limites no discurso psicanalítico num trabalho com

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LIMITES NO DISCURSO PSICANALÍTICO NUM TRABALHO COM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO
VARGAS, Miriam Dias1 - UNIFRA
[email protected]
BUSS, Andréia Mello de2 - UNIFRA
[email protected]
BAYER, Fabiane3 - UNIFRA
[email protected]
Área Temática: Formação de Professores
Resumo
O trabalho envolve um Ciclo de Palestras para professores da Rede Pública do município de
Santa Maria no Rio Grande do Sul. Justifica-se pelo fato de haver muitos problemas e
dificuldades escolares relacionados à falta de limites, sendo esta uma das maiores
preocupações de educadores da rede pública. Dentro desta proposta realizamos a primeira
palestra com o título acima, em uma Escola Aberta. Tem como objetivo elencar as possíveis
causas da falta de limites de adolescentes numa visão psicanalítica. Para tanto, foi realizado
um aprofundamento bibliográfico a partir da disciplina de Psicopedagogia e Psicanálise
ministrada no curso de Psicopedagogia da UNIFRA. Assim, originou-se um grupo de estudos
para maior compreensão do tema. Com isso, surgiu a oportunidade da realização da primeira
palestra para um grupo de Educadores da Escola Estadual Paulo Freire. A partir da primeira
palestra constatamos o grande interesse dos professores em conhecer as diferentes visões que
possibilitam um maior entendimento sobre limites. Com isso despertou-nos o interesse em dar
continuidade ao trabalho em outras instituições da região. Com base no trabalho realizado,
entendemos que a Psicanálise é um método de investigação que consiste essencialmente em
evidenciar o significado do inconsciente das palavras, das ações e produções imaginária
(sonhos, fantasias, delírios) do sujeito, fundamentada por Sigmund Freud. Muitos problemas
psicopatológicos da idade adulta, de que trata a psicanálise, tem suas raízes, as suas causas,
nas primeiras fases ou estágios do desenvolvimento. Dessa forma, acreditamos na importância
do conhecimento dos professores das diferentes visões teóricas sobre o tema aqui abordado.
Palavras-chave: Limites; Discurso Psicanalítico; Crianças e Adolescentes em Situação de
Risco.
1
Educadora Popular, Pedagoga e pós-graduanda do Curso de Especialização em Psicopedagogia do Centro
Universitário Franciscano – UNIFRA.
2
Pedagoga e pós-graduanda do Curso de Especialização em Psicopedagogia do Centro Universitário
Franciscano – UNIFRA.
3
Pedagoga, especialista em Gestão Educacional pela UFSM e pós-graduanda do Curso de Especialização em
Psicopedagogia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA.
12190
Introdução
O trabalho envolve um Ciclo de Palestras para professores da Rede Pública do
município de Santa Maria no Rio Grande do Sul.
Este artigo engloba a primeira palestra que foi realizada para educadores da Escola
Estadual de Ensino Fundamental Paulo Freire que justificou-se pelo fato de haver muitos
problemas e dificuldades na Escola relacionados à falta de limites, sendo esta uma das
maiores preocupações dos educadores da Instituição.
A Escola caracteriza-se por oferecer atendimento educacional específico às crianças e
adolescentes: com idade entre dez e dezoito anos, com mais de dois anos de repetência ou
evasão, em qualquer série ou etapa do Ensino Fundamental, ou sem nenhuma experiência
escolar, com o objetivo de inserir as crianças e adolescentes que se encontram em situação de
risco pessoal e social numa sociedade mais justa.
Os educandos em que nos referimos, são oriundos de famílias que residem em
comunidades periféricas, muito pobres da cidade de Santa Maria-RS. Com a carência em
diversos aspectos de sua vida, esses meninos e meninas, acabam indo para as ruas buscar a
sobrevivência e a liberdade.
Contextualização da escola
A Escola Paulo Freire, entendida como “Escola Aberta”, por ser um espaço de
inclusão, de respeito às diferenças e aos diferentes saberes, tenta resgatar esses jovens e
incluí-los no meio educacional.
A proposta pedagógica da Escola entendida a partir dos Pressupostos da Educação
Popular, é uma das alternativas de ampliação das possibilidades de inserção social para
crianças e adolescentes, excluídos do processo formal de educação, que não encontram
espaço, nem proposta pedagógica adequada às suas necessidades e realidades de
discriminação e pobreza. Porém, a rotina de trabalho com os educandos não é fácil, pois as
experiências vivenciadas pelos mesmos fazem com que existam muitos conflitos na Escola,
sendo o mais evidente, “a falta de limites.”
Dessa forma, buscou-se maiores informações sobre a realidade desses educandos, bem
como as estruturas familiares, as histórias de vida, os comportamentos e atitudes atuais na
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escola, e também como está sendo realizado o processo de aprendizagem diante das condições
de necessidade de limites.
Sendo assim entendemos que o papel do psicopedagogo é de grande relevância nesta
Instituição, pois a mesma encontrou dificuldade em lidar com a carência de limites dos
educandos. Pensamos que os profissionais que atuam em uma instituição onde a realidade dos
alunos é muito delicada, pois problemas como drogadição, roubo e atitudes violentas são
comuns, esses precisam ter uma preparação especial para atender esta demanda. Aprender a
trabalhar com pessoas que necessitam muito mais do que aprender conteúdos, mas sim
precisam aprender a viver melhor.
Desse modo, acreditamos que podemos vir a auxiliar estes profissionais a lidar com
estas dificuldades utilizando conceitos e técnicas da psicopedagogia.
Conceitos para a compreensão do tema
Sabendo que a psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida
com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando
a influência do meio – família, escola e sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando
procedimentos próprios da psicopedagogia. (ABPP, Código de Ética) Integra vários campos
do conhecimento tais como: a Psicologia, a Filosofia, a Pedagogia, a Neurologia, a
Psicanálise, entre outros.
Dessa forma, houve o interesse de realizar uma palestra na Escola, citada acima, com
o título: “Limites no Discurso Psicanalítico num Trabalho com Crianças e Adolescentes em
Situação de Risco”, com o objetivo de orientar os educadores para melhorar a dificuldade
existente.
No curso do trabalho das pessoas, podem desenvolver-se dificuldades que afetam
diretamente seu desempenho profissional. O psicopedagogo pode ajudar num âmbito
educativo no reconhecimento, compreensão e discussão de fatores lhes afetam, não esperando
a “doença” ou o “problema”, mas promovendo e intervindo nestes processos de forma a
melhorar as condições de seu trabalho na instituição.
Com a oportunidade da realização da palestra para um grupo de Educadores da Escola
Estadual Paulo Freire, realizou-se um aprofundamento bibliográfico a partir da disciplina de
Psicopedagogia e Psicanálise ministrada no curso de Psicopedagogia da UNIFRA e a análise
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de alguns fatos e histórias de vida dos educandos, para melhor entendimento da queixa dos
educadores e para a busca de um esclarecimento na visão psicanalítica.
Entendemos que a Psicanálise é um método de investigação que consiste
essencialmente em evidenciar o significado do inconsciente das palavras, das ações e
produções imaginária (sonhos, fantasias, delírios) do sujeito, fundamentada por Sigmund
Freud. Muitos problemas psicopatológicos da idade adulta, de que trata a psicanálise, tem as
suas raízes, as suas causas, nas primeiras fases ou estágios do desenvolvimento.
Com isso, abordou-se na palestra os prováveis fatores que favorecem a falta de limites
na situação de vida desses jovens. Abordou-se a teoria do aparelho psíquico e suas funções,
que trata sobre os conceitos tópicos de consciente e inconsciente que cedem lugar a três
construtores psicanalíticos que constituirão o modelo dinâmico da estruturação da
personalidade: O Id, Ego e Superego.
O Id (inconsciente) tem como função procurar o prazer e evitar o sofrimento tem como
seus constituintes os instintos; O Ego (consciente), que apresenta como função a percepção,
memória, sentimentos e pensamentos; E o Superego (consciência moral), o representante das
normas internas, que possui como função inibir os impulsos do Id e lutar pela perfeição.
Partindo do modelo comentado acima, tratou-se o processo de progressivas ligações
emocionais, que é denominado de Fases Psicossexuais do Desenvolvimento (fase que
ocorrem do zero aos seis anos de idade), onde as experiências são determinantes da
personalidade. Assim, especificou-se que a sexualidade não é vista pela psicanálise em seu
sentido restrito usual, mas embarca a evolução de todas as ligações afetivas estabelecidas
desde o nascimento até vida adulta.
Por definição, todo vinculo de prazer é sexual. Para a compreensão deste processo,
apresentou-se um relato das fases de desenvolvimento propostas por Freud iniciando pela fase
oral, onde o seio é o primeiro objeto de ligação infantil. É o depositário de seus primeiros
amores e ódios. A princípio a sucção é para suprir uma necessidade fisiológica, mais tarde
vira prazer. Presença do pai quase nula ou nula. Já na fase anal, as fezes assumem um lugar
central na fantasia infantil. São objetos que vêm do próprio corpo, que são de certa forma
partes da própria criança. A criança usa o ato de fazer suas necessidades fisiológicas para
chamar a atenção. Presença do pai começa a ser maior. E por fim na fase fálica, também
conhecida por complexo de Édipo que envolve os meninos e o complexo de Electra
envolvendo as meninas. Por volta dos três anos de idade, a libido inicia nova organização. A
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erotização passa a ser dirigida para os órgãos genitais. A criança descobre suas genitálias,
vive intensamente essa fase. Muda seu objeto de desejo. Momento em que o pai realmente
aparece. Ele precisa fazer o corte para começar a construir limites.
Foi nesta última fase que deu-se maior ênfase, pois como dito acima, este é o
momento em que o esquema repressor é desencadeado com a entrada do pai em cena, sendo
ele o pai, marido e autoridade. O pai coloca-se então como um interceptor entre o filho e a
mãe. Por tanto, procurou-se informar que a figura masculina é determinante na construção de
limites, e certamente a maior causa de muitos educandos apresentarem tais comportamentos
de desordem, desrespeito e desobediência, encontra-se na ausência desse corte no qual se
abordou na fase fálica.
Percebeu-se essa possibilidade ao verificar que a maioria dos educandos veio de
famílias desestruturadas, onde na maior parte dos casos, não há a presença do pai ou de
alguma figura masculina, são filhos e filhas de mães solteiras ou criados pelas avós. Em casos
em que têm a presença do pai, estes se mostram exercendo seu papel de maneira negativa.
Poucos são aqueles que passaram por esta fase com a configuração real do pai.
Como não foi formada simbolicamente a noção de limite durante as fases
psicossexuais, torna-se mais difícil impô-lo depois da personalidade formada.
Desse modo, acredita-se que com as rebeldias, as brigas e indo para as ruas, as
crianças e adolescentes ainda estão na busca do limite, mas de forma fantasiosa, prazerosa, é
como se brincassem de roubar, matar, se drogar..., não têm noção concreta de suas atitudes.
Porém a maneira que lhes é dado esse limite é muito real, ocorre muitas vezes de maneira
desagradável, onde a polícia acaba tendo que dar regras e normas cruéis, que talvez piorem a
situação que se formou nos primeiros anos de vida.
Tais atitudes agressivas ou destrutivas contra si próprio e contra os outros, se dá
devido a forte influência da Pulsão de Morte, instinto básico que dentro da normalidade todos
nós temos, porém em casos onde há a angústia de castração, que ocorre na fase fálica, tende
ser mais forte.
Com explicação do tema em questão, colocou-se a importância da relação
professor/aluno, pois se focaliza o campo de transferência, onde todo o desconforto e
inquietação da qual o educando encontra-se, por diversas vezes será descontado no educador,
pois depois dos pais, a afetividade é dirigida ao professor, tendo este a chance de influenciar o
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educando para o caminho da aprendizagem, dos limites, do respeito, ou simplesmente
colaborar com o bloqueio. Daí a necessidade de relações afetivas e do vínculo.
Propôs-se aos educadores que procurassem desenvolver uma pedagogia afetuosa e
uma construção cognitiva prazerosa. Não deixando de exigir, estabelecendo regras, mas que
se as façam com dialogicidade, clareza, sentido e sempre relacionados aos valores.
É preciso ter cuidado para não se fazer o mau uso das exigências, de forma autoritária,
reguladora e normatizante.
Compreensões preliminares
Depois de realizar a explanação do assunto, percebeu-se que muitas dúvidas foram
esclarecidas e que foi muito bem aceito por parte dos educadores a realização da palestra
numa visão psicanalítica.
Nota-se que atualmente já há mais abertura para a inserção de novos temas,
abordagens e visões e que cada vez mais o campo de saúde mental, do entendimento psíquico
e da cura da estrutura mental, está aumentando o interesse.
É fundamental o conhecimento das funções, processos e desenvolvimento da mente
humana.
Com relação aos limites, notou-se que ficou mais clara a compreensão das raízes de
onde se originam e como conseguir amenizar a situação adquirindo um melhor entendimento
para realizar o trabalho na Escola de forma mais agradável. Sendo que ficou esclarecido que a
melhor maneira de se obter sucesso com os educandos, além das relações afetivas entre
professor e aluno, seria a busca de profissionais como psicólogos, psicopedagogos e demais
profissionais de áreas afins, para realizar um trabalho efetivo e favorável às crianças e
adolescentes em questão, estendendo-se até suas famílias.
Ficou a proposta e disponibilidade para outros encontros onde se possa retornar e
continuar um trabalho com os educadores e até mesmo com os educandos sobre o tema sobre
o qual foi feita a queixa, ou outra, e mesmo que esta não exista, é possível realizar atividades
psicopedagogicas que visem à prevenção algum problema.
Uma Escola como esta em que realizamos a palestra, tem um papel importante na
sociedade e necessita sempre de apoio para manter um trabalho significativo, pois é sempre
valida a busca por uma melhor qualidade de vida e de ensino aos educandos que estão
digamos “a margem da sociedade”.
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É possível que os educadores da Escola Paulo Freire, ainda não tenham encontrado a
solução para os problemas relacionados aos limites, mas abertura para o aprender, o conhecer
e o tentar buscar respostas e novas idéias, é um grande avanço.
Considerando as características da Escola, não é nada fácil realizar um trabalho sem
momentos de reflexão, retomada, diálogo e muita força de vontade.
Sentimos muita satisfação em colaborar com a formação de educadores que estão
tentando diminuir o índice de crianças e adolescentes nas ruas, de violência, de drogas, de
marginalidade, de exclusão, de discriminação.
A realização dessa primeira palestra nos motivou a continuar a pesquisa sobre o tema e
a busca por novos horizontes que visem a formação dos educadores que atuam em escolas e
vivenciam diferentes dificuldades para o desenvolvimento satisfatório de seu trabalho.
Dessa forma, acreditamos na importância do conhecimento dos educadores das
diferentes visões teóricas sobre o tema aqui abordado.
REFERÊNCIAS
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
LACAN, J. O avesso da psicanálise. Zahar. RJ. 1992.
MIÚCELLI, S. A novela social sobre a infância desamparada. Dossiê.
NUTTIN, J. Psicanálise e personalidade. 2ed. Rio de Janeiro: Agir, 1958.
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