Manual de Condutas Atendimento HIV/Aids Edição Revisada - Setembro/2010 Programa Municipal DST/Aids de São Paulo Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo Gilberto Kassab - Prefeito Januario Montone - Secretário Municipal da Saúde Celso Galhardo Monteiro - Coordenadora do Programa Municipal DST/Aids de São Paulo Elaboração: Assistência Edição / Projeto Gráfico: Comunicação 1. AGENDAMENTO DE CONSULTAS MÉDICAS O agendamento de consultas novas e/ou retornos, deve contemplar critérios que se sobrepõem à ordem cronológica, devendo ocorrer na forma de encaixes (no máximo sete (07) dias após a procura do usuário), com profissionais treinados para atender casos de HIV/Aids (mesmo que o agendamento não ocorra com o profissional que faz seu acompanhamento), nas seguintes situações: - Gestantes soropositivas; - Usuários que procuram o Serviço Especializado devido a agravos oportunistas; - Usuários que receberão alta hospitalar. · · · · · · · · A agenda do ano correspondente permanecerá com o profissional no horário do atendimento; As consultas deverão ser agendadas com horário exclusivo para cada paciente; Os pacientes faltosos, bem como o número de atendimentos diários, deverão ser anotados; Cada paciente, ao ser admitido no Serviço, ficará sob a responsabilidade de um profissional médico cujo nome deverá constar no prontuário e no cartão, especificando a data da matricula. Em caso de transferência para outro profissional, deverá ser anotada a data da alteração e o nome do novo profissional; A equipe da recepção é responsável pelos agendamentos nos horários em que o profissional não estiver em atendimento, conferindo se este é o responsável pelo paciente em questão. Nos horários em que o médico estiver na unidade, o mesmo ficará com sua agenda. O paciente deverá ser orientado em relação aos horários de atendimento do seu médico responsável e que procure o Serviço nos horários correspondentes em casos de intercorrências clínicas, término de medicamentos, falta em consultas anteriores, convocação pelo Serviço, solicitação de atestados (INSS, PIS) entre outros; A mesma orientação deverá ser dada para o atendimento com médicos de outras especialidades ou outros profissionais da equipe multidisciplinar; Ao final da consulta, o profissional deverá anotar no prontuário e no cartão de agendamento, a data do retorno. 2. CONSULTAS Número de consultas por médico (clínico/infectologista) para pacientes HIV/Aids - 1 a 2 casos novos por dia com duração de 40 minutos; - 5 consultas de retorno; - 1 a 2 consultas extras – procura do dia (pacientes desteprofissional); - Total: 8 consutas/dia – por 4 horas. Prontuários · Os prontuários devem ser mantidos em área de circulação restrita a funcionários; · A retirada e a devolução do prontuário devem ser anotadas em livro próprio, indicando a data e o nome do servidor; · Os prontuários devem ser levantados e separados por profissional na data anterior à consulta, conforme agendamento; · O responsável pelo atendimento, antes de iniciar suas atividades, deve retirar os prontuários separados no setor. Pacientes faltosos · Os pacientes faltosos, principalmente os que já estiverem em terapia antirretroviral ou com exames alterados, devem ter seus prontuários encaminhados ao setor responsável para que seja feita sua convocação*(desde que autorizado previamente pelo paciente). Lembrar que estes deverão retornar em datas e horários de atendimento do profissional em questão; · Os pacientes convocados devem ter seu o nome, registro e data de convocação, anotados em livro próprio no setor de Vigilância e estes dados devem ser fornecidos à recepção; · Após primeira convocação, em caso de não comparecimento, efetuar a reconvocação, informando à equipe de visitas domiciliares que contate o paciente para investigação e caracterização de abandono; · A busca ativa só deve ser realizada se o paciente autorizou tal procedimento. Deve ser acionado o contato informado na ficha de Aconselhamento/Acolhimento; · Conforme orientação da Nota Técnica nº 208/09 – UAT/DSTAIDS/SVS/MS, recomenda-se que sejam considerados entre os critérios de alerta de má adesão ao tratamento antirretroviral, os usuários que não retirarem medicamento antirretroviral após sete (07) dias da data prevista para uma nova retirada ou que faltarem às consultas médicas agendadas; . Recomenda-se que sejam considerados casos de abandono ao tratamento os usuários que não retirarem medicamentos antirretrovirais a partir de três meses após a data prevista e não retornarem às consultas em seis meses. 3. ATENDIMENTO - ACOLHIMENTO/ACONSELHAMENTO 3.1. Acolhimento 1. Recepção humanizada Compreende todos os setores que o usuário percorre no serviço - Escuta de demanda; - Análise do tipo de atenção necessária; - Identificação de risco/vulnerabilidade (biológico, subjetivo e social); - Priorização das ações/atividades. 3.2. Aconselhamento É um diálogo baseado em uma relação de confiança que visa proporcionar à pessoa condições para avaliação de seus próprios riscos, tomar decisões e encontrar maneiras realistas de enfrentar suas fragilidades relacionados às DST/HIV/Aids. Poderá ser desenvolvido em vários momentos e não se reduz a um único encontro entre duas pessoas, podendo ser estendido aos grupos. Transcende o âmbito da testagem, contribui para a qualidade das ações educativas em saúde, fundamenta-se em prerrogativas éticas, que reforça e estimula a adoção de medidas preventivas das DST/Aids e orienta os indivíduos no caminho da cidadania e na plena utilização dos seus direitos. Compreende: - Apoio emocional; - Apoio educativo (informações sobre DST/Aids transmissão, prevenção e tratamento); - Avaliação de riscos (reflexão sobre valores, contingências,condutas e atitudes visando o planejamento de estratégias de redução de riscos e redução de danos. 4. PRIMEIRA CONSULTA MÉDICA (CLÍNICO/INFECTOLOGISTA) 4.1. Conferir se os dados de identificação do paciente estão completos; 4.2. Reafirmar com o paciente o contrato de sigilo; 4.3. História Clínica – não esquecer de abordar também os seguintes aspectos: Necessidades e informações para o manejo Reação emocional ao diagnóstico Aspectos a serem abordados Avaliar o apoio familiar e social Informações específicas sobre a infecção pelo HIV - Revisar a data do primeiro exame anti-HIV; - Documentação do teste; - Tempo provável de soropositividade; - Situações de risco para infecção; - Presença ou história de doenças oportunistas; - Contagem de CD4+ ou carga viral anterior; - Uso anterior de TARV e eventos adversos prévios; - Compreensão sobre a doença (explicar sobre transmissão, história natural, significado da contagem CD4+, carga viral e TARV). Abordagem do risco - História média atual e passada - História de doença mental; - História de tuberculose (PPD, doença e tratamento); - Outras doenças; - Hospitalização; - Uso de práticas complementares e/ou alternativas História reprodutiva - Desejo de ter filhos; - Métodos contraceptivos História social - Discutir a rede de apoio social (família, amigos, ONG); - Condições de domicílio; - Condições de alimentação; - Emprego; - Aspectos legais História familiar - Doenças cardiovasculares; - Dislipidemias; - Diabetes. Vida sexual; Utilização de preservativos; História de Sífilis e outras DST; Abuso de tabaco, álcool e outras drogas; Uso injetável de drogas; Interesse em reduzir os danos à saúde. 4.4. Avaliação Epidemiológica: conferir com os dados da ficha de Acolhimento e fechar a categoria de exposição; 4.5. Efetuar a notificação do caso; 4.6. Investigar antecedentes mórbidos pessoais, incluindo DST e Infecções 4.7. Oportunistas prévias (checar com os dados da ficha de Acolhimento); 4.8. Interrogatório sobre diversos aparelhos; 4.9. Preenchimento da ficha de Primeiro Atendimento (ver anexo); 4.10. Proceder exame físico e não esquecer de abordar também os seguintes aspectos: Órgãos e Sistemas Pele Cabeça e pescoço Linfonodos Abdome Neurológico Genital, anal e perianal Orientações/manifestações associadas - Pesquisar sinais de dermatite seborréica, foliculite, micose cutânea, molusco contagioso e Sarcoma de Kaposi. - Realizar, sempre que possível, fundoscopia quando CD4 < 200; - Na orofaringe, pesquisar candidíase oral e/ou leucoplasia pilosa. - Pesquisar linfadenopatias. - Pesquisar hepatomegalia ou esplenomegalia. - Pesquisar sinais focais e avaliar estado cognitivo. - Examinar a região, pesquisando corrimento, úlceras e verrugas (HPV). 4.11. Avaliação laboratorial inicial Exame Inicial Periodicidade Hemograma Sim Repetir cada 3-6 meses Contagem Linfócitos TCD4+ Sim Repetir cada 3-6 meses Carga Viral (CV) Sim Repetir quando linfócitos T-CD4 próximo a 350 células/mm3 Avaliação hepática e renal Sim Repetir 1 x ao ano Exame básico de urina Sim --------------------------- Sim -------------------------- Sim Repetir a cada 6 meses Considerar -------------------------- Exame parasitológico de fezes Citopatológico de colo de útero Citopatológico anal PPD Anti-HVA Sim Repetir anualmente, caso o inicial seja não-reator Comentário Repetir com maior frequência em sintomáticos ou quando em uso de drogas mielotóxicas Repetir quando valores discrepantes e com maior frequência quando há tendência à queda A CV auxilia a decisão de iniciar a TARV em pacientes assintomáticos com contagens de linfócitos T-CD4 entre 350 e 200 células/mm3 Repetição com maior frequência em pacientes em tratamento Pesquisa de proteinúria associada ao HIV --------------------------Se normal, repetição anual Pessoas que tenham prática receptiva anal. Está relacionado com presença de HPV Nos casos com história de contato com tuberculose ou anteriormente PPD > 5 mm, já está indicada a quimioprofilaxia, não sendo, portanto, necessário realizar o PPD Triagem somente para* a vacina Indicar vacinas caso sejam negativos Repetir anualmente em pessoas com exposição Opcional ---------------------------- HBs Ab e Anti-HBc Sim --------------------------- Anti-HCV Sim --------------------------- VDRL Sim Repetir anualmente em pessoas sexualmente ativas --------------------------- Raio-X de tórax Sim ----------------------------- Cicatriz de TB sem tratamento prévio indica profilaxia com INH IgG para Toxoplasmose Sim Repetir anualmente, caso negativo Sorologia para HTLV I e II Considerar ----------------------------- Sorologia para Chagas Sim ----------------------------- Sim Repetir pré-tratamento para monitorar dislipidemia Dosagem de lipídios – Triglicérides e colesterol total e frações Glicemia de Jejum Sim Insulina de Jejum Sim PCR ultra sensível Sim Repetir cada 3-4 meses para pacientes em TARV Repetir cada 3-4 meses para pacientes em TARV Repetir cada 3-4 meses Apenas em pacientes com manifestações neurológicas sugestivas e/ou quando CD4 elevado e discrepante Pacientes oriundos de área endêmica ---------------------------- ---------------------------------------------------------------------------------- 4.12. Exames laboratoriais para monitoramento da eficácia, toxicidade, após a introdução da TARV Exame Nos primeiros 30 dias Hemograma Sim Contagem CD4+ Carga Viral (VC) Sim TGO e TGP Sim Uréia, creatinina e DCE Sim Exame básico de urina Sim Dosagem de lipídeos Sim Glicemia de Jejum Sim Insulina de jejum Sim PPD Sim Amilase, lipase Sim Periodicidade Repetir em intervalos de três a quatro meses Repetir em intervalos de três a quatro meses Repetir em intervalos de três a quatro meses Repetir em intervalos de três a quatro meses Repetir em intervalos de três a quatro meses quando em uso de medicamentos nefrotóxicos Repetir em intervalos de três a quatro meses quando em uso de medicamentos nefrotóxicos Repetir em intervalos de Repetir em intervalos de Repetir a casa três a quatro meses Anual Repetir a casa três a quatro meses Comentário Identifica mielotoxicidade do AZT Repetir quando valores discrepantes Repetir quando valores discrepantes Identifica hepatotoxicidade Pesquisa de alterações associadas ao TDF Pesquisa de alterações associadas ao TDF ------------------------------------------------------------------------------ ------------------------- 4.13. Profilaxia 4.13.1. Profilaxia Primária – esquemas terapêuticos Agente infeccioso 1ª escolha Pneumocystis jirovecci (CD4 < 200) Sulfametoxazol-TMP 800/160 – um comprimido por dia Toxoplasma gondii (CD4 < 100) Sulfametoxazol-TMP 800/160 – um comprimido por dia Mycobacterium tuberculosis (pacientes com PPD = 5 mm ou história de contato com bacilífero ou raio-x com cicatriz pulmonar) Isoniazida (5-10 mg/Kg/dia) máximo de 300 mg VO por dia + piridoxina 50 mg VO/dia, por seis meses Complexo Mycobacterium avium (CD4 < 50) Cytomegalovírus (CD4 < 50) Herpes Simplex HPV Histoplasma capsulatum Criptococcus Azitromicina – 1200 mg VO por semana OU Claritromicina – 500 mg duas vezes por dia Não é recomendado Não é rotineiramente recomendada. No caso de infecção recorrente (seis ou mais por ano) pelo herpes simplex pode ser considerada a profilaxia secundária com doses menores de aciclovir 400 duas vezes/dia, fanciclovir 250 duas vezes/dia ou valaciclovir 500 mg dia Não indicada Não indicada Não indicado Alternativas SMZ-TMP 800/160 em dias alternados ou 3x/semana; Dapsona 100 mg VO por dia. Pentamidina por aerossol 300mg mensalmente (nebulizador respigard II) Dapsona 100mg VO por dia + pirimetamina 50 mg + ácido folínico ----------------------------------- Evitar associação de claritromicina com efavirenz e com atazanavir ------------------------------------ ----------------------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- OBS: A isoniazida deve ser utilizada para profilaxia na dose de 300mg/dia, durante seis meses, nas seguintes situações: Na infecção pelo HIV, a profilaxia para pneumocistose é recomendada: - Para pacientes com T-CD4 < 200 células/mm3 ou < 15% de linfócitos totais; - Presença de candidíase oral; - Febre indeterminada com mais de duas semanas de duração. - Pacientes com PPD = 5mm ou - História de contato com pacientes bacilífero ou - Imagem radiológica com cicatriz pulmonar em pacientes sem história prévia de tratamento para TB. 4.13.2. Critérios para retirada da profilaxia. Profilaxia para: Pneumocistose Primária e Secundária Toxoplasmose Primária Contagem de CD4 maior que: Tempo de elevação da contagem T-CD4 3 200 células/mm (menor que 15%) 200 células/mm3 (menor que 15%) Toxoplasmose Secundária 200 células/mm3 (menor que 15%) MAC Primária 100 células/mm3 MAC Secundária 100 células/mm3 Criptococose Secundária 100/250 células/mm3 CMV Secundária 100/250 células/mm3 Histoplasmose Não é recomendada a interrupção Três meses Três meses Seis meses após o fim do tratamento na ausência de sintomas Três meses Seis meses (no mínimo um ano de tratamento na ausência de sintomas) Seis meses após o fim do tratamento na ausência de sintomas Seis meses na ausência de atividade. Avaliações oftalmológicas regulares ---------------- Critério de reinício CD4 < 200 células/mm3 CD4 < 100-200 células/mm3 CD4 < 200 células/mm3 CD4 < 50-100 CD4 < 100 CD4 < 100-150 CD4 < 100-150 ------------------- Imunizações · · · · · Vacina Pneumocócica (a cada 5 anos); Vacina contra Influenza (anualmente); Tríplice Viral (dose única para adultos); Vacina Dupla Adulto dT (a cada 10 anos); Vacina contra Hepatite A (se sorologia negativa e com coinfecção para Hepatites B e/ou C); Vacina contra Hepatite B (4 doses duplas - 40 mcg) – zero, 1 mês, 2 meses e 6 meses (Solicitar sorologia entre 1 e 6 meses após 4ª dose). OBS: Orientar o paciente para não receber imunização antes da coleta de CD4 e Carga Viral. Procurar estabelecer vínculo com pelo menos um familiar ou pessoa de confiança indicada pelo paciente que poderá ajudá-lo no acompanhamento clínico. Orientações Gerais: · Orientar quanto às rotinas de atendimento do Serviço; · Orientar técnicas de biossegurança, sexo seguro, redução de danos e outros comportamentos seguros; · Incentivar o paciente a revelar sua condição de soropositivo para as pessoas com quem manteve atividade de risco para infecção pelo HIV; · Oferecer os serviços de outros profissionais do Serviço: dentista, psicólogo, assistente social, nutricionista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, bem como profissionais médicos de outras especialidades (ginecologista, oftalmologista, psiquiatra, dermatologista, pneumologista entre outros). Encaminhamentos: · Pacientes em risco social (não-alfabetizados, sem documentos, sem moradia, desempregados): encaminhar para o Serviço Social para orientação dos direitos, procedimentos para retirada de documentos e possíveis encaminhamentos para albergues e/ou casas de apoio; · Pacientes com risco acrescido (profissionais do sexo, usuários de drogas): encaminhar para grupos de prevenção do Serviço; · Pacientes usuários de drogas (inalatórias, injetáveis) e alcoolistas: encaminhar para o grupo de Redução de Danos e Setor de Saúde Mental (psicólogo e psiquiatra) da Unidade. Caso seja requerido pelo paciente, este também poderá ser encaminhado aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da região para receber tratamento de farmacodependência; · No caso de mulheres: encaminhar para atendimento ginecológico e coleta de citologia (Papanicolaou – 6/6 meses) e seguimento conforme orientação do ginecologista. 5. CONDUTAS PARA PACIENTES ASSINTOMÁTICOS E/OU SEM USO DE TERAPIA ANTI-RETROVIRAL 5.1. Marcar primeiro retorno com data compatível à chegada dos resultados dos exames solicitados, incluindo o estadiamento do HIV (CD4 e Carga Viral); 5.2. Agendar consulta trimestralmente ou com menor frequência, se necessário; 5.3. Encaminhar para Grupo de Adesão e/ou outros grupos do serviço; 5.4. Solicitar estadiamento do HIV (CD4 e Carga Viral) a cada 1 a 6 meses no máximo, conforme resultados prévios; 5.5. Iniciar terapia antirretroviral, se necessário, conforme indicação do Consenso de Terapia Antirretroviral do Ministério da Saúde; 5.6. Anotar no cartão do paciente os principais exames, patologias, internações, esquemas terapêuticos, entre outros, que possam facilitar o atendimento deste em outras Instituições de Saúde. 6. CONDUTAS PARA PACIENTES SINTOMÁTICOS 6.1. Agendar retorno conforme indicação clínica inicial e após resultados dos exames de primeira consulta; 6.2. Instituir Terapia Antirretroviral somente após os esclarecimentos de todas as dúvidas e aceitação do paciente; 6.3. Encaminhar para Grupo de Adesão e/ou outros grupos do serviço; 6.4. Após início da Terapia Antirretroviral, agendar retorno entre 7 e 15 dias para avaliação da adesão e reações adversas; 6.5. Agendar retorno mensal nos primeiros 3 meses de terapia antirretroviral; 6.6. Verificada a estabilidade do quadro e a boa adesão à terapia, o profissional poderá agendar retorno médico a cada 2 meses; 6.7. Conforme a disponibilidade de profissionais na Unidade, o paciente poderá ser encaminhado para outras avaliações: enfermagem, saúde mental, serviço social, entre outros, para avaliação periódica de adesão, biossegurança, prática de sexo seguro, etc; 6.8. Anotar no cartão do paciente os principais exames, patologias, internações, esquemas terapêuticos, entre outros, que possam facilitar o atendimento deste em outras Instituições de Saúde. 7. ATENDIMENTO – SERVIÇO DE FARMÁCIA 7.1. Documentos necessários para o cadastro do paciente no SICLOM (Sistema de Controle Logístico de Medicamentos): 7.1.1.Documento Expedido por órgão público com foto do usuário – Carteira de Identidade, Carteira Nacional de Habilitação, Passaporte, Carteira de Trabalho ou Carteira de Registro de Classe Profissional; 7.1.2.Comprovante de endereço – se necessário para o Cadastro no Serviço de Saúde. 7.2. Os medicamentos antirretrovirais fazem parte da relação de medicamentos sob controle da Portaria 344/98 – Lista C4; 7.3. Para sua dispensação é necessário o preenchimento do Formulário de Solicitação de Medicamentos, padronizado pelo Departamento Nacional de DST/Aids e HV – MS, além de receituário médico (Receita de Controle Especial) em duas vias; 7.4. Tanto no Formulário, quanto no receituário, podem ser prescritos quantitativos suficientes para 60 (sessenta) dias de tratamento. Acima deste quantitativo é necessária a colocação do número CID (Código Internacional de Doenças) na Receita de Controle Especial. Conforme orientado no Formulário, o quantitativo máximo a ser prescrito ou dispensado é para 90 (noventa) dias. Este tipo de prescrição somente poderá ser utilizado em circunstâncias excepcionais e não na rotina diária; 7.5. O Formulário e a primeira via da receita ficarão retidos no Serviço de Farmácia e a segunda via do receituário será entregue para o paciente para orientação do seu tratamento. Na segunda via deverá ser identificada a primeira dispensação e anotada a data do retorno para a segunda dispensação; 7.6. O Farmacêutico Responsável fará a dispensação mensalmente e o controle da segunda retirada se fará através do SICLOM; 7.8. A dispensação será sempre com quantitativo suficiente para 30 dias. Nos casos em que se faça necessária a dispensação para tempo maior, esta somente se dará conforme a disponibilidade de estoque no Serviço de Farmácia. 8. TESTE DE GENOTIPAGEM DO HIV PARA A AVALIAÇÃO DE RESISTÊNCIA AOS ANTIRRETROVIRAIS Testes laboratoriais para a identificação genotípica da resistência do HIV aos antirretrovirais têm sido avaliado em diversos estudos clínicos prospectivos, e estes têm apontado benefícios virológicos redução ou indetectabilidade da carga viral - a curto prazo, quando as drogas são selecionadas com base no teste de genotipagem. Este teste é eficaz quando associado à avaliação da história clínica e da terapia antirretroviral previamente utilizada e, além da leitura de ambos, ser realizada por um especialista treinado em genotipagem. Nos últimos anos, a utilidade clínica destes testes vem se consolidando e os mesmos passaram a ser recomendados nos principais guias terapêuticos, especialmente para as situações de falha terapêutica. Para realização da genotipagem pela RENAGENO, na Secretaria Municipal da Saúde, os pacientes deverão estar tomando medicamentos antirretrovirais com ADESÃO para que o teste possa analisar somente os vírus resistentes. Exceção é feita para recémnascidos de mães infectadas pelo HIV. A RENAGENO (Rede Nacional de Genotipagem), por questões técnicas, exige carga viral acima de 2.000 cópias/ml para a realização do teste. Também é essencial que a coleta de sangue para teste de genotipagem seja realizada na vigência da terapia antirretroviral em uso, não devendo ser interrompido em nenhum momento, reforçando a adesão nas semanas que antecedem a coleta. Muitos casos de não-detecção de mutações de resistência se devem à volta do predomínio de vírus selvagem que ocorre após um período de interrupção de uso da(s) droga(s). Este fenômeno, particularmente evidente com a mutação M184V que confere resistência ao 3TC, gera um resultado “falso-negativo”, pois assim que o paciente retoma seu uso (3TC), a população de vírus resistente volta a predominar e não há, portanto, resposta terapêutica. A mesma coisa acontece com o uso prévio da Nevirapina ou Efavirenz cujo códon de resistência pode não aparecer no momento do teste de genotipagem quando o paciente não está mais tomando inibidores não nucleosídeos. Porém, a escolha destes medicamentos (ITRNN) ao novo esquema pode não causar nenhuma ação ao esquema proposto. 9. INTERAÇÕES ENTRE OUTRAS DROGAS ANTIRRETROVIRAIS, ÁLCOOL E É comum que pessoas que estão em Terapia Antirretroviral (TARV) façam uso de substâncias psicoativas (álcool ou drogas) e medicamentos utilizados sem orientação médica. Embora a interrupção do uso de álcool e de outras drogas seja desejável para quem usa TARV, nem sempre isso acontece. Portanto, para adequado manejo da TARV nessas circunstâncias é necessário não negligenciar esse tema junto ao paciente, abordando-o diretamente. Para uma adequada orientação, é necessário conhecer os riscos das possíveis interações com a TARV. Para isso, assim como em relação aos medicamentos em geral, é necessário conhecer a metabolização de álcool, maconha, cocaína e outras drogas, embora os dados existentes sobre o tema ainda sejam escassos. Alguns estudos têm demonstrado que usuários de álcool e outras drogas estão subrepresentados nas amostras da maioria dos ensaios clínicos que envolvem pacientes em terapia antirretroviral. Além disso, é necessário estar atento para os riscos do uso abusivo de drogas e para a importância de disponibilizar insumos para sexo seguro e uso menos danoso possível de drogas (como seringas e agulhas para usuários de drogas injetáveis), protegendo o paciente e seus parceiros dos riscos da transmissão e/ou de reinfecção. Outras informações relacionadas à interação entre TARV, álcool e outras drogas podem ser obtidas na seguinte página da: (http://www.guideline.gov/summary/summary.aspx?doc_id=7526 &nbr=4452) Álcool Sua principal via de metabolização não está associada ao sistema Citocromo P450. Não existem evidências de que o uso concomitante de álcool reduza o efeito dos ARV. Por outro lado, os problemas do uso de álcool com TARV são relacionados à adesão ao tratamento e à hepatotoxicidade. Os problemas mais frequentemente relacionados à adesão ao tratamento estão associados a falhas na tomada de medicamentos ou à percepção de que os antirretrovirais não podem ser utilizados em horários próximos da ingestão de bebidas alcoólicas. Como o uso de álcool é muito comum na população em geral, o médico deve discutir esse tema ativamente para que o paciente tenha informações corretas e confiáveis, evitando prejuízos em seu tratamento. Na abordagem do tema, além das informações sobre o risco de má adesão, é necessário alertar o paciente para a possibilidade de resistência ao antirretroviral, caso sejam frequentes as falhas na administração das doses de ARV. O álcool por si só ocasiona hepatotoxicidade, que pode levar à hepatopatia crônica e mesmo cirrose, particularmente em pessoas co-infectadas com hepatite C. Em pacientes que utilizam outros medicamentos, principalmente didanosina (ddI) ou estavudina (d4T), o uso de álcool adiciona risco de pancreatite, especialmente na presença de outras condições, como por exemplo hipertrigliceridemia. Tanto o álcool como o ddI e o d4T estão associados ao risco de neuropatia periférica. Outro efeito que pode ser potencializado pelo uso concomitante de álcool são as manifestações neuropsiquiátricas do efavirenz, provocando uma sensação de “embriaguez”. Em síntese, é necessário sempre abordar com o paciente os seus hábitos cotidianos, incluindo o uso de álcool. É essencial informar sobre os efeitos do álcool na adesão ao tratamento e estar alerta para uma potencial hepatotoxicidade do seu uso concomitante a TARV, particularmente se o paciente for coinfectado com HCV ou HBV. Cocaína Não parece haver interação farmacocinética importante entre a cocaína e a TARV, já que o metabolismo da cocaína não depende da via CYP450. Todavia, há relatos de potencialização da neurotoxicidade do HIV pelo uso da cocaína. Assim como acontece com o uso de álcool, a utilização de cocaína também pode comprometer a adesão à TARV. Embora não existam dados de efeitos tóxicos dessa interação na literatura, a utilização de inibidores da CYP3A4, como os ITRNN, pode elevar os níveis séricos de cocaína, aumentando o risco de hepatotoxicidade. Maconha Um estudo observacional mediu os níveis séricos de indinavir (IDV) e de nelfinavir (NFV) em 67 pacientes que fumavam maconha, identificando reduções das áreas sob as curvas (AUC) e das concentrações máximas de ambas as drogas. A queda foi de 14% no caso do IDV, tanto da AUC como da concentração máxima, e de 10% e 17%, respectivamente, para o NFV. Não foram documentadas repercussões nem na contagem de linfócitos T-CD4 nem na carga viral. Entretanto, as alterações na memória e na atenção ocasionadas pela maconha podem acarretar em prejuízos para a adesão e risco potencial de falha terapêutica, devido ao possível esquecimento das doses. MDMA (ecstasy) A isoenzima CYP2D6 parece ser responsável pelo metabolismo do ecstasy (Nmethyl-3,4-methylenedioxyamphetamina ou MDMA). O ecstasy também pode ocasionar anemia hemolítica em pacientes em uso de TARV. Foram relatados casos fatais atribuídos à inibição da metabolização do MDMA pelo ritonavir. Portanto, os pacientes devem ser alertados para os riscos do uso concomitante de ecstasy e TARV, principalmente se o esquema for composto por IP/r. Anfetaminas Assim como ocorre com o MDMA, as anfetaminas também são metabolizadas pela isoenzima CYP2D6, que é inibida pelo ritonavir. Essa inibição pode ocasionar níveis séricos elevados e potencialmente fatais de anfetamina. Deve ser evitado o uso de anfetaminas concomitantemente à TARV, particularmente com esquemas com ritonavir como adjuvante farmacológico. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo de Assistência Farmacêutica em DST/HIV/Aids – Recomendações do Grupo de Trabalho de Assistência Farmacêutica – 1. ed. Brasília, 2010. – Quadro 8 – pp. 123-136 (Serie A. Normas e Manuais Técnicos) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Portaria n.º 344, de 12 de maio de 1998 Disponível em http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/344_98.htm. Acessado em 13.07.2010. HOPKINS, Johns. HIV Guide 2010. Disponível em http://www.hopkins-aids.edu/. Acessado em 26.10.2010. Anotações