A cidade de Palmares situa-se no estado de Pernambuco

Propaganda
CHUVAS INTENSAS EM PALMARES/PE – JUNHO DE 2010
IMPACTOS AMBIENTAIS E PSICOLÓGICOS
Maria Marle Bandeira,1 Lorena Bandeira da Silva2,
AESA/PB-Brasil – Campina Grande/PB, 2Aluna de Mestrado em Sociologia – UFPB
1
[email protected]
RESUMO: Neste trabalho faz-se uma análise do evento de chuva extrema que ocorreu no
período de 15 a 18 de junho de 2010 na cidade de Palmares/PE, desencadeando uma enchente
que destruiu a cidade, deixando grande parcela da população sem moradia e traumatizada. As
chuvas ocorridas foram associadas à formação de aglomerados convectivos próximos à costa
leste de Pernambuco. Alguns impactos ambientais na cidade e psicológicos nos seus moradores,
como: transtorno de estresse pós–traumático, distúrbios de ansiedade, fobias e depressão foram
analisados.
ABSTRACT: This work makes an analysis of extreme rain event that occurred in period of 15
to 18 June 2010 in the town of Palmares/PE, triggering a flood that destroyed the city, leaving
large proportion of the population homeless and traumatized. The rains that occurred were
associated with the formation of agglomerates convection near the east coast of Pernambuco.
Some environmental impacts in the city and psychological, such as post-traumatic stress
disorder traumatic stress disorder, anxiety disorders, phobias and depression were analyzed.
1.INTRODUÇÃO
A cidade de Palmares situa-se no estado de Pernambuco na microrregião da Mata
Meridional Pernambucana cuja latitude de 08º41'00"Sul e longitude 35º35'30"W com
uma altitude de 125 metros.
Nos últimos anos a população dos centros urbanos, onde vive grande parte da população do
Brasil, têm vivido um aumento de impactos ambientais associados ao excesso ou falta de chuvas
(Nunes et al., 1989 e Nunes & Modesto, 1996).
Alguns fatores que aumentam a vulnerabilidade a catástrofes climáticas são uma
combinação de crescimento populacional, pobreza e degradação ambiental. É muito comum
a presença de populações em lugares de alto risco, como áreas ribeirinhas ou de encostas.
O período mais chuvoso do setor leste de Pernambuco compreende entre os meses de abril a
julho e os principais sistemas meteorológicos atuantes são: a Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT) (Uvo, 1989), Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), Koushy e
Gan (1981) e os Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL), Ferreira & Satyamurti (1990).
Em consequência a desastres naturais, certos transtornos psicológicos acometem
àqueles expostos a esse tipo de desastre, como no caso da síndrome de estresse póstraumático (Ocampo, 2006). Os sintomas relativos a essa síndrome correspondem a
revivência do trauma, através de lembranças ou pesadelos; esquiva, através do
distanciamento de pensamentos, locais e pessoas e a hiperstimulação autonômica,
através da insônia, irritabilidade e hipervigilância (Figueira e Mendlowicz, 2003).
O acometimento de transtornos psicológicos depende da interação entre o indivíduo,
ambiente e o contexto presente, não se podendo afirmar que todas as pessoas que
vivenciaram uma situação de desastre, qualquer que seja sua natureza, desenvolvam
algum tipo de transtorno psicológico (Krum e Bandeira, 2008).
Nessa discussão, enquadra-se o conceito de resiliência, que corresponde à capacidade
do indivíduo de enfrentar problemas e resolvê-los. Logo, diante de situações de
desastres naturais, muitos não apresentaram nenhum transtorno psicológico mais grave,
como a maioria apresenta (Pinheiro, 2004). É através dessas questões que se pode
demonstrar a relatividade do acometimento de transtornos psicológicos em vítimas de
desastres naturais (Mattedi, 2008).
2.OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo analisar os episódios pluviométricos e sinóticos
observados no período de 15 a 18 de junho de 2010 na cidade de Palmares, como também
discorrer acerca dos transtornos psicológicos consequentes a esses desastres naturais.
3.MATERIAS E MÉTODOS
Foram utilizados dados diários de precipitação referente ao período de 15 a 18 de junho de
2010, para o município de Palmares/PE, Figura 1, pertencente ao Instituto Tecnológico de
Pernambuco/Laboratório de Meteorologia de Pernambuco – ITEP/LAMEPE.
Para caracterizá-lo o padrão do sinótico atuante, foram utilizadas cartas de superfície, 850hPa e
500hPa de 00:00Z e 12:00Z com também imagens de satélite GOES -12, no canal espectral
infravermelho, para a América do Sul e setorizada para o NEB nos horários 09:00, 12:00 e
18:00UTC, pertencentes ao Centro de Previsão e Análises Climáticas/Instituto de Pesquisa
Espaciais – CPTEC/INPE.
Em complemento, foi através de intervenções realizadas junto a professores, técnicos e
alunos da Universidade Estadual da Paraíba, logo após o episódio de chuvas intensas,
que se evidenciou, pela equipe de Psicologia atuante, que o número de vítimas que
apresentava algum tipo de transtorno psicológico superou o número de resilientes.
Transtornos como estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. Alguns sintomas
específicos correspondiam à insônia, apatia, sensação de afogamento, perda de apetite
ou hiperestimulação e acometiam tanto crianças, adultos e idosos.
O público-alvo correspondia às vítimas concentradas nos três maiores abrigos da
cidade, os moradores que continuavam em suas casas na região mais atingida da cidade,
Pedreiras e os membros do Comitê de Solidariedade da UEPB, totalizando cerca de 300
pessoas.
As ações realizadas a fim de minimizar os traumas e transtornos psicológicos
evidenciados, concentraram-se na realização de técnicas de dinâmica, atenção básica à
saúde, através de palestras de conscientização, escuta e aconselhamento psicológico
(BRAIER, 1997), análise de conteúdo e discurso, roda de conversa e recreação.
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de 15 a 18 de junho de 2010, em Palmares choveu 369,8mm, ou seja, em quatro dias
choveu 57% acima da média climatológica para todo o mês de junho. O total mensal de junho
foi de 637,8mm equivalente a 170% acima de sua climatologia mensal, Figura 2. As enchentes
provocadas pelas chuvas ocasionaram grandes impactos no município (Figura 3).
De acordo com as cartas sinóticas elaboradas pelo Grupo de Previsão do Tempo do
CPTEC/INPE. No nível de 250 hPa, observou-se a presença de uma circulação anticiclônica e
ventos de nordeste contribuindo para um escoamento escoamento divergente. Em superfície,
próximo ao litoral do Nordeste observou-se a presença de um cavado invertido nos dias 16 e 17.
Tal configuração evidenciou uma condição favorável para a convergência de umidade oriunda
do oceano Atlântico e com deslocamento para o setor leste dos Estados de Pernambuco e
Paraíba.
Analisando a sequência de imagens (Figuras 4, 5 e 6) pode-se observar que, no dia 15/06/201021:00UTC observa-se a formação de um aglomerado convectivo próxima a costa leste do
Nordeste. No dia 17/06/2010 – 22:00UTC o sistema adentrou no continente adquirindo um
significativo desenvolvimento vertical e gerando
chuvas intensas e persistentes. No dia
18/06/2010 houve um enfraquecimento do sistema, porém ainda foram registradas chuvas
significativas.
No que diz respeito ao acometimento de transtornos psicológicos, percebeu-se que
grande parcela da população apresentava síndromes como as de estresse pós-traumático,
ansiedade e depressão, mas também houve uma parcela da população considerada
resiliente, não apresentando alterações graves em seus processos psicológicos.
A atuação interventiva na cidade de Palmares colaborou, tanto para evidenciar
consequências psicológicas decorrentes ao desastre natural, como para oferecer serviços
psicossociais, a fim de minimizar a gravidade do quadro psicológico das vítimas.
5. CONCLUSÕES
Os altos índices de precipitação ocorridos no município de Palmares/Pe foram associados a
intensos aglomerados convectivos que se deslocam do oceano Atlântico em direção à costa leste
dos Estados da Paraíba e Pernambuco ocasionando grandes impactos ambiental e psicológicos.
No que diz respeito às consequências psicológicas, conclui-se que as vítimas do desastre
sofreram de algum transtorno psicológico em menor ou maior gravidade, mas que também
houve um número de resilientes da vítimas das enchentes.
O apoio psicológico fornecido às vítimas foi de fundamental importância para minimizar os
sintomas e transtornos evidenciados, gerando uma elaboração de perdas dos sujeitos e
colaborando para um enfrentamento mais consistente por parte das vítimas, frente ao desastre.
6.AGRADECIMENTOS: Os autores gostariam de agradecer a Instituto Tecnológico de
Pernambuco/Laboratório de Meteorologia de Pernambuco – ITEP/LAMEPE e ao Centro de
Previsão e Análises Climáticas/Instituto de Pesquisas Espaciais – CPTEC/INPE e à
Universidade Estadual da Paraíba.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTI, I. F. A. The Anomalous Rainfall in Northeastern Brazil in 1985. 1986. II
Internacional Conference on Southern Hemisphere Meteorology. Wellington. New Zealand,
pp. 446-448.
FIGUEIRA, I. MENDLOWICZ, M. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático.
Rev Brasileira Psiquiatria 25(Supl I): p 12-16, 2003.
GAN, M. A. Um Estudo Observacional sobre as Baixas Frias da Alta Troposfera, nas
Latitudes Subtropicais do Atlântico Sul e Leste do Brasil. 1982. Dissertação de Mestrado em
Meteorologia. Instituto de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos - SP. pp. 65.
KRUM, F. M. B. BANDEIRA, D. R. Enfrentamento de desastres naturais: O uso de um
coping coletivo. Rev. Paidéia, 18(39), 73-84, 2008.
KOUSKY, V. E.; GAN, M. A. Upper Tropospheric Cyclone Vortices in the Tropical South
Atlantic. 1981 Tellus, 33, p. 538 - 550.
MATTEDI, M. A. A Abordagem Psicológica da problemática dos desastres: Um desafio
cognitivo e profissional para a Psicologia. Rev. Psicologia, ciência e profissão 28 (1), 162173, 2008.
NUNES, L. H., MODESTO, R. P. 1996 Pluviometria e problemas ambientais no município
do Guarujá – SP. Revista do Departamento de Geografia 10, p. 59-71.
NUNES, L. H., MODESTO, R. P., ALMEIDA, M. C., OGURA, A. T. 1989 Estudo de
episódios pluviais associados a escorregamentos – Municípios do Guarujá – SP. In: Encontro
Nacional de Estudos Sobre o Meio Ambiente, 2, Florianópolis: UFSC, v. 1 n. 1 p. 402-408.
OCAMPO, H. T. Salud mental em desastres. Organização Pan-Americana da Saúde
(OPS)/Organização
Mundial
da
Saúde
(OMS)/Brasil.
2006.
Disponível
em:
<www.pol.org.br/psicologiadosdesastres/palestras/HoracioToro.ppt>
PINHEIRO, D. P. N. A resiliência em discussão. Rev. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n.
1, p. 67-75, 2004
Figura 3 – Impactos ambientais ocasionados pela chuva.
Palmares/Pe. Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil
Figura 1 – Área de Estudo - Palmares/Pe
Figura 2 – Distribuição diária das chuvas – Junho/2010 –
Palmares/Pe
Figura 4 – Imagem de satélite do GOES, realçada e
setorizado no Nordeste – 15/06/2010 -21:00UTC
Figura 5 – Imagem de satélite do GOES, realçada e
setorizado no Nordeste – 17/06/2010 -22:00UTC
Figura 6 – Imagem de satélite do GOES, realçada e
setorizado no Nordeste – 18/06/2010 -09:00UTC
Download