Gley P. Costa “A chama é a parte mais sutil do fogo, e se eleva em figura piramidal. O fogo original e primordial, a sexualidade, levanta a chama vermelha do erotismo e esta, por sua vez, sustenta outra chama, azul e trêmula: a do amor”. Octavio Paz, 1993. Gley P. Costa Amor: defrontar-se com este pequeno vocábulo é como ter diante dos olhos um caleidoscópio que, ao menor movimento, modifica totalmente a configuração observada, decorrência dos múltiplos significados da palavra e dos subsídios de * Título de uma canção de Cole Porter. várias áreas do saber que ampliaram suas dimensões desde os mais antigos escritos da humanidade. Contudo, ultrapassa nossa capacidade e nossa pretensão levantar as pedras do conhecimento universal para saber o que ele tem a nos ensinar a respeito do amor ou mesmo percorrer o extenso campo das relações amorosas. Nosso objetivo é tão somente abordar este sentimento no restrito campo da Psicanálise ou, mais especificamente, como se desenvolveu e evoluiu a idéia do amor na obra de Freud. O estudo desse desenvolvimento se revela bastante complexo, principalmente por não apresentar linearidade, o que obriga a quem se dedica a esta tarefa a muitas idas e vindas, consistindo este processo de produção de idéias numa das riquezas do trabalho de Freud. Como conseqüência, uma concepção sobre o amor, após inúmeros rodeios, somente foi alcançada no final de sua vida, mais precisamente em Esquema de Psicanálise, trabalho inconcluso, escrito em meados de 1938. Considero que esta publicação póstuma contém uma síntese das elaborações de Freud sobre os impulsos, incluindo o amor. Tendo como objetivo discorrer a respeito do amor, portanto, sobre a força da vida, não poderia omitir o registro de Strachey, na Nota Introdutória da referida obra, de que “ainda aos 82 anos, Freud nos mostra que possuia um dom surpreendente para abordar de maneira renovada temas que poderiam parecer já trilhados” (p.137), ao que poderíamos acrescentar, mantendo a capacidade de reconhecer ter passado por “um longo tempo de vacilação e oscilação”, como diz no referido artigo (p.146), até conseguir integrar as sucessivas abordagens sobre as pulsões, inicialmente, divididas em sexuais, representadas pela libido, e do ego ou de autoconservação, e, posteriormente, divididas em pulsões de vida e de morte (Freud, 1905,1910 e 1920). No Esquema, Freud estabelece a existência de duas pulsões básicas: Eros e pulsão de destruição. Esclarece que a meta da primeira é produzir 1. O Banquete, de Platão. Gley P. Costa unidades cada vez maiores e, desta forma, conservá-las, desempenhando, portanto, uma função de ligação. Exatamente o caráter atribuído a Eros em um dos mais antigos escritos gregos sobre o amor, a Teogonia, de Hesíodo (Século VIII a.C.). Ao contrário, a meta da pulsão de destruição é dissolver nexos e, assim, destruir as coisas do mundo, possuindo como último objetivo fazer com que o vivo retorne ao estado inorgânico, razão pela qual, também, pode ser chamada de pulsão de morte. Em Eros, não se observa esta tendência de voltar a uma condição anterior, confirmando o mito de Aristófanes1, segundo o qual o ser humano representa a metade partida do todo, que busca no outro o resgate de sua unidade. No interior de Eros, correspondendo à pulsão de vida, concentram-se dois tipos de pulsões: de um lado, as pulsões de conservação, que reúnem as pulsões de autoconservação e de conservação da espécie e, de outro lado, as pulsões, antes denominadas sexuais, que, no Esquema, Freud chamou de amor, compreendendo o amor narcisista e o amor objetal. Os dois grupos de pulsões – Eros e pulsão de morte – representam os requerimentos impostos pelo corpo à vida anímica, sendo impossível identificar uma atividade mental que reproduza a ação de uma pulsão isolada. Nas funções biológicas, os dois grupos se opõem e se combinam, como por exemplo, o ato de comer, que corresponde a uma destruição do objeto com a finalidade de incorporação, e o ato sexual, uma agressão com o propósito da união mais íntima entre duas pessoas. Esta ação conjugada entre contrários produz toda a variedade de manifestações da vida, determinando comportamentos desajustados, quando existe um acentuado predomínio de um em detrimento do outro. Desta forma, um incremento exagerado da agressão no ato sexual transforma o amante em um estuprador, enquanto um rebaixamento acentuado do fator agressivo pode transformá-lo em um tímido e impotente. Toda energia que se encontra à disposição de Eros, que devemos chamar de libido, provém do id-ego indiferenciado e serve para neutralizar as tendências destrutivas do impulso de morte, simultaneamente presentes. No interior do corpo, a ação de instinto de morte é silenciosa, revelando-se quando se exterioriza sob forma de agressão. Esta exteriorização é necessária para a conservação da pessoa, na medida em que a retenção de quantidades exageradas de pulsão de morte determina a destruição do indivíduo, como ocorre quando sofre a admoestação de um superego muito exigente. De qualquer maneira, uma parte do impulso destrutivo sempre permanece no interior do corpo, acabando por matar o indivíduo, provavelmente, quando sua libido tenha se consumido ou se fixado de maneira desvantajosa. Sendo, assim, acentua Freud, o indivíduo morre por razões internas, enquanto a espécie se extingue quando o mundo externo se modifica de tal forma que se tornam insuficientes as adaptações adquiridas por ela. Outro aspecto da teoria das pulsões, abordado no Esquema, diz respeito ao comportamento da libido que, inicialmente, encontra-se, em sua totalidade, armazenada no ego, caracterizando um estado de narcisismo primário absoluto. Essa condição permanece até o momento em que o ego começa a investir com libido as representações de objeto, transformando libido narcisista em libido objetal. Apesar disto, durante toda a vida, o ego segue sendo o grande reservatório da libido, investindo e desinvestindo os objetos. Nos casos de enamoramento, ocorre a transferência de uma quantidade de grandes proporções da libido para o objeto que, de certa forma, passa a ocupar o lugar do ego. Um caráter de importância vital é a mobilidade da libido, permitindo que ela passe de um objeto a outro, exatamente o contrário do que ocorre na fixação da libido em determinados objetos que, às vezes, dura a vida inteira. Freud conclui, nesse trabalho, sua doutrina das pulsões, afirmando que “o melhor que sabemos sobre Eros, ou seja, sobre o seu expoente, a libido, adquiriu-se através do estudo da função sexual” (p.149). Embora não concordem com a idéia de que Eros e função sexual devam ser consi- Contudo, como destacamos, inicialmente, o Esquema consiste em uma tentativa de Freud de realizar um resumo das idéias, que foi elaborando ao longo da vida. No que diz respeito, especificamente, à questão do amor, penso que se possa estabelecer um divisor de águas em sua obra ou, mais precisamente, um momento organizador deste complexo tema nas Conferências de introdução à Psicanálise, de 1916-1917, em que se lê: “Falamos em amor, de fato, quando trazemos ao primeiro plano o aspecto anímico das aspirações sexuais e empurramos ao segundo plano, ou procuramos esquecer por algum momento, os requerimentos pulsionais de caráter corporal ou ‘sensual’ que se encontram na base” (p.300). Esta idéia de Freud sobre a existência de dois planos de compreensão do amor, remete-nos para os trabalhos: Pulsões e destinos de pulsão, de 1915, no qual define o amor como a relação do ego com suas fontes de prazer e Além do princípio do prazer, de 1920, em que desenvolve sua teoria da fonte pulsional, na qual o corpo é concebido como fonte das pulsões. Esses dois trabalhos embasam a compreensão do amor nas relações estabelecidas na intimidade do corpo e nas relações de um indivíduo com outro indivíduo, correspondendo à passagem do prazer voluptuoso (exclusivamente físico) ao prazer erótico da vida anímica. Devemos lembrar, neste momento, a diferença que Freud estabelece, em 1920, entre objetos inertes ou inorgânicos, objetos animados ou com vida orgânica e objetos com vida psíquica, um advindo do outro. Tendo em vista ir mais adiante com este estudo sobre o amor, no Gley P. Costa derados sobreponíveis, destacou que “a pulsão sexual é a encarnação da vontade de viver” (Freud,1920, p.49). Sem dúvida, o Esquema representa uma demonstração admirável do amor de Freud à Psicanálise, principalmente, se considerarmos, além de sua idade, o estado de grande sofrimento em que se encontrava, tanto pela ação do nazismo, obrigando-o a deixar sua Viena, quanto por sua doença, obrigando-o a submeter-se a sucessivas cirurgias, sem sucesso. surgimento da vida psíquica, penso que devemos retomar a oposição que Freud estabelece no Esquema, entre amor narcisista e amor objetal, assunto desenvolvido, principalmente, em Sobre o Narcisismo: Uma Introdução, de 1914, e nos dois trabalhos antes citados: Pulsões e destinos de pulsão, de 1915, e Conferências de introdução à psicanálise, de 19161917, aos quais vou me cingir. As fontes de prazer do ego podem estar nele mesmo ou no objeto. No começo da vida anímica, o ego se encontra investido pelas pulsões e procura satisfazê-las nele mesmo mediante uma atividade denominada de autoerótica. Esta etapa é conhecida como narcisista, uma forma de relação amorosa que se caracteriza pelo amor ao próprio ego. Contrariamente, quando o indivíduo reconhece o amor ao objeto como sendo a fonte principal de prazer do ego, a libido, que busca satisfazer-se nesse vínculo, é chamada de objetal. A relação com o objeto, que na fase auto-erótica é indiferente ao ego, nasce das vivências derivadas das pulsões de autoconservação. O amor objetal representa a forma de amor mais elevada, o amor por excelência, acompanhando pari passu o desenvolvimento do ego de maneira muito complexa. Tão logo o amor objetal supere o amor narcisista, as sensações de prazer e desprazer passam a significar a relação do ego com o objeto. Quando o objeto constitui uma fonte de sensações prazerosas, o ego procura aproximá-lo e incorporá-lo. Nesta condição, consideramos que o objeto exerce sobre nós uma atração, e declaramos que o amamos. Contrariamente, quando o objeto se transforma em uma fonte de sensações desprazerosas, a tendência é se afastar dele, repetindo o modelo primitivo da substância viva de fuga dos estímulos desmesurados do mundo exterior. Neste caso, o sentimento experimentado é de repulsão, por parte do objeto, e manifestamo-nos dizendo que o odiamos. Este ódio pode se intensificar, transformando-se em inclinação a agredir o objeto no intuito de destruí-lo. Neste ponto, Freud (1915) faz uma distinção bastante marcada em relação às origens do amor e do ódio, vinculando o primeiro, estritamente, à satisfação da pulsão sexual, e o segundo, tanto às necessidades não satisfeitas Ao abordar esse fascinante assunto, não podemos ignorar a questão do desejo, principalmente, do desejo sexual. Embora tenha se referido ao desejo, inúmeras vezes, ao longo de sua obra, Freud não chegou a desenvolver uma teoria sobre este tema, como o fez a respeito da libido e das pulsões, com as quais, muitas vezes, se confunde. Embora bastante relacionado com a libido, o seu aparecimento segue outro caminho, fundando a vida psíquica e tornando-se o seu motor. A seqüência é, mais ou menos, a seguinte: em um primeiro momento, existe apenas descarga pulsional, caracterizando o prazer voluptuoso, depois, a sensualidade se enlaça com o mundo sensorial, estabelecendo as marcas mnêmicas, de tal modo que, quando surge novamente a tensão na fonte pulsional, ela já se encontra Gley P. Costa desta pulsão, quanto às do ego. Por esta razão, além de uma evolução diferente, o ódio é mais antigo do que o amor, tendo em vista que, no primeiro momento, a pulsão sexual se satisfaz auto-eroticamente, sendo, todavia, indiferente ao objeto, enquanto a pulsão do ego necessita do objeto, desde o início, para obter satisfação. Quando as pulsões do ego governam a função sexual, elas transferem a esta meta pulsional o ódio que mantêm aderido, como ocorre na etapa sádico-anal. Apesar dos objetos serem os mesmos, a relação que o ego estabelece com eles, a partir do impulso de auto-conservação e do impulso sexual, não coincide, pois, no primeiro caso, ao contrário do segundo, o amor não é enfatizado, mas a necessidade. Desta forma, como destaca Freud (1915), “a palavra ‘amar’ se vincula predominantemente à esfera do puro vínculo de prazer do ego com o objeto, fixando-se definitivamente nos objetos sexuais, no sentido estrito, e naqueles objetos que satisfazem as necessidades das pulsões sexuais sublimadas” (p.132). Nos casos em que ocorre uma interrupção de uma relação de amor, o ódio, que por motivos reais passa a ocupar o seu lugar, pode ser reforçado pela regressão do amar à etapa sádica prévia, o que concede ao odiar um caráter erótico, garantindose, desta maneira, a continuidade do vínculo amoroso. conectada à marca mnêmica. A partir desse momento, a criança não ambicionará repetir apenas o prazer antes experimentado, mas, também, as cenas que o propiciaram, marcando o surgimento do desejo. Inicialmente, as marcas mnêmicas são inconscientes (representação coisa), depois, tornamse pré-conscientes (representação palavra). A fantasia, para Freud, resulta da união destas duas representações. Acompanhando o desenvolvimento do ego, observamos que, nos primeiros meses de vida, portanto durante a etapa oral, o amor é ambivalente, não se distinguindo totalmente do ódio. Da mesma forma, não se distingue o ser e o ter o objeto, razão pela qual a identificação representa a primeira forma de laço afetivo. O modelo analógico é o do canibalismo, em que a relação amorosa com o objeto implica incorporá-lo e transformá-lo em parte do próprio ser. É uma forma de amor que, implicitamente, acarreta a destruição do objeto como tal. Durante a etapa do erotismo anal, caracterizada pela tendência de apoderar-se do objeto, observamos que a ambivalência, embora mais evidente, é menor do que na etapa oral, assim como a indistinção das categorias ser o objeto e ter o objeto. Quando ocorre a integração das pulsões sexuais parciais, na etapa genital do desenvolvimento, o amor sucede ao ódio, coincidindo com a aspiração sexual total. Este passo desenvolvimental engendra o complexo de Édipo, como o concebeu Freud, uma etapa em que a criança transforma um dos progenitores em seu primeiro objeto de amor, concentrando nele todas as pulsões sexuais que anseiam por satisfação. Mais tarde, como resultado da repressão, a maioria das metas sexuais infantis é renunciada, deixando como seqüela uma profunda modificação das relações com os pais. O vínculo que permanece com eles representa, nas palavras de Freud (1915), um amor de “meta inibida” (p.118), determinando o surgimento da ternura nos relacionamentos. Contudo, o amor que busca plena satisfação das pulsões é exclusivista e anti-social. Uma dupla, unida pelo amor, exige intimidade, não deseja Agora, é oportuno fazer um comentário sobre as escolhas amorosas, tomando como referência, principalmente, o que Freud estabeleceu no trabalho Sobre o Narcisismo: Uma Introdução, de 1914, no qual faz a interessante afirmativa de que o ser humano “tem dois objetos sexuais originários: ele mesmo e a mulher que o criou” (p.85), acrescentando que, mais tarde, esses dois relacionamentos servem de modelo para as eleições de objeto. Conforme foi enfatizado, inicialmente, a satisfação das pulsões sexuais se apoiam nas funções vitais que servem à autoconservação e só mais tarde se independizam. Conseqüentemente, os primeiros objetos sexuais da criança são as pessoas encarregadas de alimentá-la e protegê-la, geralmente, a mãe e substitutos. Esse vínculo com esses objetos configura o relacionamento do tipo apoio ou anaclítico. No entanto, nem todos os indivíduos fazem suas escolhas amorosas conforme o modelo da mãe, mas elegem a si mesmos como objeto de amor, caracterizando o tipo narcisista de eleição de objeto. No início da vida, todos passam por essa forma de Gley P. Costa compartilhar essa experiência com mais ninguém. No entanto, essa forma de amor tende a se extinguir com a satisfação, persistindo às custas de uma parcela considerável de ternura. Ao contrário, o amor de meta inibida permite que as ligações entre os indivíduos sejam mais duradouras. Ela se encontra na base da amizade e, também, da sublimação, consistindo no fator primordial do desenvolvimento da cultura. No entanto, em 1920, Freud referiu que essa inibição libera quantidades de impulso de morte, dominado pela mescla das pulsões sexuais, que ocorre quando suas metas são atingidas. Essa situação estabelece um paradoxo que consiste no seguinte: a libido dessexualizada ou inibida em sua meta propicia, por um lado, a ternura e a estabilidade nas relações humanas, além do desenvolvimento da cultura, mas, por outro, libera um excedente de pulsão de morte que age contra o indivíduo, os relacionamentos e a própria cultura pelos seus representantes externos: a agressão, a apropriação e a destruição. amar que Freud denominou de narcisismo primário, uma expressão de Eros que sustenta, na vida adulta, o sentimento que chamamos de amor próprio. O tipo apoio, que podemos considerar como característico do amor objetal, admite duas possibilidades: o objeto eleito pode ser a mulher nutriz ou o homem protetor, enquanto o tipo narcisista apresenta quatro alternativas: o objeto corresponde ao que o indivíduo é, ao que ele foi, ao que ele gostaria de ter sido e, por último, à pessoa que foi parte dele mesmo. E, neste momento, sentimo-nos obrigados a expor uma posição de Freud que nos parece duvidosa. Diz ele que o pleno amor objetal pertence, caracteristicamente, ao homem, enquanto o amor narcisista é mais genuíno nas mulheres, sendo esta diferença fundamental entre os sexos, embora não regular. De acordo com esta idéia, a superestimação sexual, observada no homem, provém do narcisismo originário do menino, correspondendo à transferência deste narcisismo sobre o objeto sexual. O enamoramento tem sua origem na superestimação sexual masculina, representando elevado investimento libidinal do objeto em detrimento do ego que se empobrece nesse processo. Nas mulheres, o desenvolvimento dos órgãos genitais durante a puberdade determina um recrudescimento do narcisismo originário desfavorável à constituição de um objeto de amor superestimado. Algumas mulheres, especialmente se bonitas, somente amam a elas mesmas, com uma intensidade que se equipara ao amor que um homem pode lhes dedicar. Elas não necessitam amar, mas apenas serem amadas, e ligam-se ao homem que se dispuser a atender este anseio. Geralmente, não encontram dificuldade nesse intento, tendo em vista que o narcisismo costuma despertar grande atração, principalmente nos indivíduos destituídos de amor próprio. Esta característica do narcisismo é observável no fascínio que as crianças despertam nos adultos com sua inacessibilidade e complacência consigo próprias. Uma forma especial de amor objetal se encontra na raiz do ideal do ego, que corresponde a uma projeção à frente do narcisismo perdido da infância, durante a qual o indivíduo era o seu próprio ideal. O ideal do ego, Desde o início, sabíamos que nos encontrávamos diante de um tema difícil de começar e, não menos, de terminar. Contudo, na medida em que fomos pesquisando o assunto e procurando estabelecer relações entre diversos aspectos da teoria, percebemos que, na verdade, o amor é um assunto interminável, o que representa sua maior riqueza. Assim, neste ponto, concluímos nossa exposição, conscientes de ter passado ao largo de outros recônditos do amor que a obra de Freud oferece aos que a ela se dedicam com humildade e interesse. Ainda que Freud não tenha dito tudo sobre o amor, ele, pelo menos, conseguiu captar a complexidade da alma humana, como evidencia sua conclusão de que “um forte egoísmo preserva a pessoa de enfermar-se, mas no final ela precisa começar a amar para não cair enferma, e forçosamente enfermará se, como conseqüência de uma frustração, não puder amar” (Sobre o Narcisismo: Uma Introdução, p.82). Por último, considerando a incompletude desta exposição, representando nossas dificuldades de apreender, em sua plenitude, a riqueza do tema, resta-nos a tentativa de uma saída honrosa, a mesma que Freud utilizou para concluir Além do princípio do prazer, citando os versos do poeta árabe Abu Harari: “O que não se pode obter voando há que se alcançar coxeando. ............. Gley P. Costa assim concebido, apresenta um caráter evolutivo. Essa formação de ideal difere tanto da sublimação quanto da idealização. A sublimação consiste na dessexualização da meta pulsional que, dessa forma, torna-se aceitável pela cultura e pelo seu representante interno, o superego. Como foi referido antes, representa uma forma de amor de meta inibida, portanto, um processo que se opera na área da pulsão. Diferentemente, a idealização não altera a pulsão, mas o objeto que é engrandecido e realçado, sendo possível tanto no campo do amor objetal quanto do narcisista. A Escritura diz: coxear não é pecado”. Trata-se de uma conferência apresentada na VI Jornada de Psicanálise do Triângulo Mineiro, em 1996, que teve como tema Eros e Psiquê. O autor restringe sua abordagem ao campo da Psicanálise, mais especificamente, como se desenvolveu e evoluiu a idéia de amor na obra de Freud. This paper is concerned with a conference presented during the VI Jornada de Psicanálise do Triângulo Mineiro (VI Journey of Psychoanalysis of the Triângulo Mineiro), in 1996, wich had Eros and Psyche as its subject. The author restrains his approach to the field of Psychoanalysis, more specifically, about the way the idea of love was developed on Freud´s work. Conferencia presentada en la VI Jornada de Psicoanalisis del Triângulo Mineiro, en 1996, cuyo tema fue Eros y Psiche. El autor limita su abordaje al campo del Psicoanalisis, más especificamente como evolucionó y desarrolló la idea de amor en el trabajo de Freud. Eros; Pulsão; Prazer; Objeto; Desejo; Relação narcisista de objeto; Complexo de Édipo. Eros; Instinct; Pleasure; Object; Wish; Narcissist relationship; Oedipus Complex. Eros; Pulsión; Placer; Objeto; Deseo; Relaciones narcisistas de objeto; Complejo de Edipo. Gley P. Costa FREUD, S. (1905). Tres ensayos de teoria sexual. Obras completas, V. VII. Buenos Aires, Amorrortu, 1987. ______. (1910). La perturbación psicógena de la vision según el psicoanálisis. Obras completas, V. XI. Buenos Aires: Amorrortu, 1988. ______. (1914). Introducción del narcisismo. Obras completas, V. XIV. Buenos Aires: Amorrortu, 1989. ______. (1915). Pulsiones y destinos de pulsión. Obras completas, V. XIV. Buenos Aires: Amorrortu, 1989. ______. (1916-17). Conferencias de introducción al psicoanálisis, parte III. Obras completas, V. XVI. Buenos Aires: Amorrrortu, 1989. ______. (1920). Más allá del principio de placer. Obras completas, V. XVIII. Buenos Aires: Amorrortu, 1989. ______. (1940 [1938]). Esquema del psicoanálisis. Obras completas, V. XXIII. Buenos Aires: Amorrortu, 1986.