Características dos Rizomas e do Amido de Araruta (Maranta arundinacea) em Diferentes Estádios de Desenvolvimento da Planta Characteristics of the Rhizomes and Starch of Arrowroot (Maranta arundinacea) Harvested at Different Stages of Development AUTORES AUTHORS Tainara B. FERRARI Magali LEONEL Centro de Raízes e Amidos Tropicais - Unesp, Caixa Postal 237- CEP 18603-970, Botucatu-SP, e-mail: pesq1cerat@fca. unesp.br Silene B. S. SARMENTO Depto. Agroindústria, Alimentos e Nutrição – USP/Esalq, Caixa Postal 09 – CEP 13418-900, Piracicaba-SP, e-mail: [email protected] RESUMO Nos últimos anos a importância das condições de cultivo e da idade da planta sobre a síntese e as propriedades de seus amidos tem recebido crescente interesse. Nesta linha, este trabalho teve como objetivo avaliar a influência do estádio de desenvolvimento de plantas de araruta sobre as características físico-químicas dos rizomas, bem como em características físico-químicas, distribuição do tamanho de grânulos e propriedades viscográficas do amido. Os resultados obtidos mostraram que a colheita dos rizomas para extração de amido deve ocorrer de 12 a 14 meses após o plantio. A análise do teor de amilose mostrou aumento com a idade (17,9% aos 12 meses e 20,0% aos 14 meses). A análise de tamanho dos grânulos de amido mostrou aumento do tamanho dos grânulos com a idade da planta. Os viscoamilogramas dos amidos mostraram perfis com picos de formato agudo e uma queda acentuada de viscosidade antes dos 95°C, revelando baixa estabilidade da pasta a quente perante agitação. As propriedades das pastas de amidos de plantas com 12 e 14 meses mostraram temperaturas de empastamento semelhantes, entretanto os valores de viscosidade (pico, quebra, final e tendência a retrogradação) apresentaram tendência à redução com o desenvolvimento das plantas. SUMMARY Over the last few years, interest has increased in the importance of the conditions of cultivation and harvesting time of the plant with respect to the characteristics and properties of its starch. Thus the purpose of this study was to evaluate the effects of the harvesting time of arrowroot plants on the physicochemical characteristics of the rhizomes and on the physicochemical characteristics and size distribution of the starch granules and viscographic properties of the starch. The results showed that for starch extraction, the rhizomes should be harvested from 12 to 14 months after planting. The amylose content increased with the age of the plant (17.9% at 12 months and 20.0% at 14 months). The starch granule size also increased with increase in the age of the plant. The viscoamylograms of the arrowroot starch presented profiles with sharp peaks and a considerable fall in viscosity before 95°C, showing low paste stability when stirred at high temperature. The starch paste properties of 12 and 14 month old plants presented similar pasting temperatures, although the viscosity values (peak, break, final and setback) presented a tendency to reduce with age. PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Araruta; Fécula; Microscopia; Viscosidade. Arrowroot; Starch; Microscopy; Viscosity. Braz. J. Food Technol., v.8, n.2, p. 93-98, abr./jun., 2005 93 Recebido / Received: 19/02/2004. Aprovado / Approved: 23/03/2005. FERRARI, T.B. et al. 1. INTRODUÇÃO O mercado de amido e derivados é cada vez mais um mercado industrial. A importância desses produtos diretamente no varejo diminui à medida que a economia se desenvolve e os hábitos de consumo se modificam. Com o aumento e a distribuição da renda, sua demanda tende a crescer como insumo industrial de setores estratégicos, como a indústria alimentícia, têxtil, química e farmacêutica, entre outros (SILVA et al., 2000). O setor alimentar é o maior consumidor de amido, tanto nativo como modificado, com um crescimento acentuado em conseqüência do seu emprego em alimentos preparados. A evolução do setor faz com que pesquisas que visem à identificação de novos amidos naturais, os quais apresentem propriedades diferenciadas, obtenham grande interesse por parte do mercado produtivo e consumidor. As principais fontes de amido comercial são o milho, o trigo, a batata e a mandioca. No mundo são produzidos cerca de 48,5 milhões de toneladas de amido, sendo os EUA responsáveis pela maior produção de amido de milho (24,6 milhões de toneladas, 62,4%) e a União Européia a maior produtora de amido de batata (1,8 milhão de toneladas, 69,2%) e de trigo (2,8 milhões de toneladas, 68,3%), e a produção mundial de outros amidos é da ordem de 2,5 milhões de toneladas, com a mandioca como principal fonte (FRANCO et al., 2001). O setor de amido vem atentando para as dificuldades de comercialização de amidos modificados para uso em alimentos, o que iniciou a busca por amidos naturais com propriedades que atendam as exigências do mercado. A araruta industrial (Maranta arundinacea L.) é uma planta herbácea, com caule articulado de 1,20 m de altura, rizoma fuziforme, casca brilhante, escamoso e produzido em tufos aderentes aos rizomas. A colheita dos rizomas pode ser feita dos 9 aos 12 meses após o plantio, quando as folhas se acham murchas, com uma coloração parda, que posteriormente se torna amarelo-palha e esbranquiçada (MONTEIRO & PERESSIN, 2002). Segundo MONTEIRO & PERESSIN (2002) as condições climáticas ideais para o cultivo de araruta são encontradas no tipo climático Cfa, clima mesotérmico úmido, sem estiagem. Quanto ao solo, é naqueles que apresentam a camada superficial porosa, solos soltos, onde são obtidas as melhores produções, de modo que essa cultura prefere o aluvional arenoso rico em matéria orgânica e também os solos das unidades taxonômicas, Podzólico Vermelho-Amarelo orto e Podzolisado com Cascalho. Sua importância atual está relacionada às características especiais de seu amido, o qual alcança preços elevados no mercado internacional. A produção mundial é pequena, encontrando-se plantios comerciais em Barbados e Saint Vicent, no Caribe. A produção brasileira em 1996 foi de 1.141 toneladas, sendo que São Paulo contribuiu com 54 toneladas (MONTEIRO & PERESSIN, 2002). Braz. J. Food Technol., v.8, n.2, p. 93-98, abr./jun., 2005 Características dos Rizomas e do Amido de Araruta (Maranta arundinacea) em Diferentes Estádios de Desenvolvimento da Planta PÉREZ et al. (1997) analisando rizomas de araruta cultivados na Venezuela obtiveram 1,10% de proteína, 1,20% de matéria graxa, 0,57% de cinzas, 1,51% de fibras, 15,74% de carboidratos totais, 79,88% de umidade e pH 6,9. Nos últimos anos o efeito das condições de cultivo e da idade de tuberosas sobre a síntese e as propriedades de seus amidos tem recebido crescente interesse. De forma geral, as características do amido variam com o estádio de desenvolvimento da planta de origem. SRIROTH et al. (1999) estudaram a influência do ambiente e da idade da planta de mandioca (dos 6 aos 16 meses) sobre as propriedades funcionais do amido e observaram diferenças no teor de amilose, distribuição de tamanho dos grânulos, estrutura cristalina e propriedades de gelatinização. Nesta linha, este trabalho teve por objetivo avaliar a influência da idade da planta de araruta sobre características físico-químicas dos rizomas e características físicas e físicoquímicas da fração amido. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Acompanhamento do desenvolvimento das plantas Mudas de araruta com cerca de 20 cm de altura foram plantadas na Fazenda Lageado em maio de 2002, onde permaneceram por 14 meses. O clima da região é classificado como Csa ou temperado chuvoso, úmido e com verões quentes, precipitação média anual de 1.517 mm e temperatura média anual de 20,6°C. O solo é Latossolo Roxo Destrófico A Moderado. Para o acompanhamento do desenvolvimento das plantas foram realizadas medidas de peso total e umidade (AOAC, 1980) da parte aérea e dos rizomas a cada dois meses, a partir do quarto mês do plantio. Nas coletas com 12 e 14 meses realizou-se a extração do amido, sendo os rizomas de araruta e o amido obtido caracterizados quanto a umidade, cinzas, proteína, matéria graxa, fibras, açúcares solúveis totais e açúcares redutores (AOAC, 1980). O teor de amido foi determinado pelo método de hidrólise enzimática descrito por RICKARD & BEHN (1987). O teor de amilose foi determinado segundo a metodologia de WILLIAMS et al. (1970). 2.2 Extração do amido Os rizomas das plantas colhidas aos 12 e 14 meses foram processados seguindo as etapas apresentadas na Figura 1. 94 FERRARI, T.B. et al. Características dos Rizomas e do Amido de Araruta (Maranta arundinacea) em Diferentes Estádios de Desenvolvimento da Planta de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade (CAMPOS, 1984). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Acompanhamento do desenvolvimento das plantas FIGURA 1. Fluxograma de extração do amido de araruta. Os resultados obtidos nas análises de acompanhamento do desenvolvimento da planta de araruta mostraram maior peso fresco da parte aérea aos 6 meses com decréscimo acentuado após os 8 meses do plantio quando as folhas começaram a secar. Quanto ao peso total dos rizomas, ocorreu aumento com o desenvolvimento da planta, sendo que aos 14 meses algumas plantas apresentavam podridão de rizomas (Figura 2). Peso parte aérea 2.4 Propriedades de pasta Para a análise das propriedades de pasta dos amidos foi utilizado o Rapid Visco Analyser (RVA), série 4, da marca Newport Scientific e programa de computador “Thermocline for Windows”. As suspensões de 2,5 g de amido em 25 mL de água, corrigidas para a base de 14% de umidade, passaram pela seguinte programação tempo/temperatura: 50°C por 1 minuto, aquecimento de 50 a 95°C a uma taxa de 6°C/minuto, manutenção da pasta a 95°C por 5 minutos e resfriamento de 95 a 50°C a uma taxa de 6°C/minuto. A viscosidade aparente foi expressa em RVU. A partir do gráfico obtido foram avaliadas as seguintes características: temperatura de pasta, viscosidade máxima, quebra de viscosidade, viscosidade final e tendência a retrogradação. 2.5 Análise dos resultados A comparação dos parâmetros avaliados para a caracterização físico-química dos rizomas e das féculas nos diferentes estádios de desenvolvimento da planta de araruta foi realizada por meio de análise estatística, sendo realizada a análise Braz. J. Food Technol., v.8, n.2, p. 93-98, abr./jun., 2005 Peso (g) 2.3 Análise microscópica Para a determinação da distribuição dos grânulos de amido quanto ao diâmetro maior e menor foi utilizado o Sistema de Análise de Imagem KS 300. As amostras de fécula foram coletadas com um fio de platina e misturadas em duas gotas de solução de água e glicerina (50%) sobre lâminas de vidro, sendo cobertas por lamínula. Após o preparo de dez lâminas, estas foram observadas em microscópio óptico (AXIOCOP II - ZEISS) e as imagens selecionadas foram analisadas. Os parâmetros avaliados foram: forma e diâmetro maior (µm), sendo feitas 500 medidas, conforme recomendado por VIGNEAU et al. (2000). Peso rizomas 1600 1200 800 400 0 4 6 8 10 12 14 16 Meses FIGURA 2. Variação no peso da parte aérea e do rizoma durante o desenvolvimento da planta de araruta. Solos arenosos e profundos são ideais por favorecer o crescimento dos rizomas de araruta. A presença de argila pode ser necessária em períodos de seca, mas o excesso de umidade leva ao apodrecimento do rizoma (CATÁLOGO RURAL, 2003), sendo esta a provável causa da podridão de rizoma verificada aos 14 meses de idade da planta, pois o tipo de solo local é o Latossolo Roxo Destrófico A Moderado. A temperatura média nos meses de cultivo da araruta foi de 19,93°C com precipitação pluviométrica total de 1.608,08 mm. Assim sendo, as condições de temperatura e precipitação ocorridas nesse período estavam dentro das citadas por MONTEIRO & PERESSIN (2002), entretanto o tipo de solo não é o mais indicado para cultivo da araruta. 3.2 Caracterização dos rizomas de araruta Os resultados obtidos na caracterização dos rizomas de araruta com 10, 12 e 14 meses do plantio estão apresentados na Tabela 1. Os rizomas de araruta com 10 meses do plantio apresentaram maior teor de umidade (79,7%) e menor teor de outros componentes, mostrando estar a planta em processo de crescimento e tuberização nesse estádio. Ocorreu decréscimo significativo do teor de umidade nos rizomas aos 12 meses (71,9%), mantendo-se até os 14 meses. Os rizomas com 14 95 FERRARI, T.B. et al. meses apresentaram aumento significativo do teor de fibras, o que confirma as observações feitas durante o acompanhamento do desenvolvimento das plantas, quando se observou que os rizomas estavam murchos e em início de decomposição. O teor de amido teve aumento acentuado aos 12 meses, não apresentando diferença significativa quando comparado com 14 meses. Foi observado decréscimo dos açúcares solúveis totais e aumento dos açúcares redutores nos rizomas com o desenvolvimento da planta. TABELA 1. Caracterização dos rizomas de araruta nos diferentes estádios de desenvolvimento da planta. Meses Variáveis (g/100 g) 10 12 14 Umidade 83,29a 71,91b Cinzas 0,45b Fibras Açúcar redutor Açúcar sol. total Matéria graxa CV DMS 69,92b 2,57 3,80 1,04a 1,08a 10,04 0,17 1,40c 1,90b 3,69a 10,86 0,50 0,15c 0,24b 0,41a 8,25 0,043 1,44a 1,09b 1,08b 10,17 0,24 0,08c 0,12b 0,17a 8,22 0,02 Proteína 0,85b 1,76a 1,91a 9,77 0,29 Amido 12,10b 18,58a 21,20a 8,10 2,77 * Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si no nível de 5% de significância. Estes resultados indicam que a planta de araruta, nas condições em que este experimento foi conduzido, apresenta melhor ponto de colheita para extração de amido aos 12 meses, podendo chegar, no máximo, até os 14 meses, quando já se inicia o apodrecimento dos rizomas. 3.3 Processamento dos rizomas de araruta para obtenção do amido Características dos Rizomas e do Amido de Araruta (Maranta arundinacea) em Diferentes Estádios de Desenvolvimento da Planta TABELA 2. Balanço de massa da extração de amido de araruta nos diferentes tempos de cultivo. Variáveis/meses 12 meses 14 meses Peso dos rizomas (g) 2440 2100 Umidade dos rizomas (%) 70,94 69,92 Matéria seca inicial (g) 709,06 631,68 Peso do amido (g) 458,80 500 Umidade do amido (%) 10,49 9,85 Matéria seca extraída (g) 410,67 450,75 840 680 Umidade do bagaço (%) 84,86 83,11 Matéria seca residual (g) 127,18 114,85 Rendimento prático da extração (%) 18,18 23,81 Peso do bagaço (g) TABELA 3. Caracterização dos amidos de araruta obtidos de plantas com 12 e 14 meses de cultivo. Meses Variáveis (g/100 g) 12 14 Umidade 10,49a Cinzas CV DMS 9,85b 1,62 0,28 0,21a 0,18b 6,82 0,02 Fibras 1,30a 1,05b 1,90 0,39 Açúcar total 0,88a 0,95a 13,97 0,02 Açúcar sol. redutor 0,18a 0,04b 6,94 0,01 Matéria graxa 0,10b 0,29a 32,54 0,11 Proteína 0,19a 0,19a 13,84 0,05 Amido 84,95a 85,69a 1,32 1,94 Amilose (%) 17,88b 19,99a 0,63 0,20 * Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si no nível de 5% de significância. Os dados do balanço de massa do processamento dos rizomas de araruta com 12 e 14 meses de plantio mostraram que ocorreu um melhor rendimento prático em amido com os rizomas colhidos com 14 meses (Tabela 2). Contudo, faz-se importante ressaltar que ocorreu a necessidade de descarte de rizomas em decomposição nesse estádio de desenvolvimento da planta, o que acarretaria um menor rendimento em amido/ hectare com a colheita neste tempo. A análise do teor de amilose mostrou diferença significativa com a idade da planta, diferindo do observado por LEONEL et al. (2002) em féculas obtidas de rizomas de araruta com 14 meses (23,93%) e assemelhando-se aos 19% encontrados por ERDMAN (1986) em amidos de araruta extraídos de rizomas cultivados nos Estados Unidos e em West Indies. 3.4 Caracterização dos amidos GEDDES et al. (1965) obser varam um aumento significativo do teor de amilose em amido extraído de batata em estádio de tuberização mais avançado. ASAOKA et al. (1985) observaram menores teores de amilose nos estádios iniciais de desenvolvimento de grãos de cereais. Os resultados obtidos na caracterização dos amidos (Tabela 3) mostraram diferenças significativas quanto à composição química entre os amidos extraídos de rizomas aos 12 e aos 14 meses. Contudo, considerando os limites estabelecidos pela legislação brasileira, os dois amidos estão dentro dos padrões: no máximo 14% de umidade, mínimo de 80% de amido e máximo de 0,5 de cinzas (BRASIL, 1978). Braz. J. Food Technol., v.8, n.2, p. 93-98, abr./jun., 2005 3.5 Análise microscópica Os resultados obtidos na análise de tamanho dos grânulos estão apresentados nas Figuras 3 e 4. O gráfico de 96 FERRARI, T.B. et al. freqüências mostrou predomínio de grânulos de amido com diâmetro maior na faixa de 20 a 27 µm em plantas de araruta com 12 meses. Aos 14 meses ocorreu maior freqüência de grânulos de amido com diâmetro maior na faixa de 25 a 32 µm. Características dos Rizomas e do Amido de Araruta (Maranta arundinacea) em Diferentes Estádios de Desenvolvimento da Planta 3.6 Análise viscográfica Os resultados obtidos na análise viscográfica das pastas de amido de araruta nos diferentes estádios de desenvolvimento da planta estão apresentados na Figura 5 e na Tabela 4. 240 25.0 20.0 Viscosidade (RVU) % 180 15.0 12 meses 120 10.0 5.00 14 meses 60 0.00 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 45.0 Diâmetro maior (micrômetro) FIGURA 3. Histogramas de distribuição de classes de tamanho de grânulos de amido (diâmetro maior) de araruta com 12 meses. Newport Scientific Pty Ltd 0 0 6 12 18 24 Tempo (min) FIGURA 5. Viscogramas (RVA) dos amidos de araruta obtidos de plantas em diferentes estádios de desenvolvimento (12 e 14 meses). 25.0 20.0 15.0 % 10.0 5.00 0.00 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 45.0 Os resultados das propriedades das pasta de amido de araruta mostraram curvas com picos de formato agudo, característico de grânulos que apresentam homogeneidade estrutural, e em seguida, antes mesmo de atingir 95°C, uma queda acentuada de viscosidade, revelando baixa estabilidade da pasta a quente perante agitação. Esta quebra de viscosidade é característica do amido de outras fontes vegetais subterrâneas, como a mandioca e batata (LEONEL et al., 2002). Em decorrência da quebra acentuada e da baixa tendência a retrogradação observada, os valores de viscosidade final apresentaram-se bem abaixo dos valores de viscosidade máxima. Diâmetro maior (micrômetro) FIGURA 4. Histogramas de distribuição de classes de tamanho de grânulos de amido (diâmetro maior) de araruta com 14 meses. PÉREZ et al. (1997) relataram a forma de amidos de araruta, destacando pequena quantidade de grânulos circulares e um predomínio do formato de feijão. ERDMAN (1986) avaliou o tamanho dos grânulos por meio da microscopia eletrônica de varredura, encontrando diâmetro médio de 13 µm. NODA et al. (1997), avaliando os efeitos das épocas de plantio e colheita sobre as propriedades de amido de batatadoce, concluíram que o tamanho médio dos grânulos de amido aumentou com a idade da planta. Braz. J. Food Technol., v.8, n.2, p. 93-98, abr./jun., 2005 TABELA 4. Propriedades das pastas de amido de araruta obtido em diferentes idades da planta. VISCOSIDADE (RVU) Pico Quebra Final Tendência a retrogradação Temperatura de pasta (°C) 12 meses 214 133 134 52 73,6 14 meses 166 108 94 36 73,4 A avaliação das propriedades de pasta mostrou que não houve influência da idade da planta sobre a temperatura de pasta dos amidos. Entretanto, ocorreram diferenças para os valores de viscosidade máxima, quebra, viscosidade final e tendência a retrogradação durante o período estudado. Estas 97 FERRARI, T.B. et al. alterações podem decorrer, em parte, das variações observadas na composição (teor de amilose e de lipídeos) e no tamanho dos grânulos de amidos. MADSEN & CHRISTENSEN (1996), estudando as alterações nas propriedades viscográficas de amido extraído de batata em diferenças fases de desenvolvimento, observaram que a temperatura de pico de viscosidade diminuiu com a idade da planta e a estabilidade da pasta a quente também diminuiu com o estádio de desenvolvimento. Independentemente da idade, o amido de araruta produz pastas claras sob aquecimento, podendo ser usado em produtos que requeiram esta propriedade. Sua estabilidade é baixa sob agitação mecânica em temperaturas elevadas, mostrando que não pode ser submetido a processamentos drásticos quando a propriedade de conferir viscosidade for requerida. 4. CONCLUSÕES O estádio de desenvolvimento da planta de araruta interfere na composição físico-química dos rizomas e do amido extraído, na distribuição de tamanho dos grânulos de amido e nas propriedades da pasta do amido, sendo que a colheita dos rizomas de araruta para extração do amido deve ocorrer até no máximo 14 meses pós o plantio, quando se inicia a podridão dos rizomas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Official methods of analysis. 13. ed. Washington, 1980. 109 p. ASAOKA, M.; OKUNO, K.; SUGIMOTO Y.; FUWA, H. Developmental changes in the structure of endosperm starch rice (Oryza sativa L.). Agric. Biol. Chem., 49:1.973-1.978, 1985. BRASIL. Decreto n° 12.486, de 20 de outubro de 1978. Normas técnicas especiais relativas a alimentos e bebidas. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, SP, 21 out. 1978. p. 20. CAMPOS, H. Estatística aplicada à experimentação com cana-deaçúcar. Piracicaba: Fealq, 1984. 297p. Braz. J. Food Technol., v.8, n.2, p. 93-98, abr./jun., 2005 Características dos Rizomas e do Amido de Araruta (Maranta arundinacea) em Diferentes Estádios de Desenvolvimento da Planta CATÁLOGO RURAL. Disponível em: <http://www.agov.com>. Acesso em: 8 mar. 2003. ERDMAN, M.D. Starch form arrowroot (Maranta arundinacea) grown at Titon, Georgia. Cereal Chemistry, 63:277-279, 1986. FRANCO, C.M.L.; DAIUTO, E.R.; DEMIATE, I.M.; CARVALHO, L.J.C.B.; LEONEL, M.; CEREDA, M.P.; VILPOUX, O.; SARMENTO, S.B.S. Propriedades gerais do amido. v. 1. Série Cultura de tuberosas amiláceas latino-americanas. CEREDA, M.P. (coord.). São Paulo: Fundação Cargill, 2001. 224p. GEDDES, R.; GREENWOOD, C.T.; MACKENZIE, S. Studies on the biosynthesis of starch granules. Carbohydrate Research, 1:71-82, 1965. LEONEL, M.; SARMENTO, S.B.S.; CEREDA, M.P. Processamento da araruta (Maranta arundinacea) para extração e caracterização da fração amilácea. Brazilian Journal of Food Technology, 5:151155, 2002. MADSEN, M.H.; CHRISTENSEN, D.H. Changes in viscosity properties of potato starch during growth. Starch/Stärke, 48 (7/8): 245-249, 1996. MONTEIRO, D.A.; PERESSIN,V.A. Cultura da araruta. In: CEREDA, M.P. Agricultura: tuberosas amiláceas latino-americanas. São Paulo: Fundação Cargill, 2002. p. 440-447. NODA, T.; TAKAHATA, Y.; SATO, T.; IKOMA, H.; MOCHIDA, H. Combined effects of planting and harvesting dates on starch properties of sweet potato roots. Carbohydrate Polymers, 33:169-176, 1997. PÉREZ, E.; LARES, M.; GONZÁLEZ, Z. Some characteristics of sagu (Canna edulis) and zulu (Maranta sp) rhizomes. Journal of Agriculture and Food Chemistry, 45:2.546-2.549, 1997. RICKARD, J.E.; BEHN, K.R. Evaluation of acid and enzyme hydrolitic methods for determination of cassava starch. Journal of Science Food and Agriculture, 41 (4):373-379, 1987. SILVA, J.R.; ASSUMPÇÃO, R.; VEGRO, C.L.R. A inserção da fécula de mandioca no mercado de amido. Informações Econômicas, 30:31-41, 2000. SRIROTH, K.; SANTISOPASRI, V.; PETCHALANUVAT, C.; KUROTJANAWONG, K.; PIYACHOMKWAN, K.; OATES, C.G. Cassava starch granule structure-function properties: influence of time and conditions at harvest on four cultivars of cassava starch. Carbohydrate polymers, 38:161-170, 1999. VIGNEAU, E.; LOISEL, C.; DEVAUX, M.F.; CANTONI, P. Number of particles for the determination of size distribution from microscopic images. Powder Technology, (107):243-250, 2000. WILLIAMS, P.C.; KUZINA, F.D.; HLYNKA, I. A rapid colorimetric method for estimating the amylose content of starches and flours. Cereal Chemistry, 47 (4), 1970. 98