A D RESUMO

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VII SEMEAD
PESQUISA QUANTITATIVA
COMÉRCIO EXTERIOR
UM ESTUDO PRELIMINAR DAS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
OBSERVADAS JUNTO ÀS GRANDES EMPRESAS DO PÓLO CALÇADISTA DE BIRIGUI
Mario Nei Pacanhan - Doutorando em Administração pela FEA-USP, Prof. Faculdade
Metropolitana Londrinense – UMP/IESB; FACCAR – Faculdade Paranaense: Rua
Francisco Marcelino da Silva, 211. Londrina-PR. CEP: 86047-150. (43) 3342-0714
[email protected]
Cláudio Luiz Chiusoli – Doutorando em Administração pela FEA-USP. Prof. Faculdade
Metropolitana Londrinense – IESB/UMP e FIAP –SP . Av. Higienópolis, 60 (43) 3336-8073
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Marcos Cesar Mestre – Graduado em Administração pela UEL: Rua Marco Botteon, 384.
Birigui-SP CEP 16200-365 Telefone (18) 642-5508. [email protected]
RESUMO
Este trabalho aborda o envolvimento das grandes empresas calçadistas da cidade de Birigui,
no Estado de São Paulo, com o comércio internacional. Primeiramente, foi feita uma
pesquisa bibliográfica sobre comércio internacional, citando os principais autores da área.
Posteriormente, realizou-se uma pesquisa empírica de cunho exploratório-descritivo a fim
de averiguar o desenvolvimento de atividades ligadas ao comércio internacional, bem como
quais as estratégias que estão sendo utilizadas por elas para atingir seus mercados-alvo.
Como resultado obteve-se a constatação de que todas as empresas pesquisadas possuem
relações comerciais internacionais, sejam de compras ou vendas, tendo a estratégia de
exportação direta como a mais freqüente.
UM
ESTUDO PRELIMINAR DAS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
OBSERVADAS JUNTO ÀS GRANDES EMPRESAS DO PÓLO CALÇADISTA DE BIRIGUI
INTRODUÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial, a economia e o comércio mundial se
alteraram de forma profunda afetando sobremaneira todas as atividades econômicas e
produtivas das empresas. A competitividade e a busca pela ampliação dos horizontes de
mercado das empresas têm facilitado o surgimento de mercados globais. A conformação dos
mercados globais tem sido acelerada graças à desregulamentação dos mercados internos dos
países interessados na prática do comércio internacional. Entretanto outros fatores têm
surgido e se posicionam como elementos condicionantes desse processo de regionalização
mundial, ou seja, os últimos avanços nas áreas de tecnologia digital, micro-eletrônica,
comunicação em tempo-real e a evolução dos sistemas de logística e transportes, têm
contribuído consistentemente para a criação e sustentação desses mercados globais.
Este cenário levou muitas empresas, dos mais diversos tamanhos e
mercados, a considerarem o mercado internacional como uma grande oportunidade de
expansão comercial. As empresas percebem gradativamente que essa não é apenas mais uma
alternativa, mas sim uma real necessidade para se manterem competitivas e lucrativas,
apesar de todos os desafios e riscos existentes na arena internacional. A globalização trouxe
excelentes oportunidades para a ampliação do mercado para diversos produtos brasileiros,
no entanto também trouxe a competição para o mercado interno, através da inserção de
várias empresas estrangeiras. Esse ambiente altamente competitivo impulsionou as empresas
nacionais a buscarem qualidade e eficiência, requisitos fundamentais para sobreviverem no
mercado globalizado. Independentemente do setor em análise, qualquer empresa que optar
pela possibilidade de ampliar suas fontes de receitas por meio da internacionalização de seus
negócios, deve proceder a uma criteriosa análise das condições competitivas do mercado,
ameaças e oportunidades além de avaliação interna quanto as suas competências,
financeiras, tecnlógicas e mercadológicas. Especificamente no setor calçadista nacional não
tem sido diferente e assim, muitas empresas do ramo têm visto as múltiplas possibilidades e
oportunidades de negócios, se decidindo pelo ingresso no comércio internacional. Entretanto
entre decidir por internacionalizar suas atividades e analisar qual a melhor alternativa de
fazê-lo , há um gap importante. Na verdade muitas operações de internacionalização têm
falhado na medida em que as empresas deixam de realizar uma análise criteriosa sobre o
assunto. A melhor alternativa é buscar na experiência de quem atua nesse setor e pode
agregar importantes contribuições não apenas à decisão de internacionalizar mas sim de
como internacionalizar. A redução de barreiras políticas e econômicas e o avanço
tecnológico das comunicações e dos transportes têm criado oportunidades para um maior
número de empresas internacionalizarem seus negócios. Contudo, o processo de
internacionalizar uma empresa é algo complexo, que demanda conhecimentos específicos e
profissionais qualificados.
A exportação e outros negócios realizados no contexto internacional são
tão importantes para as empresas quanto para o seu país de origem, já que ele também se
beneficia através da geração de divisas, expansão do mercado consumidor, aumento das
oportunidades de trabalho e arrecadação de impostos. As oportunidades de
internacionalização não estão restritas às empresas localizadas em grandes centros urbanos,
mas é igualmente viável para a maioria das empresas que se encontram interior, desde que
estejam estruturadas para isso e conscientes das dificuldades desse processo.
O Brasil dispõe de uma infra-estrutura ainda incipiente pra fazer frente à
demanda existente por parte das empresas interessadas em participar do comércio
internacional. Entretanto alguns setores pulverizados pelo interior do país buscam vencer as
dificuldades e se organizam em associações e sindicatos para vencerem as adversidades
inerentes à atividade de exportação. Especificamente no setor de calçados, que congrega
empresas bem estruturadas tecnologicamente, encontramos diversos casos de empresas
engajadas em melhorar suas performances de atuação internacional.
Várias cidades pólos no Brasil desenvolvem suas atividades produtivas
vocacionadas para a produção calçadista e portanto vêm acumulando conhecimento e
competências importantes a fim de diferenciá-las no contexto competitivo. Entre os diversos
pólos calçadistas como o do Vale dos Sinos (RS), Sobral (CE), Fortaleza (CE), Cariri (CE)
e o de São Paulo, destacam cidades como Franca, Jaú, e Biriqui, sendo esta última cidade o
foco desta pesquisa. Localizado no noroeste do estado, a 540 quilômetros da capital, Birigui
conta com aproximadamente cem mil habitantes e 236 unidades produtoras de calçados,
sendo o maior pólo produtor de calçados infantis da América Latina, com uma produção
diária de 220 mil pares, se firmando como o maior pólo produtor de calçados infanto-juvenis
do Brasil (ABICALÇADOS, 2003). O presente estudo demonstra sua relevância ao
verificarmos que o setor calçadista é o quinto maior exportador do país (BRASIL, 2002a),
sendo o estado de São Paulo o segundo colocado no ranking de exportações de calçados,
atrás apenas do Rio Grande do Sul. Em Birigui 69% das indústrias instaladas atuam no setor
calçadista e empregam aproximadamente 60% da mão-de-obra formal da cidade.
A partir desta perspectiva, este artigo abordará as estratégias de entrada em
novos mercados, discorrendo sobre as alternativas de atuação no mercado internacional e
analisando o caso das grandes indústrias calçadistas de Birigui.
Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica entre os principais
autores do tema, seguida de uma pesquisa de campo do tipo exploratória, de caráter
essencialmente qualitativo. O universo da pesquisa é composto por empresas de grande
porte produtoras de calçados, situadas no município de Birigui. Para a classificação das
empresas quanto ao seu tamanho utilizou-se o critério proposto pelo Sebrae, isto é, o número
de funcionários. Dentro desta concepção são consideradas grandes empresas aquelas que
possuem mais de 500 funcionários, não necessitando que o pesquisador tenha contato com
dados confidenciais como faturamento e lucro ou critérios que não sejam representativos
para a sua participação de mercado como espaço físico da indústria.
A decisão de pesquisar as grandes empresas deve-se ao fato de que no
Brasil elas são as responsáveis por mais de 90% das exportações. Segundo o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as pequenas empresas respondem por menos de 3%
do comércio internacional brasileiro e apenas 40 empresas são responsáveis por 39% de
nossas exportações, o que nos dá uma idéia da concentração do comércio internacional
brasileiro nas grandes empresas. A população é composta de 14 empresas, contudo a
pesquisa contou com 8 empresas, haja vista que 6 delas não retornaram o questionário em
tempo hábil. É importante frisar que esta amostra não é inadequada para o objetivo da
pesquisa: fazer um estudo qualitativo sem a necessidade efetiva de generalizar seus
resultados.
O Impacto da Globalização dos Negócios.
A economia mundial sofreu grandes transformações ao longo dos últimos
cinqüentas anos. O surgimento de mercados e concorrentes globais, que cada vez mais
ameaçam os concorrentes locais, é uma mudança fundamental que deve ser percebida e
entendida por todas as empresas que queiram se manter no mercado e expandir suas
atividades para além de suas fronteiras nacionais. (KEEGAN et al, 1999, p. 31).
Para Vazquez (1999, p. 12), a “globalização internacional da economia faz
com que os países intercambiem bens e serviços com mais rapidez, num fluxo que tende a
ser cada vez mais ágil e interativo”. As distâncias geográficas e culturais têm se reduzido de
forma significativa, principalmente pelo avanço tecnológico das comunicações (fax,
internet, celulares, pagers), dos transportes (aviões a jato, navios, melhorias nas redes
ferroviárias e estradas) e da maior disponibilidade de informações, bem como a rapidez com
que elas são compartilhadas.
O surgimento de vários blocos regionais de comércio, como o NAFTA, a
UE (União Européia) e o Mercosul, não pode deixar de ser citado como uma das mais
importantes transformações do comércio e do mercado atual, na medida que tais blocos
objetivam seu fortalecimento através da preferência mútua por produtos fabricados na região
dos blocos econômicos. Atualmente é imperativo, para qualquer empresa que deseja
sobreviver e crescer, planejar bem o processo de internacionalização de seus negócios, ou
seja, buscar uma maneira eficiente e eficaz, tornando-se assim uma empresa global.
As empresas internacionalizam seus negócios visando, basicamente, a
expansão do mercado consumidor. Alguns fatores como maior acesso à cultura e
informações, o avanço dos meios de comunicação e melhores oportunidades de trabalho,
permitem aos consumidores um melhor posicionamento crítico e uma maior liberdade de
escolha visto que passam a dispor de um número infinitamente maior de opções de compra.
Conseqüentemente, a internacionalização dos mercados e o aumento da
competição tornam imprescindível o desenvolvimento de produtos cada vez melhores e que
satisfaçam plenamente as necessidades e os desejos dos consumidores. O grande desafio
para a empresa global é saber o que é o melhor para cada mercado, considerando suas
peculiaridades e características, as quais podem determinar o sucesso ou o fracasso de um
produto.
Segundo Minervini (2001, p. 5), as principais vantagens em
internacionalizar um negócio são:
ü economia de escala, pela expansão do mercado consumidor, dando à
empresa maior competitividade;
ü condições de a empresa programar melhor a produção, concentrando
seus esforços em poucos modelos e grandes quantidades;
ü condições de obter preços mais rentáveis, principalmente se o produto
exportado for típico do país exportador; possibilidade de ampliar o ciclo
de vida de um produto;
ü diversificação de riscos, já que a empresa não irá depender somente do
mercado interno;
ü melhoria na imagem para com os fornecedores, bancos e clientes, dado
que internacionalizar requer qualidade e é veículo de competitividade;
ü equilíbrio contra a entrada de competidores no mercado interno,
reduzindo o impacto da presença dos concorrentes;
ü maior desenvolvimento geral da empresa.
Além dos benefícios já descritos, Kotler (1998, p. 358) assinala que a
internacionalização permite a uma empresa que está sendo atacada em seu mercado
doméstico contra-atacar seus concorrentes também em seus mercados domésticos, com o
objetivo de minar seus recursos. Dentre os fatores que podem se traduzir em riscos e
comprometer um processo de internacionalização estão (KOTLER,1998, p. 358):
ü a falta de conhecimento das preferências dos consumidores
estrangeiros, o que pode levar a empresa a oferecer produtos de pouca
aceitação em determinados mercados;
ü falta de habilidade para lidar com a cultura gerencial de outras nações;
pouco conhecimento sobre as leis dos países e direito internacional;
ü falta de pessoal qualificado para gerir negócios internacionais;
ü e instabilidade econômica e política de muitos países, o que gera
incertezas quanto ao futuro.
Uma das decisões mais importantes a serem tomadas em um processo de
internacionalização é a escolha dos mercados. Antes da escolha dos mercados nos quais a
empresa deseja ingressar, a empresa deve definir claramente seus objetivos e políticas de
marketing internacional. Para Minervini (2001, p. 7), “as empresas usualmente exportam
para mercados mais próximos, em rápido crescimento, mais similares culturalmente,
mercados onde a competição é menos agressiva e mercados grandes”.
O potencial de cada mercado deve ser determinado segundo os seguintes
indicadores: características demográficas, características geográficas, fatores econômicos,
fatores tecnológicos, fatores socioculturais e metas e planos nacionais.
Estratégias de Internacionalização.
O modo de entrar em um mercado estrangeiro deve ser definido com
muito cuidado e baseado em informações concretas sobre a empresa e, principalmente, sobre
o mercado no qual se deseja entrar. Kotler (1998, p. 363) cita cinco estratégias de penetração
no mercado externo: exportação indireta, exportação direta, licenciamento, joint ventures e
investimentos diretos. O grau de compromisso, risco, controle e o potencial de lucros variam
de forma crescente nessas abordagens, ou seja, vão dos menores na exportação direta aos
mais complexos nos investimentos diretos. A maneira mais comum de se internacionalizar
uma empresa é através da exportação. A exportação, que pode ser definida como a venda de
produtos a mercados estrangeiros, possibilita a participação das empresas nos negócios
internacionais, independentemente do seu tamanho. (FERREL et. al. 2000, p. 158).
A exportação é a estratégia menos arriscada de se entrar em um mercado
externo, principalmente por não exigir grandes investimentos iniciais. A empresa pode
exportar seu excesso de produção de maneira esporádica ou estabelecer um negócio regular
de exportação, expandindo suas vendas para determinados mercados externos.
A exportação pode ser de forma indireta ou direta. Na forma indireta, a
empresa dispõe dos serviços de intermediários internacionais independentes. Kotler e
Armstrong (1998, p. 443) argumentam que
a exportação indireta requer menos investimento, pois a empresa não precisa de
uma força de vendas internacional ou de grupos de contatos, e envolve menos
riscos. Os intermediários internacionais – representantes ou agentes exportadores
sediados no país de origem, organizações cooperativas, empresas de
administração de exportação – proporcionam o know-how e os serviços ao
relacionamento com o vendedor, de modo que este último normalmente comete
menos erros.
Na exportação direta, a empresa controla suas próprias exportações,
criando um departamento ou divisão de exportação para desempenhar as atividades de
exportação ou ainda instalar filiais de vendas em outros países. A empresa também pode
fazer suas exportações através de distribuidores sediados no país importador ou por agentes
que negociam em nome da empresa. A principal vantagem da forma direta de exportação é a
possibilidade de a empresa negociar diretamente com seus clientes.
Ferrel et al (2000, p. 39) definem licenciamento como
uma modalidade de comércio em que uma empresa – a licenciadora –
permite a outra empresa – a licenciada – usar sua marca, produtos,
patentes, marcas registradas, matérias-primas e/ou processos de produção
em troca do pagamento de royalties.
O licenciamento possibilita às empresas entrar no mercado internacional
sem despender grandes quantidades de recursos, minimizar os custos e os problemas com a
burocracia do comércio internacional e permite que o produto da licenciadora se torne
conhecido em outro mercado. Contudo, o licenciamento pode apresentar algumas
desvantagens. Nickels e Wood (1997, p. 72) consideram que
se o produto vende bem em outros países, o lucro não será tão grande
quanto no caso da venda direta. Além disso, se a companhia estrangeira
aprende como são seus processos, ela pode romper o acordo e começar a
operar sozinha. Finalmente, sua marca fica ligada à qualidade e ao serviço
ao consumidor oferecido pela outra empresa. Se os níveis destes não são
elevados, sua reputação também irá sofrer.
A franquia é uma forma de licenciamento em que uma empresa
(franqueadora) cede, por meio de um contrato, sua marca, logo, métodos de operação,
propaganda, produtos e outros elementos dos seus negócios em troca de uma remuneração e
do compromisso da empresa franqueada manter seus padrões de qualidade. (Ferrel et al,
2000, p. 158).
Carnier (1996, p. 111) define acordos de joint venture como
o envolvimento da empresa, de forma parcial, com uma empresa localizada
no mercado-alvo, dividindo-se as obrigações entre as partes. Geralmente, a
firma estrangeira fornece a tecnologia de fabricação, assim como
supervisão técnica e a firma local os meios materiais para execução da
produção e colocação do produto no mercado”.
Kotler (1998) afirma que
a formação de uma joint venture pode ser necessária ou desejável por
razões econômicas ou políticas. A empresa estrangeira pode não possuir
recursos financeiros, físicos ou gerenciais para assumir sozinha um
empreendimento ou o governo estrangeiro pode exigir a propriedade
conjunta como condição de entrada no país.
Em contrapartida, as desvantagens da joint venture são significativas e as
empresas devem estar atentas aos riscos inerentes a esses acordos. Keegan et al (1999, p.
257) consideram que
a principal desvantagem dessa estratégia de expansão global são os altos
custos incorridos pela empresa com questões de controle e coordenação
que surgem quando se trabalha com um sócio. Além disso, como no caso
do licenciamento, um sócio dinâmico em uma joint venture pode vir a se
tornar um forte concorrente. Restrições específicas de determinados países
podem limitar a participação de empresas estrangeiras no capital. As
diferenças culturais quanto às atitudes e estilos gerenciais também podem
constituir um desafio de grandes proporções.
O investimento direto é a estratégia mais radical de internacionalização e,
conseqüentemente, a que envolve as maiores recompensas e os maiores riscos.
O investimento direto acontece quando uma empresa investe diretamente
em instalações de linhas de montagem ou de fábricas, podendo iniciar este processo através
da compra de parte ou da totalidade de uma empresa local ou construir suas próprias
instalações.
O investimento direto possibilita para a empresa um maior controle sobre
as suas atividades fora de seu ambiente local, mas esta estratégia de entrar no mercado
internacional é a menos popular, devido aos altos custos de comprar ou construir novas
instalações. (NICKELS; WOOD, 1997, p. 72).
A PESQUISA
A pesquisa apresentou como objetivo principal a exploração e descrição de
informações relativas as estratégias de internacionalização adotadas pelas grandes empresas
calçadistas de Birigui bem como algumas dificuldades ocorridas no processo de ingresso
dessas empresas no mercado global.
Para tanto foi enviado um questionário com 7 questões abertas e 17
fechadas às empresas selecionadas para a pesquisa. Das 14 empresas que constituíam o
universo de pesquisa 5 não responderam, alegando que seus profissionais estavam em
viagens longas e 1 apenas informou que não responde a pesquisa de nenhuma natureza.
Deve se ressaltar que algumas das perguntas ofereciam a opção de
escolher mais de uma alternativa, o que pode gerar um número de respostas superior ao
número de elementos da amostra .
Com base nos dados coletados pode-se afirmar que as empresas estudadas
têm um grande vínculo com o comércio internacional, já que todas afirmaram realizar
atividades de exportação e importação (seja de matéria-prima ou máquinas e equipamentos).
Deve-se ressaltar que estes dados foram obtidos junto a todas as empresas que compunham
o universo, mesmo aquelas que não participaram do processo de pesquisa posteriormente.
O tempo médio de participação no mercado externo é de 8 anos, sendo que
apenas duas afirmaram faze-lo a menos de 3 anos. Considerando que a desvalorização da
moeda brasileira frente ao dólar ocorreu em março de 1999 e que a pesquisa foi feita entre
agosto e setembro de 2002, este fato não pode ser considerado decisivo para que a entrada
dessas empresas no comércio internacional, ou seja, os esforços despendidos por elas foram
anteriores a desvalorização cambial.
Um dado importante constatado pela pesquisa diz respeito ao
planejamento das atividades de internacionalização, a busca por profissionais qualificados e
informações de órgãos governamentais, sindicatos patronais, associações industriais e outras
instituições reduzem o risco de erro nas decisões mais importantes a serem tomadas pela
empresa ao entrar no mercado internacional. Os planos que direcionaram a entrada de 90%
das empresas pesquisadas no mercado internacional foram baseados em pelo menos um
desses fatores, por isso pode-se afirmar que geralmente as decisões são tomadas
profissionalmente, seguindo critérios racionais. Esta informação revela que a maioria das
empresas pesquisadas reconhece a complexidade de se atuar no mercado externo, que requer
diversas decisões importantes que podem definir o sucesso ou o fracasso de seus
empreendimentos nesta área.
A exportação direta é a atividade internacional mais desenvolvida entre as
empresas pesquisadas, sendo citada por todas que responderam a pesquisa, o que demonstra
que as empresas preferem manter algum tipo de controle por esse processo, mas que não
estão dispostas a enfrentarem riscos maiores ou investimentos elevados par entrar neste
mercado, criando departamentos ou divisões de exportação dentro de suas estruturas
organizacionais.
A exportação indireta foi citada por 3 empresas, e como nas questões
apresentadas poderia-se assinalar mais que uma resposta, pode-se concluir que 3 empresas
realizam simultaneamente exportação direta e indireta, visto que ambas requerem
investimentos iniciais de menor volume e podem ser coordenadas mais facilmente pelas
divisões de exportação.
O investimento direto, a forma mais radical e arriscada, é desempenhado
por apenas 1 empresa, o que confirma a opção das empresas por atividades mais seguras.
Detecta-se ainda o fato de que 1 empresa já teve um acordo de
licenciamento que foi mal sucedido e por este motivo suspenso.
O motivo mais apontado pelas empresas para se desempenhar atividades
ligadas ao comércio internacional foi a ampliação de seu mercado consumidor, razão
apontada por todas empresas estudadas, confirmando os pressupostos de Minervini (2001,
p.5).
Os programas de incentivo às exportações foram assinalados como
importantes por 6 empresas. Este dado revela que, apesar das críticas sobre a atuação no
Governo nesta área, muitas empresas ainda consideram os programas governamentais de
grande valia. Entre o grupo de empresas pesquisa, 5 declararam que decidiram negociar
internacionalmente devido a pedidos do exterior, o que indica uma boa aceitação do produto
nacional no mercado externo. A dificuldade mais apontada pelas empresas estudadas em
atuar no mercado externo diz respeito a incerteza no mercado financeiro. Das 8 empresas
pesquisadas, 7 indicaram este fator.
No momento de turbulência que vive a economia mundial, este fato é
compreensível, algumas empresas relataram que já tiveram negócios cancelados no último
estágio da negociação devido à instabilidade do mercado financeiro.
A elevada carga tributária nacional também foi citada como uma
dificuldade que as empresas enfrentam em seu processo de internacionalização. É
importante salientar que as empresas se referem à carga tributária cobrada em toda cadeia
produtiva e não no processo de exportação em si. Esta conclusão é possível porque no Brasil
não há impostos diretos sobre os produtos exportados, com exceção do cigarro e do couro at
blue, ou seja, as empresas que exportam calçados não pagam imposto de exportação.
A competição relacionada ao preço é foi considerada também como uma
barreira à exportação por 3 empresas. Esta dificuldade pode ser sentida principalmente por
empresas que disputam mercados com países que tem grande produção e mão-de-obra
barata, como a China e a Índia. Não se pode esquecer que a China é o maior produtor,
exportador e consumidor de calçados do mundo.
A dificuldade de competir em qualidade, foi citado por apenas 1 empresa,
donde se pode concluir que em matéria de qualidade, os calçados produzidos pelas
empresas pesquisadas são altamente competitivos.
Outro dado importante constatado pela pesquisa diz respeito à adequação
do produto, das empresas pesquisadas, 7 já precisaram fazer alguma alteração em seu
produto para atender exigências de determinados mercados. Ou seja, é necessário estar
atento a exigência de adequar o produto ao ambiente cultural do mercado onde ele será
vendido, constituindo-se assim em um fator crítico de sucesso desta indústria.
Essa adequação visa minimizar alguns atritos que podem ocorrer em vista
da diferença cultural entre os países, um produto mal planejado pode ferir alguns elementos
culturais como a estética, a religião, os costumes, a representatividade das cores, entre
outros. Seria impossível, por exemplo, vender na Índia um calçado feito de couro de vaca,
um animal considerado sagrado para os indianos.
Uma história curiosa foi relatada por uma empresa pesquisada que queria
vender para um país do Oriente Médio um modelo com a bandeira brasileira e a americana
juntas. O cliente exigiu que a bandeira americana fosse retirada do design do calçado devido
à conhecida aversão de alguns países daquela região aos Estados Unidos.
Os países mais citados pelas empresas como principais compradores de
seus calçados foram Bolívia, Costa Rica, Panamá e Venezuela. A Argentina também era um
grande comprador antes de sua crise econômica, mas atualmente os negócios com
compradores argentinos estão bem reduzidos.
Além disso, um fator relevante é o idioma falado nesses países, no caso, o
Espanhol, que é mais fácil de ser aprendido pelos brasileiros, comparado com outros
idiomas, como o alemão e o russo. A proximidade geográfica também facilita a interação
cultural, pois a maioria dos países da América Latina, incluindo o Brasil, guarda algumas
semelhanças em sua história, religião, usos e costumes, entre outros fatores culturais.
O fato de serem todos países em desenvolvimento pode indicar que as
empresas têm dificuldade de vender seus produtos em países desenvolvidos, mercados
altamente competitivos, onde muitas vezes os produtos estrangeiros sofrem cobranças de
várias taxas, elevando o seu preço de venda ao consumidor final.
CONCLUSÃO
Expandir suas atividades para além das fronteiras nacionais tem sido um
grande desafio para empresas que desejam garantir sua permanência e desenvolvimento em
um mercado globalizado cada vez mais competitivo.
Esta pesquisa permitiu comprovar que as empresas estudadas já
perceberam que desenvolver atividades ligadas ao comércio internacional não é
simplesmente uma escolha, mas um imperativo para o seu crescimento. O fato de todas as
empresas pesquisadas desenvolverem pelo menos uma atividade desta natureza revela que
seus dirigentes já se interaram desta realidade.
Sete afirmações são feitas, a título de conclusão e resumo, dos principais
resultados sobre as atividades internacionais desenvolvidas pelas grandes empresas
produtoras de calçados do Pólo de Birigui:
1. Todas as empresas realizam pelo menos uma atividade de comércio internacional.
2. A maior parte das empresas, afirmaram contar com um plano formal delineando as
estratégias de entrada no mercado internacional que são elaboradas e conduzidas por
especialistas no assunto.
3. A atividade internacional mais praticada pelas empresas é a exportação direta.
4. As empresas realizam atividades ligadas ao comércio internacional principalmente para
aumentar seu mercado consumidor.
5. A maior dificuldade das empresas em atuar internacionalmente é a incerteza no mercado
financeiro.
6. As empresas fazem alterações em seus produtos para adequá-los às exigências do
mercado externo.
7. As empresas negociam principalmente com organizações de países da América Latina
que falam o idioma espanhol.
A partir dessas informações, podemos concluir que é grande o
envolvimento das empresas pesquisadas com o comércio internacional e que elas decidem
profissionalmente e racionalmente sobre suas atividades internacionais.As formas mais
freqüentes de atuação são as menos arriscadas, como a exportação direta e indireta. O fato
de nenhuma empresa possuir acordos de joint venture, licenciamento ou franquia e apenas
uma possuir investimento direto, comprova que, no geral, o perfil das empresas estudadas é
conservador quanto à sua atuação internacional. O fato das empresas adequarem seus
produtos às exigências do mercado externo é positivo porque mostra que elas têm estado
sensíveis às variações do ambiente cultural de diferentes países. Embora o foco da pesquisa
tenha sido entre as grandes empresas, convém destacar que os pequenos produtores têm se
organizado no sentido de potencializarem de suas operações de exportações. Há na cidade a
Associação dos exportadores de Birigui, um consórcio de exportação co-administrado pela
APEX – Agência de Promoção de Exportações, órgão do Governo Federal, cuja principal
função é apoiar as empresas de pequeno porte para que aumente suas exportações. Qualquer
empresa pode se associar, desde que tenha estrutura mínima para atender as necessidades
dos clientes e seus produtos obedeçam a critérios de qualidade. A empresa aprovada paga
uma taxa de adesão e uma mensalidade no valor de 1 salário mínimo. A partir de todos os
dados colhidos nesta pesquisa e das informações deles produzidos, pode-se concluir que o
Pólo calçadista de Birigui tem estado atento às oportunidades de internacionalização e que
os negócios internacionais tendem a se fazer cada vez mais presente não só entre as
empresas pesquisadas, mas também entre as de pequeno porte, o que justifica pesquisas
futuras também nas empresas de pequeno e médio porte.
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