secretaria de estado da saúde programa de aprimoramento

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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
MARCOS AURÉLIO ALVES FILHO
O ESTIGMA DA MORTE NA UTI E AS REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS NO
PACIENTE E FAMILIA
Marília
2016
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
MARCOS AURÉLIO ALVES FILHO
O ESTIGMA DA MORTE NA UTI E AS REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS NO
PACIENTE E FAMILIA
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado
ao
Programa
de
Aprimoramento
Profissional/SES-Fundap,
elaborado na Faculdade de Medicina de
Marília, em Psicologia Hospitalar, sob a
orientação da Profª Msc Noemi Peres
Honorato
Área: Psicologia Hospitalar
Marília
2016
A474e
Alves Filho, Marcos Aurélio.
O estigma da morte na UTI e as repercussões
psicológicas no paciente e família / Marcos Aurélio
Alves Filho. - - Marília, 2016.
29 f.
Orientadora: Prof. Msc Noemi Peres Honorato.
Trabalho de Conclusão de Curso (Programa de
Aprimoramento Profissional) – Secretaria de Estado
da Saúde-Fundap, elaborado na Faculdade de
Medicina de Marília em Psicologia Hospitalar.
Área: Psicologia Hospitalar.
1. Unidade de Terapia Intensiva. 2. Morte. 3.
Estresse psicológico. 4. Luto. 5. Família.
Marcos Aurélio Alves Filho
O estigma da morte na UTI e as repercussões psicológicas no paciente e
família
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado
ao
Programa
de
Aprimoramento
Profissional/SES-Fundap,
elaborado na Faculdade de Medicina de
Marília, em Psicologia Hospitalar.
Área: Psicologia Hospitalar
Comissão de Aprovação:
________________________
Profª Msc Noemi Peres Honorato
Supervisora/Orientadora
_______________________________
Profª Drª. Camila Mugnai Vieira
Coordenador PAP (SES/Fundap) – Famema
Área: Saúde Mental
________________________
Profª Drª Roseli Vernasque Bettini
Coordenadora PAP (SES/Fundap)- Famema
Data de Aprovação: ___________
Dedico este trabalho de conclusão de curso
aos pacientes que tive o privilégio de atender
e aprender acima de tudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e a seus meios que iluminaram o meu
caminho durante minha caminhada de aprendizagens e amadurecimento.
Agradeço a minha família, pai, mãe, padrasto, madrasta e irmãos pelo
incentivo, carinho e atenção.
Agradeço a minha esposa pela paciência, amor, carinho e ao ‘’dom’’ de me
dar forças, me incentivando a ser um ser humano cada vez melhor.
Agradeço a minha orientadora Noemi Peres Honorato pelo aprendizado,
apoio, compreensão e paciência na construção de meus conhecimentos.
Agradeço as psicólogas Francelle, Milla, Priscila, Silvana e Angélica pelo
apoio, aprendizado, atenção e pela excelente dedicação com que me receberam.
Agradeço aos meus preceptores Heraldo, Danielle e Roseli pelas orientações,
convívio, confiança e supervisões.
Agradeço ao meu terapeuta Aquiles por trabalhar as minhas angústias e me
fortalecer a cada dia nessa etapa.
.
Agradeço a bibliotecária Cláudia pelo auxilio na elaboração da metodologia
científica do meu trabalho de conclusão de curso.
Agradeço a todos os profissionais do Hospital das Clinicas – Unidade I e
Unidade II pelo aprendizado durante o desenvolvimento de meu trabalho.
Quando a situação for boa, desfrute-a.
Quando a situação for ruim, transforme-a.
Quando
a
situação
não
puder
transformada, transforme-se.
Viktor Frankl
ser
RESUMO
No contexto hospitalar, o psicólogo atua quase sempre em situações de crises e
emergências, entendendo que a pessoa quando hospitalizada adquire experiências
desorganizadoras como mudanças de rotinas, fases de adaptações e hábitos.
Sendo que, com essas alterações, instalam-se regressões emocionais, negações da
realidade e fantasias que advém da própria hospitalização. O psicólogo que trabalha
na relação entre subjetividade e o processo de saúde, possui sua técnica pautada
entre as várias instâncias biopsicossocial, em que o medo de morrer do paciente e
as reações dos familiares durante o processo hospitalar, podem interferir em toda
estrutura psicodinâmica. O psicólogo em Unidade de Terapia Intensiva se depara
com questões que acarretam o estigma da morte e que pode acontecer a qualquer
momento durante a estadia do paciente nesse setor. O presente trabalho tem como
objetivos relacionar o estigma da morte em Unidades de Terapia Intensiva, a
influencia deste ambiente como desencadeador de reações emocionais, as
respectivas formas de enfrentamento dos pacientes e familiares e a atuação do
psicólogo nesse setor. Utilizou-se a modalidade de pesquisa bibliográfica, através de
consulta e análise de contribuições científicas já existentes. A possibilidade de
intervenção do psicólogo no ambiente da Unidade de Terapia Intensiva é de
fundamental importância para identificar características de funcionamento psíquico
normal ou patológico na vigência de uma doença, definir as condutas pertinentes a
qualquer uma dessas condições pelo sofrimento causado durante internação e
facilitar melhores estratégias de enfrentamento como forma de amortecer o
sofrimento psíquico causados em Unidades de Terapia Intensiva.
Palavras-chave: Unidade de Terapia Intensiva. Morte. Estresse Psicológico. Luto.
Família
ABSTRACT
In the hospital, the psychologist works often in situations of crises and emergencies,
understanding that, when a person gets hospitalized, he or she may confront
disorganizing experiences as changes in routines, stage adaptations and habits.
And, with these changes, install up emotional regressions, denials of reality and
fantasy that comes hospitalization. The psychologist working in the relationship
between subjectivity and health process, has guided his technique between the
various biopsychosocial instances in which the fear of dying of the patient and the
reactions of the family during the hospital procedure may interfere with all the
psychodynamic structure of the patient. The psychologist in the Intensive Care Unit is
faced with issues that carry the stigma of death and what may happen at any time
during the stay of the patient in that sector. This paper aims to relate the stigma of
death in intensive care units, the influence of this environment to trigger emotional
reactions, their ways of coping of patients and families and the role of the
psychologist in that sector. We used the method of literature, through consultation
and analysis of existing scientific contributions. The possibility of the psychologist
intervention in the Intensive Care Unit of the environment is very important to identify
characteristics of normal or pathological psychic functioning, in the presence of a
disease, defining the relevant conduct to any of these conditions for the suffering
caused during hospitalization, and facilitate better strategies coping as a way to
cushion the psychological distress caused in intensive care units.
Keywords: Intensive Care Unit. Death. Psychology Stress. Grief. Family
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.............................................................................................
9
2
OBJETIVOS................................................................................................
11
2.1
Objetivo geral.............................................................................................
11
2.2
Objetivo específico....................................................................................
11
3
MÉTODO......................................................................................................
12
4
DESENVOLVIMENTO.................................................................................
13
4.1
O estigma da morte na UTI e as repercussões psicológicas no
13
paciente e família.......................................................................................
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................
26
REFERENCIAS............................................................................................
29
9
1 INTRODUÇÃO
O psicólogo na instituição hospitalar procura ser o intermediário nas questões
psicológicas, com sua busca para atingir á compreensão das relações entre a tríade
(paciente, família, equipe), no que se refere a vários sentimentos como angústias,
medo da internação, sentimentos de impotência e no que constitui dificuldades na
relação medico paciente. Entretanto, Sebastiani, Fongaro (2001) e Sebastiani,
Santos (2001), apontam que durante muito tempo a Psicologia Hospitalar utiliza de
vários recursos técnicos e metodológicos que foram fundamentados de outras áreas
do saber psicológico. Esse fato a enquadra numa prática que se caracteriza não
somente a uma área de abrangência, mas a outras áreas como organizacional,
social, educacional e clinica.
O psicólogo que trabalha no hospital atua em um processo de gestão e
deverá embasar-se em técnicas e métodos definidos como, instrumentos de
avaliação, acompanhamento de risco emocional, definição da complexidade
emocional e dos planos terapêuticos condizentes, clarificação para a equipe de
saúde sobre condições emocionais do paciente e família, observar as reações de
adoecimento, funcionamento familiar, mecanismos de adaptação utilizados com
seus sucessos e falhas (CHIATONE, 2012).
O psicólogo que trabalha na relação entre subjetividade e o processo de
saúde, deverá instrumentalizar sua técnica pautada entre as várias instâncias
biopsicossocial em que o medo de morrer do paciente e as reações dos familiares
durante o processo de internação hospitalar poderá interferir em toda estrutura
psicodinâmica. Sendo assim, a Psicologia se insere na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), cujo ambiente proporciona questões de viver e morrer; rapidez nos
atendimentos; trabalho multidisciplinar; distanciamento do sujeito e suas dores,
medos, desejos, em que a relação que se estabelece é principalmente entre a
equipe e os aparelhos que os mantêm vivos (ANDREOLI, 2008).
O paciente internado é impactado por um processo de total dependência dos
profissionais que ali se encontram, sendo muitas vezes não correspondido suas
angustias e fantasias pelas dificuldades de relação profissional e paciente em um
ambiente técnico, diferenciando-se dos demais setores do hospital, pois na UTI, os
objetivos são de procedimentos de urgência, resgate à vida e a manutenção. O
sujeito é acompanhado em um momento delicado de saúde, com dependência de
10
cuidados a ele prestados para sua melhora clínica, com objetivos de prevenção da
possibilidade de morte e restauração para seu estado de saúde anterior, com
objetivos em que vise aspectos biofísicos e psicológicos para manutenção da
qualidade de vida, de onde devem ser realizados intervenções rápidas, precisas e
eficientes quanto aos cuidados a patologia de base do paciente, utilizando-se para
isso equipamentos de alta tecnologia e medicações potentes (BRUSCATO;
HABERKORN, 2008; KNOBEL, 2007; SILVA; ANDREOLI, 2010 ).
O processo de adaptação emocional vivido pelo paciente em UTI,
desencadeia com grande freqüência, situações consideradas de crise, de onde o
mesmo percebe-se ameaçado por não conseguir atender suas necessidades de
ajuste emocional. Essa crise se configura em um estado emocional de perturbação
aguda, pela incapacidade da pessoa em lidar com essa situação considerada
conflituosa (KNOBEL, 2007). Para o paciente e seus familiares, todas essas novas
rotinas dentro do contexto de UTI, são assustadores, invasivos, pois se caracteriza
como, um ambiente frio, impessoal relacionado por muitas pessoas como sinônimo
da morte (RODRIGUES, 2006).
É possível observar que a UTI, é o setor em que mais se predomina a
racionalidade médica e carrega consigo a metáfora social da morte. Sendo assim, o
paciente que necessita de atendimento e seu familiar, são impactados por processos
de sofrimento biopsicossocial, de onde poderá desencadear crises de caráter
emocional com respectivas formas de enfrentamento que são relacionados á
eventual idéia da morte.
11
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
O trabalho objetiva compreender as formas de enfrentamento ocorridas pelo
paciente e seus familiares na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cujo seu estigma
social representa a morte, bem como a inserção do psicólogo nesse setor.
2.2 Objetivo específico
Efetuar uma revisão da literatura existente sobre os aspectos emocionais dos
pacientes e familiares internados na UTI e os possíveis quadros psicopatológicos
destes no setor da UTI.
12
3 MÉTODO
Para a elaboração deste trabalho utilizou-se a modalidade de pesquisa
bibliográfica, através de consulta e análise de contribuições científicas já existentes,
onde se fez o levantamento do maior número de bibliografia já publicada em forma
de livros, revistas, artigos e documentos eletrônicos
A pesquisa eletrônica da literatura foi realizada utilizando-se as bases de
dados SCIELO e LILCACS. Utilizaram os seguintes descritores de procura: Unidade
de Terapia Intensiva, psicologia, hospital, morte, luto.
A finalidade da pesquisa é colocar o pesquisador em contato direto com tudo
aquilo que foi publicado sobre o assunto, com objetivo de permitir análise e
manipulação das informações.
Não foi delimitado período de tempo referente ao ano de publicação para a
busca da bibliografia, contudo, houve dificuldades para encontrar referencial a
respeito do processo de luto dentro do ambiente da UTI.
O material foi selecionado conforme o preenchimento dos requisitos
propostos e aproximação da temática . Sendo que, posteriormente foi realizada uma
análise do material bibliográfico obtido.
13
4 DESENVOLVIMENTO
4.1 O estigma da morte na UTI e as repercussões psicológicas no paciente e
família
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como é conhecida atualmente, surgiu
nos Estados Unidos na década de 50 e difundiu - se para o continente europeu nos
anos 60. No Brasil, as primeiras UTI s, foram implantadas em hospitais privados do
Rio de Janeiro e São Paulo, sendo nos dias atuais, um recurso disponível em quase
todos os hospitais. Contudo, a partir da década de 50, ocorreram grandes avanços e
desenvolvimentos em relação á abordagem terapêutica de pacientes considerados
graves, cuja especialidade se da o nome de tratamento intensivo, tendo surgido sua
denominação na época para designar o setor hospitalar em que são tratados os
pacientes com doenças graves ou potencialmente graves, com exigência de
recursos tecnológicos e humanos especializados (HABERKORN, 2004; KNOBEL,
2007).
No início de seu surgimento, as UTI s tinham como objetivo tratar pacientes
diagnosticados com infarto agudo, entretanto, com a criação de novos equipamentos
mais sofisticados, foram inseridas novas formas de atendimento desenvolvidos a
tratar de pacientes portadores de insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda,
hemorragia digestiva alta, estados de coma, choque e várias outras situações
consideradas graves. Atualmente, as UTIs de modo geral são locais onde se
internam pacientes com doenças graves que possuem um prognóstico favorável
para se viver, em que observa-se situações limites entre a vida e a morte com
necessidades
de
recursos
técnicos
especializados
para
sua
recuperação
(OLIVEIRA, 2002; RODRIGUES, 2006).
O setor da UTI é caracterizado como doloroso e confuso para o paciente e
seus familiares, devido ser uma área que se compromete tanto pela vida que o
contraponto desta proposta de reversibilidade, pode gerar possível morte do
paciente como total reabilitação do mesmo, tendo sua especialidade voltada não
somente ao tratamento de um comprometimento específico, mas, a um
comprometimento sistêmico em todo organismo com cuidado no funcionamento de
um ou vários sistemas orgânicos até que a patologia que motivou a internação atinja
os parâmetros fisiológicos aceitáveis (DI BIAGGI, 2002).
14
No entendimento de Rodrigues (2006), a localização da UTI deve ser isolada
da circulação geral para preservar a vulnerabilidade do paciente, mais próxima
possível do centro cirúrgico, caracterizado como um setor isolado, geralmente
localizado no último andar do hospital, com janelas fechadas, luz artificial,
temperatura constante, que possui como principal a sala onde fica os pacientes,
recepção, quartos de descanso dos profissionais com banheiro e copa.
Segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (2009), o objetivo é o
estabelecimento de padrões mínimos exigidos para o funcionamento das Unidades
de Terapia Intensiva e alguns dos principais equipamentos utilizados são:
 Cama com ajuste de posição, grades laterais ou incubadora com parede
dupla
 Equipamento para monitoração contínua de eletrocardiograma
 Equipamento para monitoração de pressão arterial não invasiva
 Equipamento de oximetria de pulso
 Equipamento para monitoração de pressão invasiva
 Ventilador pulmonar mecânico microprocessado
 Equipamento para ventilação mecânica não invasiva
 Equipamento de interface facial para ventilação pulmonar não invasiva,
adaptáveis ás idades dos pacientes
 Ressuscitador manual do tipo balão auto inflável com reservatório e máscara
facial.
 Conjunto de Nebulização em máscara
 Equipamento para infusão contínua e controladora de drogas
 Termômetro
 Estetoscópio
 Material de emergência para reanimação
 Aparelho desfibrilador
 Marcapasso cardíaco temporário, eletrodos e gerador
 Material de intubação traqueal
 Material para diálise
 Material para drenagem torácica
 Material para punção pericárdica
 Material para curativos
15
 Geladeira exclusiva para guardar medicamentos, com monitoração e controle
de temperatura.
Em relação á internação do paciente em UTI, Di Biaggi (2002), caracteriza os
principais critérios de admissões, sendo eles designados em pacientes cuja
probabilidade de sobrevida sem UTI é pequena, contudo, com UTI é grande,
pacientes que a probabilidade de sobrevida sem UTI é pequena, porém, com UTI
pode
ser
grande,
pacientes
não
gravemente
enfermos,
entretanto,
com
probabilidade de ficarem e por fim, pacientes com pequena probabilidade de
sobreviver apesar dos recursos disponíveis nesse setor.
A primeira ação realizada no momento da ida para UTI são os tipos de
perdas, nela a perda das roupas, da saúde, dos direitos, de onde o doente torna-se
paciente, resignado aos cuidados médicos, perde sua identidade, transforma-se em
número, em caso clínico, deixa de ser responsável por si mesmo, fragilizasse por
estar entregue aos profissionais de saúde devido a sua vulnerabilidade, sendo a
doença concebida como inimiga de onde de uma forma simbólica, toda uma guerra
começa a ser travada, na qual sobressai a oposição entre a vida e doença
(OLIVEIRA, 2002; RODRIGUES, 2006).
Na UTI, existem componentes que produzem no paciente, sentimentos de
insegurança, angústia, desamparo e desesperança, assim como os próprios ruídos
dos equipamentos, estímulos dolorosos, iluminação artificial, restrição do campo
visual, privação do sono, falta de privacidade em atividades rotineiras de higiene,
perda do contato com o ambiente social e profissional, o contato com pessoas
desconhecidas, perda da autonomia do próprio corpo, não entendimento da situação
e afastamento dos familiares (DI BIAGGI, 2002). Isso mobiliza segundo Haberkorn e
Bruscato (2008), sentimentos no paciente e seus familiares de medo insuportável,
manifestações de ansiedades, agitação psicomotora ou grave depressão, tendo o
clima nesse ambiente acentuado de sensações e sentimentos de desvinculação,
ressentimento e desamparo.
As capacidades físicas básicas e de caráter biológico dos pacientes
internados em UTI, assim como seus próprios movimentos simples e toda dinâmica
sistêmica do organismo, encontram-se alterados, muitas vezes sendo controlados
por aparelhos. Adaptar-se a essas experiências exige do paciente e seus familiares,
grande esforço emocional (KNOBEL, 2007). Novaes e Knobel (2008), afirmam que
16
a própria sensação de ter dor, não ter controle sobre si mesmo, ter tubos no nariz e
na boca, tem sido apontados como principais fatores de estresse em pacientes.
A vulnerabilidade do paciente hospitalizado em UTI torna-se soberana, sendo
que o mesmo depende de maquinas e humanos para sobreviver. Essa mesma
experiência passa a exigir esforço psicológico, solicita mudanças de imagem e
conceitos
(KNOBEL,
2007).
O
paciente
desencadeia
manifestações
comportamentais e emocionais, fica agressivo ou passivo, argumenta aspectos que
aparentemente parecem ter pouca importância, algumas vezes tenta impor-se, pode
transmitir raiva ou se deprimir, mobiliza mecanismos de defensa para preservar sua
integridade, com isso, tendo a importância do trabalho do psicólogo no que diz
respeito ao conhecimento do processo psíquico que envolve o adoecer, aspectos
psicopatológicos e processos de luto (ANDREOLI; SILVA , 2010; ISMAEL, 2010).
O impacto da “Bedside Technology” ou tecnologia de cabeceira, associada no
setting da unidade, remete à sequelas psicológicas e situações de crises que
propiciam alterações psicopatológicas para o paciente, assim como o estranho
maquinário, a super estimulação sensorial, sede, abstinência de alimentos comuns,
respiração por ventiladores, monitoração cardíaca, os cateteres e procedimentos
invasivos. Em casos extremos dessas sensações incontroláveis, pode levar o
paciente a evoluir para a chamada sindrome de UTI que caracteriza pela alteração
psiquiátrica que pode levar á psicose se não ocorrer ações adequadas, tendo o
manejo da ansiedade e o rápido conforto dos pacientes, objetivos de prevenção para
sua saúde mental (DI BIAGGI, 2002).
O ambiente da UTI é freqüentemente avaliado como altamente estressante
tanto pelos pacientes quanto pelos familiares que atuam na unidade, como
esclarecem Lucchesi; Macedo e Marco (2008), quando observam alguns tipos de
transtornos psíquicos ocasionados dentro do setor da UTI, podendo o paciente
apresentar humor ansioso ou depressivo em virtude do afastamento de vínculos
afetivos, medo de perder a capacidade de trabalhar, medo da morte, desânimo,
negatividade, agressividade alterações de apetite, podendo evoluir para quadros
psicopatológicos mais graves que necessitem de avaliação psiquiátrica, uso de
psicofármacos, além de exigir da equipe manejos especiais.
Segundo Scalco (2010), o delirium que também pode ser chamado de
confusão mental ou estado confusional agudo, é bastante freqüente em hospital
geral, pois acomete cerca de 10% de pacientes internados. Essa síndrome é
17
caracterizada pelo prejuízo cognitivo global associado a outras alterações
comportamentais, de início agudo e curso flutuante, sendo sempre secundário a
algum distúrbio físico que pode prejudicar ainda mais o quadro clinico do paciente,
considerado intenso, não sendo possível esperar a sua resolução que virá após o
tratamento da causa base (HABERKORN, 2004; NEGREIROS; MELEIRO; TENG,
2006)
O Transtorno de estresse pós traumático através das pesquisas dos
estudiosos,
Caiuby;
Andreoli
e
Baxter
(2008)
é
definida
como
distúrbio
psicopatológico que o paciente e seu familiar podem desenvolver acerca do
ambiente da UTI, por um conjunto de reações emocionais e comportamentais
associados á vivência da ameaça de morte em um local desconhecido. Os sintomas
impactam negativamente na qualidade de vida e reabilitação dos pacientes e estão
geralmente associados á comorbidades psiquiátricas como transtorno depressivo,
ansioso, de pânico e dissociativo. Os autores Lucchesi; Macedo e Marco (2008)
caracterizam também transtornos mentais como transtornos de ajustamento,
agitação psicomotora e episódios psicóticos. Alguns desses podem ter suas causas
orgânicas (desequilíbrios hidroeletrolíticos, alterações renais, cerebrais, infecções,
etc). A alteração emocional mais freqüente encontrado no setor da UTI é a
prevalência de ansiedade, sendo detectada em 70% nos pacientes e familiares
(KNOBEL, 2007).
A grande maioria dos pacientes internados em UTI s, clinicamente encontramse em sedação, contudo, pode-se observar segundo Lucchesi; Macedo e Marco
(2008). que alguns são expostos a situações difíceis que podem evoluir para uma
desestruturação emocional com prevalência a quadros de apatia, aumento da
angústia e intensificação da morte por estarem lúcidos. Assim como descreve
Carvalho (2000), quando se refere ao processo de desmame que consiste em
separar o paciente da dependência do aparelho respiratório, sendo extremamente
angustiante e estressante, pois, é o único tipo de intervenção em que o mesmo deve
estar completamente consciente e muitas vezes não consegue se separar de tal
sem lhe causar um grande incômodo. As principais causas geradoras de estresse e
agravamento de condições emocionais no âmbito da UTI, inclusive de cunho
catártico, tanto em pacientes como em familiares para Di Biaggi (2002) são:

Pacientes que são transplantados
18

Pacientes vítimas de violência, acidentes graves e tentativas de
suicídio

Vítimas de grandes catástrofes e politraumatizados

Pacientes com entubação oro traqueal que estão conscientes

Pacientes que necessitam de entubação oro traqueal de emergência e
estavam conscientes até o momento

Extubação do paciente (processo de desmame) e conseqüente
imobilização no leito (pulsos amarrados)

Óbito do paciente durante a visita de familiares e óbito de paciente
imediatamente após a visita

A doação de órgãos e suas vicissitudes

Pacientes em leito próximo a um óbito

Paciente em leito próximo a óbito iminente ou de paciente em estado
muito grave e com muito sofrimento
O processo de adoecimento do paciente até sua internação na UTI, também
gera angústia nos familiares que ao emergir com o seu adoecer e com a
proximidade de contato, poderá suscitar em grande desequilíbrio emocional no
familiar (LUCCHESI; MACEDO; MARCO, 2008). Assim com estágios não lineares de
adaptação, como esclarece Knobel (2007), sendo as primeiras vinte e quatro horas,
caracterizadas por um estado de desequilíbrio também chamado de flutuação, em
que prevalece a confusão, estresse, choque, ansiedade, preocupação, medo e
sensação de sobrecarga. A fase seguinte da flutuação é caracterizada pela busca de
informações para uma melhor compreensão sobre o quadro clínico e evolução do
paciente. Se as informações não forem suficientes, os familiares permanecerão no
estágio anterior, podendo comprometer sua adaptação. Porém, se os mesmos
sentirem-se mais seguros, poderão conseguir realizar o acompanhamento do
paciente e observar melhor a qualidade de vida no cuidado direcionado a ele. Após
o segundo estágio de adaptação segundo Silva; Andreoli (2010), os familiares,
arremetem-se por um processo em que observam e analisam com mais detalhes a
evolução do paciente e com isso encerram o processo de adaptação buscando
suprir ás necessidades do paciente e ás suas próprias.
A família, de modo geral, pode ser compreendida como um sistema em que
cada membro é responsável por uma função dentro da dinâmica familiar. No
19
entanto, quando um integrante dessa mesma dinâmica adoece, sendo internado
principalmente em UTI é desencadeado conflitos pré- existentes que podem refletir
no período de hospitalização diretamente com relação á equipe e o próprio paciente
(LUCCHESI; MACEDO; MARCO, 2008). Com toda situação de conflitos,
desestruturas e desequilíbrios emocionais gerados no paciente e família no
ambiente da UTI, a atuação do psicólogo é essencial para o favorecimento de novas
formas de enfrentamento dessas novas situações promovendo suporte no momento
de instabilidade emocional, tendo sua postura ativa com a percepção das
necessidades, descrição do ambiente, orientação de tempo e espaço, descrição
sobre funcionamento da unidade, aproximação da equipe em relação ás
necessidades do paciente e avaliação constante das necessidades do mesmo
(KNOBEL, 2007). O objetivo principal do psicólogo em UTIs é identificar as
características do funcionamento psíquico normal ou patológico na vivência do
paciente e familiar com principais intervenções pertinentes a essas condições, tendo
seus objetivos claros e intervenções breves (SILVA; ANDREOLI, 2010).
A doença no paciente internado provoca profundas modificações em sua
subjetividade que devem ser elaboradas para uma melhor adaptação psicossocial,
tendo o psicólogo o aparato técnico de acolher, dar sentido as fantasias e
dificuldades provenientes de toda situação estressante, afim de, promover alívio em
suas angústias para melhor qualidade de vida durante processo de hospitalização
em UTI. No atendimento com os familiares o objetivo é possibilitar o reconhecimento
dos sentimentos envolvidos na crise atual, ás novas adaptações, as perdas
ocasionadas, auxiliá-los na busca de recursos psicológicos que visem á
reorganização familiar (HABERKORN, 2004). Os sentimentos envolvidos nos
familiares no momento da internação do paciente são diversos, pois podem ocorrer
momentos de apreensão, desespero, alívio, temor, desconfiança em relação á
equipe, medo pela possibilidade de morte do paciente e dificuldades na
compreensão das informações médicas (LUCCHESI; MACEDO; MARCO, 2008).
Com pacientes traqueostomizados ou com entubação, o psicólogo pode facilitar a
comunicação através da escrita ou leitura labial, procurando minimizar o nível de
ansiedade e angústia pela própria dificuldade do paciente na verbalização,
facilitando á expressão de seus conflitos frente ao momento atual de crise
(HABERKORN, 2004).
20
O psicólogo encontra algumas dificuldades dentro do seu campo de atuação
em UTI, tendo o grande desafio de fundamentar e instrumentalizar técnicas de
intervenções psicológicas que atendam a demanda específica. A teoria psicológica
que mais se adaptada a sua atuação e tem auxiliado vários profissionais é a teoria
da crise que facilita no manejo das relações humanas entorno do contexto hospitalar
(KNOBEL, 2007). Com isso a atuação do psicólogo no entendimento de Di Biaggi
(2002), deve ser de pronta intervenção pela sua presença constante e formação
pautada para análise de quadros comportamentais e situações de risco, sendo
importante ressaltar sua inserção junto á equipe para somar com seu saber e fazer,
promovendo amplo suporte do paciente em sua dimensão biopsicossocial. A partir
dessa compreensão, o psicólogo resgata junto com o paciente e sua família um
caminho de saúde para o enfrentamento da dor, que favorece a manifestação dos
medos, fantasias e eventualmente do próprio estigma de morte que o ambiente de
UTI traz (CAMON, 1994).
O psicólogo em UTI defronta-se com questões que acarretam o estigma da
morte, pois desde o seu surgimento, é caracterizado pela sociedade como local
marcado para morrer, mesmo sabendo que na atualidade, é o local onde a luta pela
vida permanece constante (GRANHA, 2000). Esse olhar que a UTI tem relacionada
á metáfora de morte surge de modo geral dentro da sociedade devido que no início
de seu surgimento, os pacientes entravam em óbito até vinte e quatro horas,
estando relacionado á precariedade de recursos técnicos na época, pois, sabe-se
que atualmente é um ambiente com recursos de alta complexidade que pode trazer
grandes chances de recuperação em um tempo médio de até 10 dias para o
restabelecimento de todo equilíbrio orgânico podendo a metáfora de morte nesse
ambiente ser caracterizado atualmente como um mito (DI BIAGGI, 2002).
O plantão psicológico na UTI, vincula o psicólogo e equipe um suposto saber
sobre a morte e o que circula em torno dela, o que segundo Decat (2000), gera no
paciente dependência, inconsciência, estar morto em vida, tendo o psicólogo seu
aparato de intervenção. Para o indivíduo, a internação em UTI representa a dor de
ser arrancado de seu mundo, pois esse local é associado ao sofrimento que
desencadeia fantasia de morte (RIBEIRO, 1997).
As estratégias de enfrentamento podem ser caracterizadas como positivas ou
negativas, sendo fundamental observar que as positivas neutralizam o estresse
causado pelo impacto do diagnóstico e internação na UTI, facilita o equilíbrio das
21
manifestações neuroquímicas, reequilibra o sistema imunológico. As características
positivas envolvem comportamentos de adaptação ao estresse, percepção do
controle da situação, busca pelo auxílio, busca por informações sobre a doença,
planos para superação, esperança na recuperação, suporte dos familiares, amigos e
apoio espiritual. As negativas ocorrem negação do reconhecimento do estado
patológico, repressão dos sentimentos, fortes mecanismos defensivos, sentimentos
de culpabilidade graves, desesperança, desespero e forte desconfiança no ambiente
e equipe (CHIATTONE, 2012).
O medo é a resposta fisiológica mais comum diante da morte e atinge todos
os seres humanos independente de sua classe social, econômica e credo religioso
(KOVÁCS, 1992). Diante de um grande sofrimento e possibilidades de iminente
morte o ser humano tende no momento de desamparo recorrer á religião como
principal recurso que surge como função de defesa aplacando o momento de
angústia que o sujeito vive (GRANHA, 2000). O medo da morte, no entanto, não era
compreendido da mesma maneira pelos homens á alguns séculos atrás, tendo seu
significado alterado atualmente em nossa sociedade (RODRIGUES, 2006). Esse
signo de alteração do medo da morte se explica melhor pela noção básica de quem
em nosso inconsciente, a morte nunca é possível se tratando em nós mesmos
(KUBLER-ROSS, 2012).
A morte durante séculos atrás era racionalizada, celebrada em clima de festa,
vivida como parte integrante da vida (OLIVEIRA, 2002). A morte em nossa
sociedade atual torna-se vergonhosa, é negada durante toda vida, tenta-se fugir
dela, passa a ser impessoal como objeto de interdição (ARIÉS, 1977 / 2012). Todo
esse movimento de representações históricas sobre a morte em nossa sociedade
causa um mal estar também no território da UTI de tantos desequilíbrios, incertezas,
paradoxos e frequentemente luta pela vida (OLIVEIRA, 2002).
Diante da urgência biológica, surge uma urgência psíquica e dependendo do
contexto o trabalho do psicólogo será realizado centrando a morte e as várias
formas que o paciente e seus familiares vão lidar no momento de desestruturação
emocional (GRANHA, 2000).
Em todo processo em que ocorre uma perda, sendo real ou imaginária na
vida do sujeito, ocorre um processo de elaboração, também acompanhado por um
processo de luto (CHIATTONE, 2012). Este é caracterizado como um processo de
perda geralmente reservado a uma pessoa amada, que assemelha-se a uma ferida
22
física mais do que como qualquer outra doença e que é uma resposta normal á um
evento de estresse.(PARKES, 1998). O mesmo autor defende a idéia de que o Luto
faz parte de uma doença e que não deve ser visto de forma negligenciada,
considerando o mesmo como grande problema de saúde mental.
A estudiosa Kubler Ross (2012) propõe em seus estudos cinco estágios de
luto que podem ser observados em pacientes e familiares, contudo, se tratando do
ambiente de UTI e na maioria das vezes o paciente estar clinicamente em sedação,
pode-se analisar facilmente nos familiares, sendo eles:

Negação e isolamento: Ao tomar conhecimento sobre prognostico ruim,
o paciente ou ente querido reagem ora com negação, ora se isolando, sendo
considerado como uma defesa temporária para aliviar o ego de sentimentos
angustiantes.

Raiva: Quando o primeiro estágio não se mantém firme, o sentimento
de raiva, revolta e ressentimento, torna-se freqüente, sendo muito difícil do ponto de
vista da equipe em lidar com essa situação através de intensas projeções do
paciente ou familiar.

Barganha: Normalmente observado nos familiares se tratando de UTI,
esse processo tem como objetivo promessas, metas auto impostas que são
normalmente feitas com Deus ou alguma divindade da crença do sujeito caso o ente
querido melhore e tenha alta hospitalar. Pode ser analisado também em pacientes
que saem do processo de sedação e ficam por um determinado prazo internados em
UTI

Depressão: Quando o paciente não pode mais negar sua doença,
quando é submetido á vários procedimentos invasivos ou cirurgias sem melhoras
significativas, começa a apresentar novos sintomas e tornar-se mais debilitado. Sua
revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda, podendo ser
observado também em familiares.

Aceitação: O paciente que tiver tido tempo necessário e recebido
alguns tipos de auxílios para superar seu eventual problema, poderá atingirá um
estágio em que não mais sentira raiva, revolta ou depressão. Terá conseguido
externar seus sentimentos, sentindo necessidades constantes de cochilar, dormir
para alívio de sua dor. Nesse estágio é comum a dificuldade dos familiares em
23
aceitar essa nova condição do ente querido, sendo observado muitas vezes
necessidade constante de apoio psicológico aos familiares.
É importante compreender que os cinco estágios de luto propostos pela
autora, o indivíduo não necessariamente passa pelos cinco estágios e o tipo de
estrutura de personalidade do sujeito interfere na sua devida seqüência.
Outro fenômeno muito comum na dinâmica do ambiente de UTI é que
Kovács (1992) denomina como luto antecipatório como sendo o processo de
elaborações de perdas que ocorre com o ente querido em relação ao paciente que
ainda encontra-se com vida. Na maioria das vezes observa-se nesse mesmo
processo uma degeneração física ou psíquica de sentimentos ambivalentes naquele
que cuida, surgindo o desejo de que o familiar morra para aliviar o sofrimento de
ambos, despertando sentimentos de culpa. Ver a dor é sentir-se impotente para
promover o alívio e o bem estar da pessoa amada, pode ser causa de grande
sofrimento e impacto emocional. Para Sadock, B. J; Sadock (2007), no processo de
luto convencional, a intensidade da dor diminui com a passagem do tempo e
tratamento adequado e já no luto antecipatório a intensidade da dor pode aumentar
ou diminuir á medida que a perda esperada se torna iminente. O autor Fonseca
(2004), enfatiza o luto antecipatório como fenômeno que tem o processo de
enfrentamento como seu elemento primário em que implica no encontro do sujeito
com o estressor numa tentativa dinâmica de combatê-lo onde a mesma pessoa pode
resistir a ele, administrá-lo ou superá-lo. O mesmo autor descreve quatro principais
processos intra psíquicos que podem ocorrem no familiar em luto antecipatório de
fundamental importância para intervenção do profissional psicólogo no contexto da
UTI, sendo eles:

Consciência e adaptação sobre ameaça de morte gradual: Nela o
familiar, torna-se progressivamente consciente da ameaça da perda iminente, tendo
que lidar com todas as suas reações geradas. É importante nesse período que o
psicólogo possa transmitir informações apropriadas e claramente compreensíveis,
evitando-se termos e jargões médicos

Processos Afetivos: Reações de sentimentos do ente querido como a
culpa, tristeza, depressão, raiva, hostilidade e ansiedade
24

Processos Cognitivos: Na medida em que a perda ocorre de maneira
real, os familiares começam a reconhecer as necessidades de mudança na sua
própria identidade, pelos novos papéis que terão de assumir. Tentem a colocar a dor
no doente, a sua própria e a morte dentro de um contexto religioso que lhes
possibilitem de significados ou explicações

Planejamento para o futuro: Nessa etapa ocorre uma propensão á
diminuição de sentimentos de culpa e a pensar no futuro sem a presença do doente.
Em um determinado momento, o planejamento do futuro torna-se natural pois
implica em se ter compreensão do que ocorrerá no futuro em termos de mudanças e
perdas a serem enfrentadas.
O psicólogo pode auxiliar no processo de desidentificação e possível
reinvestida libidinal do familiar com paciente no processo de luto antecipatório,
favorecendo assim na elaboração de sentimentos expressos como a raiva, tristeza,
solidão e abandono, oferecendo um ambiente acolhedor e de continência tão
esperado em um local de grande sofrimento que é a UTI (KOVÁCS, 1992). Diante
do processo de perda, cabe ao psicólogo no trabalho com os familiares esclarecer
duvidas práticas a respeito da situação que o familiar está vivenciando, ajudá-lo no
que diz respeito ao compartilhamento de sentimentos, auxiliá-lo no esclarecimento
de aspectos não verbalizados, facilitar no processo de tomada de decisões, auxiliar
os familiares na eliminação de fatores de risco que podem contribuir para o
desenvolvimento de um processo de luto patológico e apoiar os familiares para lidar
com emoções presentes no contexto de morte e separação (FONSECA, 2004).
Neste momento paciente em UTI e seus familiares, estão afrontando todos os
preceitos de negação da morte, como se mostrassem a cada instante que a morte,
embora negada de forma veemente pela sociedade é algo existente e inevitável
(CAMON, 2004).
A possibilidade de intervenção do psicólogo no ambiente da UTI é
fundamental para que com seu aparato técnico possa minimizar o sofrimento
causado pela internação do paciente e seus familiares, bem como facilitar melhores
estratégias de enfrentamento destes como forma de amortecer o sofrimento psíquico
causado pelo processo de hospitalização em Unidades de Terapia Intensiva.
25
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
psicologia
como
área
de
atuação
nos
hospitais
com
equipes
multiprofissionais é recente se comparado a outras áreas do campo da saúde que
contemplam esse ambiente marcado pela metáfora da morte. A inserção do
psicólogo em hospitais evoluiu nos últimos 30 anos, contudo a partir do ano de 2000,
a Psicologia Hospitalar foi reconhecida como uma especialidade pelo Conselho
Federal de Psicologia com o apoio da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar.
A evolução histórica lenta, porém gradativa nos remete a reflexão do quanto é
desafiante a atuação do psicólogo no contexto hospitalar, defrontando - se
diariamente com situações de urgências, emergência, crises, conflitos, transtornos
psicopatológicos, fantasias, medo da morte, formas de enfrentamento do paciente e
seus familiares.
A Unidade de Terapia Intensiva, difundida no Brasil a partir da década de 60 é
o setor do hospital caracterizado como distante, isolado, geralmente localizado no
último andar do hospital, com janelas fechadas, luz artificial, temperatura constante,
com objetivos voltados ao atendimento em situações de urgência, emergência,
manutenção da vida que favorecem no paciente e seus familiares o surgimento de
sintomas psicopatológicos como o Transtorno de Estresse Pós Traumático,
Depressivo, Ansioso, de Pânico e Dissociativo.
O paciente quando internado nesse local, apresenta dificuldades em sua fala
por estar entubado, inconsciente, sedado ou confuso e os familiares podem
desorganizarem-se diante de toda situação ansiogênica vivenciada pelo ente
querido. Com isso, poderão desencadear conflitos pré existentes, cujas estratégias
de enfrentamento podem ser positivas ou negativas e o processo de elaboração do
luto se faz presente.
O Psicólogo ao se defrontar com toda dinâmica da UTI no desenvolvimento
do trabalho com a tríade, paciente, equipe e família, encontra algumas dificuldades,
tendo o seu grande desafio fundamentar e instrumentalizar técnicas de intervenções
psicológicas que atendam a demanda específica.
A atuação do Psicólogo deve ser de pronta intervenção pela sua formação
pautada para análise de quadros comportamentais e situações de risco, sendo
importante ressaltar sua inserção junto á equipe para somar com seu saber e fazer,
26
promovendo amplo suporte do paciente e familiar em sua dimensão biopsicossocial
no favorecimento a manifestações de medos e fantasias.
Através do desenvolvimento desse trabalho, compreende-se a importância da
inserção do Psicólogo nesse setor, onde tudo é intenso, o tratamento, os riscos, as
emoções, o trabalho, os custos e a esperança; com sua atuação flexível conforme
os imprevistos de situações que podem transformar-se emergenciais, pautado sua
técnica em métodos científicos visando á prevenção, promoção de formas de
enfrentamento mais adequadas e tratamento do processo saúde-doença, com
planos terapêuticos bem definidos, objetivos claros e intervenções pontuais,
instrumentos de avaliação e acompanhamento do risco emocional, criando
condições de favorecimento na elaboração da eventual situação de crise, adaptação
e as mudanças necessárias no paciente e seus familiares durante estadia na UTI.
27
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