20 de maio de 2015 Nº 507 Para OIT, terceirização ameaça direito de trabalhadores Dois terços dos trabalhadores brasileiros não têm contratos permanentes, o que significa que muitos não contam com direitos trabalhistas ou sociais. O alerta é da Organização Internacional do Trabalho em seu informe anual publicado nesta segunda-feira (18) em Genebra. A entidade deixa claro: o projeto de terceirização que está em debate no Brasil ameaça deixar um número ainda maior de trabalhadores sem direitos e aumentar a desigualdade. Segundo a OIT, o desemprego no Brasil caiu de 9,5% em 2000 para 6,8% ao final de 2014. Mas 66,9% dos trabalhadores vivem em contratos temporários. A taxa é inferior à da China ou Índia, com mais de 90% dos trabalhadores nesta situação. Mas a realidade é muito distante dos países ricos. Nessas economias, apenas 17% dos trabalhadores não contam com contratos permanentes. Nos EUA, a taxa cai para apenas 13%. Raymond Torres, um dos principais nomes hoje da cúpula da OIT, aponta que os riscos são grandes para os trabalhadores e tal lei precisa ser acompanhada por medidas de proteção ao trabalhador. "Mesmo que tenha um impacto positivo na produtividade, não há garantias para os salários. O tipo de trabalho pode ser deteriorado", indicou Torres. "Ao ter uma política de maior inserção na economia mundial, um país também precisa ter medidas para evitar abusos, como o aumento do emprego autônomo e a deterioração das condições de trabalho", insistiu. Segundo a OIT, o Brasil perdeu espaço nas cadeias de produção no mundo. Se entre 2000 e 2007 cerca de 17% da mão-de-obra nacional trabalhava em um setor inserido na produção globalizada, a taxa caiu hoje para 16%. O índice está abaixo da média mundial, de 20%, e é uma das mais baixas entre 40 economias avaliadas. No total, esses países teriam 453 milhões de pessoas empregadas em cadeias de produção. No caso de Taiwan, 55% dos trabalhadores estão empregados em produções ligadas à cadeia mundial, dez pontos percentuais acima das taxas de 2007. Na Europa e na Coreia, mais de 30% dos trabalhadores também produzem para uma cadeia mundial. Mas, segundo a OIT, a realidade é que não é apenas no Brasil que se nota uma deterioração das condições. Hoje, apenas um quarto dos trabalhadores no mundo tem uma relação estável com o empregador. 73,6% deles contam apenas com contratos de curto prazo ou temporários. No setor informal, nem mesmo contratos existem e muitos constituem empresas próprias para prestar serviços. Mesmo entre os assalariados, aqueles sem contratos permanentes chegam a ganhar em média 42% a menos que os empregados fixos. A OIT destaca que há um aumento do trabalho assalariado. Mas as diferenças regionais são profundas. Na Europa, ela chega a 80%. No Sudeste Asiático, a menos de 20%. "Esses dados mostram que, em alguns casos, formas não padronizadas de trabalho podem ajudar as pessoas a entrar no mercado de trabalho", disse Guy Ryder, diretorgeral da OIT. " Mas essa tendência é também um reflexo da insegurança generalizada que está afetando muitos trabalhadores hoje no mundo ", alertou. "O informe revela uma mudança no modelo padrão de emprego, pelo qual o trabalhador ganha um salário numa relação de dependência vis-à-vis seu empregador, com trabalho estável e em tempo integral ", indicou o informe. Segundo a OIT, esse modelo é cada vez mais raro nas economias avançadas. Nos emergentes, houve um fortalecimento dos contratos nos últimos dez anos. Mas o setor informal ainda é substancial. Mesmo entre os assalariados, menos de 40% deles trabalham todo o dia. Isso significa que, de dez trabalhadores com salários, seis apenas atuam em tempo parcial. "O modelo padrão de emprego é cada vez menos representativo do mundo do trabalho hoje, já que menos de um a cada quatro trabalhador está em condições de representar esse modelo", indicou a OIT. Entre 2009 e 2013, os empregos de períodos parciais aumentaram de uma forma muito mais rápida que postos permanentes em locais como na França, Itália, Japão ou Espanha. Neste período, a UE registrou uma queda de postos de tempo integral afetando 3,3 milhões de pessoas. Mas apenas 2,1 milhões de postos parciais foram criados nesse período. Já no Brasil, EUA e Rússia, o número de empregos em tempo integral aumentou de forma mais rápida que os trabalhos parciais. Os dados também revelam que, no Brasil, um trabalhador autônomo ganha em média 5% acima do trabalhador assalariado. Desigualdade – Ryder admite que o mundo está conhecendo um novo padrão da relação entre empregado e patrão. Mas alerta: "Muitas vezes isso está associado ao aumento da desigualdade e pobreza em muitos países", disse. " Além disso, essa tendência ameaça perpetuar o círculo vicioso de uma fraca demanda global e lenta criação de empregos ", afirmou. Na avaliação da OIT, a desigualdade ameaça aumentar ainda mais diante do crescimento da incidência de postos de trabalho não permanentes ou em tempos parciais. Segundo o informe, apesar dos passos positivos em diversos países para garantir uma maior cobertura de aposentadorias, proteção social e outros benefícios, apenas uma minoria dos trabalhadores recebem tais garantias. Entre os autônomos, por exemplo, apenas 16% deles contribuíam para planos de aposentadorias. Apenas 52% das pessoas empregadas no mundo estão filiadas a algum tipo de aposentadoria. (Fonte: Estadão) Senado realiza sessão temática sobre terceirização Debate mostra divergências entre entidades de trabalhadores e patronais sobre PLC 30/15 Uma extensa sessão temática no Plenário do Senado marcou, nesta terça-feira (19), um debate sobre a terceirização – a operação em que uma empresa prestadora de serviço é contratada por outra para realizar determinados serviços. O PLC 30/15, aprovado na Câmara como PL 4.330/04, depende agora de votação no Senado, onde também suscita polêmica, dividindo parlamentares e representantes de trabalhadores e de patrões, muitos deles presentes no Plenário e nas galerias, ao longo da sessão. A discussão, que reuniu por cerca de três horas autoridades, técnicos da área e representantes dos trabalhadores e dos empresários, mostrou a grande diversidade de opiniões existentes sobre o tema. A seguir, uma síntese das principais manifestações feitas durante a sessão temática. O presidente do Senado, Renan Calheiros, abriu os trabalhos sustentando que não é possível fazer ajuste fiscal cortando direitos trabalhistas e previdenciários. Ele disse que, na forma como se encontra, o projeto estabelece uma espécie de vale-tudo, quando, em sua opinião, o que a sociedade brasileira cobra é a regulamentação profissional, especialmente dos trabalhadores terceirizados que já estão no mercado de trabalho. “Não dá para passarmos para a sociedade a ideia de que vamos fazer isso cortando direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores”, disse Renan. Numa posição semelhante, o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, também se manifestou resistente à mudança, dizendo que, da forma como veio da Câmara, o projeto da terceirização pode, sim, resultar em precarização das relações de trabalho, como temem algumas entidades de defesa dos direitos dos trabalhadores. “Na medida em que não houver a construção de garantias que possam impedir a generalização da terceirização, entendemos que ela pode precarizar o trabalho”, sustentou Manoel Dias. Representante do Ministério Público do Trabalho (MPT), Helder Amorim disse que “a lógica da terceirização é uma lógica perversa” e que a iniciativa, tal como proposta no PLC 30/2015, é simplesmente inconstitucional. Sob aplausos, ele disse que a matéria “fere diretamente os direitos fundamentais dos trabalhadores e esvazia a função social da propriedade”. Também afirmou que a Constituição de 1988 foi a primeira a "fundamentalizar" os direitos dos trabalhadores, tornando-os indispensáveis ao próprio regime democrático. Em sua exposição, o consultor jurídico da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Marcos Aurélio Ribeiro, afirmou que o Legislativo está tendo seus direitos usurpados face ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), que editou uma súmula sobre a terceirização, no vácuo da inexistência de lei que regule o tema no ordenamento jurídico brasileiro. Marcos Ribeiro disse que essa súmula está prevalecendo até mesmo sobre leis existentes, que permitem a terceirização de algumas atividades. De acordo com o consultor, o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux já reconheceu a existência desse vácuo, apontando que a “súmula está legislando” inadequadamente. Ricardo Patah, presidente nacional da União da União Geral dos Trabalhadores (UGT), fez críticas ao projeto, observando que ele traz discriminação, desemprego e redução da remuneração dos trabalhadores. Ele apelou para que o Legislativo construa um projeto adequado ao Brasil. Já a secretária de Relações do Trabalho da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Maria das Graças Costa, criticou a proposta, afirmando que liberar a terceirização das atividades-fim vai na contramão das conquistas sociais dos últimos anos. Ela disse que, de cada dez trabalhadores que adoecem no Brasil, oito são terceirizados. E acrescentou: quatro, de cada cinco mortes, registradas em serviço também ocorrem com trabalhadores nessa situação. O professor Hélio Zylberstajn, doutor em Economia da Universidade de São Paulo (Usp), exibiu slides para sustentar seu entendimento de que regulamentar a terceirização é uma decisão estratégica que o Brasil precisa tomar para aumentar a eficiência e a produtividade das empresas. Zylberstajn defendeu a proposta ressaltando que, ao contrário do que dizem os críticos, o PLC 30/2015 vai melhorar a vida dos trabalhadores terceirizados, ao criar garantias e impor limites aos contratantes. Em sua opinião, não procedem as críticas de que a mudança vai precarizar as relações trabalhistas e tornar o mercado de trabalho uma selva. João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical, disse que a terceirização da atividade-fim já existe, só que envolvendo trabalhadores organizados em sindicatos. Para ele, o projeto em vias de ser votado no Legislativo traz novas garantias e direitos aos terceirizados. O presidente do Conselho Temático de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Alexandre Furlan, considerou incorreto associar a terceirização à precarização do trabalho. Para Furlan, precarizados são os mais de 45 milhões de trabalhadores informais, sem carteira assinada, recolhimento de INSS e fundo de garantia ou férias, formalmente assegurados pela lei. O economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp, também se manifestou contra a mudança ao afirmar que a ampliação da terceirização retirará trabalhadores de um segmento com menor rotatividade e maior remuneração. Em sua opinião, o resultado disso será a acentuação da desigualdade no mercado de trabalho. Laercio José de Oliveira, deputado federal (SD-SE) e vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), disse que o projeto em tramitação garante segurança jurídica aos trabalhadores. Para ele, o único defeito da proposta é não abranger a terceirização do setor público. “Me mostrem um direito que o projeto retira dos trabalhadores. Não existe. Nenhum direito do trabalhador é suprimido”, desafiou o deputado. Marilane Teixeira, representante do Fórum contra a Terceirização, afirmou que, ao contrário de contribuir para elevar a produtividade ou favorecer a competitividade, o projeto da terceirização visa reduzir os custos das empresas. Ela disse ainda que essa prática hoje atinge as atividades principais das empresas, mas é ocultada “sob o manto da informalidade”. Ubiraci Dantas de Oliveira, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), enfatizou que o PLC 30/2015 vai piorar a situação dos trabalhadores e que o caminho para a melhoria das empresas passa pela diminuição da taxa de juros e pelo controle do câmbio, mas não pela terceirização da mão de obra. No seu entender, os 12 milhões de terceirizados existentes hoje no Brasil enfrentam condições precárias e são tratados como trabalhadores de segunda classe. Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf chamou a atenção para o momento vivido pelo Brasil, marcado por crise econômica, crise política, falta de credibilidade e desconfiança. Skaf disse que este não é um momento para desunião, nem o momento para se dividir trabalhadores e empresários. Em sua avaliação, o que se discute hoje é a regulamentação de uma coisa que está sem regulamento e que não pode funcionar de forma desordenada. Skaf também disse que não é correto um trabalhador terceirizado não ter direito ao uso do refeitório numa empresa, do ambulatório, do transporte e dos serviços que lhe garantem cuidado com a saúde e segurança do trabalho. (Fonte: Agência Senado) CMA aprova projeto que proíbe prioridade no atendimento a paciente particular A prioridade no atendimento a paciente particular, que paga diretamente por uma consulta médica, em detrimento de pacientes que usam planos de saúde, pode ser proibida por lei. É o que prevê projeto do ex-senador Pedro Taques, aprovado nesta terça-feira (19) na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado. O autor cita casos em que o paciente que paga pela consulta no ato do atendimento consegue ser atendido logo que busca o agendamento com o médico, enquanto aqueles que tentam marcar uma consulta a ser paga por um plano de saúde precisam aguardar por muitos dias ou até mesmo por meses. A conduta, diz o autor, visa coagir pacientes que já arcam com planos de saúde a pagar diretamente por consultas, exames e procedimentos. O projeto altera a Lei 9.656/98, que trata dos planos de saúde, para explicitar a proibição da prática de prazos diferenciados para marcação de consulta conforme a forma de pagamento pelo atendimento médico. O projeto mantém regra, hoje prevista na legislação, determinando que a marcação de consultas, exames e quaisquer outros procedimentos de saúde deve privilegiar casos de emergência, idosos, gestantes, lactantes e crianças de até cinco anos. Quanto aos idosos, a prioridade contida na lei é para pessoas com 65 anos ou mais. Taques propõe que o atendimento prioritário seja para pessoas a partir dos 60 anos, conforme determina o Estatuto do Idoso. O texto (PLS 525/13) recebeu voto favorável do relator na CMA, senador Eduardo Amorim (PSC-SE). Para o parlamentar, é necessário explicitar a proibição de prioridade para pacientes que pagam diretamente as consultas, pois preterir os usuários de planos de saúde é uma violação de leis em vigor. O projeto segue para votação na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), em decisão terminativa. (Fonte: Agência Senado) “Devemos pensar a 15ª CNS não como um evento, mas como um processo político que se articula com outras lutas sociais e políticas pelo direito à saúde” Presidente do CNS, Maria do Socorro de Souza, fala sobre inovações da 15ª Conferência Nacional de Saúde Em entrevista ao Portal da Inovação na Gestão do SUS, a presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, destacou as inovações que estão sendo discutidas para a 15ª Conferência Nacional de Saúde, que se realizará em Brasília, entre 1º e 4 de dezembro, com o tema Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro. “Devemos pensar a 15ª CNS não como um evento, mas como um processo político que se articula com outras lutas sociais e políticas pelo direito à saúde”, enfatiza Maria do Socorro. “Por isso há a necessidade de articular a agenda da saúde com a agenda geral da sociedade. A agenda é reforma democrática do Estado e direitos sociais”, defende. O fortalecimento das representações existentes e a inclusão na 15ª CNS de novos segmentos da sociedade que estão representados de forma minoritária ou fora dos conselhos de saúde, assim como inscrição livre para o cidadão comum, são algumas das inovações destacadas pela presidente do Conselho. “O CNS tem colocado no debate interno a questão da paridade de gênero. As mulheres estão expressivamente nos conselhos municipais de saúde, mas nossa representação sofre redução nas esferas estaduais e nacionais do controle social. Na composição do Conselho Nacional de Saúde, nós, mulheres, somos minoria. Na 15ª CNS a participação da juventude também deve ser assegurada”, defende Socorro. Para Maria do Socorro, as discussões sobre o financiamento e a relação público-privado da saúde será um dos temas mais debatidos devido ao contexto político, em que a sustentabilidade do SUS está em xeque. Porém, ela enfatiza outros temas que também são prioritários na 15ª CNS: o direito à saúde e serviços de qualidade; a valorização do trabalho e a educação em saúde; gestão e modelo de atenção à saúde; ciência e inovação tecnológica; política de comunicação para o SUS; e o reforço à participação popular. O documento orientador para a realização das conferências estaduais e municipais está previsto para ser aprovado na reunião do pleno do Conselho Nacional em maio. “O documento orientador será construído a partir de diretrizes e respectivas ações estratégicas”, adianta Maria do Socorro. O objetivo, segundo ela, “é que esse documento ganhe uma dimensão de planejamento ascendente, que possa incidir sobre os planos de saúde”, explica. Vale ressaltar que ainda neste semestre, o pleno do Conselho vai analisar uma nova versão do plano de aplicação de recursos federais em saúde para os próximos quatro anos. A expectativa é a de que o Plano Nacional de Saúde (PNS) e o Plano Plurianual (PPA) absorvam as contribuições feitas pelos conselheiros nacionais ao texto. A expectativa é a de que as proposições aprovadas na etapa nacional apontem também para as diretrizes prioritárias para enfrentar os gargalos do SUS. “A agenda do governo tem que incluir as expectativas da sociedade e enfrentar os principais problemas do SUS para que este resgate sua credibilidade junto à população”, espera Maria do Socorro. O que a senhora destaca como inovador na 15ª Conferência? Como a Conferência Nacional de Saúde acontece a cada quatro anos, a gente tem que observar o momento político em que ela ocorre. Então, há a necessidade de a gente articular a agenda da saúde com a agenda geral da sociedade, como a reforma democrática da política e dos meios de comunicação, direitos sociais (…). Nesse sentido, os espaços onde se discutem saúde devem se articular para discutir essas grandes agendas. Também devemos pensar a 15ª CNS não como um evento, mas como um processo político que se articula com outras lutas sociais e políticas (…) Nesta 15ª CNS estamos tratando como inovação a inclusão de novos segmentos da sociedade que estão de fora ou representados de forma minoritária nos espaços de controle social da saúde. A Resolução 453/2013, que diz respeito à composição dos conselhos, não é cumprida no âmbito dos municípios e estados, seja pela dificuldade de organização dos movimentos sociais, seja também por resistência da gestão de legitimar este espaço. O caráter popular das conferências, trazendo população negra, jovem, rural, LGBT e outros segmentos, visa fortalecer a defesa do SUS e fazer com que esses segmentos venham a disputar seus espaços mais permanentes nos conselhos. Outra inovação é a forma de mobilização por meio das plenárias populares regionais e com as conferências livres, para que diversos segmentos da sociedade tomem iniciativas próprias, a exemplo do que já fizeram Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), Fórum de Entidades Sindicais, Movimento Popular de Saúde (Aneps), estudantes de saúde coletiva da UFBA, UnB e Unicamp, etc. Outra inovação é a tecnológica, articulada com a estratégia de comunicação, para falar com a população o que é o SUS e qual seu direito à saúde. O CNS lançará um portal em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais para que neste portal todas as pessoas tenham informação sobre a conferência. Além de interagir com o cidadão, este portal permitirá o credenciamento livre para quem quiser participar, desde que custeie seu deslocamento e hospedagem. A alimentação e o direito de voz estarão assegurados. (www.conselho.saude.gov.br/web_15cns/index.html) Sobre o contexto político em que a 15ª CNS se realizará, a questão do financiamento da saúde continua sendo a luta primordial? Definimos grandes prioridades e todas elas se articulam, são elas: o direito à saúde e a qualidade do serviço; o financiamento e a relação público-privado; a valorização do trabalho e a educação em saúde; gestão e modelo de atenção; ciência e inovação tecnológica; política de comunicação para o SUS; e o reforço à participação popular. As discussões sobre o financiamento e a relação público-privado na saúde, com a entrada do capital estrangeiro na assistência à saúde, estão mais tensionadas. O tema sobre o direito à saúde se dá no cotidiano da população, na luta pela qualidade dos serviços. A questão da valorização do trabalho, que passa pela discussão de Plano de Cargo, Carreira e Salários, é uma forma de enfrentar a terceirização e a privatização da saúde, mas esta luta emperra porque ela tem uma dimensão que é trabalhista e sindical, e envolve responsabilidade de trabalhadores e gestores. A conferência é um espaço para potencializar esta luta. A ciência e tecnologia é uma pauta que o controle social não se apropriou muito (…), mas a gente defende que o SUS precisa produzir pesquisas e conhecimentos que atendam mais as necessidades da população, reduzindo custos e a dependência do país frente aos mercados externos. Já o tema da participação direta, do controle social, está em disputa. O Congresso Nacional está passando por cima dos interesses da sociedade e defendendo interesses de grupos econômicos e políticos minoritários. Por que as discussões sobre o financiamento estarão mais em disputa? O SUS existe há 26 anos e o financiamento, assim como a relação público-privado é um problema mal colocado e mal resolvido desde sua origem. Estamos passando por uma crise econômica em que o governo federal tem adotado ajustes fiscais que inclui corte no financiamento de políticas públicas que asseguram os direitos sociais. E lamentavelmente tem adotado medidas que favorecem o setor privado em detrimento do público. Já o Congresso Nacional tem aprovado medidas, como o orçamento impositivo, novas regras de financiamento da saúde, abertura do capital estrangeiro para a assistência à saúde, e apresentado projetos controversos, como planos privados para todos trabalhadores com carteira de trabalho assinada. Há um ataque sistêmico ao SUS e ao direito à saúde da classe trabalhadora, que é constitucional. Essas disputas implicam disputar o papel do Estado como provedor de um sistema público e universal. Implica se posicionar contra uma política econômica que deixa a cidadania refém do sistema financeiro. Como está sendo a discussão interna para inclusão de novos segmentos sociais na 15ª CNS? A saúde é um lugar de defesa do direito, da cidadania, do cuidado, da participação democrática. Apesar desses princípios, há muitas desigualdades nas representações entre segmentos sociais, e isso nos exige superar barreiras de acessibilidade, de gênero, de geração e diferentes formas de preconceitos e discriminações. Temos sujeitos importantes legitimamente representados, mas alguns outros ausentes ou em minoria, dentre estes rurais, população de rua e sem teto, jovens, etc. Por isso o CNS entende ser necessário ampliar a base social das conferências de saúde, resgatando o caráter popular, sem, contudo, comprometer a paridade de 50% de usuários, 25% de gestores e prestadores e 25% de trabalhadores da saúde. Estamos enfrentando as resistências internas, como o regionalismo, corporativismo, machismo, sexismo, racismo, homo e lesbiofobia, dentre outros preconceitos. Estamos desenvolvendo novas formas de mobilização, via redes sociais e plenárias populares. Incentivamos os muitos jovens que estão fazendo uma escolha de carreira no SUS, para virem compor esses espaços de participação. Qual a estratégia para mobilizar este público? Além das plenárias regionais, os conselhos, as entidades e os movimentos sociais estão tomando a iniciativa de realizar plenárias e conferências locais. Vamos adotar o credenciamento livre para facilitar a vaga. Isso tem sido o diferencial. Qual a expectativa com as plenárias regionais de mobilização que começaram em março? A finalidade é mobilizar e organizar grupos diversos, aglutinando sujeitos e forças sociais em defesa da reforma democrática do Estado e em defesa dos direitos sociais. É analisar o cenário político em que vai acontecer a 15ª CNS e conferir se a agenda política proposta está em sintonia com as expectativas da sociedade, em especial dos conselhos e movimentos sociais. A Conferência de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora, que se realizou em dezembro de 2014, já deixou um bom capital político para mobilização da 15ª CNS, porque ela foi para as macrorregiões e mobilizou cerca de 200 mil pessoas. As centrais sindicais mobilizam a classe trabalhadora em diversos lugares do país. Nas plenárias regionais e na 19ª Plenária Nacional de Conselhos e Movimentos Sociais, no período de março a abril, vamos mobilizar diretamente cerca de 5.000 pessoas. Quando será publicado o documento orientador para as conferências municipais e estaduais de saúde que antecedem a 15ª CNS? O documento orientador será aprovado na reunião do pleno do Conselho Nacional de Saúde em maio. Enquanto não fica pronto, vamos dispor outros documentos no site do CNS, entre eles a agenda que elaboramos para eleições de 2014, as resoluções e o Regimento da 15ª CNS, com os eixos definidos. Isto já dá um bom norte para as conferências locais. A intenção é que este documento orientador ganhe uma dimensão de planejamento ascendente, que possa incidir sobre os planos de saúde. Mais do que definir 900 deliberações, como ocorreu em conferências anteriores, queremos focar nos temas prioritários e avançar na construção de diretrizes que deverão ser viabilizadas por ações estratégicas. O documento final da 15ª CNS tem que ter um formato que vá neste sentido. Os planos de saúde raramente são feitos de forma participativa e frequentemente ocorrem de forma burocrática. Os planos de saúde precisam aproximar prioridades de governos das prioridades da sociedade e assim se legitimar junto à população. Está em xeque a forma de governar de cima pra baixo. Contudo, isso não significa dizer que todas as proposições e posicionamentos políticos da 15ª CNS vão caber neste formato de documento. (…) Vamos defender proposições como carreira, fontes de financiamentos para o SUS, como por exemplo a taxação de grandes fortunas. Ressalta-se que o papel de aprovar o plano de saúde e monitorá-lo faz parte das reuniões ordinárias dos conselhos, a Conferência deve apontar diretrizes e proposições. Há críticas sobre o número excessivo de emendas aprovadas em conferências, como na 14ª CNS foram quase 900. O que podemos esperar para a 15ª CNS? O exercício de formular e deliberar sobre diretrizes e ações estratégicas para implementar as políticas de saúde, incidindo nos planos de saúde, dará uma certa unidade, qualidade e densidade nas proposições. Vamos repetir as mesas de diálogos temáticos, que tem servido para analisar e atualizar a avaliação acerca da situação de saúde da população brasileira, analisar o cenário político, debater aspectos importantes das políticas de saúde, pois nem tudo se traduz nas deliberações aprovadas que integram o relatório final. A estratégia passada da 14ª CNS, com a Carta, que foi muito polêmica, foi uma tentativa malsucedida que não deu conta de expressar as contradições existentes no debate. Se a 15ª conseguir produzir e aprovar um documento que expresse o que é estratégico, o que é prioridade, e se os governantes adotarem como referência da vontade popular, estaremos contribuindo para resgatar a credibilidade do SUS junto à população. Sobre os dois Laboratórios de Inovação sobre Participação Social realizados em parceria com a Opas, qual a contribuição desta iniciativa para a organização da 15ª CNS? A iniciativa foi importante porque o tema controle social não tem motivado pesquisas no meio acadêmico e tem sofrido desgastes junto aos movimentos sociais. Experiências que foram valorizadas pela iniciativa dos Laboratórios de Inovação serviram de referência pra gente porque foram sistematizadas e divulgadas, como por exemplo da formação de conselheiros de Betim, Minas Gerais. No controle social, a produção de conhecimento é muito normativa e se expressa em atas, resoluções, recomendações, relatórios, que apesar de sua importância não expressam as contribuições do controle social na saúde realizado no Brasil. O Brasil precisa fazer a tarefa de casa, que é uma reflexão sobre a fragmentação da luta social e política pelos direitos sociais, e isso passa pelo controle da saúde nas políticas públicas (…) para fazer a defesa dos direitos sociais que num momento de crise do capitalismo está em xeque. (Fonte: Portal da Inovação na Gestão do SUS) Fale com a CNTS E-mail: [email protected] - Sítio: www.cnts.org.br Tel: (61) 3323-5454