O SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRA‐REFERÊNCIA NO ATENDIMENTO À PACIENTES COM QUEIMADURAS NO HOSPITAL ESTADUAL BAURU ‐ HEB REFERENCE AND COUNTER‐REFERENCE SYSTEM ON CALL WILL BURN PATIENTS IN HOSPITAL STATE BAURU ‐ HEB AMANDA FABRICIO CRONCA* THAIS PEREIRA COSTA** GERCELEY PACCOLA MINETTO*** RESUMO Este estudo refere-se a uma pesquisa quanti-qualitativa, cujo objetivo é evidenciar o sistema de referência e contra- referência no atendimento à pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru- HEB, bem como a responsabilidade de cada município na continuidade do tratamento. O universo dessa pesquisa são os pacientes e ou familiares atendidos na Unidade de Queimaduras, nos meses de fevereiro à julho de 2010, contabilizando aproximadamente cento e vinte pacientes. Como amostragem se tem 10% do universo, o que representa doze pacientes. Os resultados demonstram a eficiência do Serviço Social do Hospital Estadual Bauru no que diz respeito à articulação entre a instituição e os profissionais envolvidos para a continuidade de um tratamento com qualidade aos pacientes com queimaduras em seu município de origem, porém neste, o _________________ *Bacharelanda em Serviço Social pelo Centro Universitário de Bauru, mantido pela Instituição Toledo de Ensino. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora para obtenção do grau de bacharel em Serviço Social sob a orientação da Professora Mestre Gerceley Paccola Minotto. *Bacharelanda em Serviço Social pelo Centro Universitário de Bauru, mantido pela Instituição Toledo de Ensino. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora para obtenção do grau de bacharel em Serviço Social sob a orientação da Professora Mestre Gerceley Paccola Minotto. *** Possui graduação em Serviço Social - Instituição Toledo de Ensino (1982) e mestrado em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é professora da graduação e pós-graduação do Curso de Serviço Social do Centro Universitário de Bauru, mantido pela Instituição Toledo de Ensino. sistema de contra-referência não há envolvimento do Serviço Social, tendo em vista a deficiência do sistema quando se referem a profissionais envolvidos. Conclui-se que o sistema de referência e contra-referência ainda é ineficiente, pois o sistema de contrareferência é ineficaz no aspecto da continuidade dos cuidados que o paciente requer, enquanto curativos não na sua integralidade, como apregoa o sistema de saúde brasileiro. Palavras Chave: Serviço Social. Sistemas de Referência e contra-referência. Tratamento de Queimaduras. ABSTRACT This study refers to a quant-qualitative research, which aims to evidence the role of Social Service together with the city as a counter-reference of the patients from the Burned Treatment Unity, as well as the responsibility that each city on the continuity of the treatment. The universe of the research is the patients and families attended at the Burned Unity, during the months of February to July 2010, counting one hundred and twenty patients. As sampling we have 10% of this universe, what means twelve patients. The results demonstrated the efficiency of the Social Service at Bauru‟s State Hospital regarding the articulation between the institution and the professionals involved for the continuity of the quality treatment of burned patients at their hometown, however there, there is no involvement of the Social Service on the counter-reference system. It was concluded that the reference and counterreference system is still inefficient, because the counter-reference system is ineffective in the aspect that the patient needs the care to be continued, while bandage not on its integrality as it is proclaim the Brazilian health system. Key words: Social Service. Reference and Counter-reference System. Burn Treatment. RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. INTRODUÇÃO O Hospital Estadual Bauru (HEB) “Arnaldo Prado Curvêllo”, São Paulo, tem movimento médio mensal de 10 mil consultas ambulatoriais, a instituição presta serviços aos 68 municípios de sua área de abrangência, sendo referência numa região de aproximadamente 1,8 milhões de habitantes. Além do atendimento ambulatorial e hospitalar em 40 especialidades. Entre estas, a Unidade de Tratamento de Queimaduras, que conta com uma estrutura física adequada e pessoal capacitado para o atendimento integral á pessoa com queimadura. A área física tem capacidade para treze pacientes em enfermaria e quatro em terapia intensiva. Todos têm modernos recursos de controle ambiental com monitoramento de umidade, temperatura e filtros biológicos. A sala cirúrgica é exclusiva para a UTQ e oferece todo o suporte tecnológico necessário para os mais diversos procedimentos de anestesia e cirurgia. Além dos atendimentos, o HEB realiza exames dos mais simples aos mais modernos, não possui convênios com planos de saúde e o seu trabalho é inteiramente voltado aos usuários do SUS – Sistema Único de Saúde. Presta atendimento referenciado, ou seja, seus pacientes vêm encaminhados pela rede pública de saúde. A organização e funcionamento adequado de sistemas de referência e contra-referência é requisito fundamental para o alcance da integralidade, um dos princípios do sistema de saúde brasileiro. Para sua efetivação é fundamental procurar e persistir na busca da integração entre as instituições e entre os profissionais. No âmbito de influência da instituição hospitalar, a busca hoje, é por um cuidado humanizado, priorizando o paciente, sua família e suas necessidades. Os conceitos de referência e contra-referência em saúde são assim definidos: Referência: representa o maior grau de complexidade, para onde o usuário é encaminhado para atendimento com níveis de especialização mais complexos, os hospitais e as clinicas especializadas. Contra-referência diz respeito a um menor grau de complexidade, quando a necessidade do usuário, em relação aos serviços de saúde, é mais simples, ou seja, o cidadão pode ser contra-referenciado, isto é conduzido para um atendimento em nível mais “primário” devendo ser esta a unidade de saúde mais próxima de seu domicílio (BRASIL, 2003) . 3 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Como apontado, a referência de um usuário implica na transferência de um determinado caso para um especialista ou estabelecimento de saúde mais especializado como é o caso do Hospital Estadual Bauru, a partir de um centro de saúde ou vice-versa. Novaes (1990, p. 38) considera que: Essa “referência”, porem, consiste de uma comunicação nos dois sentidos, como vimos, ou “contra - referência”, o que implica numa interação dinâmica entre os diferentes níveis dos sistemas “compreensivos” de saúde. Assim devem existir normas e procedimentos claros de quem, por que, como e quando a referência e contra-referencia devem utilizar-se. Para que isto ocorra, cada serviço de saúde precisa ter total conhecimento sobre os estabelecimentos disponíveis e sua competência apropriada, nos diferentes níveis dentro de uma determinada área. Mediante tais considerações e como estagiária de Serviço Social na unidade de Queimaduras do Hospital Estadual Bauru, ao vivenciar o cotidiano de pacientes e familiares surge o interesse em investigar quais as dificuldades que os pacientes encontram para dar continuidade na sua recuperação em seu município de origem. A hipótese sugerida é que para uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde, em específico, à pacientes atendidos na Unidade de Queimaduras, é preciso que o profissional esteja articulado e sintonizado ao movimento dos pacientes usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, para que realmente haja a efetivação desse sistema, facilitando-lhes o acesso aos serviços de saúde da Instituição, de forma compromissada e criativa. Percebe-se que a operacionalização desse trabalho muitas vezes está submetido a (re)arranjos propostos pelos governos municipais, como por exemplo, a falta de recursos financeiros, os quais descaracterizam a proposta original do SUS, com enfoque nos princípios da: universalidade, integralidade e equidade, também contidos no projeto de Reforma Sanitária, dificultando assim, a continuidade de um tratamento qualitativo ao paciente. 4 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. O objetivo geral levantado é evidenciar as dificuldades que os pacientes encontram para continuidade de sua recuperação, bem como o papel do Serviço Social junto aos municípios como contra-referência de pacientes da Unidade de Tratamento de Queimaduras, e a responsabilidade de cada município na continuidade do tratamento, tendo como objetivos específicos: evidenciar como as equipes profissionais vêm a proposta do SUS; identificar quem é a equipe profissional dos municípios com quem são articulados os recursos; revelar o papel do Serviço Social junto aos municípios na contra-referência dos pacientes e averiguar as principais dificuldades encontradas para a realização do sistema de referência e contrareferência. O estudo caracteriza-se por uma pesquisa qualitativa, uma vez que viabiliza dados subjetivos, conceitos, valores, opiniões e significados, tendo em vista identificar as dificuldades que os pacientes encontram para dar continuidade no tratamento para sua recuperação em seu município de origem. Matos (2003, p.17) afirma que: Cabe ao Serviço Social em uma ação necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde, atentando que o trabalho do assistente social na saúde tem que ter como norte o projetoético político profissional e que esteja necessariamente articulado ao projeto da reforma sanitária. Justifica-se a importância deste estudo para o Serviço Social, por apresentar subsídios para uma intervenção assertiva, focada nas principais demandas e necessidades dos pacientes atendidos na Unidade de Queimaduras, tendo uma articulação eficiente junto à contrareferência o que possibilitará ao paciente um atendimento integral e qualitativo para sua recuperação e efetivação de seus direitos como cidadãos. Para o Hospital Estadual Bauru, será de grande contribuição para os profissionais envolvidos, pois estes também encontram obstáculos na referência dos municípios que são designados a atendimento ao hospital, para a continuidade do tratamento dos pacientes 5 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. atendidos na Unidade de Queimaduras, o que certamente reduzirá as dificuldades encontradas pelos pacientes no acesso a bens, serviços e programas contribuindo para sua recuperação, tendo assim a possibilidade de maior atenção e atendimento em seu município de origem. O estudo se apresenta fundamentado em teorias de diferentes autores que tratam a temática e está subdividida em três itens, sendo que no item dois se apresenta o sistema de referência e contra-referÊncia no atendimento à pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru – HEB, abordando o que é o Serviço Social, seu objeto e objetivos, bem como a contextualização do Sistema Único de Saúde – SUS e o Sistema de Referência e Contrareferência. Finalmente, apresentam-se os resultados e a análise dos dados, os quais possibilitaram elaborar uma conclusão sobre o estudo e como consequência fornecer algumas sugestões para os profissionais que atuam no sistema de referência e contra-referência. 1 O SISTEMA DE ATENDIMENTO À REFERÊNCIA E CONTRA-REFERÊNCIA NO PACIENTES COM QUEIMADURAS NO HOSPITAL ESTADUAL BAURU - HEB Há 22 anos, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Governo Federal assumiu a responsabilidade de garantir saúde a todos os cidadãos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a ser universal e integral. Para efetivar tais premissas foram criadas Leis Orgânicas e Normas Operacionais Básicas. Uma delas é o sistema de referência e contrareferência. O processo de transformação da sociedade vem evidenciando a necessidade de profundas modificações no sistema de atenção à saúde das pessoas, das famílias, dos grupos e das coletividades. A organização e funcionamento adequado de sistemas de referência e contra-referência é requisito fundamental para o alcance da integralidade, um dos princípios do sistema de saúde brasileiro. Para sua efetivação é fundamental procurar e persistir na busca da integração entre as instituições e entre os profissionais. No âmbito de influência da 6 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. instituição hospitalar, a busca hoje é por um cuidado humanizado, priorizando o paciente, sua família e suas necessidades. Os conceitos de referência e contra-referência em saúde são assim definidos: Referência: representa o maior grau de complexidade, para onde o usuário é encaminhado para atendimento com níveis de especialização mais complexos, os hospitais e as clínicas especializadas. Contra-referência diz respeito a um menor grau de complexidade, quando a necessidade do usuário, em relação aos serviços de saúde, é mais simples, ou seja, o cidadão pode ser contra-referenciado, isto é, conduzido para um atendimento em nível mais “primário” devendo ser esta a unidade de saúde mais próxima de seu domicílio. Matos (2003, p.17) afirma que: Cabe ao Serviço Social em uma ação necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social á saúde, atentando que o trabalho do assistente social na saúde tem que ter como norte o projetoético político profissional e que esteja necessariamente articulado ao projeto da reforma sanitária. Diante de tais considerações é que se realiza essa pesquisa para investigar o papel da intervenção do Serviço Social junto aos municípios designados como contra-referência, no atendimento às demandas para a recuperação da saúde dos pacientes da Unidade de Queimaduras atendidos pelo Hospital Estadual Bauru, e para isso este item procurar evidenciar o sistema de Referência e Contra-referência proposto pelo Sistema Único de Saúde - SUS, bem como as dificuldades em sua implantação, perpassando pelo papel dos municípios e profissionais envolvidos nesta realidade e, em especifico, os do Serviço Social que atuam com pacientes queimados. 7 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. 1.1 O Sistema Único de Saúde (SUS) Sistema Único de Saúde Brasileiro, o SUS é um sistema, composto por muitas partes e, por mais diferentes que pareçam, tem uma finalidade comum: cuidar e promover a saúde de toda a população, melhorando a qualidade de vida dos brasileiros. O SUS existe há pouco tempo. Surgiu como resposta à insatisfação e descontentamento existente em relação aos direitos de cidadania, acesso, serviços e forma de organização do sistema de saúde. Nos anos 70 e 80, vários médicos, enfermeiros, donas de casa, trabalhadores de sindicatos, religiosos e funcionários dos postos e secretarias de saúde levaram adiante um movimento, o "movimento sanitário", com o objetivo de criar um novo sistema público para solucionar os inúmeros problemas encontrados no atendimento à saúde da população (FERREIRA, 2004). O movimento orientava-se pela idéia de que todos têm direito à saúde e que o governo, juntamente com a sociedade, tem o dever de fazer o que for preciso para alcançar este objetivo. A Constituição Federal de 1988 determinou ser dever do Estado garantir saúde a toda a população. Para tanto, criou o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do Sistema. Portanto, o SUS resultou de um processo de lutas, mobilização, participação e esforços desenvolvidos por um grande número de pessoas. O seu artigo 196 menciona que: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988, p. 58). 8 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. O SUS é um sistema público, organizado e orientado no sentido do interesse coletivo, e todas as pessoas, independente de raça, crenças, cor, situação de emprego, classe social, local de moradia, a ele têm direito. As diferentes situações de vida dos vários grupos populacionais geram problemas de saúde específicos, bem como riscos e/ou exposição maior ou menor a determinadas doenças, acidentes e violências. Isto significa, portanto, necessidades diferenciadas, exigindo que as ações da gestão do sistema e dos serviços de saúde sejam orientadas para atender a essas especificidades. Entretanto, como o SUS oferece o mesmo atendimento a todas as pessoas, algumas não recebem o que necessitam, enquanto outras têm além do satisfatório, o que aumenta as desigualdades. No SUS, situações desiguais devem ser tratadas desigualmente. Baseia-se, portanto, no princípio da eqüidade (CAMPOS, 2007). Este é um grande desafio. Muito tem que ser feito para que todos possam ter saúde. O Governo deve concentrar esforços e investir mais onde há maior carência. O SUS tem o papel de cuidar de todas as necessidades da área da saúde. E cuidar da saúde, não é apenas medicar os doentes ou realizar cirurgias, é preciso garantir vacinas à população, dar atenção aos problemas das mulheres, crianças e idosos, combater a dengue e outras doenças. Este é o princípio de integralidade, ou seja, realizar todas as ações necessárias para a promoção, proteção e recuperação da saúde de todos. O Sistema Único de Saúde tem seus serviços administrados pelos governos federal, estaduais e municipais e por organizações, cujo objetivo é garantir a prestação de serviços gratuitos à qualquer cidadão. Em locais onde há falta de serviços públicos, o SUS realiza a contratação de serviços de hospitais ou laboratórios particulares, para que não falte assistência às pessoas. Desse modo, esses hospitais e laboratórios também se integram à rede SUS, tendo que seguir seus princípios e diretrizes. Devido às significativas diferenças existentes entre as várias regiões e municípios brasileiros, o Ministério da Saúde criou formas de descentralizar a prestação dos serviços públicos de saúde, repassando responsabilidades diferenciadas aos diferentes municípios. A mudança foi grande, pois ocorreu a unificação de comando, representada pela transferência ao Ministério da Saúde de toda a responsabilidade pela saúde no plano federal. Da mesma forma 9 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. nos estados e municípios, onde a responsabilidade fica a cargo das respectivas secretarias estaduais e municipais de saúde. Sob outro aspecto, o princípio da universalidade representou a inclusão de todos no amparo prestado pelo SUS, ou seja, qualquer pessoa passa a ter o direito de ser atendidos nas unidades públicas de saúde, lembrando que antes apenas os trabalhadores com carteira registrada faziam jus a esses serviços (CECILIO, 1997). Nem sempre é possível ao município executar sozinho todos os serviços de saúde. Pequenos municípios carecem de recursos humanos, financeiros e materiais, e sua população é insuficiente para manter um hospital ou serviços especializados. Por isso, a descentralização dos serviços implica também na sua regionalização. Num país imenso como o Brasil, para evitar desperdícios e duplicações faz-se necessário organizar os serviços, visando dar acesso a todos os tipos de atendimento. O sistema de saúde é ainda um sistema hierarquizado: compõe-se de várias unidades interligadas, cada qual com suas tarefas a cumprir. Num primeiro nível, estão os centros de saúde, que todos podem procurar diretamente; em seguida, há outros estabelecimentos que ofertam serviços mais complexos, como as policlínicas e hospitais. Quando necessário, as pessoas serão encaminhadas para eles, sempre referenciadas a partir dos centros de saúde. Para os casos de urgência e emergência, há um pronto-socorro próximo. A promoção da saúde à população estará sofrendo sempre transformações, pois, como as sociedades são dinâmicas, a cada dia surgem novas tecnologias que devem ser utilizadas para a melhoria dos serviços e das ações de saúde. Além disso, se tem também como condição essencial para um melhor funcionamento do SUS a participação e mobilização social em seus trabalhos. Pode-se dizer que a participação da população é a alma do SUS. Para prover as condições à saúde da população, o Estado deve oferecer condições que assegurem “acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. É neste ponto que passo a considerar o Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: • Universalidade 10 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. A saúde é um direito de todos", como afirma a Constituição Federal. Naturalmente, entende-se que o Estado tem a obrigação de prover atenção à saúde, ou seja, é impossível tornar todos sadios por força de lei. • Integralidade A atenção à saúde inclui tanto os meios curativos quanto os preventivos; tanto os individuais quanto os coletivos. Em outras palavras, as necessidades de saúde das pessoas (ou de grupos) devem ser levadas em consideração mesmo que não sejam iguais às da maioria. • Eqüidade Todos devem ter igualdade de oportunidade em usar o sistema de saúde; como, no entanto, o Brasil contém disparidades sociais e regionais, as necessidades de saúde variam. Por isso, enquanto a Lei Orgânica fala em igualdade, tanto o meio acadêmico, quanto o político, consideram mais importante lutar pela eqüidade do SUS. • Participação da comunidade O controle social, como também é chamado esse princípio, foi melhor regulado pela Lei nº 8.142. Os usuários participam da gestão do SUS através das Conferências de Saúde, que ocorrem a cada quatro anos em todos os níveis, e através dos Conselhos de Saúde, que são órgãos colegiados também em todos os níveis. Nos Conselhos de Saúde ocorre a chamada paridade: enquanto os usuários têm metade das vagas, o governo tem um quarto e, os trabalhadores, outro quarto. • Descentralização político-administrativa O SUS existe em três níveis, também chamados de esferas: nacional, estadual e municipal, cada uma com comando único e atribuições próprias. Os municípios têm assumido papel cada vez mais importante na prestação e no gerenciamento dos serviços de saúde; as transferências passaram a ser "fundo-afundo", ou seja, baseadas em sua população e no tipo de serviço oferecido, e não no número de atendimentos. • Hierarquização e regionalização Os serviços de saúde são divididos em níveis de complexidade; o nível primário deve ser oferecido diretamente à população, enquanto os outros devem ser utilizados apenas quando necessário. Quanto mais bem estruturado for o fluxo de referência e contra-referência entre os serviços de saúde, melhor a eficiência e eficácia dos mesmos. 11 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Cada serviço de saúde tem uma área de abrangência, ou seja, é responsável pela saúde de uma parte da população. Os serviços de maior complexidade são menos numerosos e por isso mesmo sua área de abrangência é mais ampla, abrangência a área de vários serviços de menor complexidade. A despeito dos muitos avanços ocorridos no setor nos últimos 15 anos, os princípios e diretrizes que norteiam o Sistema Único de Saúde – SUS, ainda não estão operacionalizados plena e suficientemente. A população ainda depara-se com uma atenção desprovida da adequada eqüidade, humanização e qualidade. Mudar tal realidade, que resulta de diversos fatores, é um requisito imprescindível à inclusão social e à integração nacional. O desenvolvimento do setor saúde significa, portanto, melhorar as condições de vida da população e credenciar-se como um dos meios essenciais no alcance dos objetivos sociais e desenvolvimentistas do País. 1.2 O assistente social como profissional da saúde O Serviço Social se sobressai no endosso ao reconhecimento dos fatores determinantes e condicionantes das condições de saúde, para o enfrentamento das expressões da questão social. A profissão vem produzindo conhecimentos e alternativas para enfrentar as dificuldades vivenciadas no cotidiano, provocando o alargamento do trabalho profissional, que, associada à produção de conhecimentos e constante qualificação, tem ampliado a inserção do profissional na área da saúde. O Assistente Social, como profissional de Saúde, tem como competências intervir junto aos fenômenos socioculturais e econômicos, que reduzem a eficácia dos programas de prestação de serviços no setor, que seja ao nível de promoção, proteção e ou recuperação da saúde. A pratica profissional dos Assistentes Sociais vem se desenvolvendo e a cada dia tem se tornada uma pratica necessária para a promoção e atenção à saúde. Sua intervenção tem se 12 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. ampliando e se consolidado diante da concepção de que o processo saúde-doença é determinado socialmente e reforçado pelo conceito de saúde. A atenção à saúde não está centrada apenas sob o enfoque medico, mas nas diferentes intervenções cujas praticas enfocam a prevenção. A especialização da pratica profissional no trabalho coletivo na saúde evidencia-se, em sua atuação, que não se dá na doença de forma especifica, mas no conjunto de variáveis que a determinam. É no confronto entre o direito do usuário e as normas institucionais que o profissional intervém para assegurar o cumprimento deste direito que é expressão mínima de outros grandes embates que o profissional enfrenta no Setor de Saúde, como cita Cecílio (1997, p. 470) quando considera que o Assistente Social na área de Saúde exerce as seguintes funções: Administração do Serviço Social: Coordenar, chefiar e supervisionar as atividades do Serviço Social. Assessoramento: A Assistente Social pode prestar assessoria técnica na elaboração de planos, programas e projetos junto à direção, às chefias, equipes multiprofissionais, instituições e população usuária. O assessoramento é pouco utilizado pelo Serviço Social. Intervenção Social: É uma função ampla, articula-se com as demais funções.É a ação propriamente dita, especifica do Serviço Social. Vai garantir a ação do mesmo dentro dos objetivos propostos pelos profissionais, permitindo o atendimento da população usuária, quer a nível individual, grupas ou comunitária, em consonância com as suas atribuições especificas. Pesquisa Social: Busca promover o levantamento de dados relacionados com os aspectos sociais, verificar a eficácia da ação profissional, identificar e conhecer a realidade social. Essa função é pouco utilizada. Através desta função o Assistente Social pode propor novas medidas de intervenção. Ensino Supervisão: O profissional precisa estar sempre atualizando-se, capacitando-se, não podendo ficar estagnado na instituição. O Assistente Social precisa proporcionar aos estudantes de Serviço Social condições de aprendizagem de acordo com as possibilidades da unidade, tendo em vista as exigências curriculares e as disposições institucionais, participar de treinamentos com profissionais de outras áreas. 13 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Ação Comunitária: Propiciar a participação em vários níveis da comunidade a serem trabalhadas, de modo a fornecer o desencadeamento do processo de desenvolvimento da comunidade. Assistencial: Prestação de serviços concretos visando a solução de problemas imediatos, apresentados pela população usuária dentro dos recursos e créditos institucionais e/ou através de encaminhamentos a recursos da própria instituição. Não dá a idéia de tratamento. Educação Social: Função importante, porém esquecida. Busca o engajamento do usuário no seu processo saúde-doença, com o objetivo de reforçar ou substituir hábitos. Pode ser a nível individual ou grupal. Algumas das atribuições do Serviço Social na área de Saúde: Discutir com os usuários e /ou responsáveis situações problemas; Acompanhamento social do tratamento da saúde; Estimular o usuário a participar do seu tratamento de saúde; Discutir com os demais membros da equipe de saúde sobre a problemática do paciente, interpretando a situação social do mesmo.; Informar e discutir com os usuários acerca dos direitos sociais, mobilizando-o ao exercício da cidadania; Elaborar relatórios sociais e pareceres sobre matérias especificas do Serviço Social; Participar de reuniões técnicas da equipe interdisciplinar. Sendo assim, vê-se a necessidade da atuação do Serviço Social no âmbito Hospitalar, junto à relação paciente internado e sua família, no sentido de amenizar as tensões causadas pela doença e todo o processo de hospitalização. Em cada acompanhamento feito pelo Assistente Social, é usada uma técnica adequada para tal caso, Reunião de grupo, entre outras, onde o profissional colhe dados e informações necessárias para um melhor atendimento e /ou percepção das necessidades a serem trabalhadas com o paciente e seus familiares, ao nível de orientação sobre as formas de 14 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. aceitação e como conviver com uma nova realidade em função de seu diagnóstico e a forma como encarar e conviver com tal patologia, a fim de que tenha uma boa recuperação e um acompanhamento ambulatorial para tal caso. Para que essa diretriz possa ser atingida é necessário que o assistente social acompanhe a evolução do paciente, realizando consulta social para dar encaminhamentos às situações detectadas, esperando contar com o apoio da equipe multidisciplinar. Em contato com os familiares, o profissional de Serviço Social toma conhecimento das suas inquietações e receios em relação à saúde do paciente. Os familiares trazem para o profissional suas dores, queixas e decepções e este por sua vez tem que adquirir subsídios para, a partir daí, mediar à relação paciente e família, a fim de evitar a rejeição familiar. Como já visto anteriormente, o Assistente Social no hospital, trabalha na inter-relação com os pacientes internados e sua família. 1.3 Contextualizando o sistema de referência e contra-referência no SUS Para que ocorra a efetivação do princípio da integralidade nos serviços do Sistema Único de Saúde, é necessário que se estabeleça uma estratégia de comunicação entre o serviço de maior e menor complexidade que compõem o sistema, propiciando que o paciente seja assistido com base em seu histórico de saúde e tratamentos passados. Para que isso aconteça é preciso haver um sistema de referência e contra-referência dentro do sistema de saúde, cujo serviço informa o outro sobre o estado de saúde, doença e tratamento do indivíduo. Os conceitos de referência e contra-referência em saúde, apesar de constituírem umas das bases da mudança almejada, ainda se encontram num estágio de pouco desenvolvimento, tanto em relação aos seus possíveis sentidos teóricos, quanto na efetivação e divulgação de experiências exituosas ou não. Há poucas definições em relação aos termos de referência e contra-referência. Encontra-se nos dicionários o significado de referência como sendo o 15 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. “[...] ato ou efeito de referir. O que se refere” (FERREIRA, 2004). Contra-referência então pode ser entendida como ato de redirecionar, referir, reencaminhar. Referência representa o maior grau de complexidade, ou seja, consiste no encaminhamento do usuário para um atendimento com níveis de especialização mais complexos, os hospitais e as clinicas especializadas. Já a contra-referência, diz respeito ao menor grau de complexidade, quando a necessidade do usuário, em relação aos serviços de saúde, é mais simples, sendo o encaminhamento realizado a um atendimento de menor complexidade, devendo ser esta a unidade de saúde mais próxima de seu domicilio (BRASIL, 1980). Na saúde, a referência e a contra-referência comumente ocorrem através do encaminhamento do centro de maior complexidade (referência) para o de menor complexidade (contra-referência), ou seja, do hospital para Unidade de saúde abrangente do usuário, sendo um método de complemento da assistência, diante de suas necessidades, o que vem a integrar as equipes de saúde, facilitar o acesso do usuário e coloca em pratica os princípios do SUS. Com a implantação e funcionamento de programas de Referência e Contra-referência, muitas vezes o usuário pode ter a garantia ao acesso, porém, necessita também da garantia na qualidade da assistência prestada e para isso carece avaliar e analisar os resultados se são bons ou ruins, bem como a participação ativa dos serviços envolvidos. Considera-se importante registrar que encontram-se poucos estudos referentes a essa temática. Pressupõe-se que a regionalização e a hierarquização são consequências do princípio da integralidade, organizando a assistência nos diversos níveis de complexidade, composto de uma rede hierarquizada o que vem a auxiliar na referência e contra-referência. A descentralização é outro princípio do SUS, que caminha junto com a referência e contrareferência como uma redistribuição das responsabilidades quanto ás ações e os serviços de saúde como já apontado. O objetivo dos sistemas locais de saúde é atender a necessidade da população dentro de uma área determinada. A assistência deve integrar as disciplinas, estabelecendo um equilíbrio dentro e fora do hospital (NOVAES, 1990). 16 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Novaes (1990) ainda pontua que, para o adequado funcionamento de um sistema de referência, é necessário primeiro identificar os distintos serviços oferecidos, por distintas entidades, para uma determinada população. Na sequência, é preciso classificar estes serviços conforme os diferentes níveis de assistência, estabelecendo uma rede de informação de referência de casos. Como apontado, a referência de um usuário implica na transferência de um determinado caso para um especialista ou estabelecimento de saúde mais especializado, a partir de um centro de saúde ou vice-versa, como cita Novaes (1990, p. 38) quando considera: Essa “referência”, porem, consiste de uma comunicação nos dois sentidos, como vimos, ou “contra - referência”, o que implica numa interação dinâmica entre os diferentes níveis dos sistemas “compreensivos” de saúde. Assim devem existir normas e procedimentos claros de quem, por que, como e quando a referência e contra-referência devem utilizar-se. Para que isto ocorra, cada serviço de saúde precisa ter total conhecimento sobre os estabelecimentos disponíveis e sua competência apropriada, nos diferentes níveis dentro de uma determinada área. Dessa forma, além desse amplo conhecimento para que haja a consolidação de um sistema de referência e contra-referência é fundamental a existência de registros e uso da comunicação pessoal ou por telefone, afim de repercutir na melhora da qualidade da assistência oferecida ao usuário, bem como na instrução de todos os envolvidos nesse processo, promovendo a integralidade do cuidado. Conforme Giovanella, Lobato, Carvalho (2002) a integralidade tem, em suas dimensões, a assistência curativa e de recuperação, sendo garantida a referência e contrareferência em uma organização, proferida entre ambulatórios e hospitais, incluindo unidades e procedimentos nos diversos estados de complexidade, tendo a definição dos fluxos e percursos compatibilizados com a demanda de cada região. 17 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Portanto, referência e contra-referência significam proporcionar ao usuário o acesso aos níveis diferenciados de complexidade, como mérito de garantir a eficácia na utilização dos recursos e a universalização do acesso, a equidade e a integralidade, o que depende de outros atores, como por exemplo, os municípios de origem dos pacientes. 1.3.1 O papel dos municípios na contra-referência de seus munícipes Considerando que a contra-referência significa um ato formal de encaminhamento de um paciente ao estabelecimento de saúde de origem, que efetuou a referência, após realização da avaliação e tratamento específico, acompanhado das informações necessárias (FERREIRA, 2004). O acesso aos serviços ainda é muito precário, privilegiando a aplicação de recursos nos níveis de maior complexidade, tornando mais agravada a área primária. Mesmo assim, considera-se insuficiente o investimento nas ações de média e alta complexidade, com pontos de estrangulamento que precisam ser identificados e solucionados. A regionalização e hierarquização dos serviços de saúde é um processo de construção lenta e difícil, que caminha de modo desigual nas diferentes regiões, estados e municípios do País. O poder público alimenta interesses conflitantes com a organização do Sistema ao investir em determinadas especialidades que lhe asseguram maior visibilidade política (FERREIRA, 2004). Contudo, uma política de saúde que advoga em favor de um Sistema Único de Saúde deve prever e empreender esforços, para garantir o funcionamento adequado e articulado das unidades prestadoras de serviços de saúde, para responder às necessidades de saúde da população em nível local. Nessa lógica, através da melhoria das condições de vida, obter-se-ia uma melhoria no perfil de saúde e o sistema local de saúde daria respostas efetivas às pessoas que buscam os serviços públicos de saúde, proporcionando à maior resolutividade possível na vigência de algum agravo à saúde. 18 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. É notória a sobrecarga dos Municípios, por serviços que poderiam ser descentralizados. Na organização das redes não são obedecidos aos princípios de universalização e há desigualdade no atendimento. Existe um verdadeiro excesso de concentração de serviços de alta complexidade em cidades pólo, com serviços altamente lucrativos e que pressionam o SUS. Para Ferreira (2004, p. 669) existem dificuldades por parte da população em utilizar o SUS, com desconhecimento de seus programas e ações. Uma parcela da população tem acesso diferenciado por desorganização e desvinculação aos serviços ou pela proximidade com os gestores, utilizando quando, onde e quanto quer (utilização promíscua dos serviços), enquanto grande parte da população amarga filas de espera, precisa madrugar à espera de atendimento ou tem de recorrer ao pagamento de planos de saúde para ter direito a consultas e exames especializados. A falta de oferta de serviços especializados é notória e com isso dificultam na contrareferência. O Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) e o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) têm atuado pouco na melhoria do trabalho e atuação dos gestores municipais e estaduais, e o resultado tem sido uma baixa capacitação dos gestores. • CONASEMS: O Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde nasceu de um movimento social em prol da saúde pública e se legitimou como força política, que assumiu a missão de agregar e de representar o conjunto de todas as secretárias municipais de saúde do país. Desde que foi criado, focou sua tarefa em promover e consolidar um novo modelo de gestão pública de saúde alicerçado em conceitos como descentralização e municipalização (ZANON, 2001). • CONASS: O Conselho Nacional de Secretários de Saúde é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos que se pauta pelos princípios que regem o direito público e que congrega os Secretários e seus substitutos legais, enquanto gestores oficiais das Secretárias de Estado da Saúde (SES) dos estados e Distrito Federal (ZANON, 2001). A saúde da família é considerada como uma das principais estratégias de reorganização do Sistema Único de Saúde (SUS) e da reorientação da atenção primária, ou 19 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. básica, em particular, no que diz respeito ao resgate das diretrizes e das práticas de atenção. Desde sua criação em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF) experimenta um significativo crescimento em todo o país (CAMPOS, 2007). Tanto o Ministério da Saúde como a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) consideram que a rede de serviços de Atenção Primária de Saúde (APS) pode resolver 85% dos problemas de saúde da população, contudo, para que haja tal resolubilidade, o nível secundário de atenção tem de assegurar o acesso dos usuários a consultas e exames especializados, indispensáveis para a conclusão de diagnósticos pela APS (FERREIRA, 2004). O papel complementar dos diferentes níveis de atenção à saúde remete ao conceito da integralidade, entendida como a garantia do direito de acesso dos usuários às ações e serviços, especialmente, de forma a assegurar a continuidade dos cuidados em unidades localizadas o mais próximo possível dos cidadãos. A integralidade da atenção numa rede de ações e serviços de saúde pressupõe, ainda, a correspondência entre a escala das unidades de atenção, o território e sua população. As unidades de cada nível de atenção são capazes de solucionar problemas de saúde de um determinado número de pessoas e devem ser dimensionadas de forma a garantirem essa oferta de serviços com qualidade (BRASIL, 1988). O principal referencial para a abordagem da questão do atendimento integral à saúde, ou da integralidade da assistência no SUS é fornecido pelos textos da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde. Desta forma, veio a viabilizar o acesso à saúde a toda população e a igualdade dos direitos. O artigo 197 da Constituição Federal de 1988, declara: São de relevância publica as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Publico dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. 20 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Intersetorialidade, interinstitucionalida são indispensável para Referência e Contrareferência, para atingir os princípios dos SUS, a Universalidade, Equidade, em especial a Integralidade, que vem a integrar a esse modelo de serviço em saúde, com a incorporação progressiva das ações de promoção da saúde. Nesse sentido, a implantação de um Programa de Referência e Contrareferência, segundo um determinado modo de constituição e lógica de funcionamento, oferece boas pistas para propostas que promovam articulações e fluxos através do fortalecimento dos vínculos entre pessoas, setores e serviços. Esse meio busca estabelecer relações mais democráticas e responsáveis e oferecer um cuidado integral aos pacientes e seus familiares, bem como recursos humanos permanentes atualizados, e comprometidos. 1.3.2 Dificuldades encontradas para a realização do sistema de referência e contrareferência e a identificação da equipe Com relação à referência e a contra-referência encontra-se muitas dificuldades para encaminhamentos dos pacientes: Dentre elas cita-se a demora para atender ao telefone no momento em que foi realizado o contato, o recesso entre os feriados; dificuldade de contato no intervalo do almoço; dificuldades na comunicação “um passa a ligação para o outro”. Vale ressaltar ainda que uma das maiores dificuldades seja em relação aos encaminhamentos cuja contra-referência pertencia a outro município. Esta situação ocorre por não se ter à abrangência da atenção básica do município de origem por endereço (ruas) e o paciente e/ou família não ter conhecimento qual seria o posto para contra-referênciar, demora no agendamento, deslocamento do usuário até a rede de saúde, a inexistência de atendimento à noite, finais de semana, feriados, entre outros. Shimizu, Dytz, Lima (2004, p. 718) em seus estudos perceberam ineficiência do sistema de referência e contra-referência entre Centros, Postos de Saúde e PSF. Destacam também dificuldades como: 21 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. [...] falta de agilidade no encaminhamento de pacientes para realizar atendimento com especialista, sendo que o sucesso e a agilidade dos encaminhamentos, na maioria das vezes, dependem, em grande parte, dos relacionamentos interpessoais e informalidade. Essa situação assemelha-se às enfrentadas por outros tipos de unidades em diversas regiões do pais [...]. Fratini, Saupe e Massaroli (2007, p.5) entendem que: [...] a busca por mecanismos facilitadores para o estabelecimento de processos de referência e contra-referência, pode ser considerada fundamental para a concretização do princípio da integralidade. Mas, é evidente também que as experiências para viabilizar este modelo tecno-assistencial ainda são muito isoladas e frágeis, não permitindo generalizações, mesmo ao nível de políticas públicas municipais [...]. Assim, além dos truncamentos interpessoais, de um modelo tecno-assistencial frágil ainda se tem como dificuldades na referência e contra-referência são poucos investimentos que efetivamente gastam um percentual maior direcionando-os para unidades hospitalares, quando nem sempre é de sua competência essa gestão; profissionais pouco valorizados, e por isso, desmotivados, o que também dificulta a conversão do modelo, que infelizmente ainda continua fragmentado e organizado em torno das situações agudas. O principal referencial para a abordagem da questão do atendimento integral à saúde, ou da integralidade da assistência no SUS é fornecido pelos textos da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde. A primeira estabelece como segunda diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS) o “atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais” (art. 198, II). A Lei define como um dos princípios do Sistema a “integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e 22 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema”. O principal elemento para a integração das redes de saúde é um efetivo sistema de referência e contra-referência, entendido como mecanismo de encaminhamento mútuo de pacientes, entre os diferentes níveis de complexidade dos serviços. A abordagem da integração dos sistemas e redes de saúde envolve diversos aspectos inter-relacionados, tais como: regulação dos serviços; processos de gestão clínica; condições de acesso aos serviços; recursos humanos; sistemas de informação e comunicação e apoio logístico. Diversos desses aspectos são considerados como elementos críticos para se garantir a integração das redes de saúde, podem-se considerá-los como condições necessárias também para o bom funcionamento do sistema de referência e contra-referência. A regulação dos serviços é tarefa indelegável do gestor do sistema de saúde e envolvem processos tais como: o planejamento da oferta de ações e serviços com base nas necessidades de saúde da população; estabelecimento de responsabilidades e de metas quantitativas e qualitativas da atenção para as unidades de prestação de serviços dos diferentes níveis de complexidade; regulação da utilização dos serviços; monitoramento e avaliação dos resultados alcançados para a correção dos processos de trabalho. Muitas vezes esses contatos são realizados diretamente com Assistentes Sociais do município de origem do paciente referenciado e contra-referenciado, com os enfermeiros chefe da Unidade Básica de Saúde do município, com Clínicas Conveniadas com os municípios, ambulatórios de especialidades, Centrais de Ambulância e Secretaria Municipal de Saúde. 1.4 Contextualizando o beneficio Tratamento Fora Domicilio – TFD O Tratamento Fora de Domicilio – TFD, instituído pela Portaria n° 55 no ano de 1999 da Assistência à Saúde (Ministério da Saúde), é um instrumento legal que visa garantir exclusivamente através do Sistema Único de Saúde - SUS, tratamento médico a pacientes portadores de doenças não tratáveis no município de origem, por falta de condições técnicas. 23 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Esse auxílio inclui transporte aéreo, terrestre e fluvial, estadia e ajuda de custo para alimentação, nos tratamentos que precisam ser feitos em cidades distantes a 50 km do local de origem do paciente. Assim, o TFD consiste em uma ajuda de custo ao paciente, e em alguns casos, também ao acompanhante, encaminhados por ordem médica às Unidades de Saúde de outro município ou Estado da Federação, quando esgotados todos os meios de tratamento na localidade de residência do mesmo, desde que haja possibilidade de cura total ou parcial, limitado no período estritamente necessário a este tratamento e aos recursos orçamentários existentes. O Tratamento Fora Domicilio pode ser autorizado a: • Pacientes atendidos na rede pública, ambulatorial e hospitalar, conveniada ou contratada do Sistema Único de Saúde – SUS; • Quando esgotados todos os meios de tratamento dentro do município; • Somente para municípios de referência com distância superior a 50 km do município de destino em deslocamento por transporte terrestre ou fluvial, e 200 milhas por transporte aéreo; Serão fornecidas, preferencialmente, passagens de ônibus rodoviários comuns. Aqueles pacientes com estado de saúde mais grave poderão receber passagens para ônibus tipo leito, mediante justificativa do médico solicitante e comprovação da gravidade do estado de saúde pela apresentação de exames complementares, submetidos à análise. Passagens áreas somente serão fornecidas para aqueles casos nos quais o estado de saúde do paciente o impeça de viajar de ônibus, ou quando a demora de deslocamento traga risco extremo a sua saúde. Esses pedidos deverão ser minuciosamente justificados pelo médico assistente que deverá comprovar a gravidade do estado de saúde pela apresentação de exames complementares pertinentes e laudo Médico bem fundamentado, que será submetido à rigorosa análise por parte da Comissão Autorizadora/TFD. Aqueles pacientes que receberam passagens aéreas deverão apresentar os canhotos das mesmas, para fins de prestação de contas. • Apenas quando estiver garantido o atendimento no município destino, através do aprazamento pela Central de marcação de Consultas e Exames especializados e pela Central de Disponibilidade de Leitos; 24 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. • Para exames completos, e no caso de cirurgias eletivas; • Com referência dos pacientes de Tratamento Fora Domicilio na Programação Pactuada Integrada - PPI de cada município e na programação Anual do Município/Estado. Caso o impasse sobre a destinação do dinheiro não seja solucionado, o interessado pode procurar um promotor de Justiça no Fórum de sua Comarca. O promotor poderá instaurar inquérito civil para apurar responsabilidades. 1.5 A Unidade de tratamento de queimaduras do Hospital Estadual Bauru O Hospital Estadual Bauru (HEB) “Arnaldo Prado Curvêllo” é administrado pela Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp e Famesp – Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar e faz parte de um novo modelo de gestão implantado pelo governo estadual, iniciou seus trabalhos em 04 de novembro de 2002. O modelo prevê o convênio entre Organizações Sociais de Saúde (OSS) e o Estado. No HEB, a responsabilidade pelo gerenciamento da instituição e o cumprimento de metas de produção, atendimento e qualidade, estipuladas pela Secretaria do Estado da Saúde, ficam a cargo da Faculdade de Medicina da Unesp e da Famesp, enquanto ao governo cabe a manutenção financeira do hospital. A instituição presta serviços aos 68 municípios de sua área de abrangência, sendo referência numa região de aproximadamente 1,8 milhões de habitantes. Além do atendimento ambulatorial e hospitalar em 40 especialidades, realiza exames dos mais simples aos mais modernos. O HEB não possui convênios com planos de saúde e o seu trabalho é inteiramente voltado aos usuários do SUS – Sistema Único de Saúde. Presta atendimento referenciado, ou seja, seus pacientes vêm encaminhados pela rede pública de saúde. Cada vez mais o ambiente hospitalar merece atenção dentro da rotina dos serviços de saúde. Nunca é demais repetir as características deste tipo de paciente e seu tempo de permanência. 25 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. A arquitetura hospitalar merece destaque fundamental ao ambiente. A escolha das cores apropriadas aos ambientes e seu mobiliário não representam apenas postura estética. Cores claras, suaves, ambientes arejados, com temperatura adequada a este tipo de paciente são requisitos a serem valorizados. O conjunto entre técnico, funcional e acolhedor deve nortear a proposta do ambiente. De nada adianta se ter apenas um dos fatores descritos valorizados. A premissa arquitetônica segue os mesmos princípios daquilo que se quer para as próprias residências, onde procura-se aliar a funcionalidade das necessidades dentro de um ambiente acolhedor. A Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) do Hospital Estadual Bauru foi inaugurada em abril de 2004 e conta com uma estrutura física adequada e pessoal capacitado para o atendimento integral ao queimado. A área física tem capacidade para 13 pacientes em enfermaria e 4 em terapia intensiva. Todos têm modernos recursos de controle ambiental com monitoramento de umidade, temperatura e filtros biológicos. A sala cirúrgica é exclusiva para a UTQ e oferece todo o suporte tecnológico necessário para os mais diversos procedimentos de anestesia e cirurgia. A equipe multidisciplinar que atende aos pacientes da unidade tem grande preocupação com normas técnicas e de qualidade no atendimento e mantém um programa contínuo de qualificação profissional e educação continuada. Fazem parte da equipe, profissionais da enfermagem, médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, além dos que prestam apoio nas áreas de diagnóstico clínico e de imagem, hemoterapia, manutenção de materiais, etc. Ainda que o atendimento ao queimado seja priorizado, a equipe da UTQ se preocupa com a prevenção. A unidade pretende atuar de forma continuada junto à comunidade para informar e conscientizar sobre a necessidade de se prevenir este tipo de acidente. 1.5.1 Os impactos causados das queimaduras nos pacientes e em seus familiares 26 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. O paciente com queimaduras, pelas características da sua doença, apresenta aspectos próprios como a origem da mesma, o tempo de permanência em ambiente hospitalar muitas vezes prolongado aos padrões atuais vigentes, sua expectativa quanto a recuperação e eventuais seqüelas. Tudo isso associado ao tratamento cada vez mais intensivo e invasivo da queimadura, em nome da precocidade e dos resultados. É conhecido os aspectos da complexidade ao tratamento do paciente portador de uma queimadura, superando em muito apenas os visíveis na ferida. Abordá-la de forma humanizada é, então mister ao tratamento dos mesmos, considerando não apenas o paciente, mas sua família, o meio social em que vive, seu trabalho, suas ansiedades e necessidades de integração ao meio após a cura. No caso especifico do Hospital Estadual Bauru, em se tratando de pacientes portadores de queimaduras, é óbvia a surpresa do momento que esta situação lhe infere. Diferente de qualquer processo eletivo dentro da área da saúde, a queimadura ocorre em momentos não programáveis (daí a necessidade de preveni-las). O trauma causado por elas atinge não somente ao paciente, mas apresenta reflexos fortíssimos na família, entre os amigos, na comunidade, no trabalho etc. Esta é uma expectativa de curto, médio e longo prazo. A necessidade de integração do paciente com seu meio é, portanto, fato inquestionável. No curto prazo, esta relação se estabelece por anseios relacionados à sobrevida, ao tempo de duração do tratamento e a outros fatores. No médio prazo, as expectativas relacionadas ao tratamento, à permanência etc. A longo prazo, a reintegração social, psíquica, funcional e a sequência do tratamento. Em todos estes momentos, o paciente nunca está sozinho. É necessário que não só ele tenha seus anseios atendidos, mas também o do meio que o cerca. Desta integração surge invariavelmente mais um dos aspectos relacionados à humanização do atendimento. Há que se pensar também, sobre a situação do paciente, transcorrido já dois ou três dias de internação: ele está mais lúcido, percebe já com mais sensibilidade o corpo bastante ferido, envolto por esse mesmo clima pesado imposto pelo lidar com a dor da queimadura. O primeiro contato com o paciente queimado é muito dificultado. Se considerar como a aparência humana está sendo valorizada nos últimos tempos, quando os avanços científicos 27 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. e tecnológicos permitem aos homens uma melhor qualidade de vida e prolongam seus dias de existência, pode-se imaginar o impacto que uma queimadura, que na maioria das vezes deixa sequelas, deforma, pode exercer sobre a pessoa queimada. A pessoa ficara marcada para sempre, marcada a fogo. O que está na maioria das culturas ligado a purificação, também, correlaciona-se a algo ruim a ser eliminado. Então a marca da queimadura o atormenta e estigmatiza, produzindo um estado de espírito bastante sofrido e amedrontador, ele sente que esta estragado. Imagina que isso pode se tornar mais ou menos intolerável se a história de vida do paciente já houver sido pontuada desde o começo, por vivências de abandono e carências afetivas. Sua autoestima estará mais comprometida e a crença na vida e na sobrevivência, diminuída. 1.5.2 O papel do Serviço Social no processo de des-hospitalização dos pacientes atendidos na Unidade de Queimaduras do Hospital Estadual Bauru Em qualquer atendimento na área da saúde existe hoje a consciência de que não são necessários ao sucesso apenas os aspectos técnicos ou terapêuticos envolvidos. A construção do modelo humanizado passa obrigatoriamente pela participação de todos. A abordagem aos pacientes com queimaduras envolve sabidamente várias especialidades médicas, como por exemplo, os infectologistas, clínicos, pediatras, cirurgiões plásticos e outros. Da mesma forma, vários profissionais de saúde ficam envolvidos neste atendimento. Entre eles, destaca-se o Serviço Social, a psicologia, a enfermagem, a fisioterapia e a nutrição. O conjunto das ações que são individualmente exercidas compõe o global do atendimento. Não é possível conceber essa pluralidade de profissionais agregados sobre o mesmo paciente, sem que haja entre eles uma harmonia. Dentro da humanização que se procura o paciente não é um ser isolado e recluso no mundo. Estão envolvidos sua família, seus amigos, a comunidade em que habita, o trabalho e tantos outros fatores. Para tal, estes profissionais o integram ou reintegram ao meio. Não há profissional, que individualmente, cumpra adequadamente todas essas funções. Porém, todos 28 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. estes e outros, compõem o atendimento e somente com este conjunto harmônico melhorar os aspectos assistencial e global ao paciente em seus inúmeros aspectos. Nos últimos anos os acidentes e violências vem sendo identificados como problemas de saúde pública no Brasil, de grande magnitude, devido ao forte impacto que provocam na morbidade e mortalidade da população. A partir desta perspectiva, a atuação do Serviço Social na Unidade de Tratamento de Queimaduras - UTQ deve valorizar as medidas relacionadas à promoção de comportamentos e ambientes seguros e saudáveis. Conforme determina a Resolução CFESS n° 383/99, a prática profissional do assistente social deve estar direcionada para o atendimento das demandas imediatas da população e, a partir destas, possibilitar o acesso às informações e ações educativas, contribuindo para que a saúde seja entendida como resultado das condições gerais de vida e da dinâmica das relações sociais, econômicas e políticas vigentes no país. Desta forma, o atendimento à pessoa queimada requer uma atuação voltada para as temáticas como a violência, especialmente a intrafamiliar, os acidentes domésticos e de trabalho e as tentativas de suicídio, demandas constantes na Unidade de Tratamento de Queimaduras - UTQ. Nesse sentido, a atuação do assistente social se volta para a discussão destes temas, para o acesso a informações de saúde e direitos sociais e, ainda: estímulo à reintegração familiar pós-trauma, incentivo à adesão ao tratamento durante a internação, encaminhamento e orientações para os tratamentos complementares após a alta hospitalar; orientação quanto a direitos previdenciários e trabalhistas; encaminhamentos para aquisição de órteses e próteses e encaminhamento para a rede de serviços e recursos disponíveis na comunidade, que visem garantir o acesso a continuidade do tratamento dentro de um sistema de referência e contrareferência para os casos de maior complexidade ou que necessitem de internação hospitalar. É notório o fato de que se não se humanizar as atitudes perde-se parte do tratamento. Nos dias atuais a importância do processo de humanização ao atendimento é muito discutida e praticada. Não terminam no momento da alta hospitalar ou do ambulatório. Novos alvos são sempre procurados visando à reintegração. 29 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Realizá-las representa uma proposta ética, de fácil execução e que resultará indubitavelmente na diminuição do tempo de tratamento e na obtenção de melhores resultados. Ao longo de toda a história do atendimento em saúde se vê a presença, às vezes simplesmente intuitiva, da premissa de humanização no atendimento. Ela está firmemente ligada à proposta do conceito de saúde do bem-estar físico, psíquico e moral. Com a consciência desenvolvida ao longo dos anos, a consolidação da postura ética e de respeito ao paciente e sua abordagem como parte do meio tornam a preocupação quanto aos aspectos da humanização indissociável do tratamento. Em 2001, foi elaborado o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar do Ministério da saúde que busca estender o conceito de humanização para toda a instituição hospitalar, através da implantação de uma cultura organizacional diferenciada que visa o respeito, a solidariedade e o desenvolvimento da autonomia e da cidadania dos profissionais de saúde e dos pacientes. Assim humanizar em saúde é resgatar o respeito à vida humana, levando-se em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano... é resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos físicos na intervenção em saúde. (BRASIL/PNH, 2001, p.33). A Política Nacional de Humanização destaca que: No campo das relações humanas que caracterizam qualquer atendimento à saúde, é essencial agregar à eficiência técnica e científica uma ética que considere e respeite a singularidade das necessidades do usuário e do profissional, que acolha o desconhecido e imprevisível, que aceite os limites de cada situação. (BRASIL/PNH, 2001, p. 5). Considera-se então, que o serviço de saúde deve ter como eixo central a humanização e os aspectos subjetivos da condição humana, pois a interação dos conhecimentos técnico- 30 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. científico com os aspectos afetivos, sociais, culturais e éticos na relação entre o profissional e o paciente garante maior eficácia do serviço. 2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 2.1 Metodologia da pesquisa Esta pesquisa tem como cenário o Hospital Estadual Bauru, do estado de São Paulo, na unidade Psicossocial e trata-se de um estudo com pacientes e/ou familiares hospitalizados na Unidade de Tratamento de Queimaduras – UTQ, no período de fevereiro a julho de 2010, cujo objeto são as dificuldades que os pacientes encontram para dar continuidade na sua recuperação em seu município de origem O objetivo geral proposto é evidenciar as dificuldades que os pacientes encontram para continuidade de sua recuperação, bem como o papel do Serviço Social junto aos municípios como contra-referência de pacientes da Unidade de Tratamento de Queimaduras, e a responsabilidade de cada município na continuidade do tratamento, tendo como objetivos específicos: evidenciar e identificar quem é a equipe profissional dos municípios com quem são articulados os recursos; revelar o papel do Serviço Social junto aos municípios na contrareferência dos pacientes. O problema levantado são quais as dificuldades que os pacientes encontram para dar continuidade na sua recuperação em seu município de origem. A hipótese sugerida é que para uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde, em específico, à pacientes atendidos na Unidade de Queimaduras, é preciso que o profissional esteja articulado e sintonizado ao movimento dos pacientes usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, para que realmente haja a efetivação desse sistema, facilitando-lhes o acesso aos serviços de saúde da Instituição, de forma compromissada e criativa. Percebe-se 31 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. que a operacionalização desse trabalho muitas vezes está submetido a (re)arranjos propostos pelos governos municipais, como por exemplo, a falta de recursos financeiros, os quais descaracterizam a proposta original do SUS, com enfoque nos princípios da: universalidade, integralidade e equidade, também contidos no projeto de Reforma Sanitária, dificultando assim, a continuidade de um tratamento qualitativo ao paciente. Trata-se de uma pesquisa que se caracteriza por uma abordagem quantitativa, para que se possa correlacionar fatos que subsidiem resultados mais precisos. Segundo Martinelli (1999, p.137/141) as pesquisas qualitativas se caracterizam: Por terem como elementos fundantes a intencionalidade e o compromisso dos profissionais, sendo caracterizados por uma construção coletiva, entre profissionais e usuárias, podem destacar que são, permanentemente, construídos socialmente determinados e historicamente produzidos. A entrevista realizada com preocupações qualitativas, caracterizam-se por serem abertas ou não-estruturadas, não amarradas aos roteiros de perguntas, com sequências pré-determinadas, possibilitando ao usuário fazer seu relato à partir de sua realidade cotidiana, baseada em sua lógica, ou mesmo, se for o caso, relatar à partir do mais simples para o mais complicado, ou vice-versa, enfim ter liberdade para tal. Permite ainda, apreender o relato com clareza, por parte do assistente social, possibilitando, aprofundamento e questionamento pelos sujeitos envolvidos. Privilegia os objetivos do usuário e do assistente social, faz opção pela qualidade sem preocupar-se com a quantidade. Contrários aos procedimentos qualitativos, afirmam que tais procedimentos perdem objetividade, esquecem da necessidade de atender mais usuários, etc. A autora (1999, p. 25) ainda afirma que: 32 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. No que se refere às pesquisas qualitativas, é indispensável ter presente que, muito mais do que descrever um objeto, buscam conhecer trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos, o que exige uma grande disponibilidade do pesquisador e um real interesse em vivenciar a experiência da pesquisa. Minayo (1994, p. 22) por sua vez, considera que: “Assim, os dados objetivos da realidade subsidiarão e complementarão os qualitativos interagindo dinamicamente, sem qualquer dicotomia”. Logo, os dados objetivos complementam os subjetivos, fazendo com que a realidade seja desvelada. Como instrumento de coleta de dados se tem a entrevista com base num formulário, aplicado junto aos pacientes e/ou familiares, constituídos de cinco perguntas básicas, que, no entendimento das pesquisadoras, revelam a concepção dos mesmos sobre a referência e contra-referência conforme apêndice (1), além da observação assistemática. Vale ressaltar que a princípio se pretendia pesquisar os profissionais de Serviço Social de cada município de origem dos pacientes, porém, após contato telefônico e o envio do questionário via e-mail não se obteve nenhuma devolutiva, o que fez com que as pesquisadoras desistissem desses sujeitos tão significativos nessa realidade. Após a construção do instrumental, aplicou-se o pré-teste no mês de agosto, em três pacientes, em retorno ao ambulatório do Hospital para a realização dos curativos, o qual não demonstrou necessidade de alterações. O universo dessa pesquisa são os pacientes e ou familiares atendidos na Unidade de Queimaduras do Hospital Estadual Bauru, nos meses de fevereiro á julho de 2010, contabilizando, aproximadamente 120 pacientes atendidos nesse período. A amostragem dessa pesquisa são 10% do universo, o que representa 12 pacientes. A pesquisa de campo foi aplicada no mês de setembro nos municípios de Pederneiras, Macatuba e Lençóis Paulista, na residência de cada paciente, com duração aproximada de 20 minutos. A facilidade encontrada foi à disponibilidade dos sujeitos em receberem as 33 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. pesquisadoras em suas respectivas residências, nos municípios de origem, para a realização da entrevista, agendadas previamente. As dificuldades encontradas para a realização da pesquisa com os sujeitos atribuem- se à demora da avaliação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética para aprovação do mesmo, o que ocasionou um grande atraso na continuidade da aplicação da pesquisa e no restante do processo para segmento do trabalho. Ressalta-se também como dificuldade, o desinteresse dos profissionais da saúde em participar da pesquisa, não respondendo questionário enviado via email, como já citado, juntamente com o termo de consentimento livre e esclarecimento, não havendo nenhum retorno, o que não proporcionou dados para uma análise das respostas dos mesmos, ficando então apenas os pacientes e ou familiares como sujeitos. Após a aplicação da pesquisa fez-se o tratamento dos dados, os quais foram sistematizados num único eixo: Referência e contra-referência na percepção do paciente e/ou familiar, bem como a atuação do Serviço Social, o qual possibilitou se fazer uma leitura crítica e elaborar os aportes conclusivos da realidade. O desenvolvimento da pesquisa envolveu como método a análise crítica de fontes bibliográficas e documentais; levantamento de dados de caráter secundário sobre as redes de ações e serviços de saúde do SUS nas áreas pesquisadas. Os procedimentos utilizados foram de cunho predominantemente qualitativo, embora alguns dados tenham recebido tratamento quantitativo (estatística simples). Um dos elementos essenciais para que as ações e serviços de saúde funcionem de forma integrada, numa rede de serviços, é o funcionamento de um sistema de referência e contra referência, o que propicia conhecer o funcionamento do sistema de referência e contra referência, e subsídios para a melhoria do mesmo no Sistema Único de Saúde – SUS numa visão dialética. 2.2 Análise dos resultados 34 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. A análise está sistematizada num único eixo norteador que aponta a referência e contra referência na percepção do paciente e/ou familiar, bem como a atuação do Serviço Social nessa realidade. 2.2.1 As dificuldades na referência e na contra referência na ótica do pacientes e/ou familiares e o papel do Serviço Social nesta realidade O Hospital Estadual Bauru possui uma unidade específica, para atendimento de pacientes com queimaduras, unidade esta que foi o cenário da pesquisa que é referência por representar maior grau de complexidade, para onde o usuário é encaminhado para atendimento com níveis de especialização mais complexas. Já a contra referência trata-se de um menor grau de complexidade, quando a necessidade do usuário em relação aos serviços de saúde é mais simples, ou seja, o cidadão pode ser contra referenciado, conduzido para um atendimento em nível mais “primário” devendo ser esta a unidade de saúde mais próxima de seu domicílio. Entende-se então que, a contra referência significa um ato formal de encaminhamento de um paciente ao estabelecimento de saúde de origem que efetuou sua referência. Assim, considerando a Unidade de Queimaduras uma unidade de referência, ao dar alta o paciente, este é encaminhado para o município de origem a contra referência para continuidade de seu tratamento. Identifica-se que o profissional da saúde que recebe o encaminhamento para o atendimento do paciente no município de origem, na sua contra referência verifica-se pelo quadro 1 que: Sujeitos Profissionais da saúde: 12 Enfermeiro 01 Médico e enfermeiro 01 Enfermeiro e fisioterapeuta Quadro 1: Profissional da saúde na contra-referência 35 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. O profissional que dá continuidade no tratamento do paciente em seu município de origem na contra referência é sempre os enfermeiros dos postos de saúde (doze), para a realização dos curativos, sendo que apenas dois sujeitos além do enfermeiro, também fizeram o acompanhamento com o médico para continuidade de seu tratamento e outro com o fisioterapeuta, para seu processo de reabilitação. A queimadura é toda e qualquer lesão produzida pela ação curta ou prolongada de temperaturas extremas no tecido de revestimento, presente no ser vivo denominado pele, podendo atingir mucosas, músculos, vasos sanguíneos, nervos e ossos. As queimaduras podem ser superficiais ou profundas e estão classificadas de acordo com a gravidade, pelo grau da lesão e pela extensão da área atingida. São geralmente, provocadas por agentes físicos e químicos. Os agentes físicos têm origem no frio ou no calor, através de condução ou de radiação eletromagnética, já os agentes químicos são provocados por produtos corrosivos que podem ter bases fortes ou de origem ácida. As queimaduras térmicas podem ser através de: geada, neve, raios solares, vapores, fogo, líquidos e sólidos ferventes. As queimaduras por radiação eletromagnética, podem ocorrer através de: eletricidade, raios e radiação. A imagem corporal é a figuração do corpo formado na mente, quando a insatisfação em relação à imagem corporal acentua-se ocorre um importante desconforto emocional que desencadeia repercussão em todas as esferas da vida do paciente e de seus familiares. Para minimizar estes efeitos, faz-se importante a presença da família, comprometida com o tratamento e o processo de reabilitação do paciente, bem como a atuação do psicólogo, enquanto profissional qualificado, para conter a amplitude emocional associada a essa vivência. O artigo 196 da Constituição Federal (1998, p.58) declara: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de 36 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O artigo 197 também declara que: São de relevância publica as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Esses direitos também estão assegurados pela Lei Orgânica da Saúde, criada em 1988 e regulamentada pelas leis 8.080 que dispõe sobre a promoção, proteção e recuperação da saúde, sua organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e da outras providências. Ao receberem alta, da Unidade de Queimaduras do Hospital Estadual Bauru, os pacientes apresentam necessidades de contra referência concentrados em duas áreas: curativos (enfermeiros) e acompanhamento com a equipe de saúde. Nota-se que as necessidades de cuidados apresentadas pelos pacientes que estiveram na Unidade de Tratamento de Queimaduras, no período analisado (fevereiro à julho), está relacionada ao acompanhamento com a equipe de saúde para a realização de curativos, no entanto, não há evidência de parceria entre a atenção hospitalar e a atenção básica, mediante o estabelecimento de diálogo intersetorial permanente, pois, ao serem questionados se encontraram facilidades para a continuidade do tratamento pós-alta, em seu município, constata-se que nove pacientes encontraram facilidades no atendimento, conforme citam: Sim, faço os curativos no ambulatório aqui do hospital mesmo. (R.C.R – Sujeito 1) 37 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Sim, bom atendimento dos funcionários do posto de saúde onde faço os curativos. (M.I.S -Sujeito 2) Sim, no começo os curativos eram feitos no posto de saúde, mas depois o posto forneceu os medicamentos e os curativos foram realizados em casa mesmo. (A.A.S - Sujeito 5) Sim realizei os curativos no posto e em casa, o posto também forneceu os medicamentos para que eu realize os curativos em minha casa. (T.M.M Sujeito 7) Sim, o meu acidente aconteceu no meu local de trabalho e a empresa forneceu a parte dos medicamentos, e os materiais para a realização dos curativos que é a faixa o posto de saúde que forneceu. (V.C - Sujeito 8) Sim, vim com o encaminhamento do hospital para o posto de saúde do meu município o que acredito que tenha facilitado muito. (V.C.S Sujeito 10) Sim, sempre que fui ao posto para faze os curativos fui bem atendido. (A.A.S -Sujeito 12) Percebe-se que os centros de saúde, cumprem com um dever primário, fazer curativo e o fazem sem contestação, no entanto, há aqueles que a própria empresa local do acidente assume o material necessário e acabam fazendo em casa mesmo. Há também, pacientes que optam em arcar com os custos da continuidade do tratamento (curativos e reabilitação fisioterapeuta), pois acreditam que demoraria e teria muita burocracia para ser atendido no posto de saúde, pelo Sistema Único de Saúde de seu município, conforme aponta o sujeito abaixo: 38 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Não procurei nenhum serviço do meu município, eu mesmo arco com os custos dos curativos, se fosse atrás de posto de saúde sei que demoraria muito, preferi arcar com os gastos. (J.C.L.B Sujeito 6) Ainda há aqueles que possuem facilidades para continuidade de seu tratamento em casa mesmo, sendo assim, o Hospital Estadual Bauru fornece os medicamentos e materiais necessários para a realização dos curativos, uma enfermeira amiga os realiza em seu domicilio, conforme cita: Não precisei de atendimento do meu município, o hospital me forneceu os materiais e remédios para fazer os curativos em casa. Uma amiga minha que é enfermeira vinha até minha casa para realizar os curativos. (R.G – Sujeito 4) Ao serem questionados se encontram dificuldades no atendimento em seu município para continuidade de seu tratamento 10 (dez) sujeitos informam que não encontram, conforme os relatos: Não, não precisei de atendimento do meu município. (R.G Sujeito 4) Não procurei esse serviço, como disse arco com os gastos. (J.A.L.B - Sujeito 6) Não, não encontrei dificuldade nenhuma. (T.M.M - Sujeito 7) Não, não encontrei dificuldade nenhuma. (L.S -Sujeito 9) Não, só o médico do INSS que diz que estou apta a trabalhar mais eu ainda sinto dor no meu pé na parte em que queimei, onde trabalho eu tenho que trabalhar com bota e não consigo 39 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. colocar calçado fechado porque está muito sensível à região, pois não faz muito tempo que fiz o enxerto. O médico do INSS falou para eu pedir a médica do hospital que me dê uma declaração me liberando para trabalhar, mas quando eu for ao retorno vou explicar ao Doutor o que o médico do INSS me solicitou e explicar que ainda não me sinto apta a voltar a trabalhar, pois não consigo colocar calçado fechado. (E.C.R.S Sujeito 10) Verifica-se que afirmam não encontrar nenhuma dificuldade, no entanto, observa-se que são sujeitos singulares e cidadãos e como tal a política da saúde, principalmente, no que se refere à efetivação do Sistema Único de Saúde – SUS, hoje na adequação da referência e contra referência é deficitário, pois não há comunicação entre os diferentes setores, há demora no atendimento e na resolutividade, porém, como é um serviço gratuito o cidadão o vê como bom, não reclama porque precisa dele. No entanto, em escala bem menor, há aqueles que encontram dificuldades e relatam: Sim, um pouco. O município não forneceu a malha que ela precisava estar usando, quando tive retorno no hospital após três meses procurei a assistente social e passei a ela o que estava acontecendo ela me deu um encaminhamento que trouxe aqui no meu município foi aí que consegui a malha. (A.A.S – Sujeito 5) Sim, muitos. O médico do hospital deu um encaminhamento para a realização dos curativos e dos medicamentos ao posto de saúde do município, o posto só forneceu gazes e quase nada de medicamento. O posto alegou que não tinha uma grande quantidade dos materiais e medicamentos que foram solicitados, que os itens solicitados só viam uma vez ao mês e em baixa quantidade. Tenho uma conhecida que é enfermeira que se 40 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. disponibilizou a estar fazendo os curativos em minha casa, mas o posto de saúde não a liberou. Após a alta do hospital meu marido ficou uma semana sem atendimento médico no município porque não tinha médico no posto, passei dificuldade para comprar os medicamentos e os materiais para a realização dos curativos para a continuidade do tratamento, pois não temos condições de arcar com os gastos. Fui recorrer na Secretaria da Saúde do meu município e de nada adiantou. Além disso, o acidente ocorreu em local de trabalho, mas meu marido recebeu somente o primeiro mês o benefício acidente de trabalho, faz três meses que não ele está afastado e sem receber. Estamos fazendo bico para sobreviver, o aluguel e as contas estão todas atrasadas. (V.C.S – Sujeito 11) Considerando que a finalidade do SUS tem como meta tornar-se um importante mecanismo de promoção da equidade no atendimento das necessidades de saúde da população, ofertando serviços com qualidade adequados às necessidades, independente do poder aquisitivo do cidadão. O SUS se propõe a promover a saúde, priorizando as ações preventivas, democratizando as informações relevantes para que a população conheça seus direitos e os riscos a sua saúde. Assim, a realidade dos pacientes do SUS, em especial os pacientes com queimaduras, são pacientes que possuem carências, precisam de um atendimento mais humanizado e com competência técnica, porém, encontram mais dificuldades ainda, pois além de ter que superar os desafios deixados pelas sequelas, enquanto usuários do sistema público, que se propõem a promover, proteger e recuperar a saúde dos cidadãos acentua ainda mais as carências sociais sofrida por grande parcela da população que o utiliza. Ao serem questionados sobre como veem a intervenção do Serviço Social do Hospital Estadual Bauru para a continuidade do tratamento em seu município, sete sujeitos tiveram contato com o Serviço Social do hospital e afirmam que: 41 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Muito boa, a assistente social da unidade sempre ia ao meu quarto e conversa comigo sobre como estava me sentindo se estava precisando de alguma coisa e me tranquilizava sobre os procedimentos do tratamento na unidade, fiquei um pouco nervosa quando soube que teria que fazer enxerto e ela me explicou que é um procedimento de „práxis‟ que era para eu ficar calma que daria tudo certo. (R.G – Sujeito 4) Muito boa, porque foi através dela que consegui a malha para minha filha. (A.A.S – Sujeito 5) Boa, quando me queimei a assistente social ia ao meu quarto conversar comigo perguntava como estava o tratamento e como estava me sentindo, minha queimadura aconteceu no meu local de trabalho como sou aposentando ela me explicou que não tinha possibilidade de eu estar entrando com a CAT na empresa para receber pelo tempo que ficaria e fiquei afastado, pois eu sou aposentado e o INSS não concede dois tipos de benefícios. Ela me informou no momento da alta que era dever do município do posto de saúde estar me fornecendo os materiais e medicamentos para a realização dos curativos que no posto mesmo elas fariam o curativo, mais optei por arca com os gastos porque sei que essas coisas demoram. (J.C.L.B – Sujeito 6) Boa, no período em que estive hospitalizado ela me informou sobre os procedimentos que teria que tomar para entrar com o benefício acidente de trabalho no período em que eu fiquei afastado. E quando tive alta me encaminhou para o posto de saúde aqui do meu município para que eu se realiza os curativos. (L.R – Sujeito 9) 42 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Percebe-se que aqueles sujeitos que contaram com a intervenção do assistente social, seu tratamento foi facilitado demonstrando que o trabalho desse profissional na saúde tem como eixo central a busca criativa e incessante da incorporação dos conhecimentos e das novas aquisições à profissão, articulados aos princípios dos projetos da reforma sanitária e ético-político do próprio Serviço Social, o que garante a efetivação dos direitos do cidadão. Na referência e contra- referência que se poderá ter a compreensão se o profissional está de fato dando respostas qualificadas as necessidades apresentadas pelos usuários. Matos (2003, p.17) afirma que: Cabe ao Serviço Social em uma ação necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social a saúde, atentando que o trabalho do assistente social na saúde tem que ter como norte o projete ético político profissional e que esteja necessariamente articulado ao projeto da reforma sanitária. Assim, cabe ao Serviço Social criar ações numa rede colaborativa, superando ações assistencialistas e autoritárias, no tratamento das questões de saúde, propiciando a humanização na mesma, através de seus trabalhadores/ pacientes/comunidade e familiares e dentro de uma estrutura dinâmica, flexível e aberta, envolvendo os diferentes setores de saúde, para que se tenha uma diminuição dos efeitos negativos, principalmente, no tratamento da doença. Ressalta-se aqueles que afirmam que não tiveram contato com o Serviço Social. Não tive contato com o serviço social do hospital. (M.I.S Sujeito 2) Não tive nenhum contato com o serviço social daqui. (E.C.R.S Sujeito10) Não tive contato. (V.C.S -Sujeito 11) 43 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Esses relatos demonstram fragilidades na ação do Serviço Social, no que tange à escuta, à atenção, o encaminhamento e assessoramento o que pode tornar esse processo mais difícil ainda e, o Serviço Social como profissão, uma prática fragmentada restrita ao assistencialismo realizada por algumas especialidades e atuação em atenção básica, centrada em atendimento pontuais. E por fim, ao serem questionados como veem a intervenção do Serviço Social do seu município na continuidade do seu tratamento, relatam que não precisaram do Serviço Social do seu município (cinco sujeitos) não tendo nem contato. Os que contaram com a intervenção do Serviço Social do município, pontuam sobre o atendimento afirmando: Bom, pois elas me encaminham para o posto de saúde quando acaba os remédios com um papel (encaminhamento), o que facilita o atendimento quando chego no posto. (M.I.S - Sujeito 2) Veio uma assistente social em casa logo quando tive alta e voltei para casa, para saber como havia acontecido o acidente se eu estava me recuperando bem e tratar sob a CAT porque o meu acidente foi na empresa em que trabalho, mais não fui eu que a recebi porque não estava em casa neste dia, quem atendeu foi minha esposa. (V.C – Sujeito 8) Bom, foi a assistente social do município que me solicitou o encaminhamento aqui do hospital da malha, para que ela se solicita ao município. (A.A.S – Sujeito 12) 44 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. Considerando Boaventura Santos (2001, p.348): “A cidadania social é a conquista de significativos direitos sociais no domínio das relações de trabalho, segurança, saúde, educação, habitação”. Logo, saúde é um direito básico de cidadania, então o profissional da área da saúde, em especial o assistente social é parte integrante do Sistema Único de Saúde – SUS e é aquele que deve se preocupar com a acolhida, com o dialogo, com a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do paciente, além de ser o facilitador das relações do grupo familiar. Porém, tal compromisso nem sempre está incorporado em todos os profissionais como cita o sujeito abaixo, quando questionado sobre o Serviço Social de seu município, afirma que procurou para a continuidade do tratamento e o atendimento foi: Péssimo, pois não recebi e nem recebo ajuda de ninguém e nem do município. (V.C.S – Sujeito 11). Sabe-se que a ação profissional é sempre desenvolvida com limitações e contradições inerentes à toda pratica profissional e por mais que se discuta sobre direitos na saúde, os serviços ainda se apresentam aos usuários, como um favor ou ajuda e com certeza, na visão desse sujeito supracitado se tem enraizado a „‟ajuda‟‟ no sentido de „‟assistencialismo‟‟ o que muitas vezes acaba distorcendo o verdadeiro papel do Serviço Social nesta realidade. Percebe-se que o Serviço Social se sobressai no endosso ao reconhecimento dos fatores determinantes e condicionantes das condições de saúde, para o enfrentamento das expressões da questão social. A profissão vem produzindo conhecimentos e alternativas para enfrentar as dificuldades vivenciadas no cotidiano, proporcionando a expansão do trabalho profissional, que, associada à produção de conhecimentos e constante qualificação, tem ampliado a inserção do profissional na área da saúde. Considerando que o código de ética da profissão apresenta ferramentas fundamentais para o trabalho dos Assistentes Sociais na saúde, destaca-se entre seus onze (11) princípios, aqueles que mais se aproximam com o Serviço Social na saúde: • Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; 45 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. • Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas de políticas sociais, bem como sua gestão democrática; • Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores; • Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional. Pensar hoje em uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde é estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS, facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da Instituição, bem como, de forma compromissada e criativa para não submeter a operacionalização de seu trabalho aos (re)arranjos propostos pelos governos, pois estes, descaracterizam a proposta original do SUS como direito, contido no projeto de Reforma Sanitária, que é construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos funcionários nas decisões a serem tomadas e elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como, estar atento sobre a possibilidade de investigação sobre temáticas relacionadas a saúde. Mais do que nunca, os assistentes sociais estão desafiados a encarar a defesa da democracia, das políticas públicas e consubstanciar um trabalho no cotidiano e na articulação com outros sujeitos que partilhem destes princípios que faça frente ao projeto neoliberal, já que este macula direitos e conquistas defendidas pelos seus fóruns e pelas legislações normativas da profissão. 3 CONCLUSÃO Este estudo tem como objeto as dificuldades que os pacientes da Unidade de Tratamento de Queimaduras do Hospital Estadual Bauru encontram na contra referência. O 46 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. problema levantado são quais as dificuldades que os pacientes encontram para dar continuidade na sua recuperação em seu município de origem. A hipótese sugerida é que para uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde, em específico, à pacientes atendidos na Unidade de Queimaduras, é preciso que o profissional esteja articulado e sintonizado ao movimento dos pacientes usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, para que realmente haja a efetivação desse sistema, facilitando-lhes o acesso aos serviços de saúde da Instituição, de forma compromissada e criativa. Percebe-se que a operacionalização desse trabalho muitas vezes está submetido a (re)arranjos propostos pelos governos municipais, como por exemplo, a falta de recursos financeiros, os quais descaracterizam a proposta original do SUS, com enfoque nos princípios da: universalidade, integralidade e equidade, também contidos no projeto de Reforma Sanitária, dificultando assim, a continuidade de um tratamento qualitativo ao paciente. Os objetivos elencados para verificação da hipótese se tem: evidenciar as dificuldades que os pacientes encontram para continuidade do tratamento apontando para identificar qual a equipe profissional dos municípios com quem são articulados os recursos, evidenciar as dificuldades por eles encontradas e revelar o papel do Serviço Social junto aos municípios de contra referência. Considerando os objetivos acima citados se tem como eixo norteador a referência e contra referência na percepção do paciente e/ou familiar, bem como a atuação do Serviço Social nessa realidade. A pesquisa revela que os pacientes usuários do Sistema Único de Saúde - SUS afirmam não encontrarem nenhuma dificuldade, pois, não tem conhecimento de seu direito enquanto cidadão do sistema de contra referência, contentam-se com um simples curativo, sem se preocupar com o sistema desarticulado e moroso do município, o que faz com que muitos recorram a doações dos materiais necessários pela própria organização onde sofreram o acidente e para benevolências ou solidariedade de vizinhos, não tendo alcance de que são sujeitos de direitos aos serviços da saúde. O sistema de referência, no caso em evidencia o Hospital Estadual Bauru, aquela que recebeu o paciente com queimaduras, quando da sua alta, faz toda articulação para a continuidade do tratamento, no entanto a contra referencia acaba sendo inoperante, pois o 47 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. atendimento para curativos é feito através de enfermeiros em postos de saúde mais próximos, quando não por vizinhos como já citado. Assim conclui-se que a eficiência do Serviço Social no que diz respeito à articulação entre a instituição e os profissionais envolvidos para a continuidade de um tratamento com qualidade aos pacientes com queimaduras em seu município de origem, se dá apenas no sistema de referência. Ressalta-se também que as deficiências nesse sistema se dá pela falta de planejamento e regulação, pelo não acesso aos serviços, pelos poucos recursos materiais, pela fragilidade do sistema de informação e comunicação. Muito há que ser estudado, investigado e testado no sistema de referência e contrareferência. A literatura ainda se mostra precária, tanto na discussão sobre os conceitos, quanto nas experimentações e testagens de modelos. Mas é possível que experiências locais, como está aqui descrita, compartilhadas com a comunidade cientifica, com os gestores e profissionais de saúde, possam tornar viável o sistema de saúde que é tão bem descrito e idealizado em documentos oficiais. Mediante todo este estudo percebe-se que o Serviço Social que é uma profissão interventiva cujo objetivo é garantir e efetivar os direitos sociais de seus usuários, tem um papel importante no sistema de referência e contra-referência para todos aqueles que deles necessitarem. É fundamental para sua efetivação persistir na busca da integração entre as instituições e entre os profissionais envolvidos. No âmbito da influência da instituição hospitalar, a busca hoje é por um atendimento humanizado, priorizando o paciente, sua família e suas necessidades. As análises dos resultados apontam que para adequação do modelo á saúde de um modo geral, deve receber maiores investimentos para sua consolidação, salientando a importância da comunicação permanente entre as instituições e entre os profissionais que atuam no hospital e na rede pública em geral. Em relação ao papel do assistente social na saúde, é necessário considerar que este deve estar direcionado para o atendimento das demandas imediatas da população, possibilitando o acesso às informações e ações educativas, contribuindo para que a saúde seja entendida como resultado das condições gerais de vida e da dinâmica das relações sociais, econômicas e políticas vigentes no país, conforme determina a Resolução CFESS n° 383/99. 48 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. O assistente social, como profissional de saúde, tem como competências intervir junto aos fenômenos socioculturais e econômicos, que reduzem a eficácia dos programas de prestação de serviços no setor, que seja ao nível de promoção, proteção e ou recuperação da saúde. A pratica profissional dos Assistentes Sociais vem se desenvolvendo e a cada dia tem se tornada uma prática necessária para a promoção e atenção à saúde. Sua intervenção tem se ampliado e consolidado diante da concepção de que o processo saúde-doença é determinado socialmente e reforçado pelo conceito de saúde. A regulação adequada de uma rede de ações e serviços de saúde requer que se conte com apoio de sistema de informações voltado para: identificação dos pacientes, controle da disponibilidade para consultas e exames, além do monitoramento das ações desenvolvidas. A inexistência ou o mau funcionamento de sistema de informação desse tipo dificulta o encaminhamento dos pacientes, ao acesso aos serviços. Conclui-se que o sistema de referência e contra-referência ainda é muito ineficiente, não tendo visibilidade na contra-referência para que se tenha maior integralidade à continuidade dos cuidados que o paciente requer e que o sistema de saúde brasileiro tem como princípio. O Serviço social por sua vez não se faz presente, no que diz respeito ao acompanhamento dos pacientes na continuidade de seu tratamento no município de origem. Contata-se que os municípios de origem dos pacientes contra-referênciados encontram-se despreparados para receber a demanda de pacientes com queimaduras, não se tratando de um fato cotidiano e corriqueiro os profissionais de saúde envolvidos veem essa demanda de uma maneira inusitada, não possuem conhecimento desta patologia e desconhecem o tratamento adequado a ser realizado com estes pacientes. Assim, sugere-se por parte dos profissionais envolvidos na contra-referencia em especifico os de Serviço Social que estes acompanhem a continuidade do tratamento dos pacientes, para que saibam o que está acontecendo e intervenham para concretização e efetividade dos direitos elencados pelos princípios do SUS (Sistema Único de Saúde). Ressaltamos ainda a importância que profissionais envolvidos sejam o mais precocemente possível capacitados sobre o sistema de contra-referência, adquirindo conhecimento sobre a patologia e o funcionamento desse sistema, garantindo assim a realização de um bom atendimento. A partir daí atender as demandas e necessidades 49 RIPE – Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos: Construindo o Serviço Social, Bauru, v.14, n. 26, p. 01-52, jul./dez.2010. CRONCA, Amanda Fabrício; COSTA, Thaís Pereira; MINETTO, Gerceley Paccola. O Sistema de referência e contrareferência no Atendimento a pacientes com queimaduras no Hospital Estadual Bauru - HEB. oportunizando ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, pois como o estudo sugere, se comprova que os profissionais de Serviço Social encontram-se desarticulados e que os serviços na contra-referência são atendidos sem a observação da universalidade, integralidade e equidade, contidos na Reforma Sanitária. ___________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS ABRASCO. Ciência e saúde coletiva. Disponível <www.abrasco.org.br/cienciaesaudecoletiva/artigos/artigo_int.php?id_artigo=2420> em: Acesso em: 15 abr. 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de outubro de 1988. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. (Coleção Saraiva de legislação). BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília: senado, 1988. BRASIL. Ministério da saúde, Secretaria-Executiva. 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