Este documento faz parte do Repositório Institucional do Fórum Social Mundial Memória FSM memoriafsm.org CLIPPING FSM 2009 AMAZÔNIA Jornal: CARTA MAIOR Data: 23/01/09 http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15500 Crise capitalista desafia agenda do Fórum Social Mundial Oito anos depois da primeira edição do FSM, o processo de globalização criticado na Carta de Princípios do movimento está em crise e sob pesado questionamento. Mas a globalização solidária permanece um projeto. O colapso do modelo neoliberal coloca um novo desafio para os participantes do Forum: diante da crise, qual o caminho? A Carta Maior, nascida no FSM 2001, estará, mais uma vez, acompanhando e participando deste debate. Marco Aurélio Weissheimer BELÉM - O Forum Social Mundial 2009 ocorre no momento em que o mundo vive uma inédita confluência de crises. No plano econômico, as idéias do chamado Consenso de Washington deixaram de ser consensuais. A era de ouro (para alguns poucos) do neoliberalismo chegou ao fim. A fórmula baseada na desregulamentação e abertura dos mercados, e na livre circulação do capital deixou um legado que ameaça a estabilidade de toda a economia mundial. No plano político, o presidente da maior potência do planeta não se chama mais George W. Bush, mas Barack Hussein Obama. A guerra segue matando milhares de pessoas na África, na Ásia e no Oriente Médio, além de conflitos militares regionais em outros cantos do planeta. Ao contrário do que ocorre com outros setores, a indústria armamentista jamais entra em crise. E no plano ambiental o mundo chegou a uma encruzilhada (há quem diga que já passou dela): ou reverte o atual modelo de desenvolvimento industrial e de consumo altamente Memória FSM memoriafsm.org 1 destruidor do meio ambiente, ou caminha em uma direção que ameaça a sobrevivência da chamada “civilização”, tal como a conhecemos. Em torno desses três grandes temas, articulam-se dezenas de outros que exigem escolhas políticas no curtíssimo prazo. Não faltam diagnósticos nem análises. Os alertas e advertências já foram feitos reiteradas vezes. No ano de 2009, importantes decisões políticas deverão ser tomadas. Decisões que influenciarão o futuro do planeta. O lema do FSM, “Outro Mundo é Possível” está posto na mesa. É ou não é? Os diagnósticos que deram origem ao Forum Essa pergunta está colocada como um desafio desde a primeira edição do Forum Social Mundial, em janeiro de 2001, em Porto Alegre. O fato de a conjuntura daquele momento ser qualitativamente diferente da atual não é um detalhe menor. O FSM nasceu como um contraponto ao Forum Econômico Mundial de Davos, onde o grande capital reúne-se anualmente. Nasceu, em larga medida, como um contraponto às políticas que, hoje, estão sendo abandonadas após o colapso do sistema financeiro no final de 2008. Essa é, sem dúvida, uma vitória de todos aqueles que se engajaram na construção do Forum Social. Uma vitória que não significa a comemoração de um colapso, mas sim a confirmação da correção de um diagnóstico. A partir de 2001, de modo organizado, milhares de pessoas passaram a se encontrar anualmente para afirmar: do jeito que está não dá, o mundo caminho para a destruição. Várias das previsões e diagnósticos já se confirmaram, mas há um imenso passo que ainda não foi dado: qual é mesmo o mundo que deve ser construído e, principalmente, qual é o caminho para isso. Vale a pena relembrar o item 4 da Carta de Princípios do Forum Social Mundial, aprovada no dia 9 de abril de 2001 pelas entidades que constituem o Comitê Organizador do FSM: As alternativas propostas no Forum Social Mundial contrapõem-se a um processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais. Elas visam fazer prevalecer, como uma nova etapa da história do mundo, Memória FSM memoriafsm.org 2 uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais, bem como os de tod@s @s cidadãos e cidadãs em todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticas a serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos. Oito anos depois, o processo de globalização mencionado na carta está em crise e sob pesado questionamento. Mas a globalização solidária permanece um projeto. A crise do modelo neoliberal parece colocar, portanto, um novo desafio para os participantes do Fórum: diante da crise, qual o caminho? As perguntas do FSM e seu fio condutor As perguntas que interrogam os participantes do FSM também evoluíram ao longo dos últimos anos. É interessante perceber que as diferenças entre elas estão articuladas por uma espécie de fio condutor, ou seja, as perguntas de 2009 são outras, mas seguem uma linha histórica cujos possíveis desdobramentos já eram apontados. No Forum de 2003, por exemplo, realizado em Porto Alegre, um seminário que reuniu nomes como Tariq Ali e István Mészáros, girou em seguinte dos seguintes temas: A política militarista de Bush está ligada à crise do neoliberalismo? A ameaça da guerra e a falência do Consenso de Washington são fenômenos relacionados? Cinco anos depois, a resposta para ambas as perguntas parece ser “sim”, o que só conta a favor da qualidade dos debates produzidos pelo FSM. Mas para além das perguntas e desafios teóricos e políticos, o Forum Social Mundial é também um ponto de encontro, de convergência e de troca de experiências. O FSM deu seus primeiros passos em Porto Alegre, foi para a Índia, voltou para o Brasil, depois visitou a Venezuela e o Quênia. Agora, volta ao Brasil, em uma das regiões mais ricas e, ao mesmo tempo, mais ameaçadas do planeta, a Amazônia. Esse itinerário ajuda a entender o espírito do Forum Social Mundial e de seus participantes. E indica um possível caminho para a “globalização solidária que respeite os direitos humanos universais”, de que fala a Carta de Princípios. Afinal, em uma globalização desse tipo, a Memória FSM memoriafsm.org 3 livre circulação que se busca é a dos povos e de seus saberes. Carta Maior, 8 anos, 8 Foruns Para a Carta Maior, o FSM 2009 representa um momento especial. Nascida em janeiro de 2001, no dia da abertura do primeiro Forum Social Mundial, a Carta Maior está completando oito anos de vida. São oito anos e oito coberturas especiais dos fóruns. Estivemos em Porto Alegre, Mumbai, Nairobi, Caracas, Bamako, além de muitas outras cidades, em vários continentes, onde ocorreram foruns regionais e temáticos. Para acompanhar o Forum de Belém, mais uma vez, a Carta Maior preparou uma equipe especial. A TV Carta Maior transmitirá, ao vivo, cerca de dez horas de programação diária. Nossos repórteres produzirão diariamente reportagens e matérias especiais para o site e a TV. Além disso, contaremos com a seguinte equipe de analistas que cobrirá os principais debates do FSM: Flávio Wolf de Aguiar – Diretor Geral de TV Bernardo Kucinski – Analista de Economia Gilberto Maringoni – Analista de Integração sulamericana Francisco Carlos Teixeira - Analista Internacional Marcos Dantas – Analista de Mídia Celso Simões Bredariol – Analista de Meio Ambiente Ênio Squeff – Analista de Cultura e Comportamento Edson Luis de Almeida Teles – Analista de Direitos Humanos Memória FSM memoriafsm.org 4 Uma das novidades este ano será a presença de jornalistas internacionais amigos da Carta Maior para uma cobertura compartilhada. São eles: Carlos Suarez – Sin Permiso (Espanha/Argentina/México) Maurizio Matteuzzi – Il Manifesto (Itália) Sandra Russo – Página 12 (Argentina) Pascual Serrano – Rebelión Luis Hernandéz Navarro – La Jornada Com essa equipe esperamos estar à altura dos desafios colocados para o FSM 2009, produzindo uma cobertura ampla, qualificada e diversificada sobre os debates e atividades que estarão ocorrendo em Belém, com repercussão no mundo inteiro. Com isso, a Carta Maior espera contribuir para a transformação em realidade do projeto de uma globalização solidária, uma globalização dos povos, do conhecimento e da sabedoria. Memória FSM memoriafsm.org 5