VII SEMEAD PESQUISA QUANTITATIVA COMÉRCIO EXTERIOR UM ESTUDO PRELIMINAR DAS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO OBSERVADAS JUNTO ÀS GRANDES EMPRESAS DO PÓLO CALÇADISTA DE BIRIGUI Mario Nei Pacanhan - Doutorando em Administração pela FEA-USP, Prof. Faculdade Metropolitana Londrinense – UMP/IESB; FACCAR – Faculdade Paranaense: Rua Francisco Marcelino da Silva, 211. Londrina-PR. CEP: 86047-150. (43) 3342-0714 [email protected] Cláudio Luiz Chiusoli – Doutorando em Administração pela FEA-USP. Prof. Faculdade Metropolitana Londrinense – IESB/UMP e FIAP –SP . Av. Higienópolis, 60 (43) 3336-8073 [email protected] Marcos Cesar Mestre – Graduado em Administração pela UEL: Rua Marco Botteon, 384. Birigui-SP CEP 16200-365 Telefone (18) 642-5508. [email protected] RESUMO Este trabalho aborda o envolvimento das grandes empresas calçadistas da cidade de Birigui, no Estado de São Paulo, com o comércio internacional. Primeiramente, foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre comércio internacional, citando os principais autores da área. Posteriormente, realizou-se uma pesquisa empírica de cunho exploratório-descritivo a fim de averiguar o desenvolvimento de atividades ligadas ao comércio internacional, bem como quais as estratégias que estão sendo utilizadas por elas para atingir seus mercados-alvo. Como resultado obteve-se a constatação de que todas as empresas pesquisadas possuem relações comerciais internacionais, sejam de compras ou vendas, tendo a estratégia de exportação direta como a mais freqüente. UM ESTUDO PRELIMINAR DAS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO OBSERVADAS JUNTO ÀS GRANDES EMPRESAS DO PÓLO CALÇADISTA DE BIRIGUI INTRODUÇÃO Após a Segunda Guerra Mundial, a economia e o comércio mundial se alteraram de forma profunda afetando sobremaneira todas as atividades econômicas e produtivas das empresas. A competitividade e a busca pela ampliação dos horizontes de mercado das empresas têm facilitado o surgimento de mercados globais. A conformação dos mercados globais tem sido acelerada graças à desregulamentação dos mercados internos dos países interessados na prática do comércio internacional. Entretanto outros fatores têm surgido e se posicionam como elementos condicionantes desse processo de regionalização mundial, ou seja, os últimos avanços nas áreas de tecnologia digital, micro-eletrônica, comunicação em tempo-real e a evolução dos sistemas de logística e transportes, têm contribuído consistentemente para a criação e sustentação desses mercados globais. Este cenário levou muitas empresas, dos mais diversos tamanhos e mercados, a considerarem o mercado internacional como uma grande oportunidade de expansão comercial. As empresas percebem gradativamente que essa não é apenas mais uma alternativa, mas sim uma real necessidade para se manterem competitivas e lucrativas, apesar de todos os desafios e riscos existentes na arena internacional. A globalização trouxe excelentes oportunidades para a ampliação do mercado para diversos produtos brasileiros, no entanto também trouxe a competição para o mercado interno, através da inserção de várias empresas estrangeiras. Esse ambiente altamente competitivo impulsionou as empresas nacionais a buscarem qualidade e eficiência, requisitos fundamentais para sobreviverem no mercado globalizado. Independentemente do setor em análise, qualquer empresa que optar pela possibilidade de ampliar suas fontes de receitas por meio da internacionalização de seus negócios, deve proceder a uma criteriosa análise das condições competitivas do mercado, ameaças e oportunidades além de avaliação interna quanto as suas competências, financeiras, tecnlógicas e mercadológicas. Especificamente no setor calçadista nacional não tem sido diferente e assim, muitas empresas do ramo têm visto as múltiplas possibilidades e oportunidades de negócios, se decidindo pelo ingresso no comércio internacional. Entretanto entre decidir por internacionalizar suas atividades e analisar qual a melhor alternativa de fazê-lo , há um gap importante. Na verdade muitas operações de internacionalização têm falhado na medida em que as empresas deixam de realizar uma análise criteriosa sobre o assunto. A melhor alternativa é buscar na experiência de quem atua nesse setor e pode agregar importantes contribuições não apenas à decisão de internacionalizar mas sim de como internacionalizar. A redução de barreiras políticas e econômicas e o avanço tecnológico das comunicações e dos transportes têm criado oportunidades para um maior número de empresas internacionalizarem seus negócios. Contudo, o processo de internacionalizar uma empresa é algo complexo, que demanda conhecimentos específicos e profissionais qualificados. A exportação e outros negócios realizados no contexto internacional são tão importantes para as empresas quanto para o seu país de origem, já que ele também se beneficia através da geração de divisas, expansão do mercado consumidor, aumento das oportunidades de trabalho e arrecadação de impostos. As oportunidades de internacionalização não estão restritas às empresas localizadas em grandes centros urbanos, mas é igualmente viável para a maioria das empresas que se encontram interior, desde que estejam estruturadas para isso e conscientes das dificuldades desse processo. O Brasil dispõe de uma infra-estrutura ainda incipiente pra fazer frente à demanda existente por parte das empresas interessadas em participar do comércio internacional. Entretanto alguns setores pulverizados pelo interior do país buscam vencer as dificuldades e se organizam em associações e sindicatos para vencerem as adversidades inerentes à atividade de exportação. Especificamente no setor de calçados, que congrega empresas bem estruturadas tecnologicamente, encontramos diversos casos de empresas engajadas em melhorar suas performances de atuação internacional. Várias cidades pólos no Brasil desenvolvem suas atividades produtivas vocacionadas para a produção calçadista e portanto vêm acumulando conhecimento e competências importantes a fim de diferenciá-las no contexto competitivo. Entre os diversos pólos calçadistas como o do Vale dos Sinos (RS), Sobral (CE), Fortaleza (CE), Cariri (CE) e o de São Paulo, destacam cidades como Franca, Jaú, e Biriqui, sendo esta última cidade o foco desta pesquisa. Localizado no noroeste do estado, a 540 quilômetros da capital, Birigui conta com aproximadamente cem mil habitantes e 236 unidades produtoras de calçados, sendo o maior pólo produtor de calçados infantis da América Latina, com uma produção diária de 220 mil pares, se firmando como o maior pólo produtor de calçados infanto-juvenis do Brasil (ABICALÇADOS, 2003). O presente estudo demonstra sua relevância ao verificarmos que o setor calçadista é o quinto maior exportador do país (BRASIL, 2002a), sendo o estado de São Paulo o segundo colocado no ranking de exportações de calçados, atrás apenas do Rio Grande do Sul. Em Birigui 69% das indústrias instaladas atuam no setor calçadista e empregam aproximadamente 60% da mão-de-obra formal da cidade. A partir desta perspectiva, este artigo abordará as estratégias de entrada em novos mercados, discorrendo sobre as alternativas de atuação no mercado internacional e analisando o caso das grandes indústrias calçadistas de Birigui. Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica entre os principais autores do tema, seguida de uma pesquisa de campo do tipo exploratória, de caráter essencialmente qualitativo. O universo da pesquisa é composto por empresas de grande porte produtoras de calçados, situadas no município de Birigui. Para a classificação das empresas quanto ao seu tamanho utilizou-se o critério proposto pelo Sebrae, isto é, o número de funcionários. Dentro desta concepção são consideradas grandes empresas aquelas que possuem mais de 500 funcionários, não necessitando que o pesquisador tenha contato com dados confidenciais como faturamento e lucro ou critérios que não sejam representativos para a sua participação de mercado como espaço físico da indústria. A decisão de pesquisar as grandes empresas deve-se ao fato de que no Brasil elas são as responsáveis por mais de 90% das exportações. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as pequenas empresas respondem por menos de 3% do comércio internacional brasileiro e apenas 40 empresas são responsáveis por 39% de nossas exportações, o que nos dá uma idéia da concentração do comércio internacional brasileiro nas grandes empresas. A população é composta de 14 empresas, contudo a pesquisa contou com 8 empresas, haja vista que 6 delas não retornaram o questionário em tempo hábil. É importante frisar que esta amostra não é inadequada para o objetivo da pesquisa: fazer um estudo qualitativo sem a necessidade efetiva de generalizar seus resultados. O Impacto da Globalização dos Negócios. A economia mundial sofreu grandes transformações ao longo dos últimos cinqüentas anos. O surgimento de mercados e concorrentes globais, que cada vez mais ameaçam os concorrentes locais, é uma mudança fundamental que deve ser percebida e entendida por todas as empresas que queiram se manter no mercado e expandir suas atividades para além de suas fronteiras nacionais. (KEEGAN et al, 1999, p. 31). Para Vazquez (1999, p. 12), a “globalização internacional da economia faz com que os países intercambiem bens e serviços com mais rapidez, num fluxo que tende a ser cada vez mais ágil e interativo”. As distâncias geográficas e culturais têm se reduzido de forma significativa, principalmente pelo avanço tecnológico das comunicações (fax, internet, celulares, pagers), dos transportes (aviões a jato, navios, melhorias nas redes ferroviárias e estradas) e da maior disponibilidade de informações, bem como a rapidez com que elas são compartilhadas. O surgimento de vários blocos regionais de comércio, como o NAFTA, a UE (União Européia) e o Mercosul, não pode deixar de ser citado como uma das mais importantes transformações do comércio e do mercado atual, na medida que tais blocos objetivam seu fortalecimento através da preferência mútua por produtos fabricados na região dos blocos econômicos. Atualmente é imperativo, para qualquer empresa que deseja sobreviver e crescer, planejar bem o processo de internacionalização de seus negócios, ou seja, buscar uma maneira eficiente e eficaz, tornando-se assim uma empresa global. As empresas internacionalizam seus negócios visando, basicamente, a expansão do mercado consumidor. Alguns fatores como maior acesso à cultura e informações, o avanço dos meios de comunicação e melhores oportunidades de trabalho, permitem aos consumidores um melhor posicionamento crítico e uma maior liberdade de escolha visto que passam a dispor de um número infinitamente maior de opções de compra. Conseqüentemente, a internacionalização dos mercados e o aumento da competição tornam imprescindível o desenvolvimento de produtos cada vez melhores e que satisfaçam plenamente as necessidades e os desejos dos consumidores. O grande desafio para a empresa global é saber o que é o melhor para cada mercado, considerando suas peculiaridades e características, as quais podem determinar o sucesso ou o fracasso de um produto. Segundo Minervini (2001, p. 5), as principais vantagens em internacionalizar um negócio são: ü economia de escala, pela expansão do mercado consumidor, dando à empresa maior competitividade; ü condições de a empresa programar melhor a produção, concentrando seus esforços em poucos modelos e grandes quantidades; ü condições de obter preços mais rentáveis, principalmente se o produto exportado for típico do país exportador; possibilidade de ampliar o ciclo de vida de um produto; ü diversificação de riscos, já que a empresa não irá depender somente do mercado interno; ü melhoria na imagem para com os fornecedores, bancos e clientes, dado que internacionalizar requer qualidade e é veículo de competitividade; ü equilíbrio contra a entrada de competidores no mercado interno, reduzindo o impacto da presença dos concorrentes; ü maior desenvolvimento geral da empresa. Além dos benefícios já descritos, Kotler (1998, p. 358) assinala que a internacionalização permite a uma empresa que está sendo atacada em seu mercado doméstico contra-atacar seus concorrentes também em seus mercados domésticos, com o objetivo de minar seus recursos. Dentre os fatores que podem se traduzir em riscos e comprometer um processo de internacionalização estão (KOTLER,1998, p. 358): ü a falta de conhecimento das preferências dos consumidores estrangeiros, o que pode levar a empresa a oferecer produtos de pouca aceitação em determinados mercados; ü falta de habilidade para lidar com a cultura gerencial de outras nações; pouco conhecimento sobre as leis dos países e direito internacional; ü falta de pessoal qualificado para gerir negócios internacionais; ü e instabilidade econômica e política de muitos países, o que gera incertezas quanto ao futuro. Uma das decisões mais importantes a serem tomadas em um processo de internacionalização é a escolha dos mercados. Antes da escolha dos mercados nos quais a empresa deseja ingressar, a empresa deve definir claramente seus objetivos e políticas de marketing internacional. Para Minervini (2001, p. 7), “as empresas usualmente exportam para mercados mais próximos, em rápido crescimento, mais similares culturalmente, mercados onde a competição é menos agressiva e mercados grandes”. O potencial de cada mercado deve ser determinado segundo os seguintes indicadores: características demográficas, características geográficas, fatores econômicos, fatores tecnológicos, fatores socioculturais e metas e planos nacionais. Estratégias de Internacionalização. O modo de entrar em um mercado estrangeiro deve ser definido com muito cuidado e baseado em informações concretas sobre a empresa e, principalmente, sobre o mercado no qual se deseja entrar. Kotler (1998, p. 363) cita cinco estratégias de penetração no mercado externo: exportação indireta, exportação direta, licenciamento, joint ventures e investimentos diretos. O grau de compromisso, risco, controle e o potencial de lucros variam de forma crescente nessas abordagens, ou seja, vão dos menores na exportação direta aos mais complexos nos investimentos diretos. A maneira mais comum de se internacionalizar uma empresa é através da exportação. A exportação, que pode ser definida como a venda de produtos a mercados estrangeiros, possibilita a participação das empresas nos negócios internacionais, independentemente do seu tamanho. (FERREL et. al. 2000, p. 158). A exportação é a estratégia menos arriscada de se entrar em um mercado externo, principalmente por não exigir grandes investimentos iniciais. A empresa pode exportar seu excesso de produção de maneira esporádica ou estabelecer um negócio regular de exportação, expandindo suas vendas para determinados mercados externos. A exportação pode ser de forma indireta ou direta. Na forma indireta, a empresa dispõe dos serviços de intermediários internacionais independentes. Kotler e Armstrong (1998, p. 443) argumentam que a exportação indireta requer menos investimento, pois a empresa não precisa de uma força de vendas internacional ou de grupos de contatos, e envolve menos riscos. Os intermediários internacionais – representantes ou agentes exportadores sediados no país de origem, organizações cooperativas, empresas de administração de exportação – proporcionam o know-how e os serviços ao relacionamento com o vendedor, de modo que este último normalmente comete menos erros. Na exportação direta, a empresa controla suas próprias exportações, criando um departamento ou divisão de exportação para desempenhar as atividades de exportação ou ainda instalar filiais de vendas em outros países. A empresa também pode fazer suas exportações através de distribuidores sediados no país importador ou por agentes que negociam em nome da empresa. A principal vantagem da forma direta de exportação é a possibilidade de a empresa negociar diretamente com seus clientes. Ferrel et al (2000, p. 39) definem licenciamento como uma modalidade de comércio em que uma empresa – a licenciadora – permite a outra empresa – a licenciada – usar sua marca, produtos, patentes, marcas registradas, matérias-primas e/ou processos de produção em troca do pagamento de royalties. O licenciamento possibilita às empresas entrar no mercado internacional sem despender grandes quantidades de recursos, minimizar os custos e os problemas com a burocracia do comércio internacional e permite que o produto da licenciadora se torne conhecido em outro mercado. Contudo, o licenciamento pode apresentar algumas desvantagens. Nickels e Wood (1997, p. 72) consideram que se o produto vende bem em outros países, o lucro não será tão grande quanto no caso da venda direta. Além disso, se a companhia estrangeira aprende como são seus processos, ela pode romper o acordo e começar a operar sozinha. Finalmente, sua marca fica ligada à qualidade e ao serviço ao consumidor oferecido pela outra empresa. Se os níveis destes não são elevados, sua reputação também irá sofrer. A franquia é uma forma de licenciamento em que uma empresa (franqueadora) cede, por meio de um contrato, sua marca, logo, métodos de operação, propaganda, produtos e outros elementos dos seus negócios em troca de uma remuneração e do compromisso da empresa franqueada manter seus padrões de qualidade. (Ferrel et al, 2000, p. 158). Carnier (1996, p. 111) define acordos de joint venture como o envolvimento da empresa, de forma parcial, com uma empresa localizada no mercado-alvo, dividindo-se as obrigações entre as partes. Geralmente, a firma estrangeira fornece a tecnologia de fabricação, assim como supervisão técnica e a firma local os meios materiais para execução da produção e colocação do produto no mercado”. Kotler (1998) afirma que a formação de uma joint venture pode ser necessária ou desejável por razões econômicas ou políticas. A empresa estrangeira pode não possuir recursos financeiros, físicos ou gerenciais para assumir sozinha um empreendimento ou o governo estrangeiro pode exigir a propriedade conjunta como condição de entrada no país. Em contrapartida, as desvantagens da joint venture são significativas e as empresas devem estar atentas aos riscos inerentes a esses acordos. Keegan et al (1999, p. 257) consideram que a principal desvantagem dessa estratégia de expansão global são os altos custos incorridos pela empresa com questões de controle e coordenação que surgem quando se trabalha com um sócio. Além disso, como no caso do licenciamento, um sócio dinâmico em uma joint venture pode vir a se tornar um forte concorrente. Restrições específicas de determinados países podem limitar a participação de empresas estrangeiras no capital. As diferenças culturais quanto às atitudes e estilos gerenciais também podem constituir um desafio de grandes proporções. O investimento direto é a estratégia mais radical de internacionalização e, conseqüentemente, a que envolve as maiores recompensas e os maiores riscos. O investimento direto acontece quando uma empresa investe diretamente em instalações de linhas de montagem ou de fábricas, podendo iniciar este processo através da compra de parte ou da totalidade de uma empresa local ou construir suas próprias instalações. O investimento direto possibilita para a empresa um maior controle sobre as suas atividades fora de seu ambiente local, mas esta estratégia de entrar no mercado internacional é a menos popular, devido aos altos custos de comprar ou construir novas instalações. (NICKELS; WOOD, 1997, p. 72). A PESQUISA A pesquisa apresentou como objetivo principal a exploração e descrição de informações relativas as estratégias de internacionalização adotadas pelas grandes empresas calçadistas de Birigui bem como algumas dificuldades ocorridas no processo de ingresso dessas empresas no mercado global. Para tanto foi enviado um questionário com 7 questões abertas e 17 fechadas às empresas selecionadas para a pesquisa. Das 14 empresas que constituíam o universo de pesquisa 5 não responderam, alegando que seus profissionais estavam em viagens longas e 1 apenas informou que não responde a pesquisa de nenhuma natureza. Deve se ressaltar que algumas das perguntas ofereciam a opção de escolher mais de uma alternativa, o que pode gerar um número de respostas superior ao número de elementos da amostra . Com base nos dados coletados pode-se afirmar que as empresas estudadas têm um grande vínculo com o comércio internacional, já que todas afirmaram realizar atividades de exportação e importação (seja de matéria-prima ou máquinas e equipamentos). Deve-se ressaltar que estes dados foram obtidos junto a todas as empresas que compunham o universo, mesmo aquelas que não participaram do processo de pesquisa posteriormente. O tempo médio de participação no mercado externo é de 8 anos, sendo que apenas duas afirmaram faze-lo a menos de 3 anos. Considerando que a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar ocorreu em março de 1999 e que a pesquisa foi feita entre agosto e setembro de 2002, este fato não pode ser considerado decisivo para que a entrada dessas empresas no comércio internacional, ou seja, os esforços despendidos por elas foram anteriores a desvalorização cambial. Um dado importante constatado pela pesquisa diz respeito ao planejamento das atividades de internacionalização, a busca por profissionais qualificados e informações de órgãos governamentais, sindicatos patronais, associações industriais e outras instituições reduzem o risco de erro nas decisões mais importantes a serem tomadas pela empresa ao entrar no mercado internacional. Os planos que direcionaram a entrada de 90% das empresas pesquisadas no mercado internacional foram baseados em pelo menos um desses fatores, por isso pode-se afirmar que geralmente as decisões são tomadas profissionalmente, seguindo critérios racionais. Esta informação revela que a maioria das empresas pesquisadas reconhece a complexidade de se atuar no mercado externo, que requer diversas decisões importantes que podem definir o sucesso ou o fracasso de seus empreendimentos nesta área. A exportação direta é a atividade internacional mais desenvolvida entre as empresas pesquisadas, sendo citada por todas que responderam a pesquisa, o que demonstra que as empresas preferem manter algum tipo de controle por esse processo, mas que não estão dispostas a enfrentarem riscos maiores ou investimentos elevados par entrar neste mercado, criando departamentos ou divisões de exportação dentro de suas estruturas organizacionais. A exportação indireta foi citada por 3 empresas, e como nas questões apresentadas poderia-se assinalar mais que uma resposta, pode-se concluir que 3 empresas realizam simultaneamente exportação direta e indireta, visto que ambas requerem investimentos iniciais de menor volume e podem ser coordenadas mais facilmente pelas divisões de exportação. O investimento direto, a forma mais radical e arriscada, é desempenhado por apenas 1 empresa, o que confirma a opção das empresas por atividades mais seguras. Detecta-se ainda o fato de que 1 empresa já teve um acordo de licenciamento que foi mal sucedido e por este motivo suspenso. O motivo mais apontado pelas empresas para se desempenhar atividades ligadas ao comércio internacional foi a ampliação de seu mercado consumidor, razão apontada por todas empresas estudadas, confirmando os pressupostos de Minervini (2001, p.5). Os programas de incentivo às exportações foram assinalados como importantes por 6 empresas. Este dado revela que, apesar das críticas sobre a atuação no Governo nesta área, muitas empresas ainda consideram os programas governamentais de grande valia. Entre o grupo de empresas pesquisa, 5 declararam que decidiram negociar internacionalmente devido a pedidos do exterior, o que indica uma boa aceitação do produto nacional no mercado externo. A dificuldade mais apontada pelas empresas estudadas em atuar no mercado externo diz respeito a incerteza no mercado financeiro. Das 8 empresas pesquisadas, 7 indicaram este fator. No momento de turbulência que vive a economia mundial, este fato é compreensível, algumas empresas relataram que já tiveram negócios cancelados no último estágio da negociação devido à instabilidade do mercado financeiro. A elevada carga tributária nacional também foi citada como uma dificuldade que as empresas enfrentam em seu processo de internacionalização. É importante salientar que as empresas se referem à carga tributária cobrada em toda cadeia produtiva e não no processo de exportação em si. Esta conclusão é possível porque no Brasil não há impostos diretos sobre os produtos exportados, com exceção do cigarro e do couro at blue, ou seja, as empresas que exportam calçados não pagam imposto de exportação. A competição relacionada ao preço é foi considerada também como uma barreira à exportação por 3 empresas. Esta dificuldade pode ser sentida principalmente por empresas que disputam mercados com países que tem grande produção e mão-de-obra barata, como a China e a Índia. Não se pode esquecer que a China é o maior produtor, exportador e consumidor de calçados do mundo. A dificuldade de competir em qualidade, foi citado por apenas 1 empresa, donde se pode concluir que em matéria de qualidade, os calçados produzidos pelas empresas pesquisadas são altamente competitivos. Outro dado importante constatado pela pesquisa diz respeito à adequação do produto, das empresas pesquisadas, 7 já precisaram fazer alguma alteração em seu produto para atender exigências de determinados mercados. Ou seja, é necessário estar atento a exigência de adequar o produto ao ambiente cultural do mercado onde ele será vendido, constituindo-se assim em um fator crítico de sucesso desta indústria. Essa adequação visa minimizar alguns atritos que podem ocorrer em vista da diferença cultural entre os países, um produto mal planejado pode ferir alguns elementos culturais como a estética, a religião, os costumes, a representatividade das cores, entre outros. Seria impossível, por exemplo, vender na Índia um calçado feito de couro de vaca, um animal considerado sagrado para os indianos. Uma história curiosa foi relatada por uma empresa pesquisada que queria vender para um país do Oriente Médio um modelo com a bandeira brasileira e a americana juntas. O cliente exigiu que a bandeira americana fosse retirada do design do calçado devido à conhecida aversão de alguns países daquela região aos Estados Unidos. Os países mais citados pelas empresas como principais compradores de seus calçados foram Bolívia, Costa Rica, Panamá e Venezuela. A Argentina também era um grande comprador antes de sua crise econômica, mas atualmente os negócios com compradores argentinos estão bem reduzidos. Além disso, um fator relevante é o idioma falado nesses países, no caso, o Espanhol, que é mais fácil de ser aprendido pelos brasileiros, comparado com outros idiomas, como o alemão e o russo. A proximidade geográfica também facilita a interação cultural, pois a maioria dos países da América Latina, incluindo o Brasil, guarda algumas semelhanças em sua história, religião, usos e costumes, entre outros fatores culturais. O fato de serem todos países em desenvolvimento pode indicar que as empresas têm dificuldade de vender seus produtos em países desenvolvidos, mercados altamente competitivos, onde muitas vezes os produtos estrangeiros sofrem cobranças de várias taxas, elevando o seu preço de venda ao consumidor final. CONCLUSÃO Expandir suas atividades para além das fronteiras nacionais tem sido um grande desafio para empresas que desejam garantir sua permanência e desenvolvimento em um mercado globalizado cada vez mais competitivo. Esta pesquisa permitiu comprovar que as empresas estudadas já perceberam que desenvolver atividades ligadas ao comércio internacional não é simplesmente uma escolha, mas um imperativo para o seu crescimento. O fato de todas as empresas pesquisadas desenvolverem pelo menos uma atividade desta natureza revela que seus dirigentes já se interaram desta realidade. Sete afirmações são feitas, a título de conclusão e resumo, dos principais resultados sobre as atividades internacionais desenvolvidas pelas grandes empresas produtoras de calçados do Pólo de Birigui: 1. Todas as empresas realizam pelo menos uma atividade de comércio internacional. 2. A maior parte das empresas, afirmaram contar com um plano formal delineando as estratégias de entrada no mercado internacional que são elaboradas e conduzidas por especialistas no assunto. 3. A atividade internacional mais praticada pelas empresas é a exportação direta. 4. As empresas realizam atividades ligadas ao comércio internacional principalmente para aumentar seu mercado consumidor. 5. A maior dificuldade das empresas em atuar internacionalmente é a incerteza no mercado financeiro. 6. As empresas fazem alterações em seus produtos para adequá-los às exigências do mercado externo. 7. As empresas negociam principalmente com organizações de países da América Latina que falam o idioma espanhol. A partir dessas informações, podemos concluir que é grande o envolvimento das empresas pesquisadas com o comércio internacional e que elas decidem profissionalmente e racionalmente sobre suas atividades internacionais.As formas mais freqüentes de atuação são as menos arriscadas, como a exportação direta e indireta. O fato de nenhuma empresa possuir acordos de joint venture, licenciamento ou franquia e apenas uma possuir investimento direto, comprova que, no geral, o perfil das empresas estudadas é conservador quanto à sua atuação internacional. O fato das empresas adequarem seus produtos às exigências do mercado externo é positivo porque mostra que elas têm estado sensíveis às variações do ambiente cultural de diferentes países. Embora o foco da pesquisa tenha sido entre as grandes empresas, convém destacar que os pequenos produtores têm se organizado no sentido de potencializarem de suas operações de exportações. Há na cidade a Associação dos exportadores de Birigui, um consórcio de exportação co-administrado pela APEX – Agência de Promoção de Exportações, órgão do Governo Federal, cuja principal função é apoiar as empresas de pequeno porte para que aumente suas exportações. Qualquer empresa pode se associar, desde que tenha estrutura mínima para atender as necessidades dos clientes e seus produtos obedeçam a critérios de qualidade. A empresa aprovada paga uma taxa de adesão e uma mensalidade no valor de 1 salário mínimo. A partir de todos os dados colhidos nesta pesquisa e das informações deles produzidos, pode-se concluir que o Pólo calçadista de Birigui tem estado atento às oportunidades de internacionalização e que os negócios internacionais tendem a se fazer cada vez mais presente não só entre as empresas pesquisadas, mas também entre as de pequeno porte, o que justifica pesquisas futuras também nas empresas de pequeno e médio porte. BIBLIOGRAFIA ABICALÇADOS. 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