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D E P A RTA M E N T O D E E P I D E M I O L O G I A
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Série Vigilância em Saúde Pública
EXERCÍ CIO Nº
3
Tabagismo e Câncer de
Pulmão
Exercício
Tradução:
Apoio:
Fonte:
Eliseu Alves Waldman
Organização Pan-Americana de Saúde
Universidade de São Paulo
(Pró-Reitorias de Graduação e de PósGraduação)
Centers for Disease Control and
Prevention
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention CDC-EIS Summer Course-1992.
Traduzida por: Eliseu Alves Waldman
Copyright  1999 É autorizada a reprodução deste texto, desde que citada a fonte.
Faculdade de Saúde Pública da USP
Série Vigilância em Saúde Pública Departamento de Epidemiologia
www.fsp.usp.br/hep5728
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07/99
TABAGISMO E CÂNCER DE PULMÃO*
______________________________________________________________________
OBJETIVOS
Este exercício utiliza o estudo clássico de Doll e Hill que demonstrou a relação
entre tabagismo e câncer de pulmão. Depois de completar este exercício, o aluno deverá
ser capaz de :

discutir os elementos do delineamento da pesquisa e as vantagens e desvantagens de

estudos tipo caso-controle versus estudos prospectivos de coorte;
discutir alguns viéses que possam ter afetado este estudo;

calcular e interpretar os riscos relativo e atribuível, o "Odds Ratio" e o risco
atribuível na população ;

analisar como essas medidas refletem ou não a força da associação e sua
importância em saúde pública ;
rever critério de causação.
______________________________________________________________________

PARTE I
A suspeita de que haveria uma relação causal entre tabagismo e câncer de pulmão
foi levantada pela primeira vez nos anos 20, com fundamento em observações clínicas.
Para testar essa possível associação, foram conduzidos inúmeros estudos
epidemiológicos entre 1930 e 1960. Entre eles, dois foram conduzidos por Doll e Hill,
na Grã-Bretanha. O primeiro foi um estudo tipo caso-controle, iniciado em 1947,
comparando o hábito de fumar entre pacientes com câncer de pulmão e entre atingidos
por outras doenças. O segundo foi um estudo de coorte que começou em 1951,
registrando causas de óbitos entre médicos britânicos, relacionando-as com o hábito de
fumar. Este exercício trata primeiramente do estudo tipo caso-controle e, em seguida, do
estudo de coorte.
Os dados do estudo tipo caso-controle foram obtidos de pacientes internados em
Londres e redondezas, durante um período de 4 anos (abril de 1948 a fevereiro de
1952). Inicialmente, 20 hospitais e, posteriormente, uma quantidade maior dessas
unidades, foram solicitados a notificar aos pesquisadores todos os pacientes admitidos
com diagnóstico recente de câncer de pulmão. Estes pacientes foram então entrevistados
sobre hábitos de fumar. Um grupo controle foi selecionado entre pacientes acometidos
por outros agravos, inicialmente não malignos, todos porém, internados no mesmo
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention CDC-EIS Summer Course-1992.
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hospital e em idêntico período.
Os dados utilizados no estudo de coorte foram obtidos a partir do universo dos
médicos, cujos nomes estavam incluídos no Registro Médico Britânico (British Medical
Register), abrangendo os residentes na Inglaterra e País de Gales , em outubro de 1951.
Informações sobre hábito de fumar, no presente e passado, foram obtidos por
questionário. Informações a respeito de câncer de pulmão provieram dos atestados de
óbito e outras fontes de mortalidade, registrados durante os anos seguintes.
Questão 1a - O que caracteriza a primeira pesquisa como um estudo tipo caso-controle?
Questão 1b - O que caracteriza a segunda pesquisa como um estudo de coorte ?
O restante da PARTE I refere-se ao estudo tipo caso-controle.
Questão 2 - Por que foram escolhidos hospitais para o desenvolvimento deste estudo?
Que outras fontes de casos e de controles poderiam ter sido utilizadas ?
Questão 3 - Quais são as vantagens de terem sido selecionados controles nos mesmos
hospitais em que foram identificados os casos?
Questão 4a - Até que ponto os pacientes internados com câncer de pulmão são
representativos de todas as pessoas acometidas por esse mal ?
Questão 4b - Até que ponto os pacientes internados com outras patologias, que não o
câncer de pulmão, são representativos de todas as pessoas não atingidas por esse
mal ?
Questão 4c - Como a representatividade dos grupos estudados pode afetar a
interpretação dos resultados da pesquisa?
Um número superior a 1.700 casos de câncer de pulmão, todos com idade inferior
a 75 anos, foram identificados e, em princípio, considerados enquadráveis nos critérios
de inclusão no estudo. No entanto, cerca de 15% não foram entrevistados devido ao
óbito, alta gravidade da doença ou inabilidade para falar o inglês. Um grupo adicional
de pacientes foi entrevistado, mas excluído mais tarde, quando foi comprovado que o
diagnóstico inicial de câncer de pulmão estava incorreto. Ao final o grupo que
efetivamente participou do estudo incluiu 1.465 casos dos quais 1.357 eram homens e
108 mulheres.
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A Tabela 1 mostra a relação entre tabagismo e câncer de pulmão entre casos e
controles masculinos.
Tabela 1 - Relação entre tabagismo e câncer de pulmão entre casos
e controles
masculinos.
Fumantes
Não Fumantes
Total
Casos
Controles
1.350
1.296
7
61
1.357
1.357
Proporção de fumantes
_____ % _____%
“Odds” de fumar
____
"Odds Ratio"
=
Questão 5 - A partir da tabela acima, calcule a proporção de casos e de controles que
fumavam. O que você infere destas proporções?
Questão 6 - Calcule também o “Odds” de fumar para casos e controles. Calcule
também o "Odds Ratio". Interprete os dados obtidos.
Questão 7 - Calcule o "Odds Ratio" segundo a categoria de consumo diário de cigarros,
comparando cada categoria de fumantes com a de não fumantes. Interprete estes
resultados.
A Tabela 2 apresenta a distribuição de freqüências de casos e de controles
masculinos, segundo o número médio de cigarros fumados por dia.
Tabela 2 - Associação entre câncer de pulmão e intensidade de exposição ao tabagismo.
Número diário de
cigarros
0
1 – 14
15 – 24
25 +
Total de fumantes
Total
Casos
Controles
"Odds Ratio"
7
565
445
340
1.350
61
706
408
182
1.296
1,0 (Referência)
______
______
______
______
1.357
1.357
Embora o estudo pareça demonstrar uma clara associação entre tabagismo e
câncer de pulmão, a associação causa/efeito não é obrigatoriamente a única explicação
para os resultados.
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Questão 8 - Quais são as outras possíveis explicações para esta aparente associação?
PARTE II
Esta parte do exercício aborda o estudo de coorte.
Como você deve recordar, os dados para o estudo de coorte foram obtidos a partir
da totalidade dos médicos incluídos no Registro Médico Britânico, residentes na
Inglaterra e País de Gales, em outubro de 1951. Os questionários foram enviados pelo
correio, para 59.600 médicos, nessa mesma época. Esse questionário solicitava aos
profissionais para classificarem-se em uma das três categorias: 1) fumante ; 2) exfumante; 3) não fumante.
Os fumantes e ex-fumantes deveriam informar sobre a quantidade que fumavam,
a idade em que iniciaram o hábito do tabagismo e, caso houvessem parado de fumar, era
necessário referir a época em que isso ocorreu. Os não fumantes foram definidos como
pessoas que nunca haviam fumado regularmente ao menos 1 cigarro por dia, por um
período mínimo de um ano.
Foram recebidas respostas dos questionários de 40.637 médicos, ou seja, de 68%
dos profissionais pesquisados; destes, 34.445 eram homens e 6.192 eram mulheres.
Questão 9 - Como os resultados do estudo podem ser afetados pela taxa de 68% de
questionários respondidos ?
Observação : O restante deste exercício trata exclusivamente dos médicos do sexo
masculino, com 35 anos ou mais de idade, que responderam ao questionário.
A ocorrência de câncer de pulmão entre os médicos que responderam ao
questionário foi documentada durante um período de 10 anos (novembro de 1951 até
outubro de 1961), por meio de atestados de óbitos arquivados no Registro Geral do
Reino Unido e pelas listas de óbitos de médicos fornecidas pela Associação Médica
Britânica. Todos os atestados de óbitos, relativos a falecimentos de médicos, eram
separados e em cada caso de câncer de pulmão, os respectivos prontuários médicos
eram revisados para confirmação do diagnóstico.
Os diagnósticos de câncer de pulmão foram confirmados mediante os seguintes
critérios: a) 70% foram por biópsia, autópsia ou citologia de escarro (combinada com
broncoscopia ou evidência radiográfica); b) 29% somente por citologia, broncoscopia
ou Raios-X ; c) 1% com fundamento na história do caso, exame físico ou atestado de
óbito.
Dos 4.597 óbitos na coorte, durante o período de 10 anos, 157 foram atribuídos
ao câncer de pulmão, porém em 4 deles este diagnóstico não pode ser documentado,
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention CDC-EIS Summer Course-1992.
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resultando num total de 153 casos confirmados de câncer de pulmão.
A Tabela 3 apresenta o número de óbitos por câncer de pulmão, segundo o
número diário de cigarros fumados à época da aplicação do questionário, em 1951,
somente para médicos do sexo masculino, fumantes e não fumantes.
São apresentadas taxas de risco por pessoas/ano, padronizadas conforme a idade,
segundo cada categoria de fumantes . Para 136 dos casos de câncer de pulmão, foi
possível obter a informação a respeito do número de cigarros fumados por dia.
Tabela 3 - Incidência de câncer de pulmão e risco relativo atribuível, segundo consumo
diário de cigarro.
Consumo
diário de
cigarros
0
1 – 14
15 – 24
25 ou +
Todos os
fumantes
Total
Casos de
câncer de
pulmão
3
22
54
57
133
Pessoas/ano
sob risco
42.800
38.600
38.900
25.100
102.600
Taxa por
1.000
pessoas/ano
0,07
-
136
145.400
-
Risco
Relativo
Risco
atribuível
Referência
-
Referência
-
Questão 10a - Calcule as taxas de câncer do pulmão, o risco relativo e o risco atribuível
para cada categoria de fumante. Comente o significado de cada uma das taxas
calculadas.
Questão 10b - Que proporção de casos de câncer de pulmão, entre os fumantes, pode
ser atribuída ao tabagismo ? O que significa e qual a denominação dessa
proporção ?
Questão 10 c - Se nenhuma pessoa fumasse, quantos casos de câncer de pulmão seriam
evitados ?
A Tabela 4 apresenta a relação entre fumar e mortalidade por câncer de pulmão
em termos do efeito de parar de fumar.
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention CDC-EIS Summer Course-1992.
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Tabela 4 – Incidência de câncer de pulmão e risco relativo, segundo diferentes graus de
exposição ao fumo.
Tabagismo
Casos
Taxa p/ 1.000 pessoas/ano
Fumantes
Ex-fumantes
< 5 anos
5-9 anos
10-19 anos
20 anos
133
1,3
Risco
Relativo
18,5
5
7
3
2
0,6
0,49
0,18
0,19
9,6
7,0
2,6
2,7
3
0,07
1,0 (ref.)
Não
fumantes
Questão 11 - O que estes dados significam para a prática de saúde pública e medicina
preventiva?
O estudo de coorte também fornece taxas de mortalidade para doença
cardiovascular entre fumantes e não fumantes. A Tabela 5 apresenta dados para
comparação de câncer de pulmão e doença cardiovascular.
Tabela 5 - Incidência de câncer de pulmão e de doença cárdio-vascular entre fumantes e
não fumantes e risco relativo, risco atribuível e fração atribuível nos
expostos.
Taxa p/ 1.000
Risco
Risco
Fração
Pessoas/ano
Relativo Atribuível Atribuível nos
Expostos
Não
Todos
Fumantes
fumantes
Ca de pulmão
0,94
0,07
1,3
18,5
1,23
95%
Doença cárdioVascular
8,87
7,32
9,51
1,3
2,19
23%
Questão 12a - Que doença tem uma associação mais forte com o hábito de fumar?
Explique.
Questão 12b - Que proporção, na população acometida, por uma das duas doenças,
pode ser atribuída ao tabagismo? Qual a denominação dessa proporção ? Como
essa proporção difere daquela que você calculou na questão 10b ?
Questão 12c - Se utilizarmos o número de óbitos atribuíveis ao tabagismo como um
indicador em saúde pública, para qual doença o hábito de fumar constitui fator de
risco de maior importância? Por quê?
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Como foi mencionado no início deste exercício, Doll e Hill iniciaram o estudo
tipo caso-controle em 1947 e o de coorte em 1951. O "Odds Ratio" e o Risco Relativo
verificados nos dois estudos, segundo número de cigarros fumados, são apresentados
na Tabela 6.
Questão 13 - Compare os resultados dos dois estudos. Comente as semelhanças e
diferenças entre ambos quanto às medidas de associação calculadas.
Tabela 6 - Comparação da força de associação entre câncer de pulmão e
tabagismo, obtida em estudo de coorte e de caso-controle.
Número diário de cigarros
fumados
0
Risco relativo
"Odds Ratio"
(estudo de coorte)
(caso-controle)
1,0 (ref.)
1,0 (ref.)
1 – 14
8,1
7,0
15 – 24
19,8
9,5
25 ou +
32,4
16,3
Todos os Fumantes
18,5
9,1
Questão 14a - Quais são as vantagens e desvantagens do estudo tipo caso-controle
versus o estudo de coorte?
Caso-controle
Coorte
Tamanho da amostra
Custo
Duração do Estudo
Doenças Raras
Exposição Rara
Múltipla Exposição
Múltiplos Efeitos
História Natural
Calculo da Incidência
"Bias" de Memória
"Bias"de Seleção
Perda no Seguimento
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Questão 14b - Qual o tipo de estudo (coorte ou caso-controle) que você teria feito
inicialmente? Explique. Por que fazer o outro tipo de estudo?
Questão 15 - Quais dos seguintes critérios de verificação de associação causal são
preenchidos pelas evidências apresentadas nestes dois estudos?
Sim
Não
Força da associação
Consistência com outros estudos
Exposição precede a doença
Efeitos dose-resposta
Especificidade do efeito
Plausibilidade biológica
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BIBLIOGRAFIA
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