UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS Johann Antunes Stollmeier A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SOBRE AS CAPACIDADES COGNITIVAS DO PILOTO DURANTE O VÔO Curitiba 2008 Johann Antunes Stollmeier A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SOBRE AS CAPACIDADES COGNITIVAS DO PILOTO DURANTE O VÔO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Pilotagem Profissional de Aeronaves, da Faculdade de Ciências Aeronáuticas Universidade Tuiuti do Paraná – Faculdade de Ciências Aeronáuticas, como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo. Orientadora: Professora Margareth Hasse Curitiba 2008 Universidade Tuiuti do Paraná Faculdade de Ciências Aeronáuticas TERMO DE APROVAÇÃO Johann Antunes Stollmeier A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SOBRE AS CAPACIDADES COGNITIVAS DO PILOTO DURANTE O VÔO Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Tecnólogo em Pilotagem Profissional de Aeronaves no Curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, _____ de _________ de 2008 Ciências Aeronáuticas Universidade Tuiuti do Paraná ________________________________________ (Margareth Hasse) SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................................... ABSTRACT.................................................................................................................. 1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 2 – DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 2.1 – MEMÓRIA............................................................................................................ 2.1.1 – ESTÁGIOS DA MEMÓRIA................................................................................ 2.1.2 – OPERAÇÕES X MEMÓRIA DE LONGO PRAZO............................................. 2.1.3 – MEMÓRIA DE OPERAÇÃO.............................................................................. 2.1.3.1 – DOIS SISTEMAS DE MEMÓRIA DE OPERAÇÃO........................................ 2.1.3.2 – ARMAZENAMENTO....................................................................................... 2.1.3.3 – RECODIFICAÇÃO.......................................................................................... 2.1.3.4 – ESQUECIMENTO........................................................................................... 2.1.3.5 – RECUPERAÇÃO............................................................................................ 2.1.3.6 – MEMÓRIA DE OPERAÇÃO E PENSAMENTO.............................................. 2.1.3.7 – TRANSFERÊNCIA DA MEMÓRIA DE OPERAÇÃO PARA A MEMÓRIA DE LONGO PRAZO...................................................................................................... 2.1.4 – MEMÓRIA DE LONGO PRAZO........................................................................ 2.1.4.1 – CODIFICAÇÃO............................................................................................... 2.1.4.2 – RECUPERAÇÃO............................................................................................ 2.1.4.3 – INTERFERENCIA........................................................................................... 2.1.4.4 - ARMAZENAMENTO........................................................................................ 2.1.4.5 – ORGANIZAÇÃO............................................................................................. 2.1.4.6 – FATORES EMOCIONAIS NO ESQUECIMENTO.......................................... 2.1.4.7 – ENSAIO.......................................................................................................... 2.1.5 – MEMÓRIAS INSTANTANEAS.......................................................................... 2.1.5.1 – INTERFERENCIA NA RECUPERAÇÃO POR ANSIEDADE......................... 2.1.5.2 – EFEITOS DE CONTEXTO............................................................................. 2.1.5.3 – REPRESSÃO................................................................................................. 2.1.6 – MEMÓRIA IMPLÍCITA....................................................................................... 2.2 – ATENÇÃO............................................................................................................ 2.2.1 – OLHAR E ESCUTA SELETIVOS...................................................................... 2.3 – PERCEPÇÃO....................................................................................................... 2.4 – ESTRESSE........................................................................................................... 2.4.1 – CARACTERÍSTICAS DOS EVENTOS ESTRESSANTES................................ 2.4.2 – EVENTOS TRAUMÁTICOS.............................................................................. 2.4.3 – CONTROLABILIDADE...................................................................................... 2.4.4 – PREVISIBILIDADE............................................................................................ 2.4.5 – DESAFIANDO NOSSO LIMITES...................................................................... 2.4.6 – CONFLITOS INTERNOS................................................................................... 2.4.7 – EFEITOS DO ESTRESSE NA MEMÓRIA......................................................... 2.4.8 – EFEITO DO ESTRESSE NA TOMADA DE DECISÃO E JULGAMENTO......... 2.5 – RELAÇÃO DO ESTRESSE COM AS ATIVIDADES DE UM PILOTO.................. 3 – CONCLUSÃO.......................................................................................................... 4 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ RESUMO A vida moderna com seu excesso de informações e a quantidade crescente de coisas a se fazer em menos tempo têm feito com que fiquemos estressados mais facilmente. O problema é que o estresse age em nosso corpo de uma forma que nossas capacidades cognitivas acabem sendo altamente prejudicadas. Coisas que antes eram fáceis de serem lembradas, como algo que deveria ser feito em determinada situação, agora apresentam dificuldades não encontradas anteriormente, podendo ser problemas com as memórias de operação ou longo prazo, ou falhas pela falta de atenção, deixando-nos cada vez mais propícios a cometer erros e causar possíveis tragédias. Os estudos que serão apresentados têm a finalidade de mostrar como as atividades cognitivas funcionam e como elas podem ser influenciadas ou afetadas no vôo pelo estresse. Palavras chaves: capacidade cognitiva, memória, atenção, estresse, vôo. ABSTRACT The modern life with its excess of information and increasing quantity of tasks that has to be done in a short time have stressful us much easier than never before. The problem is that stress acts in our bodies in such way that our cognitive capacities become seriously affected. Things that were quite simple to remember, such as what should be done in one situation, show now difficulties never met before. Problems with operation and long term memory, or attention failure, increase our possibility to err and, as consequence, to create situations that turn into tragedies. The researches that are going to be presented here have the aim to show how cognitive activities work and how they can influence or affect the flight due to stress. Key words: cognitve capability, memory, attention, stress, flight 1. INTRODUÇÃO Este trabalho visa apresentar os efeitos do estresse sobre as capacidades cognitivas do piloto durante o vôo e as possíveis brechas onde o estresse pode atuar, como se é esperado, o estresse têm grande influência na tomada de decisões do piloto, sejam essas decisões adotadas por atos pensados, ou por impulsos e conseqüentemente, o estresse se torna um assunto de extrema importância para as atividades aeronáuticas, onde são empregadas muitas responsabilidades e qualquer erro poder se tornar um grande problema. A seguir, serão apresentados textos e estudos com temas na parte cognitiva como, memórias de operação e longo prazo, atenção, tomada de decisão, também na parte do estresse, entre outros assuntos que tornarão mais claras as evidências de que o estresse pode afetar tais capacidades, prejudicando a boa realização do trabalho dentro da cabine. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. MEMÓRIA A memória é uma capacidade cognitiva muito importante, capaz de reter, recuperar, armazenar e evocar informações, ela forma a base para a aprendizagem. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, e está intimamente associada à aprendizagem, que é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos. A memória é dividida em duas: memória de operação e memória de longo prazo, que são formadas pelas etapas de codificação, armazenamento e recuperação, desse modo, fazendo com que as informações sejam devidamente armazenadas e depois lembradas. 2.1.1. Estágios da memória A memória pode ser dividida em três etapas, a primeira etapa é a codificação, onde você transformou um estímulo físico em um tipo de código ou representação que a memória aceita e você colocou essa representação na memória. A segunda etapa é o armazenamento e a terceira etapa é quando você resgata a informação da área de armazenamento; chamada de recuperação. A memória está sujeita a falhas em qualquer um dos estágios; por exemplo, se você recebe alguma informação e em determinado momento você precise dela e não consiga se lembrar é sinal de que houve algum problema em uma das etapas. Vários estudos recentes vêem mostrando que os diferentes estágios da memória são mediados em diferentes estruturas cerebrais. Os experimentos são divididos em duas partes, a primeira parte se concentra na codificação e a segunda na recuperação. A descoberta mais impressionante é que durante a codificação, a maior parte das regiões cerebrais ativadas fica do lado esquerdo, e durante a recuperação a maioria das áreas cerebrais ativadas fica do lado direito, ou seja, a distinção entre codificação e recuperação tem uma inclinação biológica bem-definida. 2.1.2. Operações X Memória de longo prazo. A memória parece diferir entre situações que exigem que armazenemos material por pouco tempo, como por segundos, daquelas que exigem armazenar por mais tempo, por messes ou anos. No primeiro caso é usada a memória de operação, e no segundo é usada a memória de longo prazo. Na memória de operação, para recuperar alguma informação não há esforço, é como se a informação estivesse ativa em nossa consciência, mas quando tentamos recuperar alguma informação antiga, a recuperação muitas vezes é difícil porque ela não está mais em nossa consciência, e precisa ser trazida de volta. A memória de operação e a memória de longo prazo são implementadas por estruturas cerebrais um pouco diferentes, como o hipocampo, que fica próximo ao meio do cérebro, que é fundamental para a memória de longo prazo, mas não para a memória de operação. Pesquisas recentes revelaram que os neurônios nos lobos pré-frontais, imediatamente atrás da testa, guardam informações para uso a curto prazo, como um número de telefone, ou nome. Essas células também são capazes de extrair informações de outras regiões do cérebro e retê-las pelo tempo que for necessário, para uma tarefa específica. 2.1.3. Memória de Operação A memória de operação consiste em memórias que são armazenadas por alguns segundos. A memória envolve três estágios de codificação, armazenamento e recuperação. a. Codificação Precisamos dar atenção a uma informação para podermos codificá-la, como somos seletivos em relação ao que dar atenção, nossa memória de operação irá conter apenas o que foi selecionado. Ou seja, grande parte das informações a que somos expostos nem se quer entram na memória de operação e conseqüentemente não estará disponível para posterior recuperação. b. Codificação fonológica Quando alguma informação é codificada na memória, ela é registrada em algum código ou representação. Essa codificação pode ser visual, fonológica ou semântica, onde usamos qualquer uma dessas possibilidades para codificar informações na memória de operação, embora favoreçamos o código fonológico quanto estamos tentando, manter a informação ativa através de ensaio, repetindo um item várias vezes. Ensaiar é uma estratégia muito popular quando a informação consiste de itens verbais. c. Codificação visual. Também pode ser usado para manter itens verbais em um formato visual, o código desaparece rapidamente. Essa codificação se torna mais importante na hora de se armazenar alguma imagem ou figura, pois são mais difíceis de serem descritas e conseqüentemente mais difíceis de serem ensaiadas fonologicamente. A maioria das pessoas tem a capacidade de manter alguma imagem na memória de operação e algumas outras são capazes de manter imagem com clareza quase fotográfica. Essa habilidade é mais decorrente em crianças, que podem olhar brevemente uma figura e, quando esta é removida, ainda vêem a imagem em frente aos olhos. Elas conseguem manter a imagem por vários minutos e quando questionadas, oferecem uma riqueza de detalhes. Essas crianças parecem estar lendo os detalhes da fotografia, alêm disso, quando os critérios para a presença de uma verdadeira imagem fotográfica são mais rigorosos, a freqüência da imaginação eidética torna-se mínima, mesmo entre crianças. O código visual na memória de operação, portanto é algo inferior a uma fotografia. 2.1.3.1. Dois sistemas de memória de operação A memória de operação consiste em duas reservas ou ‘’buffers’’ distintos. Um é o buffer fonológico, que armazena brevemente informações em um código acústico, o outro é o ‘’buffer’’ visuoespacial, que armazena brevemente informações em um código visual ou espacial (at. Baddeley, 1986). Recentes estudos indicaram que os dois ‘’buffers’’ são mediados por diferentes estruturas cerebrais. Em um experimento, em todos os ensaios os participantes viam uma seqüência de letras em que tanto a identidade quanto a posição da letra variava de item para o outro item. Em alguns ensaios, os participantes tinham que atentar somente para a identidade das letras; sua tarefa era determinar se cada letra representada era idêntica àquela apresentada três vezes antes na seqüência. Em outros ensaios, os participantes tinham que atentar somente para a posição das letras; sua tarefa era determinar se a posição de cada letra era idêntica à posição da letra apresentada três vezes antes na seqüência. Assim, os estímulos reais eram idênticos em todos os casos; o que variava era se os participantes estavam armazenando informações verbais ou informações espaciais. Presumivelmente, a informação verbal estava sendo mantida no ‘’buffer’’ acústico e a informação espacial no ‘’buffer’’ visuoespacial. Os resultados indicaram que os dois ‘’buffers’’ ocupam diferentes hemisférios, nos ensaios em que os participantes tinham que armazenar informações verbais a maior parte da atividade cerebral ocorria no hemisfério direito. Os dois ‘’buffers’’ parecem ser sistemas distintos (at. Smith, Jonides e Koeppe, 1996). Essa descoberta não é muito surpreendente considerando a tendência do cérebro para a especialização hemisférica. 2.1.3.2. Armazenamento. A memória de operação tem sua capacidade muito limitada, em média, o limite é sete itens, com acréscimo ou subtração de dois. Algumas pessoas conseguem armazenar apenas cinco itens, outras até nove. Essas diferenças devem-se essencialmente à memória de longo prazo, para a memória de operação, a maioria dos adultos normais tem uma capacidade de sete mais ou menos dois. Hermann Ebbinghaus, que iniciou em 1885 estudos experimentais da memória, relatou resultados que indicavam que seu próprio limite era sete itens. George Miller (1965) estava tão impressionado pela consistência dessa descoberta que se referiu a ela como o ‘’mágico número sete’’, e agora sabemos que o limite se aplica tanto a culturas ocidentais quanto não-ocidentais (at. Yu et AL., 1985). Esses números foram determinados por psicólogos mostrando às pessoas diversas seqüências de itens não relacionados e pedindo que recordassem os itens em ordem. Os itens são apresentados rapidamente e o individuo não tem tempo de relacioná-los com informações contidas na memória de longo prazo, sendo assim, os itens recordados revelam apenas a capacidade da Memória de operação do indivíduo. Nos ensaios, os participantes devem, no início, recordar apenas alguns itens, três ou quatro e que, geralmente são recordados com facilidade. Nos ensaios seguintes o número de itens aumenta até que o experimentador determine a extensão de memória do participante; geralmente é entre cinco e nove que ele consegue recordar em ordem perfeita. 2.1.3.3. Recodificação. O procedimento de extensão de memória dissuade os indivíduos de relacionar os itens a serem lembrados a informações na memória de longo prazo. O desempenho na tarefa de extensão da memória pode mudar substancialmente quando estes relacionamentos são possíveis, como tentar decorar a sequencia de letras odepípelelarap, que é composta de quatorze letras, ou seja dificilmente alguém conseguiria repetir toda a sequencia de letãs, mas percebendo que ao contrário essa sequencia forma a palavra paralelepípedo, a tarefa de repetir as letras se tornaria muito mais fácil, afinal, os quatorze itens se tornam apenas um. O conhecimento de soletração vem memória de longo prazo, onde fica armazenado o conhecimento sobre palavras, sendo assim, pode-se realizar uma recodificação usando a memória de longo prazo, para transformar novas informações em unidades maiores e significativas e armazenar essas unidades na memória de operação. Essas unidades são chamadas de ‘’chunks’’, e a capacidade da memória de operação é melhor expressada como sete mais ou menos dois ‘’chunks’’, ou unidades. Essa recodificação também pode ser utilizada com números, ou seja, o principio geral é que podemos avivar nossa memória de operação reagrupando as sequencias de letras e números em unidades que podem ser encontradas na memória de longo prazo (at. Bower e Stringston, 1970). 2.1.3.4. Esquecimento. Podemos recordar sete itens por um tempo, mas na maioria dos casos esses itens são logo esquecidos. O esquecimento ocorre ou porque os itens vão se enfraquecendo na memória com o passar do tempo, ou porque são substituídos por novos itens. A informação na memória de operação pode simplesmente ir sumindo no decorrer do tempo. Um item pode ser pensado como um sinal que desaparece em questão de segundos. Uma evidencia e possivelmente a melhor para essa hipótese é que a extensão de nossa memória de operação retém menos palavras quando essas levam mais tempo para serem ditas. Pensa-se que essa implicação ocorre porque, quando essas palavras são apresentadas, nós as repetimos para nós mesmos, e quanto mais tempo isso leva, maior a probabilidade de que alguns dos sinais das palavras tenham desaparecido antes de elas poderem ser recortadas (at. Baddeley, Thompson e Buchanan, 1975). Outra coisa da perda de itens na memória de operação é a substituição de itens antigos por novos. E essa causa reafirma a idéia de que a memória de operação tem uma capacidade fixa. Estar na memória de operação pode corresponder a estar em um estado de ativação. Quanto mais itens tentarmos manter ativos, menos ativação existe para qualquer um deles. É possível que somente cerca de sete itens possam ser simultaneamente mantidos em um nível de ativação que permita que todos eles sejam recordados. Uma vez que sete itens estão ativos, a ativação dada a um novo item será subtraída dos itens que foram apresentados anteriormente; conseqüentemente, tais itens podem ficar abaixo do nível critico de ativação necessário para recordação (at. Anderson, 1983). 2.1.3.5. Recuperação A pesquisa mostra que quanto mais itens estão na memória de operação, mais lenta ela a recuperação se torna. A maior parte das evidências vem de um experimento introduzido por Sternberg (1966). Em cada tentativa do experimento, é apresentado a cada participante um conjunto de números, chamado de lista de Memória, que a principio, deve ser mantido temporariamente na memória de operação. É fácil para o participante fazer isso porque a lista de memória contém entre um e seis dígitos. A lista de memória é retirada de vista e um dígito de teste é apresentado e o participante deve dizer se o dígito estava ou não na lista de memória. Raramente algum dos participantes comete um erro, mas o que realmente é interessante nessa experiência é o tempo decorrido entre a definição do dígito de teste e o momento em que o participante aperta o botão de “sim” ou “não”, o tempo de decisão aumenta em relação direta com a extensão da lista de memória. O que é extraordinário em relação a estes tempos de decisão é que eles formam uma linha reta, ou seja, cada item a mais na memória de operação acrescenta uma quantidade fixa de tempo ao processo de recuperação (at. Sternberg, 1975). Esses resultados levaram alguns pesquisadores a propor que a recuperação requer uma busca na memória de operação, onde os itens são examinados um de cada vez. A recuperação de um item na memória de operação pode depender da ativação daquele item atingir um nível crítico. Ou seja, decidimos se um determinado número está na memória de operação se ele estiver acima de um nível crítico de ativação, e quanto mais itens estiverem na memória de operação, menos ativação existe pra qualquer um deles (at. Monsell, 1979). Demonstrou-se que estes modelos de ativação predizem acuradamente muitos aspectos de recuperação da memória de operação (McElree e Doesher, 1989). 2.1.3.6. Memória de operação e pensamento. Quando estamos conscientemente tentando resolver um problema, muitas vezes usamos a memória de operação para armazenar partes do problema bem como informações acessadas da memória de longo prazo que se relacionam com o problema. Por seu papel nas computações mentais, a memória de operação muitas vezes é conceitualizada como um tipo de quadro-negro, onde a mente realiza computações e exibe os resultados para o uso posterior (Baddeley, 1986). Pesquisas mostram que a memória de longo prazo não é usada apenas para resolver problemas numéricos, mas também para resolver problemas mais complexos. Um exemplo desse tipo de problemas são as analogias geométricas, às vezes utilizadas em testes de inteligência. Você pode notar que precisa da memória de operação para armazenar as semelhanças e diferenças que observa durante as formas de uma linha, e as regras que você formula para explicar essas semelhanças e diferenças, que depois você usa para selecionar a resposta correta. Ou seja, quanto maior a memória de operação, melhor nos saímos nesses tipos de problemas, mesmo com a pouca variação entre as pessoas na capacidade de operação. A Memória de operação também é fundamental nos processos de linguagem como acompanhar conversas ou ler alguma coisa. Quando lemos para compreender, muitas vezes devemos conscientemente relacionar as novas informações a algum material anterior no texto. Esse relacionar o novo ao velho parece ocorrer na memória de operação porque as pessoas que têm maior capacidade na memória de operação obtêm melhores resultados do que as outras em testes de compreensão de leitura (at. Daneman e Carpenter, 1980; Just e Carpenter, 1992). 2.1.3.7. Transferencia da memória de operação para a memória de longo prazo A memória de operação cumpre duas funções: armazenar material necessário por períodos curtos e serve como espaço de trabalho para computações mentais. Pode servir também como estação intermediária para a memória de longo prazo. Ou seja, a informação pode residir na memória de operação enquanto está sendo codificada ou transferida para a memória de longo prazo (at. Atkinson e Shiffrin, 1971; Raaijmakers e Shiffrin, 1992). Uma das maneiras de transferência, que foi objeto considerável de pesquisas é o ensaio, que é nada mais do que a repetição consciente de informações na memória de operação. O ensaio; alem de manter a informação na memória de operação, também faz com que ele seja transferido para a memória de longo prazo. Assim o termo ensaio de manutenção é usado para referir-se aos esforços ativos para manter a informação na memória de operação; ensaio de elaboração refere-se ais esforços para codificar a informação na memória de longo prazo. Algumas das melhores evidências para a função de “estação intermediária” da memória de operação provêm de experimentos de livre recordação. Em um experimento de livre recordação, os participantes vêem uma lista de quarenta palavras, sem relação entre si, que são apresentadas uma de cada vez. Depois que todas as palavras forem apresentadas, os participantes devem imediatamente recordá-las em qualquer ordem. Presumivelmente, no momento da recordação é provável que as últimas palavras apresentadas ainda estejam na memória de operação, ao passo que as palavras restantes estão na memória de longo prazo. Conseqüentemente, esperaríamos que a recordação das ultimas palavras fosse alta, uma vez que os itens na memória de operação podem ser recuperados com mais facilidade. A recordação das primeiras palavras também é muito boa pelo motivo de que, quando as primeiras palavras foram apresentadas, elas foram apresentadas na memória de operação e ensaiadas. Como não havia muito mais na memória de operação, elas foram ensaiadas muitas vezes e, provavelmente foram transferidas para a memória de longo prazo. À medida que mais itens foram apresentados, a memória de operação foi rapidamente preenchida e a oportunidade de ensaiar e transferir qualquer item para a memória de longo prazo diminuiu. Assim, somente os primeiros itens apresentados tiveram a oportunidade extra para a transferência, e é por isso que eles foram posteriormente tão bem recuperados da memória de longo prazo. Em suma, a memória de operação é um sistema que pode manter aproximadamente sete mais ou menos dois unidades de informação em formato fonológico ou visual. A informação se perde na memória de operação por desaparecimento ou por substituição, e é recuperada desse sistema por um processo que é sensível ai número total de itens que estão sendo mantidos ativos em determinado momento. Finalmente, a memória de operação é usada para armazenar e processar informações necessárias durante a resolução de problemas e, portanto, é fundamental para o pensamento. 2.1.4. Memória de longo prazo A memória de longo prazo está envolvida quando a informação precisa ser retida por intervalos tão curtos quanto alguns minutos ou durante uma vida inteira. Nos experimentos sobre memória de longo prazo, os psicólogos geralmente tem estudado o esquecimento durante intervalos de minutos, horas ou semanas, mas alguns estudos envolveram anos ou mesmo décadas. Os experimentos que utilizam intervalos de anos muitas vezes envolvem a recordação de experiências pessoais em vez da recordação de materiais de laboratório. No que se segue, estudos que utilizam ambos os tipos de material são misturados porque parecem refletir muitos dos mesmos princípios. Nossa discussão da memória de longo prazo irá distinguir novamente três estágios da memória: codificação, armazenamento e recuperação; mas desta vez existem duas complicações. Primeiro, diferentemente da situação com a memória de operação, interações consideraremos alguns aspectos da recuperação ocorrem na memória de longo prazo. Em vista dessas intenções, consideraremos alguns aspectos da recuperação em nossa discussão da codificação e recuperação. A outra complicação é que, com freqüência, é difícil saber se o esquecimento da memória de longo prazo se deve a uma perda no armazenamento, ou a uma falha na recuperação. Para lidar com esse problema, iremos adiar nossa discussão do armazenamento para depois de termos considerado a recuperação, de modo a obter uma idéia mais clara do que constitui boa evidência para uma perda no armazenamento. 2.1.4.1. Codificação A representação dominante da memória de longo prazo não é acústica nem visual e sim baseada nos significados dos itens. A codificação dos itens de acordo com sue significado ocorre mesmo quando os itens ou palavras isoladas, mas é mais notável quando eles são frases. Vários minutos depois de ouvir uma frase a maior parte do que conseguimos recordar ou reconhecer é o significado da frase. Como exemplo; alguém escuta a seguinte frase: “O autor enviou uma longa carta ao comitê”. As evidencias indicam que dois minutos depois de ouvi-la, a probabilidade de o sujeito saber se ouviu aquela frase ou outra com o mesmo sentido – “uma longa carta foi enviada ao comitê pelo autor” – seria a mesma que a do acaso (at. Sachs, 1967). Quando as pessoas descrevem situações sociais e políticas complexas, elas podem lembrar-se mal de muitos dos detalhes específicos, mas podem descrever com precisão a situação básica. Assim, no escândalo de Watergate, no início da década de 1970, demonstrou-se posteriormente que a principal testemunha do governo havia tido muitos erros em relação ao que tinha sido dito em determinadas situações, mas de modo feral considera-se que se testemunho global descrevia com precisão os eventos que ocorreriam (at. Neisser, 1982). Embora o significado possa ser o modo dominante de representar material verbal na memória de longo prazo, às vezes codificamos também outros aspectos. Podemos, por exemplo, memorizar poemas e recitá-los palavra por palavra. Nesses casos, codificamos não apenas o significado do poema, mas as palavras exatas em si. Também podemos usar um código fonológico na memória de longo prazo. Quando você recebe um telefonema e a pessoa do outro lado diz “Alô”, muitas vezes reconhecemos a voz. Num caso desse tipo, você deve ter codificado na memória de longo prazo. Impressões visuais, sabores e odores também são codificados na memória de longo prazo. Assim, a memória de longo prazo possui um código preferencial para o material verbal, mas outros códigos podem igualmente ser usados. 2.1.4.2. Recuperação Muitos casos de esquecimento da memória de longo prazo resultam da perda de acesso à informação propriamente dita. Ou seja, na memória fraca, muitas vezes reflete uma falha de recuperação ao invés de uma falha de armazenamento. Tentar recuperar um item da memória de longo prazo é como tentar encontrar um livro em uma grande biblioteca. O fato de não conseguir encontrar o livro não significa necessariamente que ele não está lá; podemos estar procurando no lugar errado, ou o livro pode estar guardado no lugar errado. 2.1.4.3. Interferência. Ente os fatores que podem prejudicar a recuperação, o mais notável é a interferência. Se associarmos diferentes itens à mesma pista, quando tentarmos usar aquela pista para recuperar um dos itens, os outros itens podem tornar-se ativos e interferir em nossa recuperação do alvo. O poder das pistas de recuperação para determinados itens-alvo diminui com o número de outros itens associados a uma pista, mãos sobrecarregada ela se torna e menos eficiente ela é no auxílio à recuperação. A interferência pode levar a uma falha total de recuperação, se os itens-alvo forem fracos ou se a interferência for forte (at. Anderson, 1983). Acredita-se que a interferência é um dos principais motivos pelos quais o esquecimento da memória de longo prazo aumenta com o tempo: as pistas de recuperação relacionadas tornam-se cada vez mais sobrecarregadas com o tempo. 2.1.4.4. Armazenamento O fato de que parte do esquecimento se deve a falhas de recuperação não significa que todo esquecimento se deve a isso. Alguma evidencia da perda no armazenamento provém de pessoas que receberam terapia eletroconvulsiva, para aliviar depressão severa. Nesses casos, o paciente perde oarte da memória para eventos que ocorreram nos meses antecedentes do choque, mas não para eventos anteriores (at. Squire e Fox, 1980). É improvável que estas perdas de memória se devam a falhas de recuperação porque se o choque perturbasse a recuperação, todas as memoras deveriam ser afetadas, não apenas as mais recentes. É mais provável que o choque perturbe os processos de armazenamento que consolidam novas memórias durante um período de meses ou mais, e a informação que não é consolidada se perde no armazenamento. A maior parte da pesquisa sobre armazenamento na memória de longo prazo é feita em nível biológico. Os pesquisadores fizeram considerável progresso na determinação das bases neuroanatômicas da consolidação. Parece que as estruturas cerebrais críticas ao hipocampo e o córtex circunjacente ao hipocampo. O papel do hipocampo na consolidação parece ser de um sistema de referencia cruzada, unindo aspectos de uma determinada memória que estão armazenados em partes separadas do cérebro (at. Squire, 1992). Embora uma perda geral de memória nos humanos geralmente ocorra apenas quando o córtex circunjacente bem como o hipocampo está prejudicado, o dano tão-somente ao hipocampo pode resultar em perturbação severa da memória de um determinado paciente e terminou com autópsia detalhada de seu cérebro após sua morte; a autópsia revelou que o hipocampo era a única estrutura cerebral danificada (at. Zola-Morgan, Squire e Amaral, 1989). As memórias precisam ser processadas pelo hipocampo por um período de algumas semanas, pois é somente durante esse período de algumas semanas, pois é somente durante esse período que a memória é prejudicada pela remoção do hipocampo. O armazenamento na memória de longo prazo permanente é quase sempre localizado no córtex, particularmente nas regiões onde a informação sensorial é interpretada (at. Squire, 1992; Zola-Morgan e Squire, 1990). 2.1.4.5. Organização Quanto mais organizarmos o material que codificamos, mais fácil é a recuperação. Uma lista de nomes e palavras é muito mais fácil de ser recordada quando codificamos a informação em categorias e depois a recuperamos categoria por categoria. 2.1.4.6. Fatores emocionais no esquecimento Muitas pesquisas têm sido realizadas sobre essa questão. Os resultados sugerem que a emoção pode influenciar a memória de longo prazo de cinco maneiras distintas: ensaio, memórias instantâneas, interferência na recuperação por ansiedade, efeitos de contexto e repressão. 2.1.4.7. Ensaio A idéia mãos simples é que tendemos a pensar mais sobre situações emocionalmente carregadas, tanto negativas como positivas do que sobre situações neutras. Ensaiamos e organizamos mais as memórias estimulantes do que as memórias mais amenas. Como sabemos que o ensaio e a organização podem melhorar a recuperação da memória de longo prazo, não é de surpreender que muitos pesquisadores tenham descoberto que a memória é melhor para situações emocionais do que para situações desprovidas de emoção. (at. Neisser, 1982; Rapaport, 1942). 2.1.5. Memórias instantâneas A emoção também pode afetar a memória através de memórias instantâneas. Uma memória instantânea é um registro vívido e relativamente permanente das circunstancias em que soubemos de um evento significativo carregado de emoção. Segundo Brown e Kulik (1977), o porquê de essas memórias serem tão vívidas é que, eventos extraordinariamente importantes disparam um mecanismo especial de memória, o qual faz um registro permanente de tudo que uma pessoa está vivenciando no momento. Contudo, a idéia de um mecanismo especial para memórias emocionais é controversa. Os críticos assinalam que as memórias instantâneas, como as memórias normais de longo prazo, tornam-se menos recuperáveis com o tempo. 2.1.5.1. Interferência na Recuperação por ansiedade Também existem casos em que as emoções negativas obstruem a recuperação, o que nos leva à terceira maneira de a emoção afetar a memória. A ansiedade muitas vezes é acompanhada de pensamentos impróprios, tais como “Eu não vou passar”. Esses pensamentos preenchem nossa consciência e prejudicam as tentativas de recuperar as informações relevantes para a pergunta; isso talvez explique por que a memória falha. Segundo essa concepção, a ansiedade não causa diretamente falha de memória; ela causa, ou está associada a pensamentos alheios, e estes pensamentos provocam falha de memória ao interferirem na recuperação (at. Holmes, 1974). 2.1.5.2. Efeitos de Contexto. A emoção também pode afetar a memória através de um efeito de contexto. Como assinalado anteriormente, a memória é melhor quando o contexto no momento da recuperação equivalente àquela do momento da codificação. Como nosso estado emocional durante a aprendizagem é parte do contexto, se o material que estamos aprendendo nos provoca tristeza, talvez possamos melhor recuperar esse matéria; quando nos sentirmos tristes outra vez. A recordação era melhor quando a emoção dominante durante a recuperação igualava-se àquela durante a codificação (Bower, 1981). 2.1.5.3. Repressão Outra concepção da emoção e da memória, a teoria freudiana do inconsciente, introduz novos princípios. Freud sugeriu que algumas experiências emocionais da infância são tão traumáticas que permitir-lhes acesos à consciência muitos anos depois faria o indivíduo ser totalmente dominado pela ansiedade. Dizse que estas experiências traumáticas estão reprimidas, ou guardadas no inconsciente, e só podem ser recuperadas quando parte da emoção associada a elas é abrandada. A repressão, portanto, representa a falha de recuperação derradeira: o acesso às memórias-alvo está ativamente bloqueado. Esta noção de bloqueio ativo torna a hipótese da repressão qualitativamente diferente das idéias sobre esquecimento discutidas anteriormente. Em suma, a memória de longo prazo é um sistema que pode guardar informações por dias, anos ou décadas, tipicamente em um código baseado no significado no significado, embora outros códigos sejam possíveis. A recuperação da informação do sistema é sensível à interferência; muitas “perdas de armazenamento” aparentes são, na verdade falhas de recuperação. O armazenamento nesse sistema envolve consolidação, processo que é mediado pelo sistema hipocampal. Muitos aspectos da memória de longo prazo podem ser influenciados pela emoção; estas influências podem refletir ensaio seletivo, interferência na recuperação, efeitos no contexto, ou dois mecanismos especiais: memórias instantâneas e repressão. 2.1.6. Memória Implícita. Nestes casos a memória é uma questão de recordar conscientemente o passado, e considera-se que ela se expressa explicitamente. Mas parece haver outro tipo de memória, a qual muitas vezes manifesta-se em habilidades e aparece como um aperfeiçoamento no desempenho de alguma tarefa perceptiva, motora ou cognitiva, sem recordação consciente das experiências que levaram ao aperfeiçoamento. Por exemplo, com a prática podemos firmemente melhorar nossa capacidade de reconhecer palavras em uma língua estrangeira, mas no momento em que estamos reconhecendo uma palavra, e deste modo demonstrando nossa habilidade, não precisamos recordar conscientemente das aulas que resultaram em nosso aperfeiçoamento. Nestes casos, a memória se expressa implicitamente (at. Schacter, 1989). 2.2. ATENÇÃO Capacidade de selecionar algumas informações para exame mais detalhado e ignorar outras. A atenção envolve seletividade. Na maior parte do tempo somos bombardeados com tantos estímulos que somo incapazes de reconhecê-los todos. O processo pelo qual selecionamos é denominado atenção seletiva. 2.2.1. Olhar e Escuta Seletivos. Os estudos de atenção visual com freqüência envolvem observar um participante que está olhando uma fotografia de uma cena. Se observarmos os olhos da pessoa, percebemos que os olhos não ficam estáticos; ao contrário, eles examinam. Como no caso da leitura, o exame de uma cena não é um movimento suave e contínuo; na verdade, ele envolve fixações sucessivas. Podemos também atentar seletivamente para alguma coisa sem mexer os olhos. No caso da audição, o correspondente mais próximo ao movimento dos olhos é mover a cabeça para que os ouvidos fiquem direcionados à fonte de interesse. Contudo, este mecanismo é de uso limitado em muitas situações. Entretanto, podemos usar meios puramente mentais para atentar seletivamente à mensagem desejada. Alguns dos indicadores que usamos para fazer isso são; a direção de onde está vindo o som, os movimentos labiais do falante, e as características particulares de sua voz. Mesmo na ausência destes indicadores, podemos selecionar uma de suas mensagens com base em seu significado. 2.3. PERCEPÇÃO. A percepção é o estudo de como integramos as informações sensoriais para perceber os objetos e como, então, utilizamos estes perceptos para nos movimentarmos no mundo. Os pesquisadores estão cada vez mais abordando o estudo da percepção perguntando que problemas o sistema perceptivo visa resolver. Dois problemas gerais são freqüentemente mencionados. O sistema perceptivo deve ser capaz de determinar que objetos estejam lá fora. Ele deve igualmente saber onde estes objetos estão. Os dois problemas estão envolvidos na percepção auditiva e também em outras modalidades sensoriais. Na visão o termo reconhecimento do objetivo refere-se à determinação do significado de um objeto. O reconhecimento do objeto é crucial para a sobrevivência porque muitas vezes temos que saber o que é o objeto para podermos deduzir algumas de suas características importantes. A localização espacial refere-se à determinação da posição visual dos objetos. Ela também é necessária para a sobrevivência. Usamos a localização para navegar pelo ambiente. Sem essa capacidade, colidiríamos a todo momento contra os objetos. Além da localização e do reconhecimento dos objetos, outra função de nosso sistema perceptivo é a constância perceptiva, ou seja, manter constante aparência dos objetos ainda que suas impressões na retina estejam sempre mudando. Em relação ao reconhecimento, por exemplo, podemos usar nossa audição para reconhecer uma sonata de Mozart, nosso olfato para reconhecer batatas-fritas, nosso tato para identificar uma moeda no bolso e nossos sentidos corporais para saber que estamos eretos em num aposento escuro. 2.4. ESTRESSE O ritmo acelerado da sociedade de hoje cria o estresse para muitos de nós. Somo constantemente pressionados a realizar cada vez mais em menos tempo. A exposição ao estresse pode acarretar emoções como ansiedade ou depressão, podendo também acarretar doenças físicas, tanto leves quanto graves. Mas as reações das pessoas a situações estressantes diferem bastante: diante de uma situação estressante, algumas pessoas desenvolvem sérios problemas físicos ou psicológicos, ao passo que outras diante da mesma situação não desenvolvem problemas, podendo até mesmo ver a situação como um desafio interessante. O estresse significa: experimentar situações que são percebidas como ameaçadoras ao nosso bem-estar físico ou psicológico. Estas situações geralmente são chamadas de estressores, e as reações das pessoas a elas são denominadas respostas de estresse. Existem alguns tipos de situações que a maioria das pessoas experimenta como estressantes. Descrevemos as características destas situações e depois descrevemos a reação natural do corpo ao estresse. Esta reação é adaptativa quando é possível fugir ou atacar um estressor, mas ela pode se tornar inadaptativa quando o estressor é crônico ou incontrolável. O estresse pode ter efeitos tanto diretos quanto indiretos sobre a saúde. O estudo de como o estresse e outros fatores, sociais, psicológicos e biológicos se relacionam para contribuir para a doença é chamado de medicina comportamental ou psicologia da saúde (at. Taylor, 1999). 2.4.1. Características dos eventos estressantes. Inúmeros eventos causam estresse. Algum deles são grandes mudanças que afetam um grande número de pessoas. Outros são grandes mudanças na vida de um individuo. As atribulações diárias também podem ser experimentadas como estressores, ou seja, a fonte de estresse pode estar no indivíduo, na forma de motivos ou desejos conflitantes. As situações percebidas como estressantes geralmente incluem um uma ou mais das seguintes categorias: eventos traumáticos, eventos incontroláveis, eventos que desafiam os limites de nossas capacidades e nosso autoconceito, ou conflitos internos. 2.4.2. Eventos traumáticos. São as fontes mais óbvias de estresse, situações de extremo perigo que estão fora da faixa usual da experiência humana, como desastres naturais, guerras, entre outros. Muitas pessoas apresentam uma seqüencia específica de reações psicológicas após um evento traumático (at. Horowitz, 1986). Inicialmente os sobreviventes ficam atordoados e confusos, parecendo não ter consciência, dos danos ou do perigo. Eles podem ficar vagando a esmo desorientados, possivelmente expondo-se a mais riscos. Contudo, eventos mais comuns podem acarretar respostas de estresse. Três características dos eventos comuns os levam a serem percebidos como estressantes: controlabilidade, previsibilidade e grau em que o evento desafia nossa capacidade de autoconceito. As pessoas são diferentes quanto ao grau em qua percebem uma situação como controlável, previsível ou como um desafio a sua capacidade e autoconceito, e são principalmente estas avaliações que influenciam o grau de estresse de uma situação (at. Lazarus e Folkman, 1984). 2.4.3. Controlabilidade. Quanto mais incontrolável um evento, maior sua probabilidade de ser percebido como estressante. Eventos incontroláveis maiores incluem a morte de um ente querido, demissão, entre outros. Eventos incontroláveis menores incluem situações como, recusa de um amigo aceitar suas desculpas, ou ser excluído de um vôo, porque a empresa aérea vendeu mais passagens do que lugares disponíveis. Um dos motivos óbvios pelos quais os eventos incontroláveis são estressantes é que se não podemos controlá-los, não podemos impedi-los de acontecer. A idéia de que podemos controlar os eventos, parece reduzir o impacto deles, mesmo que não exerçamos este controle. 2.4.4. Previsibilidade. Pode prever a ocorrência de um evento estressante, geralmente reduz a severidade do estresse. Experimentos laboratoriais indicam que tento humanos como animais, preferem eventos aversivos previsíveis a imprevisíveis. Um sinal de aviso antes de um evento aversivo permite que a pessoa ou animal inicie alguma espécie de processo preparatório que reduz os efeitos do estimulo nocivo. Outra possibilidade é que, com o choque imprevisível, não há um período seguro; com o choque previsível, o organismo pode relaxar em certa medida até que o sinal avise que um choque está prestes a ocorrer (at. Seligman e Binik, 1977). 2.4.5. Desafiando nossos limites. Algumas situações são predominantemente controláveis e previsíveis, mas mesmo assim são experimentadas como estressantes porque nos levam aos limites de nossa capacidade e questionam nossas idéias a nosso próprio respeito. 2.4.6. Conflitos internos. O estresse também pode ser causado por processos internos, conflitos nãoresolvidos que podem ser conscientes ou inconscientes. Ocorre conflito quando uma pessoa precisa escolher entre objetivos ou formas de agir incompatíveis ou mutuamente excludentes. Mesmo que duas metas sejam igualmente atraentes, você pode sofrer intensamente para tomar a decisão e sentir arrependimento depois de fazer sua escolha. Conflitos também podem surgir quando duas necessidades ou motivos interiores estão em oposição e tentar encontrar um meio-termo viável entre motivos opostos pode criar considerável estresse. 2.4.7. Efeito do estresse na memória. As literaturas sobre os efeitos do estresse sobre a memória demonstram que a memória é diretamente comprometida pelo estresse, embora o pouco conhecimento sobre o assunto; é provável que os processos de codificação e manutenção de informações sejam as áreas mais afetadas. Foi concluído que o estresse causa uma redução na capacidade dos recursos da memória, como codificação, ensaio ou recuperação. 2.4.8. Efeito do estresse na tomada de decisão e julgamento. O julgamento e a tomada de decisões sob estresse tendem a ser mais determinadas e com menos alternativas. Há evidencias de que os indivíduos tendem a confiar em alternativas anteriores, independente do resultado das mesmas. Assim indivíduos podem ter a tendência de persistir em utilizar métodos, de certa forma, falhos, para resolver determinados problemas. 2.5. RELAÇÃO DO ESTRESSE COM AS ATIVIDADES DE UM PILOTO Com os estudos citados anteriormente podemos perceber a relação direta entre atividades cognitivas e o estresse. As reações acarretadas pelo estresse fazem com que as nossas mentes realizem as operações com mais dificuldade, coisas que antes eram simples passam a ficar mais complexas resultando em possíveis falhas. Essas falhas podem ser encontradas nos processos de memorização, por exemplo, uma pessoa tem de memorizar uma determinada informação, mas com a influência do estresse, poderão surgir complicações em algum dos estágios da memorização, podendo ser no ensaio, codificação ou recuperação das informações. Possivelmente também haverá problemas com a atenção, que também afeta diretamente na memória de operação e conseqüentemente na memória de longoprazo. Um piloto usa constantemente essas memórias, pode ser para, efetuar o “checklist”, armazenar provisoriamente as informações da “clearance” ou saber os números operacionais da aeronave, como velocidades de decolagem, pouso, razão de subida, entre outros. Pilotar uma aeronave também requer uma atenção extremamente grande, pois qualquer problema, mínimo que seja, pode acarretar em um problema muito maior. E o estresse afeta diretamente na atenção, onde situações em que a pressão, como a de ter que decolar rápido, faz com que determinadas ações que, de todo jeito deveriam ser tomadas, sejam esquecidas, como no acidade da Air Florida, que no dia do vôo, havia muita neve e a tripulação simplesmente deixou de ligar o “de ice”, mesmo com este item descrito no “checklist”. No mesmo acidente ocorreram vários erros que comprovam o que o estresse, a falta de atenção e a pressão podem ser capazes de fazer, como um piloto com milhares de horas em experiência de vôo, simplesmente esqueceu parte do seu treinamento, e essa parte pode ser a peça-chave para desencadear uma tragédia. 3. CONCLUSÃO Com os estudos apresentados anteriormente, pode-se chegar a conclusão de que o estresse é um fator determinante para um bom desenvolvimento de qualquer atividade, e principalmente paras as atividades aeronáuticas, onde erros não podem ser cometidos. Os processos de memória e atenção podem ser altamente afetados pelo estresse, tornando-nos mais propícios para errar, por exemplo, para a cópia de uma “clearance”, distrair-se na hora de fazer os cálculos de uma navegação, ou até mesmo durante a realização de um procedimento, e com esses tipos de erros os únicos resultados poderão ser no mínimo ruins, pois vidas serão ameaçadas. 4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATKINSON Rita L., ATKINSON Richard C., SMITH Edward E., BEM Daryl J., NOLEN-HOEKSEMA Susan. Introdução à Psicologia de Hilgard. STALL Mark A. Stress, Cognition, and Human Performance: A Literature Review and Conceptual Framework. BOURNE Lyle E., YAROUSH Jr. Ando Rita A. Stress And Cognition: A Cognitive Psychological Perspective. ANTUÑANO Melchor J. Stress And The Pilot