Uma pitada de “relativismo cultural”: uma breve definição

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Uma pitada de “relativismo
cultural”:
uma
breve
definição
O que é relativismo cultural?
Por Cristiano das Neves Bodart
É muito comum ouvirmos a expressão “temos que relativizar”.
Mas a final, o que é Relativizar? Grosso modo, é a compreensão
de que não existindo normas e valores absolutos não devemos
avaliar o outro a partir de nossos valores e normas, como se
estes fossem um padrão a ser copiado.
Na Sociologia utilizamos com frequência o termo “relativismo
cultural”. A “lógica” é a mesma da expressão anterior, porém
envolvendo a observação da cultura do outro. Relativismo
cultural é a atitude de olhar uma cultura ou um elemento
cultural de forma a compreender que os indivíduos são
condicionados a terem um modo de vida específico e particular
de acordo com o processo de endoculturação, sendo entendido
que seus sistemas de valores são próprios de sua cultura.
É justamente ao fato de que é comum a formulação de juízos em
relação a cultura do outro que a Sociologia e a Antropologia
apontam a necessidade de nos afastarmos de tais julgamentos,
evitando classificar a cultura do outro como inferior, feia,
atrasada, etc.
O relativismo cultural é importante para que as culturas não
sejam estratificadas em camadas hierárquicas, como se
existisse “cultura pior” e “cultura melhor”.
O relativismo cultural é importante na prática do “olhar o
outro” sem, contudo, olhar a partir de “onde estamos”. Os usos
e costumes de cada povo só tem sentido a partir do próprio
povo e não é possível compreende-los a partir de nosso lugar,
sob os julgamentos de nossos valores. Para compreendê-los,
ainda que em parte, o sociólogo, ou o antropólogo, deve buscar
“se colocar no lugar do outro”. Certamente esse “se colocar no
lugar do outro” nunca ocorrerá de forma plena, haja visto que
ele levará consigo toda a sua bagagem cultural, seja como
membro de seu grupo cultural, seja como pesquisar
“indiferente”.
O relativismo cultural possibilita um maior afastamento dos
pré-conceitos, da discriminação e da intolerância, sendo o
oposto do etnocentrismo, tão presente em nossa sociedade e tão
danosa às relações sociais.
É comum críticas ao relativismo cultural por parte dos
universalistas. Antropólogos e Sociólogos são constantemente
acusados de defender práticas culturais perversas. É claro que
há Antropólogos e Sociólogos que defendem coisas perversas,
assim como padeiros, médicos, advogados, pintores, atores,
militares, floristas, etc., mas isso não é inerente de cada
uma dessas profissões. Ao Sociólogo e ao antropólogo, mais que
aos demais profissionais, cabe a descrição e a interpretação.
Juízos de valores não me parece ser inerente da profissão, mas
do “indivíduo político”. É claro que o conhecimento acaba
“empurrando” o indivíduo à práticas políticas e tomadas de
posições. Neutro, ainda que aclamada desde a fundação da
Sociologia, só mesmo shampoo. Nesse caso, já notamos o
posicionamento político do autor deste texto.
Os universalistas defendem a existência de padrões culturais
universalistas, aceitos universalmente como bons, belos e
benéficos – a exemplo dos Direitos Humanos. Para esses, o
julgamento de um comportamento social independe da visão moral
interna do grupo cultural onde este se deu.
Para os relativistas, é impossível afirmar que exista uma
concepção de bom, belo, gostoso e benéfico que seja unívoca e
universal para todos os povos, independente de seu tempo e
espaço ocupado. Para esses o que é bom, belo, gostoso e
benéfico são percepções construídas socialmente.
É importante não olvidar que existem relativistas radicais e
relativistas moderados, assim como universalistas radicais e
moderados. Se por um lado, os relativistas radicais têm uma
tendência a priorizar os julgamentos internos de uma
sociedade, considerando a cultura a única fonte de validade
para os julgamentos, por outro, os universalistas radicais
tendem a afirmar que a cultura é irrelevante para o julgamento
do que é bom, belo, gostoso e benéfico, acreditando existir um
padrão “ideia universal” para ser usado como referência.
Referência
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
Sociologia Geral. 7ª ed.
Atlas: Sã Paulo, 2010.
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