>> TEMA DO DIA O INFORMATIVO DO VALE - Sexta-feira, 24 de março de 2017 3 Terceirização modificará relações de trabalho. Entenda como isso te afeta Lei aprovada pelos deputados aguarda sanção presidencial. Por um lado, documento regulamenta prática antiga no país; por outro, ameaça ferir direitos e gerar insegurança nas relações de trabalho Renan Silva [email protected] » Brasilía Um projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados na quarta-feira aguarda agora a sanção do presidente Michel Temer para entrar em vigor e modificar completamente as relações de trabalho hoje conhecidas no país. Alguns chamam de modernização; outros, de retrocesso das leis trabalhistas. A chamada Lei da Terceirização foi aprovada por 231 votos a 188, com oito abstenções, e regulamenta algo que já vinha sendo praticado no país há décadas: que empresas terceirizem certos tipos de serviços. A grande mudança, porém, é no tipo de atividade a ser terceirizada. Antes, uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) permitia que apenas atividades-meio de uma empresa contratante fossem realizadas por outra empresa contratada; agora, isso se estende às atividades-fim. Na prática, isso significa que uma montadora de veículos ou uma escola privada, por exemplo, podiam terceirizar atividades internas como segurança, recepção e limpeza - serviços importantes para o funcionamento do local, mas que não eram a fonte final de renda do empreendimento. Agora, além destas atividades, a montadora poderá, também, contratar uma empresa com funcionários especializados, por exemplo, apenas em criar parafusos para as rodas, e as escolas poderiam firmar acordos de trabalho com uma terceirizada que forneça os professores. Isso pode elevar a especialização e qualidade final dos produtos ou serviços prestados, mas também pode tornar mais frágeis as garantias trabalhistas. O que a lei... ... tem de bom: ... tem de ruim: - Regulariza em lei o trabalho terceirizado, já que antes havia apenas uma súmula do TST regulamentando a prática; - Pode estimular a competitividade, possibilitando que empresas contratem equipes altamente especializadas para determinados serviços; - Estimula a formalização do trabalho, o que pode gerar novos empregos formais e girar a economia; - Dá garantias ao trabalhador de manutenção dos direitos trabalhistas tornando a empresa contratante subsidiária. Isso significa que, caso a terceirizada deixe de arcar com os direitos dos empregados, a responsabilidade recai sobre a empresa tomadora dos serviços; - Alivia o caixa da empresa com encargos sociais e trabalhistas, tornando-a mais competitiva; - Gera uma espécie de segregação nas empresas, em que funcionários diretos recebem mais e têm mais direitos garantidos do que os terceirizados; - Salários de funcionários terceirizados costumam ser menores do que dos funcionários contratados diretamente, mesmo com carga horária semanal superior; - Ampliação do contrato temporário de três para seis meses, o que gera insegurança sobre a permanência na função; - Possibilidade de contratos sazonais, o que aumenta a rotatividade e reduz os benefícios sociais. O temor de quem é contrário à lei é que os funcionários passem a ser contratados apenas de forma sazonal, e sejam demitidos quando o contrato de experiência de seis meses esteja para vencer. Neste caso, o trabalhador passaria de um emprego temporário a outro, sem direito a férias nem aviso-prévio; - Compromete a segurança na prestação de serviços e gera dúvidas em relação à qualidade do trabalho prestado. O que dizem os especialistas: “Mesmo hoje, para as empresas para as quais presto consultoria, não oriento terceirizar, porque é difícil fiscalizar. Como a empresa contratante vai saber que a prestadora paga corretamente os salários e benefícios dos empregados? Precisaria de uma fiscalização muito rígida. A empresa busca a terceirização para economizar, mas pode gastar toda a economia como subsidiária em um processo porque a terceirizada não está cumprindo seu papel. O risco é maior do que o lucro.” Anderson Borowsky, advogado especialista em Direito Trabalhista “Por um lado, a lei deve flexibilizar as relações de trabalho, já que é mais barato contratar serviços terceirizados de empresas especializadas. Isso deve aliviar o caixa da empresa com encargos sociais e trabalhistas. Por outro, uma consultoria terceirizada para uma grande corporação exige que se forneça informações privilegiadas a pessoas que não têm relação direta de trabalho com a contratante. Isso compromete a segurança.” Alfredo Meneghetti Neto, economista e professor de Economia e Finanças Públicas da PUCRS “Na prática, a CLT, nos moldes que vemos hoje, deve entrar praticamente em desuso. O que os trabalhadores consideram como benefícios, com o passar do tempo serão praticamente extintos. Mas se olharmos pelo lado dos empresários, é uma modernização. O empresário brasileiro tem dificuldades de competir internacionalmente, porque o custo com o trabalhador é muito grande. É difícil para o brasileiro competir com concorrentes de países que não têm leis tão benéficas aos trabalhadores.” “Acho positiva a possibilidade de terceirização de alguns serviços. Vejo que é viável em algumas empresas, quando não há a necessidade de tempo integral do funcionário. Daí ele pode ser contratado por hora. A empresa consegue diminuir custos, e o profissional tem a oportunidade de conciliar seu tempo e realizar atividades em mais de um lugar”. Giraldo Sandri, presidente do Sindilojas Vale do Taquari “Entendemos como prejudicial ao trabalhador, porque a terceirizada é contratada para gerar economia. Se a empresa paga um salário X e ainda coloca na jogada uma outra empresa, que também quer lucro, alguém vai sair perdendo. E quem vai perder? O trabalhador. E isso ainda vai gerar uma enxurrada de ações trabalhistas.” Marco Daniel Rockenbach, presidente do SindiComerciários Fred Camargo, cientista político Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/divulgação “Eu vejo a terceirização como uma grande oportunidade de especialização, com empresas menores e focadas em suas atividades, que prestam serviços às empresas maiores sem prejudicar os direitos dos trabalhadores. Busco olhar de forma positiva, de que essa modernização da lei permite ajustar relações de trabalho que já existem e reduzir a informalidade.” Ito Lanius, presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT) “Estamos diante de mais um golpe contra os trabalhadores, coisa de uma burguesia que nunca pisou em uma linha de produção. A empresa terceirizada não vai pagar férias, não vai pagar o fundo de garantia, reduz a arrecadação da previdência social. Só melhora para os grandes empresários, mas e o que sobra para os trabalhadores?” Adão Gossmann, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Avícolas e de Alimentação em Geral de Lajeado e Região (Stial) VOTAÇÃO: deputados contrários ao projeto argumentam que nova lei acaba com direitos