentes. 3.2.2. Determinação do índice de polidispersão e diâmetro das partículas A determinação do diâmetro médio e do índice de polidispersão das nanopartículas nas suspensões e géis foi realizada através de espalhamento de luz dinâmico (Zetasizer nano-ZS modelo ZEN 3600, Malvern Instruments), após sua diluição (500 vezes, v/v) em água. Os resultados foram determinados através dos valores da média de três amostras diferentes. 3.2.3. Determinação do pH O pH das suspensões e géis das NCL foi verificado em um potenciômetro (Digimed) previamente calibrado com solução tampão pH 4,0 e 7,0 e as medidas realizadas diretamente nas suspensões e géis. Os resultados foram expressos através da média de três amostras diferentes. 42 3.2.4. Validação da metodologia para doseamento da clorexidina As análises foram realizadas através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), avaliando-se parâmetros como linearidade, precisão, repetibilidade e exatidão (ANEXO 1). A determinação destes parâmetros para doseamento da clorexidina foram realizados de acordo com a Resolução n° 899 de 29 de maio de 2003 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2003). 3.2.4.1. Métodos Cromatográficos As análises foram realizadas por CLAE, através da modificação da fase móvel descrita por Chiapetta e colaboradores (2008) para quantificação da clorexidina. Utilizou-se um cromatógrafo líquido YL-Clarity, modelo L9100 CLAE System, equipado com bomba modelo YL9110, detector de arranjo de diodo modelo YL9160, Coluna cromatográfica - Lichropher 100 RP – 18 (250 mm, 4,0 mm, 5 µm) – Merck. A fase móvel utilizada foi constituída de acetonitrila, tampão fosfato monobásico de sódio 0,03 M e trietilamina em uma proporção de 80:20:0,1 (v/v), com pH aparente de 2,0 ajustado usando ácido fosfórico. As condições para injeção da amostra foram de volume de injeção de 20 µL e fluxo de 1,0 mL/min, temperatura de forno de 40°C, comprimento de onda de 260 nm, apresentando um tempo de retenção de 3,3 minutos. 3.2.4.2. Preparo das amostras para o doseamento da clorexidina Para a extração da clorexidina das suspensões e géis, as amostras foram colocadas em balões volumétricos de 10 mL e seu volume completado com fase móvel resultando numa concentração de 10 µg/mL. Os balões contendo os géis foram agitados no vórtex por 5 minutos, mantidos em ultrassom por 15 minutos e, após isso, o conteúdo dos balões foram transferidos pra tubos de ensaios, os quais foram levados para ultracentrifugar por 15 minutos a 3.500 rpm. As amostras de todos os balões foram filtradas com uma membrana de 0,45 µm 43 Chromafil Xtra RC-45/25 (MACHEREY-NAGEL GmbH & Co. KG, Duren, Alemanha) e analisadas em CLAE conforme descrito acima. 3.3. DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE DAS SUSPENSÕES E GÉIS CONTENDO NCL As suspensões e géis de NCL 0,2 e 0,5 %, juntamente com o NBR e CL foram submetidos ao estudo de estabilidade. Foram armazenadas em temperatura ambiente (25 ± 2 °C), geladeira (4 ± 2 °C) e estufa (40 ± 2 °C) por 90 dias. Os parâmetros analisados foram: características organolépticas (aparência, cor e odor), pH, teor e viscosidade. Foram determinados ainda o diâmetro médio das nanopartículas, índice de polidispersão e potencial zeta. As leituras foram realizadas nos tempos 0 e 90 dias. 3.4. ENSAIO MICROBIOLÓGICO Os ensaios microbiológicos foram realizados no laboratório de microbiologia da UNIFRA. Para tal, foram utilizadas cepas dos microrganismos Candida albicans (ATCC 90028) e Enterococcus faecalis (ATCC 29212) obtidas da Americam Type Culture Collection (ATCC). 3.4.1. Preparo da suspensão microbiana As cepas de C.albicans foram semeadas em meio contendo ágar Sabouraud Dextrose incubadas em estufa microbiológica a 37 °C por 24 h. O E. faecalis foi semeado em meio ágar Brain Heart Infusion (BHI) a 37° C por 24 h (VALERA et al, 2009). Após a incubação, as suspensões com os microrganismos em solução fisiológica estéril foram preparadas com uma turvação de 0,5 na escala Mac Farland, equivalente a 1,5x108 UFC/mL. 44 3.4.2. Concentração inibitória mínima A Concentração Inibitória Mínima (CIM) é a menor concentração de um agente antimicrobiano capaz de impedir, in vitro, o crescimento visível de determinado microrganismo a partir de testes de sensibilidade por diluição em ágar ou caldo (ANDREWS, 2001). A CIM deve ser única para uma mesma substância, considerando-se o mesmo microrganismo, porém pode variar dependendo do microrganismo analisado. A CIM foi determinada por meio da técnica de microdiluição em caldo MuellerHinton (Difco) para E. faecalis e C. albicans e o ensaio foi realizado em placas de 96 poços de microdiluição nos grupos descritos na Tabela 3. Tabela 3: Divisão dos grupos de acordo com a medicação testada para determinação da CIM. Grupos Medicação Suspensão de clorexidina 0,5% Suspensão CL 0,5 % Suspensão NCL 0,5 % Suspensão de nanopartículas lipídicas de clorexidina 0,5% Gel de clorexidina a 0,5% Gel CL 0,5 % Gel NCL 0,5 % Gel de nanopartículas lipídicas de clorexidina a 0,5% Gel de nanopartículas sem fármaco (branco) Gel NBR Gel CL 0,5 % HCA Gel NCL 0,5 % HCA Gel de clorexidina a 0,5% + pasta de hidróxido de cálcio Gel de nanopartículas lipídicas de clorexidina a 0,5% + pasta de hidróxido de cálcio Pasta de hidróxido de cálcio HCA O inóculo foi preparado no mesmo meio a uma densidade ajustada para 0,5 da escala McFarland (1,5 x 108 UFC/mL) e diluída numa proporção de 1:10. No poço número 1, havia 100 % da suspensão, pasta ou associação. Para o poço de número 2, foi adicionado 50 % da quantidade presente do poço 1 reduzindo a concentração do fármaco em 50 %, e assim sucessivamente até antigir a concentração de fármaco que permitiu o crescimento microbiano, a concentração de fármaco presente no poço anterior a este foi considerada a CIM, como pode ser visto no fluxograma da Figura 10. 45 100 µL da formulação 100 µL de meio+ 10 µL de inóculo 100 µL 100 µL 100 µL 100 µL de meio+ 10 µL de inóculo 100 µL de meio+ 10 µL de inóculo 100 µL de meio+ 10 µL de inóculo Poço n°1 Poço n°2 Poço n°3 Poço n°N Concentração = X concentração = X/2 concentração = X/4 concentração = X/? Figura 10: Fluxograma ilustrativo da microdiluição para determinação da CIM. Para cada formulação, a primeira concentração partiu de 50 % da concentração total do fármaco presente na suspensão, gel ou associação. Para as suspensões e géis CL e NCL 0,5 %, o CIM foi avaliado a partir da concentração de 2,5 mg/mL. Para a mistura NCL 0,5 % HCA a concentração partiu de 1,25 mg/mL. As bandejas (Figura 11) foram incubadas a 37 °C e as CIMs foram registradas após 24 h de incubação para a forma livre de clorexidina e 72 h para as formulações compostas por nanopartículas. O teste foi feito em triplicata e o 2,3,5–cloreto de trifeniltetrazólio foi usado como indicador de crescimento bacteriano. Figura 11: Placas de 96 poços para microdiluição e definição das CIMs. 46 3.4.3 Teste de difusão em ágar com cilindro de aço inoxidável Para o teste de difusão em ágar utilizando os cilindros de aço inoxidáveis, foram utilizadas 9 placas Petri. Para cada placa, foram aplicados 15 mL de ágar Mueller-Hinton (MHA) para formar uma camada base (Figura 12) e, depois de solidificado, acrescentados 5 mL de meio MHA para formar a camada de superfície, contendo o inóculo do microrganismo numa proporção de 50 mL de meio MHA para 1 mL de suspensão de inóculo, na temperatura ideal de 45 °C. 100 µL da formulação 5 mL de meio MHA + inóculo 15 mL de meio MHA Figura 12: Desenho ilustrativo dos procedimentos realizados para o teste de difusão em ágar com cilindros de aço inoxidável. Foram colocados 6 cilindros (8,0 x 1,0 x 10 mm; diâmetro interno = 6 mm) de aço inoxidável estéreis por placa após a solidificação do meio e adicionados 100 µL de cada formulação em cada cilindro, em triplicata (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988). As placas foram incubadas a 37 ºC e os diâmetros dos halos de inibição foram medidos com auxílio de paquímetro digital, em milímetros, nos tempos de 24, 48 e 72 h e sua potência calculada. Cada cepa microbiana foi avaliada contra as seguintes formulações: P1= CL 0,2 %; P2 = CL 0,5 %; P3 = propilenoglicol; A1 = NCL 0,2 %; A2 = NCL 0,5 %; A3 = NBR, distribuídas na placa de Petri conforma Figura 13. As amostras padrão (P1 e P2) foram feitas a partir da diluição de clorexidina 99,9 % (Sigma-Aldrich) em solução de dimetil sulfóxido (DMSO) (Nuclear) de forma a atingir a concentração desejada de clorexidina equivalente a concentração presente nas NCLs. 47 P1 A3 P2 A2 P3 A1 Figura 13: Esquema de distribuição das amostras na placa petri. 3.5. AVALIAÇÃO IN VITRO DA DEGRADAÇÃO DA CLOREXIDINA QUANDO ASSOCIADA À PASTA DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO A degradação da clorexidina livre e em nanopartículas associada ou não à pasta de hidróxido de cálcio foi avaliada no laboratório de Nanotecnologia da UNIFRA através da quantificação de clorexidina por CLAE e análise do pH. 3.5.1. Divisão dos grupos Para avaliar a degradação da clorexidina, os grupos para análise foram divididos de acordo com a Tabela 4. Tabela 4: Divisão dos grupos de acordo com a formulação. Grupos Gel CL 0,5 % Gel NCL 0,5 % Gel NBR Gel CL 0,5 % HCA Gel NCL 0,5 % HCA Medicação Gel de clorexidina a 0,5% Gel de nanopartículas lipídicas de clorexidina a 0,5% Gel de nanopartículas sem fármaco (branco) Gel de clorexidina a 0,5% + pasta de hidróxido de cálcio Gel de nanopartículas lipídicas de clorexidina a 0,5% + pasta de hidróxido de cálcio HCA Pasta de hidróxido de cálcio 48 3.5.2. Preparo das amostras A associação dos géis à pasta de hidróxido de cálcio (Calen) foi feita na proporção 1:1 (m/m), sobre placa de vidro com auxílio de um espátula plástica e armazenado recipiente e ambiente apropriado, visando evitar sua degradação precoce (Figura 14). A B C D Figura 14: Etapas realizadas para o preparo das amostras. A) e B) A associação dos géis à pasta de hidróxido de cálcio foi feita na proporção 1:1, em peso; C) Mistura dos géis; D) Géis armazenados em recipiente e ambiente apropriado. 49 3.5.3. Determinação do pH O pH foi verificado, em função do tempo, em um pHmetro (Digimed) previamente calibrado com solução tampão pH 4,0 e 7,0 e as medidas realizadas a partir da diluição de 0,01 g da amostra em 10 mL de água. 3.5.4. Doseamento da clorexidina Para o doseamento da clorexidina incorporada ao gel e à pasta de hidróxido de cálcio, as amostras foram pesadas de acordo com a concentração, de forma a se obter uma concentração final para análise de 20 µg/mL. Os géis e pastas foram pesados em um balão volumétrico de 10 mL e o volume completado com a fase móvel (Figura 15). Os balões foram agitados no vortex por 5 minutos, mantidos em banho de ultrassom por 15 minutos e, após isso, o conteúdo dos balões foi transferido para tubos de ensaios, os quais foram levados para centrifugar por 15 minutos a 3.500 rpm. O sobrenadante das amostras foi filtrado em membrana (0,45 µm poro) e analisadas em CLAE. A B C D Figura 15: Preparo das amostras para análise em CLAE. A) Géis e pastas foram pesados em um balão volumétrico de 10 mL; B) Os balões foram agitados no vortex por 5 minutos; C) Géis levados para sonicar por 15 minutos; D) O conteúdo dos balões foi transferido para tubos de ensaios e depois para centrífuga por 15 min. 50 3.6. PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO NOS TÚBULOS DENTINÁRIOS 3.6.1. Obtenção dos dentes humanos Para a avaliação da profundidade de penetração das nanopartículas nos túbulos dentinários foram utilizados nove dentes humanos extraídos cedidos pelo Banco de Dentes da Faculdade de Odontologia da UNIFRA. Sua utilização foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da mesma instituição sob parecer de n0 335.2010.2. Os elementos apresentavam ápice radicular completo, raiz única e reta e foram armazenados em solução fisiológica a 0,9 %, a fim de permanecerem constantemente hidratados. 3.6.2. Preparo das amostras Os elementos foram seccionados transversalmente no limite amelocementário com auxílio de um disco diamantado duplo (K. G. Sorensen, São Paulo, SP - Brasil) e sua superfície externa impermeabilizada com uma camada de adesivo epóxi Araldite (BRASCOLA – São Bernardo do Campo, SP). O canal foi localizado com auxílio da lima tipo K-file nº 10 (DENTSPLY Ind. Com. Ltda. – Petrópolis, RJ), a qual percorreu todo interior do canal até a sua visualização no forame apical para determinar o comprimento real da raiz. O comprimento real de trabalho foi estabelecido 1 mm aquém do comprimento real da raiz. O preparo biomecânico foi feito com limas K-file 1ª série (#15 - #40) (DENTSPLY Ind. Com. Ltda. – Petrópolis, RJ) e o soro fisiológico 0,9 % foi utilizado como irrigante a cada troca de instrumento. Ao final do preparo, o canal foi irrigado com 10 mL de solução de EDTA a 17 % para remoção da smear layer. Os canais foram secos com cone de papel absorvente (TANARI Ind. Ltda. – Manacapuru, AM) de diâmetro compatível com o canal principal. Nos grupos nos 51 quais foi utilizada medicação, estas foram introduzidas no interior do canal com auxílio de agulha e seringa até o completo extravasamento da medicação pela região apical. O excesso de material foi removido das duas extremidades e o acesso coronário e apical foram selados com cimento provisório (COLTOSOL – Vigodent Indústria e Comércio – Bonsucesso / RJ - Brasil). No grupo controle, o canal permaneceu vazio e suas extremidades seladas com cimento provisório. As amostras foram distribuídas em três grupos com três elementos em cada grupo, como mostra na Tabela 5. Tabela 5: Distribuição dos grupos. Grupos Medicamento Amostras (n) Controle Sem medicação 3 Suspensão de nanopartículas de clorexidina a 0,5% 3 Gel de nanopartículas de clorexidina a 0,5% 3 Suspensão NCL 0,5 % Gel NCL 0,5 % O medicamento permaneceu no interior do canal por um período de 15 dias; após isso, fez-se a remoção do cimento provisório e a raiz foi irrigada com soro fisiológico a 0,9 % para a remoção dos restos dos medicamentos. Foram confeccionados sulcos longitudinais de orientação na face mesial e na face distal das raízes com disco diamantado duplo (K. G. SORENSEN, São Paulo, SP - Brasil) em baixa rotação para posterior clivagem dos elementos. As amostras foram levadas para o interior de um dessecador para o processo de desidratação da estrutura dentária, onde permaneceu em vácuo por um período de 10 dias. As amostras prontas foram fixadas em stub, metalizadas com ouro e analisadas em microscopia eletrônica de varredura (MEV) com voltagem de 10 kV no centro de microscopia da UFRGS (Jeol Scanning Microscope JSM-5800, Japan) para análise da penetração das nanopartículas de clorexidina no interior dos túbulos dentinários. Na Figura 16, podemos observar toda a sequência da metodologia de forma resumida. 52 A B E C D F Figura 16: Etapas realizadas para o processo de análise das nanopartículas lipídicas no interior do elemento dentário. A) Padronização das amostras; B) confecção de sulcos para o processo de clivagem; C) Clivagem da estrutura dentária; D) Dessecador utilizado para o processo de desidratação das amostras; E) Amostras fixadas em stub e metalizadas com ouro; F) MEV/EDS utilizado para registro das micrografias e espectros. Foi utilizado como método auxiliar ao MEV, a espectrometria de energia dispersiva de raios-X (EDS), técnica na qual a amostra é bombardeada por elétrons e a energia dos átomos presentes é detectada e a concentração do átomo expresso em um espectro. O átomo de interesse foi o cloro por estar presente na composição química da clorexidina, assim como Musial e colaboradores (2010) que utilizaram o EDS para localizar átomos de cloro e, assim, identificar a presença de clorexidina em nanocápsulas de metilcelulose e poli(ácido acrílico). 3.7. ESTUDO IN VIVO Para realização do estudo in vivo, foram utilizados ratos machos Wistar, imunocompetentes, pesando 300 – 350 g (N = 8 por grupo; N total = 56) provenientes do Biotério da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL; Pelotas, RS). Os animais foram mantidos no Vivário da PUCRS, em estantes ventiladas, equipadas com filtros de entrada e 53 saída de ar, com temperatura controlada (22 1 oC) e ciclo claro-escuro de 12 h. Os animais receberam ração peletizada e água filtrada ad libitum. Os procedimentos experimentais seguiram as recomendações para o cuidado com animais de laboratório e normas éticas para a experimentação em animais conscientes, do Guia de Uso e Cuidado com Animais Laboratoriais do National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos da América, que são adotadas pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Foram respeitados os preceitos apresentados na Lei No 11.794, de 9 de outubro de 2008 e os protocolos experimentais foram submetidos à apreciação do Comitê de Ética para o Uso de Animais (CEUA) da PUCRS sob numero 10/0021. Para a realização dos procedimentos odontológicos, os animais foram anestesiados pela administração intraperitoneal da associação de xilazina (10 mg/kg) e quetamina (100 mg/kg). Foi realizada a administração do fármaco analgésico Paracetamol 80 mg/kg, 2 vezes ao dia, via oral durante todo o experimento. No período de tempo adequado, a eutanásia foi realizada por anestesia profunda com isofluorano. Depois da eutanásia, as amostras pertinentes ao estudo foram coletadas e o lixo biológico foi destinado ao setor de descarte da PUCRS. 3.7.1. Distribuição dos grupos e cálculo do tamanho da amostra Os grupos foram distribuídos de acordo com a medicação utilizada, como descrito na Tabela 6. Tabela 6: Distribuição dos animais nos diferentes grupos experimentais. Grupos Medicação Amostras (n) Propilenoglicol 8 Gel de clorexidina a 0,5% 8 Gel de nanopartículas lipídicas de clorexidina a 0,5% 8 Gel de nanopartículas sem fármaco (branco) 8 Gel CL 0,5 % HCA Gel de clorexidina a 0,5% + pasta de hidróxido de cálcio 8 Gel NCL 0,5 % Gel de nanopartículas lipídicas de clorexidina a 0,5% + 8 Controle Gel CL 0,5 % Gel NCL 0,5 % Gel NBR HCA pasta de hidróxido de cálcio HCA Pasta de hidróxido de cálcio 8 54 3.7.2. Indução das lesões periapicais Com o objetivo de induzir lesões periapicais, os animais foram anestesiados através da mistura de xilazina e quetamina, como descrito acima. Após a confirmação da anestesia, foram realizadas aberturas coronárias nos primeiros molares inferiores, com brocas diamantadas esféricas de alta rotação (1/2 mm de diâmetro), sob irrigação constante. Após a remoção da polpa coronária, a cavidade pulpar ficou exposta ao meio bucal por um período de 21 dias, para a indução de lesão periapical (IWAMA et al, 2003). 3.7.3. Instrumentação e preenchimento do canal Decorridos 21 dias da indução das lesões periapicais, os animais foram novamente anestesiados. O preparo do canal radicular foi realizado pela técnica escalonada, utilizando-se limas K-file de número 08, 10, 15, 20 e 25, sucessivamente, em um comprimento de trabalho de 4 mm, determinado de acordo com o tamanho médio das raízes de molares inferiores de rato. Hipoclorito de sódio a 1 %, em um volume de 200 L, foi utilizado como solução irrigante. A secagem do canal foi feita com cones de papel (TANARI Ind. Ltda – Manacapuru, AM) de calibre 25, esterilizados e o preenchimento com a medicação intracanal foi realizado com auxílio de seringa e agulha de insulina, conforme a descrição anterior, até o comprimento de trabalho. Após a colocação da medicação intracanal, as cavidades foram seladas com amálgama de prata e, os ratos permaneceram pelo período de 30 dias com a medicação intracanal (adaptado de WAGNER et al, 2011) para posterior eutanásia e realização das análises descritas a seguir. 3.7.4. Exame radiográfico Após a eutanásia, as mandíbulas foram removidas cirurgicamente, dissecadas, fixadas em solução tamponada de formalina 10 % e levadas para a avaliação radiográfica das alterações periapicais. Utilizou-se um aparelho de Raio X (DABI-ATLANTE, Ribeirao Preto, 55 SP, Brazil) com sensor digital (KODAK Dental System, modelo RVG 6100 Digital Radiography System) e armazenadas com resolução de 1 Megabit, e salvo em formato JPEG. As radiografias foram realizadas de forma padronizada seguindo os seguintes parâmetros: a região do primeiro molar inferior deveria formar angulo perpendicular ao raioX, a potencia utilizada foi de 70 kvp, com distância foco/filme de 30cm e tempo de exposição constante de 0,2 s. A área da lesão radiolúcida periapical foi medida com o auxilio do programa Adobe® Photoshop® CS4, versão 11.0 (WOLLE et al, 2012). 3.7.5. Análise histológica A análise histológica foi realizada no Laboratório de Patologia da UFPEL. As mandíbulas permaneceram armazenadas em solução tamponada de formalina 10 % até seu processo de descalcificação em solução de EDTA a 5 % (pH 7,4), durante 30 dias, sendo a solução renovada a cada dois dias, para corte das peças. Para análise histopatológica, blocos de parafina contendo as mandíbulas foram seccionados seriadamente, com espessura média de 6 m no plano vestíbulo-lingual. Todas as secções foram coradas com hematoxilina e eosina, observadas em microscópio óptico com aumento de 100 e 400 vezes. A intensidade do infiltrado inflamatório foi classificada, conforme descrito por Armada-Dias e colaboradores (2006), com os seguintes escores: ausente (0), discreto (1), moderado (2) ou severo (3). A Figura 17 representa um fluxograma das atividades para realização etapa in vivo. 56 Figura 17: Fluxograma das etapas para o estudo in vivo. 3.7.6. Análise Estatística A análise estatística dos resultados foi realizada por meio de análise de variância (ANOVA) de uma via, seguida pelo teste de Fisher (α=0,05) + DP. 57 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. PREPARO DAS NANOPARTÍCULAS CONTENDO CLOREXIDINA 4.1.1. Teste de solubilidade A partir do teste de solubilidade, foi possível observar que a clorexidina não era solúvel em triglicerídio de ácidos cáprico/caprílico. De todos os diferentes óleos testados, como descrito no item 3.3.1., o cocoato de butilenoglicol foi o óleo que melhor solubilizou a clorexidina, sendo então, o óleo de escolha para o preparo das nanocápsulas de clorexidina. Para avaliar a solubilidade da clorexidina em diferentes lipídios (descritos no item 3.3.1) que poderiam compor a fase oleosa para obtenção das nanopartículas lipídicas sólidas, observou-se que a manteiga de karité melhor solubilizou a clorexidina e, dentre as concentrações avaliadas, a de 5 % apresentou melhor desempenho, já que nas concentrações de 7 % e 10 % era visível um excesso de óleo no sobrenadante. 4.1.2. Preparo das nanocápsulas poliméricas de clorexidina Neste estudo, tentou-se reproduzir o método de obtenção de nanocápsulas contendo clorexidina descrita por Lboutounne e coloraboradores (2002), sendo testadas as concentrações de clorexidina 1 % e 0,25 %. Alguns componentes da formulação original de Lboutounne e colaboradores (2002) foram substituídos devido à indisponibilidade dos mesmos e as concentrações de clorexidina base variaram de 0,2 até 2 %. Sem obter sucesso, as proporções foram alteradas, como mostra a Tabela 7. 58 Tabela 7: Composição das nanocápsulas poliméricas alterada por este estudo. Fase orgânica Quantidade Fase aquosa Quantidade PCL 100 mg Água 53 mL Monoestarato de sorbitano 76,6 mg Polissorbato 80 76,6 mg Acetona 27 mL Cocoato de butilenoglicol 310 mg Clorexidina 2% 200 mg 1% 100 mg 0,5 % 50 mg 0,2 % 20 mg Volume final = 10 mL Assim que as formulações eram rotaevaporadas, observava-se a precipitação do fármaco nas paredes do balão em todas as concentrações, além de tamanho de partículas elevado (700 nm) e não contínuo, chegando à escala de micrômetros, valores bem diferentes dos encontrados por Lboutounne e colaboradores (2002) que foram em torno de 230 nm. O tensoativo foi substituído por monoleato de sorbitano e lecitina. Mesmo assim, o fármaco continuou se depositando e o tamanho das partículas não foi compatível com o desejado. Como este estudo não conseguiu reproduzir o método de obtenção de nanocápsulas contendo clorexidina, alternativas de nanocarreadores como nanoesferas e nanopartículas lipídicas sólidas foram testados. Para obtenção de nanoesferas contendo clorexidina, o óleo foi eliminado e, desta forma, conseguiu-se um tamanho médio de partículas em torno de 300 nm, mas ainda permanecia depositada no fundo do balão uma película, parecendo ser o polímero, impossibilitando sua utilização no estudo. 4.1.3. Preparo das NCL Para definir a concentração ideal de fármaco, as NCL foram obtidas com 0,2; 0,5, 1 e 2 % de clorexidina. Nas concentrações de 1 e 2 %, houve grande deposição do fármaco e o tamanho das partículas não era uniforme. Optou-se pela concentração de 0,5 % para a realização dos testes microbiológicos, in vitro nos dentes humanos, e in vivo em ratos. 59 4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS NCL As características físico-químicas das suspensões e géis das NCLs 0,2 e 0,5 % e NBR foram avaliadas através da determinação da distribuição do diâmetro médio das partículas, índice de polidispersão, potencial zeta, pH e teor do ativo. As suspensões e géis contendo NBRs serviram como controle do experimento. A caracterização físico-química das mesmas é de suma importância, pois através delas pode-se avaliar se houve alterações no comportamento destes sistemas com a incorporação do fármaco. Da mesma maneira, procedeu-se ao estudo da formulação de CL livre (não encapsulada). Na Tabela 8, encontra-se descrita a caracterização físico-química das suspensões de NCLs nas concentrações de 0,2 e 0,5 %; NBR; e na forma livre. Podemos observar que as NCLs 0,2 e 0,5 %, não apresentaram diferença estatística entre si. Já a formulação com o fármaco livre apresentou diferença estatística na maioria dos parâmetros analisados quando comparado com os demais grupos. Tabela 8: Valores referentes à caracterização físico-química das suspensões contendo NCL 0,2 e 0,5 % e NBR, e do fármaco livre um dia após sua obtenção (+DP). Doseamento Potencial (%) zeta (mV) a Diâmetro pH (nm) 88,5 ± 2,8a 8,4 ± 0,0a 95,0 ± 3,1 NCL 0,5 % 94,2 ± 2,7a -13,5 ± 2,3b 0,245 ± 0,010a 84,6 ± 1,3a 8,7 ± 0,0a,c -- -16,9 ± 0,2c 0,229 ± 0,014a 124,3 ± 2,0b 7,2 ± 0,4b 109,6 ± 2,5a -0,02 ± 0,52d 0,548 ± 0,081b 323,5 ± 44,6c 9,1 ± 0,0c CL livre 0,249 ± 0,003 a NCL 0,2 % NBR -5,2 ± 0,4 a IPD a-b-c-d: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. O doseamento não apresentou diferença estatística entre as NCLs 0,2 e 0,5 % em relação ao livre, não havendo degradação do fármaco durante o processo de produção das nanopartículas, mesmo empregando alta taxa de cisalhamento por um tempo prolongado. O potencial zeta foi o parâmetro no qual todos os grupos apresentaram-se estatisticamente 60 diferentes, sendo o potencial zeta reduzido quanto maior a concentração de clorexidina na formulação, mostrando a forte influência da carga do fármaco na formulação final. As formulações nanoparticuladas não apresentaram diferença significativa em relação ao índice de polidispersão, demonstrando que a adição de fármaco na formulação não alterou a monodispersibilidade das formulações, sendo todos na faixa de 0,2 e adequados para aplicação farmacêutica (SCHAFFAZICK et al, 2003). O IPD apresentou diferença estatística das nanopartículas em relação ao fármaco livre, verificando-se a importância do lipídeo estruturante (manteiga de karité) nas formulações. Na Figura 18, podemos observar o gráfico que expõe o diâmetro médio das partículas. Os valores foram bastante semelhante entre as NCLs 0,2 e 0,5 %, 88,5 + 2,8 nm e 84,6 + 1,3 nm, respectivamente. Houve uma pequena diferença, porém estatisticamente significante, no tamanho das nanopartículas, nas duas concentrações, em relação às NBR, pois estas apresentaram valores de 124,3 + 2,0 nm. O fármaco livre apresentou os maiores valores de tamanho de partículas, por volta de 323,5 nm com um valor bastante elevado de DP (44,6), indicando uma média de tamanho de partícula não uniforme. Figura 18: Distribuição do tamanho médio das partículas (nm) inicial das suspensões contendo NCL 0,2 % (linha vermelha); 0,5 % (linha verde) e NBR (linha azul). Os valores de pH das NCLs 0,2 e 0,5 % não apresentaram diferença entre si e foram superiores a 8,4. Já a NBR apresentou o menor valor de pH, 7,2, e o fármaco livre o maior valor, 9,1. Este resultado corrobora com os dados já descritos acima demonstrando uma forte influência do fármaco na formulação de nanopartículas. Após a incorporação das suspensões de nanopartículas ao gel de hidroxietilcelulose, uma nova coleta de dados foi realizada e expressa na Tabela 9. Assim como ocorreu com as 61 suspensões, o gel com o fármaco livre apresentou diferença estatística com os demais grupos na maioria dos parâmetros analisados. Tabela 9: Valores referentes à caracterização físico-química dos géis contendo NCL 0,2 e 0,5 % e NBR, e fármaco livre um dia após sua obtenção (+DP). Doseamento Potencial (%) zeta (mV) NCL 0,2 % 93,6+0,3 a -3,21+0,32 NCL 0,5 % 95,4+0,1a NBR CL livre a IPD Diâmetro pH (nm) a 91,7+0,4a 8,1+0,1a 0,97+1,11b 0,260+0,004a 92,7+0,8a 8,5+0,1b -- -15,13+0,35c 0,230+0,012a 120,5+0,8a 6,1+0,1c 108,3+0,7a -0,07+0,46d 0,554+0,066b 374,6+26,9b 9,0+0,1d 0,254+0,003 a-b-c-d: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. O doseamento do gel livre apresentou o maior valor, porém não foi estatisticamente diferente dos valores encontrados para os géis nas concentrações 0,2 e 0,5 %, que também não apresentaram diferença estatística entre si e refletiram a concentração da suspensão usada como base para seu preparo, demonstrando que seu processo de produção não causou degradação do fármaco. O potencial zeta foi o parâmetro em que, novamente, todos os grupos apresentaram-se estatisticamente diferentes, podendo ser influenciado pelo dispersante, pelo pH, condutividade, concentração dos componentes presentes na formulação, inclusive o princípio ativo e pela força iônica do meio (TEIXEIRA, 2010). Provavelmente, a ação do fármaco esteja interferindo nestes valores já que os valores das suspensões nas duas concentrações encontraram próxima aos valores do fármaco livre como foi descrito na Tabela 9 e nos gráficos representados pela Figura 19. 62 A C B D Figura 19: Valores referentes a sobreposição dos gráficos do potencial zeta (mV) (A) da suspensão e gel de NCL 0,2 %; (B) da suspensão e gel NCL 0,5 %; (C) suspensão e gel NBR; e (D) suspensão e gel do fármaco livre. As linhas vermelhas representam o potencial zeta inicial, e as linhas verdes após os 90 dias. As nanocápsulas de clorexidina descritas no trabalho de Nhung e colaboradores (2007) apresentaram valores de potencial zeta de +34 + 9 mV. Este valor positivo pode estar relacionado, segundo o autor, pela clorexidina adsorvida na interface ao redor da parte externa do polímero ou incorporada na parte externa do polímero, pois as formulações sem o fármaco apresentaram valores negativos, típicos de formulações nas quais estão presentes PCL, fosfolipídios e tensoativos não iônicos como o polissorbato 80 e monoestarato de sorbitano (SCHAFFAZICK et al, 2003). As formulações de NCL não tinham a presença da PCL e, ao analisarmos os valores do potencial zeta da NBR, observamos que apresentaram valores negativos, provavelmente pela presença dos demais compostos citados acima. Baseado no pequeno aumento de potencial zeta visto no presente trabalho e na discussão de Nhung e colaboradores (2007), podemos inferir que as NCL devem possuir uma menor concentração de fármaco em sua superfície que as nanocápsulas desenvolvidas anteriormente. Da mesma maneira vista para as suspensões, o gel com fármaco livre apresentou o maior valor de IPD, acima de 0,5, demonstrando uma não uniformidade das partículas. Os grupos das NCL apresentaram valores semelhantes e próximos do ideal, em torno de 0,2. Ao compararmos os valores do IPD dos géis com as suspensões, verificamos que seus valores apresentaram pouca variação, não sendo de grande relevância e indicando uma 63 homogeneidade na distribuição do tamanho das partículas, prevendo uma boa estabilidade das suspensões e géis. O diâmetro médio das partículas das formulações dos géis não apresentou diferença estatística entre os grupos das NCL, apesar do branco apresentar uma média de tamanho de 120,5 + 0,8 nm, um pouco superior às NCL 0,2 e 0,5 % que foram, respectivamente, 91,7 + 0,4 nm e 92,7 + 0,8 nm. Já a formulação com o fármaco livre apresentou valor bastante superior, 374,6 + 26,9 nm. Se comparados estes valores médios de diâmetro das partículas dos géis com os das suspensões, podemos verificar que, em todos os grupos, a adição ao gel de hidroxietilcelulose não interferiu de forma significativa nestes valores, podendo ser observado nos gráficos representados pela Figura 20. B A C Figura 20: Valores referentes a sobreposição dos gráficos do tamanho médio das partículas (nm) (A) da suspensão e gel de NCL 0,2 %; (B) da suspensão e gel de NCL 0,5 %; (C) suspensão e gel de NBR. As linhas vermelhas representam as suspensões e as linhas verdes os géis. Os valores médios de diâmetro de partícula das nanocápsulas de clorexidina descritos por Nhung e colaboradores (2007) foram de 285 + 13 nm, valores superiores aos encontrados neste estudo para NCL; porém, compatíveis com os valores encontrados para este tipo de nanopartícula utilizada. No caso das nanocápsulas, sua utilização era para a via tópica e este diâmetro de partícula é considerado adequado. Por outro lado, no presente trabalho, a via de administração é intracanal, sendo interessante obtermos o menor tamanho de partícula possível a fim de elas alcancem toda a extensão dos canalículos dentinários. 64 Houve uma diferença significativa nos valores de pH entre todos os grupos dos géis. O menor valor de pH foi encontrado no gel de NBR, e o maior valor nos géis de CL livre, respectivamente de 6,1 e 9,0. Os valores do pH das suspensões Não foram afetados por sua adição no gel. 4.3. DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE DAS SUSPENSÕES E GÉIS CONTENDO NCL A análise da estabilidade é um processo importante para identificar fatores relacionados à formulação, à fabricação, condições de armazenamento ou ambientais, que podem, de alguma forma, influenciar na estabilidade do produto (BRASIL, 2004), a fim de assegurar a qualidade das formulações. Os estudos realizados para a determinação da estabilidade das suspensões e após incorporação no gel, levaram em consideração a determinação do diâmetro das partículas, pH, índice de polidispersão, potencial zeta e teor do ativo. As formulações contendo NBR foram avaliadas como controle do experimento e a caracterização físico-química das mesmas foi de suma importância para avaliar se houve alterações no comportamento destes sistemas após a incorporação do fármaco nanoestruturado. Assim como, a comparação foi realizada com o fármaco livre. Para este estudo, uma única suspensão de cada tipo foi preparada e dividida nas diferentes condições de armazenamento para que não houvesse diferença inicial entre os parâmetros. 4.3.1. Diâmetro médio das partículas e índice de polidispersão Como já foi resultado anteriormente, a análise do tamanho de partícula e do índice de polidispersão em função do tempo são parâmetros importantes que devem ser observados tanto na caracterização físico-química, como também, nos testes de estabilidade, pois alterações em seus valores podem indicar sedimentação do sistema (GUTERRES et al, 1995), o que interferiria diretamente no processo de estabilidade das suspensões e géis. 65 A Tabela 10 expressa os valores do diâmetro médio das partículas e IPD das suspensões de NCL 0,2 e 0,5 %, e NBR, respectivamente, no tempo de 0 dias e após o armazenamento em TA, GE e ES pelo período de 90 dias. Tabela 10: Diâmetro médio das partículas e IPD das suspensões de NCLs 0,2 e 0,5 % e NBR (+DP). Tempo (dias) NCL 0,2 % NCL 0,5 % NBR 88,5+2,8a-d 84,6+1,3a 124,3+2,0b-d-e GE 97,2+8,9a-b-d 85,5+2,8a 124,8+1,0b-d-e TA 87,7+1,9a-d 81,2+3,6a 121,9+1,4d-e ES 196,6+21,3c 197,8+25,7c 129,3+5,2e 0,249+0,003a-d-e 0,245+0,010a-d-e 0,229+0,014d-e-f GE 0,324+0,057b 0,293+0,031a-b-d 0,219+0,010e-f TA 0,315+0,086a-b 0,262+0,030a-d-e 0,223+0,007e-f ES 0,056+0,012c 0,059+0,024c 0,168+0,011f 0 Tamanho (nm) 90 0 IPD 90 a-b-c-d-e-f: as médias com as letras diferentes para o mesmo parâmetro apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Analisando os valores expressos na Tabela anterior, podemos observar que os grupos das nanopartículas lipídicas, apresentaram-se estáveis, com alterações não significantes do tamanho médio das partículas e IPD, quando armazenadas em TA ou GE. Ao serem submetidas a uma temperatura de 40 °C (estufa) pelo período de 90 dias, as suspensões de NCLs 0,2 e 0,5 % apresentaram grandes alterações, com aumento do tamanho médio de partícula e redução do IPD. Isso pode ser claramente visto na Figura 21A e B, respectivamente, onde os gráficos sobrepostos das amostras armazenadas em TA, GE e ES nos mostram a comparação do tamanho das partículas e IPD. A B Figura 21: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio de partícula das suspensões de NCLs (A) 0,2% e (B) 0,5% no tempo 0 (linhas vermelhas) e após 90 dias de armazenamento em TA (linhas verdes), GE (linhas azuis) e ES (linhas pretas). 66 Os gráficos das amostras armazenadas na ES das suspensões de NCLs 0,2 e 0,5 % são completamente diferente dos demais, evidenciando o processo de agregação das partículas e decomposição dos demais componentes devido a manutenção por um longo período em temperaturas elevadas. A manteiga de karité, cujo ponto de fusão é entre 34 e 42 °C pode estar fundindo durante o armazenamento a 40 °C e sua recristalização não forma mais as nanopartículas de tamanho originais, dando também margem à maior degradação do fármaco. Este fenômeno de coalescência deve ocorrer apenas quando há uma fusão parcial da manteiga, pois nas outras temperaturas de armazenamento o sistema mostrou-se estável e adequado. Nas suspensões NBRs, os valores mantiveram-se estáveis independentes da temperatura de armazenamento como visto anteriormente na Tabela 10 e na Figura 22, exposta a seguir. A única diferença significativa ocorreu com o IPD das amostras armazenadas em ES, assim como ocorreu com as NCLs 0,2 e 0,5 %, havendo diminuição do valor, apesar de menor proporção. Figura 22: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio de partícula das suspensões NBRs no tempo 0 (linha vermelha) e após 90 dias de armazenamento em TA (linha verde), GE (linha azul) e ES (linha preta). As suspensões de fármaco livre apresentaram alterações no tamanho médio das partículas independentemente da condição de armazenamento, inclusive, as amostras armazenadas em ES estavam visivelmente alteradas, com mudança na coloração e odor, ficando inviáveis para análise. Podemos observar na Tabela 11 os valores do diâmetro médio das partículas e IPD dos géis de NCLs 0,2 e 0,5 % e NBR, respectivamente, no tempo de 0 dias e após o armazenamento em TA, GE e ES pelo período de 90 dias. 67 Tabela 11: Diâmetro médio das partículas e IPD dos géis de NCLs 0,2 e 0,5 % e NBR (+DP). Tempo (dias) NCL 0,2 % NCL 0,5 % NBR 91,7+0,4a-b-c 92,7+0,8a-b-c 124,3+2,0a-b-c-d GE 90,2+1,0a-c 82,9+2,1c Fungou TA 82,7+0,5a-c 101,2+6,0a-b-c 146,6+0,9d ES 141,7+3,6b-d 183,9+1,9a-b-c Fungou 0 Tamanho (nm) 90 0 IPD 90 0,254+0,003 a-b 0,260+0,004 a-b 0,229+0,014a-b GE 0,323+0,075b-c 0,219+0,012a Fungou TA 0,227+0,017a 0,199+0,009a 0,398+0,014c-d ES 0,358+0,052c-d 0,441+0,020d Fungou a-b-c-d: as médias com as letras diferentes para o mesmo parâmetro apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. As formulações de NCLs 0,2 e 0,5 % na forma de gel apresentaram alterações significantes do tamanho médio das partículas e do IPD quando as amostras foram armazenadas a uma temperatura de 40 °C pelo período de 90 dias, como se pode ver na Tabela 11. A Figura 23A e B, respectivamente, mostram a sobreposição dos gráficos do tamanho das partículas e IPD das amostras armazenadas em TA, GE e ES. A B Figura 23: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio das partículas dos géis de NCLs (A) 0,2 % e (B) 0,5 % no tempo 0 (linhas vermelhas) e após 90 dias de armazenamento em TA (linhas azuis), GE (linhas verdes) e ES (linhas pretas) . Nos géis de NBRs, como mostrou a Tabela 11, foi possível observar um aumento significativo no tamanho das partículas e também no IPD das amostras armazenadas em TA. Já nas amostras armazenadas em GE e ES, houve a proliferação de fungos, como se observa na Figura 24. Isso ocorreu por não ter sido feita a adição de conservante às formulações devido à ação bactericida da clorexidina, mantendo-se o branco também sem adição de conservantes, já que este poderia comprometer a comparação dos parâmetros físico-químicos 68 entre as formulações. Desta forma, foi inviável a análise destas amostras, por isso, a Figura 25 expressa apenas a comparação dos gráficos da TA com o inicial. Figura 24: Proliferação fúngica nas amostras dos géis de NBRs armazenadas em GE e ES. Figura 25: Sobreposição dos gráficos do tamanho médio das partículas dos géis de NBRs no tempo 0 (linha vermelha) e após 90 dias de armazenamento em TA (linha verde). O gel de CL livre apresentou redução do diâmetro de partícula após o período de 90 dias. Quando armazenada em TA, houve redução significativa do valor de IPD, já quando armazenada em GE, houve um aumento do valor. 4.3.2. Análise do pH e doseamento A análise do pH em função do tempo de armazenamento pode nos fornecer informações importantes sobre a estabilidade das formulações, incluindo aquelas que contem nanopartículas lipídicas, já que a alteração de seus valores pode estar relacionado diretamente com a degradação de componentes presentes na formulação. A Tabela 12 expõe os valores do pH e da quantidade de fármaco presentes nas suspensões em estudo após o armazenamento por 90 dias em TA, GE e ES. 69 Tabela 12: Média do pH e doseamento das suspensões de NCLs 0,2 e 0,5 %, NBR e CL (+DP). Tempo NCL 0,2 % NCL 0,5 % NBR CL 8,4+0,0a 8,7+0,0a 7,2+0,4a 9,1+0,0a GE 7,6+0,1c 7,3+0,5b 6,7+0,2c 7,6+0,1b TA 6,7+0,0b 7,0+0,3b 6,1+0,1b 7,3+0,1b ES 5,7+0,6d 5,9+0,4c 5,2+0,2d 5,7+0,1c 95,0+3,1a 94,2+2,7a ------- 109,6+2,5a GE 89,7+3,3a 86,4+8,0a ------- 95,7+3,5a TA 84,5+1,2a 87,1+0,9a ------- 93,6+0,0a ES 62,4+7,0b 71,1+5,9b ------- 75,4+3,2b (dias) 0 pH 90 0 Doseamento (%) 90 a-b-c-d: as médias com as letras diferentes para o mesmo parâmetro apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Ao analisarmos os valores do pH inicial e após o período de 90 dias de armazenamento das NCLs 0,2 e 0,5 %, podemos observar que houve uma redução do valor do pH inicial semelhante nas duas concentrações, nas diferentes formas de armazenamento, não havendo diferença significante entre os dois grupos. Porém, ao compararmos a forma de armazenamento entre si, observamos que em ambas as suspensões, houve uma maior variação de pH nas amostras armazenadas em ES, passando de 8,4 para 5,7 nas suspensões de NCLs 0,2 %, e 8,7 para 5,9 nas suspensões de NCLs 0,5 %. Esta alteração de pH se deve, principalmente à degradação do fármaco e à desestabilização dos sistemas pela temperatura. Esta alteração de pH também ocorreu nas suspensões de NBR, demonstrando não ser um efeito apenas da degradação do fármaco mas também fortemente da desestabilização do sistema. Porém, a maior variação do pH inicial e após os 90 dias encontra-se nas amostras das suspensões de fármaco livre armazenadas em ES, onde o pH partiu de 9,1 para 5,7. E novamente, os valores menos equidistantes foram encontrados nas amostras armazenadas em GE, onde os valores passaram para 7,6. Essa variação de pH vem acompanhada pela degradação da formulação, incluindo a clorexidina, composto ativo que também sofre redução nos seus valores de doseamento, pois assim como o pH, as amostras armazenadas na ES apresentaram a maior variação da porcentagem de quantificação, passando de 95 % para 62,4 % nas suspensões de NCLs 0,2 %; 94,2 % para 71,1 % nas NCLs 0,5 % e 109,6 % para 75,4 70 % nas suspensões de CL livre. As suspensões de CL livre apresentaram uma maior degradação do composto ativo nas três formas de armazenamento quando comparadas com as suspensões de nanopartículas. Assim como as suspensões foram avaliadas, os géis tiveram seus valores de pH e doseamento expressos na Tabela 13. Tabela 13: Média do pH e doseamento dos géis de NCLs 0,2 e 0,5 %, NBR e CL (+DP). Tempo NCL 0,2 % NCL 0,5 % NBR CL 8,1+0,1a 8,5+0,1a 6,1+0,1a 9,0+0,1a GE 7,7+0,2a 7,8+0,5a-b Fungou 8,5+0,0a-b TA 7,0+0,3b 7,6+0,2b 3,4+0,3b 8,1+0,2b ES 4,4+0,2c 5,5+0,0c Fungou Secou 93,6+0,3a 95,4+0,1a ------- ------- GE 86,3+10,2a 95,5+3,8a ------- ------- TA 60,7+1,1b 82,5+1,3a ------- ------- ------- ------- ------- (dias) 0 pH 90 0 Doseamento (%) 90 ES a 85,46+0,0 a-b: as médias com as letras diferentes para o mesmo parâmetro apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Os géis de NCLs 0,2 e 0,5 % apresentaram menores variações de pH quando armazenados em TA e GE e, ao serem comparados com as suspensões nas mesmas formas de armazenamento, mantiveram a maior variação nas amostras armazenadas em ES, passando de 8,1 para 4,4 e 8,5 para 5,5, respectivamente. Nos géis de NBRs, apenas foi possível fazer análise das amostras armazenadas em TA, na qual o valor inicial de pH passou de 6,1 para 3,4. Nas amostras armazenadas em GE e ES, houve proliferação de fungos, sendo inviável a análise. Talvez, em TA também tenha ocorrido contaminação microbiológica, mesmo que ainda imperceptível, podendo ser a causa de tamanha alteração no pH. Devido a isso, o doseamento do teor do fármaco foi realizado apenas nas amostras de NCL 0,2 % armazenadas em ES, apresentando uma variação inferior que as amostras armazenadas em TA e GE, corroborando com os dados de pH, diâmetro de índice de polidispersão. Após o período de 90 dias, podemos concluir que as suspensões e os géis de NCLs 0,2 e 0,5 % mantiveram-se estáveis quando armazenados em TA ou em GE. Já as formulações 71 armazenadas em ES apresentaram diferença significativa no tamanho das partículas e/ou do índice de polidispersão, pH e teor de fármaco, sendo recomendada a manutenção destes produtos em temperatura máxima de 25 °C. O fármaco livre, tanto na forma de suspensão ou gel, apresentou valores imprecisos, contraditórios, e ao ser armazenado em ES, sofreu total alteração, sendo inviável sua análise, demonstrando que esta forma farmacêutica não é adequada para veiculação da clorexidina. 4.4. AVALIAÇÃO IN VITRO DA DEGRADAÇÃO DA CLOREXIDINA ASSOCIADA À PASTA DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO No momento que se tem a ideia de associar fármacos com o intuito de um complementar o outro, é de fundamental importância que eles não interfiram na ação individual de cada um. Além disso, toda vez que uma mistura de substâncias para uso clínico é elaborada, a análise deste produto resultante deveria ser realizada com o intuito de controlar seus efeitos benéficos ou deletérios. Como já foi descrito na literatura (ZERELLA et al, 2005; BARBIN, et al, 2008), a associação da clorexidina e pasta de hidróxido de cálcio tem grandes benefícios, porém pode ocorrer a precipitação da clorexidina devido ao elevado pH do hidróxido de cálcio. Com isso, além de prejudicar a ação individual de cada um dos fármacos, pode ocorrer a formação de subprodutos, que podem vir a ser tóxicos. Yeung e colaboradores (2007) chegam a afirmar que os subprodutos da clorexidina formados da sua degradação em elevado pH seriam os responsáveis pelo efeito antimicrobiano persistente, devido a uma ação pró-oxidante destes subprodutos. Como forma de observação desta alteração química gerada pela mistura da CL com a pasta de HCA, Barbin e colaboradores (2008) utilizaram a espectrometria de massa e CLAE. Em nosso estudo, este acompanhamento foi realizado através da análise da variação do pH, que também foi utilizado como método complementar no estudo de estabilidade das formulações elaboradas neste trabalho, e CLAE. O HCA, o gel de CL livre e o gel de NCL foi analisado de forma isolada e em associação pelo período de 14 dias, tempo clínico utilizado entre as sessões de tratamento endodôntico quando utilizado como medicação a pasta de HCA. 72 4.4.1. Análise do pH Para uma efetiva ação antimicrobiana do HCA e de seus demais benefícios, é necessário que ele mantenha elevados níveis de pH. Esse efeito antimicrobiano do HCA está ligado diretamente à elevação do pH resultante da dissociação, em meio aquoso, dos íons hidroxila e íons cálcio (ESTRELA, et al, 1995; FAVA e SAUNDERS, 1999). Desta forma, a adição de CL à pasta de HCA não deve alterar essa propriedade, assim como, a adição da pasta à CL não deveria causar nenhum tipo de alteração da CL. Observando os valores do pH (Tabela 14), no tempo inicial e após o período de 14 dias de cada formulação, podemos verificar que a pasta de HCA apresentou um pH acima de 12 durante todo o período de análise. O gel de CL livre apresentou valor médio bastante inferior à pasta, em torno de 6,7. O gel de NCL apresentou um valor pH um pouco superior ao gel livre, acima de 7. Ao se analisar os valores do pH da CL 0,5 % HCA, podemos observar que não houve alteração significativa do pH da pasta, pois o pH manteve-se elevado, acima de 12 para a associação com gel livre e acima de 11,9 para associação com gel de nanopartículas. Tabela 14: pH inicial e final de cada formulação. Grupos Valores de pH Inicial Após 14 dias Gel CL 0,5 % 6,78 + 0,09 7,14 + 0,07 Gel CL 0,5 % HCA 12,19 + 0,03 12,13 + 0,05 Gel NCL 0,5 % 7,15 + 0,04 7,20 + 0,05 Gel NCL 0,5 % HCA 11,25 + 0,04 11,90 + 0,07 HCA 12,15 + 0,06 12,58 + 0,06 A adição do gel de CL livre à pasta do HCA não alterou o pH do HCA, bem como foi relatado por Basrani, Ghanen e Tjaderhane (2004) que comprovaram o mesmo efeito no seu estudo. Signoretti e colaboradores (2011) também encontraram valores de pH da associação da pasta de HCA com a CL em torno de 12, indo de encontro com nossos resultados, o que nos faz concluir que a adição do gel de CL, aparentemente, não interferiu nas propriedades 73 físico-químicas da pasta de HCA, já que o pH é um parâmetro de grande importância durante a análise da estabilidade desta substância. Em relação ao gel contendo NCL, ainda não há descrição na literatura. Porém, partindo do mesmo princípio do qual não houve a alteração do pH da pasta após sua associação, é possível concluir que a composição das NCL também não interferiu nas propriedades do HCA. Ao analisarmos os valores do pH da CL livre e em nanopartículas, podemos observar que houve um aumento bastante significante após a associação deste géis com a pasta de HCA. Este aumento do pH, como já foi relatado, poderia provocar algum tipo de alteração na CL, por isso, segue a análise do teor do ativo. 4.4.2. Doseamento Na Tabela 15, podemos observar o teor de fármaco, expresso em porcentagem, inicial e após o período de 14 dias de cada formulação. A diferença da concentração inicial e final foi realizada como forma de estabelecer a porcentagem de redução de fármaco neste período. A quantidade de redução de fármaco no gel de CL livre foi de 2,2 % e do gel de NCL, 0,3 %, diferença esta não significante, podendo ter sido ocasionada até mesmo durante o processo de manipulação e preparo das formulações para o doseamento em CLAE. Já no gel de CL 0,5 % HCA esta diferença foi bastante considerável, apresentando uma redução de 33,1 % da quantidade de fármaco inicial após o período de 14 dias, enquanto que, no gel de NCL 0,5 % HCA, esta redução foi de apenas 10,3 %, ou seja, o fármaco livre degradou três vezes mais que o fármaco em nanopartícula quando em associação com a pasta de HCA. 74 Tabela 15: Concentração inicial (%) de fármaco e após o período de 14 dias nos diferentes grupos, e sua redução neste período. Grupos Concentração em % Inicial Após 14 dias Redução Gel CL 0,5 % 81,7 % 79,5 % 2,2 % Gel CL 0,5 % HCA 78,8 % 45,7 % 33,1 % Gel NCL 0,5 % 94,2 % 93,9 % 0,3 % Gel NCL 0,5 % HCA 94,8 % 84,5 % 10,3 % Ao observarmos a sobreposição dos cromatogramas (Figura 26) referentes ao gel de NCL e NCL 0,5 % HCA em diferentes dias de análise, podemos ver que, mesmo após 14 dias, não se observa nenhum produto de degradação. Figura 26: Sobreposição de cromatogramas correspondente ao gel de NCL 0,5 % (linha preta) e NCL 0,5 % HCA após 2 (linha vermelha) e 14 dias (linha rosa). A proteção do fármaco pelos sistemas de nanocarreadores vem sendo pesquisada por diversos autores e é considerada uma das grandes vantagens sobre os sistemas de entrega de fármacos convencional (NHUNG et al, 2007). A proteção do fármaco pode se dar frente a altas temperaturas, alteração do pH, agentes químicos, ou qualquer outro fator que possa provocar a degradação prematura do fármaco. Diferentes fármacos foram encapsulados com o objetivo de promover sua proteção. O diazepan é um exemplo de fármaco que, quando administrado por via oral, sofre hidrólise ácida e metabolismo hepático. Foi encapsulado em nanopartículas lipídicas sólidas (ABDELBARY et al, 2009) com o intuito de reduzir sua degradação. Outro fármaco que também pode ser citado é a vimpocetina (LUO et al, 2006), utilizada no tratamento de distúrbios circulatórios cerebrovasculares, que apresenta baixa absorção oral, sendo 75 rapidamente metabolizada e eliminada do organismo; quando encapsulado em nanopartículas lipídicas sólidas, o fármaco apresenta-se protegido da ação química dos ácidos presentes no sistema digestivo. Neste estudo, podemos comprovar a proteção da clorexidina, quando apresentada em nanopartículas, após a associação com a pasta de hidróxido de cálcio e a degradação da clorexidina na forma livre após a mesma associação. Porém, ao contrário de Barbin e colaboradores (2008), não foi comprovada a degradação total do fármaco logo após a mistura, e sim uma redução acelerada, mas gradual, com o passar do tempo da clorexidina. 4.5. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA 4.5.1. Teste de difusão em ágar Para o teste de difusão em ágar, optou-se pelo uso de cilindros de aço inoxidável, já que os discos de papel poderiam reter as nanopartículas, dificultando sua difusão. Os testes foram realizados em triplicata para cada microrganismo, com um ensaio de três pontos para uma maior validação, no qual foram utilizadas duas diferentes concentrações para o padrão: solução de CL 0,2 e 0,5 % e amostra: suspensão de NCL 0,2 e 0,5 %. Como grupos controle foram utilizados o propilenoglicol e NBR. Como as nanopartículas liberam lentamente o fármaco, espera-se uma ação inicial mais lenta e, por isso, os halos de inibição foram medidos por um maior período de tempo, iniciando em 24, 48 e, por último, 72 h (Figura 27). 76 Figura 27: Placas após o período de 72 horas para análise do diâmetro com paquímetro digital. Na Tabela 16, encontram-se as médias dos halos de inibição de acordo com o microrganismo, tempo e concentração. Tabela 16: Média dos halos de inibição (mm) + DP da solução de CL e das NCL. Candida albicans Concentrações Enterococcus faecalis 24 h 48 h 72 h 24 h 48 h 72 h P1 20,4+0,8a 21,5+0,9a 22,6+1,9a-b 19,8+0,7a-b 19,5+0,4a-b 20,6+1,4a-b P2 22,3+0,1a-b 22,6+0,9a-b 25,2+0,8b 21,2+0,9a 21,7+0,8a 18,9+0,3b P3 0 0 0 0 0 0 A1 13,5+0,6c 14,85+0,9c 15,5+0,8d 9,5+0,3c 10,5+0,6c 15,3+0,6d A2 14,4+0,8c 15,3+1,7c 15,8+1,3d 10,7+0,8c 11,6+0,1c 17,0+0,6b-d A3 0 0 0 0 0 0 P1: CL 0,2 %; P2: CL 0,5 %; P3: propilenoglicol; A1: NCL 0,2 %; A2: NCL 0,5 %; A3: NBR. a-b-c-d: as médias com as letras diferentes para o mesmo microrganismo apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Observando os valores dos halos de inibição da CL livre, podemos verificar que não houve diferença significativa em relação à concentração utilizada e o tempo de ação. Porém, os padrões apresentaram valores de halos de inibição maiores que os das NCL, nas duas concentrações. Os halos de inibição foram maiores para C. albicans do que E. faecalis. As suspensões de nanopartículas também não apresentaram diferença significativa no tamanho do halo de inibição entre as concentrações testadas, sendo os valores menores que a forma livre, mas crescente com o passar do tempo, enquanto que na forma livre toda sua ação 77 ocorre praticamente nas primeiras 24 horas. Este resultado que vem de encontro com o que é descrito na literatura (SCHAFFAZICK, 2003; NHUNG et al, 2007; ALHAJ et al, 2008) como sendo uma vantagem dos sistemas carreadores de fármaco a lenta liberação do fármaco, fazendo com que haja uma manutenção de concentração de fármaco com o passar do tempo. Apesar das medidas dos halos de inibição das nanopartículas terem sido de menor expressão, o estudo foi importante para comprovar que a nanoencapsulação da clorexidina não afeta sua atividade antimicrobiana. As nanopartículas mostraram um aumento gradual do halo de inibição de acordo com o tempo de exposição, confirmando a liberação lenta do fármaco. 4.5.2. Concentração inibitória mínima (CIM) As CIMs foram descritas na Tabela 17 de acordo com o tipo de formulação e o tipo de microrganismo testado. Tabela 17: CIM de acordo com a formulação e o tipo de microrganismo. Grupos CIM Candida albicans Enterococcus faecalis Suspensão CL 0,5 % 1,46 µg/mL 1,46 µg/mL Suspensão NCL 0,5 % 1,46 µg/mL 1,46 µg/mL Gel NCL 0,5 % 1,46 µg/mL 1,46 µg/mL Gel CL 0,5 % HCA 5,8 µg/mL 5,8 µg/mL Gel NCL 0,5 % HCA 1,46 µg/mL 2,9 µg/mL HCA 46,8 µg/mL 5,8 µg/mL Na literatura, podemos encontrar diversos autores que relatam a CIM da clorexidina (RUSSEL et al, 1993; ESTRELA et al, 2003; AMORIM et al, 2004; LOFTI et al, 2011) e do hidróxido de cálcio (ESTRELA et al, 2003; PALLOTTA et al, 2007), porém, devido à grande diferença nas metodologias, os valores não são exatamente os mesmos. Em nosso estudo, o maior valor de CIM foi do grupo HCA, que, contra o E. faecalis foi de 5,8 µg/mL, e para C. albicans 46,8 µg/mL. Estes dados confirmam a afirmação feita por alguns autores (EVANS et al, 2003; SOARES et al, 2006; LEE et al, 2008) que o HCA é 78 menos efetivo contra E. faecalis e, principalmente, contra C. albicans, já que a CIM encontrada foi quase 10 vezes maior do que do mesmo medicamento contra o E. faecalis e 32 vezes maior que o valor apresentado pela clorexidina. A CIM da CL livre, em nanopartículas ou nanopartículas em gel apresentou o mesmo valor de 1,46 µg/mL, tanto para E. faecalis, quanto para C. albicans. Russel e colaboradores, em 1993, relataram valores da CIM da clorexidina contra o E. faecalis, variando de 1 µg/mL a 2,5 µg/mL. Já Amorim e colaboradores (2004) relataram valor de 3,33 µg/mL contra E. faecalis e 4 µg/mL contra C. albicans, valores superiores aos encontrados pelo nosso estudo. No momento em que a HCA foi adicionada a CL, podemos observar um aumento significante do valor da CIM, passando de 1,46 µg/mL para 5,8 µg/mL, tanto para E. faecalis, quanto para C. albicans, representando um aumento de duas vezes na concentração de clorexidina necessária para apresentar a mesma ação antimicrobiana. No grupo do E. faecalis, este valor de 5,8 µg/mL seria o equivalente ao valor do HCA, fazendo com que a ação da clorexidina, tenha sido praticamente anulada, já que os valores da CIM foram os mesmos. Este resultado está relacionado com o que foi descrito por Barbin e colaboradores (2008) e também comprovado por este estudo, com resultados descritos no item 4.4, no qual foi feita a análise da degradação da clorexidina na associação com o HCA, ficando evidente a degradação da clorexidina, fato este que causaria a diminuição da sua ação antimicrobiana. Porém, ao adicionarmos as NCLs com a HCA, podemos observar que a CIM contra o E. faecalis passou de 1,46 µg/mL para 2,9 µg/mL e, contra C. albicans, o valor permaneceu o mesmo. Provavelmente, isso se deva à proteção do fármaco pelas nanopartículas lipídicas, evitando a degradação da clorexidina causada pelo elevado pH do HCA, mantendo seu efeito antimicrobiano. 4.6. PENETRAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS NOS TÚBULOS DENTINÁRIOS A presença e a profundidade de penetração das NCL no interior dos túbulos dentinários teve como método de análise o uso de imagens por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e o espectro fornecido pela energia dispersiva de raios-X (EDS). Para análise de MEV, é necessário um processo de desidratação da amostra para realização das imagens. A técnica usual é composta pela imersão dos elementos dentários em 79 concentrações crescentes de etanol ou acetona (PAGONIS et al, 2010). Porém as nanopartículas lipídicas são decompostas na presença de solventes. Como alternativa, a desidratação das amostras foi realizada com auxílio de um dessecador, à vácuo, pelo período de 10 dias. Como já foi relatado por Sen e colaboradores (1995), a smear layer acaba se depositando e obliterando a entrada dos túbulos dentinários prejudicando a ação dos agentes irrigantes e da medicação intracanal. Para a remoção desta lama dentinária, seguiu-se parte das recomendações feitas por Perez e colaboradores (1993), que seria um banho ultrassônico em EDTA 17 % por 10 minutos, seguido de hipoclorito de sódio a 5,25 % por mais 10 minutos. A etapa do hipoclorito de sódio a 5,25% não foi realizada, porque utilizamos como método de análise o EDS, e como o objetivo era identificar átomos de cloro presentes na clorexidina, o cloro do hipoclorito de sódio poderia interferir no resultado, pois não seria possível identificar se o cloro seria originário da clorexidina ou do hipoclorito. Mesmo com o protocolo alterado, a remoção da smear layer foi efetiva e os túbulos dentinários do grupo controle, no qual não foi utilizado medicamento, ficaram expostos, como mostra a Figura 28, favorecendo a livre penetração das NCL. Figura 28: Micrografia eletrônica da exposição dos túbulos dentinários após o processo de remoção da smear layer nas amostras do grupo controle. Foi possível observar nas imagens obtidas pelo MEV a presença das nanopartículas lipídicas na superfície da estrutura dentária e dentro dos túbulos dentinários, como se pode observar na Figura 29, assim como Pagonis e colaboradores (2010), que também relataram a 80 presença de nanopartículas de azul de metileno no interior dos túbulos dentinários através do mesmo método de análise. A A B B Figura 29: Microscopia eletrônica de varredura. A) Micrografia eletrônica da deposição das NCL sobre a superfície dentária. B) Micrografia eletrônica da presença de NCL no interior dos túbulos dentinários. Musial e colaboradores (2010) utilizaram como método de identificação da clorexidina e a forma como esta estava distribuída na matriz polimérica de nanocápsulas, a porcentagem atômica de cloro identificado pelos espectros do sistema EDS associado ao MEV. Da mesma forma, o EDS foi utilizado em nosso estudo para identificar a presença de átomos de cloro e, desta forma, localizar as prováveis NCL. Com isso, podemos observar na Figura 30 a provável presença de NCL sobre a superfície dentária e mais profundamente no interior dos túbulos dentinários, através da confirmação pela análise quantitativa dos átomos de cloro realizado pelo EDS (Tabela 18). 81 A B 1 1 2 2 Figura 30: A) Micrografia da estrutura dentária com a suspensão de NCL depositada (1) sobre a luz do canal e (2) no interior dos túbulos dentinários. B) Espectro do EDS mostrando presença de cloro (1) na superfície dentária e em menor quantidade de átomos cloro (2) no interior dos túbulos dentinários. Tabela 18: Análise quantitativa do espectro do EDS detectando o cloro. % dos átomos C-K O-K Ponto 1 (pt1) 59.33 11.29 Ponto 2 (pt2) 48.88 14.35 Mg-K 0.37 Si-K 0.42 P-K Cl-K Ca-K Zn-L Au-M 4.47 3.48 9.14 7.87 4.42 11.51 0.68 19.86 0.96 2.96 A Figura 31 ilustra a presença de NCL obliterando a entrada dos túbulos dentinários, sendo observado tanto na formulação gel, quanto na suspensão. Desta forma, podemos inferir que a forma de apresentação não interferiu no processo de deposição das nanopartículas. 82 A B Figura 31: Micrografias de NCL obliterando a entrada dos túbulos dentinários (A) em gel e (B) em suspensão. As NCLs em gel tendem a se depositar mais na superfície da estrutura, provavelmente pela maior tensão superficial e viscosidade do gel, enquanto que na forma de suspensão, as nanopartículas apresentam uma maior profundidade de penetração para o interior dos túbulos, como podemos observar na Figura 32. A B Figura 32: Micrografia dos túbulos dentinários. A) em gel. B) em suspensão. Utilizando o EDS, podemos evidenciar pelo espectro a presença de átomos de cloro na superfície dentinária em uma quantidade superior há observada no interior dos túbulos dentinários. Isto pode estar relacionado à menor quantidade de NCL no interior dos túbulos dentinários e, consequentemente, menor detecção de átomos de cloro pelo EDS, como pode ser observado na Figura 33 e Tabela 19. 83 B A 1 2 Figura 33: A) Micrografia de NCL na superfície dentária e no interior dos túbulos dentinários e B) seus respectivos espectros em EDS. Tabela 19: Análise quantitativa do espectro do EDS detectando o cloro. % de átomos C-K O-K Ponto 1 (pt1) 75.86 6.80 Ponto 2 (pt2) 18.58 Mg-K P-K 0.74 24.82 Cl-K Ca-K Zn-L Au-M 2.98 1.70 7.32 5.35 0.98 48.59 1.14 5.16 Nas regiões onde há presença de pequena quantidade de NCL, o sinal no espectro relativo ao cloro também é diminuído. Isso acontece na região apical do canal radicular, como é possível observar na Figura 34 e Tabela 20. A B Figura 34: A) Micrografia da região apical do canal radicular e mínima presença de NCLsobre a superfície dentinária, confirmada B) pelo espectro do EDS que identificou pequena quantidade de cloro. 84 Tabela 20: Análise quantitativa do espectro do EDS detectando o cloro. % átomos C-K O-K Na-K P-K Cl-K Ca-K Zn-L Au-M Base(18)_pt1 68.34 10.13 0.10 3.28 0.23 16.48 0.06 1.38 Com base nos resultados encontrados neste estudo, a metodologia utilizando MEV, mostrou-se adequada para a observação e identificação das NCLs na forma de suspensão e em gel, assim como Pagonis e colaboradores (2010) também utilizaram a MEV para identificar nanopartículas, porém de azul de metileno, no interior de túbulos dentinários. O uso do EDS foi proposto como forma de completar esta avaliação identificando átomos para a qualificação das imagens, assim como Musial e colaboradores (2010) também o fizeram. Na literatura, podemos observar outros métodos obtenção de informações relativas à forma e ao tamanho das nanopartículas, como a microscopia eletrônica de transmissão (MET) (HALL et al., 2007), ou ainda a microscopia de força atômica (MFA) (SCHFFAZICK et al., 2003). 4.7. ESTUDO IN VIVO EM RATOS 4.7.1. Análise radiográfica A análise radiográfica forneceu imagens nas quais podemos observar uma área radiolúcida na região periapical da raiz mesial do primeiro molar inferior sugestiva de periodontite apical. A Figura 35 apresenta as imagens radiográficas representativas das lesões periapicais após a utilização das medicações intracanal. A Figura 36A ilustra o grupo controle, no qual foi utilizado o propilenoglicol. A área radiolúcida mostra-se visivelmente maior que os demais grupos, demonstrando a maior área afetada. Já nas imagens da Figura 36B, C e F podemos observar lesões de menor tamanho, sugestivas de reparo na região apical após o uso da medicação intracanal do gel CL 0,5 %, gel NCL 0,5 % e sua associação com HCA, respectivamente. 85 A B C D E F G Figura 35: Imagens radiográficas representativas das lesões periapicais em ratos após a utilização de medicação intracanal de acordo com cada grupo: (A) Controle; (B) Gel CL 0,5 %; (C) Gel NCL 0,5 %; (D) Gel NBR; (E) Gel CL 0,5 % HCA; (F) Gel NCL 0,5 % HCA; (G) HCA. Após a mensuração do tamanho das áreas das lesões, os valores da média foram expostos no gráfico da Figura 36. 86 Pixels / pol 150000 100000 a-c c-d-f 50000 f d-e-f b-d-e b-d-e e C A H H + % % 0, 5 C L N C L 0, 5 C C A A C + H N on tr ol e C L 0, 5 N % C L 0, 5 % B R 0 a-b-c-d-e-f: os grupos com as letras diferentes apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Fisher. Figura 36: Gráfico referente às áreas de radiolucidez das lesões periapicais a partir das imagens radiográficas após o tratamento com diferentes medicações intracanal. O grupo controle, com lesões de maior tamanho, apresentou diferença estatística com a maioria dos grupos, exceto com o grupo das nanopartículas sem o fármaco. Este resultado já era esperado e reflete o teste in vitro, no qual foram medidos os halos de inibição, as NBR, assim como o propilenoglicol, não apresentaram ação antimicrobiana contra o E. faecalis e C. albicans. Os grupos do gel CL 0,5 %, gel NCL 0,5 % e NCL 0,5 % HCA promoveram maior reparo da região periapical, não apresentando diferença estatística entre si, fornecendo imagens radiográficas com lesões de menor tamanho. Quando comparado o grupo do gel CL 0,5 % HCA e o grupo do gel NCL 0,5 % HCA verificamos que não houve diferença significativa entre o tamanho das lesões. Mesmo assim, é possível observar através do gráfico que a média do tamanho das lesões do gel de NCL 0,5 % HCA são menores e tendem a apresentar um resultado mais favorável, sendo confirmado pela análise histológica, na qual foi possível observar diferença estatística. Talvez, o valor de DP elevado do grupo CL 0,5 % HCA, tenha influenciado de forma negativa no resultado. Quando comparados os grupos do gel CL 0,5 % e CL 0,5 % HCA podemos observar, na Figura 38, uma diferença nas médias do tamanho das lesões, mesmo que não significativa, porém, demonstra uma tendência da CL associada ao HCA apresentar lesões de maior tamanho, o que também é observado na literatura com o trabalho de Evans e colaboradores 87 (2003) afirmando que a eficiência antimicrobiana da CL associada ao HCA seria menor que a CL. A presença da lesão maior indicaria uma diminuição da ação antimicrobiana da CL quando em associação com o HCA devido a uma provável degradação durante a mistura causado pelos elevados valores do pH do HCA estudos in vitro nos itens 4.4 e 4.5, e em trabalhos já realizados por outros autores sobre este processo de degradação, como Zerella e colaboradores (2005) e Barbin e colaboradores (2008). Já o grupo do gel NCL 0,5 % HCA apresentou valores médios de tamanho de lesão similares ao grupo do gel NCL; porém, com valores de coeficiente de variação (CV) de 13 %, enquanto o grupo de NCL apresentou um valor de CV de 28 %. Além disso, foi possível observar a manutenção da ação antimicrobiana da clorexidina independente da sua associação com HCA apesar dos seus elevados valores de pH. Isso nos faz acreditar que a presença do invólucro lipídico protegeu a clorexidina deste processo de degradação, novamente confirmando o que foi visto no estudo in vitro que avaliou a degradação da clorexidina após esta associação com seus resultados descritos no item 4.4. e 4.5. Também foi possível observar que o gel CL 0,5 % HCA não apresentou diferença estatística com o HCA. Porém quando o HCA é comparado com o gel de NCL 0,5 % HCA podemos observar diferença estatística, o que é de grande relevância clínica, podendo estar relacionado com a uniformidade dos resultados. 4.7.2. Análise histológica A partir da análise das imagens expressas pelas lâminas histológicas (Figura 37), a intensidade do infiltrado inflamatório recebeu escores conforme classificação descrita por Armada-Dias e colaboradores (2006): ausente (0), discreto (1), moderado (2) ou severo (3). 88 A B C D E F G Figura 37: Imagens das lâminas histológicas representativas das lesões periapicais em ratos após a utilização de medicação intracanal de acordo com cada grupo: (A) Controle; (B) Gel CL 0,5 %; (C) Gel NCL 0,5 %; (D) Gel NBR; (E) Gel CL 0,5 % HCA; (F) Gel NCL 0,5 % HCA; (G) HCA. 89 Após a soma dos escores, a análise estatística e o resultado da comparação entre os grupos e suas médias foram expressos na Figura 38 na forma de gráfico. Escore inflamatório 4 3 a-d-g d-e-g g e-g 2 b-c-e-f c-e-f-g f 1 C A H H + % % 0, 5 C L N C L 0, 5 C C A A C + H N on tr ol e C L 0, 5 N % C L 0, 5 % B R 0 a-b-c-d-e-f-g: os grupos com as letras diferentes apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Fisher. Figura 38: Gráfico referente aos escores do infiltrado inflamatório a partir da análise histopatológica da reação ao tratamento com diferentes medicações intracanal. Analisando as lâminas histológicas, podemos observar que os maiores valores de escores estavam presentes no grupo controle, com presença de infiltrado inflamatório intenso e formação de abscesso perirradicular, apresentando diferença significativa com a maioria dos grupos. Apesar de não haver diferença significativa com o grupo do gel NBR e HCA, não se observa nestes grupos a formação de abscesso perirradicular, apenas um considerável infiltrado inflamatório. Wagner e colaboradores (2011) também relataram a presença de reabsorção óssea periapical com a formação de abscesso após a análise das lâminas histológicas no mesmo grupo controle, confirmando a presença do intenso infiltrado inflamatório. O grupo do gel NCL 0,5 % HCA, seguido do gel de CL e NCL, apresentaram os mais baixos valores de escores e, não apresentaram diferença estatística entre si. É possível observar uma redução no infiltrado inflamatório e a presença de áreas de neovascularização, significando reparo da região, apesar de não haver neoformação óssea. 90 Observando mais especificamente o grupo CL e NCL, não houve diferença significativa entre eles tanto na análise histológica, como na radiográfica, não refletindo os resultados obtidos no teste microbiológico com os cilindros de aço, no qual foi relatada a diferença entre os halos de inibição com os menores valores apresentados pelo grupo NCL num período de análise de 72 h. Provavelmente, este período de 72 h ainda não é suficiente para a completa liberação da clorexidina, pois como já descrito, os sistema carreadores apresentam a característica de liberação lenta e controlada, configurando um tempo inadequado para a avaliação da ação das nanopartículas. Quando comparado o grupo gel CL 0,5 % HCA e o grupo gel NCL 0,5 % HCA, é observada uma diferença significativa na presença de infiltrado inflamatório, refletindo um maior valor de escores para o grupo na qual a CL não estava em nanopartículas. Isto pode ter ocorrido devido ao processo de degradação sofrido pela CL frente aos elevados valores de pH do HCA, confirmando clinicamente o que foi descrito por este trabalho nos estudos in vitro nos itens 4.4 e 4.5, e em trabalhos já realizados por outros autores sobre este processo de degradação, como Zerella e colaboradores (2005) e Barbin e colaboradores (2008). Isto nos leva a crer que no grupo NCL 0,5 % HCA, a CL presente conseguiu atingir todo seu potencial antimicrobiano já que estava protegida pela nanopartícula lipídica, apresentando assim, melhores resultados de reparo na região periapical. O grupo do gel NBR não apresentou diferença estatística com o grupo controle, CL 0,5 % HCA e HCA. Este resultado não corrobora os dados do teste microbiológico utilizando os cilindros de aço para análise dos halos de inibição, pois neste teste este grupo não apresentou nenhuma ação contra E. faecalis e C. albicans. Talvez a redução da lesão seja pelo processo de instrumentação e irrigação defendido por alguns autores como suficiente para o reparo da região apical, além disso, a composição das NCL poderia reduzir a reação inflamatória no tecido periapical, permitindo algum tipo de reparo. Esta redução pode ser causada pela manteiga de karité que possui emolientes e antioxidantes que podem reduzir o processo inflamatório. O grupo do HCA não apresentou diferença estatística com o grupo controle, já Wagner e colaboradores (2011) observaram esta diferença em seu estudo, talvez a presença de maiores valores de DP neste estudo tenha contribuído para tal resultado, já que os valores da média dos escores apresentam diferença. Analisando as imagens fornecidas pelo gráfico da Figura 39, observamos uma semelhança grande com o gráfico da Figura 37 da análise radiográfica. Ao analisarmos a 91 significância estatística, podemos verificar que também há concordância na maioria das comparações dos resultados entre os grupos. Apenas houve diferença da análise histológica e radiográfica entre o grupo das nanopartículas lipídicas de clorexidina comparado com o grupo da clorexidina associada à pasta de hidróxido de cálcio, onde radiograficamente houve diferença significante e histologicamente não houve diferença. Esta semelhança nos induz a acreditar que as imagens radiográficas representam claramente o que está acontecendo histologicamente, pois o processo de reparo tecidual pode ser observado com a neoformação óssea e reparo da região periapical através da diminuição do tamanho da lesão na imagem radiográfica. 92 5. CONCLUSÃO A partir dos objetivos e resultados deste estudo, podemos concluir que: Foi possível desenvolver e caracterizar nanopartículas lipídicas sólidas contendo clorexidina de forma satisfatória nas concentrações de 0,2 e 0,5 %. A adição do gel à suspensão de nanopartículas lipídicas sólidas contendo clorexidina não interferiu nas características e ação antimicrobiana da formulação. Foi possível observar a estabilidade das formulações de nanopartículas lipídicas contendo clorexidina quando armazenadas em temperatura ambiente e em geladeira. As amostras armazenadas em estufa sofreram processo de degradação tanto na forma de suspensão quanto em gel. A clorexidina livre apresentou-se instável após o período do teste de estabilidade em todas as temperaturas avaliadas. O teste in vitro com o gel de clorexidina 0,5 % associado à pasta de hidróxido de cálcio e o gel de nanopartículas lipídicas contendo clorexidina 0,5 % associada à pasta de hidróxido de cálcio confirmou o processo de degradação da clorexidina decorrente do elevado pH da pasta. Já a clorexidina nanoencapsulada foi protegida pela camada de lipídios, amenizando este processo de degradação. A avaliação por microscopia eletrônica de varredura associada à difração de raio X confirmou a presença de átomos de cloro na superfície da estrutura dentinária e, também, no interior dos túbulos dentinários, sendo um indício forte da presença de nanopartículas lipídicas contendo clorexidina sobre na luz do canal, agindo de forma efetiva como medicação intracanal, já que há penetração destas para o interior dos túbulos dentinários. Os testes microbiológicos de difusão em ágar revelaram halos de inibição das nanopartículas lipídicas contendo clorexidina menores que da clorexidina livre, porém, pode-se comprovar que a ação antimicrobiana da clorexidina não foi afetada pelo casulo lipídico, pois os valores de concentração inibitória mínima das nanopartículas e da forma livre para C. albicans e E. faecalis foram os mesmos. Foi possível evidenciar a liberação lenta e gradual da clorexidina presente nas nanopartículas lipídicas 93 contendo clorexidina, aumentando os halos de inibição com o passar do tempo devendo, por este motivo, ter um tempo de análise maior. A avaliação in vivo, em ratos, mostrou radiograficamente e histologicamente o excelente desempenho do grupo formado pelas nanopartículas lipídicas contendo clorexidina 0,5 % associadas à pasta de hidróxido de cálcio, que não apresentou diferença estatística em relação ao grupo da clorexidina livre, porém, revelou um desempenho significativamente superior quando comparado com o grupo da clorexidina 0,5 % associado à pasta de hidróxido de cálcio. Assim, podemos observar que a ação da clorexidina é prejudicada pelo elevado pH da pasta de hidróxido de cálcio e quando protegida na forma de nanopartícula, mantém seu desempenho antimicrobiano, somando a mistura todos os benefícios fornecidos pela pasta de hidróxido de cálcio. 94 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDELBARY, G.; FAHMY, R. H. Dazepam-Loaded Solid Nanoparticles: Design and Characterization. AAPS PharmSciTech, v. 10, n. 1, march, 2009. AKISUE, E.; TOMITA, V.S.; GAVINI, G.; FIGUEIREDO, J.A.P. 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Podemos observar que não há presença de picos na suspensão sem o fármaco e nem na pasta de hidróxido de cálcio, o que nos faz verificar que nenhum componente que faz parte das suas composições está interferindo na formação do pico presente na amostra padrão. Figura 39: Sobreposição de cromatogramas: linha azul correspondente a nanopartícula lipídica sem a presença de fármaco; linha preta correspondente ao hidróxido de cálcio e linha vermelha correspondente amostra padrão de clorexidina. 109 O cromatograma exibe um pico em 3,3 minutos, após análise da amostra de clorexidina, o que representa que 3,3 minutos é o tempo de retenção da clorexidina e será utilizado para determinação da presença de clorexidina nas amostras de suspensões e géis. 2. Linearidade Para a construção da curva analítica, foi pesado o equivalente a 0,01 g de clorexidina, o qual foi colocado em um balão volumétrico de 10 mL, sendo o volume completado com acetonitrila (1 mg/mL). A partir desta solução mãe, a curva analítica foi construída nas concentrações de 10, 15, 20, 25 e 30 µg/mL, utilizando-se fase móvel como solvente. Após as diluições, as amostras foram filtradas com uma membrana de 0,45 µm Chromafil Xtra RC-45/25 (MACHEREY-NAGEL GmbH & Co. KG, Duren, Alemanha) e analisadas em CLAE. O procedimento foi feito em triplicata. As áreas médias, correspondentes a três determinações para cada concentração de clorexidina, foram plotadas no eixo das ordenadas e as concentrações (µg/mL), no eixo das abscissas, e a curva então obtida. Como é possível visualizar no gráfico da Figura 40, a curva padrão da clorexidina apresentou regressão linear significativa (p<0,05), não havendo desvio significativo de linearidade (p>0,05). A equação da reta para o método foi: y = 82,38x + 28,962; onde x é a concentração em μg/mL e y a área, apresentando um coeficiente de correlação de 0,9963. Os parâmetros de validação determinados apresentaram linearidade, exibindo um coeficiente de correlação superior aos limites preconizados de 0,99. Isto permite uma estimativa da qualidade da curva analítica obtida, sendo que quanto mais próximo de 1,0, menor a dispersão do conjunto de pontos experimentais (ANVISA, 2003a). Esta curva foi utilizada para realizar o doseamento da clorexidina nas suspensões e géis contendo o fármaco na forma livre ou nanoestruturada. Área 110 Concentração (µg/mL) Figura 40: Curva padrão da clorexidina obtida por CLAE. 3. Precisão e repetibilidade A precisão do método foi avaliada através do desvio padrão relativo (DPR) obtido pela determinação da clorexidina na suspensão contendo nanopartículas lipídicas a 0,5 %, avaliando-se a repetibilidade e a precisão intermediária do método. A repetibilidade do método foi obtida através de seis repetições, na concentração de trabalho de 10 µg/mL, no mesmo dia e nas mesmas condições experimentais. Porém, a precisão intermediária foi avaliada em três dias e por dois analistas diferentes. Precisão é definida como a avaliação da proximidade dos resultados obtidos, em uma série de medidas, de uma amostragem múltipla de uma mesma amostra e é avaliada em três níveis: a repetibilidade, precisão intermediária e reprodutibilidade (ANVISA, 2003). Segundo a ANVISA (2003), a repetibilidade (precisão intra-corrida) é a concordância entre os resultados dentro de um curto período de tempo com o mesmo analista e mesma instrumentação. A precisão intermediária (precisão inter-corridas) é a concordância entre os resultados do mesmo laboratório, mas obtidos em dias diferentes, com analistas diferentes e/ou equipamentos diferentes. A reprodutibilidade (precisão inter-laboratorial) é a concordância entre os resultados obtidos em laboratórios diferentes e não foi realizada neste estudo. A precisão de um método analítico pode ser expressa como desvio padrão relativo (DPR) ou coeficiente de variação (CV %) de uma série de medidas, não se admitindo valores superiores a 5 % (ANVISA, 2003). 111 O resultado do DPR da repetibilidade foi de 2,8 + 0,3 % e da precisão intermediária de 2,2 + 0,4 %, valores estes inferiores a 5 %, podendo ser considerado um método preciso. 4. Exatidão Para o teste de exatidão, a solução padrão foi adicionada a amostra de forma a se obter três concentrações finais diferentes. Para isso, 0,01 g de clorexidina foram colocados em um balão volumétrico de 10 mL e seu volume foi completado com acetonitrila para obtenção de uma solução padrão de concentração de 1 mg/mL. Em três balões volumétricos diferentes, de 10 mL cada, foram colocados 20 µL da suspensão de nanopartícula lipídica a 0,5% de clorexidina, mais 50 µL da suspensão mãe no balão 1, 100 µL no balão 2 e 150 µL no balão 3, obtendo-se uma concentração final de 15 µg/mL, 20 µg/mL e 25 µg/mL, respectivamente. A Figura 41 ilustra o procedimento descrito acima. Todos os balões tiveram seu volume completado com fase móvel e a concentração de clorexidina analisada em CLAE. O procedimento foi realizado em triplicata. Suspensão padrão 50 µl concentração final: 20 µl Suspensão nanopartícula lipídica sólida 0,5% 100 µl 20 µl 150 µl 20 µl bv.10 mL bv.10 mL bv.10 mL 15 µg/mL 20 µg/mL 25 µg/mL Figura 41: Fluxograma do teste de exatidão. 112 A exatidão é expressa pela relação entre a concentração média determinada experimentalmente e a concentração teórica correspondente. Para a concentração de 15 µg/mL a exatidão foi de 103,5 + 0,6 %; 20 µg/mL de 101,8 + 0,3 % e 25 µg/mL 103,8 + 1,7 %. Valores estes que consideram o método exato. 113 ANEXO 2 – Carta de aprovação pelo comitê de ética para realização do experimento em ratos. 114 ANEXO 3 – Carta de aprovação do comitê de ética para estudo utilizando dentes humanos.