Entrevista do Presidente Alexandre Tombini ao

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Brasília, 4 de agosto de 2011.
Entrevista do Presidente Alexandre Tombini ao Programa Bom Dia Ministro.
Veja também o vídeo da entrevista
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Olá, amigos em todo o Brasil. Eu sou
Kátia Sartório e começa agora mais uma edição do programa Bom Dia, Ministro. Esse programa é produzido e coordenado pela Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Hoje,
aqui, nos estúdios da EBC Serviços, o presidente do Banco Central, Alexandre
Tombini. Bom dia, presidente, seja bem-vindo.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: O prazer é todo nosso, presidente.
Na pauta do programa de hoje está a inflação. Nós vamos conversar com o
presidente do Banco Central sobre as últimas medidas do Banco Central. Ele já
está pronto para começar a conversar com âncoras de emissoras de rádio de
todo o país, neste programa que é multimídia - estamos ao vivo no rádio e na
televisão. Presidente, já está na linha a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, onde
está Ana Rodrigues. Bom dia, Ana.
REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): Presidente, a primeira pergunta é justamente sobre o volume de crédito na economia
brasileira, que tem crescido nos últimos anos, com o surgimento aí de um novo
segmento da classe média. Nós gostaríamos de saber, nesse momento, se a
situação é segura no mercado de crédito. As pessoas, elas estão respondendo
aos seus compromissos de pagamento, o governo está tranquilo com relação a
esse crescimento do crédito, em relação tanto ao controle de inflação, com esse crescimento do consumo, quanto ao cumprimento dos compromissos de
pagamento desses novos consumidores?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: O crescimento do crédito no Brasil tem
mostrado um dinamismo nos últimos anos. Ele vem crescendo, no nosso entender, de uma forma segura. O Banco Central tem todas as medidas aí para
que esse crédito continue crescendo, ao longo dos próximos anos. Naturalmente, esse momento é um momento de moderação da economia brasileira, e o
crédito, ele cresce menos do que cresceu no ano passado, mas, ainda assim,
de forma vibrante. A inadimplência cresceu em função do ciclo econômico, da
desaceleração da economia, mas está em níveis historicamente baixos, não é?
Então, o crédito continua crescendo. Como você mesmo disse, isso vem na
esteira do crescimento da classe média no Brasil; mais de 35 milhões de pessoas foram incluídas na classe média, 25 milhões surgiram por debaixo da linha da pobreza, então... O emprego vem crescendo no Brasil. No ano passado, mais de 2,5 milhões de empregos foram criados. Ou seja, há um processo
de formalização na economia brasileira e isso também se reflete no crédito, de
forma que o crédito vem crescendo dinamicamente, desacelera um pouco esse
crescimento, mas continua crescendo de uma forma saudável no nosso entendimento. Ainda o volume de crédito, comparado com outras economias, no
Brasil, não é dos maiores, é 50% do produto interno. Já é um volume razoável,
mas, comparado com outras economias, ainda é moderado.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ana Rodrigues, você tem outra pergunta?
REPÓRTER ANA RODRIGUES (Rádio Tupi / Rio de Janeiro - RJ): É justamente a preocupação em torno dos Estados Unidos, não é, nesse processo que os
Estados Unidos estão sofrendo, nesse momento, em relação a esse impasse
nas medidas, na questão, inclusive, de calote e problema político, inclusive envolvendo e influenciando na questão econômica do país. Como o Brasil pretende acompanhar esses passos dos Estados Unidos e quais são as medidas de
cautela do governo brasileiro com relação a essa questão do câmbio?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bem, o Brasil acompanha, Ana, a
questão internacional de uma forma muito criteriosa. A economia internacional,
hoje, afeta... Está muito integrada, afeta o Brasil. O Brasil está bem preparado
para um ambiente internacional mais desafiador, como é o caso que vivemos
hoje. Na questão dos Estados Unidos, houve um impasse em relação ao aumento da capacidade do governo de se endividar. Esse impasse, ele foi superado nessa semana e isso trouxe, naturalmente, um alívio aos mercados, mas
a situação da economia global é uma situação que inspira cuidados. O que nós
temos visto, desde o início do ano, é uma economia mundial que cresce menos, cresce menos do que se esperava. Tem sido o caso, nesses últimos meses, de revisões para baixo do crescimento da economia global. O Brasil está
preparado. O Brasil está preparado, inclusive, para uma agudização do ambiente internacional. Nós temos, hoje, mais reservas internacionais do que tínhamos antes da crise de 2008, temos recursos depositados no Banco Central
dos bancos, o chamado depósito compulsório, bastante maiores do que tínhamos antes da crise. Essas duas ferramentas foram importantes para que o
Brasil superasse de forma rápida, da forma como superou, a crise de 2008, de
modo que nós temos capacidade de enfrentar um ambiente internacional mais
difícil nos próximos meses, se for o caso.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, vamos, agora, à Rádio
Amazonas FM. De Manaus, no Amazonas, Patrick Motta.
REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Presidente, o Banco Central vem elevando a Taxa Selic desde o início de 2011. E
desde dezembro do ano passado, o governo vem tomando medidas voltadas
ao encarecimento do crédito para a pessoa física, além da elevação do depósito compulsório de bancos. Todo esse esforço de contenção da inflação, presidente, que, em 2011, deve ficar próxima do teto da meta, 6,5%, com expectativas para 2012 acima do centro da meta, que é de 4,5%, tem deixado o mercado apreensivo. O senhor teria como adiantar se o acerto monetário já acabou
ou se o Banco Central continua vendo necessidade de mais uma alta da taxa
básica de juros Selic em agosto, presidente?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: A nossa visão, no Banco Central, é
que o que já foi feito tem funcionado, está funcionando e vai ser sentido, ainda
com maior força, ao longo desse semestre, especialmente no último trimestre
do ano. O Banco Central, obviamente, não antecipa decisões, mas o que estava programado no nosso plano de voo inicial está ocorrendo. A economia vem
desacelerando, vai continuar crescendo, mas num ritmo mais lento do que
cresceu no ano passado, e a inflação já está num nível... Ela vem caindo. No
nível mensal, já está abaixo, inclusive, do centro da meta - foi o caso em junho,
será em julho e agosto -, e nós veremos a inflação acumulada em 12 meses,
essa que você mencionou, Patrick, reduzindo, de forma bem significativa, a
partir do quarto trimestre desse ano. Ou seja, nós teremos aí... Mesmo pelas
expectativas do mercado, nós temos uma inflação que vai cair pelo menos dois
pontos de percentagem, no período entre outubro deste ano e abril do ano que
vem. Então, a inflação está num pico neste mês de agosto e, daqui para frente,
ela cai de forma expressiva, dois pontos de percentagem nos próximos oito
meses, entre agosto e abril do ano que vem. De forma que o Banco Central
está focado, a meta é 4,5%, em 2012, essa que nós vamos perseguir, e eu acho que nós estamos certamente no caminho certo.
REPÓRTER PATRICK MOTTA (Rádio Amazonas FM / Manaus - AM): Presidente, o BC planeja, a médio ou longo prazo, a instalação, aqui em Manaus, de
uma agência do Banco Central, tendo em vista que o faturamento do Polo Industrial de Manaus, presidente, somente ano passado, superou a marca de
US$ 35,2 bilhões? Há, na ideia do Banco Central, a possibilidade de termos
aqui, em Manaus, um Banco Central?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bem, o Banco Central tem o dever de
atender a todas as suas regiões de uma forma adequada nos seus serviços, na
sua fiscalização das instituições financeiras. E a nossa preocupação, sim, é
que o estado do Amazonas, a cidade de Manaus, seja atendida pelo Banco
Central. Nós temos, hoje, uma regional, como você sabe, Patrick, em Belém,
nós temos Brasília também, que tem uma acessibilidade, em relação a Manaus, bastante grande. Brasília também trabalha para cobrir o estado do Amazonas. Em relação a futuras expansões ou realocações, isso é um trabalho que
não depende só do Banco Central, tem a ver com as condições, inclusive fiscais, do setor público como um todo.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Vamos, então, a São Paulo, à Rádio
Capital AM de São Paulo. A pergunta é de Luis Carlos Ramos. Bom dia, Luis
Carlos.
REPÓRTER LUIS CARLOS RAMOS (Rádio Capital AM / São Paulo - SP): O
senhor está trazendo notícias positivas a respeito do controle da inflação, com
bastante otimismo, e, sem dúvida, o cidadão brasileiro pode acreditar, mesmo
porque o cidadão está livre da inflação há um bom tempo, praticamente desde
a criação do Plano Real, desde o Real, em 1994. Então, são 17 anos, praticamente, de uma certa tranquilidade e prosperidade, também, nos últimos anos.
Agora, recentemente, foi publicada uma relação das cidades mais caras do
mundo, e São Paulo aparece em décimo lugar, o Rio logo em seguida, também. Luanda, em Angola, é a cidade mais cara. O senhor acredita que isso
seja em torno de aumento do poder aquisitivo nosso, aqui, do Brasil, ou tem
relação também com o fato de o Real ter ficado mais potente em relação ao
dólar?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Excelente pergunta, Luis Carlos. Eu
creio que... Bom, como você mesmo disse, a inflação está sob controle. Nós
estamos trabalhando para isso. Não é uma questão de otimismo do Banco
Central, mas o Banco Central e o governo vêm trabalhando para assegurar que
essa inflação convirja aí para o centro da meta em 2012, o centro de 4,5% ao
ano. Em relação ao custo de vida no Brasil, você mesmo disse, quer dizer, tem
a ver com o poder aquisitivo da moeda brasileira. Não só da moeda brasileira,
mas nós estamos vivendo hoje, no mundo, um processo, já de algum tempo,
de enfraquecimento global do dólar norte-americano. Então, essas comparações são feitas em dólares, não é? Então, você tem moedas, como a moeda
brasileira, moeda australiana, moeda canadense, a moeda chilena, a moeda
suíça, o próprio Euro, vêm se fortalecendo em relação ao dólar, e isso tem sido
refletido, entre outras coisas, também no poder aquisitivo das moedas em relação ao dólar e no que você menciona, no custo de vida. Mas o importante é
que a inflação, ela já recuou, está indo na direção que nós queremos e que nós
estamos trabalhando, direção de 4,5%, em 2012.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Luis Carlos, você tem outra pergunta?
REPÓRTER LUIS CARLOS RAMOS (Rádio Capital AM / São Paulo - SP):
Sim. A respeito do grande número de brasileiros que, em função do aumento
do poder aquisitivo, passaram... Esses brasileiros passaram a ter condições de
viajar bastante pelo próprio Brasil, com passagens áreas a preços interessantes, e também viajando para o exterior. Muita gente que não viajava nem mesmo para os países da América do Sul, agora, tem viajado para os Estados Unidos e para a Europa. Isso não traria uma certa preocupação, presidente do
Banco Central, com relação à saída de dinheiro brasileiro para consumo lá fora?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Luis Carlos, o nosso balanço de pagamentos, o balanço entre as saídas e entradas de recursos, ele é positivo no
Brasil, extremamente positivo. E disso, inclusive, vem a força, aí, do Real e de
outras moedas em relação ao dólar. Então, essa questão de equilíbrio das nossas contas externas, em função disso, não é preocupação. Naturalmente que o
câmbio no Brasil, ele é flutuante e, portanto, ele flutua para os dois lados: ele
pode... Nesse momento, o Real se fortaleceu em relação ao dólar, eu falei que
é um processo internacional de enfraquecimento do dólar, mas isso pode mudar em função do ambiente internacional. Então, é sempre bom lembrar que o
dólar, hoje, que está barato, em termos da nossa moeda, do Real, pode não
ficar assim. Portanto, é sempre uma palavra de cautela nessa assunção de
compromissos em moeda estrangeira, quando os nossos salários aqui são pagos, as nossas rendas são em Reais. Então, tem que haver cautela no comprometimento, na realização de dívidas, de despesas em dólares.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, vamos, agora, mais uma
vez, tentar falar com a Rádio 730 AM, de Goiânia, em Goiás. Marcos Cipriano,
bom dia.
REPÓRTER MARCOS CIPRIANO (Rádio 730 AM / Goiânia - GO): Ministro,
tem se falado que o Brasil viveria uma espécie de bolha de investimentos internacionais e que o Brasil estaria dentro dessa bolha. Pelos indicativos da economia brasileira, o senhor acha que não há esse quadro, que o Brasil estaria
vivendo essa bolha de investimentos, que poderia, a qualquer momento, com o
câmbio flutuante, aí, o Brasil ser alvo de uma corrida, aí, de fuga de capitais?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Não, o Brasil tem tomado todas as
precauções para evitar esse, digamos, aproveitamento ingênuo desse dinheiro
fácil que existe hoje, no mundo, né? Então, o Brasil tem adotado medidas para
reduzir a velocidade de entrada desses fluxos de capitais do mundo, tem tomado medidas também nos mercados derivativos... Enfim, tem tomado as cautelas necessárias para evitar que, quando a situação internacional mude, tenha
esse tipo de situação que você menciona. Agora, o crescimento do investimento, por exemplo, no Brasil, tem sido bastante saudável: cresceu muito no ano
de 2010, esse ano vai crescer também forte. Isso é importante porque gera
capacidade para a economia brasileira para o futuro. Então, em termos de controlar, aí, o nosso equilíbrio, os nossos preços, é importante ter uma capacidade de oferta ampliada no Brasil, e esses investimentos vêm ajudando nesse
sentido, para que, no futuro, tenhamos uma economia mais forte no país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Marcos, você tem outra pergunta?
REPÓRTER MARCOS CIPRIANO (Rádio 730 AM / Goiânia - GO): Ministro,
há setores que criticam a alta dos juros, dizendo que o governo sempre insiste
na alta de juros para combater uma escalada inflacionária. É possível crescer,
ministro, com juros mais baixos e sem riscos de um consumo alto, que estimularia a volta da inflação?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Eu creio que, ao longo do tempo, nós
temos visto isso na economia brasileira. Ou seja, nós temos assegurado o equilíbrio, aí, da inflação, ao longo dos últimos anos, com a taxa de juros caindo.
Há sempre setores que criticam, eu acho que legitimamente, porque o custo do
dinheiro fica mais caro, quando o Banco Central e o governo combatem a inflação. Mas nós temos feito isso com uma economia que está crescendo, com
mercado de trabalho aquecido, os investimentos bem fortes, o emprego está
muito bom. A economia vai moderar, para trazer a inflação para a meta, mas
vai continuar crescendo - esse ano, 4% na projeção do Banco Central. Então,
nós estamos trabalhando com as nossas ferramentas, para trazer essa inflação
de volta para a meta, e a economia continuará, nesse período, crescendo. E ao
longo do tempo, sim, eu acho que será possível, em um futuro, termos taxas
mais baixas, com inflação sob controle.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministro, vamos agora a Curitiba, no
Paraná, conversar com a Rádio Banda B de Curitiba. Denise Mello, bom dia.
REPÓRTER DENISE MELLO (Rádio Banda B / Curitiba - PR): Curitiba aparece, nos últimos levantamentos, como a capital brasileira com maior nível de
endividamento. Aqui é muito comum a gente encontrar muita gente com carro
importado, sabe, até acima da média brasileira. E a grande preocupação é esse volume de crédito, que bolha que pode acontecer, né? O senhor imagina
que esse volume de crédito na economia brasileira, que dobrou nos últimos
anos, se aproximando agora na marca de 50% do PIB, pode trazer consequências... Que tipo de consequências, ministro?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bom dia, Denise! O Banco Central tem
estado atento a esse processo, tem acompanhado. Nós temos uma regulação
bancária bastante rígida no Brasil, uma supervisão bem intensa, inclusive reconhecida internacionalmente. Isso ficou demonstrado na crise de 2008. Nós temos agido sempre à frente dos potenciais riscos, né? Em dezembro, você se
lembra, o Banco Central dobrou o requerimento que os bancos têm que ter, em
termos de reserva, para fazer frente a perdas no crédito. Ou seja, principalmente naquelas operações mais arriscadas, de prazos muito estendidos, prazos
que iam além, inclusive, da vida útil das garantias, dos automóveis, enfim. E
isso gerou resultados. O prazo médio das operações tem caído, reduziu sensivelmente, e as concessões moderaram na ponta. Então, nós temos uma situação, hoje, que o crédito cresce de fato, mas na esteira do crescimento da renda, na esteira do crescimento do emprego, na esteira, também, dessa mudança estrutural que está ocorrendo na economia brasileira, onde nós temos mais
de 35 milhões de pessoas, hoje, que ingressaram na classe média, que não
estavam lá e, hoje, têm capacidade, não só de consumir, mas de tomar crédito
e, também, de repagar suas contas. É natural que a inadimplência suba, em
um processo de aperto das condições monetárias e financeiras, mas nada que
seja diferente do que foi a nossa média histórica, ao longo dos processos de
aperto, por exemplo, da política monetária. Então, o Banco Central está atento,
vem tomando medidas, e o Brasil vai continuar crescendo, trazendo a inflação
para baixo, e sem bolha, sem estouro de bolha, lá na frente.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Denise Mello, você tem outra pergunta?
REPÓRTER DENISE MELLO (Rádio Banda B / Curitiba - PR): Ministro, eu
gostaria de saber também... Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Fernando
Pimentel, ele afirmou que o Brasil entrou para o clube dos países com a moeda
valorizada e que é preciso se acostumar com esse novo valor do dólar. A gente
pode imaginar que esse é um valor próximo do que teremos, esse valor em
torno de R$ 1,58 mais ou menos, que teremos aqui para frente? Essa é a realidade, ministro?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Denise, como você sabe, o câmbio no
Brasil é flutuante. Então, ele pode variar ao longo de tempo. Ele tem variado.
Nós vivemos hoje um processo de enfraquecimento do dólar, não é? Esse enfraquecimento tem a ver, por exemplo, com as políticas que estão sendo ado-
tadas nos Estados Unidos: política de apoio, tentativa de recuperação da economia, uma taxa de juros próxima de zero, com políticas de compra de títulos,
ou seja, injeção de liquidez, no mercado, e isso tem feito com que o dólar, hoje,
no mundo, esteja mais fraco do que ele já esteve. Então, essa parte do processo, de valorização do Real, tem a ver com a política que é adotada nesses outros países. Não é só o Real, são várias moedas. Isso, no futuro, será revertido.
Quando será? Difícil predizer, mas o câmbio, mais uma vez, no Brasil, ele flutua e ele responde à situação internacional, e essa situação deve mudar ao
longo dos próximos meses, trimestres e ano.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, vamos agora a Belo Horizonte, Minas Gerais, conversar com a Rádio Itatiaia. Carlos Viana, bom dia!
REPÓRTER CARLOS VIANA (Rádio Itatiaia / Belo Horizonte - MG): A minha
primeira pergunta é a seguinte: ontem nós tivemos... anteontem - desculpe -,
já, e ontem, bastante noticiada os primeiros índices negativos da indústria brasileira já como efeito da elevação da taxa de juros, por conta do processo de
contenção da inflação, e a expectativa da indústria, inclusive, é de que, até o
final do ano, esse crescimento se mantenha em zero ou até negativo também,
com ressalvas para a produção do Natal. Eu pergunto ao senhor, Dr. Tombini:
por que, ao contrário de aumentar a taxa de juros, o Banco Central não obriga
os bancos a recolherem mais depósitos junto ao governo, para evitar o aumento do crédito e a grande quantidade de moeda disponível, ao contrário de aumentar essa taxa, que tem efeitos muito graves no país?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Obrigado, Carlos, pela pergunta. Eu
estive essa semana em Belo Horizonte, na Fiemg, tive a oportunidade de discutir com a indústria, com a indústria de Minas Gerais, essas apreensões em
relação ao momento da economia. É natural, nesse período, nós termos indicadores diversos. Quer dizer, por um lado, a indústria, de fato, já de algum
tempo, vem crescendo pouco e o número de junho foi um número negativo. Por
outro lado, nós temos uma demanda na economia que ainda cresce e cresce
de forma expressiva. Nós temos um mercado de trabalho bem aquecido... Enfim, tem indicadores mistos em relação ao momento da economia. Mas, naturalmente, essa questão da indústria é reconhecida. Nós temos acompanhado
isso com cuidado. Em relação às nossas políticas, nós, de fato, usamos os juros como instrumento de controle da inflação, de controle da demanda, mas
nós temos também, ao longo do tempo, usado o depósito compulsório. O depósito compulsório foi usado, nos últimos anos, diversas vezes. Inclusive, na
virada do ano, nós fizemos mais um ajuste, recolhendo, como você mencionou,
a liquidez que estava nos bancos, recolhendo para dentro do Banco Central.
Só para ter uma ideia, Carlos, antes da crise de 2008, nós tínhamos R$ 250
bilhões recolhidos ao Banco Central do sistema bancário; hoje, nós temos cerca de R$ 420 bilhões recolhidos. Ou seja, o enxugamento de liquidez, via compulsório, tem sido, de fato, utilizado pelo Banco Central como você recomenda.
Este é um processo amplo. Nós temos aí juros, o compulsório e outras ferramentas para assegurar a estabilidade monetária e também a estabilidade financeira do país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Carlos Viana, sua segunda pergunta.
REPÓRTER CARLOS VIANA (Rádio Itatiaia / Belo Horizonte - MG): Dr. Alexandre, nós temos uma divulgação, aqui, do último número, de que o Brasil tem
US$ 347 bilhões em reserva. O Banco Central, inclusive, ao que parece, comprou... De cada US$ 10 dólares que entraram no país, US$ 8 foram para o
Banco Central. Agora, se essa situação começa a se reverter... Nós temos aí a
possibilidade até já vista de uma recessão nos Estados Unidos, a indústria lá,
também, crescendo, patinando, a geração de empregos. Esse fantasma de um
retrocesso... de uma recessão, desculpe, na economia americana, pode mudar
esse sistema nos próximos anos. Qual é o risco que nós corremos em relação
a essa reversão da entrada de dólares, hein, presidente?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Boa pergunta, Carlos. Eu acho que o
Brasil, hoje, está preparado. Ele tem, como eu falei, tem liquidez em reais, depositados no Banco Central, muito maior do que tinha antes, por exemplo, da
crise de 2008, quando nos saímos muito bem, e temos um nível de reserva de
347, como você menciona. Tínhamos, antes da crise de 2008, 205 bi. Então,
são ferramentas que nós temos para, se for o caso, no agravamento da crise,
utilizar de forma a prover esses recursos em Reais, para que o crédito continue
funcionando, o crédito interno, a economia continue funcionando por um lado, e
por outro, em havendo um choque internacional, temos a liquidez em dólar, em
moeda estrangeira, para, por exemplo, financiar o nosso comércio exterior num
período mais complexo. Então, isso é uma garantia que nós temos a mais no
Brasil, hoje, na nossa estrutura, para fazer frente a um ambiente internacional
que pode, como você mesmo menciona, mudar num curto prazo.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente Alexandre Tombini, do
Banco Central. Vamos agora a Ribeirão Preto, em São Paulo, conversar com a
Rádio Bandeirantes. João Marcos, bom dia.
REPÓRTER JOÃO MARCOS (Rádio Bandeirantes / Ribeirão Preto - SP): O
sufoco por que passou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para
aprovar o aumento do teto do endividamento por lá, vai exigir também um sacrifício da população norte-americana e também da classe empresarial dos Es-
tados Unidos. Cinto apertado, presidente. O senhor teve uma redução nos negócios entre o Brasil e os Estados Unidos por causa desse arrocho, incluindo
commodities, que o Brasil tem exportado bastante, que interessam aqui a Ribeirão Preto e à região do interior do estado de São Paulo, presidente?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: É, de fato, o que nós temos visto na
economia internacional é que, desde o começo do ano, o crescimento global
tem sido revisado para baixo. Ou seja, a economia vai crescer, no ano de 2011,
menos do que se pensava no início deste ano. Então, isso tem muito... Está
muito relacionado com o que ocorre nos Estados Unidos, onde o mercado de
trabalho não se recupera na velocidade... Eles perderam mais de oito milhões
de empregos na crise de 2008. O mercado imobiliário também sofre ainda as
consequências da crise. E a recuperação tem sido, a despeito do uso dos instrumentos de política monetária e fiscal nos Estados Unidos, bastante vagarosa
essa trajetória de recuperação. Isso, para o Brasil, independentemente de eventos específicos que possam ocorrer no futuro próximo, nos diz o seguinte:
que a economia, esse ano, cresce menos do que nós pensávamos, que todos
pensavam. Então, isso tem repercussões sobre, por exemplo, como você menciona, a evolução dos preços das commodities, que mostrou um dinamismo
muito forte ao longo dos últimos anos, em função do crescimento da economia
global. Nós não estamos prevendo no Banco Central ajustes de preços para
baixo nas commodities. Nós achamos que há demanda de emergentes, de
China, de Índia, de Brasil, que vai sustentar os preços, mas nós não vemos
aquela inflação de commodities que vimos ocorrer no segundo semestre de
2010. E isso, por um lado, nos ajuda também no combate à inflação nesse ano.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente do Banco Central, vamos
agora a Fortaleza, no Ceará, conversar com a Rádio Verdes Mares, de Fortaleza. Nilton Sales, bom dia.
REPÓRTER NILTON SALES (Rádio Verdes Mares / Fortaleza - CE): Presidente, o que se tem visto e ouvido é que moeda fraca, dólar fraco, principalmente, ameaça de calote. O Brasil acredita num calote, está preparado para
isso?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Nilton, eu acho que ninguém está preparado para um calote, mesmo porque ele também não ocorreu. Agora... Nós
estávamos aí na expectativa da semana passada, início dessa semana. E a
questão nos Estados Unidos foi superada. Mas, de fato, há uma preocupação
nesse processo de fraco crescimento da economia norte-americana, de uma
recuperação ainda da crise muito lenta. Isso levando a um processo onde as
políticas lá, principalmente a política monetária e financeira, nos Estados Uni-
dos, vai continuar muito frouxa pelos próximos meses, trimestres, quem sabe
anos. E isso gera desafios para os países, em particular para o Brasil, que tem
sido um polo de atração de capital, e isso é uma situação que deve permanecer nos próximos meses, muito em função do que você menciona, ou seja, de
uma economia norte-americana enfraquecida, em lenta recuperação. Então,
esta é uma preocupação. Nós temos nos preparado, tomando as medidas para
evitar que esses fluxos venham bater aqui no Brasil, de uma forma muito intensa, nesse período de transição.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Vamos conversar agora, então, presidente, com a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, a sua terra, lá no Rio Grande
do Sul, onde está Leandro Staudt. Bom dia, Leandro.
REPÓRTER LEANDRO STAUDT (Rádio Gaúcha / Porto Alegre - RS): O
presidente do Banco Central, aí em Brasília, em uma situação mais confortável,
mas a gente sabe que a situação não é confortável em relação à inflação e
também ao dólar. E eu pergunto diretamente, presidente: o cenário, ele pede
mais medidas, medidas mais fortes, ainda, para conter o crédito e o endividamento do brasileiro e de alguma forma, também, segurando a inflação ou não?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Olha, Leandro, prazer falar contigo.
Nós estamos acompanhando essa questão de perto, a questão da inflação, a
evolução do mercado de crédito. Como você bem sabe, o Banco Central tem
tomado medidas, desde o início do ano, já na virada do ano, algumas medidas
importantes na área do crédito. O que nós temos visto é uma moderação, tanto
do crédito, um ajustamento nos prazos, uma eliminação daquelas operações
mais arriscadas, ou seja, prazos muito longos, inclusive, em alguns casos, acima da vida útil das garantias nas operações de crédito. Então, nós temos visto
uma evolução positiva do crédito crescendo mais com um aspecto, aí, de maior
segurança nas linhas que são estendidas. Nós vimos a subida da inadimplência. Isso está relacionado com o próprio aperto das condições monetárias, mas
essa inadimplência, comparada com a inadimplência histórica no Brasil, ela
está em níveis moderados. Nós estamos acompanhando isso de perto. Em relação à inflação, nós temos visto a inflação mensal cair, já cair abaixo do centro
da meta. Nos próximos meses, nós veremos essa trajetória de queda da inflação acumulada em 12 meses, que vai chegar no seu auge agora, em agosto,
mas, entre outubro e abril do ano que vem, ela cai pelo menos dois pontos
nessa trajetória. Então, as políticas estão surtindo efeito e, obviamente, o Banco Central não antecipa política, mas certamente que eu posso antecipar que
nós vamos acompanhar com cuidado tanto a evolução do crédito quanto da
inflação.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Leandro Staudt, você tem outra pergunta?
REPÓRTER LEANDRO STAUDT (Rádio Gaúcha / Porto Alegre - RS): Bom,
o presidente já falou que o juro, a gente sabe, é um mecanismo mais usado
para conter a inflação. Até que ponto a entrada de dólares tem preocupado e
atrapalhado nessa estratégia?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: É. O Banco Central tem sinalizado
preocupação em relação aos ingressos de moeda estrangeira no primeiro semestre do ano. Especialmente nos primeiros meses do ano foi muito forte. E
isso, de certa forma, desfez a nossa contenção da liquidez, porque a liquidez
em moeda estrangeira se traduz em liquidez em Reais aqui, expande o crédito
etc. Nós temos trabalhado também nesse flanco, ou seja, colocando não só o
Banco Central, mas o governo, por exemplo, o Imposto sobre Operações Financeiras nas entradas de recursos para investimentos em renda fixa, para as
captações de bancos e empresas. Então, nós trabalhamos no sentido de moderar esses fluxos. Os fluxos têm sido moderados, afora eventos específicos,
como tivemos agora em julho, mas nós vimos uma moderação no ingresso de
capital entre o primeiro e o segundo trimestre do ano, apesar dos volumes terem sido grandes, e é certo que o Banco Central se preocupa com o impacto
sobre a demanda dessa liquidez internacional entrando no país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Vamos agora, Presidente, a Belém
do Pará, conversar com a Rádio Belém FM, onde está Antônio Carlos. Bom
dia, Antônio Carlos.
REPÓRTER ANTÔNIO CARLOS (Rádio Belém FM / Belém - PA): Presidente
Alexandre, a situação do Banco Central, nesse tempo, nesses mais de 100 anos, já levou a melhoria em relação a outros bancos, que é ligado ao Banco
Central, Presidente? Bom dia.
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: O Banco Central tem se aprimorado ao
longo da última década, especialmente. Nós vemos hoje, o Banco Central tem
uma estrutura de política econômica bastante sólida, já vem seguindo o mesmo
modelo, esse modelo tem funcionado. Nós temos avançado na questão da supervisão e da regulação dos bancos no sistema financeiro. Hoje, o Banco Central é referência internacional, e isso foi demonstrado na crise de 2008, onde
Estados Unidos e Europa tiveram problemas com o seu sistema bancário, e, no
Brasil, o sistema financeiro, na realidade, inclusive ajudou a amortecer os efeitos dessa crise internacional. Então, eu diria, com segurança, que o Banco
Central vem avançando na última década, década e meia. Avançou com maior
velocidade, no sentido de consolidar a sua participação como condutor da política econômica monetária e, por outro lado, como regulador e supervisor do
sistema financeiro nacional. Eu creio que nós pudemos, de fato, nos orgulhar
desse avanço do Banco Central nessa última década e meia.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, vamos agora a Joinville,
em Santa Catarina, à Rádio Mais FM, de Joinville, onde está Marco Aurélio
Braga. Bom dia, Marco Aurélio.
REPÓRTER MARCO AURELIO BRAGA (Rádio Mais FM / Joinville - SC):
Joinville é uma das cidades... É a cidade mais industrializada, aqui, de Santa
Catarina. E a preocupação do empresariado, aqui, é que várias empresas estão fechando, indo, saindo de Joinville, se instalando, principalmente, na Zona
Franca de Manaus, atraídas, obviamente, pelas taxas cambiais aí, de países
emergentes. Qual é a medida do Banco Central para evitar o fechamento de
fábricas, principalmente aqui, no Brasil?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bom dia, Marco Aurelio. Excelente
pergunta. Bom, o Banco Central, a sua missão... Nós temos duas missões: entregar a inflação... a estabilidade monetária e assegurar que o sistema financeiro funcione de forma adequada, sem sobressaltos. Em relação à taxa de câmbio, o câmbio é flutuante no país, mas o Banco Central tem sinalizado, tem comunicado de que esse câmbio, nos níveis que está hoje, ele responde não apenas à fortaleza da nossa economia, aos fundamentos econômicos, como os
economistas gostam de dizer, mas responde, também, a esse processo de enfraquecimento global do dólar, não é? Nós temos tomado medidas. O Banco
Central e o governo têm tomado medidas para que esses fluxos de capitais que
vêm procurando retorno, que eles entrem de forma moderada no país. Quer
dizer, o país é aberto ao investimento estrangeiro, mas nós não queremos fluxos com muita intensidade, em grandes volumes, como tem ocorrido no começo desse ano. Então, nós tomamos medidas: o IOF sobre as captações de
bancos e empresas, as próprias medidas prudenciais do Banco Central, todas
no sentido... As medidas mais recentes, no mercado de derivativos de câmbio,
têm sido no sentido de que o país não sofra esse processo mais intensamente
na frente, esse processo de enfraquecimento global do dólar, que não é só um
problema do real, é um problema do dólar canadense, australiano, do peso chileno, enfim, de uma série de outras moedas que vêm sofrendo, se valorizando
contra o dólar. O Banco Central tem tomado e continuará tomando medidas
para assegurar que isso não gere riscos à estabilidade financeira lá na frente. É
um período de transição, um período duro. Nós temos conversado bastante
com lideranças da indústria, entendemos o momento, a questão da competitividade. E o governo também tem reagido a isso, com os seus programas de... A
própria política industrial, que foi anunciada recentemente, vem nessa direção,
também.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente do Banco Central, eu queria só voltar um pouquinho, ao início do programa, quando o senhor falou que o
pico da inflação vai ocorrer em agosto, é isso? Explica isso melhor para a gente, porque a gente está em julho, ainda, e nós já temos uma... O senhor já avalia que, em agosto, vai ter esse pico, mas, depois, ela começa a cair, é isso?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Exatamente. Quer dizer, o dado de
julho vai sair agora, na sexta-feira, vem em linha aí, mais ou menos, com o que
foi junho, em torno de 15 pontos de inflação. Inflação abaixo, inclusive, do centro da meta, quando analisada. Em agosto, este mês, portanto, a inflação acumulada em 12 meses ainda vai subir, vai chegar no pico, e, a partir de setembro, e mais fortemente no último trimestre - outubro, novembro e dezembro -, a
inflação, ela cai, e cai com firmeza. Em relação a esse período, o que nós temos pela frente, nos oito meses, de outubro a abril, o próprio mercado estima
que a inflação caia em torno de dois pontos. Essa inflação que vai chegar no
seu auge em agosto, ela cai dois pontos. Chegaremos lá, em abril, dois pontos... Com a inflação dois pontos menor do que ela vai se encontrar agora,
nesse período. De novo, Kátia: a inflação já está num nível mensal baixo, mas,
em função de efeitos estatísticos, porque, o ano passado, agosto foi muito baixo, a inflação, em 12 meses, ainda sobe e atinge o seu auge neste mês. Depois, ela cai, e cai, como eu falei, dois pontos de percentagem até abril, maio
do ano que vem. E, para frente, a nossa projeção é que nós vamos, então, em
direção ao 4,5% de inflação, no final de 2012, que é a meta do Banco Central.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: E nós, consumidores, aquele medo
daquela maquininha de remarcação de preços nos mercados, por exemplo.
Isso já é do passado, não tem esse problema?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Não, o Banco Central está sempre vigilante e, se for preciso, toma medidas para assegurar que essa inflação convirja para a meta. Mas nós temos a situação, hoje, de melhora na inflação. Essa inflação mensal já vem rodando níveis bastante baixos, e veremos a inflação, em 12 meses, caindo, no último trimestre desse ano e nos primeiros quatro meses do ano que vem, seguramente.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Vamos, então, conversar, agora, com
a Rádio Gazeta/CBN, de Cuiabá. A pergunta é de Michely Figueiredo. Bom dia,
Michely.
REPÓRTER MICHELY FIGUEIREDO (Rádio Gazeta/CBN / Cuiabá - MT):
Alguns analistas políticos, aqui, em Mato Grosso, tem avaliado que as medidas
tomadas pelo governo federal para conter o fortalecimento do Real e tentar valorizar o dólar não surtiriam efeitos, por conta do período eleitoral que se aproxima nos Estados Unidos. Seria... O presidente Barack Obama tomaria algumas medidas para que o dólar continuasse enfraquecido, para que continuasse
rendendo empregos nos Estados Unidos. Gostaria de saber do presidente qual
é a avaliação que ele faz dessa avaliação que foi feita por analistas políticos
daqui.
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bem, Michely, em relação aos Estados
Unidos, parece que o que é... Tem sido fato, nesses primeiros meses do ano,
de que o crescimento da economia será menor do que se supunha inicialmente. A recuperação está sendo mais lenta, o mercado de trabalho ainda enfraquecido, o mercado imobiliário também sofrendo as consequências da crise de
2008, e ainda tem dificuldade de recuperar-se. Em relação às medidas que o
governo e o Banco Central têm tomado, eu creio que elas têm obtido êxito, no
sentido de moderar a entrada de recursos, de moderar esse processo que existe; é um processo global de enfraquecimento do dólar norte-americano. Se nós
olharmos, assim, numa janela de 12 meses, nós vemos moedas, outras moedas se valorizando mais do que o Real. Por exemplo, o peso chileno, o franco
suíço, o dólar canadense... Se pegar o dólar canadense, ele se valoriza, nesse
período, mais de 20%. O Real está na faixa de 12%, não é? Se nós adicionássemos mais dez pontos de percentagem, de apreciação, nós teríamos um Real
ainda mais valorizado, ou seja, de fato, é difícil comparar com uma situação
que não ocorreu, mas, olhando para outras moedas, nós poderíamos ter um
Real muito mais valorizado, não fossem as medidas adotadas pelo Banco Central e pelo governo.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vamos, agora, à Recife, em Pernambuco, à Rádio CBN, de
Recife, onde está Jofre Melo. Bom dia, Jofre.
REPÓRTER JOFRE MELO (Rádio CBN / Recife - PE): Presidente, é uma
pergunta que eu queria fazer ao senhor. O senhor falava, agora, de câmbio. A
colega até leu aí, trouxe, "lincou" aí com essa relação do dólar norteamericano, e a pergunta que eu queria fazer ao senhor é: essa recuperação
das metas da economia americana, neste momento, aquela recente instabilidade, a negociação de Barack Obama lá, com os congressistas, isso traz algum risco para a nossa economia, uma vez que boa parte das reservas cambiais brasileiras, elas são compostas de títulos americanos? Nós corremos algum
risco diante disso, presidente?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Obrigado, Jofre, pela pergunta muito
oportuna. Nós vivenciamos, aí, essa discussão sobre a elevação do teto da
dívida. Essa questão, ela foi superada. Para os próximos anos, essa questão
está superada. Naturalmente, o que coloca a atual discussão nos Estados Unidos é essa recuperação mais fraca da economia, políticas financeiras e monetárias mais frouxas nos próximos... Continuar no nível que já estão de apoio a
essa tentativa de recuperação da economia brasileira. Então, nesse ponto, nós
temos... Não em relação às nossas reservas, porque este é o ativo, digamos,
de risco livre, hoje, no mundo, são os títulos do Tesouro norte-americano. Em
relação a isso, então, foi superado esse problema, que seria um problema muito grave, mas o fato é que a economia norte-americana, e, consequentemente,
a economia global, cresce menos, e ainda teremos um nível de liquidez muito
elevado no mundo. Isso gera duas questões: primeiro, que, possivelmente, nós
não teremos o que tivemos lá no passado, de uma puxada muito forte no preço
das commodities, não é? Isso nos ajuda na inflação. Mas, por outro lado, também, a economia mundial crescendo menos, são menos oportunidades aí, para
os países, no comércio internacional. Então, nós vamos ter que lidar com isso
nesse período à frente. Mas o Brasil está bem posicionado para isso, tem as
suas reservas internacionais, tem reservas em reais, também, para prover os
mercados de liquidez, se for o caso, num momento de crise.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Jofre Melo, você tem outra pergunta?
REPÓRTER JOFRE MELO (Rádio CBN / Recife - PE): Presidente, para os
nossos ouvintes entenderem, a gente vê, ouve falar, e a gente acaba aprendendo, de tanto fazer esse tipo de cobertura, a observar as ações que o Banco
Central, através do governo, faz para conter, por exemplo, a alta do dólar, ou
queda do dólar, ou seja, as intervenções que o Banco Central faz no câmbio. O
senhor é um especialista, eu gostaria que nos brindasse explicando aos nossos
ouvintes, na prática, como é que funciona, como é que o Banco Central, ele
intervém, por exemplo, para atenuar uma especulação cambial como esta que
houve recentemente.
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bem, na realidade, o que nós fazemos
é comprar ou vender dólares. Então, nós usamos os nossos reais, a nossa capacidade de intervir no mercado, o Banco Central, e, nesse momento, nós estamos comprando dólares no mercado. Com a compra do dólar, quando você
compra uma mercadoria, essa mercadoria, o preço dela tende a crescer ou
ficar estável, mas não cair. Então, essa é, digamos, a estratégia que vem sendo usada, de intervenção. No momento, o Banco Central tem usado o seu instrumento, intervenção no mercado, comprando dólar, ou seja, evitando uma
maior valorização do real ou um enfraquecimento maior do dólar aqui no mercado brasileiro.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, vamos, agora, conversar
com a Rádio Difusora Caxiense, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. A
pergunta é de Marçal Rodrigues. Bom dia, Marçal.
REPÓRTER MARÇAL RODRIGUES (Rádio Difusora Caxiense/Caxias do
Sul - RS): Bom dia, Sr. Ministro (sic) do Banco Central, Alexandre Tombini. O
tema é maravilhoso, se falar em economia no Brasil e para o mundo, e há uma
grande preocupação do povo brasileiro em relação à inflação. O que está sendo feito para continuar andando, o país, sustentavelmente, sem a inflação, Sr.
Presidente. Bom dia.
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Bom dia, Marçal. É um prazer falar
contigo, com o povo de Caxias. Bom, o Banco Central tem tomado uma série
de medidas para conter a demanda, o crescimento da economia. A economia
continua crescendo, mas crescendo menos do que cresceu no ano passado, e
nós já começamos a ver os resultados na inflação. A inflação mensal, em junho, foi bastante baixa; esperamos o mesmo resultado para julho. E nós veremos a inflação acumulada em 12 meses cair, fortemente, a partir de setembro,
outubro deste ano. Nós temos, aí, uma inflação que será, no mínimo, dois pontos menor nesse período que irá de outubro deste ano a abril do ano que vem.
Então, nós estamos em uma trajetória de controle da inflação. A inflação, no
curto prazo, hoje, no mensal, tem vindo bastante baixa, inclusive abaixo do que
seria a meta, mas o Banco Central tem que permanecer vigilante e atuar sempre que for preciso, para que essa inflação convirja para a nossa meta de 4,5
em 2012, que é o nosso objetivo neste momento.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Marçal Rodrigues, você tem outra
pergunta?
REPÓRTER MARÇAL RODRIGUES (Rádio Difusora Caxiense/Caxias do
Sul - RS): Eu gostaria de saber do Sr. Presidente um fato interessante, porque
a nossa presidenta... A presidenta Dilma Rousseff está, aí, com um trabalho
muito interessante em relação a acabar com a miséria no país, e, para isso,
precisa de muito dinheiro, Sr. Presidente.
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: É verdade, Dr. Marçal, mas nós, do
Banco Central, também temos atuado na questão da inclusão financeira. Eu
acho que essa é uma agenda importante no Brasil. Nós vemos... Na última década, nós tínhamos, no começo da década, 80 milhões de clientes do sistema
bancário; hoje, nós temos 160 milhões. Nós tínhamos, aí, um sem-número de
municípios, no Brasil, que não eram atendidos por serviços financeiros. Hoje,
os mais de 5.500 municípios brasileiros são atendidos por alguma modalidade
de serviço financeiro. Então, também, nesse... No trabalho do Banco Central, é
possível, e nós temos conseguido, por meio de novas regulações, incentivar,
digamos, um maior acesso dos brasileiros ao sistema financeiro. Eu acho que
faz parte, aí, do processo de inclusão; certamente, colabora na erradicação da
pobreza no país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, eu tenho uma pergunta,
agora, para o senhor. Mudando um pouquinho de assunto, a gente sabe que o
Banco Central regula e fiscaliza as operações de cartão de crédito. A minha
pergunta é a seguinte: o senhor acredita que o aumento no valor mínimo exigido para o pagamento da fatura do cartão de crédito vai frear o endividamento
das famílias brasileiras?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Boa pergunta, Kátia. Você sabe que
nós temos essa agenda, também, do endividamento. Então, nós temos trabalhado no sentido de tornar o produto financeiro mais claro, mais comparável
para o cliente bancário, para que ele tenha condições de fazer uma escolha
mais informada sobre os serviços financeiros, sobre os produtos que ele adquire, produtos e serviços que adquire no sistema financeiro. Em relação ao cartão de crédito, tomamos uma série de medidas, recentemente. Reduzimos de
mais de 50 tarifas de cartão de crédito para cerca de cinco principais tarifas de
cartão de crédito e colocamos, também, esse requisito de pagamento mínimo,
que a indústria utilizava 10% da fatura mensal como pagamento mínimo, nós
subimos para 15%, e esse percentual aumenta para 20% em dezembro desse
ano. Isso ajuda, sim, porque, como nós sabemos, os juros, no cartão de crédito, são elevados, e o financiamento dessas dívidas, em cartão de crédito, tem o
potencial de afetar, digamos, a saúde da finança do indivíduo. Então, elevando
o nível de pagamento mínimo, nós estamos trabalhando no sentido de conter o
processo de endividamento dos indivíduos quando do uso do cartão de crédito.
A recomendação é sempre pagar o máximo possível, financiar o mínimo possível no cartão de crédito.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Para não virar uma bola de neve, não
é, Ministro?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Certo, para assegurar que as finanças
evoluam em uma forma saudável. Isso é muito importante para o cidadão.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente, eu tenho uma pergunta
para o senhor sobre o papel das cooperativas de crédito no sistema financeiro.
Como é que elas funcionam?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: As cooperativas de crédito, hoje, têm
uma parcela relativamente pequena, quando olhamos o sistema financeiro como um todo, mas vêm crescendo ao longo do tempo. Algumas regiões do país,
como o Sul, têm uma tradição maior no cooperativismo, e isso já chega a cerca
de quase 10% do sistema financeiro. As cooperativas têm... Pela própria estrutura, elas são muito importantes, porque elas têm a capilaridade, chegam no
interior do Brasil de uma forma bastante eficiente, e, além disso, elas reciclam
a poupança local, de maneira que elas contribuem para a economia local, onde
elas estão situadas, por um lado, e, por outro, elas conseguem, digamos, entrar
no Brasil, no interior do país, e prover serviços financeiros. Então, é algo que o
Banco Central tem enfatizado, o papel das cooperativas de crédito; e tem evoluído.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É um caminho seguro?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: É um caminho seguro. Por exemplo,
na crise de 2008, nós vimos, basicamente, não houve problema com a cooperativa de crédito. A cooperativa de crédito não estava alavancada, não estava
endividada; ela recicla a poupança local. Isso foi um aspecto importante, também, da cooperativa de crédito, que nós vimos recentemente.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, eu tenho mais uma pergunta. O FMI suspeita que o investimento estrangeiro - isso é uma pergunta que está vindo da Agência Brasil -, o
investimento estrangeiro direto esteja sendo usado, aqui no Brasil, para driblar
a taxação sobre os ingressos de capitais no país. Como o Banco Central acompanha a entrada desses investimentos aqui no Brasil?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: É, o Banco Central do Brasil, conhecidamente, tem uma estatística muito avançada, nós temos um controle sobre os
ingressos, sobre o balanço de pagamento. O que nós vemos em relação aos
investimentos foi um crescimento forte na virada do ano, no último trimestre do
ano passado. Ele veio um pouco mais fraco, mas, também, ainda forte no primeiro trimestre, e, depois, uma certa moderação. Inclusive, muito se fala do
crescimento do investimento no intercompanhia, ou seja, entre... Na mesma
companhia que está localizada lá fora e aqui, que tem, também, esse investimento que ocorre. Mas nós não vemos nada de extraordinário na evolução
desses valores. São elevados, o Brasil está atraindo investimentos, tem de-
mandas por infraestrutura que estão ocorrendo no país neste momento, e, inclusive, o mercado de consumo que cresce em uma velocidade menor, mas
ainda cresce forte, o país tem atraído uma quantidade grande de investimentos
para a economia brasileira; de forma que o investimento, ele tem respondido às
questões estruturais, à conjuntura do Brasil, hoje, e é isso que nós vemos lá do
Banco Central.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Agora há a pouco, o senhor falou
sobre inclusão financeira. Como é que está esse processo de aumento, de estímulo à inclusão ao sistema financeiro por parte da população brasileira? Qual
que é a importância disso, presidente?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Pois é. Nós vimos, Kátia, nesse período de dez anos, um crescimento: dobraram o número de clientes do sistema
financeiro. Ou seja, a população não dobrou, mas o número de clientes dobrou.
Nós temos, hoje, todos os municípios atendidos. Nós temos uma política, no
Banco Central, de inclusão financeira. Ou seja, isso é importante, porque cria
oportunidades não só para os indivíduos, mas para os pequenos negócios
também, de financiarem as suas atividades, maior planejamento do consumo,
os bens de consumo duráveis, que tem sido o caso no Brasil. E, por outro lado,
naturalmente, nós temos visto, hoje, o Brasil, muito mais pessoas, mais indivíduos com capacidade não só de tomar crédito no mercado - nós vimos o crédito crescendo de 25 para 50% do produto, um crescimento importante nos últimos dez anos -, mas também tem mais oportunidade de poupar, não é, com
acesso ao sistema financeiro.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Mas existe, assim... O Banco Central
tem uma agenda de educação financeira, ou seja, ensinar as pessoas como
fazer isso?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Naturalmente. Com esse ingresso de
novos tomadores de crédito, novos clientes bancários, é muito importante a
agenda de educação financeira. Existe uma iniciativa de governo, que inclui o
Banco Central, CVM, outros órgão de governo e a indústria financeira, que está
avançando bem. E o Banco Central já tem, naturalmente, a sua própria agenda, principalmente em relação à educação financeira das crianças e educação
financeira dos adultos. Nós temos uma agenda bem constituída. Com uma visita ao sítio do Banco Central na internet, certamente, tem muita informação importante sobre educação financeira, que é um tema muito relevante para nós.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É www.bc.gov.br. É isso?
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: "bcb".
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É "bcb", está certo. Presidente Alexandre Tombini, muito obrigada por sua participação em nosso programa.
PRESIDENTE ALEXANDRE TOMBINI: Foi um prazer, Kátia. Eu fico à disposição, sempre, de vocês, aqui. Muito obrigado.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: E nós também. A todos que participaram conosco, meu muito obrigada. E até a próxima edição.
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