evolução e potencial dos mercados do oriente médio para

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XLIV CONGRESSO DA SOBER
“Questões Agrárias, Educação no Campo e Desenvolvimento”
EVOLUÇÃO E POTENCIAL DOS MERCADOS DO ORIENTE MÉDIO
PARA A CARNE BOVINA BRASILEIRA
Grupo de pesquisa 3: Comércio Internacional
RESUMO:
Este trabalho tem como objetivo apresentar a importância e a evolução do comércio de
carne bovina do Brasil com o Oriente Médio, analisando as características comerciais que
distinguem esta região dos mercados tradicionais. Pretende-se com isto, analisar o potencial
importador dos países que compõem essa região, no contexto dos denominados novos mercados,
ou mercados não tradicionais, os quais embora não sejam prioritários, podem apresentar algum
potencial para expansão das vendas brasileiras.
Para atingir os objetivos propostos, utilizam-se instrumentos da estatística descritiva
básica, que auxiliam na análise de características comerciais relevantes, tais como, evolução e
padrão das exportações, participação brasileira nas exportações mundiais, preços médios das
vendas, índice de sazonalidade das vendas, existência de acordos regionais de comércio na região
do Oriente Médio, pauta de fornecedores de carne bovina desses países, indicadores de
crescimento econômico, dentre outros. O período analisado compreende os anos entre 1996 e
2005.
A diversidade econômica do Oriente Médio, em especial no que se refere ao nível de
renda per capita de alguns países, indica que há potencial de aumento das importações de carne
bovina por algumas economias dessa região. Destaca-se ainda o progresso da reforma de
liberalização comercial destes países, que pode favorecer o aumento das exportações brasileiras,
mas também de outros fornecedores, além da necessidade de intensificar acordos comerciais com
a região à semelhança do que vem sendo feito pela União Européia há algum tempo.
Palavras-chaves: comércio, exportação, carne bovina, potencial, Oriente Médio.
1.
INTRODUÇÃO
Atualmente, 11 países são responsáveis por absorver 70% do volume exportado de carne
bovina do Brasil. No ano de 2005, Rússia e Egito, os dois maiores mercados, responderam juntos
por 32% (MDIC, 2005). Tradicionalmente, o mercado europeu foi ao longo dos últimos 15 anos
o maior comprador da carne bovina nacional, embora em período recente a pauta de países
compradores começou a se alterar, destacando maiores participações para países como o Chile, a
própria Rússia e o Egito, além de outros países do Oriente Médio. Apesar disto, nos últimos anos,
os maiores importadores de carne bovina elevaram suas participações no total exportado, mesmo
com o aumento do número total de mercados compradores, ou seja, a concentração com poucos
países persiste. É interessante frisar que o Governo Federal procura estimular a diversificação em
produtos e mercados de destino das exportações brasileiras.
Neste contexto destacam-se os denominados novos mercados, ou mercados não
tradicionais, os quais embora não sejam prioritários, podem apresentar algum potencial para
expansão das vendas de carne bovina. Segundo Fonseca (2002), a política de diversificação
regional das exportações diminui a volatilidade das receitas externas e os efeitos das crises
localizadas de demanda, além de produzir resultados a curto prazo. Esta política deve priorizar
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produtos e setores nos quais o Brasil possui vantagens competitivas, pois isto facilitaria a entrada
em mercados ainda pouco explorados.
Em 2005, o Oriente Médio1 (figura 1) importou aproximadamente 120 mil toneladas ou
US$ 215 milhões de carne bovina do Brasil, configurando-se como o 4º maior mercado para o
produto brasileiro – atrás da União Européia (UE), Rússia e Egito (MDIC, 2005). Este fato
justifica a análise das características comerciais, ainda pouco exploradas, dessa região.
Ademais, a expectativa para os próximos anos é de que o aumento do consumo de
proteínas animais ocorra com maior intensidade nos países em desenvolvimento, uma vez que os
padrões de consumo dos países desenvolvidos já atingiram os patamares preconizados pelas
organizações internacionais de saúde.
Figura 1. Região denominada de Oriente Médio,
conforme descrição do MDIC, 2006.
2.
OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo apresentar a importância e a evolução do comércio de
carne bovina do Brasil com o Oriente Médio, analisando as características comerciais que
distinguem esta região dos mercados tradicionais. Pretende-se com isto, analisar o potencial
importador dos países que compõem essa região.
3.
METODOLOGIA E DADOS UTILIZADOS
Para atingir os objetivos propostos, utilizam-se instrumentos da estatística descritiva
básica, que auxiliam na análise de características comerciais relevantes, tais como, evolução e
padrão das exportações, participação brasileira nas exportações mundiais, preços médios das
vendas, índice de sazonalidade das vendas, existência de acordos regionais de comércio na região
do Oriente Médio, pauta de fornecedores de carne bovina desses países, indicadores de
1
Este trabalho considera os países do Oriente Médio selecionados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC) – Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Coveite (Kuwait), Emirados Árabes Unidos, Iêmen,
Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Líbano, Omã e República Árabe da Síria.
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crescimento econômico, dentre outros. O período analisado compreende os anos entre 1996 e
2005.
Os dados de exportação do Brasil por país, em volume e em valor, são provenientes do
Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet (ALICE-Web), do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A divisão dos valores
pelos volumes forneceu uma aproximação de um valor médio por unidade de produto e a partir os
dados do ALICE-Web também foram calculados índices de sazonalidade.
A base de dados de comércio das Nações Unidas (COMTRADE) foi amplamente
utilizada para identificar o padrão de consumo destes países, através da análise das vendas de
outros países exportadores de carne bovina para a região, possibilitando, assim, melhor
compreender variações ocorridas nas exportações brasileiras para o Oriente Médio e analisar a
evolução da participação do Brasil nessa região em relação a outros concorrentes.
Indicadores econômicos como, renda nacional per capita, crescimento econômico e taxa
de desemprego, foram obtidos da base de dados do Banco Mundial (World Development
Indicators database). Estudos realizados por esta e outras entidade (como o Fundo Monetário
Internacional) também foram úteis para interpretar esses indicadores.
Discussões a respeito de acordos regionais de comércio no Oriente Médio foram feitas
com base em informações oficias do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e da Comissão
Européia. Os estudos do Banco Mundial também foram úteis para se obter dados de comércio
intra-regional e sobre o progresso de reformas comerciais na região estudada.
Devido à falta de trabalhos científicos sobre este mercado especificamente, as
informações qualitativas foram provenientes de artigos, informativos e revistas (Instituto de
Economia Agrícola - IEA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - USDA e Fundação
Centro de Estudos do Comércio Exterior - FUNCEX).
Não existe consenso sobre quais países compõem o Oriente Médio. Este trabalho
considera os países selecionados pelo ALICE-Web – Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Coveite
(Kuwait), Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Líbano, Omã e
República Árabe da Síria. Algumas entidades internacionais, como a Organização Mundial do
Comércio (OMC), não incluem o Iraque nesta região; outras, como no caso da Organização das
Nações Unidas (ONU), não consideram o Irã. O USDA utiliza uma classificação mais abrangente
que incluí países da África, como Egito, Argélia, Marrocos, dentre outros.
Uma vez selecionada a classificação da região delimitada como Oriente Médio, uma
dificuldade observada foi obter as estatísticas sobre produção e comércio de seus países. Estes
divulgam seus dados para entidades internacionais com grande inconstância e a falta de
informações apresenta-se como o principal obstáculo para uma análise mais ampla e profunda do
perfil do comércio, em particular, do ponto de vista das estratégias comerciais de exportação de
carne bovina do Brasil. Ademais, apenas uma parte dos sites oficias destes países está disponível
em língua inglesa.
A análise da evolução das exportações brasileiras de carne bovina para todos os países do
Oriente Médio (isto é, em conjunto) não é adequada, pois os volumes exportados para esses
países diferem muito. Como conseqüência, eventos que ocorrem com grandes compradores
podem não refletir uma tendência mais geral da região. Deste modo, optou-se por dividir esses
países em dois grupos, de acordo com o volume de carne bovina que eles importam do Brasil e o
perfil de consumo dos mesmos. O primeiro grupo compreende Arábia Saudita, Emirados Árabes,
Irã, Israel e Líbano (grupo 1), e o segundo grupo (grupo 2) compreende os demais países, assim
divididos a partir da observação dos dados gerais de comércio com o Brasil (quadro 1).
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Quadro 1. Proposta de divisão do Oriente Médio em Grupos com base no perfil importador
de carne bovina brasileira.
Grupo 2
Grupo 1
Arábia Saudita
Bahrein
Jordânia
Emirados Árabes
Catar
Omã
Irã
Kuwait
Síria
Israel
Iêmen
Líbano
Iraque
Fonte: Elaborado pelas autoras.
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo classificação do Banco Mundial2, dentre os países do grupo 1, a Arábia Saudita,
os Emirados Árabes e Israel são consideradas economias de renda alta. O Líbano e o Irã são
considerados países de renda média alta e de renda média baixa, respectivamente. Dentre os
países do grupo 2, Bahrein, Catar e Kuwait são considerados países de renda alta. O Omã é um
país de renda média alta e, com exceção do Iêmen (renda baixa), o restante possui renda média
baixa (tabela 1).
O principal critério dessa classificação adotada pelo Banco Mundial é a Renda Nacional
Bruta per capita. A classificação pela renda não reflete necessariamente o grau de
desenvolvimento de um país, mas é um indicativo importante ao se considerar,
comparativamente, o potencial dos países como consumidores de proteína animal.
Tabela 1. Renda Nacional Bruta per capita (US$ correntes) e população dos países do
Oriente Médio (2004).
RNB per capita
Classificação
População
Kuwait
17.970³
renda alta
2.459.534
Emirados Árabes
17.790¹
renda alta
4.284.000
renda alta
Israel
17.380
6.797.670
Bahrein
12.410³
renda alta
725.385
Arábia Saudita
10.430
renda alta
23.214.700
renda alta
Catar
ND
637.205
Omã
7.890³
renda média alta
2.659.014
Líbano
4.980
renda média alta
4.553.928
Irã
2.300
renda média baixa
66.927.850
renda média baixa
Jordânia
2.140
5.439.952
Síria
1.190
renda média baixa
17.783.090
Iraque
ND
renda média baixa
22.796.510²
Iêmen
570
renda baixa
19.763.010
Fonte: Banco Mundial, 2006 (World Development Indicators database).
Nota: (1) 1998, (2) 1999, (3) 2003.
2
http://www.worldbank.org/
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Como pode ser observado na tabela 1, alguns países do Oriente Médio possuem uma
renda per capita bastante elevada. O próprio Banco Mundial (2005) ressalta que essa região é
economicamente diversa, ou seja, é composta por economias ricas em petróleo (como os países
do Golfo) e por países com grande escassez de recursos (como o Iêmen). A maior parte dos
países de renda alta está na região do Golfo, rica em petróleo.
Com exceção do Irã, que apresenta grande irregularidade nas compras de carne bovina do
Brasil, os países do grupo 1 são economias de renda alta (Arábia Saudita, Israel e Emirados
Árabes) ou de renda média alta (caso do Líbano). Entretanto, alguns países do grupo 2, também
têm renda alta ou renda média alta e estes são aqueles que compram os maiores volumes de carne
do Brasil nesse grupo, à exceção da Jordânia que, apesar da renda média baixa, é o segundo
maior importador desse produto no grupo, em 2005.
Os estudos do Banco Mundial sobre o Oriente Médio e sobre o Norte da África são
conduzidos em conjunto e por isso, muitas vezes, os dados estão agregados para essas duas
regiões. Neste caso, além dos países considerados no presente trabalho são incluídos, a Argélia,
Djibuti, Egito, Líbia, Marrocos, Tunísia, Cisjordânia (Margem Ocidental) e Gaza. Ademais,
dados do Iraque, Líbia, Catar, Cisjordânia e Gaza e Djibuti freqüentemente não estão incluídos
em indicadores regionais do Banco Mundial, devido à falta de informações. Assim, sempre que
possível, serão apresentados apenas os dados referentes aos países do Oriente Médio delimitados
inicialmente neste trabalho pela classificação do Sistema Alice.
O Banco Mundial (2005) destaca que as economias do Oriente Médio são influenciadas
por dois fatores principais: o preço do petróleo e políticas econômicas e estruturas que enfatizam
o papel do estado. No final de 1980, as economias dessa região iniciaram reformas econômicas
profundas para promover o desenvolvimento conduzido principalmente pelo setor privado. Como
resultado, desde o final dos anos 90, a renda nacional bruta per capita desses países vem
aumentando.
Em 2003 e 2004 o Oriente Médio apresentou grande crescimento econômico. Entretanto
esse crescimento se deveu, principalmente, aos países exportadores de petróleo (tabela 2). O FMI
(2005) ressalta que, de maneira geral, o crescimento econômico da região está abaixo daquele
verificado no grupo dos países em desenvolvimento.
A queda no crescimento dos países exportadores de petróleo3 entre 2003 e 2004 se deveu
ao crescimento mais fraco no setor petroleiro. Os setores não-petroleiros desses países
apresentaram expansão em 2004, devido a investimentos relacionados ao setor petroleiro (Banco
Mundial, 2005 e FMI, 2005). A preocupação sobre a maneira como as receitas extraordinárias do
petróleo estão sendo geridas é bastante recorrente e, embora ainda não satisfatória, observa-se
maior cautela na aplicação dessas receitas. Ademais, embora a maior parte das exportações
desses países esteja relacionada ao petróleo, observa-se um aumento nas exportações de outros
produtos ao longo dos anos, com destaque para o Irã e o Omã.
Tabela 2. Crescimento econômico de países do Oriente Médio (1990-2004).
Média
Crescimento do PIB real (%)
2002
2003
2004*
1990-2000
Arábia Saudita
2,7
0,1
7,2
5,0
Bahrein
5,5
5,1
6,8
5,6
3
Para o FMI, os países exportadores de petróleo, situados no Oriente Médio, são Bahrein, Irã, Iraque, Kuwait, Omã,
Catar, Arábia Saudita, Síria e Emirados Árabes.
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Catar
Kuwait
Emirados Árabes
Iêmen
Irã
Iraque
Israel
Jordânia
Líbano
Omã
Síria
Fonte: Banco Mundial (2005).
Nota: * estimativa.
ND
7,6
4,0
5,8
4,0
ND
ND
5,1
7,1
4,6
5,1
ND
-0,4
1,8
3,6
7,4
ND
ND
5,0
2,2
0,0
3,2
ND
9,9
7,0
3,8
6,6
ND
ND
3,2
2,7
3,9
2,5
ND
6,8
5,7
2,0
6,5
ND
ND
5,5
3,8
1,5
3,6
Essa região também enfrenta desafios econômicos e sociais sérios. Um dos maiores
problemas desses países é o desemprego - a criação de postos de trabalho para absorver os novos
ingressantes e os atuais desempregados é fundamental. Entre 2000 e 2004, acompanhando o
crescimento econômico da região, o desemprego diminuiu (graças ao aumento dos preços do
petróleo). Dados agregados para o Oriente Médio e o Norte da África indicam que a taxa de
desemprego caiu de 14,9% em 2000 para 13,4% em 2004. Entretanto, a taxa de desemprego entre
os países dessas regiões pode variar significativamente. Em 2004, por exemplo, a taxa de
desemprego na Argélia foi de quase 24%, enquanto no Egito este valor foi de 10% e na Jordânia,
14% (Banco Mundial, 2005).
Cabe destacar que dentre os países do Oriente Médio e Norte da África, estão Argélia,
Marrocos e Tunísia, com taxas de desemprego bastante altas – um fato interessante, pois a
Argélia é grande compradora de carnes do Brasil - isto pode ser explicado pela grande queda no
desemprego entre 2000 e 2004, neste país (acompanhando seu crescimento econômico)
No que se refere ao comércio internacional desses países, houve um fortalecimento dos
laços econômicos intra-regionais, principalmente depois de 2001, evidenciado pelos fluxos
financeiros, pelo turismo e, em menor extensão, pelo comércio de bens. O comércio intraregional do Oriente Médio e Norte da África, embora ainda pouco explorado, elevou-se de 6,8%
do total exportado em 2000 para 8% em 2003 (Banco Mundial, 2005).
O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), por exemplo, foi criado em 1981 e seus
estados membros são Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes e Omã. Seu
objetivo é coordenar e integrar os estados membros em diversas áreas, inclusive política e
econômica. Desde 2003, o CCG é uma união aduaneira (MRE, 2005).
O Mercosul assinou um Acordo-Quadro de Cooperação Econômica com o CCG, no início
de 2005. Há também a intenção de firmar um acordo de livre comércio entre as partes. O CCG é
um importante mercado consumidor (principalmente de produtos de base e manufaturados) e tem
elevado potencial para financiar investimentos externos em função das receitas com o petróleo
(MRE, 2005).
Um acordo de cooperação entre a UE e o CCG foi assinado em 1989. O objetivo do
acordo é facilitar relações econômicas e políticas, além de estabelecer um acordo de livre
comércio. As exportações da União Européia têm aumentado para o CCG, que em 2004 foi o seu
sexto maior mercado de destino. Os principais produtos de exportação da UE para o CCG foram
máquinas e materiais de transporte (56%). Por outro lado, a UE foi o primeiro parceiro comercial
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do CCG, importando basicamente combustíveis e derivados (70% das importações totais da UE
provêm dos países do CCG). É importante ressaltar que os países do CCG têm acesso
preferencial ao mercado da UE (Comissão Européia, 2006). Isto pode afetar as potencialidades do
Brasil como fornecedor de bens em que concorre com a União Européia.
No final de 1995, foi firmada também uma parceria entre a União Européia e países do
Mediterrâneo, conhecida como Euromed (Euro-Mediterranean Partnership). Os países do
Oriente Médio inclusos nesta parceria são Israel, Jordânia, Líbano e Síria. Dentre seus principais
objetivos está o estabelecimento gradual de uma área de livre comércio (Comissão Européia,
2006). Com estes dois acordos e outros, de menor abrangência, a União Européia tem
aproximações comerciais com quase todos os países do Oriente Médio.
Destaca-se também a Liga dos Estados Árabes, mais especificamente, o acordo de criação
da Área de Livre Comércio dos Países Árabes. Este acordo tem como objetivo facilitar e
desenvolver o comércio entre as nações árabes, e entrou em vigor no início de 2005. Com
exceção de Israel e Irã, todos os países do Oriente Médio fazem parte deste acordo (Agência de
Notícias Brasil-Árabe, ANBA, 2005).
Segundo a ANBA (2005), citando informações do jornal Khaleej Times (dos Emirados
Árabes), o comércio entre estes países ainda é tímido em relação às suas transações com o resto
do mundo; cerca de 9%. Entretanto, dado que o acordo prevê a redução gradual das tarifas
alfandegárias, espera-se que este percentual ultrapasse 60% em 3 anos. Em entrevista a este
mesmo jornal, o secretário-geral para assuntos econômicos do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), Taha Al Tayeb Omair, ressaltou a dificuldade de implementação
total do acordo e afirmou que os principais beneficiados serão os países mais industrializados e
com vocação exportadora, como Emirados Árabes, Jordânia e Egito.
Já o presidente do Fundo Monetário Árabe, Jassem Al Mannai, em entrevista ao jornal
Gulf News (Emirados Árabes), demonstrou preocupação com as barreiras não tarifárias,
procedimentos alfandegários ineficientes e burocracia, que podem limitar a expansão efetiva do
comércio intra-regional (ANBA, 2005).
Motivados, em parte, pelo contexto desses acordos, vários países fizeram progresso
notável na reforma comercial. Observou-se queda nas tarifas médias simples e ponderadas no Irã,
Jordânia, Líbano e Arábia Saudita. Em especial, o Irã obteve resultados significativos em sua
reforma tarifária, resultando na redução da tarifas média simples de 40% para 20%, entre 2000 e
2004. Na região do Oriente Médio e do Norte da África como um todo, em média, as tarifas
simples diminuíram de 22% em 2000 para pouco mais de 15% em 2004, uma redução de cerca de
30% na taxa. A título de comparação, países em desenvolvimento tiveram, em média, uma queda
de cerca de 19%. Entretanto, excluindo-se o Irã e o Egito (que também teve grande êxito na
reforma tarifária), a redução nas tarifas médias do Oriente Médio e do Norte da África foi
praticamente igual à redução média mundial, pois alguns países ainda mantêm níveis absolutos
elevados de tarifas (Banco Mundial, 2005).
O Banco Mundial (2005) também analisa as barreiras não-tarifárias (BNTs) aplicadas por
esses países. A tabela 3 apresenta um índice (Índice de restritividade comercial total, IRCT) que
sugere que as políticas comerciais em alguns países listados na tabela são altamente restritivas e
que barreiras não-tarifárias são um elemento importante para restringir as importações, em
especial no Marrocos, Argélia e Tunísia. Em comparação ao índice que considera apenas tarifas,
a restritividade da política comercial no Oriente Médio e Norte da África é cerca de duas vezes
maior quando as barreiras não-tarifárias são levadas em conta (com exceção dos países do Golfo).
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Tabela 3. Índice de restritividade comercial total (IRCT), para países do Oriente Médio,
Norte da África e outros países em desenvolvimento (2001).
País
IRCT¹
IRCT - BNTs²
Argélia
16,3
46,5
Bahrein
8,2
8,8
Egito³
44
67,8
Jordânia
12,7
24,4
Líbano
5,5
14,2
Marrocos
25,4
50,9
Omã
10,1
15,6
Arábia Saudita
6,7
10,8
Tunísia
24,9
36,7
Chile
6,8
11,5
Índia
30
39,9
Polônia
10,8
15,2
África do Sul
7,2
8,9
Austrália
4,7
11,6
Fonte: Banco Mundial, 2005.
Nota: 1 Considera apenas tarifas / 2 Incorpora BNTs / 3 Não reflete sua reforma tarifária recente.
A tabela 4 mostra o progresso da reforma comercial de países do Oriente Médio,
apresentando indicadores de política comercial únicos, baseados em tarifas médias não
ponderadas. A tabela evidencia ainda a posição dos países de acordo com suas tarifas médias
simples e seus progressos na reforma tarifária entre 2000 e 2004.
Tabela 4. Progresso da reforma comercial no Oriente Médio e em outras regiões (20002004).
País
Status atual
Progresso da reforma
Arábia Saudita
76
88
Bahrein
65
34
Irã
4
76
Jordânia
20
86
Líbano
81
87
África Subsaariana
29
21
Leste da Ásia e Pacífico
55
49
Europa e Ásia Central
72
64
América Latina
49
56
OCDE
93
67
Sul da Ásia
25
43
Países de renda média baixa
38
63
(excl. países do OM¹ e NA²)
Fonte: Banco Mundial, 2005.
Nota: O “status atual” reflete a colocação atual do país (2004) em um rank, no qual 100 indica o
país com as melhores políticas comerciais e 0, o país com as políticas comerciais mais restritivas.
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O “progresso da reforma” reflete a melhoria da política comercial entre 2000 e 2004, com 100
indicando o país que exibiu o melhor progresso e 0, o país que apresentou a maior piora.
1 Oriente Médio / 2 Norte da África.
Como explicado anteriormente, a análise da evolução das exportações brasileiras de carne
bovina para o total da região do Oriente Médio não reflete adequadamente a sua tendência geral.
O gráfico 1 mostra a evolução dessas exportações para todos os países do Oriente Médio, com
exceção da Arábia Saudita, Irã e Israel. Tais países não foram incluídos nesta análise, pois ao
longo do período considerado suas importações apresentaram variações pontuais significativas.
O gráfico 1 evidencia o crescimento anual tanto do volume quanto dos valores exportados
pelo Brasil para essa região. Em 2005, a taxa de crescimento das exportações, em volume, foi de
31% e em valor, de 36%. As taxas de crescimento das exportações para a UE, em 2005, em
volume e valor, foram de 8% e 8%, respectivamente; para a Rússia, de 90% e 132%,
respectivamente; e para o Egito, também respectivamente, de 24% e 50%. As taxas mais baixas
verificadas para a UE se devem às restrições abrangentes aplicadas pelo Bloco devido à
ocorrência de focos de febre aftosa no Brasil, em 2005 (IEA, 2006). Na região, observa-se que o
comércio brasileiro desse produto apresentou uma tendência crescente marcante a partir de 2001.
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
1996
1997
1998
1999
2000
Toneladas
2001
2002
2003
2004
2005
Mil US$
Gráfico 1. Evolução das exportações brasileiras de carne bovina para o Oriente Médio,
exceto Arábia Saudita, Irã e Israel (1996-2005).
Fonte: MDIC/SECEX/ALICE-Web.
O gráfico 2 mostra a inconstância das importações de países do grupo 1 como Arábia
Saudita, Irã e Israel. Este fato é relevante, pois dentre os países do Oriente Médio, estes foram os
que apresentaram os maiores volumes de compra nos últimos anos, ocasionando alta
variabilidade nas receitas dos exportadores. As exportações para o Líbano e para os Emirados
Árabes são crescentes e estáveis ao longo do período considerado, embora em patamar inferior
aos dos três países supracitados.
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70.000
60.000
Toneladas
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
1996
Arábia Saudita
1997
1998
Israel
1999
Líbano
2000
2001
2002
2003
Emirados Árabes Unidos
2004
2005
Irã
Gráfico 2. Evolução das exportações brasileiras de carne bovina para o Oriente Médio,
grupo 1 (1996-2005).
Fonte: MDIC/SECEX/ALICE-Web.
No tocante aos países do grupo 2, estes compram quantidades anuais pouco significativas
e bastante inferiores às dos países do grupo 1. A partir de 1998, por exemplo, os volumes
exportados para os Emirados Árabes e para o Líbano (em conjunto) são superiores ao total
exportado para o grupo 2. Cabe destacar o Coveite e a Jordânia neste grupo de países, pois além
de serem os maiores compradores, também desde 2001 apresentaram as maiores taxas de
crescimento (gráfico 3).
Analisando o perfil do comércio entre o Brasil e os dois grupos, observa-se que dentre os
países do grupo 2, as carnes industrializadas têm maior participação nos volumes exportados, em
especial os enchidos de carne, miudezas, sangue e suas preparações alimentícias. Este pode ser
um indício de que tais produtos são efetivamente preferidos em países de menor renda ou,
quando nos países mais ricos, por populações de renda inferior. Atualmente, o menor preço
médio por quilo das exportações brasileiras de carne é justamente deste produto. Embora para
afirmar fosse necessário avançar em estudos econométricos para medir as relações, pode-se
inferir que a renda é um fator decisivo para entender o padrão de consumo dos países de renda
média, que predominam neste grupo 2. Para reforçar ainda mais tal percepção, as carnes frescas e
refrigeradas, mais valorizadas, têm participação pequena nas vendas para os países desse grupo.
O ambiente desértico e a necessidade de ter alimentos com facilidade de manuseio e
armazenamento nesses países são fatores que podem contribuir para a preferência por este tipo de
carne industrializada.
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Toneladas
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10.000
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1996
Coveite
1997
Jordânia
1998
Omã
1999
2000
Catar
2001
Bahrein
2002
2003
Iraque
2004
Iêmen
2005
Síria
Gráfico 3. Evolução das exportações brasileiras de carne bovina para o Oriente Médio,
grupo 2 (1996-2005).
Fonte: MDIC/SECEX/ALICE-Web.
As carnes de maior participação nas exportações para os países do grupo 1 são as
desossadas congeladas (em volume). Esse tipo de carne tem preços maiores no mercado
internacional, em comparação com as carnes exportadas para o grupo 2, garantindo receitas
maiores aos exportadores. O grande volume exportado para os países do grupo 1 também
contribui para isso.
Pouco a pouco, nota-se de forma mais discreta que o fornecimento de carne bovina in
natura refrigerada do Brasil para os países do grupo 1 também está crescendo, ou seja, não
ficando restrito a um comércio com os países mais ricos do Ocidente. Dentre os países do grupo
1, os maiores compradores de carnes desossadas congeladas são Israel e Arábia Saudita. Neste
grupo, o Líbano foi o maior comprador de carnes desossadas frescas e refrigeradas, seguido pela
Arábia Saudita. No caso dos enchidos de carne, miudezas, sangue e suas preparações
alimentícias, os Emirados são o maior país comprador.
A análise acima evidencia que além de ser possível a separação desses países em dois
grupos, de acordo com o volume exportado, cada grupo apresenta um padrão de consumo
diferente.
Dentre os países do grupo 2 cabe destacar o Kuwait e a Jordânia, que são os maiores
compradores deste grupo. Atualmente, o principal tipo de carne exportada para o Kuwait são as
carnes desossadas congeladas, como no grupo 1. Entretanto percebe-se que nos últimos anos,
esse tipo de produto tem perdido participação nas exportações para esse país, enquanto que os
enchidos de carne, miudezas, sangue e suas preparações alimentícias vem ganhando mais espaço.
Assim, tudo indica que, se mantida esta tendência, o padrão de consumo do Kuwait será alinhado
ao dos demais países do grupo 2. O mesmo pode-se dizer da Jordânia. É importante diante desta
constatação analisar os demais países fornecedores no mercado internacional, visando avaliar o
quanto dessa mudança pode-se dever à substituição de países de origem das exportações. Além
disto, visto que em outras regiões do mundo a tendência é cair o consumo dessas preparações
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alimentícias de carne bovina, como o corned beef, seria oportuno verificar o perfil do comprador
no Kuwait.
Outro ponto a ser destacado é que alguns países apresentam características bastante
singulares como destino das exportações de carne bovina. Ao longo dos anos, por exemplo, o
Brasil exportou basicamente um único tipo de produto para o Iêmen - enchidos de carne,
miudezas, sangue e suas preparações alimentícias. O mesmo ocorreu com o Irã, mas para carnes
desossadas congeladas. Para o Iraque, as exportações ocorreram apenas nos anos de 2003 e 2005,
principalmente de enchidos de carne, miudezas, sangue e suas preparações alimentícias.
Exportações para a Síria ocorreram apenas em 2004 (sobretudo de preparações alimentícias e
conservas, de bovinos).
O entendimento das variações ocorridas nas exportações brasileiras para o Oriente Médio
e a análise da evolução da participação do Brasil nesses países foi feita com o auxílio da base de
dados de comércio das Nações Unidas (COMTRADE). Anualmente, os países reportam seus
dados de importação e exportação para esta entidade, embora a base de dados de alguns países
esteja desatualizada, inclusive a dos países da região do Oriente Médio. Foram utilizados também
os dados de volume de exportação, reportados por todos os países do mundo, disponíveis até o
ano de 2004.
Acredita-se que a participação do Brasil no volume total exportado de carne bovina para
essa região seja um indicativo (aproximado) da importância do Brasil nestes mercados como
fornecedor de proteína animal e de seu potencial.
Arábia Saudita
O principal produto exportado pelo Brasil para a Arábia Saudita é a carne desossada in
natura (principalmente congelada). Entre 1996 e 2000, a Irlanda foi o país que mais exportou
carne in natura para a Arábia Saudita, respondendo por até 75% do volume total exportado para
este país, em 1998. O Brasil começou a se destacar neste mercado em 1999, quando foi
responsável por 7% das compras sauditas (em volume de carne in natura). Em 2001, ano de
ocorrência de focos de febre aftosa na Irlanda e países da União Européia, o Brasil acabou
elevando essa participação para 73%, seguido pela Austrália, com uma participação de 16%,
substituindo o produto embargado da Irlanda. Naquele ano, as exportações européias, mesmo
para seus países de destino tradicionais, foram insignificantes, criando diversas oportunidades de
substituição por carnes sul-americanas e australianas. Em 2002 e 2003 essa participação do Brasil
continuou elevada, atendendo a 86% do total importado pela Arábia Saudita (tabela 5).
Em 2004 a participação do Brasil no total de carne in natura exportada para a Arábia
Saudita cai para 57%, e a Índia, que em 2003 era responsável por atender a apenas 2% da
demanda por importação desse país, passou a responder por 32%. O Paraguai foi responsável por
7% das exportações de carne in natura para a Arábia Saudita (tabela 5).
A queda das exportações do Brasil para a Arábia Saudita pode indicar uma perda de
participação neste mercado para outros concorrentes, com destaque para a Índia, pois as compras
de carne bovina pela Arábia Saudita vêm aumentando nos últimos anos. Em 2003, a Índia
exportou quase 1.000 toneladas de carne in natura para a Arábia Saudita e em 2004, cerca de 24
mil toneladas.
Tabela 5. Evolução da participação do Brasil no total exportado pelo mundo para a Arábia
Saudita, em toneladas (1996-2004).
1996
1998
2000
2002
2004
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Exportações totais mundiais para
Arábia Saudita
Exportações do Brasil para Arábia
Saudita
Participação do Brasil
Fonte: Nações Unidas (COMTRADE).
Nota: *ALICE-Web.
32.581
33.206
28.911
51.099
73.436
912*
3%
75
0%
2.345
8%
43.799
86%
41.752
57%
Irã
Em 2005, cerca de 97% das exportações de carne bovina do Brasil para o Irã foi de carne
in natura desossada congelada. Assim como as exportações do Brasil para o Irã apresentaram-se
inconstantes entre 1996 e 2004, as exportações mundiais de carne in natura para este país também
variaram bastante. De 1996 a 2000, essas exportações mundiais apresentaram forte tendência de
queda. Em 2001, ano de grande aumento das exportações brasileiras para o Irã, as exportações
mundiais aumentaram também e o Brasil passou a ser o país com maior parcela do mercado de
carne in natura para este país (72%), seguido pela Índia (28%). Em 2000 a participação da Índia
nas exportações mundiais de carne in natura para o Irã havia sido de 64%. O Brasil foi o país que
mais aumentou suas exportações e sua participação nas exportações de carne in natura para o Irã
em 2001.
A crise sanitária nos países europeus não é a grande responsável pela elevação das
exportações do Brasil já que, nesta época, a participação de países europeus nas exportações
mundiais para o Irã era pequena. O melhor desempenho brasileiro pode ser explicado não apenas
pelo grande aumento das exportações em relação aos demais países, mas também pela ocorrência
de casos de febre aftosa na Índia em 2001 (USDA, 2002). A Índia é um país que tem presença
constante neste mercado e que durante muitos anos foi responsável pela maior parte do
abastecimento externo de carne in natura para o Irã.
No ano de 2002, as exportações brasileiras para o Irã apresentaram forte queda, bem
como as exportações mundiais. No entanto, a Índia não exportou para este mercado neste ano, e o
Brasil respondeu por cerca de 99% do total vendido ao Irã. Este fato deve ser interpretado com
cautela, pois é possível que alguns países não tenham reportado seus dados para as Nações
Unidas, portanto baseado em dados preliminares.
As exportações mundiais e brasileiras aumentaram em 2003 e 2004. O Brasil mantém
uma elevada participação no total exportado para o Irã (63,6 mil toneladas equivalentes a 89% do
total exportado mundialmente para o país), e a Índia voltou a exportar carne para este país, mas
em volumes inferiores aos de 2001 (cerca de 8 mil toneladas), o que reduz sua participação nas
exportações mundiais (11% em 2004).
Israel
Cerca de 86% do total exportado de carne bovina do Brasil para Israel é, atualmente in
natura desossada congelada. Deste modo, a análise que se segue refere-se às carnes in natura, de
maior importância do ponto de vista comercial.
A análise da evolução das exportações mundiais de carne in natura para Israel, entre 1996
e 2004, revela que os principais países exportadores para este mercado são Brasil, Argentina e
Uruguai. Ao longo do período considerado estes três países disputam a maior participação. No
início do período em análise, a Irlanda tinha participação significativa neste mercado, mas
gradualmente foi reduzindo suas vendas, o que ocorreu mesmo antes de 2001 (tabela 6). Uma
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suposição é que este fato pode estar relacionado com as preferências da própria população de
Israel, que comparativamente a outros países da região, tem um nível maior de renda per capita e
não depende de exportações de petróleo. De fato, este país é o único que vem, no período
estudado, se abastecendo de carne bovina in natura preferencialmente na região do Mercosul.
As exportações mundiais de carne in natura para Israel foram crescentes entre 1996 e
2004. No caso das exportações brasileiras, destacam-se os aumentos em 2000 e 2001, e a queda
no ano de 2002 (tabela 6).
Tabela 6. Evolução das exportações e da participação dos principais exportadores de carne
in natura para Israel (1999-2004).
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Exportações (toneladas)
28.920
26.291
20.291
25.756
19.812
8.756
Uruguai
11.926
16.437
6.813
9.515
18.037
31.033
Argentina
5.704
12.436
34.433
19.239
19.162
23.149
Brasil
Total
58.698
59.155
63.347
55.379
57.647
71.079
mundial
Participação
49%
44%
32%
47%
34%
12%
Uruguai
20%
28%
11%
17%
31%
44%
Argentina
10%
21%
54%
35%
33%
33%
Brasil
Fonte: Nações Unidas.
O aumento das exportações brasileiras em 2000 e 2001 coincide com o aumento das
exportações mundiais também. Observa-se que os principais exportadores não acompanharam
essa tendência, o que contribuiu para aumentar a participação do Brasil neste mercado. Em 2002,
as vendas brasileiras caíram para Israel, em detrimento do aumento pelo Uruguai e Argentina.
No caso das vendas de miúdos, que em 2005 responderam por 6% das exportações
brasileiras para Israel (em volume), estes três países também disputam a maior participação,
especialmente após a diminuição das exportações dos Estados Unidos e da Austrália.
Emirados Árabes e Líbano
As exportações mundiais de carne in natura para os Emirados se elevaram entre 1996 e
2004. Em 2004 o Brasil respondeu por 23% desse total e a Índia, por 62%. Entre 1996 e 2004 a
Índia foi o país que teve as maiores participações nas exportações mundiais para este país.
No caso das carnes industrializadas, também há um aumento das exportações mundiais
para os Emirados e, em 2004, o Brasil atendeu a 56% dessas exportações, seguido pela
Dinamarca (20%), que antes deste ano detinha as maiores participações junto com a França.
Em 2005, cerca de 70% das exportações do Brasil para o Líbano foi de carne in natura
desossada fresca e refrigerada. Entre 1996 e 2004, o Brasil aumentou suas exportações, passando
à frente da Índia e ficando com 62% das exportações das carnes in natura, em 2004. Nota-se que
o Líbano difere no perfil de compra dos demais países do grupo, já que importa carne in natura
fresca do Brasil, diferentemente de Irã, Israel e Arábia Saudita.
O gráfico 4 traz as participações brasileiras nas exportações mundiais de carne bovina in
natura para estes países, em anos selecionados. Ressalta-se que o aumento da participação do
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Brasil, entre 2000 e 2002 se deve a questões sanitárias em países europeus e na própria Índia, no
início de 2001. Nestes mercados, a Índia de forma geral possui participação expressiva nas
exportações mundiais. O USDA (2002) também atribuiu a redução da participação da Índia em
alguns mercados devido a desvalorização cambial no Brasil e na Argentina, o que aumentou a
competitividade de suas vendas externas.
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1996
1998
Irã
Líbano
2000
Arábia Saudita
2002
Israel
2004
Emirados Árabes
Gráfico 4. Participação do Brasil nas exportações mundiais de carne bovina in natura para
os países do grupo 1, em anos selecionados (em volume).
Fonte: COMTRADE.
O gráfico 5 também mostra a evolução da participação do Brasil nas exportações
mundiais de carne bovina industrializada para os países do grupo 2, em anos selecionados.
Observa-se que, de maneira geral, o Brasil elevou sua parcela no total global exportado, que por
sua vez apresentou aumentos expressivos ao longo do período considerado (1996-2004). Para o
grupo 2, existem alguns países que freqüentemente respondem pelo fornecimento de volumes
significativos de carne bovina industrializada, como é o caso da França, Dinamarca e Jordânia.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996
1998
Omã
Jordânia
2000
Catar
Bahrein
2002
Kuwait
Síria
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2004
Iêmen
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Gráfico 5. Participação do Brasil nas exportações mundiais de carne bovina industrializada
para os países do grupo 2, em anos selecionados (em volume).
Fonte: COMTRADE.
US$/kg
Outra variável relevante para discutir a evolução do perfil comercial na região do Oriente
Médio é a evolução dos preços médios dos principais tipos de carnes vendidas a estes países, que
é ilustrada nos gráficos 6 e 7. Ao longo dos anos estes preços tenderam a se igualar aos preços
médios das exportações para os demais países do mundo4. Outro aspecto relevante é que,
atualmente, os preços das exportações para os países de ambos os grupos não divergem de
maneira significativa.
No caso da carne in natura congelada, os preços médios nas vendas brasileiras para o
Oriente Médio são um pouco inferiores aos preços nas vendas para o resto do mundo (gráfico 6).
Entretanto, no caso das carnes industrializadas (mais especificamente os enchidos, miudezas,
sangue e preparações), estes preços são ligeiramente superiores aos observados nos demais países
do mundo (gráfico 7), identificando que no caso do Oriente Médio, o produto industrializado tem
uma valorização maior do que em outros mercados atendidos pelo Brasil. Este resultado é
coerente com o perfil exportador brasileiro que destina as carnes mais nobres para a União
Européia, Chile e outros mercados ocidentais, que têm preferência por carnes frescas. De
qualquer modo, é visível que o diferencial em favor dos valores médios de produtos destinados a
outros mercados caiu em relação aos preços médios praticados em toda a região do Oriente
Médio.
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
1996
1997
Grupo 1
1998
1999
Grupo 2
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Demais países do mundo
Gráfico 6. Preço médio das exportações de carnes desossadas congeladas (NCM 0202.30.00)
do Brasil para o grupo 1, grupo 2 e demais países do mundo (1996-2005).
Fonte: MDIC/SECEX/ALICE-Web.
Ressalta-se ainda que, embora a receita total obtida com as exportações para os países do
grupo 1 seja bastante superior às receitas totais obtidas com o grupo 2, nem sempre os países
4
O cálculo do preço médio de exportação para os demais países do mundo não inclui os países do Oriente Médio.
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daquele grupo apresentam preços médios superiores aos países do grupo 2. Destaca-se o preço
médio das exportações de carne in natura fresca e refrigerada para o Bahrein e preço médio das in
natura congeladas para o Omã.
2,5
US$/kg
2
1,5
1
0,5
0
1996
1997
Grupo 1
1998
1999
Grupo 2
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Demais países do mundo
Gráfico 7. Preço médio das exportações de enchidos de carne, miudezas, sangue e suas
preparações alimentícias (NCM 1601.00.00) do Brasil para o grupo 1, grupo 2 e demais
países do mundo (1996-2005).
Fonte: MDIC/SECEX/ALICE-Web.
Considerando o número de países atendidos atualmente pelo Brasil no mercado de carne
bovina, é interessante verificar a sazonalidade das vendas brasileiras para os distintos mercados,
buscando identificar inclusive se as vendas para os países se distribuem igualmente ao longo do
ano, e se há problemas de concentração sazonal.
A análise dos índices de sazonalidade para os países do Oriente Médio revela que, de
maneira geral, não há um padrão sazonal claro nas vendas de carne do Brasil para essa região.
Tradicionalmente, os meses de menores volumes de venda são Maio, Outubro e Novembro.
Janeiro é o mês de maior concentração nas exportações para a região. Os preços também não
apresentam padrão sazonal claro – sendo ligeiramente superiores em Maio, Setembro e Outubro e
inferiores em Dezembro (gráfico 8).
No caso da Rússia, o maior país importador de carne bovina do Brasil no último ano, as
exportações se intensificam em Maio e se concentram principalmente entre Julho e Novembro,
quando alcançam o maior volume de vendas. As exportações de carne in natura brasileira para a
UE se concentram nos meses de Março a Julho, alcançando maior volume de vendas nos meses
de Junho e Julho, segundo estudo de Miranda (2001), coincidindo inclusive com a entressafra da
pecuária bovina no Brasil. Os preços médios de exportação para a Rússia variam pouco ao longo
do ano, apresentando valores ligeiramente mais elevados em dezembro, resultado semelhante ao
que foi encontrado por Miranda (2001) para a UE.
Observa-se, portanto, que estes três blocos de importadores de carne bovina brasileira têm
o auge de seus embarques em períodos não coincidentes, o que sugere uma complementaridade
nas vendas.
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140
120
Índices
100
80
60
40
20
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Índice sazonal (volume)
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Índice sazonal (preço)
Gráfico 8. Índices de sazonalidade para os volumes e os preços das exportações de carne
bovina brasileira para o Oriente Médio (1996 a 2005).
Fonte: MDIC/SECEX/ALICEWEB.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo analisar o potencial de importação de carne bovina dos
países do Oriente Médio, no contexto dos denominados novos mercados.
A diversidade econômica do Oriente Médio, em especial no que se refere ao nível de
renda per capita de alguns países, indica que há potencial de aumento das importações de carne
bovina por algumas economias dessa região.
O Banco Mundial (2005) ressalta algumas transformações fundamentais para o
crescimento elevado e sustentável da região tais como, 1) transição de uma economia fechada
para uma economia mais aberta, o que proporcionaria a criação de indústrias mais competitivas e
o acesso a novas tecnologias, 2) transição para uma economia na qual o setor privado tem o papel
primordial, fornecendo as bases para a criação de novos empregos e, 3) transição de uma
economia altamente dependente do petróleo para economias mais diversificadas, reduzindo a
dependência da região de fontes de crescimento voláteis (concentração atual das exportações em
alguns mercados e commodities). Para que todas essas mudanças se concretizem são necessárias
políticas em diversas frentes, com destaque para as reformas na sua estrutura de governança.
Em 2003 e 2004 o Oriente Médio apresentou crescimento econômico satisfatório.
Entretanto, é preciso destacar que esse crescimento se deveu, principalmente, aos países
exportadores de petróleo e que este crescimento está abaixo daquele verificado pelos países em
desenvolvimento de modo geral.
No tocante aos preços médios das exportações de carne bovina para estes mercados,
atualmente, eles apresentam preços médios similares aos mundiais – o que poderia indicar que as
possibilidades no curto prazo para elevar as receitas de vendas brasileiras estão mais relacionadas
a aumentar as quantidades exportadas, até porque produtos com maior valor de mercado, como as
carnes frescas não são os principais importados por estes países em termos de carnes bovinas. É
preciso considerar também que a distância é um fator relevante e merece estudos futuros
detalhados, pois o frete e a forma de venda dos países (FOB ou CIF) são elementos que podem
definir uma maior inserção nesses mercados mais distantes.
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18
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Destacou-se ainda o progresso da reforma comercial destes países, o que pode favorecer o
aumento das exportações brasileiras, mas também de outros fornecedores. Paralelamente, é
necessário intensificar acordos comerciais com a região – o que a União Européia já faz há algum
tempo.
O Brasil também deveria priorizar as vendas para os países do grupo 1, pois estes são os
que apresentam renda mais elevada e, portanto, maior potencial de aumento do consumo. Isto não
significa descartar o grupo 2, já que alguns países deste grupo também apresentam nível de renda
e crescimento satisfatórios. O Líbano em especial, pode representar um bom mercado para a
expansão das vendas de carnes in natura, frescas e refrigeradas.
Não obstante, as exportações brasileiras de carne bovina para esta região devem manter a
tendência de aumento, desde que estes países mantenham ou melhorem seu desempenho
econômico e progridam em suas reformas comercias. A evolução do mercado do petróleo é uma
variável relevante à medida que os principais mercados compradores da região são economias
dependentes das exportações desse produto. Entretanto, é preciso estar atento a alguns
fornecedores como a Índia, em especial para o grupo 1, pois este país tem participações
significativas nas exportações mundiais para o Oriente Médio. No caso dos países do grupo 2
(que compram do Brasil, principalmente carnes industrializadas), deve-se atentar para a França e
a Dinamarca, e neste caso o fator responsável pela grande participação destes países nas
exportações mundiais pode estar relacionado a vantagens logísticas e acordos preferenciais.
Por fim, ressalta-se a dificuldade em obter estatísticas sobre esses países, seja pela
inconstância com que divulgam seus dados para entidades internacionais ou pela carência de
informações disponíveis em língua inglesa.
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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bovina não-processada. Instituto de Economia Agrícola, 24 fev. 2006. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=4780> Acesso em: 20 mar. 2006.
BANCO MUNDIAL. 2005 Economic developments and prospects: oil booms and
revenue management. Washington, 2005. 84p.
ESTADOS UNIDOS. Department of Agriculture. Foreign Agricultural Service.
Disponível em: <http://www.fas.usda.gov/scriptsw/attacherep/default.asp> Acesso em: 23 mar.
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