ABR / MAIO / JUN 2015 • No 2 • ANO XXXIX Editorial Fronteiras: respeitar ou ultrapassar? F rente a um limite, nos questionamos: devo ou não cruzá-lo? Sem dúvida alguma, devemos desbravar as fronteiras da ciência, buscando novas explicações e respostas para velhos problemas. Os eventos da reumatologia brasileira, elencados em “O melhor do Brasil”, nos ajudam a alcançar estes conhecimentos. E que tal quebrar antigos paradigmas e ampliar nossa área de atuação profissional, descobrindo a Medicina do Esporte, com os doutores Fabio Jennings, Pablius Silva e Fernanda Lima? Ao atravessar fronteiras geográficas, seremos apresentados a colegas de outros Estados na “Profissão Reumato”. Podemos até seguir o exemplo do dr. Enio R. Reis, de Varginha (MG), que se lança também em um segmento tão diferente da Reumatologia, como a atividade “agrosilvopastoril”. Outra criatura que “desrespeitou” as divisas territoriais e cruzou oceanos foi o odioso Aedes Aegypti. Sua história é contada pelo mestre da escrita, dr. Neubarth. No entan- to, devemos respeitar os limites da dignidade, exigindo o cumprimento de normas e valores verdadeiros. Como estabelecer as tênues raias do ético e legal? Na seção “Rheuma & Ethos”, a dra. Lilian Schade traz esclarecimentos sobre o atestado médico para liberação de atividade física. Em meio a estes devaneios filosóficos, uma pausa para desfrutar o texto delicioso da “Coluna Seda” (trazendo a trajetória de Charles-Jacques Bouchard, médico francês que rompeu os limiares da medicina do século XIX) e rir com a charge de nosso amigo Plínio. Agradecimentos nunca serão demais para estes fiéis colaboradores do Boletim da SBR. Uma linha no chão, um muro alto, pensamentos, emoções. Quaisquer que sejam as fronteiras, elas existem e nos cercam. Cabe a cada um de nós a decisão de respeitá-las ou ultrapassá-las. Uma ótima leitura para todos! Dra. Sandra Watanabe, editora SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA Diretoria Executiva da SBR – Biênio 2014-2016 Presidente César Emile Baaklini – SP Tesoureiro José Roberto Provenza – SP Secretário-geral José Eduardo Martinez –SP Vice-Tesoureiro Luiz Carlos Latorre – SP 1º Secretário Silvio Figueira Antonio – SP Diretor científico Paulo Louzada Jr. –SP 2º Secretário Washington Alves Bianchi – RJ @ [email protected] Coordenação editorial Edgard Torres dos Reis Neto Jornalista responsável Maria Teresa Marques Editores Tania Caroline Monteiro de Castro Renê Donizeti Ribeiro de Oliveira Sandra Hiroko Watanabe Layout Sergio Brito Impressão Sistema Gráfico SJS Tiragem: 2.000 exemplares BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 4 Notas 6 SBR.doc 8 O melhor do Brasil 9 Reumato.com 10Matéria de Capa 13Rheuma & Ethos 15Espaço do Residente 16Profissão Reumato 18 Foco Em 19 Coluna Neubarth 20Coluna Seda 22Além da Reumatologia ÍNDICE Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94 01402-000 – São Paulo - SP – Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986 Colaborador Plinio José do Amaral Representante junto ao Ministério da Saúde Ana Patrícia de Paula – DF Mário Soares Ferreira – DF Representante junto à AMB Eduardo de Souza Meirelles – SP Gustavo de Paiva Costa – DF Ivone Minhoto Meinão - SP Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia www.reumatologia.com.br Representante junto à Panlar Adil Muhib Samara – SP Antonio Carlos Ximenes – GO Fernando Neubarth – RS Maria Amazile Ferreira Toscano – SC 3 N ota s ERRATA Faleceu dr. Lipe Goldenstein Consternada, a Sociedade Brasileira de Reumatologia comunica que faleceu na madrugada do dia 14 de maio último, em Salvador (BA), o dr. Lipe Goldenstein, sócio efetivo da SBR e membro emérito da Academia Brasileira de Reumatologia. Pai da dra. Cláudia Goldenstein Schainberg, sócia efetiva da SBR. N Na edição anterior do Boletim SBR (jan/fev/ mar 2015), foi publicado sem autoria o texto “Tributo em um princípio básico de astronomia” (págs. 16 e 17), em homenagem ao professor João Manoel Cardoso Martins. O autor do texto é o reumatologista Fernando Neubarth. Evento reuniu ex-residentes formados na Unicamp e PUC Campinas os dias 27 e 28 de março, a Unicamp e a PUC-Campinas promoveram o II Encontro de Ex-residentes em Reumatologia para discutir avanços em diagnósticos e tratamentos de doenças reumáticas. O encontro, que foi realizado no Quality Resort & Convention Center, em Itupeva (SP), reuniu cerca de cem médicos formados pelas duas universidades e que atuam em todo o país. Durante o evento científico, foram apresentados estudos e pesquisas sobre medicamentos de última geração para várias doenças reumáticas como artrite reumatoide, lúpus, espondiloartrites, osteoartrite, osteoporose, gota, reumatismo de partes moles e sobre segurança no uso dos biológicos. O II Encontro de Ex-residentes em Reumatologia contou com apoio institucional da Sociedade Paulista de Reumatologia. Presentes ao encontro de ex-residentes, que apresentou estudos e pesquisas sobre medicamentos de última geração para várias doenças reumáticas. Panlar promoveu I Curso Pré-congresso de Ultrassom A cidade de Barranquilla, na Colômbia, foi sede do I Curso PréCongresso de Ultrassom, realizado em 15 de abril de 2015. O curso é uma iniciativa educacional que visa a proporcionar um ambiente propício para fortalecer conceitos básicos, a troca de experiências e a avaliação do progresso no conhecimento de ultrassonografia na artrite reumatoide, com palestrantes 4 nacionais e internacionais da América Latina, dos EUA e da Europa Nesta primeira edição, o curso foi dedicado à artrite reumatoide e foi essencial para fornecer uma nova e sólida formação de vários reumatologistas de toda a América Latina. O evento ocorreu sob a forma de “oficina de treinamento”, com sessões teóricas e práticas e avaliação de pacientes portadores de artrite reumatoide. O dr. José Alexandre Mendonça, que faz parte do grupo de ultrassonografia do Panlar, atuou como professor do curso pré-congresso. Atualmente, a ultrassonografia é uma ferramenta valiosa na área da reumatologia como “padrão-ouro” para a caracterização do processo inflamatório e a quantificação dos danos anatômicos em diferentes fases de evolução da doença. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 Reumatologistas da SBR estiveram na ação Bem Estar Global, em Belém A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) participou da ação Bem Estar Global, da TV Globo, em Belém (PA) no dia 24 de abril de 2015, com especialistas orientando a população sobre as doenças reumáticas e seus possíveis tratamentos. O evento aconteceu na Praça Batista Campos, no centro da capital paraense, das 8h às 14 horas, sob a coordenação da reumatologista dra. Rosana de Britto Pereira Cruz, presidente da Sociedade Paraense de Reumatologia. Às 11h30, houve palestra aberta, no palco central do evento, sobre doenças como artrite, artrose, osteoporose e lúpus. Dados do evento: • Cerca de 400 pessoas atendidas • 11 profissionais mobilizados pela Sociedade Paraense de Reumatologia • Distribuição de cartilhas educativas produzidas pela entidade • Palestra com a dra. Rosana de Britto Pereira Cruz • Público estimado: 10 mil pessoas Disciplina de Reumatologia da FMUSP promove encontro de ex-residentes, estagiários e pós-graduandos Os participantes do encontro da Disciplina de Reumatologia da FMUSP. A Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da USP promoveu o XI Encontro de Ex-residentes, Estagiários e Pós-graduandos da Disciplina de Reumatologia da Faculdade Medicina da USP, sob a coordenação das professoras titulares Eloisa Bonfá e Rosa Pereira e do dr. Célio Roberto Gonçalves. O evento, que ocorre a cada dois anos, foi realizado no hotel The Royal Palm Plaza, em Campinas, de 24 a 26 de abril de 2015 e recebeu cerca de 300 convidados, sendo que 141 eram membros e ex-membros da Disciplina. Durante o encontro, os participantes tiveram a oportunidade de atualizar-se sobre temas baseados na experiência do serviço: uso de medicações imunobiológicas no lúpus, na osteoporose e nas miopatias inflamatórias; evidências de atividades físicas e exercícios em doenças reumáticas e a importância da ultrassonografia articular. Além da atividade científica, o evento foi uma ótima oportunidade para rever colegas e amigos e contou com a participação de familiares. Audiência pública teve atenção à pessoa com lúpus como tema Dia 28 de maio, quinta-feira, no prédio do Senado Federal, em Brasília (DF) foi realizada uma audiência pública com o tema “A Educação e a sensibilização da sociedade sobre o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus – uma doença autoimune que pode matar”. A audiência foi marcada em atendimento à solicitação do senador Romário Faria. Senado foi iluminado de roxo em 10 de maio, Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus Eritematoso Sistêmico, a pedido do senador Romário Faria, em homenagem aos portadores dessa patologia. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 5 Sbr.doc Assembleia aprova contas de eventos oficiais da gestão 2012/14 O secretário-geral da Sociedade Brasileira de Reumatologia, dr. José Eduardo Martinez, comunica que a Assembleia Geral Extraordinária realizada nas dependências da XX Jornada Centro-Oeste de Reumatologia, na cidade de Goiânia em 24/04/2015, ratificou o parecer do Conselho Fiscal após o cumprimento do estabelecido pela última AGE realizada em Belo Horizonte durante a realização do XXXI Congresso da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Assim, foram aprovadas as contas dos seguintes eventos, todos relativos à gestão 2012/2014: XXIX Congresso da Sociedade Brasileira de Reumatologia – 19 a 22/09/2012 – Vitória-ES; XIX Jornada Centro-Oeste de Reumatologia – 25 a 27/04/2013 - Cuiabá-MT; XX Jornada Rio-São Paulo de Reumatologia – 11 a 13/04/2013 - Rio de Janeiro; XXX Congresso da Sociedade Brasilei- ra de Reumatologia – 20 a 23/11/2013 - Recife-PE; XXII Jornada Norte-Nordeste de Reumatologia – 01 a 03/05/2014 - São Luis-MA; XIX Jornada Cone Sul de Reumatologia – 31/07 a 02/08/2014 - Gramado/RS Deste modo, tem-se como concluída a prestação de contas da gestão 201214, presidida pelo dr. Walber Vieira, livre e desembaraçada de quaisquer pendências. Balancete Nesta edição do boletim, são divulgados o balancete em 31/03/2015 e Demonstrativo dos Resultados, até 31/03/2015, da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), gestão 2014/2016. Demonstrativo do Resultado do Exercício Gestão 2014/2016 Receitas 1.584.163,03 Anuidades9.207,09 Financeiras740.753,05 Patrocínios92.500,00 Eventos oficiais Despesas 1.405.829,80 31/03/2015 31/08/2014 ATIVO 14.825.452,9214.662.904,43 DISPONÍVEL 13.238.027,2012.856.067,26 Caixa 2.455,68 Bancos - Conta movimento 8.625,79 1.413,16 3.700,22 Investimentos - ADM 8.479.178,42 8.368.655,14 Investimentos - FAP 4.747.767,31 4.482.298,74 CRÉDITOS 744.204,44963.615,89 Anuidades 309.240,41 366.996,00 Adiantamentos - Regionais 392.082,03 104.120,00 Resultados - Eventos 42.882,00 134.173,16 Patrocínios 0,00 357.784,00 Adiantamentos - Salariais 0,00 542,73 IMOBILIZADO 843.221,28843.221,28 843.221,28 Imóveis - Sede SP PASSIVO 14.825.452,9214.662.904,93 FORNECEDORES 843.221,28 Prestadores de serviços 0,0020.457,82 0,00 20.457,82 TRABALHISTA 21.757,8417.763,38 Saldo de salários 14.204,73 11.335,40 Contribuição previdenciária 5.980,85 5.094,67 Fundo de Garantia 1.397,57 1.185,17 PIS - Folha de pagamento 174,69 148,14 Administrativas784.114,79 TRIBUTOS 1.774,121.096,00 Atividades402.146,75 1.774,12 1.096,00 Publicações219.568,26 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 14.801.920,96 14.623.587,73 Patrimônio social acumulado 14.623.587,73 14.623.587,73 Superávit Superávit 6 741.702,89 Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) 178.333,23 Retidos na fonte 178.333,23 BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 O melhor do Brasil Notícias das regionais Paraná São Paulo XXI ERA 2015 Encontro de Reumatologia Avançada A Sociedade Paulista de Reumatologia promoveu entre os dias 31 de abril e 2 de maio, em São Paulo, o XXI ERA 2015 – Encontro de Reumatologia Avançada, que recebeu mais de 500 participantes de todo o Brasil. Foram abordados os mais diversos temas, desde tecnologia de ponta em pesquisa científica até aspectos práticos de relevância para o consultório médico. Vieram ministrar aulas os doutores Bhaskar Dasgupta, da Inglaterra, e Cees Kallenberg, da Holanda. Prestigiaram o evento o presidente da SBR, dr. Cesar E. Baaklini, e o presidente eleito (biênio 2016-2018), dr. Georges B. Christopoulos. São Paulo e Rio de J a ne i r o Hotel Renaissance recebeu o XXI Encontro Rio/SP Primeiro trimestre teve ações da SPR A Sociedade Parananense de Reumatologia (SPR) já pontuou o primeiro trimestre do ano com várias ações. Entre elas, um simpósio sobre Espondiloartrites, quando foram ministradas aulas pelo dr. Marcelo Pinheiro (SP), dr. Marcio Augusto Nogueira (PR), dra. Thelma Skare Larocca (PR) e também dr. Valderílio Azevedo (PR). O evento contou com a presença de vários reumatologistas tanto da capital como do interior do Paraná. Outra realização da entidade foi, em maio, a reunião sobre Osteoartrite, que teve a presença dos professores da Universidade Estadual de Maringá (UEM): dr. Marco Rocha Loures e dr. Paulo Roberto Donadio. Houve ainda uma apresentação da dra. Vivian Pasqualin (PR) sobre fisioterapia na osteoartrite. Jornada em sexta edição Cerca de 500 participantes de todo o Brasil se inscreveram para o encontro. E vento oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia, o Encontro Rio/ São Paulo de Reumatologia teve sua 21ª edição entre os dias 6 e 8 de abril, no Hotel Renaissance, em São Paulo. Neste ano, promoveu-se concomitantemente o IX Curso de Revisão para Reumatologistas, da Sociedade Paulista de Reumatologista. Foram inscritos cerca de 500 participantes, de todo o Brasil. Estiveram presentes no evento o presidente da SBR, dr. César Emile Baaklini, e o diretor-científico dr. Paulo Louzada Jr., além do presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, dr. Dawton Y. Torigoe, e o presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro, dr. José Fernando Vertzman. A programação científica foi cuidadosamente elaborada, num trabalho em que se destacou a dedicação das diretoras científicas das duas sociedades regionais, Simone Appenzeller e Adriana Danowski. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 No mês de junho é a vez da tradicional Jornada Paranaense de Reumatologia, este ano em sua 6ª edição, com a presença de reumatologistas do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, além de palestrantes de lugares diferentes do Brasil. Durante a jornada, será divulgado o vencedor de um concurso literário criado este ano pela SPR e que leva o nome do recém-falecido reumatologista professor João Manuel Cardoso Martins. O concurso vai selecionar os melhores artigos literários não científicos em forma de crônicas, sátiras e minicontos. 7 O melhor do Brasil Notícias das regionais Goiás A gen d a www.reumatologia.com.br Sociedade local promoveu XX Jornada Centro Oeste EVENTOS NACIONAIS 25/06/2015 - 27/06/2015 6º Jornada Paranaense de Reumatologia Curitiba, PR 07/08/2015 - 08/08/2015 Reumario Rio de Janeiro, RJ 07/10/2015 - 10/10/2015 XXXII Congresso Brasileiro de Reumatologia Curitiba, PR EVENTOS INTERNACIONAIS 10/06/2015 – 13/06/2015 The Annual European Congress of Rheumatology/Eular 2015 Roma, Itália 27/08/2015 – 29/08/2015 XI Congreso de la Sociedad Iberoamericana de Osteología y Metabolismo Mineral – Sibomm Lisboa, Portugal Membros da Comissão Executiva da jornada (esq. p/dir.): dr. Marcelo Pimenta; dra. Camila Guimarães; dr. Gustavo Pavlik Haddad; e dra. Jozelia Rêgo. 02/09/2015 – 06/09/2015 Lupus 2015 Viena, Áustria A 17/10/2015 – 19/10/2015 5th Abu Dhabi Advanced Rheumatology Review Course Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos Sociedade Goiana de Reumatologia, com o apoio da SBR, realizou em Goiânia, do dia 23 a 25 de abril, a XX Jornada Centro Oeste de Reumatologia, com o tema “As Múltiplas Interfaces da Reumatologia”. A comissão organizadora do evento – formada pelos doutores Gustavo Pavlik Haddad, Jozelia Rêgo, Camila Guimarães e Marcelo Pimenta – trouxe para discussão vários temas inter-relacionados a outras especialidades, como a endocrinologia, cardiologia, ortopedia, imagem, gineco-obstetrícia, pediatria, infectologia e neurologia. A Comissão de Dor participou em uma mesa específica, abordando os mecanismos fisiopatológicos da dor crônica e as atualizações no tratamento da dor miofascial e da fibromialgia. O convidado de honra da jornada foi o dr Fernando Neubarth, que proferiu a conferência magna durante a solenidade de abertura, a qual contou com a presença do presidente da SBR, dr. César Emile Baaklin, e representantes da área da saúde do Estado de Goiás. Com o tempo bom, a comida típica e o carinho do povo goiano, a jornada 8 representou um momento de congraçamento e descontração entre os colegas das regionais irmãs, Brasília, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo, que formam o núcleo centro-oeste da SBR. 06/11/2015 – 11/11/2015 ACR/ARHP Annual Meeting 2015 São Francisco, Califórnia, EUA A CHARGE DO PLÍNIO BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 R e u m ato . c o m Convidamos os reumatologistas a acessarem o portal da SBR - http://www.reumatologia.com.br - , em que vários temas de interesse da área estão à disposição para consulta. Reumatologista elabora material informativo sobre Febre Chikungunya Durante a XX Jornada Centro-Oeste de Reumatologia, o professor dr. Izaías Pereira da Costa, de Mato Grosso do Sul, apresentou em palestra-aula um material bastante informativo e ilustrado que elaborou sobre o tema Febre Chikungunya – Desafios no manejo do acometimento articular. O documento é particularmente interessante aos reumatologistas. http://www.reumatologia.com.br/index.asp? Perfil=&Menu=Ferramentas&Pagina=ferrame ntas/in_mural_de_arquivos.asp Canal de vídeos de anatomia 3D da Universidade de Lyon A dica desta edição não é exatamente sobre um aplicativo, mas sobre uma página do site de compartilhamento de vídeos Youtube. Destacamos a página “Anatomia 3D da Universidade de Lyon”. Ao contrário de um aplicativo do tipo Atlas, os vídeos mostram os movimentos dos diversos segmentos corporais, iniciando pela apresentação dos ossos, seguida pela de músculos e tendões, mostrando-os em visões anterior, posterior e superior. Os vídeos podem ser “linkados” para apresentação em Powerpoint, sendo de utilidade para aulas e apresentações. Para receber atualizações dos vídeos, basta ter uma conta Google, acessar o Youtube e inscrever-se no canal. As novidades podem ser enviadas por e-mail. https://www.youtube.com/channel/UCysFGqc3xKggpptgl7k9XYg Centro de Informação em Reumatologia Como um jornal eletrônico, a página Rheumatology Information Center – parte do www.medpagetoday.com – oferece notícias diárias, escritas e em vídeos, sobre novos e estabelecidos tratamentos, novas ferramentas diagnósticas, estudos clínicos em andamento e comentários sobre artigos científicos das revistas mais importantes da reumatologia. Além disso, a página separa notícias de três das mais importantes sociedades de reumatologia do mundo: europeia, americana e britânica. http://www.medpagetoday.com/Rheumatology BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 9 M at é r i a de C a pa O reumatologista e a A medicina do esporte está à disposição da reumatologia para enriquecer tratamentos com recomendações de exercícios físicos para pacientes e indivíduos sedentários A Reumatologia só tem a ganhar com os conhecimentos adquiridos através da medicina do esporte. É o que salientam três profissionais da especialidade que já enveredaram pelos caminhos da medicina do esporte, absorvendo conhecimentos da área para adotar práticas de exercício físico em benefício de quem estão cuidando, sejam pacientes com doenças reumáticas ou indivíduos sedentários. Assim, a seguir, dra. Fernanda R. Lima discorre sobre como os conceitos e práticas da medicina do esporte podem auxiliar no tratamento e na prevenção de comorbidades nas doenças reumáticas. Por sua vez, dr. Fábio Jennings salienta que, para o médico reumatologista atual, é imprescindível a compreensão dos fundamentos do exercício físico, que pode tanto ser utilizado como aliado ao tratamento das doenças reumáticas, como também pode ser responsável por lesões e outras condições musculoesqueléticas. Por fim, o dr. Pablius Silva explica quais são os requisitos necessários para especializar-se como médico do esporte. Enfim, aproveitem a oportunidade. Não precisamos ser atletas, mas difundir e praticar este conhecimento para si e para o seu paciente é de extrema importância. 10 Medicina esportiva enriquece tratamento de doenças reumatológicas Fernanda R. Lima Reumatologista e médica do Esporte; médica-assistente da Disciplina de Reumatologia do HC/FMUSP C omo reumatologistas, nós sabemos que os nossos pacientes, adultos ou crianças, tendem a evoluir com perda da amplitude das suas articulações, diminuição da sua força muscular e massa óssea, alterações na sua postura e marcha e uma perda progressiva do seu condicionamento cardiovascular. É ainda importante ressaltar que, na maioria das doenças reumatológicas, sejam elas inflamatórias ou não, grande parte desta limitação da função do aparelho locomotor não se deve apenas ao acometimento específico da doença na articulação, no osso ou músculo, mas sim a um status de sedentarismo que atinge o indivíduo de forma gradual. O sedentarismo por si é um grande gerador de inflamação crônica, o que perpetua esse ciclo de inatividade e inflamação. Já dominamos bem as novas opções farmacológicas, que melhoraram em muito a eficácia do tratamento e o controle mais precoce dessas patologias. No entanto, o reumatologista agora deve apropriar-se de um novo campo de pesquisa, que é a medicina do esporte. Essa é uma área da medicina em que o paciente é não só o atleta, recreativo ou profissional, mas também o indivíduo sedentário ou o paciente que serão tratados por meio do exercício físico. Estudos têm demonstrado que para as doenças como lúpus, artrite reumatoide, miopatias inflamatórias e espondiloartrites, a manutenção de um programa de exercício físico regular promove a melhoria da força muscular, da massa óssea, do condicionamento aeróbio, da flexibilidade e propriocepção, bem como pode reduzir a dor, fadiga e até a depressão associadas a algumas destas doenças. Faz-se necessário agora prosseguir com os protocolos de treinamento nas diversas doenças e estudar o padrão de resposta, tanto em temos de segurança, quanto em condicionamento e melhoria clínica. “ Estudos têm demonstrado que para as doenças como lúpus, artrite reumatoide, miopatias inflamatórias e espondiloartrites, a manutenção de um programa de exercício físico regular promove a melhoria da força muscular, da massa óssea, do condicionamento aeróbio, da flexibilidade e propriocepção, bem como pode reduzir a dor, fadiga e até a depressão associadas a algumas destas doenças” BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 medicina do esporte Além disso, estamos caminhando no processo de entender como o exercício físico pode atuar como ferramenta terapêutica ao combater a inflamação crônica de algumas das nossas patologias. Já se sabe que o músculo em contração não exerce somente um papel de proteger e deslocar o esqueleto, mas também é importante no metabolismo e na imunidade ao sintetizar citocinas que irão ter ação anti-inflamatória. Isso já está estabelecido para indivíduos saudáveis; cabe agora ao reumatologista aprofundar o papel dessa função dos músculos nas nossas doenças. Um outro aspecto importante é que algumas co-morbidades, como a osteoporose secundária, as doenças cardiovasculares e a dislipidemia, são frequentes nos pacientes com doenças reumáticas. Faz-se então necessário avançar os estudos epidemiológicos sobre o impacto do treinamento regular no sentido de reduzir o risco dessas co-morbidades neste grupo de indivíduos. Para tanto, é importante que o reumatologista se integre em equipes multidisciplinares, que envolvam professores de Educação Física, fisiologistas e nutricionistas para que haja um aprimoramento nessas linhas de pesquisa. Referência Exercise as an anti-inflammatory therapy for rheumatic diseases – myokine regulation Fabiana B. Benatti & Bente K. Pedersen. Nature Reviews Rheumatology 11, 86–97(2015) BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 “ Cada vez mais, os exercícios físicos fazem parte do tratamento de doenças reumáticas, e como tal, devem obedecer a conceitos básicos de prescrição como modalidade, intensidade, frequência e duração.” É importante conhecer os fundamentos do exercício físico Fábio Jennings Médico-assistente do ambulatório de reabilitação da Disciplina de Reumatologia - Unifesp E m reumatologia, é imprescindível o entendimento dos fundamentos do exercício físico, que está relacionado como elemento no tratamento e também na causalidade de condições musculoesqueléticas. As doenças reumáticas por serem, na sua maioria, de natureza sistêmica, inflamatórias e/ou degenerativas e acometerem o sistema locomotor, causam efeitos deletérios em todos os componentes do condicionamento físico. Não é de se estranhar que a reabilitação e os exercícios físicos fazem parte das recomendações de tratamento de todas as doenças da reumatologia. Por outro lado, a associação de doenças reumáticas com outras condições crônicas, como as doenças cardiovasculares e a obesidade, também faz do exercício físico parte fundamental da prescrição do reumatologista. Cada vez mais, os exercícios físicos fazem parte do tratamento de doenças reumáticas e, como tal, devem obedecer a conceitos básicos de prescrição como modalidade, intensidade, frequência e duração. Esse entendimento tem como objetivos otimizar os resultados fisiológicos e clínicos e reduzir os possí- >> 11 M at é r i a de C a pa Médico do esporte precisa fazer residência e prova de título *Pablius Silva A >> veis eventos adversos (como as lesões de sobrecarga). O reumatologista deve estar familiarizado com os conceitos e atento ao diagnóstico de base e às limitações individuais para que a atividade ou o exercício físico recomendados sejam benéficos e não piorem as condições musculoesqueléticas. Não são raras as situações em que atletas ou pessoas praticantes de exercícios ou esportes são encaminhados ao reumatologista para descartar doenças inflamatórias e sistêmicas causando sintomas articulares. E a associação pode ser encontrada. Nesses casos, cabe ao reumatologista o diagnóstico diferencial e o delineamento da conduta a ser tomada, tanto medicamentosa como no sentido de orientação das adaptações que devem ser feitas na rotina da atividade física. Quanto ao mercado de trabalho, nos últimos anos, temos observado uma necessidade crescente de profissionais com formação em medicina do esporte, tanto pelo diagnóstico mais precoce das doenças crônicas que necessitam de abordagem não medicamentosa, quanto pelo aumento do número de pessoas que procuram a prática de exercícios físicos como mudança de estilo de vida. Esses indivíduos desejam e devem ser avaliados e orientados da melhor forma possível para que a prática seja benéfica e atinja os objetivos pré-definidos. Por outro lado, pelo caráter repetitivo e de sobrecarga, os exercícios físicos podem determinar lesões no aparelho locomotor que, na maioria, são de tratamento conservador. E como somente poucos casos necessitam de cirurgia, o reumatologista é o especialista mais indicado para diagnosticar e tratar as lesões, pois é o “clínico” do aparelho locomotor. Referência Jennings F, Lambert E, Fredericson M. Rheumatic Diseases Presenting as Sports-Related Injuries. Sports Med. 2008.38:917-930. 12 Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte foi fundada em 18 de novembro de 1962 e passou a ser denominada Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte a partir de 16 de abril de 1993, entendendo que a especialidade deveria ter abrangência não só para atletas, mas para qualquer indivíduo que necessite de programas de atividade física para saúde ou lazer ou mesmo tratamento. A formação do médico especialista, atualmente, é feita por residência médica da especialidade por um período de três anos e submissão à prova de titulo ao fim deste período. A grade curricular é multidisciplinar, tornando o médico capaz de avaliar a aptidão, prescrever o exercício físico e tratar lesões decorrentes da prática esportiva. Atualmente existem programas de residência médica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) em Botucatu, Universidade Caxias do Sul, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe) em São Paulo e na Universidade de São Paulo (USP). O mercado de trabalho para o médico do esporte está em expansão devido à busca por qualidade de vida, atividade física saudável, performance em condicionamento físico em diversas modalidades, reabilitação de lesões esportivas e de doenças degenerativas. Com isto, a procura por consultório particular e ambulatórios da especialidade abre um caminho bastante promissor para o especialista. *Médico do Esporte do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital Nove de Julho; gestor médico do Centro de Medicina Especializada (CME) do Hospital Nove de Julho BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 Rheuma & Ethos Atestado de liberação para atividade física tem caráter ético e legal Documento deve ser elaborado com base na avaliação clínica e, quando necessário, em exames laboratoriais, pois, conforme o Conselho Federal de Medicina, “o atestado médico goza da presunção da veracidade” Lilian Schade Membro da Comissão de Ética da SBR A realização de atividade física é recomendação comum de diversas especialidades médicas, pelo benefício cardiovascular, condicionamento físico, pela perda de peso e melhora da autoestima. A prática de atividade física também faz parte da prevenção e do tratamento de doenças como as metabólicas e musculoesqueléticas. Na reumatologia, a prescrição de atividade física é parte essencial do tratamento da fibromialgia e da osteoporose e é também importante para reduzir a dor e a rigidez das doenças inflamatórias articulares. O atestado médico para a prática de exercícios físicos tem o objetivo de preservar a integridade do paciente. É também um documento com implicações éticas e legais, portanto deve ser elaborado com base na avaliação clínica e, quando necessário, em exames laboratoriais, pois, conforme o Conselho Federal de Medicina, “o atestado médico goza da presunção da veracidade”. O médico, para fornecer o atestado, deve analisar se seus conhecimentos nesta área lhe dão segurança para avaliar o paciente. Mesmo que as recomendações habitualmente sejam atividades físicas leves a moderadas, deve-se estar atento a fatores de risco cardiovasculares, assim como anormalidades no exame físico e acrescentar à avaliação os exames complementares quando indicados. Caso o médico sinta-se incapaz de tal avaliação, é prudente encaminhar o paciente a um colega da área. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em 2013 elaborou as diretrizes que orientam a avaliação pré-participação (APP) para atividades físico-esportivas. Estas orientações, disponíveis no site da SBC e aqui descritas resumidamente, são as principais recomendações para o grupo de indivíduos adultos que praticam atividade física sem vínculo profissional com o esporte. O objetivo principal desta avaliação é a prevenção do desenvolvimento de doenças do aparelho cardiovascular e da morte súbita relacionada com a prática de atividade física. • Recomenda-se que se interrogue sobre histórico de hipertensão arterial sistêmica, sopro cardíaco, doenças metabólicas, uso de drogas ilícitas ou procedência de áreas endêmicas de doença de chagas (para estes a sorologia para chagas está recomendada). Informações sobre história familiar de cardiopatia ou morte súbita também são relevantes. • Deve-se questionar sobre sintomas como dor torácica, palpitações, tontura, síncope ou dispneia, desencadeados por exercícios físicos, porém é necessário sensibilidade para avaliar se estes sintomas são indicativos de doenças ou meramente consequência de um treino mais intenso. • No exame físico, é importante procurar por alteração da pressão arterial ou da ausculta cardiopulmonar. 13 O objetivo principal desta avaliação é a prevenção do desenvolvimento de doenças do aparelho cardiovascular e da morte súbita relacionada com a prática de atividade física. • Quanto aos exames complementares não-cardiovasculares, são destacados o hemograma, a avaliação metabólica, função renal e hepática. A radiografia de tórax está recomendada pelo baixo custo e por poder fornecer informações sobre doenças cardiovasculares e pulmonares. • É controversa a indicação de eletrocardiograma para indivíduos jovens sadios, porém é mandatória a realização em idosos, mesmo quando assintomáticos. • Embora o teste ergométrico (TE) seja idealmente indicado, na atividade física leve a moderada, indivíduos assintomáticos e sem fatores de risco cardiovasculares podem ser liberados sem a necessidade do exame. Nas demais condições, o TE está sempre indicado, porém na presença de fatores de risco em indivíduos assintomáticos não há consenso para indicação de TE. • O ecocardiograma está reservado para os casos com história clínica/familiar ou achado físico/eletrocardiográfico sugestivo de cardiopatia. • As alterações nos exames complementares cardiológicos requerem interpretação por profissional experiente, que melhor avaliará se há proibição temporária ou definitiva à realização de atividade física, assim como o tratamento adequado. • Após avaliação do paciente, ao elaborar o atestado de liberação para atividade física, o médico deve especificar o tipo de atividade física e que até aquela data não há contraindicação para a prática da atividade recomendada. Cabe ressaltar que, como qualquer outro atestado, deverá ser escrito com letra legível, em receituário próprio, com a finalidade especificada, assinado, carimbado e registrado em prontuário. Referência Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM n. 1.851 de agosto/2008. Altera o artigo 3º da resolução do CFM n. 1.658 de 13 de dezembro de 2002, que normatiza a emissão de atestados médicos. Disponível em http:qqwww.portaldomedico.org.br/resolucoes/ cfm/2008/1851_2008.htm Diretriz em cardiologia do esporte e exercício. Sociedade Brasileira de Cardiologia e Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Ver. Arq. Bras. Cardiol. Sociedade Brasileira de Cardiologia 2013;1001(1supl 2). Rheuma & Ethos 2ª edição. Comissão de Ética e Disciplina da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2014;58-59. 14 BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 E s pa ç o d o r e s i d en t e Revisão dos requisitos mínimos para programa de residência médica em reumatologia Foi definido que a avaliação do médico residente será trimestral, com provas escrita, oral e prática Jozelia Rêgo Presidente da Comissão de Ensino e Educação Médica da SBR E m 2008, sob a coordenação da dra. Rina Dalva Neubarth Giorgi, a Comissão de Ensino e Educação Médica da SBR elaborou os Requisitos Mínimos do Programa de Residência Médica em Reumatologia, tendo como pontos discutidos a estrutura mínima necessária (física e recursos humanos), os critérios para a escolha dos preceptores, o conteúdo programático para cada ano e os métodos de avaliação anual. Em outubro de 2013, sob a coordenação dos drs. Francisco Airton da Rocha, Maria José Pereira Vilar e Jozelia Rêgo, durante o IX Encontro de Residentes e Docentes, em São Paulo, estes requisitos mínimos foram revisados e atualizados, para novo encaminhamento à Comissão Nacional de Residência Médica. Para o primeiro ano da residência (R1) foi sugerido que a carga horária de 60 horas semanais deve apresentar a seguinte proporção: unidade ambulatorial (50%); unidade de internação (30%); e atividades teóricas (20%). Por entender que a carga horária de urgências e emergências (10%) já foi cumprida durante o período de pré-requisito de clínica médica, a Comissão de Ensino solicitou à CNRM a inclusão desta carga horária no treinamento em unidade ambulatorial, anteriormente de 40%. Para o segundo ano da residência (R2), foi sugerido que a carga horária de 60 horas semanais deve apresentar a seguinte proporção: unidade ambulatorial (50%); unidade de internação e interconsultas (10%); medicina física e reabilitação (10%); atividades teóricas (20%); e estágios recomendados (10%). Com relação à realização da avaliação do médico residente, foi definido pela frequência trimestral e a utilização de provas nas modalidades escrita, oral e BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 prática, associadas à modalidade atitudinal (avaliação do comportamento ético, do relacionamento com a equipe de saúde, do relacionamento com o paciente e do interesse pelas atividades). A comissão orienta que, a cada trimestre, seja realizada uma modalidade de prova diferente da anterior, proporcionando assim maior chance para avaliação de habilidades, atitudes e conhecimentos. Em março de 2014, o processo de avaliação dos requisitos mínimos foi apreciado na sessão plenária da Comissão Nacional de Residência Médica e a Câmara Técnica considerou que a solicitação implica alteração da Resolução CNRM 02/2006 e deverá ser analisada em conjunto com os encaminhamentos das demais sociedades de especialidades. A revisão dos requisitos mínimos proporciona maior adequação à realidade dos serviços brasileiros que oferecem programa de residência em reumatologia e uniformiza a modalidade de avaliação, assemelhando-a aos moldes da prova de título de especialista da SBR. 15 P r o f i s s ã o R e u m ato Por que me tornei reumatologista? Cinco profissionais de regiões diferentes do Brasil – Fernanda Leonel Nunes (Minas Gerais), Katia Tabosa Coutinho (Amapá), Maurício Raposo de Medeiros (Mato Grosso), Raquel Moraes da Rocha Nogueira (Maranhão) e Rogério Carvalho Vieira Chachá (São Paulo) – contam como chegaram à escolha pela especialidade, detalhando aspectos e fatos que os influenciaram. Primeira escolha foi a Alergia, mas criou paixão pela reumatologia, dedicando-se a crianças lúpicas e com artrite idiopática juvenil. Diagnóstico diferencial amplo é um dos atrativos na especialidade Nem a artrite reumatoide impediu a realização do sonho Fernanda Leonel Nunes Katia Tabosa Coutinho Raquel Moraes da Rocha Nogueira Após residência de Pediatria na USP-RP, optei por fazer Alergia-Imuno, que na minha época também abrangia reumatologia. Apesar de a minha primeira motivação ter sido a Alergia, apaixonei-me pela reumatologia, dedicando-me às crianças lúpicas e com artrite idiopática juvenil. Após o término da especialização, tive como meta morar no interior e, como a incidência de doenças reumáticas na infância é pequena, sabia que não iria conseguir trabalhar exclusivamente com crianças. Foi quando fui acolhida pelo Serviço de Reumatologia Clínica e por lá permaneci por seis anos. Atualmente, moro em Passos-MG, e estou há dez anos trabalhando com reumatologia. Hoje tenho 29 anos de formada em Medicina e neste período sempre fui apaixonada pela reumatologia, especialidade com que tive contato durante a confecção do meu TCC, que foi um caso clínico de dermatomiosite. Entre os vários motivos que sedimentaram minha escolha estão: a aplicabilidade clínica; o diagnóstico diferencial amplo; a possibilidade de contato com pacientes com síndromes clínicas complexas; a facilidade técnica em estabelecer diálogo e executar aconselhamento sobre as doenças. Hoje não tenho nenhuma dúvida de que ser reumatologista era mesmo a minha vocação. “Pela dor ou pelo amor”, de maneira análoga à forma como algumas pessoas encontram a religião, identifiquei a minha profissão e especialidade. Com efeito, sempre tive uma paixão pela medicina e já, aos 15 anos, tinha feito a minha escolha. Embora tenha abdicado de muitas coisas no ensino médio, logo desfrutei da recompensa da aprovação no vestibular. Contudo, fui diagnosticada com artrite reumatoide e pensei que o sonho pudesse ser encerrado, mas o tratamento precoce me deixou apta a continuá-lo. Durante a faculdade, todas as disciplinas eram fascinantes. Contudo, estava deslumbrada pela reumatologia, que me envolvia de encantamentos e descobertas; logo, tendenciosamente, comecei a buscá-la cada vez mais. Assim como em a “Bela e a Fera”, meu algoz tornou-se uma paixão e, dessa forma, tornei-me reumatologista, atuando numa especialidade que reúne conhecimento das diversas áreas, fortalecendo a medicina interna e realizando-me profissionalmente. 16 BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 Maurício Raposo de Medeiros Queria uma área que abrangesse todos os órgãos Quando me pediram este texto, embatuquei. Consigo dizer porque sou reumatologista e se faria de novo essa escolha. Mas, quando eu tinha meus 20 e poucos anos, sabia pouco da vida. Sabia que gostava de gente, gostava de clínica e queria uma especialidade que abrangesse todos os órgãos. Aí eu via a possibilidade de escolher entre moléstias infecciosas ou reumatologia. Nesta, via melhores perspectivas para levar conforto e alívio ao paciente e para mim, pois menos frequentemente estaria frente a urgências (grandes dramas de Aids). Hoje eu continuo reumatologista porque a especialidade atendeu à minha expectativa e posso, com frequência, oferecer conforto, diminuir angústias, aflições e caminhar com os pacientes em grande parte da vida, um privilégio de quem trabalha no interior. A reumatologia está bela como nunca e muito mais atrativa. Vi estudos em que os reumatologistas são considerados os médicos mais felizes. Falta traduzir para o nosso idioma e validar o método... Rogerio C. Vieira Chacha Minha decisão de ser médico não foi das mais fáceis. No primeiro vestibular, em 1990, entrei para o curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica onde permaneci por um ano e meio até decidir que não era o que imaginava para o meu futuro. Tentei ainda, na época, aventurar-me pela biotecnologia, mas, no final das contas, percebi que lidar com pessoas era o que me traria felicidade. Nascido em Jundiaí (SP), com cara de interior, não queria mais morar na capital. Fui para a terra do Pinguim, Ribeirão Preto, nos idos de 1992. Após os seis anos do curso, decidi que queria seguir a carreira clínica, que julgava ser a área mais desafiadora, a mais interessante, vistas as dificuldades para o diagnóstico e a necessidade de encadear o raciocínio clínico. Após um ano de residência em clínica médica, chegava a hora de decidir. Como na reumatologia os indivíduos com doenças autoimunes têm acome- timento multissistêmico, enveredando pela especialidade continuaria a ver o indivíduo como um todo e não de forma segmentada. Essa foi a parte racional da resolução. No entanto, pensar retrospectivamente no motivo da escolha não me é uma tarefa fácil. Um médico-professor ou professor-médico contribuiu muito para essa escolha e fico muito satisfeito de ter sido assim. Falo de meu grande mentor e amigo Paulo Louzada Júnior. Imagino que todos nós devamos ter nos espelhado em alguém e, do ponto de vista ético e profissional, o Paulo foi marcante. Menciono ainda o resolutivo Flávio Petean, como outra pessoa importante para a minha decisão. Terminei a residência de Reumatologia em 2000, pouco antes do “fim do mundo”. Passados 15 anos, o mundo não acabou. Sou uma pessoa feliz e, acredito, bem-sucedida na profissão. Moro e exerço a reumatologia em São Carlos, e daqui não saio mais. Sou preceptor do, não mais tão novo, curso BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 O médico e professor Paulo Louzada Junior foi grande influência na escolha pela reumatologia de Medicina da UFSCar e mantenho consultório privado. Dos alunos formados no curso, me orgulho em saber que alguns se decidiram por seguir a carreira de reumatologista. Imagino que talvez seja possível que a história se repita ao longo do tempo. 17 Foco em Serviço de Reumatologia da Uerj foi criado em 1982 A Foram cruciais o empenho e a dedicação da dra. Elisa Martins das Neves Albuquerque, que havia recém-concluído seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro atual Disciplina de Reumatologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) iniciou suas atividades em 1982 com a criação do Setor de Reumatologia, fruto do empenho e da dedicação da dra. Elisa Martins das Neves Albuquerque, que havia recémconcluído seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) após ter sido aluna, residente e médica da Clínica do professor Piquet Carneiro desta universidade. Paralelamente, a Disciplina assumiu nesta época o ensino da reumatologia no curso de graduação em Medicina. Em 1989, o setor tornou-se mais autônomo já como Serviço de Reumatologia, passando a desenvolver atividades ambulatoriais regulares além das interconsultas em parecer e acompanhamento aos pacientes internados. Em 1991 e 1992, passaram a fazer parte do serviço os drs. Evandro Mendes Klumb e Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro. O reconhecimento da comunidade universitária ao trabalho até então realizado culminou com a autorização para a criação da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Ciências Médicas em 1993. Após o concurso para provimento da primeira vaga de professor (professora Elisa), foram autorizadas ampliações do quadro de professores (Roger Abramino Levy, Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro e Evandro Mendes Klumb) e de médicos para a Disciplina, de forma que hoje são mais dez reumatologistas: dras. Verônica Vilela, Francinne Machado Ribeiro, Ana Beatriz Vargas dos Santos, Manuella Lima Gomes Ochtrop, Ana Beatriz Santos Bacchiega de Freitas, Camila Souto Oliveira, Luciana Salgado Pedro, Mariana Pereira de Souza Alves e Magali Usnayo Gómez, além do dr. Ricardo Azedo Montes. Praticamente 18 todos com mestrado e/ou doutorado na especialidade. Além das atividades na graduação do curso médico, a Disciplina mantém atividades de pós-graduação latu sensu com residência em reumatologia, cujo início foi em 1996. Até 2014, 38 residentes concluíram sua formação na UERJ. Atualmente existem cinco vagas a cada ano. O programa foi reavaliado e integralmente aprovado em 2014, pelo CNRM. Dentre as atividades acadêmicas stricto sensu, há participação no programa de mestrado e doutorado em Ciências Médicas (atualmente 12 alunos de mestrado e três de doutorado), e em projetos de pesquisa nacionais e internacionais. As atividades científicas teóricas ocorrem semanalmente e incluem clube de revista, sessão clínica e seminários de revisão. A estrutura física do serviço conta com duas unidades ambulatoriais, cada uma com oito salas para atendimento médico, além das áreas de suporte de enfermagem, assistência social e administrativa. Contamos ainda com um centro para Atividades de rotina O serviço envolve ainda as seguintes atividades e procedimentos específicos: • Sinovianálise (microscopia sob luz polarizada) - Coordenação: dr. Geraldo e dra. Ana Beatriz Vargas; • Urinálise (microscopia de fase) Coordenação: dr. Evandro; • Densitometria óssea - Coordenação: dr. Ricardo e dra. Luciana; • Infiltrações guiadas por radioscopia - Coordenação: dr. Geraldo e dra. Ana Beatriz Vargas; • Ultrassonografia musculoesquelética Coordenação: dra. Manuella; • Videocapilaroscopia - Coordenação: dras. Verônica e Luciana. infusão de agentes imunobiológicos e uma enfermaria com seis leitos, além de anfiteatro próprio e salas de apoio para residentes e administração. Atualmente são atendidos cerca de 1.200 pacientes/ mês nas diversas atividades ambulatoriais, com acompanhamento hospitalar de 15 pacientes/internados/dia. As atividades acadêmicas e assistenciais estão divididas por áreas de interesse de forma que os atendimentos aos pacientes são feitos em ambulatórios específicos com a seguinte distribuição: • Artrite Inicial - Coordenação: dr. Geraldo e dras. Camila e Luciana; • Artrite reumatoide - Coordenação: drs. Geraldo e Ricardo e dras. Ana Beatriz Vargas, Manuella e Mariana; • Artropatias microcristalinas - Coordenação: dr. Geraldo e dra. Ana Beatriz Vargas; • Doenças osteometabólicas - Coordenação: dra. Luciana; • Esclerose sistêmica e Miopatias inflamatórias - Coordenação: dr. Roger e dra. Verônica; • Espondiloartrites - Coordenação: dras. Ana Beatriz Bacchiega e Manuella; • Lúpus Eritematoso Sistêmico - Coordenação: dras. Elisa, Francinne, Verônica e Camila e dr. Evandro; • Pré-natal em reumatologia – (atividade conjunta com a obstetrícia) - Coordenação: dr. Roger; • Primeira vez e diagnóstico diferencialCoordenação: drs. Evandro e Ricardo e dra. Verônica; • Síndrome antifosfolipídeo - Coordenação: drs. Roger e Ricardo; • Terapia Biológica - Coordenação: dr. Geraldo e dras. Ana Beatriz Vargas, Manuella e Magali; • Vasculites – Coordenação: dras. Manuella e Ana Beatriz Bacchiega. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 Coluna Neubarth Curvemo-nos ao odioso? “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí...” Fernando Neubarth * (Assis Valente, 1911-1958) O riginário da África, sua família se espalhou pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta no século XVI. Viajante espontâneo em navios negreiros, foi através deles que chegou ao nosso continente. Sua primeira descrição data de 1762 e seu batismo, com direito a nome e sobrenome, deve-se a Carl Linnaeus (1707-1778). Aedes Aegypti significa Casa do Egito. Mas há controvérsias. Há quem diga que, ao invés do latim, a primeira parte do seu nome derivaria do grego; o termo Aedes pode ser traduzido por “odioso, desagradável”. Os primeiros relatos de dengue no Brasil são de Curitiba, no final do séc. XIX e no início do seguinte, de Niterói, no Rio de Janeiro. Naquela época o Aedes já preocupava, mais por conta da transmissão da febre amarela urbana. Vive-se agora em plena epidemia da dengue, embora algumas autoridades teimem em não admitir. Tudo indica que vem mais por aí: a febre chikungunya, também de origem africana, é muito parecida com a dengue, mas acompanhada de dores mais severas, principalmente nas articulações, o que pode perdurar por muitos anos após a fase aguda. O vetor do vírus é o mesmo Aedes, o odioso (tanto o Aegypti quanto o Albopictus), e, portanto, onde grassa uma a outra deve dar o ar da graça. Ou da desgraça. Detectada pela primeira vez em 1952, na fronteira da Tanzânia com Moçambique, a chikungunya espalhou-se por mais de 40 países africanos e asiáticos segundo a Organização Mundial de Saúde, sendo em 2013 registrada também nas Américas e rapidamente se dissemina. Apesar da baixa letalidade (1:1000) é extremamente debilitante. A palavra chikungunya deriva de um dialeto da Tanzânia e significa “doença do andar curvado”. Apresenta sintomatologia semelhante à da dengue, mas em intensidade maior: febre, mal-estar, dores pelo corpo, dor de cabeça, apatia e cansaço. O acometimento articular importante pode levar a problemas permanentes de mobilidade e/ou um quadro muito semelhante ao da artrite reumatoide. O tratamento é sintomático e as medidas de prevenção são as mesmas usadas no combate à dengue: inseticidas e repelentes, além da eliminação dos locais de reprodução do mosquito, como áreas de água parada. O Aedes foi erradicado no Brasil em 1955, mas em 1967 verificou-se que o vetor fazia-se outra vez presente no território nacional. Eliminado novamente em 1973, reapareceu após três ou quatro anos. Não é um mistério seu paradeiro nestes períodos, apenas decorrência de racional política saneadora. Enfrentamos a um só tempo a escassez de água, o descaso com os mananciais e a tentativa desesperada de manter reservatórios muitas vezes sem condições mínimas de armazenamento seguro. Para combater o mosquitinho listrado é preciso vontade política e comprometimento da população, pois ignorância sobre seus hábitos já não é desculpa. Para a dengue se prevê uma bem-vinda vacina. Mas e a febre chikungunya? Ficaremos à espera, em atitude contemplativa? Vamos nos dobrar frente ao mosquito? * Médico e escritor. Presidente da SBR, gestão 2006-2008 BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 19 Coluna Seda Centenário da morte de Charles-Jacques Bouchard Hilton Seda C Dedicado à dra. Wanda Heloisa Rodrigues Ferreira harles-Jacques Bouchard é mais conhecido, principalmente pelos reumatologistas, em virtude da descrição que fez dos nódulos que receberam seu nome, mas, como vamos demonstrar, sua contribuição à patologia e clínica foi muito mais ampla. Ele nasceu na França, em Montier-en-Der, no dia 6 de setembro de 1837. Filho de Jean Baptiste Athanase e Céline Catherine Pennet, família de origem modesta. Casou-se, em 12 de janeiro de 1875, com Hélène Henriette Ruffer. Não tiveram filhos. Faleceu em 28 de outubro de 1915, portanto há cem anos, em Saint-Pierre-du-Vauvray, na Alta Normandia. Iniciou seus estudos, em 1855 ou 1857, na Escola de Medicina de Lyon. Depois foi para Paris, onde obteve seu doutorado em 1866 com a tese Études sur quelques points de la pathogénie dês hemorragies cérébrales, tema que lhe foi sugerido por Jean-Martin Charcot (1825-1893) quando estava no Hospital da Salpêtrière. Charcot ficou famoso por demonstrar as características dos pacientes histéricos, mas provocou controvérsias sobre o comportamento desses pacientes quando estavam sob o efeito da hipnose. Nessa tese Bouchard defendeu a ideia de que as hemorragias eram precedidas de inflamação dos pequenos vasos que se convertiam em mínimos aneurismas miliares, que passaram a ser conhecidos como “aneurismas de Charcot-Bouchard”. Charcot constatou que Bouchard era um grande expert em micros20 cópio e muito minucioso no exame dos doentes. Essa ligação Charcot-Bouchard deteriorou-se anos depois. Em 1869, Bouchard tornou-se professor agregado com a tese De la pathogénie des hemorragies; em 1870, médico do bureau central de assistência médica; a partir de 1874 foi médico dos hospitais, atuando em Bicêtre, Lariboisière e Charité (1892). Em 1875, ministrou curso de História da Medicina. Sucedeu Anatole Chauffard (1855-1932) como professor de patologia e terapêutica. Quando estava no Hospital de Bicêtre, entre 1876 e 1879, fez muitos estudos em laboratório. Foi a seguir, em 1880, para o Lariboisière, onde prosseguiu trabalhando em laboratório. Tinha como lema a ideia de que o estudo das doenças infecciosas não deveria basear-se unicamente na bacteriologia e sim em uma associação com a clínica. Interessou-se pelo estudo da tuberculose, grave problema social na época, tanto que criou um serviço de radiologia no Hôpital de La Charité que o ajudava no diagnóstico da doença (1-3). Charles Bouchard foi nomeado médico honorário dos hospitais em 1903 e, em 1910, professor honorário. Entrou para a Academia de Medicina em 1886 e para a de Ciências em 1893. Recebeu a Legião de Honra em 1914 (1,2). Foi autor de obras importantes, como Traité de Pathologie Générale, em sete volumes, que publicou, entre 1895 e 1903, com a participação de colaboradores; Études expérimentales sur l’identité de l’herpès circiné et de l’herpès tonsurant (1860); Des dégénerations secondaires de La moelle épinière (1866); Étude sur quelques points de La pathogénie dés hémorrhagies cérébrales (1866); Les autintoxications (1866); De la pathogénie dés hemorrhagies (1869) (1,2). Na bagagem científica de Charles Bouchard, como já assinalado, há outras contribuições importantes além da descrição dos nódulos: aneurismas de Charcot-Bouchard; enfermidade de Bouchard (dilatação do estômago por insuficiência muscular); linha de Bouchard (avaliação da dilatação do estômago); sinal de Bouchard (avaliação na urina de pus de origem renal) (1). A história de nódulos nos dedos das mãos data do início do século XIX. William Heberden deu, em 1802, o primeiro passo importante para a individualização definitiva da osteoartrite/osteoartrose (OA), ao descrever os nódulos que levam seu nome, distinguindo-os da gota, nos Commentaries on the History and Cure of Diseases, publicados um ano após sua morte: ”Nódulos nos dedos. Que são esses pequenos nódulos duros, de tamanho aproximado de uma pequena BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 ervilha, que são frequentemente vistos nos dedos, principalmente um pouco abaixo da extremidade próxima à articulação? Eles não têm relação com a gota, sendo encontrados em pessoas que nunca a tiveram; permanecem por toda a vida; sendo raramente dolorosos ou predispostos à inflamação, mais de má aparência que incômodos, apesar de poderem se tornar um pequeno obstáculo para o livre uso dos dedos.” Heberden nasceu em Londres em 1710 e faleceu, em 1801, aos 91 anos de idade, em Windsor, cidade onde viveu seus últimos anos. Do mesmo modo que Charles Bouchard, contribuiu para a descrição de doenças bem reconhecidas atualmente, como angina pectoris e cegueira noturna, e estabeleceu a diferença de gravidade entre varicela e varíola (4, 5). Charles- Jacques Bouchard descreveu os nódulos conhecidos pelo seu nome 82 anos depois da descrição dos de Heberden, não estabelecendo, entretanto, nenhuma relação entre eles e cometendo o erro de atribuí-los a perturbações gástricas, no trabalho intitulado Du rôle pathologique de la dilatation de l’estomac et de la relation clinique de cette maladie avec divers accidents morbides: “Eles consistem, às vezes, em saliências laterais, proeminentes na face dorsal da segunda articulação, seja para dentro ou para fora... A essas nodosidades se juntam frequentemente modificações de direção das falanges, de tal modo que o dedo em vez de manter-se retilíneo mantém-se inclinado” (2,4). Conforme acentuou Mário Viana de Queiroz (2), Bouchard referiu-se, em seus trabalhos, a várias doenças de interesse reumatológico. Uma das primeiras é o raquitismo que definiu como “uma anomalia da nutrição da criança que produz um crescimento excessivo dos tecidos de ossificação com uma calcificação insuficiente desses tecidos e que produz, como consequência, deformidades pas- BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 sageiras ou duráveis de diversas partes do esqueleto”. Estabeleceu a diferença entre osteomalácia e osteoporose: “O tipo de alteração osteomalácica é o desaparecimento dos sais calcários da substância fundamental das lamelas ósseas com manutenção dessas lamelas descalcificadas e dos osteoblastos que contém”. A gota, disse Bouchard, “É a doença dos mestres, dos ricos, dos sábios, das pessoas de espírito, dos financistas, dos políticos, dos que têm existência sedentária e abastada, daqueles que não dispensam os excessos de carne, especiarias, vinhos capitosos, como o Porto ou Xerez, e as bebidas fortes como as cervejas pretas (porter ou stout)”. Ele soube distinguir muito bem a artrite reumatoide da gota: “...ela não é habitualmente precedida de crises articulares regressivas, acomete preferencialmente a mulher e mantém inflamações crônicas da sinovial...” A osteoartrose/ osteoartrite também foi descrita e há um capítulo em uma de suas lições intitulado “Pseudoreumatismos” que se refere a doenças não reumáticas que podem evoluir com artrite. Charles-Jacques Bouchard foi um digno representante da clínica francesa baseada na observação que muito contribuiu para o desenvolvimento da reumatologia, merecendo, assim, nossas homenagens no ano do seu centenário de falecimento. Referências Charles Jacques Bouchard: historiadelamedicina.org – biografias. 2 Viana de Queiroz M: Charles Bouchard in Quem foi quem na história das doenças reumáticas, Viana de Queiroz M, Seda H (Eds), Lidel, Lisboa, 2008. 3 Porter R: A História da Cura, Livros e Livros, Lisboa, 2002. 4 Seda H: Aspectos históricos da osteoartrite/ osteoartrose in História das doenças reumáticas, Viana de Queiroz M, Seda H (Eds), Lisboa, 2006. 5 Seda H: William Heberden in Quem foi quem na História das doenças reumáticas, Viana de Queiroz M, Seda H (Eds), Lidel, Lisboa, 2008. 1 21 Além da R e u m ato lo g i a Reumatologista e “colecionador” de árvores Junto com a atividade médica, Enio Ribeiro Reis desenvolve um trabalho especial de cultivo de espécies arbóreas em sua propriedade rural na cidade de Campanha, sul de Minas Gerais E le nasceu e cresceu em meio ao ambiente rural, deliciando-se com as distrações na fazenda de sua família, na cidade de Campanha, interior de Minas Gerais. O resultado é que jamais se afastou totalmente dessa realidade, mesmo tendo morado quatro anos em São Paulo e 12 anos no Rio de Janeiro. “Para minha família, lidar na fazenda é um caminho natural, está no sangue”, diz o reumatologista Enio Reis. A diferença, entretanto, está na forma de manejo escolhida, com ênfase ao cultivo de árvores, em projetos muito bem cuidados e sustentáveis, do qual faz parte a criação de gado de corte bovino e caprino. Enio sintetiza sua atividade como “agrosilvopastoril”, explicando que há integração de lavoura, pecuária e floresta. Pode-se dizer que a “agro” e a “pastoril” existem para desenvolver cada vez mais a “silvo”, ou seja, fornecer matéria orgânica que é utilizada para o cultivo de espécies como eucalipto, mogno, cedro e, mais recentemente, palmeira. E para dar às árvores maior dedicação de seu tempo, ele optou por criar animais mais rústicos, que exigem menos cuidado, como o bovino Nelore e o caprino Mambrina, “o zebu” dos caprinos, diz Enio. O manejo do rebanho é tradicional; deixar que pastem tranquilamente até que os animais estejam crescidos e fortes o bastante para ir à fase de “terminação” que, segundo explica Enio, envolve dois meses de confinamento até o momento do abate. Mas é interessante notar que deixar “pastar tranquilamente” é um cuidado levado ao extremo no modo como 22 Enio define sua atividade rural como “agrosilvopastoril”, pois envolve cultivo de árvores, gramíneas e criação de gado. o reumatologista maneja os animais. “O cultivo das gramíneas para alimentar o gado é feito em meio às espécies de árvores plantadas. Desta forma as sombras e a qualidade do pasto proporcionam um conforto térmico que diminui o estresse do animal e aumenta a conversão de carne”, explica Ênio. Ênfase ao verde É facilmente notada a satisfação com que o reumatologista fala de seu trabalho de formação de florestas. “Sou um ‘colecionador’ de árvores”, diz ele, realçando que tenta fazer sua parte ecológica na responsabilidade de cuidar do meio ambiente. Ele conta que che- “ Plantei mais de 10 mil mudas de palmeiras exóticas e em sete anos estarão crescidas, se tudo correr bem” gou a realizar, há sete anos, um projeto numa encosta onde havia nascentes, envolvendo a compra e plantação de 5 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. O resultado foi um aumento significativo da água dessas nascentes após a formação da mata. “Conseguimos volume de água três vezes maior e a presença das árvores foi determinante, porque elas retêm e fixam o líquido na terra”, explica. Seu mais recente feito foi a formação de um viveiro de palmeiras exóticas, não nativas do Brasil. “Plantei mais de 10 mil mudas e em sete anos estarão crescidas, se tudo correr bem”, diz ele, com orgulho. E os planos são aumentar ainda mais sua “coleção” verde com novas espécies. Tudo isso é realizado uma vez por semana, aos sábados, quando vai a Campanha. “Mas já é suficiente”, diz ele, para desestressar de seu cotidiano em Varginha, cidade próxima onde mora. Lá, de segunda a sexta está presente em seu consultório, além de trabalhar num centro de infusão. E mais: estuda muito, porque gosta, e dá palestras e aulas quando convidado. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015 www.reumatologia.com.br