ESCOLA SECUNDÁRIA DE PINHEIRO E ROSA / FILOSOFIA -10º ANO / O Professor: Carlos Pires A diversidade e o diálogo de culturas: discussão do relativismo moral. Quando estudámos o conceito de Cultura verificámos que no planeta Terra existe uma enorme diversidade cultural. As diferentes comunidades humanas desenvolveram diferentes línguas, costumes, normas, valores, etc. Por isso, existem milhares de culturas diferentes. Por vezes, as pessoas de uma sociedade não respeitam as culturas de outras sociedades, consideram-nas inferiores e “atrasadas”. A essa atitude chama-se etnocentrismo cultural. Este é “a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua própria cultura” (Luís Rodrigues, Filosofia - 10º Ano, Plátano Editora, pág. 79). As pessoas que pensam desse modo, consideram frequentemente que, sendo a sua cultura superior, têm o direito de a impor (pela força se necessário) a outros povos. Existem exemplos de atitudes etnocêntricas em muitas sociedades. Na Europa foi uma atitude habitual durante séculos, ostentada não só pelas pessoas do povo como por intelectuais. “Os Índios americanos foram inicialmente olhados [pelos europeus] como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente norte-americano como sendo povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas. Julgava-se que os Índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O Bispo de Santa Marta, na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude [sendo, portanto, legítimo escravizá-los].” [Anthony Giddens, Sociology, Polity Press, Cambridge, p. 30] “Durante o século XIX, os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram -se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças. Se bem que o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingle ses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens.” (Luís Rodrigues, Filosofia - 10º Ano, Plátano Editora, pág. 79) 1 - Defina etnocentrismo cultural. 2 - Dê um exemplo de etnocentrismo cultural. Hoje em dia essa atitude já não é dominante na Europa e nos restantes países ocidentais (poucas pessoas a ostentam, pelo menos explicitamente), tendo sido substituída pela tolerância, pelo respeito por aquilo que é diferente. (A tolerância “consiste em deixar aos outros a liberdade de exprimirem opiniões divergentes e de viverem em conformidade com tais opiniões” - Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 8ª edição.) “Quanto melhor conhecermos a diversidade cultural que nos rodeia, melhor compreenderemos que aquilo que nos parece normal poderá ser estranho para outros e que muitos comportamentos que nos surpreendem são tidos como perfeitamente comuns e aceitáveis noutros contextos culturais. Um caso exemplar é o da homossexualidade. Sabemos que na maior parte das sociedades ocidentais de hoje os homossexuais são alvo de preconceitos e discriminações e muitos são mesmo vistos como socialmente inadaptados. No entanto, na Grécia Antiga a homossexualidade não só era permitida como valorizada. Este aprofundamento do conhecimento que temos de outras culturas torna-nos muitas vezes mais tolerantes, porque nos faz deixar de acreditar que a nossa cultura proporciona a única forma 28 satisfatória de viver. Conhecer as outras culturas permite-nos geralmente aceitar que os comportamentos que nelas encontramos surgiram devido a contextos históricos, geográficos, económicos e sociais diferentes daqueles que deram origem à nossa cultura, não sendo, portanto, disparatados ou descabidos. Esta compreensão, pensam muitas pessoas, poderá ser o elemento que permitirá evitar que, em nome da suposta superioridade da nossa cultura, se exterminem povos que desconhecemos e que desvalorizamos injustamente. O genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial ou os ataques aos índios da América são exemplos de comportamentos resultantes da incompreensão da diversidade cultural, da incapacidade de perceber que existem muitas culturas complexas que proporcionam aos seres humanos diversos modos de vida satisfatórios.” [Desidério Murcho e outros, A Arte de Pensar – 10º Ano, Didáctica Editora, pp. 103-104.] 3 - O que se pode ganhar ao “conhecermos a diversidade cultural que nos rodeia”? 4 - O que significa a palavra “tolerância”? Quando pensamos em costumes como comer de faca e garfo ou, então, com pauzinhos (como os chineses) ou nos diferentes modos de saudação que existem pelo mundo fora, a tolerância sem dúvida que se justifica. Mas essa tolerância relativamente à diversidade cultural deverá incluir a moral? Se numa certa sociedade a mutilação genital feminina, os sacrifícios humanos e o canibalismo forem tradições enraizadas e aceites pelos seus habitantes, teremos o direito de as criticar ou deveremos tolerá -las? Existe uma teoria chamada relativismo moral que responde afirmativamente à primeira questão. Quanto à segunda questão, essa teoria diz que não devemos criticar, mas sim tolerar e respeitar. “O relativismo moral diz-nos que a ética (tal como os hábitos alimentares, as cerimónias de casamento ou o vestuário) varia de sociedade para sociedade e que nenhum valor e nenhuma norma tem validade universal.” [Desidério Murcho e outros, A Arte de Pensar – 10º Ano, Didáctica Editora, pág. 104.] “O relativismo moral é a doutrina segundo a qual a moralidade e a imoralidade das acções variam de sociedade para sociedade, não havendo, assim, normas morais absolutas susceptíveis de serem compreendidas e seguidas por todos os seres humanos onde quer que vivam. Por conseguinte, o relativismo moral sustenta que avaliar se é moralmente correcto um indivíduo agir de um certo modo depende da sociedade a que pertence (é relativo a ela). Assim, uma certa acção é correcta para uma sociedade e é incorrecta para outra sociedade; essa acção não é correcta ou incorrecta em si mesma, mas sempre para... Dito por outras palavras: não há uma verdade objectiva na moralidade. Certo e errado são apenas questões de opinião e as opiniões variam de cultura para cultura. Uma vez que não há normas morais absolutas ou universalmente aceites, não possuímos qualquer base objectiva para criticar a moralidade desta ou daquela cultura. Se o fizermos estaremos a ser etnocêntricos: a nossa crítica será apenas uma expressão da nossa própria cultura – e não um juízo objectivo.” [Adaptado de: Luís Rodrigues, Filosofia - 10º Ano, Plátano Editora, pp. 80-81.] 5 - O que defende o relativismo moral? Concorda com o relativismo moral? Porquê? Se o relativismo moral estiver certo, não será legítimo criticar a desigualdade de direitos entre homens e mulheres que vigora há séculos nalguns países. Se o relativismo moral estiver certo, uma sociedade onde – por tradição – os Direitos Humanos sejam violados será tão digna de respeito como uma sociedade em que estes sejam habitualmente respeitados. Muitos filósofos consideraram essas consequências inaceitáveis e tentaram refutar a teoria do relativismo moral. Vamos estudar algumas objecções a essa teoria. Conhece alguma objecção? 29