AFETIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

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Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai - IDEAU
Vol. 5 – Nº 11 - Janeiro - Junho 2010
Semestral
Artigo:
AFETIVIDADE NO
CONTEXTO ESCOLAR
Autora:
Simone Raquel Fenske Schlosser1
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Pedagoga, Pós-graduanda em Interdisciplinaridade com Ênfase em Educação Infantil, na Faculdade IDEAU,
Professora da Rede Pública Municipal de Ensino de Floriano Peixoto. Linha Frederico, Interior.
Cep: 99910-000 Floriano Peixoto
Fone: 91625571
AFETIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR
As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida
afetiva. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por afetividade,
tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. A afetividade é um
conceito mais abrangente no qual se inserem várias manifestações (Wallon apud
GALVÃO, 2003, p. 61).
Resumo: O ser humano é dotado de desejos, vontades e sentimentos próprios que começam a se desenvolver
desde o nascimento. Ao longo da infância,ocorre o processo de desenvolvimento socioafetivo da criança, período
em que são importantes as interações que proporcionam vivências afetivas. Tanto a família quanto os professores
exercem um papel importante no desenvolvimento afetivo da criança porque são eles, enquanto sujeitos mais
experientes, que coordenam o processo de aprendizagem. Neste sentido, muitos autores consolidam o
entendimento sobre os aspectos afetivos para a cognição.O afeto se refere a qualquer espécie de sentimento ou
emoção associada a idéias ou a complexos de idéias. Assim, nas escolas, os alunos experimentam diversos
afetos, desde o prazer em conseguir realizar uma atividade à raiva de discutir com os colegas. Diante disso, este
artigo analisa a importância dos aspectos afetivos para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem,
com foco na importância da afetividade como recurso motivacional na e para a relação professor-aluno.
Palavras-chave: afetividade, relação professor-aluno, aprendizagem
Abstract: The human being is endowed with desires, wishes and feelings of their own that begin to develop
from birth. Throughout childhood, there is a process of socio-emotional development of children, a period that
are important interactions that provide affective experiences. Both the family and teachers play an important
role in emotional development of children because they, as subjects more experienced, which coordinate the
learning process. In this sense, many authors consolidate the understanding of the emotional aspect to cognition.
The affection refers to any kind of feeling or emotion associated with ideas or complex ideas. Thus, schools,
students experience several emotions, from happy to accomplish an activity to anger to discuss with colleagues.
Therefore, this article examines the importance of affective aspects in the development of teaching-learning
process, focusing on the importance of affection as a motivational resource in and for the teacher-student
relationship.
Keywords: affection, the teacher-student ,learning
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A palavra afeto vem do latim affectur (afetar, tocar) e constitui o elemento básico da
afetividade. Segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1994), o verbete afetividade está:
“Psicol. Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam, sentimentos e paixões,
acompanhados sempre da impressão de dor, insatisfação de agrado ou desagrado, de alegria
ou tristeza”.
Compreende-se então que a afetividade e inteligência são aspectos indissociáveis,
intimamente ligados e influenciados pela socialização. A afetividade é necessária na formação
de pessoas felizes, éticas, seguras e capazes de conviver com o mundo que a cerca. No
ambiente escolar a afetividade desenvolve-se pelo carinho, por aproximar-se do aluno, saber
ouvi-lo, valorizá-lo e acreditar nele, dando-lhe abertura para expressão. O olhar do professor é
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indispensável para a construção e o sucesso de sua aprendizagem. Isto inclui dar credibilidade
as suas opiniões, valorizando sugestões, observar, acompanhar seu desenvolvimento e
demonstrar acessibilidade disponibilizando mútuas conversas. As relações afetivas
evidenciam-se, pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente, uma interação
entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o
afeto está presente.
Para Piaget, é nas vivências que a criança realiza com outras pessoas que ela supera a
fase do egocentrismo, constrói a noção do eu e do outro como referência. A afetividade é
considerada a energia que move as ações humanas, ou seja, sem afetividade não há interesse
nem motivação. As relações de amizade e as demonstrações de afeto que ocorrem no
cotidiano do ser humano são permeadas por suas experiências de vida e pelos exemplos e
estímulos que recebem do meio onde vivem. Essas experiências trazem intrínsecas a cultura, a
educação recebida as visões de mundo apreendidas ao longo do crescimento de cada ser
humano e se expressam segundo estas características. Mas, as demonstrações de afeto não
expressam apenas o modo de ser e de agir do indivíduo, influenciam de maneira decisiva, na
cognição e podendo ser estímulo ou impedimento para esta.
Os primeiros sinais da presença ou ausência de afetividade, na criança, são vistos na
idade escolar. É na escola que a criança inicia sua convivência social fora de casa e é nela que
expressa, as experiências, exemplos e estímulos recebidos na infância. A partir da vivência
escolar, a criança demonstra sua índole com maior facilidade, pois está fora do ambiente
familiar, podendo expressar-se mais livremente. A criança busca incessantemente à felicidade
nas várias fases que perpassa sua infância, comprometendo-se com as pessoas e situações que
lhe forneçam carinho e conforto. Nessa caminhada passa por diferentes instituições, sendo a
primeira, a família, palco de todas as sensações das quais se valerá para construir seu caráter e
vivências. Mais tarde, ao freqüentar a escola encontrará um mundo diferente, um outro
aprendizado e muitos desafios a serem enfrentados e superados, viverá diversos afetos: o
prazer de conseguir realizar algo pela primeira vez, tristeza por causa de um amigo doente ou
que tenha se machucado e raiva ao discutir com um colega por motivos egocêntricos. E ainda
como aluno poderá gostar ou não de seus professores, sentir prazer em ser aceito por seus
colegas e culpado quando não domina o suficiente suas ações e aprendizagens. Assim, os
sentimentos e emoções dos alunos podem favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento
cognitivo.
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A escola revela, ao aluno, um outro mundo, diferente do seu, mas que deve ser
encarado como um bem. A criança, ao chegar na escola, está ansiosa por conhecer sua
professora, seus colegas e traz consigo as ansiedades geradas pela família. Por isso, muitas
vezes, as crianças rejeitam a escola, pois sofrem essas ansiedades familiares entendendo que
será uma separação, um momento de dor e de sacrifício para a mãe ou pai. Nesta hora, o
professor deve ter habilidades para aceitar o aluno e fazer com que todos interajam.
O professor na sala de aula, será o determinante dos ânimos de seus alunos, assim
como a família é a determinante das ações da criança. Se um professor recebe mal seus
alunos, com descaso, demonstrando ser enfadonha ou tediosa, aquela situação de acolhimento
do aluno certamente a criança se sentirá rejeitada e os laços de afeto estarão seriamente
comprometidos. O aluno precisa de afeto para sentir-se valorizado, possuindo grande
necessidade de ser ouvido e acolhido, contribuindo desta maneira para uma boa imagem de si
mesmo e dos outros. Neste sentido, a afetividade está ligada à construção da autoestima,
responsável pela motivação ou interesse da criança em aprender. O princípio norteador da
autoestima é o afeto; desenvolvido o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a
disciplina tornam-se conquistas significativas para o autocontrole do aluno e seu bem estar
escolar. Por isso o afeto é muito importante nas relações estabelecidas e as relações entre
professor e aluno, devem ser mais próximas possível, pautada em partilha de sentimento e
respeito mútuo das diferentes idéias.
Os fatores emocionais e afetivos têm uma importância significativa na aprendizagem.
As emoções estão presentes quando busca-se conhecer, quando estabelecem-se relações com
objetos físicos, concepções ou indivíduos realizando uma integração entre saberes, vivências e
culturas. Afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer atividade,
já afetividade e a inteligência estruturam-se nas ações e pelas ações dos indivíduos, podendo
assim, operar e também influenciar a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois
quando as pessoas sentem-se seguras, aprendem com facilidade.
Entendendo-se que a criança é um ser social, que nasce com capacidades afetivas,
emocionais e cognitivas, compreende-se que ela é capaz de interagir e aprender com as
pessoas que lhe estão próximas. A qualidade das relações dessas pessoas com a criança é que
vão influenciar suas relações sociais, interações e formas de comunicação. Assim, as crianças
poderão sentir-se mais ou menos seguras para expressarem-se, podendo aprender nas trocas
sociais, com diferentes crianças e adultos, cujas percepções e compreensões da realidade lhes
serão demonstradas.
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A afetividade é muito importante na vida da criança, pois quando ela sente-se amada
ela procura também retribuir de maneira positiva, para continuar sendo elogiada e receber
mais demonstrações de afeto. O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos
objetivos (amor, tristeza, raiva...) e aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas...). O afeto
desenvolve-se no mesmo sentido que a cognição ou inteligência e é responsável pela ativação
intelectual. As crianças tornam-se capazes de investir afeto e ter sentimentos validados nelas
mesmas quando suas capacidades afetivas e cognitivas são expandidas através da contínua
construção.
Entende-se por capacidades afetivas as atitudes das crianças em relação ao seu meio,
principalmente na interação com outras pessoas. Se uma criança é amada, se recebe carinho e
é ensinada com paciência e interesse, muito provavelmente esta criança também demonstrará
amorosidade e paciência nas relações com outras pessoas. Do contrário, se uma criança é
ensinada através de gritos e violências, tratará os demais da mesma forma.
Na perspectiva sociocultural de Vygotsky (1993), a afetividade é um elemento cultural
que faz com que tenha peculiaridades de acordo com cada cultura. Elemento importante em
todas as etapas da vida das pessoas, a afetividade tem relevância fundamental no processo
ensino-aprendizagem no que diz respeito à motivação, avaliação e relação professor-aluno.
Nesse aspecto, o fator afetivo serve de referência para que o professor trabalhe não só
elementos da construção do real, mas também a constituição do próprio sujeito, como os
valores e o caráter. Ademais, a criança que se sente amada, aceita, valorizada e respeitada
adquire autonomia e confiança e aprende a amar, desenvolvendo um sentimento de
autovalorização e importância. A autoestima é algo que se aprende: se uma criança tiver uma
opinião positiva sobre si mesma e sobre os outros, terá maiores condições de aprender. Nesse
ponto, o papel do educador é fundamental, sendo seu desempenho um bloco de construção da
afetividade na criança.
Faz parte do papel do professor a compreensão de que as ligações afetivas são as
primeiras formas de relacionamento da criança com o mundo à sua volta e que começam entre
a criança e os adultos que cuidam dela. As emoções manifestadas pela criança dependem da
acolhida afetiva do adulto, porque a maneira como ele a faz se sentir influenciará suas trocas
com o outro e, mais tarde, o aspecto cognitivo. Uma criança que vivencia o jogo interativo e
as trocas afetivas tem autoestima, elabora seu auto-conceito em harmonia com suas
capacidades, se fortalece pelos sentimentos de adequação e se sente segura e confiante.
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A afetividade tem um sentido pleno: está relacionada às vivências de adultos e
crianças, motivação de professores e alunos e é determinante para a prática educativa.
Conhecer o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança possibilita ao professor melhorar
ainda mais suas intervenções no sentido de ampliá-las por meio do diálogo. Por fim, é
necessário que se priorize a afetividade em todos os relacionamentos, no espaço pedagógico e
fora dele, para que, se relacionando com seus sentimentos e emoções, o professor possa dar
um salto qualitativo no processo ensino-aprendizagem.
2 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO CONTEXTO ESCOLAR
A afetividade na relação professor-aluno surge lentamente, porém de forma
significativa ocorrendo mudanças, mediante análise e reflexão da atuação do professor,
levando em consideração o seu conhecimento e a forma de relação estabelecida com o aluno,
contribuindo assim, para o processo de amadurecimento racional. Para isto, é importante que
o professor entenda e compreenda o aluno de maneira integral nos seus aspectos afetivos,
cognitivos e motores, durante todo seu desenvolvimento.
A relação professor-aluno representa um esforço a mais na busca da praticidade,
afetividade e eficiência no preparo do aluno para a vida, numa análise do processo ensino e
aprendizagem, ultrapassando os limites profissionais e escolares do ano letivo. É uma relação
que deixa marcas e deve sempre buscar a afetividade e o diálogo como forma da construção
do conhecimento. Esta interação é um dos eixos fundamentais na construção do
conhecimento. Mais do que um cumpridor de tarefas, o professor deve ter clareza de sua
missão como educador.
Mudar este quadro que se apresenta à educação requer participação ativa e direta de
todos os agentes envolvidos no processo, principalmente do professor. É necessário que ele
conheça seus alunos, que interaja com eles para favorecer uma aprendizagem eficaz, como
uma prática transformadora, que oportunize o crescimento e o desenvolvimento do aluno em
todos os aspectos, despertando no aluno uma vontade de descobrir o inusitado, adquirindo
autonomia.
Para exercer sua real função, o professor precisa aprender combinar autoridade,
respeito e afetividade, ao mesmo tempo em que estabelece normas, respeitando a
individualidade e a liberdade de cada um.
Concorda-se com as palavras de Libâneo:
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O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também
ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a
expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é inidirecional.As respostas
e as opiniões dos alunos mostram como eles estão agindo á atuação do professor, às
dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos (1994, p. 250).
Neste contexto, é importante perceber quando o aluno apresenta dificuldades em
receber conteúdos desconhecidos, não conseguindo fazer as assimilações necessárias, cabendo
ao professor então buscar subsídios que possam melhorar a compreensão e a realização destas
aprendizagens.
Deste modo, a educação tem a intenção de unir informações e sugestões para apontar
caminhos necessários à compreensão de idéias desenvolvidas, esperando que a escola faça a
diferença na vida de seus alunos, fazendo com que aprendam progressivamente, o que
significa a convivência escolar diante da realidade do educando.
Sabe-se também que com um professor dinâmico e querido por seus alunos, o ensino
torna-se mais atrativo, mais desafiador, garantindo uma aprendizagem real. Onde o saber pode
ser construído em conjunto.
Cada professor deve ter clareza do papel que desempenha no contexto social, onde
esta relação passa a ser alvo de pesquisas, na busca de diálogo, do debate de idéias e da
comunicação do trabalho individualizado.
Segundo Moralles (1999), o professor ensina muito mais com sua maneira de ser do que
com os conteúdos que repassa para seus alunos, sua atuação sincera, transparente, cativam o
aluno abrindo portas para a amizade, o companheirismo e a participação espontânea.
A criança precisa saber distinguir sentimento e ação, ler e interpretar indícios sociais,
bem como compreender a expectativa dos outros, usar as etapas para resolver problemas, criar
expectativas realistas sobre si e compreender normas de comportamento. O período escolar
coincide com a fase em que a criança está desenvolvendo outras formas de comunicação que
não a oral, como os gestos e expressão facial, além de estar trabalhando, a partir da interação
com os outros, as emoções e suas influências negativas e positivas, e manifestando suas idéias e
pensamentos.
A afetividade no processo educativo é importante para que a criança manipule a
realidade e estimule a função simbólica. Afetividade está ligada à autoestima e às
formas de relacionamento entre aluno e aluno e professor-aluno. Um professor que
não seja afetivo com seus alunos fabricará uma distância perigosa, criará bloqueios
com os alunos e deixará de estar criando um ambiente rico em afetividade
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(COSTA; SOUZA, in: http:/www.educacaoonline.pro.br/art_o_aspecto_socioafetivo.asp?f_id_artigo=549>).
No que se refere à motivação para a aprendizagem, é oportuno diferenciar dois
conceitos: motivação e incentivo. Conforme Sabbi (1999), a motivação é algo despertado
interna e subjetivamente em cada pessoa, sendo que, para que isso aconteça, são necessários
estímulos. A qualidade dos estímulos, no caso dos alunos, determinará se eles se sentirão
motivados ou na. Nesse sentido, a afetividade pode ser compreendida como um estímulo
porque “[...] a afetividade gera motivação. Se existe motivação, a criança realiza tarefas mais
complexas” (SABBI, 1999, p.16).
Sendo assim, um professor afetivo com seus alunos, que busca a aproximação e realiza
sua tarefa de mediador entre eles e o conhecimento, atuará na zona de desenvolvimento
proximal, isto é, na distância entre o nível de conhecimento real e aquele que os alunos
poderão construir com sua ajuda. A afetividade passa, então, a ser um estímulo que gerará a
motivação para aprender. No entanto, cabe ressaltar que a motivação para a aprendizagem
depende das estratégias didáticas, da qualidade das intervenções do professor e também do
modo como planeja e utiliza certos recursos em suas aulas, como: metodologia de projetos,
aulas-passeio, dramatização, lúdico, entre outros.
O vínculo afetivo tem papel essencial em toda e qualquer ação que objetiva mudanças
e as transformações, funcionam como um elo de uma corrente que une os indivíduos
favorecendo a ampliação do modo de sentir, perceber a si próprio e ao outro. Deve ter um
caráter libertador que possibilite a expressão de questões pessoais e que conduza à autonomia
do professor e do aluno, abrindo espaço para questionamentos, derrubando preconceitos e
rótulos comuns na área educacional.
A relação professor-aluno é condição primordial do processo da construção da
aprendizagem, pois dinamiza e dá sentido ao processo educativo. A relação professor-aluno
pode acontecer de forma conflituosa, pois se baseia no convívio de classes sociais, culturais,
valores e objetivos diferentes. Essa relação deve estar baseada na confiança, afetividade e
respeito, cabendo ao professor orientar o aluno para seu crescimento interior, fortalecer-lhe,
não deixando sua atenção voltada apenas para o conteúdo a ser ministrado.
A relação professor-aluno por si só é conflitante já que os conflitos surgem durante o
desenrolar de toda relação humana. Os alunos hoje estão em constantes conflitos consigo
mesmos, buscando sua autoconfiança, tornando-se necessário ao professor desdobrar-se para
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que a disciplina seja mantida, e consiga deixar o aluno atento ao conteúdo, despertando-lhe
interesse em aprender.
A aula não pode ser considerada somente uma mera transmissão de conhecimentos, a
preocupação também deve existir com o emocional e o afetivo, o que facilita a aprendizagem.
Segundo Libâneo, “o professor não transmite apenas informações ou faz perguntas, ele
também deve ouvir os alunos” (1994, p.251).
O relacionamento baseado na afetividade torna-se um elo produtivo alicerçando
professores e alunos na construção do conhecimento e tornando a relação menos conflitante,
permitindo o conhecimento entre as partes envolvidas, favorecendo o conhecimento e a
descoberta como seres humanos oportunizando desta forma o crescimento mútuo.
No momento em que o professor comunica-se com os alunos de forma afetiva, a
aprendizagem tornar-se-á propositadamente significativa, dependendo da forma em que o
professor se apresenta e expõe suas aulas, despertará nos alunos, o gosto ou a repulsa pela
disciplina. O que se deseja hoje é um professor reflexivo e crítico, que compreenda as
necessidades de seus alunos.
Segundo Morales,
Somos profissionais do ensino nossa tarefa é em ajudar os alunos no aprendizado;
buscamos seu êxito e não o seu fracasso e a qualidade de nossa relação com os
alunos pode ser determinante para conseguir nosso objetivo (1999, p.13).
É evidente que a afetividade tem grande influência na vida das pessoas, pois quem
gosta de ser maltratado por uma pessoa em uma loja?, no cinema? E de ser chamado atenção
de maneira hostil na frente de outras pessoas? Ninguém nasceu para sofrer ou fazer o outro
sofrer. Frente a isto, o aluno também tem o direito de receber tratamento que o respeite
enquanto cidadão.
Convém destacar que, todas as relações iniciam a partir do momento que as limitações
de uns são respeitadas, o que favorece o reconhecimento das limitações dos outros. A
afetividade nas relações devem ser recíprocas e permeadas de valores verdadeiramente
humanos.
Neste relacionamento, educador-educando o vínculo afetivo será um grande facilitador
no processo de ensino e aprendizagem, pois, pela criação de um forte vínculo afetivo, a
criança não se sentirá sozinha, facilitando assim, seu aprendizado. Sem dúvida, o clima criado
será de prazer, acolhimento, alegria, companheirismo, ou seja, prazerosamente o conteúdo
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será apresentado, as dificuldades percebidas e acolhidas como parte do processo, auxiliando,
desta forma, na superação das dificuldades.
A relação afetiva entre sujeitos envolvidos no processo ensinar – aprender, o exercício
de diálogo, o fazer compartilhado, o respeito pelo outro, o estar aberto, o saber escutar e dizer,
configuram-se como elementos de fundamental importância para a aprendizagem. É
primordial, então, que no contexto escolar seja trabalhado a articulação afetividade –
aprendizagem, nas mais variadas situações, considerando-a como essencial na prática
pedagógica e não a julgando como simples alternativa da qual se pode lançar mão quando se
quer fazer uma atividade diferente na escola. Portanto, a sala de aula precisa ser um espaço
de formação, de humanização, onde a afetividade em suas diferentes manifestações possa ser
usada em favor da aprendizagem, pois o afetivo e o intelectual são faces de uma mesma
realidade: o desenvolvimento do ser humano que se manifesta principalmente no diálogo
entre as partes envolvidas.
Em relação à interação professor e aluno percebemos que a educação atual abre um
espaço para essa parceria entre ambos, verificamos que vem acontecendo um estreitamento
desta relação. O que não percebemos, é a utilização da proximidade desta relação, no
desenvolvimento das aulas e avaliação dos professores e alunos. Encontramos ambientes que
propõe a afetividade mais como um contato físico que nem sempre considera o aluno como
ser autônomo, com direitos nem sempre iguais ao do professor.
A relação que caracteriza o ensinar e o aprender transcorre a partir de vínculos afetivos
entre as pessoas e inicia-se no âmbito familiar. A base desta relação vincular é afetiva, pois é
através de uma forma de comunicação emocional que a criança mobiliza o adulto, garantindo
os cuidados de que necessita. Portanto, é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a
criança que sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem.
A família também desempenha um papel fundamental na formação da autoestima,
como o primeiro grupo social que a criança tem contato. Vale ressaltar que existem outras
contribuições familiares, porém a afetividade é um fator fundamental na relação com as
pessoas que estão envolvidas com o desenvolvimento integral da criança.
Para Içami Tiba, “a autoestima é o sentimento que faz com que a pessoa goste de si
mesma. Aprecie o que faz e aprove suas atitudes. Trata-se de um dos mais importantes
ingredientes do nosso comportamento” (1999, p.157).
Os temas afetividade e autoestima são um grande desafio para o professor que
geralmente tem em sua formação profissional e orientações voltadas, muitas vezes, para
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conceitos cognitivos ou convivência com pessoas competentes, desconsiderando desta forma,
os conceitos afetivos necessários para a valorização da autoestima do aluno.
Na escola, o professor é quem tem mais contato com a criança dentro do espaço
educacional, tornando-se referencial para a construção da personalidade da criança e sua autoimagem, no sentido de oferecer atenção devida ao seu desempenho escolar.
Para Jean Piaget (1973), é irrefutável que o afeto desempenhe um papel essencial no
funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem
motivação; e consequentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não
haveria inteligência.
A afetividade é indispensável na construção da inteligência, mas não é suficiente.
Piaget define a afetividade como todos os movimentos mentais conscientes e inconscientes
não racionais (razão), sendo o afeto um elemento indiferenciado do domínio da afetividade,
afirmando que o afeto é uma importante energia para o desenvolvimento cognitivo,
especificando que a afetividade influi na construção do conhecimento de forma essencial
através da pulsão de vida e da busca pela excelência.
Pode-se dizer ainda, que no estrito entrelaçamento entre afetividade e cognição, as
conquistas do plano afetivo são utilizadas no plano cognitivo, e vice-versa. Assim, a
afetividade, na escola, pode ser medida através das emoções que os alunos exteriorizam,
como agressões gritos e desinteresse pelos estudos (no caso de falta de afetividade), ou de
integração, interação entre alunos e professores e interesse pelas atividades propostas (no caso
de afetividade satisfatória).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar na construção de uma sociedade escolar mais justa e solidária é refletir sobre os
valores e afetos que fazem a diferença humana nas relações escolares no dia-a-dia. Através
deste estudo foi possível confirmar as expectativas sobre a educação que Meneses acredita
como; “a boa educação é aquela que promove gostosamente a diferença humana preparando
para a vida” (2000, p.13).
Nesta perspectiva verifica-se que a afetividade, moral e educação são inerentemente
ligadas à aprendizagem. A afetividade influencia de maneira significativa a forma pela qual os
seres humanos resolvem seus conflitos de natureza moral. A organização do pensamento
prepondera o sentimento, e o sentir também configura a forma de pensar. Neste sentido, a
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afetividade perpassa o funcionamento psíquico assumindo o papel organizativo nas ações e
reações.
Família e escola devem trabalhar juntas para ajudar o aluno a desenvolver todas as
partes de si mesmo, de modo a ser livre para aprender e criar. Só o respeito à sua total
originalidade permite ao aluno o desenvolvimento da própria capacidade individual.
Os alunos precisam de compreensão afetiva para atravessar o difícil caminho da
dependência para a independência. Se forem dados os elementos básicos necessários, elas só
terão como alternativa gostar de si próprias. Vale ressaltar que a criança saudável é verdadeira
consigo mesma, o que lhe assegura a integridade pessoal. Ela faz o que pode com o que tem e
isso lhe dá uma paz interior. O que a criança sente em relação a si mesma afeta seu modo de
viver. Uma autoestima elevada baseia-se na convicção que a criança tem que ser amada e
valorizada, precisando saber que é importante justamente porque existe. Ao sentir-se capaz de
lidar consigo mesma e com o ambiente que a cerca, a criança percebe que tem algo para
oferecer aos outros, por isso a autoestima elevada não é pretensão: é a tranqüila aceitação da
criança em ser quem é.
É fundamental que os professores saibam que toda a criança tem o potencial de gostar
de si mesma, e que aprende a ver a si mesma tal qual as pessoas importantes que a cercam a
vêem, pois ela constrói a sua auto imagem a partir das palavras, da linguagem corporal, das
atitudes e dos julgamentos dos outros. A promoção da afetividade é um campo em que se
torna difícil propor sugestões já que as necessidades das crianças são diferentes. Assim, por
exemplo, o que é útil para um aluno impulsivo pode não ser para um inibido, daí a
necessidade do uso de recursos e métodos variados pelo professor.
Tratar um aluno com afeto não significa tratá-lo com beijinhos ou tentar agradá-lo.
Quando fala-se de afeto refere-se à necessária tomada de atitude para sair da indiferença, que é
considerada uma das principais causas de problemas de aprendizagem. Entretanto, a falta de
interesse e de identificação com o estudo, podem ser sanadas se a família, a escola e a sociedade
desenvolverem ações cotidianas que levem a criança a entender que a escola e a construção do
conhecimento são um bem para ela. Além disso, o professor deve tornar suas aulas atrativas e
estabelecer um elo de ligação afetiva entre o conteúdo ensinado e a realidade do aluno.
As variações nos sentimentos de afetividade, podem levar ao desgaste das relações
entre professor e aluno devem-se ao fator afetivo que cada pessoa possui no momento em que
lhe são atribuídos os devidos valores das vivências, em condições normais, é variável de
momento para momento. Ora o humor está elevado, ora mais rebaixado. Além disso, existem
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as vivências que professor e aluno trazem da educação recebida em casa e que determinam as
diferentes relações que eles terão ao entrarem em contato com as várias situações de conflito.
As vivências de cada um são muito importantes nas relações entre as pessoas. A
emoção humana tem sido vista como um conhecimento a ser explorado e desenvolvido nas
crianças. Diante disso, busca-se uma educação mais humanista, de escolas mais preparadas e
de currículos mais adaptados, priorizando o desenvolvimento cognitivo.
É preciso, então, que o professor desprenda-se de velhas concepções sobre as quais os
conteúdos são trabalhados na escola e vá em direção a uma concepção em que possa construir
uma sociedade mais justa, democrática e solidária.
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