0.21.3 A susceptibilidade magnética

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0.21. MAGNETISMO EM MEIOS MATERIAIS
0.21.3
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A susceptibilidade magnética
Tal como nos materiais dieléctricos, também para os materiais magnéticos é útil definir
uma susceptibilidade que traduza a forma como a magnetização responde a um campo
aplicado. A definição desta susceptibilidade tem no entanto duas particularidades em
relação ao que acontece nos materiais dielétricos:
• a primeira particularidade é que, conforme discutimos, os materiais magnéticos mais
relevantes, quer do ponto de vista do interesse fundamental, quer do ponto de vista
tecnológico, são os materiais ferromagnéticos, onde pode haver lugar a magnetização
mesmo depois da remoção do campo que lhe deu origem; é conveniente tratar pois
os materiais ferromagnéticos separadamente;
• a segunda particularidade é que, conforme discutimos na secção anterior, as correntes livres, e logo o campo auxiliar H, representam uma quantidade mais simples
de controlar directamente na execução experimental; há pois toda a conveniência,
na definição da susceptibilidade magnética χm para materiais lineares, isotrópicos
e homogéneos, de a definir como o coeficiente de proporcionalidade entre a magnetização e o campo H (em vez do coeficiente de proporcionalidade entre M e B,
como poderı́amos ser tentados a fazer por analogia com a expressão P = 0 χe E):
M = χm H
(268)
Podemos inserir esta definição na definição do campo H, (equação 266), resultando:
H=
B
B
B
B
− χm H ⇔ (1 + χm )H =
⇔ µr H =
⇔H=
µ0
µ0
µ0
µ
(269)
Onde definimos a pemeabilidade magnética relativa do meio µr e a permeabilidade
magnética do meio, µ, como:
µr = 1 + χm
(270)
µ = µr µ0
(271)
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0.21.4
Materiais ferromagnéticos
Conforme indicámos na introduccão, em alguns materiais os momentos magnéticos
atómicos interagem entre si, o que conduz as alinhamentos preferenciais dos momentos magnéticos e a vários tipos de ordem magnética. A ordem magnética mais conhecida
e mais simples é o ferromagnetismo, em que a interacção entre os momentos dipolares
magnéticos atómicos tende a alinhá-los todos paralelamente uns aos outros. Esta interacção está em geral em competição com a agitação térmica, que tende a desalinhar os
momentos magnéticos.
Em geral, os momentos magnéticos atómicos em materiais ferromagnéticos organizamse em domı́nios, isto é, regiões onde a magnetização é uniforme. Se bem que em cada
domı́nio a magnetização seja máxima (todos os momentos magnéticos atómicos se encontram alinhados), os diferentes domı́nios no material encontram-se orientados aleatoriamente, o que conduz a uma magnetização global nula. A formação de domı́nios corresponde à situação em que o sistema minimiza a sua energia total.
No entanto, atraveés da aplicação de um campo magnético externo, é possı́vel gerar
uma magnetização não nula. O mecanismo microscópico da geração da magnetização
num ferromagnete assenta precisamente na alteração das fronteiras do domı́nio, o que
permite que os domı́nios se orientem progressivamente na direcção preferencial ditada pelo
campo. Assim, o efeito do campo magnético consiste, para campos baixos, em alterar
as fronteiras dos domı́nios, favorecendo o crescimento dos domı́nios cuja magnetização
inicial seja paralela ao campo. Se bem que para campos baixos estas alterações sejam
reversı́veis, à medida aumentamos o campo externo aplicado (isto é, as correntes livres,
isto é, o campo H) as alterações nas fronteira dos domı́nios tornam-se irreversíveis. Para
campos suficientemente elevados, os próprios domı́nios começam a orientar-se globalmente
na direcção do campo aplicado, at se atingir a magnetização global de saturação.
O resultado - extraordinário - é que com a aplicação de campos externos relativamente
reduzidos é possı́vel obter campos magnéticos resultantes particularmente intensos, ”indo
à boleia” das correntes de magnetização. Isto torna os ferromagnetes materiais de interesse
tecnológico particualrmente relevante.
Se considerarmos agora o que acontece quando reduzimos o campo magnético aplicado (H), a magnetização não se reduz agora imediatamente, pois a diminuição da magnetização far-se-á através da criação de domı́nios (nesse sentido, em medidas precisas é
possı́vel identificar pequenos ”degraus” na curva de magnetização). Assim, quando se
reduz o campo aplicado até zero (H=0), obtém-se agora uma magnetização não nula, que
gera uma campo magnético B = µ0 M não nulo, designado remanência, sendo a magnetização respectiva a magnetização remanente. Para voltar a anular o campo magnético B
é agora necessário aplicar um campo externo Hc no sentido contrário à magnetização, designado coercividade, sendo Hc = −M. Em materiais de coercividade elevada, por vezes
também se define uma outra coercividade, Hci , que corresponde ao campo necessário para
voltar a anular a magnetização Hci = B/µ0 .
0.21. MAGNETISMO EM MEIOS MATERIAIS
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A curva correspondente para a magnetização em funcão do campo aplicado H
encontra-se representada na figura 17: em (a) a curva correspondente à magnetização
de uma amostra inicialmente desmagnetizada e em (b) a curva com o posterior comportamento da magnetização, ilustrando os conceitos de remanência e coercividade. A curva
da figura 17(b) costuma designar-se curva de histerese.
A curva de histerese condiciona fortemente as aplicações dos ferromagnetes, uma vez
que (conforme demonstraremos mais tarde) a energia dissipada (na forma de calor) ao
longo de um ciclo de histerese é proporcional à área definida pelo ciclo. É costume dividirse informalmente os materiais ferromagnéticos em duas grandes categorias:
• os materiais macios, fáceis de magnetizar e desmagnetizar, caracterizados por uma
coercividade e remanência reduzidas e logo por uma curva de histerese de área
reduzida, a que corresponde uma dissipação pequena; este tipo de ferromagnetes é
particularmente útil em aplicações onde seja necessário efectuar rapidamente e sem
grande perdas alterações da magnetização, tais como transformadores, geradores e
motores;
• os materias duros, difı́ceis de magnetizar e desmagnetizar, caracterizados por uma
coercividade e remanência elevadas e logo por uma curva de histerese de grande
área, a que corresponde uma dissipação elevada; os magnetes duros são úteis como
magnetes permanentes, por exemplo em microfones e altifalantes, em motores, ou
em gravação magnética.
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(a)
rotação da magnetização
alterações irreversíveis
das fronteiras
dos domínios
alterações reversíveis
das fronteiras dos domínios
campo aplicado
(b)
Figure 17: (a) Curva de magnetização de um ferromagnete inicialmente desmagnetizado,
ilustrando as três fases principais. (b) Curva de histerese de um ferromagnete.
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