Sistemas Elétricos de Potência 5. Análise de Curtos-Circuitos ou Faltas 5.2 Componentes Simétricos (ou Simétricas) Professor: Dr. Raphael Augusto de Souza Benedito E-mail:[email protected] disponível em: http://paginapessoal.utfpr.edu.br/raphaelbenedito 5.2.1 Introdução • Como vimos anteriormente, os sistemas trifásicos equilibrados e simétricos podem ser analisados através de uma de suas fases e o neutro (terra), tanto em condições normais de funcionamento quanto em decorrência de curtos-circuitos trifásicos. • Porém tal procedimento não pode ser adotado quando ocorrem faltas assimétricas, que provocam desequilíbrio nos sistemas. Em tais situações, os métodos tradicionais de cálculo pelas Leis de Kirchhoff revelam-se muito trabalhosos e de trato difícil, principalmente devido à presença de máquinas rotativas. • Além disso, o desbalanceamento natural das cargas e de outros elementos dos sistemas trifásicos contribuem para a assimetria da seqüência de fasores (tensão/corrente) trifásicos, dificultando a análise dos sistemas trifásicos. 5.2.1 Introdução • Como resolver esse problema? Ou, como facilitar os cálculos de redes desequilibradas? – Através do método das Componentes Simétricas (C.O. Fortescue, 1918); – Tornou-se uma das mais poderosas ferramentas para análise de redes polifásicas desequilibradas. • Definição de Componentes Simétricas: – Um sistema desequilibrado de “n” fasores correlacionados pode ser decomposto em “n” sistemas equilibrados denominados componentes simétricos (ou simétricas) dos fasores originais; – Sendo que os “n” fasores de cada conjunto de componentes são iguais em comprimento, e os ângulos entre os fasores adjacentes do conjunto são iguais. 5.2.2 Componentes Simétricas em Sistemas Trifásicos Dada uma seqüência qualquer de fasores, representada por: r V A, B , C V&A r = VA = V&B V&C (1) existe (e é única) uma seqüência direta, uma seqüência inversa e uma seqüência nula que somadas reproduzem a seqüência dada. De outra forma: uma seqüência qualquer de fasores pode ser decomposta em três outras seqüências (direta, inversa e nula) e essa decomposição é única. 5.2.2 Componentes Simétricas em Sistemas Trifásicos Matematicamente, a equação (1) pode ser decomposta em componentes simétricas da seguinte forma: V&A V&A0 V&A1 V&A 2 V&A0 + V&A1 + V&A 2 r r r r VA = V&B = V0 + V1 + V2 = V&B 0 + V&B1 + V&B 2 = V&B 0 + V&B1 + V&B 2 V&C V&C 0 V&C1 V&C 2 V&C 0 + V&C1 + V&C 2 ( 2) utilizando-se o operador α = 1∠1200 (α 2 = 1∠2400 = 1∠ − 1200 ) , temos: V&0 = V&A0 = V&B 0 = V&C 0 V&1 = V&A1 ; V&B1 = α 2 ⋅ V&1 ; V&C1 = α ⋅ V&1 (3) V&2 = V&A 2 ; V&B 2 = α ⋅ V&2 ; V&C 2 = α 2 ⋅ V&2 e substituindo na equação (2), resulta em: V&A 1 1 1 V&0 + V&1 + V&2 r VA = V&B = V&0 ⋅ 1 + V&1 ⋅ α 2 + V&2 ⋅ α = V&0 + α 2V&1 + αV&2 2 V&C V&0 + αV&1 + α 2V&2 1 α α ( 4) 5.2.2 Componentes Simétricas em Sistemas Trifásicos Outra expressão para equação (4) é a seguinte: sendo: 1 V&0 1 1 r r & 2 α ⋅ V1 = T ⋅ V0,1, 2 VA = 1 α 1 α α 2 V&2 - Tr a matriz de transformação de componentes simétricas; - V0,1, 2 seqüência de fasores de componentes simétricas. Interpretação gráfica dos fasores das componentes simétricas (5) 5.2.2 Componentes Simétricas em Sistemas Trifásicos A matriz T não é singular, isto é, existe a matriz T-1. Dessa forma, a seguinte expressão é válida: r V0,1, 2 V&0 V&A V&A + V&B + V&C 1 V&A 1 1 1 1 = V&1 = T −1 ⋅ V&B = ⋅ 1 α α 2 ⋅ V&B = ⋅ V&A + α ⋅ V&B + α 2 ⋅ V&C (6) 3 2 & 3 V& + α 2 ⋅ V& + α ⋅ V& V&2 V&C 1 α α V B C C A 5.2.3 Conseqüências r VA • Com base na decomposição de uma seqüência de fasores em suas componentes simétricas, definimos: – seqüência trifásica simétrica: => V&1 ≠ 0; – seqüência trifásica pura: => V&1 ≠ 0; – seqüência trifásica impura: => V&1 ≠ 0; V&2 = V&0 V&2 ≠ 0, V& ≠ 0, 2 =0 V& = 0 0 V&0 ≠ 0 5.2.4 Rotação Cíclica na Ordem de Fasores • Quando substituímos uma dada seqüência fasorial trifásica por outra obtida por uma rotação cíclica de seus fasores, isto corresponde a uma rotação de α (α=1|1200) na componente simétrica de seqüência inversa. Matricialmente, temos: & & V 1 1 1 VA0 r A VA = V&B = 1 α 2 α ⋅ V&A1 V&C 1 α α 2 V&A 2 V&B 1 1 1 V&B 0 1 r VB = V&C = 1 α 2 α ⋅ V&B1 = 1 V&A 1 α α 2 V&B 2 1 V&C 1 1 1 V&C 0 1 r VC = V&A = 1 α 2 α ⋅ V&C1 = 1 V&B 1 α α 2 V&C 2 1 α 2 α V&A0 α α 2 ⋅ V&A1 1 α 1 α2 1 V&A 2 α 2 V&A0 1 ⋅ V&A1 α V&A 2 (7 ) • Assim, uma rotação nos elementos da seqüência VA, corresponde a mesma rotação nos elementos correspondentes da linha da matriz T. 5.2.5 Grau de Desequilíbrio de uma Seqüência • O grau de desequilíbrio de uma dada seqüência trifásica pode ser definida como sendo a relação entre os módulos das componentes de seqüência inversa (negativa) e direta (positiva), ou seja: V&2 grau deseq. = V& 1 (8) 5.2.6 Aplicação • Para facilitar a compreensão da aplicação de componentes simétricas à sistemas trifásicos, iremos considerar um sistema trifásico ligado em estrela, conforme a figura a seguir: Figura 1: Sistema trifásico ligado em estrela (gerador 3Ø) • Em termos de tensões de fase, a seqüência VAN fica: r VAN V&AN V&0 1 1 1 = V&BN = T ⋅ V&1 = V&0 ⋅ 1 + V&1 ⋅ α 2 + V&2 ⋅ α 2 V&CN V&2 1 α α (9 ) 5.2.6 Aplicação • A partir da expressão (9) podemos desenhar o sistema elétrico da seguinte forma: Figura 2: a) Circuito equivalente; b) Circuito equivalente com a componente de seqüência zero isolada • Como vemos na figura 2, podemos substituir a tensão gerada VAN pela associação série de três f.e.m.s V0, V1 e V2 (o raciocínio é análogo para as outras duas fases). • A fig. 2b caracteriza o efeito da componente de seqüência zero da tensão, que é o de elevar o potencial do centro-estrelo. 5.2.6 Aplicação • A tensão de linha VAB pode ser calculada em termos das componentes simétricas da seguinte forma: V&AB = V&1 + V&2 − α 2 ⋅ V&1 − α ⋅ V&2 = (1 − α 2 ) ⋅ V&1 + (1 − α ) ⋅ V&2 V&AB = ( 3∠30o ) ⋅ V&1 + ( 3∠ − 30o ) ⋅ V&2 (10) • A equação (10) mostra que a tensão de componente nula não entra (ou não influencia) nos cálculos de tensão de linha. • Em termos de seqüência de fasores, a seqüência de tensão de linha decomposta em componentes simétricas torna-se: V&AN V&BN 1 1 1 V&0 AN 1 α 2 α V&0 AN r r r VAB = VAN − VBN = V&BN − V&CN = 1 α 2 α ⋅ V&1 AN − 1 α α 2 ⋅ V&1 AN V&CN V&AN 1 α α 2 V&2 AN 1 1 1 V&2 AN V&AB 0 (1 − α 2 ) (1 − α ) V&0 AN 1 1 r VAB = V&BC = 0 (α 2 − α ) (α − α 2 ) ⋅ V&1 AN = (1 − α 2 )V&1 AN α 2 + (1 − α )V&2 AN α (11) 2 2 V&CA 0 (α − 1) V&2 AN ( α − 1 ) α α 5.2.6 Aplicação • Até aqui foram adotados apenas fasores de tensão no estudo de componentes simétricas, entretanto o Teorema de Fortescue aplica-se igualmente a quaisquer fasores associados a uma máquina ou a um circuito trifásico, tais como corrente elétrica. Veja: I&A 1 1 1 I&0 r I A = I&B = 1 α 2 α ⋅ I&1 I&C 1 α α 2 I&2 (12) I&0 1 I&A 1 1 1 = I&1 = 1 α α 2 ⋅ I&B 3 2 I&2 1 α α I&C (13) e também é válido: r I 0,1, 2 5.2.6 Aplicação • Em sistemas trifásicos a 4 fios, a soma das correntes de linha é igual à corrente de retorno IN pelo neutro. • Do mesmo modo, em sistemas trifásicos a 3 fios com ligação estrela aterrada, a soma das correntes de linha é igual à corrente de retorno IN pela terra. Para ambas as situações temos: I&N = I&A + I&B + I&C (14) 1 entretanto, como I&0 A = ( I&A + I&B + I&C ) concluímos que: 3 I&N = 3 ⋅ I&0 A (15) • Através da equação (15), vemos que a corrente de seqüência zero só existe se houver um circuito fechado no qual possa circular. • Em sistemas trifásicos a 3 fios, com carga em estrela isolada ou com carga em triângulo, a soma das correntes de linha é zero e portanto nenhuma componente de seqüência zero está presente nas correntes de linha. 5.2.7 Modelagem dos Elementos de Sistemas Elétricos em Componentes Simétricas Geradores Trifásicos - Como as tensões trifásicas internas geradas (Ea, Eb e Ec) são simétricas, elas não afetam as seqüências inversa e zero, apenas a seqüência direta. A impedância de seqüência zero leva em conta a impedância de aterramento do centro-estrela e a impedância do gerador de seqüência zero. Veja abaixo: Z0 = 3⋅ Zn + Z g0 V&a1 = E& a − I a1 ⋅ Z1 V& = − I ⋅ Z a2 a2 2 V&a 0 = − I a 0 ⋅ Z 0 (16) (17 ) 5.2.7 Modelagem dos Elementos de Sistemas Elétricos em Componentes Simétricas 5.2.7 Modelagem dos Elementos de Sistemas Elétricos em Componentes Simétricas Geradores Trifásicos - Matricialmente, podemos representar um gerador trifásico em componentes simétricas da seguinte forma: V&a 0 0 Z 0 & & Va1 = E a − 0 V&a 2 0 0 0 Z1 0 I&a 0 ⋅ I& a1 Z 2 I&a 2 0 0 (18) 5.2.7 Modelagem dos Elementos de Sistemas Elétricos em Componentes Simétricas - - - Transformadores Trifásicos Transformadores e linhas de transmissão, elementos estáticos dos sistemas, apresentam reatância de seqüência positiva com mesmo valor da reatância de seqüência negativa. Os circuitos equivalentes, por fase, para seqüência positiva e negativa são elaboradas desprezando-se resistências e corrente de excitação, e referindo as reatâncias a um dos lados. O modelo para seqüência zero depende do tipo do trafo e da maneira como foi conectado, permitindo, ou não, o estabelecimento de corrente de seqüência zero através de um percurso fechado (veja a seguir). 5.2.7 Modelagem dos Elementos de Sistemas Elétricos em Componentes Simétricas Transformadores Trifásicos – Seqüência zero: 5.2.7 Modelagem dos Elementos de Sistemas Elétricos em Componentes Simétricas - - Linhas de Transmissão Transformadores e linhas de transmissão, elementos estáticos dos sistemas, apresentam reatância de seqüência positiva com mesmo valor da reatância de seqüência negativa. A reatância de seqüência zero das linhas é influenciada por grande número de variáveis (características dos condutores, natureza e resistividade do solo sob a linha, entre outros). De modo geral, a reatância de seqüência zero apresenta valor que se situa na faixa de 2 a 5 vezes o valor da reatância de seqüência positiva. Exemplo de rede de seqüência nula Fig.: Sub-rede equivalente de seqüência nula (ou zero) 5.2.8 Exercícios Exercício 1: Considere a seqüência fasorial a seguir: V&A 120∠00 r VA = V&B = 380∠ − 900 (V ) V&C 380∠900 Encontre as tensões de seqüência nula, direta e inversa para a fase A, e represente graficamente tais fasores. Resposta: V0 = 40|00 (V); V1 = 260|00 (V); V2 = 180|1800 (V) 5.2.8 Exercícios Exercício 2: Certo sistema trifásico apresenta seqüência de fases A, B e C, e tem as seguintes componentes simétricas de correntes de linha: I&0 3,61∠ − 146,310 & 0 I = 13 , 11 ∠ 26 , 80 ( A) 1 I&2 4,12∠ − 71,610 Obtenha os fasores das correntes de linha IA, IB e IC do sistema. Resposta: IA = 10|00 (A); IB = 12,04 |-94,760 (A); IC = 18,97|161,570 (A) 5.2.8 Exercícios Exercício 3: Considerando que a potência base do sistema abaixo é 10 MVA e que todas as reatâncias já estão nas referidas bases. Para o sistema elétrico abaixo, desenhe o diagrama unifilar (ou sub-rede) de: a) seqüência positiva; b) seqüência negativa; c) seqüência nula. Referências Bibliográficas [1] STEVENSON, W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. 2ª ed. Editora MacGraw-Hill do Brasil. São Paulo.1986. [2] ZANETTA Jr., LUIZ CERA. Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência. 1ª. Edição; Editora Livraria da Física, São Paulo, 2005.