QUEDAS EM IDOSOS SUAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS Rubia Caldas Umburanas1, Lorena Pohl1, Raquel de Mello1, Vanessa Cristina Novak (orientadora)2 1 Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Fisioterapia/ Rua Simeão Camargo Varela de Sá, nº.03, 85040080, Guarapuava-Pr, [email protected] 2 Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Fisioterapia, Guarapuava-PR [email protected] Resumo- No processo de envelhecimento ocorrem diversas alterações biológicas no idoso como diminuição da força muscular, do equilíbrio, das respostas reflexas, da acuidade visual, da massa óssea levando a osteoporose e o comprometimento neuromuscular. Devido a estas alterações o idoso esta sujeito a outros agravantes que podem interferir ainda mais na sua funcionalidade como as quedas, estas podem resultar em conseqüências graves levando-o inclusive a uma fratura, que além da dor, compromete a funcionalidade da região acometida, sendo a fratura na porção proximal do fêmur a mais comumente encontrada. Além disso, as quedas trazem também conseqüências psicológicas, tornando o idoso ansioso e com medo de sofrer uma nova queda, o que leva a imobilidade. Objetivo: realizar um levantamento literário sobre as principais causas e conseqüências das quedas em idosos. Metodologia: realizar uma revisão da literatura a fim de levantar estudos sobre o assunto em questão. Portanto, se faz necessário promover ao idoso um ambiente seguro que garanta sua independência funcional e qualidade de vida, prevenindo o risco de quedas. Palavras-chave: quedas, fraturas, quedas em idosos, envelhecimento. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde Introdução No processo de envelhecimento ocorrem diversas alterações biológicas no idoso como diminuição da força muscular, do equilíbrio, das respostas reflexas, da acuidade visual, da massa óssea pela osteoporose e o comprometimento neuromuscular. Devido a estas alterações o idoso esta sujeito a outros agravantes que podem interferir ainda mais na sua funcionalidade como as quedas (DELIBERATO, 2002). Aas quedas são uma das principais causas de acidentes em idosos, podendo comprometer tanto sua independência nas atividades de vida diária como sua saúde (DELIBERATO, 2002). As quedas devem-se à várias causas que podem ser intrínsecas, como alterações fisiológicas e patológicas e uso de medicamentos, ou extrínsecas, como fatores ambientais, podendo resultar em conseqüências graves levando-o inclusive a uma fratura (SIQUEIRA et al, 2007; GONÇALVES et al, 2008). Esta leva a dor e compromete a funcionalidade da região acometida, sendo que em idosos um dos problemas ortopédicos comumente encontrados é a fratura de quadril, principalmente na porção proximal do fêmur na área articular do quadril (KISNER e COLBY, 1998). Outras fraturas como fraturas distais do radio, fraturas proximais de úmero e fraturas por compressão vertebral também podem ocorrer, porém com menos freqüência (OLIVEIRA, 2004). Além disso, as quedas trazem também conseqüências psicológicas, tornando o idoso ansioso e com medo de sofrer uma nova queda, o que leva a imobilidade reduzindo a circulação sanguínea levando a trombose, dificuldade na respiração, diminuição do condicionamento físico e risco de pneumonias, diminuindo assim sua auto-estima e aumentando sua dependência (PUSSI e ZINNI, 2004) Visando levantar as principais causas e conseqüências de quedas em idosos, uma vez que o processo de envelhecimento populacional avança rapidamente, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão da literatura, a fim de direcionar a promoção e prevenção da saúde dos idosos. Metodologia O presente estudo caracteriza-se por uma revisão literária. Foram consultados publicações do período de 1993 a 2009, nas bases de dados Scielo, Lilacs, periódicos e livros afins. Os descritores utilizados foram quedas, fraturas, causas de quedas, quedas em idosos e envelhecimento. Resultados O aumento no crescimento da população de idosos e consequente expectativa de vida, têm gerado modificações em seu perfil de XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 morbimortalidade. Das doenças crônicodegenerativas, as quedas são agravos prevalentes entre aqueles passíveis de prevenção (SIQUEIRA et al, 2007). Em um estudo realizado com 180 idosos asilados (GONÇALVES et al, 2008), com mais de 65 anos a prevalência de quedas foi de 38,3%. Destes 27,5% sofreram alguma fratura sendo mais comum em membro inferior a de fêmur proximal (31,6%) e em membro superior a de úmero e cotovelo com (10,5%). E 50,6% do total dos entrevistados precisavam de algum auxílio para se movimentar. Segundo o estudo de Siqueira et al (2007), realizado com uma amostra de 4.003 idosos com mais de 65 anos, a prevalência de quedas foi de 34,8% e destes 12,1% tiveram alguma fratura como consequência. Os principais fatores associados as quedas foram idade avançada, sedentarismo, autopercepção da saúde ruim e aumento do número de medicações de uso contínuo. A diminuição da acuidade visual contribui também de forma significativa para quedas recorrentes (MARIN et al, 2004). Outro fator encontrado em alguns estudos (SIQUEIRA et al, 2007; GONÇALVES et al, 2008) foi que idosos separados ou divorciados apresentam um maior risco de quedas, isso se deve a não compartilhar de cooperação mútua, comum entre os casais nos cuidados com a saúde. Em um estudo de Garcia et al (2006), quanto a evolução dos idosos no primeiro ano após fratura de fêmur decorrente de quedas, realizado em 56 idosos com mais de 60 anos observou que a mortalidade foi de 30,35%, nos demais houve redução significativa da capacidade funcional para realização das atividades de vida diária e instrumentais, e aumento da incapacidade para deambular e da utilização de dispositivos de apoio. Segundo estudos de Marin et al (2004) feito com 51 idosos com mais de 60 anos, relacionado com o risco de quedas, 47% apresentavam diminuição da acuidade visual, 50,98% relataram histórico de quedas. Concluiu-se a importância da necessidade do início de cuidados preventivos o mais precoce possível em idosos, pois com avançar da idade maior é o risco de adoecer e morrer devido às quedas. Ainda nos estudos de Marin et al (2004) e Siqueira et al (2007) houve predomínio de mulheres ao risco de quedas pelo aumento da prevalência de doenças crônicas, maior exposição as atividades domésticas , declínio da força muscular, sendo importante portanto os cuidados de saúde com a mulher idosa. Discussão O envelhecimento é um fenômeno no processo de vida progressivo e inevitável, assim como a infância, adolescência e a maturidade, onde ocorrem diversas mudanças. Alguns fatores associados ao envelhecimento como a inatividade, a subnutrição e a doença crônica, são também importantes no declínio funcional ligado à idade (FRONTERA e LARSSON, 2001). Segundo Deliberato (2002) envelhecer envolve não somente o processo de adaptação física e a incapacidade funcional do individuo, mas também aspectos psicológicos e sociais, sendo estes importantes na avaliação e reabilitação do paciente idoso. É evidente o comprometimento do desempenho neuromuscular no idoso pela presença de fraqueza muscular, perda de força muscular, lentidão dos movimentos e fadiga muscular precoce. Como conseqüência os idosos, tanto mulheres como homens, apresentam limitações funcionais para caminhar, levantar-se, manter o equilíbrio postural e prevenir-se contra quedas, levando a dificuldades no desempenho das atividades da vida diária e na independência funcional (FRONTERA e LARSSON, 2001). Os músculos, na fase de envelhecimento, apresentam perda de massa e diminuição em sua área de secção, suas fibras tanto as brancas, de ação rápida tipo II, como as vermelhas, de ação lenta tipo I, se encontram em degeneração. No local que desaparecem as fibras musculares é preenchido com tecido conjuntivo (JACOB FILHO e SOUZA, 2000). Além disso, o aumento deste tecido não contrátil devido a gordura e o colágeno depositado aumentam a rigidez muscular (KAUFFMAN, 2001). Segundo Lustri e Morelli (2004), no envelhecimento ocorre a diminuição na espessura dos discos intervertebrais, pela perda de água e proteoglicanas, que determina reduções nas amplitudes dos movimentos das diversas regiões da coluna impondo, por vezes, a necessidade de uma movimentação em bloco da coluna vertebral, principalmente nos movimentos de rotação. Existem dois tipos de tecido ósseo, o osso cortical ou compacto, conforme figura 1, que possui funções mecânicas e protetoras, e o osso trabecular ou esponjoso, responsável pela função metabólica do esqueleto (CHECOVICH e SMITH, 2001). No idoso tanto o componente compacto como o esponjoso do osso, sofrem alterações devido ao envelhecimento, o compacto diminui em espessura devido a reabsorção interna óssea, e no esponjoso há perda de lâminas ósseas formando grandes cavidades entre as trabéculas ósseas (JACOB FILHO e SOUZA, 2000). Essa perda de massa óssea é caracterizada pelo XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 desequilíbrio no processo de modelagem e remodelagem óssea, ou seja, alteração na atividade dos osteoblastos e osteoclastos, podendo acarretar em osteoporose (LUSTRI e MORELLI, 2004). No envelhecimento o metabolismo do cálcio é desequilibrado havendo perda de cálcio na matriz óssea, pois ocorre a diminuição em número e atividade dos osteócitos, que controlam este metabolismo. Esta perda de tecido ósseo é diferente na mulher, pois após a menopausa este processo é mais intenso que no homem, já que após a menopausa os ovários diminuem a produção de estrógeno (JACOB FILHO e SOUZA, 2000). A osteoporose é uma das doenças mais comuns que ocorrem no envelhecimento, onde há o enfraquecimento dos ossos podendo provocar fraturas, devido aos ossos ficarem “porosos”. As fraturas na porção proximal do fêmur são comuns e estão associadas a maiores taxas de mortalidade do que todas as outras combinações osteoporóticas combinadas, devido ao comprometimento funcional (KRUEGER et al., 2001). Estudos mostram que a osteoporose associada ou isolada não deve ser considerada um fator etiológico de fraturas no quadril, mas sim um fator contribuinte (OLIVEIRA, 2004). As quedas em idosos são uma das causas mais freqüentes de fraturas, além disso, pode representar uma fonte de doenças, incapacidades e de morte entre os mesmos (MESQUITA et al, 2009; PUSSI e ZINNI, 2004). Sendo que a fratura proximal do fêmur é a mais comum e associadas a quedas são secundárias ao envelhecimento (MESQUITA et al, 2009). Um idoso que sofre uma queda pode vir a apresentar não só conseqüências osteomusculares ruins, mas também psicológicas diminuindo sua auto-estima e aumentando sua dependência. As quedas influem de forma significativa também, pois o idoso torna-se amedrontado e ansioso, pois sabe que já não é mais jovem e não possui, mas uma marcha e uma postura íntegras. Outra diferença entre idosos e jovens é a constância para o sedentarismo dentre os primeiros. Com isso, o medo de cair acaba sendo desenvolvido o que pode levar a imobilidade reduzindo a circulação do idoso levando a tromboses, dificuldade da respiração levando a pneumonias. Também surgem alterações no condicionamento físico e uma certa fadiga dificultando assim, sua independência (PUSSI e ZINNI, 2004). As fraturas de fêmur são as a mais comuns nos idosos, e na região proximal são classificadas como fratura do colo do femoral, intertrocantérica e subtrocantérica. As fraturas do colo femoral são fraturas intracapsulares e quando deslocadas interrompem o suprimento sanguíneo para cabeça femoral (OLIVEIRA, 2004). Esta interrupção leva a uma necrose avascular da cabeça femoral. Não ocorre muito em jovens, pois esta relacionada com a osteoporose. As forças que produzem estas fraturas são geralmente pequenas e ás vezes, é um simples movimento súbito de rotação para evitar uma queda que causa a fratura (SAUDEK, 1993). Medidas simples podem e devem ser adotadas para evitar as quedas em idosos, com custos financeiros muito baixos que resultariam em diminuição da ocorrência deste desfecho, e importante manutenção da qualidade de vida destas pessoas, tão comprometida nos casos em que ocorrem quedas (GONÇALVES et al, 2008). Conclusão Com isso, é importante salientar que a prevenção de acidentes, principalmente os domésticos, pode evitar essas quedas que, conseqüentemente, levam à vários danos. Um ambiente seguro com as devidas previdências tomadas, afim de garantir com segurança a independência do idoso, especialmente do lar, é de suma importância. Portanto, se faz necessário promover ao idoso um ambiente seguro que garanta sua independência funcional e qualidade de vida, prevenindo o risco de quedas. Referências -CHECOVICH, M.M.; SMITH, E.L. Efeitos do Envelhecimento sobre os Ossos. In: KAUFFMAN, T.L. Manual de reabilitação Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. -DELIBERATO, P.C.P. Fisioterapia preventiva: Fundamentos e aplicações. São Paulo: Manole, 2002. -FRONTERA, W.R.; LARSSON, L. Função da musculatura esquelética nas pessoas idosas. In KAUFFMAN, T.L. Manual de reabilitação Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. -GARCIA, R; LEME, M. D; GARCEZ-LEME, L. Evolução de idosos brasileiros com fratura de colo de fêmur secundária à queda. Clinics, São Paulo, v. 61, n. 6, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S1807-59322006000600009&lng=en&nrm= iso>. Acesso em: 1 Set. 2009. -GONÇALVES, L. G et al. Prevalência de quedas em idosos asilados do município de Rio Grande, RS. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 5, out. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-8910200 8000500021&lng=pt&nrm=iso>. Acesso: em 24 ago. 2009. -JACOB FILHO. W.; SOUZA, R.R. Anatomia e Fisiologia do Envelhecimento.In: CARVALHO FILHO, E.T.; PAPALEO NETO, M. Geriatria Fundamentos, Clínica e Terapêutica. São Paulo. Atheneu, 2000. -SAUDEK, C.E. O Quadril. In: GOULD III, J.A. Fisioterapia na ortopedia e na Medicina do Esporte. 2 ed. São Paulo: Manole, 1993. -SIQUEIRA, F. V et al . Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 5, Oct. 2007 .Available from <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_artt ext&pid=S003489102007000500009&lng=en&nrm =iso>. Acesso em: 1 Set. 2009. -KAUFFMAN, T.L. Fraqueza muscular e exercícios terapêuticos. In:________ Manual de reabilitação Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. -KISNER, C.; COLBY, L.A. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 3 ed. São Paulo: Manole, 1998. -KRUEGER, D.; CHECOVICH, M.M.; BINKLEY, N. Osteoporose. In: KAUFFMAN, T.L. Manual de reabilitação Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. -LUSTRI, W.R.; MORELLI, J.G.S.; Aspectos biológicos do envelhecimento.In: REBELATTO, J.R.; MORELLI, J.G. Fisioterapia Geriátrica: A prática de assistência ao idoso. Barueri: Manole, 2004. -MARIN, M. J. S et al. Identificando os fatores relacionados ao diagnóstico de enfermagem "risco de quedas" entre idosos. Rev. bras. enferm., Brasília, v. 57, n. 5, Oct. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S0034-71672004000500009&lng=en&nrm= iso>. Acesso em 30 Ago. 2009. -MESQUITA, G. V. et al. Morbimortalidade em idosos por fratura proximal do fêmur. Texto contexto - enferm., Florianópolis, v. 18, n. 1, mar. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S0104-07072009000100008&lng=pt&nrm= iso>. Acesso em 24 ago. 2009. -OLIVEIRA, A. S. Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de patologias traumato ortopédicas. In: REBELATTO, J.R.; MORELLI, J.G. Fisioterapia Geriátrica: A prática de assistência ao idoso. Barueri: Manole, 2004. -PUSSI, A; ZINNI, C. O papel da fisioterapia na prevenção na instabilidade e quedas em idosos. 2004. Disponível em: http://www.wgate.com.br /conteúdo/medicinaesaude/fisioterapia/traumato/in stabilidade_postural_idoso.htm. Acesso em: 30 ago. 2009. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4