do PDF - Sociedade Brasileira de Reumatologia

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ABR / MAIO / JUN 2015 • No 2 • ANO XXXIX
Editorial
Fronteiras: respeitar ou ultrapassar?
F
rente a um limite, nos questionamos: devo ou
não cruzá-lo? Sem dúvida alguma, devemos
desbravar as fronteiras da ciência, buscando
novas explicações e respostas para velhos problemas.
Os eventos da reumatologia brasileira, elencados em
“O melhor do Brasil”, nos ajudam a alcançar estes conhecimentos. E que tal quebrar antigos paradigmas e
ampliar nossa área de atuação profissional, descobrindo
a Medicina do Esporte, com os doutores Fabio Jennings,
Pablius Silva e Fernanda Lima? Ao atravessar fronteiras
geográficas, seremos apresentados a colegas de outros
Estados na “Profissão Reumato”. Podemos até seguir o
exemplo do dr. Enio R. Reis, de Varginha (MG), que
se lança também em um segmento tão diferente da
Reumatologia, como a atividade “agrosilvopastoril”.
Outra criatura que “desrespeitou” as divisas territoriais
e cruzou oceanos foi o odioso Aedes Aegypti. Sua história
é contada pelo mestre da escrita, dr. Neubarth. No entan-
to, devemos respeitar os limites da dignidade, exigindo o
cumprimento de normas e valores verdadeiros. Como estabelecer as tênues raias do ético e legal? Na seção “Rheuma
& Ethos”, a dra. Lilian Schade traz esclarecimentos sobre
o atestado médico para liberação de atividade física.
Em meio a estes devaneios filosóficos, uma pausa para
desfrutar o texto delicioso da “Coluna Seda” (trazendo a
trajetória de Charles-Jacques Bouchard, médico francês que
rompeu os limiares da medicina do século XIX) e rir com a
charge de nosso amigo Plínio. Agradecimentos nunca serão
demais para estes fiéis colaboradores do Boletim da SBR.
Uma linha no chão, um muro alto, pensamentos,
emoções. Quaisquer que sejam as fronteiras, elas existem e nos cercam. Cabe a cada um de nós a decisão de
respeitá-las ou ultrapassá-las.
Uma ótima leitura para todos!
Dra. Sandra Watanabe, editora
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA
Diretoria Executiva da SBR – Biênio 2014-2016
Presidente
César Emile Baaklini – SP
Tesoureiro
José Roberto Provenza – SP
Secretário-geral
José Eduardo Martinez –SP
Vice-Tesoureiro
Luiz Carlos Latorre – SP
1º Secretário
Silvio Figueira Antonio – SP
Diretor científico
Paulo Louzada Jr. –SP
2º Secretário
Washington Alves Bianchi – RJ
@ [email protected]
Coordenação editorial
Edgard Torres dos Reis Neto
Jornalista responsável
Maria Teresa Marques
Editores
Tania Caroline Monteiro de Castro
Renê Donizeti Ribeiro de Oliveira
Sandra Hiroko Watanabe
Layout
Sergio Brito
Impressão
Sistema Gráfico SJS
Tiragem: 2.000 exemplares
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
4
Notas
6 SBR.doc
8
O melhor do Brasil
9
Reumato.com
10Matéria de Capa
13Rheuma & Ethos
15Espaço do Residente
16Profissão Reumato
18 Foco Em
19 Coluna Neubarth
20Coluna Seda
22Além da Reumatologia
ÍNDICE
Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94
01402-000 – São Paulo - SP – Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986
Colaborador
Plinio José do Amaral
Representante junto ao Ministério da Saúde
Ana Patrícia de Paula – DF
Mário Soares Ferreira – DF
Representante junto à AMB
Eduardo de Souza Meirelles – SP
Gustavo de Paiva Costa – DF
Ivone Minhoto Meinão - SP
Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia
www.reumatologia.com.br
Representante junto à Panlar
Adil Muhib Samara – SP
Antonio Carlos Ximenes – GO
Fernando Neubarth – RS
Maria Amazile Ferreira Toscano – SC
3
N ota s
ERRATA
Faleceu dr. Lipe Goldenstein
Consternada, a Sociedade Brasileira de Reumatologia comunica
que faleceu na madrugada do dia 14 de maio último, em Salvador
(BA), o dr. Lipe Goldenstein, sócio efetivo da SBR e membro emérito da Academia Brasileira de Reumatologia. Pai da dra. Cláudia
Goldenstein Schainberg, sócia efetiva da SBR.
N
Na edição anterior do Boletim SBR (jan/fev/
mar 2015), foi publicado sem autoria o texto
“Tributo em um princípio básico de astronomia”
(págs. 16 e 17), em homenagem ao professor
João Manoel Cardoso Martins. O autor do texto
é o reumatologista Fernando Neubarth.
Evento reuniu ex-residentes formados
na Unicamp e PUC Campinas
os dias 27 e 28 de março, a Unicamp e a PUC-Campinas promoveram o II Encontro de Ex-residentes
em Reumatologia para discutir avanços em diagnósticos
e tratamentos de doenças reumáticas. O encontro, que
foi realizado no Quality Resort & Convention Center, em
Itupeva (SP), reuniu cerca de cem médicos formados pelas
duas universidades e que atuam em todo o país.
Durante o evento científico, foram apresentados estudos e
pesquisas sobre medicamentos de última geração para várias
doenças reumáticas como artrite reumatoide, lúpus, espondiloartrites, osteoartrite, osteoporose, gota, reumatismo de partes
moles e sobre segurança no uso dos biológicos.
O II Encontro de Ex-residentes em Reumatologia contou com
apoio institucional da Sociedade Paulista de Reumatologia.
Presentes ao encontro de ex-residentes, que apresentou estudos e pesquisas sobre medicamentos de última geração para várias doenças reumáticas.
Panlar promoveu I Curso Pré-congresso de Ultrassom
A
cidade de Barranquilla, na Colômbia, foi sede do I Curso PréCongresso de Ultrassom, realizado em
15 de abril de 2015. O curso é uma
iniciativa educacional que visa a proporcionar um ambiente propício para
fortalecer conceitos básicos, a troca de
experiências e a avaliação do progresso
no conhecimento de ultrassonografia
na artrite reumatoide, com palestrantes
4
nacionais e internacionais da América
Latina, dos EUA e da Europa
Nesta primeira edição, o curso foi dedicado à artrite reumatoide e foi essencial
para fornecer uma nova e sólida formação
de vários reumatologistas de toda a América Latina. O evento ocorreu sob a forma
de “oficina de treinamento”, com sessões
teóricas e práticas e avaliação de pacientes
portadores de artrite reumatoide.
O dr. José Alexandre Mendonça, que
faz parte do grupo de ultrassonografia
do Panlar, atuou como professor do
curso pré-congresso.
Atualmente, a ultrassonografia é uma
ferramenta valiosa na área da reumatologia como “padrão-ouro” para a caracterização do processo inflamatório e a
quantificação dos danos anatômicos em
diferentes fases de evolução da doença.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
Reumatologistas da SBR estiveram na ação Bem Estar Global, em Belém
A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) participou da ação
Bem Estar Global, da TV Globo, em Belém (PA) no dia 24 de abril
de 2015, com especialistas orientando a população sobre as doenças
reumáticas e seus possíveis tratamentos.
O evento aconteceu na Praça Batista Campos, no centro da capital
paraense, das 8h às 14 horas, sob a coordenação da reumatologista
dra. Rosana de Britto Pereira Cruz, presidente da Sociedade Paraense
de Reumatologia. Às 11h30, houve palestra aberta, no palco central
do evento, sobre doenças como artrite, artrose, osteoporose e lúpus.
Dados do evento:
• Cerca de 400 pessoas atendidas
• 11 profissionais mobilizados pela Sociedade
Paraense de Reumatologia
• Distribuição de cartilhas educativas
produzidas pela entidade
• Palestra com a dra. Rosana de
Britto Pereira Cruz
• Público estimado: 10 mil pessoas
Disciplina de Reumatologia da FMUSP promove
encontro de ex-residentes, estagiários e pós-graduandos
Os participantes do encontro da Disciplina de Reumatologia da FMUSP.
A
Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina
da USP promoveu o XI Encontro de Ex-residentes, Estagiários e Pós-graduandos da Disciplina de Reumatologia
da Faculdade Medicina da USP, sob a coordenação das professoras titulares Eloisa Bonfá e Rosa Pereira e do dr. Célio
Roberto Gonçalves. O evento, que ocorre a cada dois anos,
foi realizado no hotel The Royal Palm Plaza, em Campinas, de
24 a 26 de abril de 2015 e recebeu cerca de 300 convidados,
sendo que 141 eram membros e ex-membros da Disciplina.
Durante o encontro, os participantes tiveram a oportunidade
de atualizar-se sobre temas baseados na experiência do serviço:
uso de medicações imunobiológicas no lúpus, na osteoporose
e nas miopatias inflamatórias; evidências de atividades físicas
e exercícios em doenças reumáticas e a importância da ultrassonografia articular.
Além da atividade científica, o evento foi uma ótima
oportunidade para rever colegas e amigos e contou com a
participação de familiares.
Audiência pública teve atenção à
pessoa com lúpus como tema
Dia 28 de maio, quinta-feira, no prédio do Senado Federal, em Brasília
(DF) foi realizada uma audiência pública com o tema “A Educação e a
sensibilização da sociedade sobre o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus – uma doença autoimune que pode matar”. A audiência
foi marcada em atendimento à solicitação do senador Romário Faria.
Senado foi iluminado de roxo em 10 de maio, Dia
Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus Eritematoso
Sistêmico, a pedido do senador Romário Faria, em
homenagem aos portadores dessa patologia.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
5
Sbr.doc
Assembleia aprova contas de
eventos oficiais da gestão 2012/14
O
secretário-geral da Sociedade
Brasileira de Reumatologia, dr.
José Eduardo Martinez, comunica que
a Assembleia Geral Extraordinária
realizada nas dependências da XX Jornada Centro-Oeste de Reumatologia,
na cidade de Goiânia em 24/04/2015,
ratificou o parecer do Conselho Fiscal
após o cumprimento do estabelecido pela
última AGE realizada em Belo Horizonte
durante a realização do XXXI Congresso
da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Assim, foram aprovadas as contas
dos seguintes eventos, todos relativos à
gestão 2012/2014:
XXIX Congresso da Sociedade Brasileira de Reumatologia – 19 a 22/09/2012
– Vitória-ES;
XIX Jornada Centro-Oeste de Reumatologia – 25 a 27/04/2013 - Cuiabá-MT;
XX Jornada Rio-São Paulo de Reumatologia – 11 a 13/04/2013 - Rio de
Janeiro;
XXX Congresso da Sociedade Brasilei-
ra de Reumatologia – 20 a 23/11/2013
- Recife-PE;
XXII Jornada Norte-Nordeste de Reumatologia – 01 a 03/05/2014 - São Luis-MA;
XIX Jornada Cone Sul de Reumatologia
– 31/07 a 02/08/2014 - Gramado/RS
Deste modo, tem-se como concluída
a prestação de contas da gestão 201214, presidida pelo dr. Walber Vieira,
livre e desembaraçada de quaisquer
pendências.
Balancete
Nesta edição do boletim,
são divulgados o
balancete em 31/03/2015
e Demonstrativo
dos Resultados, até
31/03/2015, da
Sociedade Brasileira de
Reumatologia (SBR),
gestão 2014/2016.
Demonstrativo do Resultado do Exercício
Gestão 2014/2016
Receitas
1.584.163,03
Anuidades9.207,09
Financeiras740.753,05
Patrocínios92.500,00
Eventos oficiais
Despesas
1.405.829,80
31/03/2015
31/08/2014
ATIVO
14.825.452,9214.662.904,43
DISPONÍVEL
13.238.027,2012.856.067,26
Caixa
2.455,68
Bancos - Conta movimento
8.625,79
1.413,16
3.700,22
Investimentos - ADM
8.479.178,42
8.368.655,14
Investimentos - FAP
4.747.767,31
4.482.298,74
CRÉDITOS
744.204,44963.615,89
Anuidades
309.240,41
366.996,00
Adiantamentos - Regionais
392.082,03
104.120,00
Resultados - Eventos
42.882,00
134.173,16
Patrocínios
0,00
357.784,00
Adiantamentos - Salariais
0,00
542,73
IMOBILIZADO
843.221,28843.221,28
843.221,28
Imóveis - Sede SP
PASSIVO
14.825.452,9214.662.904,93
FORNECEDORES
843.221,28
Prestadores de serviços
0,0020.457,82
0,00
20.457,82
TRABALHISTA
21.757,8417.763,38
Saldo de salários
14.204,73
11.335,40
Contribuição previdenciária
5.980,85
5.094,67
Fundo de Garantia
1.397,57
1.185,17
PIS - Folha de pagamento
174,69
148,14
Administrativas784.114,79
TRIBUTOS
1.774,121.096,00
Atividades402.146,75
1.774,12
1.096,00
Publicações219.568,26
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
14.801.920,96
14.623.587,73
Patrimônio social acumulado
14.623.587,73
14.623.587,73
Superávit
Superávit
6
741.702,89
Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)
178.333,23
Retidos na fonte
178.333,23
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
O
melhor do
Brasil
Notícias das regionais
Paraná
São Paulo
XXI ERA 2015
Encontro de Reumatologia Avançada
A
Sociedade Paulista de Reumatologia promoveu entre os
dias 31 de abril e 2 de maio, em São
Paulo, o XXI ERA 2015 – Encontro
de Reumatologia Avançada, que
recebeu mais de 500 participantes
de todo o Brasil. Foram abordados
os mais diversos temas, desde tecnologia de ponta em pesquisa científica
até aspectos práticos de relevância
para o consultório médico. Vieram
ministrar aulas os doutores Bhaskar Dasgupta, da Inglaterra, e Cees Kallenberg,
da Holanda. Prestigiaram o evento o presidente da SBR, dr. Cesar E. Baaklini, e
o presidente eleito (biênio 2016-2018), dr. Georges B. Christopoulos.
São Paulo
e
Rio
de
J a ne i r o
Hotel Renaissance recebeu
o XXI Encontro Rio/SP
Primeiro
trimestre teve
ações da SPR
A
Sociedade Parananense de
Reumatologia (SPR) já pontuou o primeiro trimestre do ano
com várias ações. Entre elas, um
simpósio sobre Espondiloartrites,
quando foram ministradas aulas
pelo dr. Marcelo Pinheiro (SP), dr.
Marcio Augusto Nogueira (PR),
dra. Thelma Skare Larocca (PR)
e também dr. Valderílio Azevedo
(PR). O evento contou com a presença de vários reumatologistas
tanto da capital como do interior
do Paraná.
Outra realização da entidade foi,
em maio, a reunião sobre Osteoartrite, que teve a presença dos professores da Universidade Estadual de
Maringá (UEM): dr. Marco Rocha
Loures e dr. Paulo Roberto Donadio.
Houve ainda uma apresentação da
dra. Vivian Pasqualin (PR) sobre
fisioterapia na osteoartrite.
Jornada em sexta edição
Cerca de 500 participantes de todo o Brasil se inscreveram para o encontro.
E
vento oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia, o Encontro Rio/
São Paulo de Reumatologia teve sua 21ª edição entre os dias 6 e 8 de abril,
no Hotel Renaissance, em São Paulo. Neste ano, promoveu-se concomitantemente o IX Curso de Revisão para Reumatologistas, da Sociedade Paulista de
Reumatologista. Foram inscritos cerca de 500 participantes, de todo o Brasil.
Estiveram presentes no evento o presidente da SBR, dr. César Emile Baaklini,
e o diretor-científico dr. Paulo Louzada Jr., além do presidente da Sociedade
Paulista de Reumatologia, dr. Dawton Y. Torigoe, e o presidente da Sociedade
de Reumatologia do Rio de Janeiro, dr. José Fernando Vertzman. A programação científica foi cuidadosamente elaborada, num trabalho em que se destacou
a dedicação das diretoras científicas das duas sociedades regionais, Simone
Appenzeller e Adriana Danowski.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
No mês de junho é a vez da
tradicional Jornada Paranaense de
Reumatologia, este ano em sua 6ª
edição, com a presença de reumatologistas do Paraná, de Santa Catarina
e do Rio Grande do Sul, além de
palestrantes de lugares diferentes
do Brasil.
Durante a jornada, será divulgado
o vencedor de um concurso literário
criado este ano pela SPR e que leva o
nome do recém-falecido reumatologista professor João Manuel Cardoso
Martins. O concurso vai selecionar
os melhores artigos literários não
científicos em forma de crônicas,
sátiras e minicontos.
7
O
melhor do
Brasil
Notícias das regionais
Goiás
A gen d a
www.reumatologia.com.br
Sociedade local promoveu
XX Jornada Centro Oeste
EVENTOS NACIONAIS
25/06/2015 - 27/06/2015
6º Jornada Paranaense de Reumatologia
Curitiba, PR
07/08/2015 - 08/08/2015
Reumario
Rio de Janeiro, RJ
07/10/2015 - 10/10/2015
XXXII Congresso Brasileiro de
Reumatologia
Curitiba, PR
EVENTOS INTERNACIONAIS
10/06/2015 – 13/06/2015
The Annual European Congress of
Rheumatology/Eular 2015
Roma, Itália
27/08/2015 – 29/08/2015
XI Congreso de la Sociedad
Iberoamericana de Osteología y
Metabolismo Mineral – Sibomm
Lisboa, Portugal
Membros da Comissão Executiva da jornada (esq. p/dir.): dr. Marcelo Pimenta;
dra. Camila Guimarães; dr. Gustavo Pavlik Haddad; e dra. Jozelia Rêgo.
02/09/2015 – 06/09/2015
Lupus 2015
Viena, Áustria
A
17/10/2015 – 19/10/2015
5th Abu Dhabi Advanced Rheumatology
Review Course
Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos
Sociedade Goiana de Reumatologia, com o apoio da SBR,
realizou em Goiânia, do dia 23 a 25 de
abril, a XX Jornada Centro Oeste de
Reumatologia, com o tema “As Múltiplas Interfaces da Reumatologia”. A
comissão organizadora do evento – formada pelos doutores Gustavo Pavlik Haddad, Jozelia Rêgo, Camila Guimarães e
Marcelo Pimenta – trouxe para discussão
vários temas inter-relacionados a outras
especialidades, como a endocrinologia,
cardiologia, ortopedia, imagem, gineco-obstetrícia, pediatria, infectologia e
neurologia. A Comissão de Dor participou em uma mesa específica, abordando
os mecanismos fisiopatológicos da dor
crônica e as atualizações no tratamento
da dor miofascial e da fibromialgia.
O convidado de honra da jornada foi
o dr Fernando Neubarth, que proferiu a
conferência magna durante a solenidade
de abertura, a qual contou com a presença do presidente da SBR, dr. César
Emile Baaklin, e representantes da área
da saúde do Estado de Goiás.
Com o tempo bom, a comida típica
e o carinho do povo goiano, a jornada
8
representou um momento de congraçamento e descontração entre os colegas
das regionais irmãs, Brasília, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul
e Espírito Santo, que formam o núcleo
centro-oeste da SBR.
06/11/2015 – 11/11/2015
ACR/ARHP Annual Meeting 2015
São Francisco, Califórnia, EUA
A CHARGE DO PLÍNIO
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
R e u m ato . c o m
Convidamos os reumatologistas a acessarem o portal da
SBR - http://www.reumatologia.com.br - , em que vários
temas de interesse da área estão à disposição para consulta.
Reumatologista elabora material
informativo sobre Febre Chikungunya
Durante a XX Jornada Centro-Oeste de Reumatologia, o
professor dr. Izaías Pereira da Costa, de Mato Grosso do Sul,
apresentou em palestra-aula um material bastante informativo
e ilustrado que elaborou sobre o tema Febre Chikungunya –
Desafios no manejo do acometimento articular. O documento
é particularmente interessante aos reumatologistas.
http://www.reumatologia.com.br/index.asp?
Perfil=&Menu=Ferramentas&Pagina=ferrame
ntas/in_mural_de_arquivos.asp
Canal de vídeos de anatomia 3D da Universidade de Lyon
A dica desta edição não é exatamente sobre
um aplicativo, mas sobre uma página do site de
compartilhamento de vídeos Youtube. Destacamos
a página “Anatomia 3D da Universidade de Lyon”.
Ao contrário de um aplicativo do tipo Atlas, os
vídeos mostram os movimentos dos diversos
segmentos corporais, iniciando pela apresentação
dos ossos, seguida pela de músculos e tendões,
mostrando-os em visões anterior, posterior
e superior. Os vídeos podem ser “linkados”
para apresentação em Powerpoint, sendo de
utilidade para aulas e apresentações. Para receber
atualizações dos vídeos, basta ter uma conta
Google, acessar o Youtube e inscrever-se no canal.
As novidades podem ser enviadas por e-mail.
https://www.youtube.com/channel/UCysFGqc3xKggpptgl7k9XYg
Centro de Informação em Reumatologia
Como um jornal eletrônico, a página
Rheumatology Information Center – parte
do www.medpagetoday.com – oferece notícias
diárias, escritas e em vídeos, sobre novos e
estabelecidos tratamentos, novas ferramentas
diagnósticas, estudos clínicos em andamento
e comentários sobre artigos científicos das
revistas mais importantes da reumatologia.
Além disso, a página separa notícias de três das
mais importantes sociedades de reumatologia
do mundo: europeia, americana e britânica.
http://www.medpagetoday.com/Rheumatology
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
9
M at é r i a
de
C a pa
O reumatologista e a
A medicina do esporte
está à disposição
da reumatologia
para enriquecer
tratamentos com
recomendações de
exercícios físicos para
pacientes e indivíduos
sedentários
A Reumatologia só tem a ganhar com
os conhecimentos adquiridos através da
medicina do esporte. É o que salientam
três profissionais da especialidade que já
enveredaram pelos caminhos da medicina
do esporte, absorvendo conhecimentos da
área para adotar práticas de exercício físico em benefício de quem estão cuidando,
sejam pacientes com doenças reumáticas
ou indivíduos sedentários.
Assim, a seguir, dra. Fernanda R. Lima
discorre sobre como os conceitos e práticas
da medicina do esporte podem auxiliar no
tratamento e na prevenção de comorbidades nas doenças reumáticas. Por sua vez, dr.
Fábio Jennings salienta que, para o médico
reumatologista atual, é imprescindível a
compreensão dos fundamentos do exercício
físico, que pode tanto ser utilizado como
aliado ao tratamento das doenças reumáticas, como também pode ser responsável
por lesões e outras condições musculoesqueléticas. Por fim, o dr. Pablius Silva
explica quais são os requisitos necessários
para especializar-se como médico do esporte. Enfim, aproveitem a oportunidade.
Não precisamos ser atletas, mas difundir e
praticar este conhecimento para si e para
o seu paciente é de extrema importância.
10
Medicina esportiva
enriquece tratamento de
doenças reumatológicas
Fernanda R. Lima
Reumatologista e médica do Esporte; médica-assistente
da Disciplina de Reumatologia do HC/FMUSP
C
omo reumatologistas, nós sabemos que os nossos pacientes,
adultos ou crianças, tendem a evoluir
com perda da amplitude das suas articulações, diminuição da sua força muscular e massa óssea, alterações na sua postura e marcha e uma perda progressiva
do seu condicionamento cardiovascular.
É ainda importante ressaltar que, na
maioria das doenças reumatológicas,
sejam elas inflamatórias ou não, grande parte desta limitação da função do
aparelho locomotor não se deve apenas
ao acometimento específico da doença
na articulação, no osso ou músculo, mas
sim a um status de sedentarismo que
atinge o indivíduo de forma gradual. O
sedentarismo por si é um grande gerador
de inflamação crônica, o que perpetua
esse ciclo de inatividade e inflamação.
Já dominamos bem as novas opções
farmacológicas, que melhoraram em
muito a eficácia do tratamento e o controle mais precoce dessas patologias.
No entanto, o reumatologista agora
deve apropriar-se de um novo campo de
pesquisa, que é a medicina do esporte.
Essa é uma área da medicina em que o
paciente é não só o atleta, recreativo ou
profissional, mas também o indivíduo
sedentário ou o paciente que serão tratados por meio do exercício físico.
Estudos têm demonstrado que para as
doenças como lúpus, artrite reumatoide,
miopatias inflamatórias e espondiloartrites, a manutenção de um programa
de exercício físico regular promove a
melhoria da força muscular, da massa
óssea, do condicionamento aeróbio,
da flexibilidade e propriocepção, bem
como pode reduzir a dor, fadiga e até
a depressão associadas a algumas destas doenças. Faz-se necessário agora
prosseguir com os protocolos de treinamento nas diversas doenças e estudar o
padrão de resposta, tanto em temos de
segurança, quanto em condicionamento
e melhoria clínica.
“
Estudos têm demonstrado
que para as doenças como
lúpus, artrite reumatoide,
miopatias inflamatórias
e espondiloartrites, a
manutenção de um
programa de exercício físico
regular promove a melhoria
da força muscular, da massa
óssea, do condicionamento
aeróbio, da flexibilidade e
propriocepção, bem como
pode reduzir a dor, fadiga e
até a depressão associadas a
algumas destas doenças”
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
medicina do esporte
Além disso, estamos caminhando no processo de entender como
o exercício físico pode atuar como ferramenta terapêutica ao combater a inflamação crônica de algumas das nossas patologias. Já se
sabe que o músculo em contração não exerce somente um papel
de proteger e deslocar o esqueleto, mas também é importante no
metabolismo e na imunidade ao sintetizar citocinas que irão ter
ação anti-inflamatória. Isso já está estabelecido para indivíduos
saudáveis; cabe agora ao reumatologista aprofundar o papel dessa
função dos músculos nas nossas doenças.
Um outro aspecto importante é que algumas co-morbidades,
como a osteoporose secundária, as doenças cardiovasculares e a
dislipidemia, são frequentes nos pacientes com doenças reumáticas. Faz-se então necessário avançar os estudos epidemiológicos
sobre o impacto do treinamento regular no sentido de reduzir o
risco dessas co-morbidades neste grupo de indivíduos.
Para tanto, é importante que o reumatologista se integre em
equipes multidisciplinares, que envolvam professores de Educação
Física, fisiologistas e nutricionistas para que haja um aprimoramento nessas linhas de pesquisa.
Referência
Exercise as an anti-inflammatory therapy for rheumatic diseases – myokine
regulation Fabiana B. Benatti & Bente K. Pedersen. Nature Reviews
Rheumatology 11, 86–97(2015)
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
“
Cada vez mais, os exercícios físicos
fazem parte do tratamento de
doenças reumáticas, e como tal,
devem obedecer a conceitos básicos
de prescrição como modalidade,
intensidade, frequência e duração.”
É importante conhecer
os fundamentos
do exercício físico
Fábio Jennings
Médico-assistente do ambulatório de reabilitação
da Disciplina de Reumatologia - Unifesp
E
m reumatologia, é imprescindível o entendimento dos fundamentos do exercício físico,
que está relacionado como elemento no tratamento
e também na causalidade de condições musculoesqueléticas. As doenças reumáticas por serem, na sua
maioria, de natureza sistêmica, inflamatórias e/ou
degenerativas e acometerem o sistema locomotor,
causam efeitos deletérios em todos os componentes
do condicionamento físico. Não é de se estranhar que
a reabilitação e os exercícios físicos fazem parte das
recomendações de tratamento de todas as doenças
da reumatologia. Por outro lado, a associação de
doenças reumáticas com outras condições crônicas,
como as doenças cardiovasculares e a obesidade,
também faz do exercício físico parte fundamental
da prescrição do reumatologista.
Cada vez mais, os exercícios físicos fazem parte
do tratamento de doenças reumáticas e, como tal,
devem obedecer a conceitos básicos de prescrição
como modalidade, intensidade, frequência e duração.
Esse entendimento tem como objetivos otimizar os
resultados fisiológicos e clínicos e reduzir os possí- >>
11
M at é r i a
de
C a pa
Médico do
esporte precisa
fazer residência e
prova de título
*Pablius Silva
A
>> veis eventos adversos (como as lesões de sobrecarga). O reumatologista deve estar familiarizado com os conceitos e atento
ao diagnóstico de base e às limitações individuais para que a
atividade ou o exercício físico recomendados sejam benéficos
e não piorem as condições musculoesqueléticas.
Não são raras as situações em que atletas ou pessoas praticantes de exercícios ou esportes são encaminhados ao reumatologista para descartar doenças inflamatórias e sistêmicas causando
sintomas articulares. E a associação pode ser encontrada. Nesses
casos, cabe ao reumatologista o diagnóstico diferencial e o
delineamento da conduta a ser tomada, tanto medicamentosa
como no sentido de orientação das adaptações que devem ser
feitas na rotina da atividade física.
Quanto ao mercado de trabalho, nos últimos anos, temos
observado uma necessidade crescente de profissionais com
formação em medicina do esporte, tanto pelo diagnóstico mais
precoce das doenças crônicas que necessitam de abordagem não
medicamentosa, quanto pelo aumento do número de pessoas
que procuram a prática de exercícios físicos como mudança de
estilo de vida. Esses indivíduos desejam e devem ser avaliados
e orientados da melhor forma possível para que a prática seja
benéfica e atinja os objetivos pré-definidos.
Por outro lado, pelo caráter repetitivo e de sobrecarga, os
exercícios físicos podem determinar lesões no aparelho locomotor que, na maioria, são de tratamento conservador. E como
somente poucos casos necessitam de cirurgia, o reumatologista é
o especialista mais indicado para diagnosticar e tratar as lesões,
pois é o “clínico” do aparelho locomotor.
Referência
Jennings F, Lambert E, Fredericson M. Rheumatic Diseases Presenting
as Sports-Related Injuries. Sports Med. 2008.38:917-930.
12
Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte foi fundada em 18 de novembro
de 1962 e passou a ser denominada Sociedade
Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte
a partir de 16 de abril de 1993, entendendo que
a especialidade deveria ter abrangência não só
para atletas, mas para qualquer indivíduo que
necessite de programas de atividade física para
saúde ou lazer ou mesmo tratamento.
A formação do médico especialista, atualmente, é feita por residência médica da especialidade
por um período de três anos e submissão à prova
de titulo ao fim deste período. A grade curricular
é multidisciplinar, tornando o médico capaz de
avaliar a aptidão, prescrever o exercício físico e
tratar lesões decorrentes da prática esportiva.
Atualmente existem programas de residência
médica na Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (Unesp) em Botucatu,
Universidade Caxias do Sul, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual
(Iamspe) em São Paulo e na Universidade de
São Paulo (USP).
O mercado de trabalho para o médico do
esporte está em expansão devido à busca por
qualidade de vida, atividade física saudável, performance em condicionamento físico em diversas
modalidades, reabilitação de lesões esportivas e
de doenças degenerativas.
Com isto, a procura por consultório particular
e ambulatórios da especialidade abre um caminho
bastante promissor para o especialista.
*Médico do Esporte do Centro de Medicina do
Exercício e do Esporte do Hospital Nove de Julho;
gestor médico do Centro de Medicina Especializada
(CME) do Hospital Nove de Julho
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
Rheuma & Ethos
Atestado de liberação
para atividade física tem
caráter ético e legal
Documento deve ser elaborado com base na avaliação clínica e,
quando necessário, em exames laboratoriais, pois, conforme o Conselho
Federal de Medicina, “o atestado médico goza da presunção da veracidade”
Lilian Schade
Membro da Comissão de Ética da SBR
A
realização de atividade física é recomendação comum de diversas especialidades
médicas, pelo benefício cardiovascular, condicionamento físico, pela perda de peso e melhora da
autoestima. A prática de atividade física também
faz parte da prevenção e do tratamento de doenças como as metabólicas e musculoesqueléticas.
Na reumatologia, a prescrição de atividade física
é parte essencial do tratamento da fibromialgia
e da osteoporose e é também importante para
reduzir a dor e a rigidez das doenças inflamatórias articulares.
O atestado médico para a prática de exercícios
físicos tem o objetivo de preservar a integridade
do paciente. É também um documento com
implicações éticas e legais, portanto deve ser
elaborado com base na avaliação clínica e, quando
necessário, em exames laboratoriais, pois, conforme o Conselho Federal de Medicina, “o atestado
médico goza da presunção da veracidade”.
O médico, para fornecer o atestado, deve analisar se seus conhecimentos nesta área lhe dão
segurança para avaliar o paciente. Mesmo que as
recomendações habitualmente sejam atividades
físicas leves a moderadas, deve-se estar atento
a fatores de risco cardiovasculares, assim como
anormalidades no exame físico e acrescentar à
avaliação os exames complementares quando
indicados. Caso o médico sinta-se incapaz de tal
avaliação, é prudente encaminhar o paciente a
um colega da área.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
em 2013 elaborou as diretrizes que orientam a
avaliação pré-participação (APP) para atividades
físico-esportivas. Estas orientações, disponíveis
no site da SBC e aqui descritas resumidamente,
são as principais recomendações para o grupo
de indivíduos adultos que praticam atividade
física sem vínculo profissional com o esporte. O
objetivo principal desta avaliação é a prevenção
do desenvolvimento de doenças do aparelho
cardiovascular e da morte súbita relacionada
com a prática de atividade física.
• Recomenda-se que se interrogue sobre histórico de hipertensão arterial sistêmica, sopro
cardíaco, doenças metabólicas, uso de drogas
ilícitas ou procedência de áreas endêmicas de
doença de chagas (para estes a sorologia para
chagas está recomendada). Informações sobre
história familiar de cardiopatia ou morte súbita
também são relevantes.
• Deve-se questionar sobre sintomas como
dor torácica, palpitações, tontura, síncope ou
dispneia, desencadeados por exercícios físicos,
porém é necessário sensibilidade para avaliar
se estes sintomas são indicativos de doenças
ou meramente consequência de um treino
mais intenso.
• No exame físico, é importante procurar
por alteração da pressão arterial ou da ausculta
cardiopulmonar.
13
O objetivo
principal desta
avaliação é a
prevenção do
desenvolvimento
de doenças
do aparelho
cardiovascular e
da morte súbita
relacionada com
a prática de
atividade física.
• Quanto aos exames complementares
não-cardiovasculares, são destacados o hemograma, a avaliação metabólica, função renal
e hepática. A radiografia de tórax está recomendada pelo baixo custo e por poder fornecer
informações sobre doenças cardiovasculares e
pulmonares.
• É controversa a indicação de eletrocardiograma para indivíduos jovens sadios, porém
é mandatória a realização em idosos, mesmo
quando assintomáticos.
• Embora o teste ergométrico (TE) seja
idealmente indicado, na atividade física leve
a moderada, indivíduos assintomáticos e sem
fatores de risco cardiovasculares podem ser
liberados sem a necessidade do exame. Nas
demais condições, o TE está sempre indicado,
porém na presença de fatores de risco em
indivíduos assintomáticos não há consenso
para indicação de TE.
• O ecocardiograma está reservado para
os casos com história clínica/familiar ou
achado físico/eletrocardiográfico sugestivo
de cardiopatia.
• As alterações nos exames complementares cardiológicos requerem interpretação por profissional
experiente, que melhor avaliará se há proibição
temporária ou definitiva à realização de atividade
física, assim como o tratamento adequado.
• Após avaliação do paciente, ao elaborar o atestado de liberação para atividade física, o médico
deve especificar o tipo de atividade física e que até
aquela data não há contraindicação para a prática
da atividade recomendada. Cabe ressaltar que,
como qualquer outro atestado, deverá ser escrito
com letra legível, em receituário próprio, com a
finalidade especificada, assinado, carimbado e
registrado em prontuário.
Referência
Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM n.
1.851 de agosto/2008. Altera o artigo 3º da resolução
do CFM n. 1.658 de 13 de dezembro de 2002, que
normatiza a emissão de atestados médicos. Disponível
em http:qqwww.portaldomedico.org.br/resolucoes/
cfm/2008/1851_2008.htm
Diretriz em cardiologia do esporte e exercício. Sociedade
Brasileira de Cardiologia e Sociedade Brasileira de
Medicina do Esporte. Ver. Arq. Bras. Cardiol. Sociedade
Brasileira de Cardiologia 2013;1001(1supl 2).
Rheuma & Ethos 2ª edição. Comissão de Ética e Disciplina
da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2014;58-59.
14
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
E s pa ç o
d o r e s i d en t e
Revisão dos requisitos mínimos
para programa de residência médica
em reumatologia
Foi definido que a avaliação do médico residente será trimestral,
com provas escrita, oral e prática
Jozelia Rêgo
Presidente da Comissão de Ensino e Educação Médica da SBR
E
m 2008, sob a coordenação da dra. Rina Dalva
Neubarth Giorgi, a Comissão de Ensino e Educação Médica da SBR elaborou os Requisitos Mínimos
do Programa de Residência Médica em Reumatologia,
tendo como pontos discutidos a estrutura mínima necessária (física e recursos humanos), os critérios para
a escolha dos preceptores, o conteúdo programático
para cada ano e os métodos de avaliação anual.
Em outubro de 2013, sob a coordenação dos drs.
Francisco Airton da Rocha, Maria José Pereira Vilar
e Jozelia Rêgo, durante o IX Encontro de Residentes
e Docentes, em São Paulo, estes requisitos mínimos
foram revisados e atualizados, para novo encaminhamento à Comissão Nacional de Residência Médica.
Para o primeiro ano da residência (R1) foi sugerido
que a carga horária de 60 horas semanais deve apresentar a seguinte proporção: unidade ambulatorial
(50%); unidade de internação (30%); e atividades
teóricas (20%). Por entender que a carga horária
de urgências e emergências (10%) já foi cumprida
durante o período de pré-requisito de clínica médica,
a Comissão de Ensino solicitou à CNRM a inclusão
desta carga horária no treinamento em unidade ambulatorial, anteriormente de 40%.
Para o segundo ano da residência (R2), foi sugerido que a carga horária de 60 horas semanais deve
apresentar a seguinte proporção: unidade ambulatorial (50%); unidade de internação e interconsultas
(10%); medicina física e reabilitação (10%); atividades teóricas (20%); e estágios recomendados (10%).
Com relação à realização da avaliação do médico
residente, foi definido pela frequência trimestral e a
utilização de provas nas modalidades escrita, oral e
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
prática, associadas à modalidade atitudinal (avaliação
do comportamento ético, do relacionamento com a
equipe de saúde, do relacionamento com o paciente
e do interesse pelas atividades). A comissão orienta
que, a cada trimestre, seja realizada uma modalidade
de prova diferente da anterior, proporcionando assim
maior chance para avaliação de habilidades, atitudes e
conhecimentos. Em março de 2014, o processo de avaliação dos requisitos mínimos foi apreciado na sessão
plenária da Comissão Nacional de Residência Médica e
a Câmara Técnica considerou que a solicitação implica
alteração da Resolução CNRM 02/2006 e deverá ser
analisada em conjunto com os encaminhamentos das
demais sociedades de especialidades.
A revisão dos requisitos mínimos proporciona maior
adequação à realidade dos serviços brasileiros que
oferecem programa de residência em reumatologia e
uniformiza a modalidade de avaliação, assemelhando-a
aos moldes da prova de título de especialista da SBR.
15
P r o f i s s ã o R e u m ato
Por que me tornei reumatologista?
Cinco profissionais de regiões diferentes do Brasil – Fernanda Leonel Nunes (Minas Gerais),
Katia Tabosa Coutinho (Amapá), Maurício Raposo de Medeiros (Mato Grosso),
Raquel Moraes da Rocha Nogueira (Maranhão) e Rogério Carvalho Vieira Chachá (São Paulo) – contam como
chegaram à escolha pela especialidade, detalhando aspectos e fatos que os influenciaram.
Primeira escolha foi a Alergia,
mas criou paixão pela
reumatologia, dedicando-se a
crianças lúpicas e com artrite
idiopática juvenil.
Diagnóstico diferencial
amplo é um dos atrativos
na especialidade
Nem a artrite
reumatoide impediu a
realização do sonho
Fernanda Leonel Nunes
Katia Tabosa Coutinho
Raquel Moraes da Rocha Nogueira
Após residência de Pediatria na USP-RP, optei por fazer Alergia-Imuno,
que na minha época também abrangia
reumatologia. Apesar de a minha
primeira motivação ter sido a Alergia, apaixonei-me pela reumatologia,
dedicando-me às crianças lúpicas e
com artrite idiopática juvenil.
Após o término da especialização,
tive como meta morar no interior
e, como a incidência de doenças
reumáticas na infância é pequena,
sabia que não iria conseguir trabalhar
exclusivamente com crianças. Foi
quando fui acolhida pelo Serviço de
Reumatologia Clínica e por lá permaneci por seis anos. Atualmente, moro
em Passos-MG, e estou há dez anos
trabalhando com reumatologia.
Hoje tenho 29 anos de formada em
Medicina e neste período sempre fui
apaixonada pela reumatologia, especialidade com que tive contato durante
a confecção do meu TCC, que foi um
caso clínico de dermatomiosite. Entre
os vários motivos que sedimentaram
minha escolha estão: a aplicabilidade
clínica; o diagnóstico diferencial amplo;
a possibilidade de contato com pacientes
com síndromes clínicas complexas; a
facilidade técnica em estabelecer diálogo
e executar aconselhamento sobre as doenças. Hoje não tenho nenhuma dúvida
de que ser reumatologista era mesmo a
minha vocação.
“Pela dor ou pelo amor”, de maneira análoga
à forma como algumas pessoas encontram
a religião, identifiquei a minha profissão e
especialidade. Com efeito, sempre tive uma
paixão pela medicina e já, aos 15 anos, tinha
feito a minha escolha. Embora tenha abdicado de muitas coisas no ensino médio, logo
desfrutei da recompensa da aprovação no
vestibular. Contudo, fui diagnosticada com artrite reumatoide e pensei que o sonho pudesse
ser encerrado, mas o tratamento precoce me
deixou apta a continuá-lo.
Durante a faculdade, todas as disciplinas
eram fascinantes. Contudo, estava deslumbrada pela reumatologia, que me envolvia de
encantamentos e descobertas; logo, tendenciosamente, comecei a buscá-la cada vez mais.
Assim como em a “Bela e a Fera”, meu
algoz tornou-se uma paixão e, dessa forma,
tornei-me reumatologista, atuando numa
especialidade que reúne conhecimento das
diversas áreas, fortalecendo a medicina interna
e realizando-me profissionalmente.
16
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
Maurício Raposo de Medeiros
Queria uma área
que abrangesse
todos os órgãos
Quando me pediram este texto, embatuquei. Consigo dizer porque sou
reumatologista e se faria de novo essa
escolha. Mas, quando eu tinha meus
20 e poucos anos, sabia pouco da vida.
Sabia que gostava de gente, gostava de
clínica e queria uma especialidade que
abrangesse todos os órgãos. Aí eu via a
possibilidade de escolher entre moléstias
infecciosas ou reumatologia. Nesta, via
melhores perspectivas para levar conforto e alívio ao paciente e para mim, pois
menos frequentemente estaria frente a
urgências (grandes dramas de Aids).
Hoje eu continuo reumatologista
porque a especialidade atendeu à minha
expectativa e posso, com frequência,
oferecer conforto, diminuir angústias,
aflições e caminhar com os pacientes
em grande parte da vida, um privilégio
de quem trabalha no interior.
A reumatologia está bela como nunca
e muito mais atrativa. Vi estudos em que
os reumatologistas são considerados os
médicos mais felizes.
Falta traduzir para o nosso idioma e
validar o método...
Rogerio C. Vieira Chacha
Minha decisão de ser médico não foi
das mais fáceis. No primeiro vestibular,
em 1990, entrei para o curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica
onde permaneci por um ano e meio até
decidir que não era o que imaginava
para o meu futuro. Tentei ainda, na
época, aventurar-me pela biotecnologia,
mas, no final das contas, percebi que
lidar com pessoas era o que me traria
felicidade.
Nascido em Jundiaí (SP), com cara
de interior, não queria mais morar na
capital. Fui para a terra do Pinguim,
Ribeirão Preto, nos idos de 1992. Após
os seis anos do curso, decidi que queria
seguir a carreira clínica, que julgava
ser a área mais desafiadora, a mais interessante, vistas as dificuldades para o
diagnóstico e a necessidade de encadear
o raciocínio clínico.
Após um ano de residência em clínica médica, chegava a hora de decidir.
Como na reumatologia os indivíduos
com doenças autoimunes têm acome-
timento multissistêmico, enveredando
pela especialidade continuaria a ver o
indivíduo como um todo e não de forma
segmentada. Essa foi a parte racional da
resolução. No entanto, pensar retrospectivamente no motivo da escolha não me
é uma tarefa fácil. Um médico-professor
ou professor-médico contribuiu muito
para essa escolha e fico muito satisfeito
de ter sido assim. Falo de meu grande
mentor e amigo Paulo Louzada Júnior.
Imagino que todos nós devamos ter
nos espelhado em alguém e, do ponto
de vista ético e profissional, o Paulo foi
marcante. Menciono ainda o resolutivo
Flávio Petean, como outra pessoa importante para a minha decisão.
Terminei a residência de Reumatologia em 2000, pouco antes do “fim do
mundo”. Passados 15 anos, o mundo não
acabou. Sou uma pessoa feliz e, acredito,
bem-sucedida na profissão.
Moro e exerço a reumatologia em
São Carlos, e daqui não saio mais. Sou
preceptor do, não mais tão novo, curso
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
O médico e professor Paulo
Louzada Junior foi grande
influência na escolha pela
reumatologia
de Medicina da UFSCar e mantenho
consultório privado. Dos alunos formados no curso, me orgulho em saber que
alguns se decidiram por seguir a carreira
de reumatologista. Imagino que talvez
seja possível que a história se repita ao
longo do tempo.
17
Foco
em
Serviço de Reumatologia
da Uerj foi criado em 1982
A
Foram cruciais o empenho e a dedicação da dra. Elisa Martins das Neves Albuquerque,
que havia recém-concluído seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro
atual Disciplina de Reumatologia
da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (Uerj) iniciou suas atividades em 1982 com a criação do Setor
de Reumatologia, fruto do empenho e
da dedicação da dra. Elisa Martins das
Neves Albuquerque, que havia recémconcluído seu mestrado na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) após
ter sido aluna, residente e médica da
Clínica do professor Piquet Carneiro
desta universidade. Paralelamente, a
Disciplina assumiu nesta época o ensino
da reumatologia no curso de graduação
em Medicina. Em 1989, o setor tornou-se mais autônomo já como Serviço de
Reumatologia, passando a desenvolver
atividades ambulatoriais regulares além
das interconsultas em parecer e acompanhamento aos pacientes internados. Em
1991 e 1992, passaram a fazer parte do
serviço os drs. Evandro Mendes Klumb
e Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro.
O reconhecimento da comunidade
universitária ao trabalho até então realizado culminou com a autorização para
a criação da Disciplina de Reumatologia
da Faculdade de Ciências Médicas em
1993. Após o concurso para provimento
da primeira vaga de professor (professora
Elisa), foram autorizadas ampliações
do quadro de professores (Roger Abramino Levy, Geraldo da Rocha Castelar
Pinheiro e Evandro Mendes Klumb) e
de médicos para a Disciplina, de forma
que hoje são mais dez reumatologistas:
dras. Verônica Vilela, Francinne Machado Ribeiro, Ana Beatriz Vargas dos
Santos, Manuella Lima Gomes Ochtrop,
Ana Beatriz Santos Bacchiega de Freitas,
Camila Souto Oliveira, Luciana Salgado
Pedro, Mariana Pereira de Souza Alves
e Magali Usnayo Gómez, além do dr.
Ricardo Azedo Montes. Praticamente
18
todos com mestrado e/ou doutorado na
especialidade.
Além das atividades na graduação do
curso médico, a Disciplina mantém atividades de pós-graduação latu sensu com
residência em reumatologia, cujo início
foi em 1996. Até 2014, 38 residentes
concluíram sua formação na UERJ. Atualmente existem cinco vagas a cada ano. O
programa foi reavaliado e integralmente
aprovado em 2014, pelo CNRM.
Dentre as atividades acadêmicas stricto
sensu, há participação no programa de
mestrado e doutorado em Ciências Médicas (atualmente 12 alunos de mestrado
e três de doutorado), e em projetos de
pesquisa nacionais e internacionais. As
atividades científicas teóricas ocorrem
semanalmente e incluem clube de revista,
sessão clínica e seminários de revisão.
A estrutura física do serviço conta com
duas unidades ambulatoriais, cada uma
com oito salas para atendimento médico,
além das áreas de suporte de enfermagem, assistência social e administrativa.
Contamos ainda com um centro para
Atividades de rotina
O serviço envolve ainda as seguintes
atividades e procedimentos específicos:
• Sinovianálise (microscopia sob luz
polarizada) - Coordenação: dr. Geraldo
e dra. Ana Beatriz Vargas;
• Urinálise (microscopia de fase) Coordenação: dr. Evandro;
• Densitometria óssea - Coordenação:
dr. Ricardo e dra. Luciana;
• Infiltrações guiadas por radioscopia
- Coordenação: dr. Geraldo e
dra. Ana Beatriz Vargas;
• Ultrassonografia musculoesquelética Coordenação: dra. Manuella;
• Videocapilaroscopia - Coordenação:
dras. Verônica e Luciana.
infusão de agentes imunobiológicos e
uma enfermaria com seis leitos, além de
anfiteatro próprio e salas de apoio para
residentes e administração. Atualmente
são atendidos cerca de 1.200 pacientes/
mês nas diversas atividades ambulatoriais, com acompanhamento hospitalar
de 15 pacientes/internados/dia.
As atividades acadêmicas e assistenciais estão divididas por áreas de interesse
de forma que os atendimentos aos pacientes são feitos em ambulatórios específicos
com a seguinte distribuição:
• Artrite Inicial - Coordenação: dr. Geraldo e dras. Camila e Luciana;
• Artrite reumatoide - Coordenação: drs.
Geraldo e Ricardo e dras. Ana Beatriz
Vargas, Manuella e Mariana;
• Artropatias microcristalinas - Coordenação: dr. Geraldo e dra. Ana Beatriz
Vargas;
• Doenças osteometabólicas - Coordenação: dra. Luciana;
• Esclerose sistêmica e Miopatias inflamatórias - Coordenação: dr. Roger e dra.
Verônica;
• Espondiloartrites - Coordenação: dras.
Ana Beatriz Bacchiega e Manuella;
• Lúpus Eritematoso Sistêmico - Coordenação: dras. Elisa, Francinne, Verônica e
Camila e dr. Evandro;
• Pré-natal em reumatologia – (atividade
conjunta com a obstetrícia) - Coordenação: dr. Roger;
• Primeira vez e diagnóstico diferencialCoordenação: drs. Evandro e Ricardo e
dra. Verônica;
• Síndrome antifosfolipídeo - Coordenação: drs. Roger e Ricardo;
• Terapia Biológica - Coordenação: dr.
Geraldo e dras. Ana Beatriz Vargas,
Manuella e Magali;
• Vasculites – Coordenação: dras. Manuella e Ana Beatriz Bacchiega.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
Coluna Neubarth
Curvemo-nos
ao odioso?
“Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí...”
Fernando Neubarth *
(Assis Valente, 1911-1958)
O
riginário da África, sua família se
espalhou pelas regiões tropicais
e subtropicais do planeta no século
XVI. Viajante espontâneo em navios
negreiros, foi através deles que chegou
ao nosso continente. Sua primeira descrição data de 1762 e seu batismo, com
direito a nome e sobrenome, deve-se
a Carl Linnaeus (1707-1778). Aedes
Aegypti significa Casa do Egito. Mas
há controvérsias. Há quem diga que,
ao invés do latim, a primeira parte do
seu nome derivaria do grego; o termo
Aedes pode ser traduzido por “odioso,
desagradável”.
Os primeiros relatos de dengue no
Brasil são de Curitiba, no final do séc.
XIX e no início do seguinte, de Niterói,
no Rio de Janeiro. Naquela época o
Aedes já preocupava, mais por conta da
transmissão da febre amarela urbana.
Vive-se agora em plena epidemia da
dengue, embora algumas autoridades
teimem em não admitir.
Tudo indica que vem mais por aí: a
febre chikungunya, também de origem
africana, é muito parecida com a dengue,
mas acompanhada de dores mais severas, principalmente nas articulações, o
que pode perdurar por muitos anos após
a fase aguda. O vetor do vírus é o mesmo
Aedes, o odioso (tanto o Aegypti quanto
o Albopictus), e, portanto, onde grassa
uma a outra deve dar o ar da graça. Ou
da desgraça.
Detectada pela primeira vez em 1952,
na fronteira da Tanzânia com Moçambique, a chikungunya espalhou-se por mais
de 40 países africanos e asiáticos segundo a Organização Mundial de Saúde,
sendo em 2013 registrada também nas
Américas e rapidamente se dissemina.
Apesar da baixa letalidade (1:1000) é
extremamente debilitante. A palavra
chikungunya deriva de um dialeto da
Tanzânia e significa “doença do andar
curvado”. Apresenta sintomatologia
semelhante à da dengue, mas em intensidade maior: febre, mal-estar, dores pelo
corpo, dor de cabeça, apatia e cansaço.
O acometimento articular importante
pode levar a problemas permanentes
de mobilidade e/ou um quadro muito
semelhante ao da artrite reumatoide. O
tratamento é sintomático e as medidas
de prevenção são as mesmas usadas no
combate à dengue: inseticidas e repelentes, além da eliminação dos locais de
reprodução do mosquito, como áreas de
água parada.
O Aedes foi erradicado no Brasil em
1955, mas em 1967 verificou-se que o
vetor fazia-se outra vez presente no território nacional. Eliminado novamente
em 1973, reapareceu após três ou quatro
anos. Não é um mistério seu paradeiro
nestes períodos, apenas decorrência de
racional política saneadora.
Enfrentamos a um só tempo a escassez
de água, o descaso com os mananciais e
a tentativa desesperada de manter reservatórios muitas vezes sem condições mínimas de armazenamento seguro. Para
combater o mosquitinho listrado é preciso vontade política e comprometimento
da população, pois ignorância sobre seus
hábitos já não é desculpa. Para a dengue
se prevê uma bem-vinda vacina. Mas e a
febre chikungunya? Ficaremos à espera,
em atitude contemplativa? Vamos nos
dobrar frente ao mosquito?
* Médico e escritor. Presidente da SBR, gestão 2006-2008
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
19
Coluna Seda
Centenário da morte de
Charles-Jacques Bouchard
Hilton Seda
C
Dedicado à dra. Wanda Heloisa Rodrigues Ferreira
harles-Jacques Bouchard é mais
conhecido, principalmente pelos
reumatologistas, em virtude da descrição
que fez dos nódulos que receberam seu
nome, mas, como vamos demonstrar,
sua contribuição à patologia e clínica
foi muito mais ampla.
Ele nasceu na França, em Montier-en-Der, no dia 6 de setembro de 1837.
Filho de Jean Baptiste Athanase e Céline
Catherine Pennet, família de origem
modesta. Casou-se, em 12 de janeiro
de 1875, com Hélène Henriette Ruffer.
Não tiveram filhos. Faleceu em 28 de
outubro de 1915, portanto há cem anos,
em Saint-Pierre-du-Vauvray, na Alta
Normandia. Iniciou seus estudos, em
1855 ou 1857, na Escola de Medicina de
Lyon. Depois foi para Paris, onde obteve
seu doutorado em 1866 com a tese Études sur quelques points de la pathogénie
dês hemorragies cérébrales, tema que lhe
foi sugerido por Jean-Martin Charcot
(1825-1893) quando estava no Hospital
da Salpêtrière.
Charcot ficou famoso por demonstrar
as características dos pacientes histéricos, mas provocou controvérsias sobre
o comportamento desses pacientes
quando estavam sob o efeito da hipnose. Nessa tese Bouchard defendeu
a ideia de que as hemorragias eram
precedidas de inflamação dos pequenos
vasos que se convertiam em
mínimos aneurismas miliares,
que passaram a ser conhecidos como “aneurismas de
Charcot-Bouchard”. Charcot
constatou que Bouchard era
um grande expert em micros20
cópio e muito minucioso no exame dos
doentes. Essa ligação Charcot-Bouchard
deteriorou-se anos depois. Em 1869,
Bouchard tornou-se professor agregado
com a tese De la pathogénie des hemorragies; em 1870, médico do bureau
central de assistência médica; a partir
de 1874 foi médico dos hospitais, atuando em Bicêtre, Lariboisière e Charité
(1892). Em 1875, ministrou curso de
História da Medicina. Sucedeu Anatole
Chauffard (1855-1932) como professor
de patologia e terapêutica. Quando estava no Hospital de Bicêtre, entre 1876 e
1879, fez muitos estudos em laboratório.
Foi a seguir, em 1880, para o Lariboisière, onde prosseguiu trabalhando em
laboratório. Tinha como lema a ideia de
que o estudo das doenças infecciosas
não deveria basear-se unicamente na
bacteriologia e sim em uma associação
com a clínica. Interessou-se pelo estudo
da tuberculose, grave problema social
na época, tanto que criou um serviço de
radiologia no Hôpital de La Charité que
o ajudava no diagnóstico da doença (1-3).
Charles Bouchard foi nomeado médico honorário dos hospitais em 1903 e,
em 1910, professor honorário. Entrou
para a Academia de Medicina em 1886
e para a de Ciências em 1893. Recebeu
a Legião de Honra em 1914 (1,2).
Foi autor de obras importantes, como
Traité de Pathologie Générale, em sete
volumes, que publicou, entre 1895 e
1903, com a participação
de colaboradores; Études expérimentales sur
l’identité de l’herpès circiné et de l’herpès tonsurant
(1860); Des dégénerations
secondaires de La moelle
épinière (1866); Étude sur
quelques points de La pathogénie dés hémorrhagies
cérébrales (1866); Les autintoxications
(1866); De la pathogénie dés hemorrhagies (1869) (1,2).
Na bagagem científica de Charles
Bouchard, como já assinalado, há outras contribuições importantes além
da descrição dos nódulos: aneurismas
de Charcot-Bouchard; enfermidade de
Bouchard (dilatação do estômago por insuficiência muscular); linha de Bouchard
(avaliação da dilatação do estômago);
sinal de Bouchard (avaliação na urina
de pus de origem renal) (1).
A história de nódulos nos dedos das
mãos data do início do século XIX.
William Heberden deu,
em 1802, o primeiro passo
importante para a individualização definitiva da
osteoartrite/osteoartrose
(OA), ao descrever os nódulos que levam seu nome,
distinguindo-os da gota, nos
Commentaries on the History and Cure
of Diseases, publicados um ano após
sua morte: ”Nódulos nos dedos. Que
são esses pequenos nódulos duros, de
tamanho aproximado de uma pequena
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
ervilha, que são frequentemente vistos
nos dedos, principalmente um pouco
abaixo da extremidade próxima à articulação? Eles não têm relação com
a gota, sendo encontrados em pessoas
que nunca a tiveram; permanecem por
toda a vida; sendo raramente dolorosos
ou predispostos à inflamação, mais de
má aparência que incômodos, apesar
de poderem se tornar um pequeno
obstáculo para o livre uso dos dedos.”
Heberden nasceu em Londres em 1710
e faleceu, em 1801, aos 91 anos de
idade, em Windsor, cidade onde viveu
seus últimos anos. Do mesmo modo
que Charles Bouchard, contribuiu para a
descrição de doenças bem reconhecidas
atualmente, como angina pectoris e cegueira noturna, e estabeleceu a diferença
de gravidade entre varicela e varíola (4, 5).
Charles- Jacques Bouchard descreveu
os nódulos conhecidos pelo seu nome
82 anos depois da descrição dos de Heberden, não estabelecendo, entretanto,
nenhuma relação entre eles e cometendo
o erro de atribuí-los a perturbações
gástricas, no trabalho intitulado Du
rôle pathologique de la dilatation de
l’estomac et de la relation clinique de
cette maladie avec divers accidents
morbides: “Eles consistem, às vezes,
em saliências laterais, proeminentes
na face dorsal da segunda articulação,
seja para dentro ou para fora... A essas
nodosidades se juntam frequentemente
modificações de direção das falanges, de
tal modo que o dedo em vez de manter-se retilíneo mantém-se inclinado” (2,4).
Conforme acentuou Mário Viana de
Queiroz (2), Bouchard referiu-se, em seus
trabalhos, a várias doenças de interesse
reumatológico. Uma das primeiras é o
raquitismo que definiu como “uma anomalia da nutrição da criança que produz
um crescimento excessivo dos tecidos
de ossificação com uma calcificação
insuficiente desses tecidos e que produz,
como consequência, deformidades pas-
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun/2015
sageiras ou duráveis de diversas partes
do esqueleto”. Estabeleceu a diferença
entre osteomalácia e osteoporose: “O
tipo de alteração osteomalácica é o
desaparecimento dos sais calcários da
substância fundamental das lamelas
ósseas com manutenção dessas lamelas
descalcificadas e dos osteoblastos que
contém”.
A gota, disse Bouchard, “É a doença
dos mestres, dos ricos, dos sábios, das
pessoas de espírito, dos financistas,
dos políticos, dos que têm existência
sedentária e abastada, daqueles que
não dispensam os excessos de carne,
especiarias, vinhos capitosos, como o
Porto ou Xerez, e as bebidas fortes como
as cervejas pretas (porter ou stout)”.
Ele soube distinguir muito bem a artrite
reumatoide da gota: “...ela não é habitualmente precedida de crises articulares
regressivas, acomete preferencialmente
a mulher e mantém inflamações crônicas da sinovial...” A osteoartrose/
osteoartrite também foi descrita e há um
capítulo em uma de suas lições intitulado “Pseudoreumatismos” que se refere
a doenças não reumáticas que podem
evoluir com artrite.
Charles-Jacques Bouchard foi um
digno representante da clínica francesa baseada na observação que muito
contribuiu para o desenvolvimento da
reumatologia, merecendo, assim, nossas
homenagens no ano do seu centenário
de falecimento.
Referências
Charles Jacques Bouchard:
historiadelamedicina.org – biografias.
2
Viana de Queiroz M: Charles Bouchard
in Quem foi quem na história das doenças
reumáticas, Viana de Queiroz M, Seda H
(Eds), Lidel, Lisboa, 2008.
3
Porter R: A História da Cura, Livros e Livros,
Lisboa, 2002.
4
Seda H: Aspectos históricos da osteoartrite/
osteoartrose in História das doenças
reumáticas, Viana de Queiroz M, Seda H
(Eds), Lisboa, 2006.
5
Seda H: William Heberden in Quem foi
quem na História das doenças reumáticas,
Viana de Queiroz M, Seda H (Eds), Lidel,
Lisboa, 2008.
1
21
Além
da
R e u m ato lo g i a
Reumatologista e “colecionador” de árvores
Junto com a atividade médica,
Enio Ribeiro Reis desenvolve
um trabalho especial de cultivo
de espécies arbóreas em sua
propriedade rural na cidade de
Campanha, sul de Minas Gerais
E
le nasceu e cresceu em meio ao
ambiente rural, deliciando-se com
as distrações na fazenda de sua família,
na cidade de Campanha, interior de
Minas Gerais. O resultado é que jamais
se afastou totalmente dessa realidade,
mesmo tendo morado quatro anos em
São Paulo e 12 anos no Rio de Janeiro.
“Para minha família, lidar na fazenda
é um caminho natural, está no sangue”, diz o reumatologista Enio Reis.
A diferença, entretanto, está na forma
de manejo escolhida, com ênfase ao
cultivo de árvores, em projetos muito
bem cuidados e sustentáveis, do qual faz
parte a criação de gado de corte bovino
e caprino.
Enio sintetiza sua atividade como
“agrosilvopastoril”, explicando que
há integração de lavoura, pecuária e
floresta. Pode-se dizer que a “agro” e
a “pastoril” existem para desenvolver
cada vez mais a “silvo”, ou seja, fornecer
matéria orgânica que é utilizada para
o cultivo de espécies como eucalipto,
mogno, cedro e, mais recentemente,
palmeira. E para dar às árvores maior
dedicação de seu tempo, ele optou por
criar animais mais rústicos, que exigem
menos cuidado, como o bovino Nelore
e o caprino Mambrina, “o zebu” dos
caprinos, diz Enio.
O manejo do rebanho é tradicional;
deixar que pastem tranquilamente até
que os animais estejam crescidos e fortes
o bastante para ir à fase de “terminação”
que, segundo explica Enio, envolve dois
meses de confinamento até o momento
do abate. Mas é interessante notar que
deixar “pastar tranquilamente” é um cuidado levado ao extremo no modo como
22
Enio define sua atividade rural como “agrosilvopastoril”, pois
envolve cultivo de árvores, gramíneas e criação de gado.
o reumatologista maneja os animais. “O
cultivo das gramíneas para alimentar o
gado é feito em meio às espécies de árvores plantadas. Desta forma as sombras e
a qualidade do pasto proporcionam um
conforto térmico que diminui o estresse
do animal e aumenta a conversão de
carne”, explica Ênio.
Ênfase ao verde
É facilmente notada a satisfação
com que o reumatologista fala de seu
trabalho de formação de florestas. “Sou
um ‘colecionador’ de árvores”, diz ele,
realçando que tenta fazer sua parte
ecológica na responsabilidade de cuidar
do meio ambiente. Ele conta que che-
“
Plantei mais de
10 mil mudas de
palmeiras exóticas
e em sete anos
estarão crescidas, se
tudo correr bem”
gou a realizar, há sete anos, um projeto
numa encosta onde havia nascentes,
envolvendo a compra e plantação de 5
mil mudas de árvores nativas da Mata
Atlântica. O resultado foi um aumento
significativo da água dessas nascentes
após a formação da mata. “Conseguimos
volume de água três vezes maior e a
presença das árvores foi determinante,
porque elas retêm e fixam o líquido na
terra”, explica. Seu mais recente feito foi
a formação de um viveiro de palmeiras
exóticas, não nativas do Brasil. “Plantei
mais de 10 mil mudas e em sete anos
estarão crescidas, se tudo correr bem”,
diz ele, com orgulho. E os planos são
aumentar ainda mais sua “coleção”
verde com novas espécies.
Tudo isso é realizado uma vez por
semana, aos sábados, quando vai a
Campanha. “Mas já é suficiente”, diz ele,
para desestressar de seu cotidiano em
Varginha, cidade próxima onde mora.
Lá, de segunda a sexta está presente em
seu consultório, além de trabalhar num
centro de infusão. E mais: estuda muito, porque gosta, e dá palestras e aulas
quando convidado.
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www.reumatologia.com.br
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