O projeto ético-político profissional frente às novas normativas de educação superior no Brasil e o aumento de cursos de Serviço Social Rosiléa Clara Werner1 [email protected] Modalidad de trabajo: Eje temático: Palabras claves: Resultados de investigaciones Desafíos para la Formación Profesional en América Latina y Caribe Cursos de serviço social, formação profissional, ensino, diretrizes curriculares 1. Introdução A formação profissional de Serviço Social no Brasil iniciou em 1932, com intuito de formar profissionais para atuar na ação social e difundir os princípios da doutrina social da igreja. Do início da formação com um viés vocacional para a contemporaneidade muita coisa tem mudado. A década de 1990 trouxe além de um novo Código de ética, a Regulamentação da Profissão através da Lei 8.662 de 07 de julho de 1993, que revogava a lei anterior de 1957, uma nova proposta curricular elaborada pela ABEPSS em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, e novas normativas curriculares para o Serviço Social, definidas pelo Ministério da Educação (MEC) com a resolução 15 de 13/03/2002. Também foi o período de amadurecimento para um projeto-ético-político profissional. Segundo dados do MEC de abril de 2009 há 331 Instituições de Ensino Superior com o Curso de Serviço Social, há uma concentração de cursos de Serviço Social em instituições privadas, dos 331 cursos 83,38% (276) são privados e apenas 16,61% (55) são públicos. 2. As Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço A formação profissional de Serviço Social no país inicia com o Centro de Estudos e Ação Católica (CEAS) em 1932, com um Curso de Formação Social, tinha o objetivo de formar pessoas para atuar na ação social e difundir os princípios da doutrina social da igreja. A proposta curricular do curso de Serviço Social estava direcionada para a formação moral, com forte base doutrinária e técnica. Conforme mostra Sá (1995) a proposta pretendia 1 Estudante de doutorado em Serviço Social da PUC São Paulo – Brasil. Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009. 1 formar profissionais com uma sólida formação moral, aptidão para apreender os problemas sociais, senso de responsabilidade, espírito de sacrifício, e tenacidade, ou seja, na formação profissional deveria ser assegurada a vocação do Assistente Social incorporada à sua personalidade, ao seu conhecimento dos problemas sociais e à técnica adequada ao trabalho a ser desenvolvido No final da década de 1940, havia 14 escolas de Serviço Social distribuídas em sete estados brasileiros. Destas, sete eram públicas e sete privadas/filantrópicas. Com o passar do tempo surge a necessidade de regulamentar a profissão de Assistente Social e sua formação. Assim, em fevereiro de 1946, é organizada a ABESS 2 – Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social – com o objetivo de “promover intercâmbio e colaboração entre seus membros; promover a adoção de um padrão mínimo de ensino e representar os interesses coletivos das escolas”. (SÁ, 1995, p. 71-72). Devido à complexidade dos problemas que a profissão enfrentava e pela natureza dos recursos técnicos e científicos empregados, a terceira Convenção da ABESS, em 1953, teve como foco de discussão a formação superior em serviço social. O Curso de Serviço Social foi regulamentado pela Lei No 1889, de julho de 1953, que dispõe sobre os objetivos do ensino do Serviço Social, sua estruturação, e ainda, sobre as prerrogativas dos portadores de diplomas de assistentes sociais e agentes sociais. Ainda na década de 1950, é sancionada a Lei 252 de agosto de 1957, que regulamenta o exercício profissional e define as atribuições dos assistentes sociais; Nos anos de 1960, o Serviço Social já não é mais visto como apostolado ou vocação, mas como uma profissão, com base conceitual técnica. O artigo primeiro do Decreto de Regulamentação da Profissão deixa claro que o Serviço Social constitui o objeto da profissão liberal de Assistente Social, de natureza técnica científica. Em 1965, o curso de Serviço Social passa a ter quatro anos de duração. A mudança ocorreu através da Portaria Ministerial 519 de 14/06/1965 e confirma a laicização da profissão e a necessidades de as escolas de Serviço Social se submeterem à fiscalização do Estado por meio das diretrizes do Ministério de Educação. Em 1968, o ensino superior brasileiro passou por reformas:foi determinado que as Universidades se consubstanciassem num espaço para a formação de profissionais que respondessem às exigências do mercado de trabalho: foram inseridos o regime de créditos, 2 Em dezembro de 1998, o estatuto da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) sofreu reformulações e a entidade passou a ser denominada de ABEPS, a partir do redimensionamento institucional que congrega, o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS) criado em 1987. 2 a departamentalização, o vestibular classificatório, e o incentivo formal à pesquisa. Diante dessas mudanças, o Conselho Federal de Educação, através do Parecer 242/70, modificou o currículo do Serviço Social, o curso passou a ter 2.500 horas/aula, com no mínimo três anos, e no máximo cinco de anos de duração; foi divido em ciclo básico e ciclo profissional, e refletia a ideologia desenvolvimentista, expressando uma preocupação com a cientificidade profissional, caracterizado pelo metodologismo que marcava as profissões de natureza interventiva. Este “Parecer deixou a categoria insatisfeita, pois eliminou disciplinas consideradas imprescindíveis à formação teórica-prática como: ética geral, estatística, pesquisa social, administração de obras sociais, atividade de grupo, família e menor, além de reduzir o tempo do curso” (FRANCO, 2003, p. 85). A partir de 1965, ocorre o movimento de reconceituação do Serviço Social Latino Americano, inclusive do Serviço Social brasileiro. A proposta era romper com as influências européia e norte-americana, revisar o aparato teórico-metodológico e denunciar a ação profissional realizada em função dos interesses das classes dominantes. A perspectiva de reconceituação do Serviço Social se firma em dois Seminários de Teorização. Em 1967 o I Seminário de Teorização de Serviço Social do qual resultou o Documento de Araxá, e em 1970, em Teresópolis, Rio de Janeiro, ocorre o II seminário de Teorização, em que se construiu o Documento de Teresópolis. Os documentos de Araxá e Teresópolis defendem a modernização do Serviço Social, para isso, propõem que seja abandonado a perspectiva neo-tomista como perspectiva teórica e seja adotada a perspectiva estrutural funcionalista. Esta nova perspectiva teórica da profissão foi denominada de modernizadora3, que, para Netto (1991), foi expressão da renovação profissional adequada à autocracia burguesa. Após oito anos, em 1978, ocorreu o Seminário de Sumaré, em que o foco da discussão foi o objeto do Serviço Social. Para Netto (1991), o movimento de reconceituação se opôs à herança intelectual conservadora e cultural da profissão, acenando para novas concepções teóricas, ideológicas e políticas. A partir da metade da década de 1970 ocorre a abertura política e o fortalecimento dos movimentos sociais. Esse contexto de redemocratização e politização da sociedade brasileira possibilita aos profissionais e estudantes de serviço social a manifestação em relação a outras perspectivas profissionais. O compromisso com a classe trabalhadora fica 3 Para aprofundar estudos da perspectiva modernizadora, reatualização do conservadorismo e intenção de ruptura, sugerese a leitura de: NETTO (1991) e IAMAMOTO (1992) que as denomina de: herança conservadora, atualização da herança conservadora e ruptura da herança conservadora. 3 evidente com o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, não só no Brasil, mas na América Latina. Em 1975, na XIX Convenção Nacional da ABESS, em Piracicaba, interior de São Paulo, inicia-se a discussão sobre a necessidade de revisão curricular, que será ponto de pauta de outras convenções da ABESS: da XX Convenção em Belo Horizonte, em 1977, da XXI Convenção em Natal, em 1979, e da XXII, em Vitória, em 1981. A crítica ao currículo anterior (Parecer nº 242/70 e Resolução de 13/0370) se dá, pois: Predominou, na formação desse profissional, uma visão fragmentada da realidade em que deveria atuar, com a especificidade dos seus estudos voltados para o Serviço Social de Casos, em contraposição ao de Grupo ou de Comunidade. Essa metodologia levava a uma irreal divisão do indivisível, razão pela qual tem sido criticada e, tanto quanto possível, minimizada nos planos dos cursos de maior qualidade, sendo aos poucos, substituída por uma ótica mais realista de ação em nível da globalidade social. (BRASIL, 1982, PARECER 412 CFE/MEC) A nova proposta curricular elaborada no fim da década de 1970 visava romper com a metodologia tradicional, eliminando as disciplinas de Caso, Grupo e Comunidade. Nessa proposta, buscava-se a reflexão teórico-metodológica a partir do conhecimento da sociedade e, para isso pautava-se em autores clássicos como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim. 3. . As Diretrizes Curriculares como Expressão de um Projeto de Formação Profissional e suas Bases de Sustentação Desde a década de setenta, profissão de Serviço Social vem sendo discutida, trazendo-a para mais perto da realidade com a aproximação da produção teórica e da práxis à realidade da população usuária. É importante lembrar que o Brasil estava em período de ditadura desde 1964 até 1984. Nesse período havia grande controle dos movimentos sociais, inclusive dos movimentos estudantis e das atividades acadêmicas. A realidade brasileira do início dos anos de 1980 era de crise econômica, de rearticulação da sociedade civil e dos movimentos políticos do país. A situação nacional, Colocou a revisão do currículo e da formação profissional como uma necessidade histórica, contextualizada pela crise da ditadura, pela reorganização da sociedade, pelas especificidades da universidade brasileira, deixando patente o esforço de tratar o exercício profissional no interior da dinâmica da sociedade brasileira nos anos 80 (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 145) Em nove de agosto de 1982, é aprovado pelo Conselho Federal de Educação o anteprojeto de reforma curricular do Serviço Social, sob o Parecer n0 412 do processo n0 7408/82. 4 Essa reforma, responde à dinâmica daquele novo momento e estabelece uma direção social vinculada à classe trabalhadora e à solidez científica, avançando o processo de reconceituação com uma clara expressão de compromisso de classe. Com uma proposta curricular centrada na categoria trabalho, foi possível a aproximação do Serviço Social à classe trabalhadora. A proposta tinha como objetivo [...] capacitar o aluno para compreender e analisar de forma crítica a realidade histórico estrutural e o contexto institucional, onde se processa a prática do Serviço Social, habilitandoo a propor e operar alternativas de ação. [...] Trata-se, por conseguinte, de uma formação que se situa no plano da reflexão-ação, tendo em vista o desencadear de um processo de capacitação. O currículo de 1982 do curso de Serviço Social pressupõe duração mínima de 2.700 horas com a integralização a efetuar-se em no mínimo três anos e, no máximo, de sete anos, ficando o termo médio fixado em quatro anos. A proposta curricular deu ênfase às disciplinas de metodologia, teoria e história do Serviço Social. O currículo mínimo sugerido se subdivide em duas partes distintas, uma básica e outra profissionalizante. O ciclo profissionalizante considera fundamental, conhecimentos e habilidades quanto a estratégias de intervenção em contextos institucionais diferenciados. É importante destacar que, pela primeira vez, o currículo de Serviço Social cita a necessidade de desenvolvimento de habilidades profissionais, com um direcionamento profissional que rompe com a fragmentação da realidade, propõe uma formação crítica e comprometida com a transformação social e ressalta o desenvolvimento de uma prática consciente e conseqüente no interior das relações de classe da sociedade brasileira, em oposição à perspectiva capitalista. A nova proposta curricular visava à integração social, à cidadania e à luta de classes. Esse currículo inovador, para a época, teve algumas dificuldades na sua implementação. Uma delas foi à falta de professores com a formação necessária para trabalhar com a proposta apresentada. A efervescência dos movimentos sociais, a nova proposta curricular e o movimento dos assistentes sociais geram uma discussão para a reformulação do código de ética, que é aprovado em 09 de maio de 1986 com a Resolução CFAS N0 195/86. Esse Código de Ética representou uma ruptura na tradição neotomista e adotou uma nova postura frente aos problemas sociais. Ele foi um avanço para a época, trouxe novas reflexões para a profissão, rompendo com valores trazidos do início da profissão, especialmente os vinculados à igreja católica. A reelaboração do Código de 1986 possibilitou uma reflexão ética embasada em categorias universalizantes e na dimensão ontológica do ser social, na sua forma de reproduzir5 se socialmente e, especialmente, na construção sistematizada do chamado projeto éticopolítico profissional.A nova proposta, entretanto, não satisfez os profissionais de Serviço Social, pois não atendia às necessidades das mudanças econômicas e políticas pelas quais o país passava. Para os profissionais o código apresentava fragilidades de implantação no cotidiano e limites teórico-filosóficos, mas, por outro lado, entendiam que não era possível descartar os ganhos obtidos com a opção por um projeto profissional afinado com as demandas. Entre 1991 e 1993, as entidades profissionais de Serviço Social (ABESS, CEFESS, CRESS) realizaram incansáveis discussões sobre a proposta de um novo Código de ética que culminou em 13 de março 1993 com a aprovação do novo Código de Ética Profissional do Assistente Social através da Resolução CFESS N 0 273/93. O Código de 1993 traz na sua construção o amadurecimento teórico-político conquistado pelos profissionais de Serviço Social ao longo de sua história, que reafirma seu compromisso com a democracia, a liberdade e a justiça social. Trata-se do primeiro documento profissional especificamente centrado na questão ética e na ética profissional em uma perspectiva histórica e crítica. A década de 1990 trouxe, além de um novo Código de ética, a Regulamentação da Profissão através da Lei 8.662 de 07 de julho de 1993, que revoga a lei anterior de 1957. As mudanças ocorreram em função das transformações pelas quais a sociedade passou nos anos 1990. A nova Lei de Regulamentação da Profissão trouxe algumas modificações importantes como, por exemplo, a definição de competências profissionais. Os profissionais de Serviço Social através de órgãos representativos como: ABESS, CEDEPSS, CFESS e ENESSO realizaram sucessivas oficinas para discutir a revisão curricular dentro das exigências da contemporaneidade e alterar o currículo mínimo que estava em vigor desde 1982. “Entre 1994 e 1996 foram realizadas aproximadamente 200 (duzentas) oficinas locais, nas 67 unidades acadêmicas filiadas à ABESS, 25 (vinte e cinco) oficinas regionais e duas nacionais.” (ABESS, 1999: 58). Na assembléia geral da ABEPSS de 1996, no Rio de Janeiro foi aprovado o produto deste trabalho, traduzido na proposta de currículo mínimo para o curso. Os eventos promovidos pela categoria profissional possibilitaram o repensar da profissão, especialmente da formação de novos profissionais. Para que a formação seja modificada e tenha uma unidade nacional era necessário elaborar uma proposta de currículo para os cursos de Serviço Social. Está proposta desvelou os anseios dos profissionais e a possibi- 6 lidade de formar de maneira diferente os futuros profissionais. A revisão curricular propôs como pressupostos norteadores da concepção de formação profissional: O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da questão social, expressa pelas contradições de desenvolvimento do capitalismo monopolista. A relação do Serviço Social com a questão social – fundamento básico de sua existência – é mediatizada por um conjunto de processos sócio-históricos e teóricos-metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho. O agravamento da questão social em face das particularidades do processo de reestruturação produtiva no Brasil, nos marcos da ideologia neoliberal, determina uma inflexão no campo profissional do Serviço Social. Esta inflexão é resultante de novas requisióes postas pelo movimento de organização das classes trabalhadoras, com amplas repercussões no mercado de trabalho. O processo de trabalho do Serviço social é determinado pelas configurações estruturais e conjunturais da questão social e pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das políticas e lutas sociais. (ABESS/CEDEPSS, 1997, p. 60-1). Estes pressupostos das Diretrizes deixam claro que o Serviço Social é uma profissão interventiva e atua nas expressões da questão social, sendo que a profissão se insere nas relações sociais de produção e reprodução da vida social, a formação universitária não tem como se eximir de formar profissionais para o mercado de trabalho, pois é uma das fontes de produção de conhecimento e os profissionais que saem das universidades de forma geral estarão ávidos a adentrar no mundo do trabalho ou de conseguir novos e melhores postos profissionais. O mercado de trabalho enfatiza o discurso de habilidades e competências necessárias para o trabalhador atual estar inserido do mundo do trabalho globalizado. Esta situação torna-se necessária na discussão de agências formadoras de profissionais, e no Serviço Social, para que não se distancie do projeto de formação profissional. O processo democrático da revisão curricular pelas entidades representativas do Serviço Social criou condições para encontrar novos caminhos e soluções para o enfrentamento das dificuldades impostas pela conjuntura. O debate, também, instrumentalizou as unidades de ensino para crítica e formulação sobre as diretrizes propostas pela SESu/MEC. As diretrizes para o curso de Serviço Social se organizaram a não permitir a fragmentação e segmentação das disciplinas, nem a abstração e autonomização dos conteúdos concretos, buscaram superar os formalismos, estimular o caráter interdisciplinar e estabelecer a indissociabilidade nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão. Recusou-se a fazer a separação entre ensino teórico e ensino pratico, entre investigação e intervenção, entre ética e política. 7 O projeto de formação profissional tem uma proposta de ensino e de prática de Serviço Social conjuntas, e considera as matérias como expressões de áreas de conhecimento necessárias a formação profissional, que podem ser realizadas por meio de disciplinas, seminários temáticos, atividades complementares e oficinas. Considera que o estágio e o trabalho de conclusão de curso são indispensáveis e devem ser desenvolvidas no decorrer do curso.com está proposta curricular, o aluno estará tecendo uma rede de conhecimentos alimentada paralelamente na teoria e na intervenção. Durante as décadas de 1970 e 1980 houve manifestações de profissionais e pessoas ligadas à educação mostrando sua insatisfação com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) vigente. Mas, é só na década de 1990 que é aprovada a nova LDB, com a promulgação da Lei 9394/ de 20 de dezembro de 1996, que foi totalmente apoiada pelo MEC, tanto em sua elaboração como aprovação, e reflete a política desenvolvida pelo governo no campo educacional. Diante da nova política de ensino superior para o país, a categoria dos profissionais de serviço social, discute uma proposta com base no novo currículo aprovado pela categoria em 1996, que venha a atender as exigências da LDB. A ABESS acompanhou de forma sistemática a tramitação das Diretrizes Curriculares junto a Secretaria de Ensino Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC), sendo que a primeira comissão de especialistas de ensino 4, para o período de 1997-1998 foi indicada pela ABESS, fizeram parte da comissão as professoras: Marilda Iamamoto, Maria Rachel Tolosa Jorge, Marina Maciel, Maria Marieta dos Santos Koike e Mariângela Belfiore Wanderley. A Comissão tinha como tarefa analisar os pedidos de autorização de cursos de Serviço Social e elaborar os “Padrões de Qualidade para Autorização e Reconhecimento de Cursos de Graduação em Serviço Social” 5·. A segunda comissão de especialistas de ensino, para o período de 1998-2000 foi nomeada pelo secretário do Ensino Superior do MEC, na portaria N0 48 de 10/03/98, os professores que fizeram parte da comissão foram: Marilda Iamamoto, Mariângela Belfiore Wanderley e Maria Bernadete Martins Pinto Rodrigo. Esta comissão teve a tarefa de propor as diretrizes curriculares para o Serviço Social, estas diretrizes, de acordo com o Plano de Educação de 2001, deveria assegurar a necessária flexibilidade e diversidade nos pro- 4 A comissão de especialistas é formada por profissionais de notório saber, os mesmos são indicados pela categoria profissional e designados pelo MEC. 5 Os Padrões de qualidade foram divulgados na Revista ABESS N0 7 de Nov. 1997. 8 gramas oferecidos pelas diferentes instituições de ensino superior, para que possa atender as necessidades diferenciadas da clientela e as peculiaridades regionais. A Comissão de Especialistas de Ensino em Serviço Social referenda a proposta do currículo mínimo aprovado na Assembléia da ABESS/1996. A proposta encaminhada é apreciada, mas não aprovada na integra, ela sofre modificações que segundo Iamamoto (2008: 445) “a proposta original sofreu uma forte descaracterização no que se refere à direção social da formação profissional, aos conhecimentos e habilidades preconizados e considerados essenciais ao desempenho do assistente social”. Em 2001 o Conselho Nacional de Educação/Câmara Superior de Educação aprovaram o Parecer n0 492/2001, referente às diretrizes curriculares para dez cursos, entre eles, o Serviço Social. A comissão relatora justifica que para adequar as propostas analisadas ao Parecer 776/97, foram necessárias algumas alterações. A proposta de flexibilização dos cursos superiores esta posta mundialmente, e que para Iamamoto (2004, p. 69) favorece para que o “Know-how tende a subordinar as competências profissionais legalmente instituídas, decorrente, entre outros aspectos, das exigências de polivalência dos trabalhadores e trabalhadoras instituída no âmbito da produção e dos serviços”, assim, os trabalhadores têm novos desafios como atuar em equipe de forma interdisciplinar. Mesmo depois das normativas do Ministério da Educação, pouco se tem escrito, falado e debatido sobre o desenvolvimento de Competências e Habilidades no Serviço Social brasileiro. Como escreve Iamamoto (2008, p. 465), “As competências profissionais e atribuições privativas do assistente social resguardadas na legislação profissional são temas silenciados, afora a atribuição referente à gestão e avaliação das políticas, programas e projetos”. É de extrema importância que os profissionais e as instituições formadoras tenham claro o que são e quais são as competências e habilidades profissionais do Serviço Social, pois só assim se garantirá uma formação qualificada, além do que: “estão em jogo tanto a defesa de formação especializada de nível universitário, quanto ao direito do usuário dispor de serviços realizados por profissionais dotados de competência técnico-científica e éticopolítica no atendimento as suas necessidades e direitos sociais”. (IAMAMOTO, 2004, p. 70) 9 4. A Oferta de Cursos de Serviço Social no Brasil Segundo a base de dados do MEC/INEP, de abril de 2009, existem 331 cursos de Serviço Social no país, destes 49% estão em universidades, 32% em faculdades, 12,9% em Centro Universitário e 5,7% em Instituto de Ensino superior. Somando as Universidades e Centros Universitários que possuem o curso de Serviço Social, são 206 cursos, conseqüentemente 62,23 % dos cursos oferecidos no Brasil obrigatoriamente desenvolvem projetos de pesquisa e extensão. Há uma concentração de cursos de Serviço Social na região sudeste (49%) com 163 cursos e na região Sul (22%) com 73 cursos, a visualização é possível no gráfico. Há uma concentração de instituições de ensino nestas regiões que possuem maior desenvolvimento econômico e perspectivas para o mercado de trabalho. Há uma concentração de cursos de Serviço Social em IES privadas dos 331 cursos 83,38% (276) são privados e apenas 16,61% (55) são públicos este é um fenômeno histórico no Serviço Social, que desde seu inicio no Brasil se concentrou em IES privadas. O crescimento rápido do número de IES privadas empresariais tem mostrado que, estas instituições dão ênfase ao ensino em detrimento da pesquisa e extensão, e que a lógica empresarial penaliza os docentes nas relações de trabalho, com contratos de professores horistas (hora/aula), com uma carga horária excessiva em disciplinas, e muitas vezes sem carga horária para desenvolvimento de pesquisa, extensão, sem falar no não pagamento de horas atividades, aquelas horas que o professor prepara suas aulas, material para aluno e correção de provas. Especificamente no serviço social, as horas para orientação de Trabalho de Conclusão de Curso e supervisão acadêmica têm sido sucateadas pelas IES. A modalidade de ensino a distância em cursos superior é nova no Brasil, das dez IES que oferecem o Curso de Serviço Social, duas são de 2006, três de 2007, quatro foram criadas em 2008 e uma em 2009. É importante lembrar que a instituição sede do ensino a distância se localiza em uma determinada região, mas sua ação pode ser em qualquer localidade, pois pode contar com pólos de ensino. A IES com ensino a distância pode ofertar um número de vagas muito maior que o ensino presencial, por exemplo, enquanto a maioria das IES presenciais oferece 50 a 100 vagas, o ensino a distância oferece mais de mil vagas. Das dez IES, nove são privadas, destas quatro são filantrópicas, e uma IES é pública estadual, que apesar de ser publica cobra pelos cursos oferecidos, a referida Instituição é a Fundação Universidade do Tocantins (Unitins) que no final do mês de fevereiro/09 foi notificada pelo MEC, terá que deixar de cobrar as mensalidades em cursos de graduação a 10 distância, pois na condição de instituição pública, ela desrespeita a Constituição por não oferecer cursos gratuitos. A IES também terá que investir na melhoria da qualidade do ensino. Na década de 1970 houve crescimento de instituições de ensino em todo o país, fato decorrente da reforma universitária de 1968 e conseqüente privatização do ensino superior, com isto se criaram 20 cursos de Serviço Social na referida década. Mas o maior crescimento ocorreu a partir de 2000, com a implementação da LDB de 1996, e conseqüentemente a ampliação da privatização do ensino superior. Até 1999 eram ao todo 83 cursos de Serviço Social, e entre 2000 e 2007 foram criados 233 cursos, ou seja, 70% dos cursos de serviço social oferecidos em 2009 são recentes e não acompanharam movimento histórico da profissão. 5. Conclusão As mudanças na educação superior têm ocorrido em todo o mundo na última década. Em relação ao curso de Serviço Social no Brasil, as mudanças tem provocado uma ampliação na oferta de cursos, em espacial nas instituições privadas. As novas instituições não participaram da historia da profissão e das mudanças curriculares discutidas pela categoria profissional na década de 1990. Outro problema é a falta de profissionais capacitados para atuar como professores nos novos cursos. Com isto se tem o receio da desqualificação das futuras gerações profissionais. 11 6. Bibliografia ABESS/CEDEPSS. “Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (com base no currículo mínimo aprovado em Assembléia Geral Extraordinária de 8 de novembro de 1996).” Cadernos ABESS n. 7 (Cortez), 1997: 58-76. ABESS/CEDEPSS. Proposta Básica para o Projeto de Formação Profissional. In, Revista Serviço Social e Sociedade, N. 50. São Paulo: Cortez,1996. P. 143-171 BRASIL . “Parecer nº 412 do Conselho Federal de Educação - MEC sobre o Processo nº 7408/82 aprovado em 9/8/82.” 1982. FRANCO, Simone Tereza Teixeira da Costa e Silva. “Tecendo Subjetividades: a formação profissional de alunas do curso de Serviço Social.” Salvador, Bahia, 2003. IAMAMOTO, Marilda Villela. “Reforma do Ensino Superior e Serviço Social.” Temporalis (ABEPSS), jul 2004: 35 - 79. IAMAMOTO. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2008. NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1991. 12